quarta-feira, 21 de julho de 2010

As memórias balsâmicas podem minorar a insanidade moral?

Fatima Oliveira *

Diante do meu interesse sobre a capacidade de enfrentar problemas e resolvê-los sem gerar novos conflitos, e até que ponto a agressividade destruidora impede resolvê-los "numa boa", sem mortos e feridos, uma amiga disse que ando filosofando demais. Ela tem alguma razão. São perguntas filosóficas, mas ancoradas também em outros naipes. 

 

Meu interesse é focado em pessoas desprovidas do "locus da moralidade", que a psiquiatria catalogava como "insanité sans délire" (insanidade moral), hoje sociopatia ou psicopatia - uma condição neurodegenerativa, que atinge 1% a 3% da população, "intratável, incurável e irreversível" - o mesmo que Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), ou Distúrbio da Personalidade Antissocial (DPAS), para maiores de 18 anos, e que na infância é diagnosticado como um dos "transtornos disruptivos do comportamento", atitudes antissociais: Transtorno Desafiador e de Oposição; Transtorno de Conduta; e Transtorno de Personalidade Antissocial.


Leiga em psiquiatria, prefiro a antiga terminologia "insanidade moral", que expressa bem a condição de TPAS/DPAS: insanos morais irrecuperáveis, pois não há ex-sociopata; não têm dó de ninguém; possuem memória afetiva distorcida: mesmo criados em ambientes emocionalmente saudáveis, sentem-se lesados. Compreendê-los exige mergulhar num mundo estranho, pois nascem incapazes de incorporar discernimento moral e habilidades sociais para solucionar problemas de modo ético e não conseguem sair da borrasca para um céu de brigadeiro, pois não possuem o porto seguro das memórias afetivas.


Rememorar a minha infância é balsâmico. Ouço vovó mandando entrar quando a brincadeira de roda estava na melhor parte: "Chispa! Pra dentro. Lave os pés e escove os dentes". Ordem inegociável. Depois de "asseada", eu corria para o colo do meu avô, que àquela hora sempre estava sentado na calçada "pegando uma fresca". Esperneava quando ele dizia: "Pega a menina Maria, já dormiu...". Ele não me levava até o quarto, pois não entrava no quarto das meninas. Era uma conduta moral lá das brenhas do sertão. Adulta, perguntei à vovó por que aquilo. Respondeu que "não se usava pai entrar no quarto das filhas, depois de grandes. Era o costume".


É doce ouvir: "Vamos ler a revista nova do papai?" Abria onde queria que eu lesse; e, se eu errasse a entonação, ou engolisse a pontuação, ele corrigia: "Lê de novo! Agora sem engolir as vírgulas e os pontos". Transporto-me para a máquina de costura da mamãe, onde eu surrupiava pedaços de pano para fazer roupas de boneca e, desgraçadamente, sempre quebrava a agulha e saía de fininho... Quando ela via a agulha quebrada, logo dizia: "A que horas aquela traquina passou por aqui?".


Insanos morais não guardam os carinhos recebidos e sentem que todos lhes devem tudo! Seria eficaz uma terapia que os ensine a cultivarem memórias balsâmicas? A criança que vive numa família (biológica ou social) sem bagagem emocional para suprir carinho e outras formas de afetividade pode ter dificuldades de aprender habilidades sociais para resolver problemas, mas não chega à "insanidade moral", apesar das evidências de que abandono e outras manifestações de desamor na infância estão estreitamente ligadas às posturas agressivas e similares. As que desfrutam de boa acolhida navegam em céu de brigadeiro - estado de aconchego que só quem é ou foi criança feliz tem para recordar e ser acalentada nos momentos difíceis ou felizes vida afora.


* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

terça-feira, 20 de julho de 2010

A arte e a rebeldia de Caravaggio

Mazé Leite *
 

Neste domingo, 18 de julho, completaram-se exatos 400 anos da morte de um dos maiores gênios da pintura: Michelangelo Merisi Da Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio. Revolucionário em seu tempo, subverteu as regras estéticas impostas pelo Concílio de Trento. 

 

Os MúsicosMichelangelo Merisi nasceu no povoado de Caravaggio, na lombardia italiana, em 29/09/1571. Seus pais, Fermo Merisi e Lucia Oratori, morreram cedo. Com apenas 12 anos, foi enviado para estudar no atelier de Simoni Peterzano, que se dizia discípulo de Ticiano (1488-1576). Passou quatro anos vivendo e estudando no atelier desse mestre. Com ele, aprendeu o tratamento das cores segundo o método de Ticiano e o naturalismo da escola pictórica lombarda.

Tendo rompido com seu mestre, parte para Veneza onde observou obras de Ticiano, e a técnica do sfumato de Leonardo da Vinci (1452-1519). A atitude artística do jovem pintor já era de rebeldia contra os convencionalismos de sua época. E o homem Caravaggio também era atraído por brigões, beberrões e vagabundos, freqüentando prostíbulos, jogos e se envolvendo em todo tipo de confusão, inclusive com os sbirri, a polícia. Era um homem agoniado, inquieto.

Mas seu destino era Roma, a cidade que atraía artistas de todo canto, devido à demanda da igreja católica que transformava a cidade num canteiro de obras, com o objetivo de ser o centro da cristandade e do mundo civilizado. Artistas de toda a Europa afluíam à cidade, participando das discussões sobre pintura, estudando os mestres.

Chegando à cidade, foi morar na casa do monsenhor Pandolfo Puzzi, onde viveu em condições tão frugais que apelidou o padre de “monsenhor salada”. Caravaggio perambulava pela cidade, percorrendo ateliês em busca de trabalho. Necessitado, pintava até três quadros por dia, que vendia muito barato. Com o passar do tempo, foi ficando conhecido e, segundo o biógrafo Gilles Lambert, Caravaggio alternava com seus amigos “sessões de trabalho, de festas e de diversões no submundo”. Era amigo de homossexuais e prostitutas, muitos dos quais posaram para ele em seu atelier. Seus modelos eram esses marginalizados, em quem o artista via o desespero da luta cotidiana pela sobrevivência em um ambiente dominado pela miséria. Em plena Roma, a cidade dos papas e cardeais cercados de riqueza e opulência!

No começo, Caravaggio se recusou a pintar quadros com temas religiosos. Mas logo, aconselhado por colegas, viu que essa era uma forma de sobreviver e pintou “São Francisco recebendo os estigmas”, de 1595, considerada a pioneira e a que melhor expressa a estética da arte barroca. Em geral os quadros eram encomendados por ricos burgueses que com eles presenteavam as igrejas, mas muitos de seus quadros foram recusados pelos padres. Nota-se que, nele, a transcendência do divino não surge como um além separado do mundo, mas como realidade da alma humana.

Em maio de 1606, em meio a uma briga de jogo, Caravaggio matou um colega. Condenado à morte, fugiu para Nápoles, depois indo para a ilha de Malta. De lá, fugiu para a Sicília, após agredir um cavaleiro da Ordem de Malta. Cansado, doente, ansioso pelo indulto que o permitiria voltar a Roma para continuar seu trabalho, foi detido no Porto Ercole, por engano, e levado à fortaleza da cidade. Lambert diz que ele foi visto, já livre da prisão, “atarantado, faminto, enfermo, extenuado em busca de um barco” que o levasse de volta a Roma. Estava infectado por feridas e com febre. E assim morreu no dia 18 de julho de 1610, antes de receber a notícia de seu indulto.

Fora essa vida inquieta e atribulada, Caravaggio foi um pintor original. O aspecto mais notável de sua obra é o tratamento do claro-escuro. Consiste em projetar a luz sobre as figuras com um contraste intenso e brusco com as sombras, o que marca o início de uma das grandes conquistas da pintura barroca. Outra característica primordial de seu estilo é o realismo enfático como reação ao idealismo renascentista. Ao invés de pintar figuras, mesmo as religiosas, com ar solene ou suave, conforme os ditames da igreja, ele as trata com um realismo quase insolente, usando como modelos, o povo das ruas.

Um bom exemplo, entre inúmeros outros, é o quadro O Enterro da Virgem. A figura de Maria foi inspirada no cadáver de uma prostituta afogada no rio Tibre e com o ventre inchado. Maria Madalena foi retratada muitas vezes a partir do modelo de uma jovem amante do pintor, assim como seus vários “João Batista” teve como modelo um rapaz amante de Caravaggio, que era bissexual.

As personagens principais dos quadros de Caravaggio estão sempre localizados na obscuridade: um cômodo sombrio, um exterior noturno ou simplesmente um fundo escuro. Uma luz poderosa que provém de um ponto da parte superior da tela envolve os personagens à maneira de um projetor de luz sobre uma cena de teatro. O coração da cena é especialmente iluminado e os contrastes produzidos por essa maneira de pintar conferem uma atmosfera dramática ao quadro.

