Há mais de vinte anos, exatamente em 20 de maio de 1987, em artigo publicado
no jornal "O Estado de São Paulo", o eminente ministro do Supremo
Tribunal Federal, Sidney Sanches, em exposição feita junto à Subcomissão do
Poder Judiciário e Ministério Público, textualmente afirmou que "o
interesse público será melhor atendido e a Justiça melhor servida se o
Ministério Público, em qualquer de suas funções em juízo, estiver a salvo de
influências externas, seja no âmbito estadual, seja no federal", clamando
por maior autonomia, financeira e administrativa, para que se garanta a seus
membros maior segurança e isenção, em nome do interesse público e da justiça.
Da mesma forma, tornava-se necessária a outorga de garantias, idênticas às
da magistratura, diante de possíveis influências, inclusive de ordem política,
para que seus membros atuem em nome e na defesa da sociedade. Posteriormente, o
constituinte, atendendo aos reclamos dos operadores do direito, estabeleceu, em
cláusula pétrea, que "ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente" (art.5º inciso LIII, da CF). Garantiu-se, assim, ao
acusado, prévio conhecimento de quem o perseguirá em juízo e quem aplicará o
direito ao caso concreto.
Defensor da legalidade, cristalina qualificação do Ministério Público, causa
espécie a posterior designação de Promotor de Justiça, em detrimento do
intitulado Promotor Natural, vedando-se, dessa forma, a discricionária
designação, afastando-se o verdadeiro titular, ferindo-se a regra pétrea,
verdadeira garantia constitucional, porque, conforme doutrina o eminente
jurista Jaques de Camargo Penteado, "governo algum pode interferir no
Ministério Público para obter acusação contra inimigo político, sob pena de
violação dos princípios da igualdade e da ampla defesa. Não basta o controle
jurisdicional posterior, eis que a todo indivíduo deve ser assegurado o direito
de jamais ver seu nome inserido numa denúncia sem supedâneo suficiente. E
o contrário deve igualmente ser analisado. Governo algum pode interferir no
Parquet para obter denúncia que jamais chegará a bom termo ou arquivamento que
deixará de levar à condenação justamente aquele que feriu a ordem
jurídica".
Os notáveis avanços e as novas tarefas atribuídas ao Ministério Público, ao
contrário do que se pode inferir, possuem o condão de permitir a seus membros o
cumprimento desses misteres, em proveito da sociedade, única beneficiada, não
tendo jamais o intuito de estabelecer privilégio a determinada casta de
funcionários.
A concessão de discricionariedade na designação de promotor em detrimento
daquele prévia e legalmente autorizado a propor ação desvirtua e macula o
devido processo legal, voltando-se a tempos pretéritos "em que o
Ministério Público se notabilizou por servir ao governo e aos governantes,
situação esta incompatível com sua atual destinação constitucional",
conforme alerta Hugo Nigro Mazzilli, que aponta o caminho correto:
"justamente para que o Ministério Público possa servir a sociedade e não
aos governantes, precisa ser dotado de garantias substanciais que assegurem a
independência administrativa e funcional - garantias concretas e não palavras
retumbantes na Lei Maior, mas vazias de maior conteúdo prático".
A evolução da instituição, assim, caminha para o respeito às garantias
estabelecidas na Constituição Federal, mas, antes de tudo, são garantias da
própria coletividade e que devem, portanto, ser rigorosamente concretizadas
para que não se constituam em meros enunciados.
Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e 1º Secretário do
Ministério Público Democrático.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
A
mentira na história e a compreensão da crise
O capitalismo atravessa uma crise estrutural para
a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o
sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é
indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que
deforma o real, impondo à humanidade uma Historia deformada , forjada pelo
capitalismo para lhe servir os interesses.
Essa compreensão é extraordinariamente
dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes
transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em
época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as
forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em
verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.
A lógica das crises
No esforço para enganar e confundir os povos, a
primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um
bombardeio midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira,
resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram
a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia,
mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas
adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do
capitalismo, de âmbito mundial. A simulação da surpresa fez parte do
jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança
mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e
anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se
na lógica da História.
Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra
Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia
prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do
capitalismo.
A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha
como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente
conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita,
numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Yalta.
Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se
entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos
assumidos.
A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino
Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar
outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas
anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram
rapidamente retomados.Como os povos estavam sedentos de paz, uma
gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir
no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava
um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente
para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista
sobre uma paz perpétua.
A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O
famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de
Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente
discutido com a Casa Branca. O medo da "barbárie russa" abriu
o caminho à Doutrina Truman e à OTAN. Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de
romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.
Cabe recordar que somente após o afastamento dos
comunistas dos governos da França e da Itália os ministros anticomunistas
deixaram de integrar governos de países do Leste europeu.
É também significativo que os historiadores
norte-americanos e ingleses – com raríssimas exceções - omitam que a
implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa
sem recurso à força armada, enquanto na Grécia – país situado na zona de
influência inglesa - o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta
repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o
poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a
sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas a mídiaocidental ignorou
esses massacres. O tema era incômodo.O tão comentado plano russo de "conquista e
dominação mundiais" não passa de um mito forjado em Washington e Londres
para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como "aliança
defensiva" capaz de se opor "à subversão comunista". E a arma
atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem.
Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara
mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava
desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado
as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a
guerra e promover o "expansionismo comunista" uma sociedade nessas
condições?
A agressividade vinha toda dos EUA que tinham
sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as
suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado
britânico.
A Grã Bretanha, cujo império principiava a
desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao
aliado russo, antes freqüentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos
jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina
de Ferro, meses antes do final da guerra tenha afirmado: "Não conheço
outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o
governo soviéticorusso. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma
discussão sobre a boa fé russa". (citado por Isaac Deutscher em Ironias
da História, pág. 184; Ed. Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido
pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o
mundo…
Mesma hipocrisia numa crise muito diferente
Desagregada a União Soviética e implantado o
capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar
inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados.
Surgiu assim "o eixo do mal". Pequenos países como Cuba, o Iraque e a
Coréia do
Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram
apresentados como "ameaça à segurança" dos EUA e dos seus aliados. Um
homem, Osama Bin Laden, foi guindado a "inimigo número um" dos EUA. O
Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e
ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar
desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é
responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina
midiática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre "as armas de
destruição massiva" que Saddam Hussein teria acumulado para agredir a
humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de
Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror.
O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.
O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal
como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer
que, afinal, as tais armas de destruição massiva não existiam.
Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA
agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da história.
Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das
mais importantes civilizações criadas pela humanidade é a mais recente ameaça à
"segurança dos EUA". A Agência Internacional de Energia Atômica não
conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas
instalações nucleares com o objetivo de produzir armas nucleares. Com o aval do
Brasil e da Turquia , o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu
urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de
impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o
presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se
ele não se submeter a todas as suas exigências.
Isto acontece quando Obama se viu forçado a
demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na seqüência de uma
entrevista na qual o general McChrystal - aliás, um criminoso de guerra (vide
artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) - criticou duramente o
presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na
região.
Entre a farsa e a tragédia
Diariamente, a grande mídia norte-americana repete
que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela
administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se
inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica.É suficiente ler os artigos sobre o tema de
Prêmios Nobel da Economia (aliás, empenhados na salvação do capitalismo), como
Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo, para se compreender que a
situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se. Não é a taxa do PIB
que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas
financeira.
Os discursos do presidente contribuem para
confundir os cidadãos em vez de esclarecê-los. Persistem contradições entre a
Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman
das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da administração
que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.
A retórica presidencial não pode esconder que a
estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por
uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais. As empresas acumulam novamente lucros fabulosos
enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os
banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios
principescos.
O grande capital resiste, aliás, com o apoio
firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria
tímidas - como a reforma do sistema de saúde - que a administração adota (ver
artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).É cada vez mais transparente que estamos perante
uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria
da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia
como saída "salvadora" é muito forte, mas no próprio Pentágono
generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão
terrestre está excluída e o bombardeio com armas convencionais de alvos
estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca onda de
anti-americanisno no mundo muçulmano.
O recurso a armas nucleares táticas é a opção de
uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades
internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União
Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio
de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a
extinção da humanidade.Retomo assim a afirmação do início, tema desta
reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da
crise de civilização que o homem enfrenta.
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
Alejandro Nadal: A caminho da Grande Depressão?
A crise global não dá sinais de se resolver. Os sobressaltos
nos mercados financeiros e as más notícias nos setores reais da
economia indicam que as coisas poderiam piorar. Alguns analistas já se
questionam abertamente se o mundo se encaminha para uma réplica da
Grande Depressão dos anos 30.
Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa
Não é uma questão alarmista. A
realidade é que as raízes desta crise são muito profundas e encontram-se
na própria essência das economias capitalistas. O vulcão que entrou em
erupção em 2008 é a parte visível de um desastre que tem vindo a ser
cozinhado desde há mais de 30 anos.
Convém recordar alguns traços da evolução da economia estadunidense para
compreender que a recuperação vai requerer algo mais que um simples
estímulo fiscal. As lições são importantes para todo o mundo.
Nos Estados Unidos, a crise atual não se originou pura e simplesmente no
mercado das hipotecas lixo. As origens encontram-se na compressão
salarial desde os anos 70. Esse fenômeno pôs fim à chamada fase dourada
do capitalismo (1945-1975) marcada por taxas de crescimento sustentado,
por remunerações em alta e uma redução notória na desigualdade social.
Em contrapartida, a partir dos anos 70, o crescimento reduziu-se, a
massa salarial caiu e a desigualdade aumentou.
A única forma de manter níveis adequados de procura agregada foi através
do endividamento que começou a crescer desmedidamente nos anos 70. Esse
processo culminou com o desenfreado crescimento de passivos do setor
privado nos últimos 15 anos nos Estados Unidos. Hoje, o panorama não é
nada tranquilizador.