Edward Gombrich, em seu livro História da Arte, diz que Caravaggio queria a verdade, acima de tudo. Por isso não tinha respeito pela beleza idealizada de seu tempo. No quadro São Tomé, os três apóstolos parecem trabalhadores comuns, com os rostos curtidos pelo tempo, testas enrugadas. Ele queria copiar a natureza, fosse ela bela ou feia e fez todo o possível para que as figuras dos textos bíblicos parecessem reais.
Sem Caravaggio não haveria – como diz o crítico de arte Roberto Longhi – “Ribera, Vermeer, La Tour, Rembrandt. E Delacroix, Courbet e Manet teriam pintado de outra maneira”. Poucos artistas têm fascinado a posteridade de artistas e encorajado a ousadia criativa como ele o fez.
* Artista plástica, membro do Atelier de Arte Realista de Maurício Takiguthi, designer gráfica. Graduanda em Letras pela FFLCH-USP. Membro da coordenação da Seção Paulista da Fundação Maurício Grabois.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Religião na escola estimula o preconceito e a intolerância

Carlos Pompe *

A professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB) liderou uma pesquisa que apurou que livros didáticos mais aceitos pelas escolas públicas promovem a homofobia e pregam o cristianismo. O estudo gerou o livro Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil.


A pesquisa conclui que o preconceito e a intolerância religiosa são inculcados em milhares de crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro. Foram analisados os 25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do país. Os livros foram escolhidos a partir dos títulos mais aceitos pelas escolas do governo federal, segundo informações do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso – limitada a uma referência anônima e sem biografia –, 12 vezes mais que o líder budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que Lutero, referência intelectual para o Protestantismo (Calvino nem mesmo é citado).

“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, informa uma das autoras do trabalho, a antropóloga e professora do Departamento de Serviço Social, Débora Diniz.

A psicóloga e coautora do livro, Tatiana Lionço, salienta que, antes de ir parar nas mochilas de crianças e jovens, todo material didático passa por uma avaliação de uma banca de profissionais do Programa Nacional do Livro Didático, vinculado ao Ministério da Educação. Todos, menos os de Religião. “Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má formação dos alunos”, comenta.

Ela questiona o modelo de ensino religioso nas escolas do país com base no princípio constitucional de que o Estado deveria ser laico (neutro em relação às religiões). “Se o Estado deveria ser laico, por que ensinar religião nas escolas? Se a religião for tratada na sala de aula, tem de ser de forma responsável e diversificada”, acrescenta.

A discriminação de homossexuais vem junto com a doutrinação religiosa feita às cutas do Estado, em escolas públicas. “Desvio moral”, “doença física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “o homossexualismo não se revela natural” são algumas das expressões usadas para tratar das pessoas que optam por ligações com o mesmo sexo. Um exercício com a bandeira das cores do arco-íris acaba com a seguinte questão: “Se isso (o homossexualismo) se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?”.

Débora diz que num dos livros didáticos uma pessoa sem religião é associada ao nazismo (que, contraditoriamente, teve apoio ativo da Igreja Católica e foi combatido pela União Soviética, primeiro Estado a adotar expressamente o materialismo dialético no ensino público). “É sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, observa. “Os livros usam de generalizações para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa ela que é uma das três autoras da pesquisa.

“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”, afirma Débora. A antropóloga reforça a imposição do catecismo. “Cristãos tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasilieras, tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”, comenta.

O estudo, realizado entre março e julho de 2009, revela a ligação entre as editoras responsáveis pelas publicações e a doutrinação religiosa. A editora FTD, por exemplo, pertence aos irmãos Maristas, sociedade católica criada em 1817, na França. Também são católicas as editoras Vozes, Paulus Paulinas, Vida e Edições Loyola. “É esse contexto nebuloso de relações e interesses que envolve a pesquisa” diz Débora. Outras das principais editoras do material escolar são a Abril de Educação, líder do mercado, a Ártica, Scipione Saraiva, Moderna e Dimensão.

As 112 páginas da publicação, lançada pelas editoras UnB e Letras Livres, ainda conta com a contribuição da assistente social Vanessa Carrião, do instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
* Jornalista e curioso do mundo.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

sexta-feira, 16 de julho de 2010



O Horizonte Perdido: a hipocrisia do debate educacional

 
Escrito por Wellington Fontes Menezes    

"Há muita gente que tem se acostumado com lugares piores do que este – observava Bernard no
fim da primeira semana passada em Shangri-La; era, sem dúvida,
uma das muitas lições que estava aprendendo".
(James Hilton, "Horizonte Perdido", 1933)

Um discurso vazio
 

Em "Horizonte Perdido" (1933), James Hilton descreve o desvelo do mito da terra prometida e ficcional de Shangri-La, um lugar com cenas paradisíacas em algum ponto do Tibete onde se encontraria a fartura da saúde e da felicidade. Na esteira da Shangri-la da retórica brasileira, o atual debate sobre a Educação Básica pública oscila entre um rocambolesco discurso tecnicista meritocrático e os idílicos suvenires protocolares dos gabinetes de burocratas de ONGs, técnicos ou acadêmicos a anos-luz da realidade.
 
Indiferente ao processo de formação básica de seu povo, a ação governamental está movida por uma praxe neoliberal de privatizar o debate educacional em ONGs ou entidades similares. O resultado é o destilar de retóricas pueris com resultados meramente protocolares e burocráticos.
 
Empresas privadas disfarçadas de agentes sociais e ventiladas pela onda neoliberal, com raras exceções, as tais ONGs trabalham com dois objetivos fundamentais: a manutenção de seu espaço de lucratividade (atrelada com ações de marketing para sua própria sobrevivência financeira) e o debate da praxe do onanismo de projetos simplistas, idílicos, surrealistas ou de inviável execução na prática (geralmente é algum dourar da cereja de um bolo apodrecido). O Estado, em especial no governo tucano paulista, além de culpar simplesmente a classe docente pelo descalabro abissal, procura muito mais justificar as deficiências do sistema com a aplicação de remendos demasiadamente limitados e inadequados à severa crise que se instalou na Educação Básica. O resultado bem conhecido é a perpetuação da hecatombe educacional pública.
 
Coagidos pelo pragmatismo do desencanto do mundo ao estilo weberiano, perdidos em lutas internas fratricidas intestinais, os sindicatos ligados à educação se enrijeceram e se tornaram burocratizados, perdendo o rumo de sua ação para além da reivindicação dos soldos proletários. Exceto por alguns programas pífios e paliativos, a desarticulação entre universidades, sindicatos e secretarias de Educação dos estados é outro fator que impede uma construção realística de novos e urgentes projetos pedagógicos.
 
No momento em que a ideologia neoliberal adentra na sociedade como um valor de uma perversa moral, a meritocracia invade a fala ressonante de "policemakers", técnicos, professores e acadêmicos. A Educação deixa de ser um valor humanitário fundamental para se tornar uma competição capitalista entre seus agentes: a meritocracia é o mais perverso engodo neoliberal que se alojou na cultura do debate educacional. Para o riso amarelo de seus defensores, tudo se resolveria com a aplicação de provas de mérito e exames de verificação da tal "qualidade". Não fazendo coro ao hipócrita discurso do tecnicismo meritocrático, não se pode cobrar coisa alguma de uma mera miragem. A sintética e asséptica punição não contribui em absolutamente nada no desenvolvimento do ser humano.
 
Uma trágica miragem
 
O sistema de Educação Básica público é uma miragem, aliás, uma trágica miragem. Entre provas e mais provas de suposta "aferição pedagógica", anualmente é depositado um enorme volume do erário público em pesquisas débeis e inúteis, além de uma miríade de processos de verificação da tal "qualidade", dos quais se sabe o resultado previamente. Bom para o caixa de ONGs e empresas que aplicam provas dos sistemas meritocráticos de "qualidade total" em vultosos contratos com o governo.
 
Como se estivéssemos numa Suécia morena dos trópicos, a dispersão das provas meritocráticas no exaurido sistema educacional se tornou tão sintomática que pipocaram saltitantes as tais "olimpíadas dos saberes" (nas Ciências Exatas, Humanas e Biológicas). Na lógica da competição "educacional", em tudo quanto é campo do saber, tem-se uma "olimpíada" a ser competida pelos alunos.
 
Não se admira quando a BOVESPA cria um programa que ensina alunos a investirem na bolsa de valores! A "BOVESPA vai à escola" é um programa de uma aviltante excrescência! A proletária periferia paulistana agradece a nobre gentileza dos homens da impune fluidez do capital! A lição é simples, deslocar o parco dinheiro embutido no FGTS dos futuros proletários para a aplicação em ações das próprias empresas pelas quais eles mesmos são espoliados diariamente. Bela lição aos futuros "micro-investidores" do Jardim Ângela, Cidade Tiradentes ou Paraisópolis! Coisas da violência simbólica que faria até mesmo Adam Smith corar a face de vergonha!
 
Aos destroços de um sistema falido, soma-se a complacente ação da Big Mídia que, além de ser conivente com o neoliberalismo, emite na sociedade um discurso maquiavélico que privilegia a competição irracional em detrimento do caráter humanitário da educação. Logo, como subprodutos da falência do sistema público de Educação Básica, são emanados os parcos valores da sobrevivência no "mundo-cão" da competição desenfreada, no mais puro destilar do darwinismo social. O resultado é bem conhecido: a falência total de um sistema público de Ensino Básico, com alunos que saem das escolas muito próximos da mera e humilhante condição de analfabetos funcionais.
 
Para o retumbante fracasso no sistema público educacional, muitos defensores neoliberais, técnicos burocratas e resignados da esquerda pragmática se refugiam em simplistas e estapafúrdias desculpas do nosso anacrônico histórico de desigualdades sociais. A insistência para um novo modelo de educação é necessária ainda em pleno século XXI, num país que vive tempos midiáticos de neomilagre econômico (com taxas de crescimento próximas às do período dos governos militares).
 