Um estudo recente revela que, em média, a contribuição do endividamento
para a procura agregada nesse país durante a década passada atingiu 15
por cento anuais e culminou em 1998 com 22 por cento. Ou seja, quase uma
quarta parte da procura agregada nos Estados Unidos foi financiada com
dívida em 1998. Em contraste, na década de 20, a dívida só financiou 8,7
por cento da procura agregada, em média.
O descalabro atual é ainda mais preocupante. Nos últimos 30 meses, a
descida no nível de endividamento é de 42 por cento. Isto é, o
desendividamento tem contribuição negativa para a procura agregada,
muito superior ao que aconteceu entre 1929 e 1931 (queda de 12,5 por
cento pelo desendividamento).
E esse ritmo de desendividamento não parece estar a diminuir nestes
dias. A única coisa que pôde mitigar esse brutal processo de contracção
da procura agregada foi o estímulo fiscal que agora está a esgotar-se.
Neste contexto, o apelo à redução do déficit fiscal no comunicado final
do G-20 de Toronto é uma estupidez. Desde 1970, nem a procura, nem o
emprego cresceram nos Estados Unidos sem a ajuda de uma procura agregada
impulsionada pelo endividamento.
Enquanto os assalariados tratavam de compensar o estrangulamento
salarial e a perda de poder de compra com mais dívida, o grande capital
deslocou as suas operações para países com baixos custos salariais. O
processo culminou com o traslado de centenas de milhares de empregos
para a China.
Em três décadas, o mundo foi testemunha do desmantelamento do tecido
industrial nos Estados Unidos. Alguns consideram que se tratou de um
processo associado à evolução normal de uma economia capitalista. Mas a
verdade é que as grandes companhias multinacionais que beneficiaram com o
translado das suas operações manufatureiras para a China não se
desindustrializaram, simplesmente mudaram de domicílio.
Nos Estados Unidos ficaram os que pensam que o melhor desse país é a sua
capacidade de fazer inovações financeiras. Um resultado deste processo
foi o desequilíbrio mundial entre os maiores países superavitários
(China) e deficitários (Estados Unidos). Em boa medida, a incapacidade
da economia estadunidense para gerar empregos deve-se precisamente ao
desmantelamento do tecido industrial ao longo dos últimos 25 anos.
No Congresso, em Washington, quase ninguém quer outro pacote de estímulo
para a economia estadunidense. Por isso, muitos agora pensam que haverá
uma recaída e o gráfico da recessão terá a forma de um W. Mas outros
pensam que poderia ter a forma de um L muito, mas muito alongado. Isto
é, a economia dos Estados Unidos permaneceria no colapso vários anos.
Face a esta paisagem, o G-20 pronunciou-se por manter e aprofundar o
modelo econômico neoliberal no mundo. Como se o único futuro possível
fosse o mesmo laboratório de onde saiu a crise atual.
Deveriam ler o último capítulo da Teoria Geral de Keynes, em especial a
passagem na qual adverte que talvez o único meio de manter o pleno
emprego e diminuir a desigualdade será através da socialização do
investimento. Mas, com a breca, tudo isto era proibido pensá-lo no
pequeno estado policial em que o Canadá transformou a sede do G-20.
Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia
Responsabilidade social
Zillah Branco *
A sociedade capitalista imputava a quem tinha alguma
parcela de poder, a responsabilidade pelos que dele dependiam, o que
dava, em contrapartida, direitos de proprietário da mão de obra
disponível. Esta era uma herança medieval favorável aos antigos senhores
de terras que eram donos da população residente, que nada tinha de
seu, e usava a força de trabalho na produção, em funções de defesa e
construção de infra-estrutura. Era uma responsabilidade teórica e mal
definia alguns deveres na manutenção das condições de vida dos servos.
Com a Revolução Industrial, já no século XIX, os legisladores começaram
a isentar de qualquer responsabilidade social os grandes empresários
que não estavam ligados à terra como os antigos “senhores”, mas que
contratavam assalariados com quem não tinham laços de dependência
relativos à vida privada de cada um. Eram contratados, dispensados,
substituídos como peças do mecanismo de produção.
Os benefícios de moradia e alguma estrutura de uso social eram construídos como “generosidade da empresa”
que cobrava aluguéis e vendia produtos de consumo descontando nos
salários. A construção de casas para as famílias de trabalhadores e o
fornecimento de água, caminhos e produtos necessários à sobrevivência e
à produção cumpria uma função de gestão e publicidade empresarial (que
não era reconhecida pela classe empresarial e seus aliados no poder) e
condicionava a dependência dos moradores que cumpriam as ordens
patronais prendendo-os ao lugar e às dívidas contraídas desde o primeiro
dia de contrato.
Quando as Associações Sindicais começam a defender os direitos
mínimos de sobrevivência e de pagamento por horas trabalhadas, os
legisladores introduziram diferenças nos conceitos jurídicos de modo a
denunciar como “conspiração” as defesas sociais contra os interesses da “empresa” considerada
como entidade indispensável à produção de interesse nacional. A
produção tinha importância (teórica) para o país (e real interesse
social e político da classe mandante) e a população devia colaborar
para o seu crescimento e não podia defender direitos pessoais. Esta
fórmula transformava a empresa na personagem fundamental sem referir
que, na verdade, o interesse defendido era pessoal, do proprietário.