Seres humanos não podem continuar a ser tratados como meras mercadorias. A lógica do descarte humano é um valor atroz que prevalece na sintonia fina entre mercado e ação governamental. Por mais bizarro que qualquer leitor desatento possa imaginar, o discurso neoliberal é construído com um vil destilar de cinismo nas falidas políticas educacionais. Grande parte das unidades escolares públicas é maquiada em perdulárias propagandas governamentais, já que parte significativa dessas escolas se constitui em antros de medo, insegurança e selvageria de coação moral e física. Exceto algumas ilhas que ainda estão na sobrevida do balão de oxigênio, o resultado real nas políticas educacionais é o desleixo do Poder Público pelo seu povo, sobretudo de menor poder econômico, dentro de uma sociedade movida pelas matrizes da ética do consumo.
 
Um turvo horizonte
 
O Paraíso sempre propalado em belos debates sobre o vazio se perdeu de vista. Ao contrário dos maquiladores de plantão, que sempre surgem do caos com seus sórdidos discursos franciscanos, que visam minimizar o caos atávico do sistema público. Defender um sistema sabidamente apodrecido é compactuar com uma política de exclusão de gerações de seres humanos, que são enganadas dentro de verdadeiras cadeias prisionais que muitos ainda insistem em chamar de unidades escolares.
 
Com o descaso governamental, a instituição das frágeis franquias familiares e a ética do consumo que majora os valores pessoais e sociais na pós-modernidade, é preciso compreender o caquético papel caricatural que possui a escola pública. Falida e débil, a Educação Básica pública apenas cumpre um burocrático papel de expedição de diplomas. Como prêmio de consolação, aos que sobreviveram a este processo de saturação do ser humano, pode-se ganhar eventualmente um mimo governamental, como uma vaga derivada de uma controversa política de cotas em universidades públicas ou uma bolsa de estudo em alguma faculdade privada de Ensino Superior de qualidade duvidosa, mas sedenta pelos louros do patrocínio governamental. A Educação brasileira é um grande arremedo arrastado de programas e ações governamentais díspares, desconexas e eleitoreiras.
 
De forma direta ou indireta, o mercado dita as regras e as políticas a serem supostamente implementadas pelo Poder Público. Torna-se ridículo o cínico discurso de muitas ONGs, como a marqueteira "Todos pela Educação", fomentada por grandes grupos econômicos e pousando com um querubim supostamente assistencialista, preocupado com a Educação no país. Naturalmente, se realmente tais grupos empresariais estivessem tão preocupados com a Educação (o tal mote da "responsabilidade social empresarial"), da mesma forma como o estão quando se trata de ganhar obscuros processos de licitação nas três esferas de poder, por exemplo, poderiam usar seus poderosos lobistas para pressionarem políticos a encararem a Educação Básica como projeto fundamental de governo de qualquer sigla partidária.
 
Longe de algum horizonte da propalada Shangri-La, entre tantas maravilhas contemplativas importadas de modelos educacionais estadunidenses, europeus ou asiáticos, a ocuparem o espaço inutilmente sem observarem a realidade local, o tempo passa e o faz-de-conta continua sendo a palavra de ordem. Enquanto o debate sobre a Educação é visto pela ótica da desfaçatez e da rapina do mercado, continuará a sangria de dinheiro público escoado pelo ralo, com gerações de alunos sendo conduzidas como fardo social e professores-fordistas tratados como animadores proletariados de salas de aula lotadas até a entrega das notas do final de cada ano letivo.
 
Aliás, cada ano letivo do Ensino Básico público é mais uma miragem para ser computada em belas estatísticas educacionais, posteriormente usadas a bel-prazer de interesses eleitoreiros dos governantes.
 

Wellington Fontes Menezes é mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), bacharel e licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Rede Pública do estado de São Paulo. 
  
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br 

quarta-feira, 14 de julho de 2010


Alceu elogia Pontos de Cultura e diz que novo tempo "chegou"

Com 38 anos de carreira, o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença continua criativo, rebelde, crítico da indústria cultural, da importação de modelos e da falta de divulgação dos artistas brasileiros. Perto de completar 64 anos, em julho, continua com a vitalidade dos anos 1980, auge de sua carreira, e ainda cativa o público jovem, que revisita suas canções, olha com curiosidade para seus novos trabalhos, suas misturas de sons e ritmos.


Herdeiro musical de Luiz Gonzaga, de Jackson do Pandeiro e de Dorival Caymmi, Alceu deu novo brilho aos ritmos regionais, como baião, coco, toada, maracatu, frevo, caboclinhos, embolada, repentes. Em seu primeiro disco, lançado em 1972 em dobradinha com Geraldo Azevedo, já punha um tempero rock’n’roll nas batidas tradicionais nordestinas que continuaram marcando docemente o compasso de sua história musical, inclusive nos clássicos como Coração Bobo, Espelho Cristalino, Morena Tropicana, La Belle d’Jour, entre outros.

Nas letras das canções Papagaio do Futuro e Espelho Cristalino, ainda nos 70, Alceu já expunha a questão ambiental. O artista, aliás, sempre foi um inquieto “militante” da diversidade cultural brasileira. E da esperança, sentimento presente em muitas de suas letras, falando de amor ou da natureza.

Em suas turnês pelo exterior, o pernambucano influenciou artistas americanos, europeus e brasileiros das gerações mais recentes como Chico Cesar e Zeca Baleiro. Foi um divulgador do movimento manguebeat, de Chico Science e o Nação Zumbi. E considera que as imposições estéticas do imperialismo cultural americano e a falta de divulgação por parte dos veículos de comunicação de massa ainda dificultam o surgimento de novos artistas no país.

Com 28 álbuns lançados, Alceu Valença surgiu para o grande público na apresentação ao vivo no 7º Festival Internacional da Canção – tido como o último dos grandes –, com Papagaio do Futuro.

Era 1972, o clima de ebulição dos episódios anteriores não era mais tolerado pela ditadura, a Globo cedia a todas as pressões e as caras começaram a mudar. Despontavam nomes como Belchior, Ednardo, Fagner, Walter Franco, Raul Seixas, Sérgio Sampaio. A fase nacional foi vencida por Fio Maravilha (de Jorge Ben, com Maria Alcina), e Diálogo, samba de Baden Powel e Paulo César Pinheiro.

Alceu não figurou entre os primeiros, mas levantou a plateia ao se apresentar na companhia de Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro. “Estou montado no futuro indicativo/ Já não corro mais perigo/ Nada tenho a declarar/ Terno de vidro costurado a parafuso/ Papagaio do futuro/ Num para-raio ao luar.../ Eu fumo e tusso/ Fumaça de gasolina/ Olha que eu fumo e tusso/ É fumaça de gasolina.”

Nos anos 1980 emplacou um clássico que fez história, o disco Cavalo de Pau, e nos anos 1990 outro, O Grande Encontro, na companhia de Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Elba Ramalho.

Alceu é um entusiasta dos Pontos de Cultura, programa criado pelo Ministério da Cultura em 2005 que, por meio de convênios, fortalece iniciativas artísticas desenvolvidas pela sociedade civil nas comunidades. Atualmente, existem mais de 650 deles espalhados pelo país: “Esse projeto favorece realmente os mais carentes, mas a barreira ainda está na mídia, na imprensa. Precisamos aprofundar a discussão e a divulgação da cultura brasileira, que têm de ser em escala bem maior”, disse numa entrevista.

Em seu blog, o músico expressou assim a percepção de mudanças que vêm acontecendo no país: “Desde o início da minha carreira, botei o pé na estrada, me doía ver a miséria berrante da maior parte de nossa gente, quase sempre negros, caboclos, quase sempre nordestinos. Mês passado, ao viajar, em busca de locações para a Luneta do Tempo, pelo interior do agreste de Pernambuco (São Bento, Pesqueira, Alagoinha, Cimbres), me comovi vendo que os lugares por onde passei estão caminhando para um nível de vida mais digno. As cidades estão mais limpas, as casas bem pintadas, as praças ajardinadas, o povo mais feliz. Tenho consciência que precisamos avançar muito mais, sobretudo, na educação e na saúde. Cada vez mais acredito no Brasil e em nossa gente”.

E a esperança e a alegria que marcam sua poesia e sua música parecem continuar firmes na sua forma de pensar e ver o Brasil: “Demorou, mas chegou. Um novo tempo. Conseguimos resistir, por décadas, a toda sorte de colonialismo, intempéries sociais, econômicas e políticas. Saímos fortalecidos, mais maduros, sabendo, inclusive, que o processo está no início e que, portanto, precisamos continuar trilhando esse novo caminho. Não precisamos mais seguir a cartilha de ninguém. Agora negociamos com países africanos, árabes, europeus e asiáticos sem tutor e sem chancela de ninguém. Alegria, minha gente, alegria...”


Fonte: Rede Brasil Atual
http://www.vermelho.org.br/noticia

  Fórum de Organizações Feministas apresenta contribuições à                                                Cepal                                                  

Na última terça-feira (13) as representantes do Fórum de Organizações Feministas para Articulação do Movimento de Mulheres Latinas Americanas e Caribenhas entregaram um documento à 11ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe (Cepal).

 

O texto traz as contribuições do Fórum de Organizações Feministas discutidas entre os dias 11 e 12. Entre os assuntos abordados está o atual modelo de desenvolvimento na América Latina e Caribe, com foco na promoção da igualdade, crítica do Estado patriarcal, capitalista, racista e da democracia na região.

Integram a delegação brasileira que compõe a Cepal, conselheiras do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), representantes do governo e conselheiras de notório conhecimento. Entre as participantes estão: a coordenadora da União Brasileira de Mulheres, Elza Maria Campos; a secretária Nacional de Mulheres do PCdoB, Liege Rocha e a coordenadora Estadual da UBN do RJ, Helena Piragibe.
Da Redação
http://www.vermelho.org.br/noticia

        Cepal defende autonomia para mulheres terem direitos                                                   reconhecidos                                             

A conquista da autonomia econômica, física e política das mulheres é fundamental para o reconhecimento de seus direitos, afirma o documento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), divulgado nesta terça-feira (13) na Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe.

 

De acordo com o documento são necessárias políticas públicas que reformulem os vínculos entre as três instituições fundamentais da sociedade: Estado, família e mercado – com a finalidade de articular um novo pacto social de redistribuição do trabalho entre homens e mulheres.

O texto aponta que as mulheres dedicam mais tempo ao trabalho doméstico não remunerado, independentemente de sua carga de trabalho. De acordo com a Cepal, elas continuam sendo discriminadas no mercado de trabalho e recebendo salários inferiores aos dos homens.

No Brasil, por exemplo, as mulheres dedicam no total 56,6 horas semanais ao trabalho, enquanto os homens ocupam 52 horas. No México a disparidade é ainda maior, as mulheres dedicam 76,3 horas, contra apenas 58,4 dos homens.

Dados de 2008 revelam que na região, 31,6% das mulheres com mais de 15 anos não tinham renda própria, enquanto somente 10,4% dos homens estavam nessa condição. As mulheres superam os homens também no desemprego: são 8,3% contra 5,7%.

Igualdade

O documento diz que o trabalho é a base da igualdade entre os gêneros e considera fundamental a conquista da autonomia econômica, física e política das mulheres. A autonomia econômica, esclarece o texto, implica no controle dos bens materiais e recursos intelectuais, e capacidade de decidir sobre a renda e os ativos familiares.

Outro ponto que o documento enfatiza é a autonomia física – indispensável para superar as barreiras existentes no exercício da sexualidade, da integridade física e da reprodução. O texto ressalta também a autonomia política que envolve a representação feminina nos espaços de tomada de decisões, especialmente nos governos e parlamentos.

Segundo a Cepal, cabe ao Estado tomar as medidas necessárias, sejam legislativas, institucionais, educativas, de saúde, fiscais ou de participação das mulheres na tomada de decisões. Com isso, espera-se eliminar o viés de gênero no mercado de trabalho, superar a diferença salarial, a segmentação e a discriminação.

No documento, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe defende ainda a garantia dos direitos das mulheres no mercado de trabalho e nas famílias.

O evento promovido pela Cepal, com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, acontece até a próxima sexta-feira (16) e Brasília.

Da Redação, com Agência Brasil

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Festival reconta ditaduras latinas pelos olhos de crianças

Três histórias das ditaduras militares latino-americanas contadas pelas visões de crianças estarão no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, cuja quinta edição acontece de 12 a 18 de julho em cinco salas de cinema da capital paulista. O argentino Kamchatka, o chileno Machuca e o brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias têm em comum a forma como as crueldades dos regimes militares são descobertas pela inocência do olhar infantil.

 

Kamchatka, co-produção entre Argentina, Espanha e Itália, narra os efeitos da "guerra suja" em uma família argentina, pelos olhos de Harry, um menino de 10 anos. A direção é de Marcelo Piñeyro e o elenco conta com os conhecidos Ricardo Darín e Cecilia Roth.

O mesmo acontece no chileno Machuca, que conta a história de três crianças de Santiago em situações totalmente diferentes. Enquanto Gonzalo Infante vive em um bairro chique da cidade, Pedro Machuca mora em uma favela.

Mas a distancia entre as duas realidades é reduzida quando o diretor de um colégio católico decide promover uma integração social, abrindo as portas para crianças de famílias pobres. A partir disso, uma amizade cheia de descobertas surge em meio ao clima hostil que a sociedade chilena vive antes, durante e logo depois do golpe contra Salvador Allende (1973).

Já o premiado O Ano..., de Cao Hamburger, conduz a narrativa por Mauro, de 12 anos, que tem como maior sonho ver o Brasil ser tricampeão mundial de futebol. No entanto, às vésperas da Copa de 1970, ele vê sua vida mudar completamente com a ditadura, ao ser separado de seus pais e obrigado a se adaptar a uma nova vida no bairro paulistano do Bom Retiro.

Temáticas como a violência e o tráfico aparecem em filmes brasileiros como Cidade de Deus e Eldorado, que retrata cinco histórias reais de tráfico de seres humanos.

Ao todo, serão exibidos 137 filmes de 15 países diferentes, todos com temáticas comuns da América Latina que têm como objetivo divulgar e discutir a singularidade estética da cinematografia recente e histórica do continente. A maioria dos filmes é inédita e a entrada é gratuita.

O 5º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo acontece entre os dias 12 e 18 de junho nas salas de cinema do Memorial da América Latina – que promove o evento -, Cinesesc, Cinemateca, Museu da Imagem e do Som e do Cinusp Paulo Emílio, todas na capital paulista.

Participação do público

Além das exibições, o público pode contar com oficinas, debates e uma série de palestras ministradas por profissionais do Brasil e do exterior, entre eles o argentino Piñeyro, diretor de O Que Você Faria? (“El Método”, 2005) e Plata Quemada (2000), além de Kamchatka (2002), que fará uma retrospectiva de sua produção em uma aula magna que acontece no dia 17 de julho, às 16h no Memorial da América Latina.

Na ocasião, também recebe homenagem o brasileiro João Batista de Andrade consagrado por O Homem Que Virou Suco (1980), eleito melhor filme no Festival de Moscou, e um dos idealizadores do festival.

Mesas de debates com diretores e profissionais do cinema também acontecerão no Memorial da América Latina. Nelas, serão discutidas questões como a identidade do cinema latino-americano, o impacto dos novos meios na crítica audiovisual e a relação entre o mercado e as escolas de cinema.

Além disso, o público poderá assistir a conversas entre os diretores dos filmes apresentados onde temáticas, semelhanças e curiosidades sobre os filmes serão apresentadas aproximando os espectadores da realidade de produção.

Fonte: Opera Mundi

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Dissipando nuvens

Sidnei Liberal *

Foi preso em Caracas o salvadorenho Francisco Chávez Abarca, integrante da lista de procurados da Interpol, por envolvimento com atentados a bomba em Cuba nos anos 90. Segundo a Folha de São Paulo¹, a prisão ocorreu no aeroporto da capital venezuelana quando Francisco tentava entrar no país com passaporte falso. Sua missão, segundo o presidente Hugo Chávez, era assassiná-lo, resultado de conspiração de setores da oposição com o terrorista. O salvadorenho tem ligações com o cubano naturalizado venezuelano Luis Posada Carriles, que vive em Miami e foi condenado na Venezuela e no Panamá pelos atentados em Cuba. Entre eles, a explosão de um avião que matou 73 pessoas em 1976.

A mesma matéria da Folha informa que o presidente venezuelano ameaça tomar o controle da TV Globovisión, de radical oposição ao governo. Há processos contra os principais dirigente da TV: o presidente Guillermo Zuloaga e um dos maiores acionista da emissora, Nelson Mezerhane, que estão foragidos e têm ordem de captura internacional. Zuloaga é acusado de “usura genérica” por ocultação de veículos para especular no mercado. Mezerhane está envolvido com fraudes do sistema financeiro. O banco do qual era presidente sofreu intervenção do governo.

O presidente Chávez também acusou a oposição de “podridão moral”, por condenar o governo no “escândalo da comida vencida” – o achado de cerca de 70 mil toneladas de alimentos importados por órgão do governo fora do prazo de validade. O fato de certa forma emparedou o governo e serviu para frear temporariamente a cruzada de Chávez contra os especuladores e a indústria de alimentos, culpados pela inflação que acumula 14,2% até maio.

Ameaças contra a vida do máximo dirigente nacional; terroristas condenados que circulam livremente pelas ruas de Miami, paraíso da máfia cubana no exílio; dirigentes de televisão que especulam contra a economia popular e que fraudam o sistema financeiro; constituem a podridão moral de uma elite que não respeita as regras da ética nem cessa de especular em detrimento do poder aquisitivo da população. Tudo direcionado à desestabilização do governo Chávez. É justamente essa elite que a secretária de estado Hillary Clinton chama de “diferentes grupos cívicos que desempenham um papel importante no desenvolvimento da democracia” venezuelana.

Para Hillary, o “intolerante” governo Chávez vem reprimindo lentamente esses “grupos cívicos”. Não tem sido diferente a posição da imprensa brasileira, como macaco de imitação, permanentemente submissa aos interesses contrariados de Washington. Centrais de intriga e agressão diante dos diferentes processos políticos de independência e soberania em curso no nosso continente. Sobram razões, portanto, ao chanceler da Venezuela, Nicolas Maduro: “Rejeitamos esta nova agressão de Hillary Clinton e exigimos respeito absoluto a nossa democracia, a nossas liberdades, a nossa forma de fazer nossa vida, nosso modelo econômico, nosso modelo social, nosso modelo político”.