Consideravam os crimes contra a propriedade, mas não contra as pessoas (pobres, é claro). Até hoje esta anomalia, do ponto de vista da sociedadehumana, persiste como uma peia na democracia pelos desleixos jurídicos.
Para o sistema capitalista, a transformação de empresas e
instituições em personagens e sujeitos da história, permitiu que o ser
humano dominado perdesse essa característica (de sujeito que produz as
transformações) e que os mandantes passassem a lideres e dirigentes por
terem o poder de decidir o rumo a ser tomado pela empresa. O “valor”
atribuído às pessoas/objetos depende dos produtos (em que participa com a
sua mais-valia e o que consome através do mercado) e, assim, é
estimulada a capacidade e eficiência pessoal, friamente, contabilmente,
sem incorporar o valor humano e menos ainda o valor social do
coletivo. No outro extremo da sociedade o valor também é pessoal,
correspondendo aos recursos financeiros de que dispõe ou o poder
político que move as finanças. O valor da produção é relacionado ao
crescimento da riqueza e não ao desenvolvimento da sociedade. Os
Estados Unidos radicalizaram estes conceitos a ponto de 70% do seu
Produto Interno Bruto corresponder ao consumo de quaisquer produtos.
Hoje no Brasil transformado por 8 anos de democracia (apesar das
dificuldade herdadas e das oposições políticas) são discutidas as
causas sociais dos problemas humanos mais difíceis de serem
ultrapassados, como a violência, a criminalidade, as desordens mentais
estimulados pelos desequilíbrios sócio-econômicos e começa-se a
mencionar a responsabilidade social dos empresários e
dirigentes que constituem a elite cujo poder compete com o dos
representantes eleitos pela população. Até mesmo a mídia vê-se obrigada
a promover debates e, vez por outra, aparecem estudiosos a sério das
questões sociais que introduzem interessantes análises. No dia 14/7 o
programa da TV Globo, “entre aspas”, surpreendeu os expectadores com
uma discussão lúcida sobre a faladoria que a mídia tem alimentado em
torno do crime bárbaro em que está implicado o goleiro Bruno.
O
psiquiatra Pedro Forbes e o consultor para assuntos de futebol José
Carlos Brumoro contestaram a posição habitual divulgada pela TV que
aponta como causa da má formação mental de um jovem com talento
reconhecido nacionalmente, a família ou as carências sócio-econômicas
na infância. Atribuem, sim, aos agentes empresariais que deram ou
acompanharam a formação profissional sem cuidar do caráter e dos
impulsos descontrolados do jovem que, como tantos outros, saiu da
miséria e de uma condição de vida marginal para ser lançado como milionário que tudo pode na sociedade desregrada onde os valores éticos são considerados caretice e muitos dos heróis são ambiciosos sem escrúpulos. Reclamam a responsabilidade de quem conduz a formação da juventude.
Cabe uma pausa para perguntar quem deve ser responsabilizado por
esta selva que engole uma juventude desavisada. A família? O sistema
escolar? O Estado ? Os serviços sociais e de segurança? Mas a sociedade
tem outras fontes de poder que atuam impunemente: as Igrejas, os
Partidos, a Mídia, os Editores, as Grandes Empresas, as Corporações
Profissionais etc, etc. Na verdade, todos os que participam na vida
social são responsáveis (por isso estamos empenhados em levar os
trabalhadores e suas famílias, todo o povo, a participarem ativamente
nesta sociedade).
Voltando ao tema discutido através da “Globo”, foi explicado pelo
psiquiatra P.Forbes que neste trajeto de vida em que é promovido, sem
preparo ético, um jovem pobre a um ídolo milionário que “tudo pode”, há uma quebra da identidade que o deixa a mercê de qualquer influência . E Brumoro explica que hoje os
dirigentes do futebol não são, como antes, profissionais, mas sim
“colaboradores” financeiros. Cuidam apenas da gestão empresarial
eficiente para alcançar sucesso.
E fica a pergunta: que exemplo ético ou moral poderá dar alguém que
lida com as finanças visando lucros e crescimento econômico, se não tem
qualquer vínculo com as questões humanas da formação do jovem que
segue uma carreira profissional? Que ambiente cerca o jovem milionário
(inclusive nos clubes e nas várias empresas que o envolvem como mais um
objeto em promoção) onde ninguém diz “não” ao ídolo, todos o mimam e
bajulam, e alguns aproveitam para introduzir os seus produtos que
circulam nos antros do crime organizado? Nada mudou na sociedade
capitalista desde a Revolução Industrial quando uns são mandantes da
elite e os outros são objetos de produzir riqueza.
Mas, o jovem ídolo caído é um cidadão maior de idade, e deve
responder pelos seus atos criminosos mesmo que muita gente que prega a
educação seja co-responsável pela sua formação defeituosa. A
responsabilidade social só é atribuída aos que não têm poder.
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Inpe revela queda de 47% no desmatamento da Amazônia
Há apenas dois meses do período de coleta de dados da taxa
anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica
queda de 47%. O número é maior do que os 42% do porcentual recorde de
queda da devastação da floresta, registrado pelos satélites do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no ano passado.