Segundo Maduro, as críticas da secretária de Estado foram feitas, “exatamente quando em Caracas” se desenvolve "um processo de diálogo, de compreensão das diversas formas de ver o continente", do qual participaram representantes de “todos os Governos” da América Latina e do Caribe. De acordo com a matéria da agência espanhola EFE², “Chanceleres e altos representantes de 30 países latino-americanos e caribenhos realizaram ontem (sábado,3/07) na capital venezuelana um encontro preparatório para a cúpula presidencial da nova Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que acontecerá na Venezuela em 2011”.

A Celac, no discurso de Hugo Chávez diante dos chanceleres, vem abrir caminho para que a América Latina e o Caribe deixem para trás os tempos das “imposições dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA)”. Tempos em que Washington e a OEA condenaram a América Latina e o Caribe “à miséria, ao atraso, à dependência e ao subdesenvolvimento”. Podemos completar: tempos de assassinatos, golpes de estado e ditaduras sob orientação e apoio de Washington e seus representantes nativos.

(1) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0307201003.htm
(2) http://br.noticias.yahoo.com/s/04072010/40/mundo-chanceler-venezuelano-rejeita-nova-agressao.html

* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna


Almas Secas: A Perpetuação do Genocídio (3)  
Escrito por Wellington Fontes Menezes   
14-Jul-2010
 
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
("A triste partida", Patativa do Assaré)
 
Enfrentar permanentemente a questão da fome não é mera caridade ou filantropia permissiva. Deveria ser o programa fundamental de cada governo comprometido com o ser humano. Obviamente, em Estados semidemocráticos, como é caso do Estado brasileiro, a fome é muito mais um elemento de salutar perpetuação da escravidão eleitoral ou nota de rodapé "exótico" em algum jornal da Big Mídia.
 
A fome também é um problema ideológico e cultural. Convencionou-se a acreditar na naturalidade da desgraça famélica alheia como um problema divino ou um "trágico" fenômeno da natureza. Para isto, Josué de Castro desbanca as certezas invioláveis de falaciosas premissas do ‘ocaso da fome’: "Querer justificar a fome do 140710_wellingtonmenezes.jpgmundo como um fenômeno natural e inevitável não passa de uma técnica de mistificação para ocultar as suas verdadeiras causas que foram, no passado, o tipo de exploração colonial imposto à maioria dos povos do mundo, e no presente o neocolonialismo econômico a que estão submetidos os países de economia primária, dependentes, subdesenvolvidos, que são também países de fome".
 
Com a abdução da política pelo capital, urgentes debates são deixados de lado (ou distorcidos de sua realidade) dentro de uma sociedade em que poderiam contrariar os interesses dos capitalistas. Assuntos considerados mais "cosméticos" socialmente e pouco capazes de ferir as engrenagens capitalistas, como o debate em torno dos direitos de minorias (sexuais, "raciais"
 
Obviamente, tais lutas sociais são importantes, porém, não afetam diretamente ao grande capital (paradoxalmente, como não são movimentos de "ruptura", muitas vezes colaboram ainda para criar muito mais cisão dentro da própria sociedade!). A Big Mídia, por exemplo, insiste exaustivamente em considerar que a reforma agrária é um tema do passado. Ressalta Josué de Castro: "Precisamos enfrentar o tabu da reforma agrária - assunto proibido, escabroso, perigoso - com a mesma coragem com que enfrentamos o tabu da fome".
 
Para muitos defensores da sociedade irrealista que só existe em duvidosos índices econométricos em véspera de eleição ou nas manchetes da Big Mídia, é necessário a sociedade se voltar para a importância da centralidade do debate em torno da fome e da subalimentação. Agora, o "grande" Brasil extasiado em crescimento de índice econômico chinês não pode ter a ousadia de mexer no próspero latifundiário?
 
Na mesma dimensão da propaganda governamental, o maior exportador de carne bovina do planeta (um robusto percentual de 28% do comércio mundial em 2008, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, ABIEC) convive com o drama de milhões de pessoas que sequer podem comprar um único quilo de carne semanal (até mesmo mensal!). O seguido recorde dos grãos na agricultura abastece mercados consumidores com potencial poder de compra, e os grãos de pior qualidade podem encher as cestas básicas da nefasta caridade eleitoreira.
 
Não obstante, a produção cultural foi bem mais generosa com o ser humano e a denúncia da espoliação do homem pelo próprio homem sempre foi campo de interesse. Entre vários autores que fizeram a denúncia da fome no Nordeste, temos as canções imortais de Luiz Gonzaga, a poesia magistralmente seca de Patativa do Assaré e João Cabral de Melo Neto e a literatura de Graciliano Ramos, destacando o clássico "Vidas Secas". No campo cinematográfico, vários filmes e documentários ressaltaram o descalabro da fome. Inspirado em "Vidas Secas", recentemente se destaca o documentário de José Padilha, "Garapa" (2009), no qual o diretor procura imergir o espectador na perspectiva do drama dos que sentem fome nos bolsões de pobreza endêmica no Ceará. O título do documentário de Padilha bem é apropriado, uma vez que "garapa" é a mistura de água com açúcar ou rapadura, preparada pelas famílias para alimentar suas crianças e driblar momentaneamente a fome.
 
A fome não é uma querela pontual, para os seres humanos que vivem em regiões endêmicas de extrema pobreza trata-se asperamente da luta pela mera sobrevivência de seus corpos secos e tísicos. No caso brasileiro, a seca nordestina, como símbolo do mais profundo e bárbaro descarte humano, é uma seca de almas em desespero permanente.
 
Acima de tudo, é a seca derivada da criminosa indiferença dos centros de decisões sócio-econômicas que mais castiga e assassina anualmente de forma lenta e corrosiva milhões de homens, mulheres e principalmente as crianças. Salvo alguma catastrófica tragédia natural ou astronômica que dizime a espécie humana, seguramente apenas com a sociedade proporcionando novos modelos sócio-econômicos de produção, que tenham como base a socialização mais humana e igualitária da riqueza produzida em coletividade, se terá o cessar da perpetuação por completo do genocídio da fome.
 
Leia os outros dois artigos da série:
 
Almas Secas: A Perpetuação do Genocídio (1)
 
Almas Secas: A Perpetuação do Genocídio (2)
 
Wellington Fontes Menezes é mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), bacharel e licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Rede Pública do estado de São Paulo. 

Fonte:  http://www.correiocidadania.
 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Monstros da Veja revelam desespero

Fundo vermelho-sangue, cabeças de hidras, estrela petista, manchete (“O monstro do radicalismo”) e chamada (“A fera petista que Lula domou agora desafia a candidata Dilma”). A capa da última edição da revista Veja é realmente assustadora, mas ela também é reveladora: mostra que quem está assustada é a famíglia Civita, dona deste panfleto fascistóide.


Por Altamiro Borges (Miro) em seu Blog

Desesperada, a revista sequer teve criatividade e publicou uma capa muito similar à da véspera da eleição presidencial de 2002.

Na “reporcagem” fica a sensação de que a Veja já jogou a toalha. Ela parece não acreditar mais na possibilidade de vitória do seu candidato, o demotucano José Serra – tanto que não fala das suas dificuldades na escolha do vice e na ausência do registro do seu programa. Apavorada, a revista tentar enquadrar a candidatura de Dilma Rousseff. Ela repete a velha dupla tática da direita: faz campanha aberta para o seu candidato, mas procura interferir na linha política do seu adversário.

Tentativa de domesticar o programa

Já no editorial, o medo transparece. A partir da trapalhada no registro do programa petista, ela critica a “falta de controle da candidata sobre os radicais do seu partido”. O motivo do temor é a afirmação, mantida na segunda versão do programa, de que os meios de comunicação no país são “pouco afeitos à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático” e de que é preciso enfrentar “o monopólio e a concentração” no setor. A revista confessa, mais uma vez, que é inimiga da Constituição Federal, que propõe o fim do monopólio e o estímulo à pluralidade informativa.

A prepotente famíglia Civita, que se acovardou diante da ditadura militar e demitiu jornalistas críticos, como Mino Carta, insiste em se apropriar da bandeira da liberdade de expressão. “A imprensa não tem lições a receber de quem não compreende esse valor universal da democracia”, afirma o editorial. É com esta linha canhestra que a “reporcagem” tentará acuar o comando da campanha de Dilma, domesticando o seu programa e afastando “seus radicais”. O texto não é dirigido ao leitor emburrecido desta revista, mas aos vacilantes e “moderados” da campanha adversária.

“Cortar as cabeças” dos radicais

A “reporcagem” tenta o tempo todo estimular a cizânia nas esquerdas. “O programa de governo do PT traz de volta a ameaça da censura à imprensa e reacende o debate: Dilma conseguirá controlar os radicais de seu partido e domar o monstro do autoritarismo?... Se eleita, conseguirá repetir o feito de Lula e impedir que os radicais do PT transformem o Brasil numa república socialista, de economia planejada e centralizada e sem garantias à liberdade de expressão?”. Seu objetivo fica patente na frase agressiva: “Lula teve de cortar a cabeça dessa hidra em diversas oportunidades”.

Neste esforço para domesticar o programa e estimular a cizânia, a Veja chega a montar uma lista risível dos “moderados e pragmáticos” (Lula, Palocci e Dulci) e dos “radicais e incendiários” (Marco Aurélio Garcia, Franklin Martins e Paulo Vannuchi). Ainda neste segundo grupo, ela inclui o ministro Celso Amorim e a “imoral política externa brasileira”. Eles seriam as hidras que Dilma deveria “cortar as cabeças”, além de ceifar qualquer proposta mais avançada de mudanças.