A indicação de nova queda aparece
nos dados acumulados durante dez meses — entre agosto de 2009 e maio de
2010 — pelo Deter, o sistema de detecção do desmatamento em tempo real.
Divulgado também pelo Inpe, o Deter é usado para orientar a ação de
fiscais no combate à devastação da Amazônia.
O sistema Deter já captou desde agosto passado o corte de 1.567
quilômetros quadrados da Floresta Amazônica. Essa área é superior à
cidade de São Paulo. Mas conta apenas uma parte da história do que
acontece na região.
Mais rápido e menos preciso, o Deter não capta desmatamentos em áreas
com menos de 50 hectares (meio quilômetro quadrado). Vem daí a principal
diferença entre o sistema de detecção do desmatamento em tempo real e o
Prodes, que mede a taxa oficial, divulgada ao final de cada ano.
No ano passado, o Prodes mediu redução recorde de 42% no ritmo do
desmatamento. A área abatida foi a menor desde o início da série
histórica do Inpe, em 1988. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram
devastados 7.464 quilômetros quadrados de floresta, ou cerca de 5 vezes o
tamanho da cidade de São Paulo.
No ano anterior, a Amazônia havia perdido quase 13 mil quilômetros
quadrados de floresta. Essa queda recorde foi registrada depois de um
ano de interrupção num período de queda do abate de árvores, e deve-se
sobretudo do aumento de fiscalização e de medidas como o corte de
crédito aos desmatadores e o embargo da produção em áreas de abate
ilegal de árvores. Piores anos
De acordo com dados dos satélites do Inpe, os piores anos para a
floresta foram 1995, 2004 e 2003, com mais de 25 mil quilômetros
quadrados devastados em cada um desses anos.
A nova taxa oficial de desmatamento ainda depende das medições dos
satélites nos meses de junho e julho, que tradicionalmente apresentam
ritmo acelerado de corte de árvores.
O período mais complicado na preservação da floresta começa com o fim
das chuvas na região e segue até outubro. Em maio, o Inpe registrou
11,4% de desmatamento a menos do que no mesmo mês do ano passado, dado
de contribuiu para a queda de 47% acumulada desde agosto de 2009. Queda significativa
A exploração ilegal de madeira no Brasil caiu até 75% na última década,
segundo estudo do instituto britânico Chatham House. A redução da
exploração ilegal teve reflexo direto no contrabando da matéria-prima. A
importação de madeira ilegal pelos principais países consumidores caiu
pelo menos 30%, segundo o levantamento.
Os pesquisadores analisaram a cadeia produtiva da madeira ilegal em
cinco países tropicais detentores de florestas (Brasil, Indonésia,
Camarões, Malásia e Gana), em países consumidores (Estados Unidos,
Japão, Reino Unido, França e Holanda) e na China e no Vietnã, que
processam a madeira e fornecem produtos para o mundo industrializado.
Segundo a Chatham House, o desmatamento ilegal na Amazônia caiu 75% na
última década, principalmente nos últimos cinco anos, quando o governo
intensificou o combate às derrubadas na região e modernizou o sistema de
transporte e comércio de madeira, com o Documento de Origem Florestal
(DOF). Falhas apontadas
O relatório elogia o sistema brasileiro de monitoramento de florestas e
cita o aumento no número de operações policiais na Amazônia para
combater o desmate.
No entanto, os pesquisadores ainda apontam falhas no cumprimento das
sanções aplicadas nas infrações ocorridas na floresta amazônica, onde a
derrubada ilegal ainda representa de 35% a 70% de todo o desmatamento.
"As penas nem sempre são aplicadas. No Brasil, por exemplo, apenas 2,5% das multas são recolhidas", acrescenta o texto.
Da redação, com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Nova York expulsa professor que viajou a Cuba com alunos
A Prefeitura de Nova York decidiu expulsar do sistema público
de ensino da cidade um professor de um instituto de Manhattan que
organizou uma viagem a Cuba em 2007 com seus alunos, em desobediência à
vetusta proibição que o país mantém contra seus cidadãos, proibidos de
visitarem a Ilha.
A agência municipal que supervisiona
as escolas de Nova York decidiu, segundo relatório divulgado nesta
quarta-feira (21), que Nathan Turner, um professor de história que
lecionava no instituto de ensino médio Beacon, no bairro do Upper West
Side, nunca mais poderá trabalhar como professor na cidade.
A prefeitura local afirma alega que Turner teria sido o único
responsável por fazer com que alguns alunos desse instituto
nova-iorquino quebrassem as leis federais que proíbem todos os cidadãos
americanos de viajarem à ilha caribenha a partir do território
americano.
As autoridades municipais retiram qualquer responsabilidade da direção
da escola e acusam Turner pela viagem, ao mesmo tempo que açodadamente
descrevem o professor como um "comunista que tinha de ver Fidel Castro
mais uma vez antes que morresse".