Uma nova “carta aos brasileiros”

Ao final da “reporcagem”, como que já assumindo a derrota do seu candidato, a família Civita expressa seu desejo para a adversária, lembrando a manobra patrocinada pelos barões da mídia e do capital financeiro nas eleições de 2002. “O chamado ‘risco Lula’ provocou desvalorização do real, fuga de capitais, instabilidade econômica, e só foi amenizado quando ele [Lula] divulgou a Carta ao Povo Brasileiro... Para afastar definitivamente as desconfianças que ainda rondam sua candidatura, Dilma talvez tenha de seguir o exemplo do seu padrinho político”.

A mídia golpista encara o pleito deste ano como uma batalha de vida ou morte. Ela teme perder a eleição e avalia que este provável resultado aprofundará o processo de mudanças no país. Dilma Rousseff, com seu passado de esquerda e maior firmeza de convicções, apavora as famíglias Civita, Marinho, Frias e Mesquita. Se depender dos barões da mídia, é essa “hidra” que terá sua cabeça cortada numa das campanhas mais sujas da história. Mas, caso isto não ocorra, por uma questão de bom-senso é melhor se precaver, domesticando seu programa e afastando os "radicais".
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

  Fidel aparece na TV e acusa EUA de orquestrarem ataque     ao Irã  

O líder da revolução cubana e ex-presidente da ilha, Fidel Castro, participou nesta segunda-feira (12) de um programa da televisão oficial de seu país, em que tratou de questões internacionais, como as sanções contra o Irã e o conflito entre as Coreias. Ele alertou para o grave perigo que significará, para a paz mundial, uma agressão militar dos Estados Unidos e de Israel ao Irã.

 

Para Fidel, os Estados Unidos estão orquestrando uma série de pretextos para agredir o Irã e, assim, isolá-lo internacionalmente. O ex-presidente disse ainda que as recentes sanções aplicadas à nação iraniana são provas das reais intenções norte-americanas.

Durante sua participação no programa Mesa redonda, Fidel sublinhou que o virtual ataque, para o qual estão concentrados importantes efetivos militares dos EUA e de Israel no Golfo Pérsico, pretende destruir o Irã e se baseia na equivocada teoria de uma ausência de resistência por parte desse povo.

"Fazer um cálculo em cima do pressuposto de que os iranianos vão sair correndo é um verdadeiro absurdo", disse, após recordar a história de luta desta nação e também seus preparativos defensivos durante as últimas décadas. Fidel expressou que, ante os agressivos moivimentos dos EUA e de Israel - "totalmente públicos" -, o Irã adquiriu todas as armas possíveis e milhões de cidadãos integram o grupo Guardiões da Revolução e as forças aéreas, terrestres e marítimas do Exército e da Marinha.

"Estão treinando todas as pessoas maiores de 12 anos e menores de 60, são 20 milhões de muçulmanos xiitas", manifestou, em alusão aos generalizados preparativos do povo para enfrentar uma agressão anunciada.

O líder cubano explicou que assim como a agressão contra um barco sul-coreano supostamente realizada pelos EUA para provocar uma guerra entre as duas Coreias, as sanções contra o Irã ilustram a preocupação norte-americana com o domínio da tecnologia nuclear, motivo suficiente para uma possível guerra contra os iranianos.

Além disso, o ex-presidente lembrou que uma eventual agressão da Coreia do Norte contra a Coreia do Sul serviu de pretexto para os EUA manterem suas bases militares no Japão. “É muito curioso que esta suposta agressão tenha coincidido com o pedido do novo líder japonês para devolver o território ocupado em Okinawa pelas tropas norte-americanas”, disse Fidel, de acordo com o jornal cubano Juventud Rebelde.

Após assinalar que os coreanos não vão esperar que os agridam, disse que um primeiro conflito pode desencadear também uma guerra nuclear nessa área. "Seria uma guerra imediatamente depois da outra", agregou, para destacar a gravidade do tema.

Em outra parte da intervenção, revelou que os Estados Unidos gastam, em questões militares, mais recursos que todas as nações do mundo juntas, e os orçamentos de guerra desse país superam em 49% o que foi gasto por Washington em 2000.

Durante a entrevista, Fidel foi acompanhado pelo jornalista Randy Alonso, mediador do Mesa Redonda, pelo historiador Rolando Rodriguez, pelo presidente da Comissão Econômica da Assembleia Popular Nacional e pelo diretor do CNIC (Centro Nacional de investigações Científicas).

No sábado (10), o ex-presidente visitou o CNIC em uma rara aparição pública desde 2006, quando adoeceu. Dois anos depois, Fidel Castro renunciou à presidência cubana por motivos de saúde e seu irmão Raúl Castro oficialmente assumiu o cargo.

Desde então, o ex-presidente abandonou os eventos públicos e limitava sua participação à publicação de artigos no jornal cubano Granma. Fidel também reuniu-se algumas vezes com líderes de outros países e recebeu estudantes, fatos sempre registrados pela imprensa oficial da ilha.

Atualmente com 83 anos, Fidel liderou o Poder Executivo em Cuba durante 49 anos e ainda é o primeiro-secretário do Partido Comunista. As recentes aparições do cubano concidem com a decisão da ilha de libertar 52 presos em 2003, por tentarem derrubar o governo.

Com agências


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A juventude, enfim, é parte da Constituição Brasileira!

Paulo Vinícius *

O dia 07 de julho marca uma nova página para a juventude Brasileira. Se há 22 anos a juventude conquistou o voto aos 16 anos, nessa data a juventude brasileira se inseriu como sujeito de direitos na Constituição da Republica Federativa do Brasil.


A aprovação da PEC 42/2008 no Senado Federal em duas votações unânimes ilustra a envergadura que ganhou a representação política da juventude brasileira no governo Lula, assim como o reconhecimento de todas as forças políticas da importância e da necessidade de considerar a juventude como sujeito de políticas públicas de Estado.

Doravante, não estará sujeita a política pública de juventude aos ditames deste ou daquele(a) gestor(a). Com a aprovação da PEC, abrem-se largas avenidas para a consecução de um Plano Decenal e de um Estatuto da Juventude. Entra na ordem do dia a realização da II Conferência Nacional da Juventude no primeiro semestre de 2011, assim como a consolidação dos órgãos gestores que tratem das questões relacionadas à juventude.

E não é a toa. Estudos demográficos apontam para um dado relevante. Essa geração comporá uma parcela imensa da população economicamente ativa que será a maior e definirá a face do desenvolvimento nacional nas próximas décadas. Quando a Câmara e o Senado aprovam a PEC da juventude, abrem caminho à definição de políticas públicas perenes num setor que decidirá efetivamente que novo Brasil teremos. Assegurando direitos à juventude e superando a omissão do texto constitucional, o Congresso abriu larga avenida à consolidação de direitos que só se insinuaram nesses oito anos de mudanças e continuidades. Direitos que se refletirão sobre o conjunto da população brasileira.

Assim, O Parlamento respondeu ativamente à pressão feita pelo Conselho Nacional de Juventude, que reúne um retrato fiel e qualificado da juventude nacional. Esse coletivo mobilizou a Câmara e o Senado, mas a sua representação fez muito mais, numa trilha que uniu governo e oposição e acabou por afirmar políticas públicas como o PROUNI, o PROJOVEM, os Pontos de Cultura e o Segundo Tempo, a expansão da educação superior e profissional. Ressaltou sucessão geracional no movimento sindical e no campo, construiu políticas de assistência estudantil enfatizou a importância das mulheres, dos negros e indígenas, dos trabalhadores e estudantes, das pessoas com deficiência, da cultura, da juventude que luta nas periferias. É essa moçada que propõe um Pacto da Juventude ao debate das eleições de 2010 e que compõe um bonito mosaico de movimentos sociais - como a UNE, a UBES, a CTB, a UGT e a CUT -, as juventude políticas, as ONGs, todos os tipos de movimentos.

Foi esse lastro social contemporâneo que extravasou nos blogs, nos portais e na massiva campanha que ganhou o Twitter. Foi essa voz que se fez ouvir na Tribuna de Honra e nas galerias do Senado, é essa a razão da vitória que só anima a mocidade brasileira na luta por mais direitos, pela construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento em que possamos ver, como diz a canção que não dá pra esquecer "os meninos e o povo no poder eu quero ver".


Danilo Moreira
Presidente do Conselho Nacional de Juventude
Augusto Chagas
Presidente da União Nacional dos Estudantes
Paulo Vinícius
Secretário Nacional de Juventude Trabalhadora da CTB

PS.: concebido no calor da vitória, no Azeite de Oliva, em Brasília, Distrito Federal

* Cientista social e bancário.
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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Dragão de Jorge


Aposentadoria é quando o Dragão vira donzela, quando a batalha dá lugar ao gozo. Mas o simplesmente gozar não nos foi ensinado. E mergulhamos então na tristeza da depressão.


                                                                                       
   Rubem Alves*              

Sou Professor universitário, no gozo da liberdade que a aposentadoria  traz, tinha agora tempo para ler os livros que não lera, fazer as viagens que não fizera, ou simplesmente tempo para vagabundear. Sobravam-lhe as razões para viver o que William Blake escrevera: "No tempo de semear, aprender; no tempo de colher, ensinar; no tempo do inverno, gozar...". Seu inverno chegara. Estava aposentado, livre da compulsão prática que o trabalho impõe. Podia entregar-se a realizar os sonhos com que sempre sonhara. Chegara o tempo de gozar.