Turner, que reuniu 30 estudantes e administrou a viagem mediante uma
organização religiosa de Nova York, já tinha conseguido viajar para Cuba
anteriormente com alunos de Beacon em 2000, 2001, 2003 e 2005, com o
consentimento do centro e do Departamento de Educação do Estado de Nova
York.
As viagens de estudos entre os Estados Unidos e Cuba são permitidas para
alunos em idade universitária, mas o instituto Beacon conseguiu enviar
em várias ocasiões seus alunos para Cuba, entre os que em 2005 se
encontrava a enteada do agora governador de Nova York, David Paterson,
segundo detalha o The New York Times.
Turner foi obrigado a deixar seu trabalho no instituto Beacon em 2008 e
se mudou para Nova Orleans, onde dirige um projeto comunitário.
Da redação, com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Astrônomos detectam estrela gigantesca
Um corpo estelar duas vezes maior que os detectados até hoje
foi enocntrado por astrônomos, quem consideram que o astro terá vida
efêmera. Trata-se da estrela gigante R136a1, que tem massa equivalente a
250 vezes a do nosso Sol e é milhões de vezes mais luminosa, segundo
descrição dos autores do estudo da Universidade britânica de Sheffield.
Este tipo de corpo estelare perdura
por apenas alguns milhões de anos, antes de implodir, explicou Paul
Crowther, o cientista principal.
As estrelas podem pertencer a dois conjuntos, os de massa pequena , como
nosso Sol e os de grande massa, que chegam a no máximo um por cento na
quantidade de estrelas existentes no Universo, assinalou o especialista.
O R136a1 é um exemplo de um super peso pesado, exemplificou.
As estrelas de tamanho normal ao apagar-se transformam-se em anãs
brancas, enquanto as de massa gigante podem formar buracos negros e
estrelas de neutron, destacou.
"Levamos algum tempo para chegar a esta conclusão. Achava-se que esse
corpo era grande, mas em realidade é enorme", agregou o especialista de
Sheffield.
Uma estrela gigante é uma estrela com uma raio e uma luminosidade maior
que uma estrela igual de seqüência principal com a mesma temperatura
superficial . As que superam a luminosidade das gigantes se denominam
supergigantes e hipergigantes.
Fonte: Prensa Latina
Estudantes apresentam propostas para as eleições deste ano
A União Nacional dos Estudantes (UNE) divulgou nesta
terça-feira (20) – através do Portal EstudanteNet – um documento com as
plataformas políticas dos estudantes para as eleições deste ano.
O documento intitulado “Projeto UNE
pelo Brasil” foi elaborado através das propostas discutidas durante o
58º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg) da UNE – realizado
entre os dias 22 e 25 de abril, no Rio de Janeiro. O evento reuniu mais
de 500 lideranças estudantis de todo o país.
"Aprovamos um amplo documento construído com propostas discutidas entre
as principais lideranças estudantis de todo o país. Aqui estão as nossas
reivindicações, o que acreditamos serem avanços, e o que queremos
avançar ainda mais. Vamos apresentar aos presidenciáveis e queremos o
compromisso deles com nossas pautas. Esse é o papel da UNE. Exigir que a
educação, o esporte, a cultura e muitas outras pautas que envolvam os
jovens brasileiros tenham prioridade nessas eleições", explica o
presidente da entidade, Augusto Chagas. Propostas
O documento traça linhas estratégicas para o desenvolvimento do país na
visão dos estudantes. Tais como mais educação, mais direitos à
juventude, mais cultura, soberania internacional, mais democracia e
direitos sociais.
“O Projeto Brasil é muito importante para marcar o posicionamento dos
estudantes brasileiros com relação aos rumos que o Brasil deve tomar”,
afirma o segundo vice-presidente da UNE, Bruno da Mata.
As propostas tratam, entre outros pontos, da aplicação de 50% do Fundo
Social do Pré-sal para Educação, desenvolvimento sustentável com geração
de empregos e distribuição de renda, defesa da diversidade cultural, do
território nacional, pela democratização da comunicação, além de mais
direitos para as mulheres e minorias. Além do discurso
"Fundamental é fazer com que o projeto dos estudantes brasileiros seja
construído através de mobilizações, debates e lutas dentro de cada
universidade e nas ruas, apenas dessa maneira conquistaremos a
universidade e a sociedade que queremos", pontua o primeiro
vice-presidente da UNE, Sandino Patriota.
O Projeto UNE pelo Brasil – conduzido pelo movimento estudantil – afirma
ainda que não serão aceitas políticas de retrocesso – com o retorno às
privatizações, ao estado mínimo e às políticas de destruição da
educação.
O objetivo da UNE é mobilizar a rede estudantil por todo o país na
defesa do povo brasileiro e de sua soberania. A entidade – não declara
apoio a nenhum a nenhum candidato à Presidência da República – pretende
fazer a entrega formal do documento a todos os presidenciáveis.
Da Redação, com informações Portal EstudanteNet
Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho
Sidnei Liberal *
Entramos numa fase de campanha política em que a ordem é
bater. Se não tiver como bater, há de se inventar, criar, repetir,
requentar. Ainda não conseguimos atravessar o período em que o governo
Lula foi invadido por um tal “denuncismo”, travestido de jornalismo
investigativo. Irresponsável, politiqueiro, sem porteira, como diria
Veríssimo, o pai.
É o que revelam tantos textos pseudojornalísticos, prenhes
de “denunciou”, “teria elaborado”, “teria causado”, “foi acusada”,
“escândalo”. Quase sempre de fonte suspeita, adversária. Interesses
subreptícios, beirando o explícito. São palavras, intenções e ações que
não resistem ao menor crivo do jornalismo sério.
O jornalismo sério, para informação da nova geração, é uma prática dos
tempos de Barbosa Lima Sobrinho, de Carlos Castelo Branco. Hoje,
anêmica, em baixa na bolsa midiática global.
É temerário, pois, auferir credibilidade passiva, acrítica, ao que está
ou esteve na rede, nas revistas, jornais, ou foi divulgado por rádio
e/ou televisão. Pior ainda os “repassando”, textos que circulam na
internet, geralmente de má qualidade e pior credibilidade, no mais das
vezes, apócrifos. Como se sabe, textos primários são impressos em papel.
E papel tudo aceita. É por isso que o Jornalista tem o cacoete
profissional, qual um cheque lista de aeronauta, de não escrever um
texto que não responda a maioria das perguntas: quem? o que? quando?
onde? e por que? O leitor crítico também busca estas respostas em suas
leituras.
O leitor acrítico, não. Ele lê/ouve seu Jabor, Mainardi, Casoy,
Cantanhêde, confiando que seus textos não possam ter a menor intenção de
distorcer a realidade dos fatos. Não desconfia que cada fato pode ter
mais de uma versão, cada uma ditada pelo interesse de quem a escreve e
divulga. Ele não percebe que são muitas as armas do convencimento, seja
uma aura de santidade, de falsa inquietação moral, seja uma contundência
verbal ou a beleza plástica pela qual o texto se apresenta. A
acriticidade da leitura e os textos sem o viés profissional têm dominado
o panorama político brasileiro desde o “escândalo” do “mensalão”,
quando, como dizia Nelson Rodrigues, “os idiotas perderam a modéstia”.
E por que o denuncismo? Nada como práticas deletérias antigas serem
expostas em novo tempo e contexto para tentar, como foi largamente
feito, desestabilizar a reeleição de um governo que não teve origem na
elite e, ao mesmo tempo, teve a ousadia de tentar recuperar parte do que
foi surrupiado dos pobres pela burguesia. A burguesia fede, dizia
Cazuza. E é mesquinha e vingativa, diríamos. Ela não suporta ver um
governo “analfabeto” ousar conduzir sua política exterior com soberania e
responsabilidade em relação ao grande capital, aos donos da geopolítica
internacional. Um governo que desafiou o usual adesismo automático de
antes ao expansionismo do tio Sam.
A grande possibilidade de vitória da candidatura identificada com o
atual governo, por um lado, e a defesa de interesses contrariados da
nossa elite, personificados na candidatura tucana, por outro, têm
produzido frenético retorno da onda denuncista. A grande maioria da
imprensa nacional, comprometida com o retorno tucano, começa a mostrar
suas ferramentas de fazer tramoia. Desta vez, com maior dose do que o
presidente Lula chama de jogo rasteiro. Comprova-o a grosseria, a falta
de respeito e o preconceito com que um grande jornal de circulação
nacional, a Folha de S. Paulo, pôde estampar, em página nobre do jornal, a candidata Dilma caracterizada de prostituta.
Mais: Fabricação de boatos, dossiês fantasmas, câmaras e teclados
atentos a qualquer escorregão. Episódios retirados do contexto e
ressaltados como desqualificador da candidata. Como exemplo de tramóia,
uma legítima contratação de assessoria jurídica para acompanhamento do
processo eleitoral, como o fazem todos os candidatos. A mídia transforma
o fato em artimanha da candidatura petista “para burlar” a legislação
eleitoral.
No caso dos dossiês, a condenação pode ser pelo fato de ter sido
(supostamente ou não) elaborado, vazado, comprado, ou, de outro lado,
pelo seu conteúdo. Depende de quem pode ser atingido. Foi por essa
tramoia que não mais soubemos o que aconteceu com o caso de mais de 1000
ambulâncias superfaturadas por uma máfia que se instalou no Ministério
da Saúde de Serra. Quando o conteúdo supostamente atinge o lado da “base
de sustentação”, não interessa discutir a elaboração, o “vazamento”, a
compra do dossiê. Discute-se o conteúdo.
Se o assunto é um suposto esquema irregular de financiamento de campanha
comandado pelo vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge e, de quebra, uma
milionária usina de arapongagem supostamente financiada pelo Ministério
da Saúde para bisbilhotar futuros adversários presidenciáveis do
candidato Serra, dá-se preferência à criação de uma suposta oferta de um
“dossiê” correspondente ao comitê político do lado oposto. Um dos
jornais assume a tramoia e forma-se uma retumbante onda em toda a mídia.
Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho.
* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
As memórias balsâmicas podem minorar a insanidade moral?