 
Minha cabeça, ao se defrontar com um enigma, faz o que faziam os gregos: ela inventa histórias, mitos. Pois foi isso que aconteceu. Baixou-me a história que passo a contar para explicar a incapacidade de gozar quando é tempo de gozar. "Desde muitos séculos, São Jorge fora um habitante da Lua. Romântica quando vista da Terra, a Lua era a arena de uma batalha diária entre o Santo Guerreiro e o Dragão da Maldade. Todas as manhãs, ao acordar, São Jorge sabia: havia uma missão que só ele poderia cumprir.

Era esse sentimento quase religioso de missão e de dever que dava sentido à sua vida. Bem que ele poderia ter matado o Dragão séculos antes. Mas ele sabia que se matasse o Dragão sua vida se transformaria num tédio sem fim: nada para fazer, nenhuma missão a cumprir. Sua máxima espiritual era 'Pugno, ergo sum': luto, logo existo. São as batalhas que dão sentido à vida.

Aconteceu, entretanto, algo de que ninguém suspeitava. O Dragão era, na verdade, uma linda donzela que uma bruxa invejosa havia enfeitiçado e mandado para a Lua. Mas como todo feitiço tem um prazo de validade, chegou também o dia em que a validade do feitiço chegou ao fim e se desfez: o horrendo Dragão foi transformado numa linda donzela.
São Jorge, que tudo ignorava, acordou na manhã daquele dia como acordava todos os dias, determinado a cumprir o seu destino que era dar combate ao Dragão. Com lança, armadura e espada saiu o guerreiro em seu cavalo. Mas qual não foi o seu susto quando, em vez de um Dragão, o que o esperava era um ser que lhe era totalmente estranho: uma linda donzela.

E a donzela com suas vestes entreabertas o recebeu com palavras de amor e gozo: 'Venha, Jorginho, provar do meu carinho e do mel dos meus beijos...' São Jorge ficou paralisado de susto e medo. Não sabia o que fazer. Essa entidade estranha não estava registrada em sua memória. Não lhe fora ensinada na escola. Fora educado a vida inteira para a batalha. Era a batalha que dava sentido à sua vida. E agora ele se defrontava com a possibilidade de simplesmente gozar sem nada fazer...

São Jorge nem desceu do seu cavalo. Voltou para onde viera triste e deprimido, com saudades dos tempos do Dragão. O Dragão dava sentido à sua vida. Ele definia a sua identidade: ele era um guerreiro... Agora, perdida sua identidade, perdeu-se também o sentido de sua vida.

Não lhe fora ensinada na escola a arte do gozo, de não ter deveres a cumprir. Sua vida tornou-se, então, um grande vazio. Quanto à linda donzela, apesar de linda, não foi apreciada. São Jorge olhava-a com aquela sensação saudosista dos tempos do Dragão...";

(*) Rubem Alves é escritor, educador e psicanalista

Mais três estados criam juizados de violência contra a mulher

Dos 27 estados brasileiros, somente quatro ainda não possuem Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que foram criados pela Lei Maria da Penha. Recentemente os estados do Piauí, Tocantins e Roraima promoveram a instalação desses juizados. Com isso, apenas os estados de Santa Catarina, Paraíba, Rondônia e Sergipe ainda não possuem esses juizados especializados.

 

De acordo com a presidente da Comissão de Acesso à Justiça e Cidadania do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), conselheira Morgana Richa, a 4ª Jornada da Lei Maria da Penha, realizada em março deste ano, e os Mutirões da Cidadania do Conselho pretendem que todos os estados possuam os juizados até o final deste ano.

Segundo ela, os estados de Santa Catarina, Paraíba e Rondônia estão preparando cronograma para criar as unidades até o final do ano. “Em Rondônia, há a previsão de aprovação de uma lei nos próximos dias para autorizar a criação do Juizado”, explica Morgana.

A conselheira Morgana esclarece que a meta de 100% de juizados de Violência Doméstica instalados proporcionará um atendimento mais adequado às mulheres. “É necessária uma estrutura exclusiva e apropriada, pois trata-se de um tema muito delicado”, afirma.

A conselheira destaca que mesmo com as limitações e dificuldades do Judiciário local é preciso ampliar as políticas públicas voltadas para as mulheres vítimas de violência. “O Judiciário precisa priorizar aspectos essenciais na seara dos Direitos Fundamentais, onde se inserem os grupos de maior vulnerabilidade”, opina.

Até março deste ano, havia 43 Juizados especializados em Violência Doméstica contra a Mulher, sendo que alguns estados possuíam mais de um juizado, como no caso do Rio de Janeiro com seis unidades. Atualmente, há 46 juizados em todo o país. Até o final deste mês haverá 48, pois o Tribunal de Justiça de Tocantins criará uma unidade em Araguaína e outra em Gurupi. Segundo informações prestadas ao CNJ por esses juizados, há aproximadamente 195 mil processos em andamento referentes a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Agência CNJ de Notícias


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Bolívia quer que água seja declarada direito humano irrevogável 

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou nesta segunda-feira (13) que seu governo apresentou perante as Nações Unidas um projeto de resolução para que o acesso à água seja um direito humano irrevogável. Em entrevista coletiva no Palácio de Governo, Morales ressaltou que o direito à vida, incluído na carta de Direitos Humanos da ONU, "é impossível" sem a água. "Meu pedido, desde a Bolívia, aos presidentes e aos Governos dos cinco continentes que são parte das Nações Unidas, é que aprovem a água como direito humano", sentenciou.

O líder lembrou que a Constituição de seu país, promulgada no ano passado, já considera o acesso à água um direito da população boliviana, e agora espera que se faça o mesmo no organismo internacional. Segundo Morales, isso ajudaria a cumprir com os Objetivos do Milênio para o ano 2015, entre os quais se encontra a dotação de água potável e saneamento em todo o mundo. "Seria totalmente contraditório para as Nações Unidas dizer que aprova como objetivo dotar o mundo de água potável e saneamento, e não declarar a água um direito humano", opinou.

Morales fez uma chamada aos movimentos sociais para que pressionem os Governos "que não querem debater". "Se a água continuar sendo um negócio privado, é uma forma de prejudicar os direitos humanos e por isso deve haver uma resolução para declarar a água um direito humano no mundo todo. (...) Em alguns países, infelizmente, ela está como um direito e negócio privado, quando deveria ser de serviço público", assegurou. Morales explicou que, por causa da mudança climática, a falta de água afeta cada vez mais o mundo. "Sem água não podemos viver, estamos trabalhando para que a água seja declarada um direito humano", concluiu.

De acordo com o embaixador da Bolívia nas Nações Unidas, Pablo Solón, a falta de acesso à água potável e serviços de saneamento de qualidade provoca a morte de uma criança a cada oito segundos, a mais alta taxa de letalidade das patologias no planeta. Para ele, o fato de a água não estar listada entre os direitos humanos obrigatórios tem permitido que as decisões políticas relacionadas ao tema sejam tratadas por instituições que não respondem aos Estados membros da ONU e não se aderem a suas normas. Portanto, “é muito importante que muitos Estados contribuam com esta resolução e que ela seja aprovada com a linguagem clara”, disse o embaixador. A proposta boliviana faz parte de uma das medidas solicitadas na carta de motivos da I Conferência Mundial de Povos e Direitos da Mãe Terra, que aconteceu em abril na cidade de Cochabamba, na Bolívia.

O jornal boliviano Los Tiempos afirma que a solicitação lembra que quando se escreveu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, ninguém podia prever no dia no qual a água seria uma área de dificuldade, mas que agora não é um exagero dizer que a falta de acesso à água limpa é a maior violação aos direitos humanos no mundo. 

“O mundo precisa de um sinal claro que mostre que a água é um assunto prioritário”, disse Solón. 
Com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia


"Mary e Max – Uma Amizade Diferente"

Cloves Geraldo *

Iguais e diferentes

Animação do diretor australiano Adam Elliot trata de amizade e frustrações que as estruturas sociais causam às pessoas

                As vidas de dois seres quase improváveis permitem ao diretor australiano Adam Elliot discutir as relações sociais nos tempos atuais. A partir da história real da garota australiana Mary Dinkle, 8 anos, e do estadunidense Max Horovitz, 44 anos, ele se vale da animação para estruturar sua narrativa, centrada em estados de espírito, visões de mundo, desencontros amorosos, compulsão consumista e, sobretudo, amizade entre eles. Uma história que atravessa 20 anos, entre altos e baixos, retraimento e fuga da realidade com que ambos se deparam, para manter vivas suas expectativas.
                Elliot, responsável pelo roteiro, direção e animação, estrutura a narrativa de modo a que o espectador não perceba que está diante de personagens que agem como pessoas reais. Vale-se das vozes dos atores Toni Collete (Mary), Philip Seymour Hoffman (Max) e Eric Bana (Damian) para torná-los críveis, próximos dele, espectador. Diferentes das dublagens das animações tradicionais que enfatizam encantamento e medo, jogando com suas emoções.
                Além disso, os ambientes/cenários contribuem para esta verossimilhança. Sombrios, amarronzados; dão densidade ao clima opressivo em que Mary e Max vivem. Móveis, utensílios, fotografias e animais, longe de serem decorativos, são extensões de ambos. Gordinha, inquieta, insatisfeita consigo e com os pais, ela tenta evadir-se de sua casa; ele, obeso, sofrendo da Síndrome de Asperger (espécie de autismo), mal consegue se deslocar pelo seu apartamento. Elliot trabalha-os não com suas fraturas, prefere dotá-los de humor corrosivo, criativo, tornando-os interessantes, simpáticos, até.
                Difícil conduzir uma narrativa assim, sem deixá-la cansar o espectador, por mais que o diretor/amimador tenha encontrado um equilíbrio nas sequências, cenas e entrechos. Trata-se de animação sem grandes lances de ação e desfecho grandioso. Elliot consegue manter o espectador atento pela forma como sua câmera foca os personagens. Ela está sempre próxima de Mary, de sua mãe, de seu galo; sempre situando Max entre móveis, utensílios e seu peixe no aquário. Quando dele se aproxima é para captar suas reações à vida ou para concentrar-se numa carta de ou para Mary.
             Preferências cotidianas unem Max e Mary
             Este tipo de narrativa ajuda o espectador entender o papel dos cenários. Tanto Mary, vivendo no subúrbio de Melbourne,  Austrália,  quanto Max, morando em Nova York, compensam suas carências de formas adversas. Ela tentando escapar à solidão, ao alcoolismo e roubos da mãe; ele entupindo-se de chocolate e fugindo da colega do grupo de tratamento de Asperger consume seu dia vendo tv. No entanto, eles têm em comum gostar do mesmo programa de televisão e compensar suas frustrações convivendo com animais – Mary com um galo, Max com um peixinho.
                Estes são mais que bichos de estimação, viram muletas, substitutos de pais, amigos, amantes, companheiros/as. Mary procura substituir estas compensações à medida que cresce. Consegue alguém para discutir suas carências; Max, cada vez mais velho, mantém-se solitário, comendo cada vez mais chocolates. Elliot nesta caracterização introduz um elemento importante para a compreensão de ambos: o que leva uma garota australiana a se tornar amiga por duas décadas de um estadunidense sem esperança alguma de elevar-se de patamar numa sociedade de massa?
                A resposta é simples: seus pontos em comum. Justamente aquilo que, em princípio, poderia ser improvável. Mas não é. São duas pessoas comuns. Gostam do mesmo programa de TV e adoram chocolate. Através destes marcos de identidade, elas trocam cartas, presentes e ficam cada vez mais próximas. Elliot dota-os de humor e criatividade para mostrar o quanto são diferentes, o  quanto são iguais. Principalmente, quando ela, iniciando a amizade quer saber como surgem os bebês nos EUA.  A resposta que ele lhe dá é hilariante, corrosiva, daquelas que fazem rir e pensar na mordacidade de Max para com padres, rabinos e freiras.
                São nestas sequências que os comentários ácidos do judeu Max e as inquietações da sensível Mary levam o espectador a entender o que, na verdade, quer Elliot. Mostrar como ambos são vítimas das estruturas sociais, capitalistas, feitas supostamente para “o bem estar” e terminam causando dores e frustrações. Max é um faz tudo, ex-comunista, que não sonha com mais nada. Seu horizonte vai apenas até pilhas e pilhas de caixas de chocolate. O de Mary, depois de tentar escapar à solidão, é o de mãe solteira em busca de uma saída. Elliot, mesmo assim, evita cair no pessimismo: Mary encontra nas cartas de Max, pregadas na parede do apartamento dele, a satisfação de tê-lo tido como amigo.
Um belo filme, em que a sobriedade narrativa em off de Barry Humphries ajuda a compreender melhor a natureza humana e as estruturas que os aprisiona. Nem se percebe os recursos de animação usados por Elliot. Eles estão ali para compor um quadro dos tempos atuais, cheios de carências e poucas compensações.

Mary e Max – Uma amizade Diferente” (“Mary e Max”). Drama. Animação. Austrália. 2009. 93 minutos. Roteiro, Direção, Animação: Adam Elliot.


* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Serra está nos devendo uma resposta: é ou não é um impostor?

Ao comentar neste domingo (11), em seu blog, o manifesto assinado pelos presidentes de cinco centrais sindicais que acusa o candidato José Serra de mentir aos trabalhadores brasileiros, o jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo, observou que o ex-governador paulista “ainda não se manifestou publicamente sobre os ataques que lhe foram dirigidos”.


Convém ressalvar que o funcionário da Folha de São Paulo sempre foi hostil aos movimentos sociais e, a exemplo da empresa em que trabalha, também tucanou. No texto sobre o manifesto chama os presidentes das centrais de mandachuvas e mandarins do sindicalismo.
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Afirma também que a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em 1º de junho, definiu apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, o que não corresponde à verdade. Embora a maioria dos sindicalistas esteja engajada na campanha de Dilma, a Conclat não indicou apoio a nenhum candidato em respeito à pluralidade política dos sindicatos. Os sindicalistas aprovaram dois documentos, um manifesto político e uma agenda da classe trabalhadora por um novo projeto de desenvolvimento nacional fundado em três valores fundamentais: soberania, democracia e valorização do trabalho. A mídia hegemônica não viu a Conclat, mas fez questão de reproduzir informações distorcidas sobre (e contra) o evento.


Apesar do equívoco apontado e dos preconceitos contra os representantes dos trabalhadores, a observação final do blogueiro da Folha é pertinente. Serra está devendo uma resposta à sociedade. O eleitor tem o direito e até o dever de saber se o candidato que lhe pede voto para presidente da República é mentiroso ou não.

Leia abaixo o comentário de Josias de Souza:

Centrais sindicais chamam José Serra de ‘mentiroso’

Em “manifesto” assinado pelos presidentes de cinco centrais sindicais, o presidenciável tucano José Serra foi chamado de “mentiroso”.

O texto contesta duas informações difundidas por Serra: a de que seria responsável pela criação do FAT e a de que teria tirado do papel p seguro-desemprego.

“Não fez nem uma coisa, nem outra”, anota o libelo das centrais, fechadas com a candidatura petista de Dilma Rousseff.

O documento traz as assinaturas dos presidentes da CUT, Força Sindical, CGTB, CTB e NCST. “Serra: impostura e golpe contra os trabalhadores”, eis o título.

Quanto ao seguro-desemprego, os mandachuvas das centrais sustentam que “a verdade” é que foi criado por meio de decreto presidencial (número 2.284).

Editado em 10 de março de 1986, foi assinado pelo então presidente José Sarney. O texto das centrais acrescenta:

“Sua regulamentação ocorreu em 30 de abril daquele ano, através do decreto nº 92.608, passando a ser concedido imediatamente aos trabalhadores”.

Sobre o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), as centrais afirmam: “Foi criado pelo projeto de lei nº 991, de 1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB-RS)”.

Acrescentam: “Um ano depois, Serra apresentou um projeto sobre o FAT (nº 2.250/1989), que foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara”.

Deu-se, segundo as centrais, “na sessão de 13 de dezembro de 1989”.

A proposta de Serra teria descido ao arquivo porque “o projeto de Jorge Uequed já havia sido aprovado”.

Como que decididos a abortar o esforço de Serra para "apresentar-se como beneméreito dos trabalhadores", os presidentes das centrais capricharam na desqualificação:

“[...] Tanto no Congresso quanto no governo [de São Paulo], sua marca registrada foi atuar contra os trabalhadores. A mentira tem perna curta e os fatos desmascaram o tucano”.

Na Constituinte (1987-1988), escrevem os dirigentes das centrais, Serra “não votou” uma série de propostas. Listaram-se nove temas:

1. “Serra não votou a redução da jornada de trabalho para 40 horas”.
2. “Não votou pela garantia de aumento real do salário mínimo.
3. “Não votou pelo abono de férias de 1/3 do salário”.
4. “Não votou para garantir 30 dias de aviso prévio”.
5. “Não votou pelo aviso prévio proporcional”.
6. “Não votou pela estabilidade do dirigente sindical”.
7. “Não votou pelo direito de greve”.
8. “Não votou pela licença paternidade”.
9. “Não votou pela nacionalização das reservas minerais”.
De acordo com o “manifesto” das centrais, foi “por isso” que o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) deu nota baixa a Serra.

O desempenho do então deputado constituinte tucano rendeu-lhe média 3,75 na aferição do Diap. A nota máxima era 10.

De resto, os presidentes das cinco centrais esmeraram-se nos ataques ao estilo de Serra à frente do governo de São Paulo. Anotaram coisas assim:

“Reprimiu a borrachadas e gás lacrimogênio os professores que estavam reivindicando melhores salários”.

Em maio, a ministra Nancy Andrighi, do TSE, aplicou multa de R$ 7.000 à Apeoesp, associação sindical que representa os professores do Estado de São Paulo.

A multa foi estendida à presidente da entidade, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel. Ela desancava Serra em assembléias e manifestações.

Acionado pelo PSDB e pelo DEM, o TSE entendeu que a greve, por política, promoveu “propaganda negativa de Serra”. Daí as multas.

Em 1ª de junho, as centrais que agora atacam Serra realizaram, em São Paulo, um encontro batizado de Conferência Nacional da Classe Trabalhadora”.

Nessa reunião, aprovaram um “programa de desenvolvimento” para o país. E declararam apoio à candidatura petista de Dilma Rousseff.

Serra ainda não se manifestou publicamente sobre os ataques que lhe foram dirigidos pelos mandarins do sindicalismo pró-Dilma.

Da redação, com Blogs da Folha


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