Fatima Oliveira *
Diante do meu interesse sobre a capacidade de enfrentar
problemas e resolvê-los sem gerar novos conflitos, e até que ponto a
agressividade destruidora impede resolvê-los "numa boa", sem mortos e
feridos, uma amiga disse que ando filosofando demais. Ela tem alguma
razão. São perguntas filosóficas, mas ancoradas também em outros naipes.
Meu
interesse é focado em pessoas desprovidas do "locus da moralidade", que
a psiquiatria catalogava como "insanité sans délire" (insanidade
moral), hoje sociopatia ou psicopatia - uma condição neurodegenerativa,
que atinge 1% a 3% da população, "intratável, incurável e irreversível" -
o mesmo que Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), ou
Distúrbio da Personalidade Antissocial (DPAS), para maiores de 18 anos, e
que na infância é diagnosticado como um dos "transtornos disruptivos do
comportamento", atitudes antissociais: Transtorno Desafiador e de
Oposição; Transtorno de Conduta; e Transtorno de Personalidade
Antissocial.
Leiga em psiquiatria, prefiro a antiga terminologia "insanidade moral",
que expressa bem a condição de TPAS/DPAS: insanos morais irrecuperáveis,
pois não há ex-sociopata; não têm dó de ninguém; possuem memória
afetiva distorcida: mesmo criados em ambientes emocionalmente saudáveis,
sentem-se lesados. Compreendê-los exige mergulhar num mundo estranho,
pois nascem incapazes de incorporar discernimento moral e habilidades
sociais para solucionar problemas de modo ético e não conseguem sair da
borrasca para um céu de brigadeiro, pois não possuem o porto seguro das
memórias afetivas.
Rememorar a minha infância é balsâmico. Ouço vovó mandando entrar quando
a brincadeira de roda estava na melhor parte: "Chispa! Pra dentro. Lave
os pés e escove os dentes". Ordem inegociável. Depois de "asseada", eu
corria para o colo do meu avô, que àquela hora sempre estava sentado na
calçada "pegando uma fresca". Esperneava quando ele dizia: "Pega a
menina Maria, já dormiu...". Ele não me levava até o quarto, pois não
entrava no quarto das meninas. Era uma conduta moral lá das brenhas do
sertão. Adulta, perguntei à vovó por que aquilo. Respondeu que "não se
usava pai entrar no quarto das filhas, depois de grandes. Era o
costume".
É doce ouvir: "Vamos ler a revista nova do papai?" Abria onde queria que
eu lesse; e, se eu errasse a entonação, ou engolisse a pontuação, ele
corrigia: "Lê de novo! Agora sem engolir as vírgulas e os pontos".
Transporto-me para a máquina de costura da mamãe, onde eu surrupiava
pedaços de pano para fazer roupas de boneca e, desgraçadamente, sempre
quebrava a agulha e saía de fininho... Quando ela via a agulha quebrada,
logo dizia: "A que horas aquela traquina passou por aqui?".
Insanos morais não guardam os carinhos recebidos e sentem que todos lhes
devem tudo! Seria eficaz uma terapia que os ensine a cultivarem
memórias balsâmicas? A criança que vive numa família (biológica ou
social) sem bagagem emocional para suprir carinho e outras formas de
afetividade pode ter dificuldades de aprender habilidades sociais para
resolver problemas, mas não chega à "insanidade moral", apesar das
evidências de que abandono e outras manifestações de desamor na infância
estão estreitamente ligadas às posturas agressivas e similares. As que
desfrutam de boa acolhida navegam em céu de brigadeiro - estado de
aconchego que só quem é ou foi criança feliz tem para recordar e ser
acalentada nos momentos difíceis ou felizes vida afora.
*
Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e
Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas
e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
terça-feira, 20 de julho de 2010
A arte e a rebeldia de Caravaggio
Mazé Leite *
Neste domingo, 18 de julho, completaram-se exatos 400 anos da
morte de um dos maiores gênios da pintura: Michelangelo Merisi Da
Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio. Revolucionário em seu tempo,
subverteu as regras estéticas impostas pelo Concílio de Trento.
Michelangelo Merisi
nasceu no povoado de Caravaggio, na lombardia italiana, em 29/09/1571.
Seus pais, Fermo Merisi e Lucia Oratori, morreram cedo. Com apenas 12
anos, foi enviado para estudar no atelier de Simoni Peterzano, que se
dizia discípulo de Ticiano (1488-1576). Passou quatro anos vivendo e
estudando no atelier desse mestre. Com ele, aprendeu o tratamento das
cores segundo o método de Ticiano e o naturalismo da escola pictórica
lombarda.
Tendo rompido com seu mestre, parte para Veneza onde observou obras
de Ticiano, e a técnica do sfumato de Leonardo da Vinci
(1452-1519). A atitude artística do jovem pintor já era de rebeldia
contra os convencionalismos de sua época. E o homem Caravaggio também
era atraído por brigões, beberrões e vagabundos, freqüentando
prostíbulos, jogos e se envolvendo em todo tipo de confusão, inclusive
com os sbirri, a polícia. Era um homem agoniado, inquieto.
Mas seu destino era Roma, a cidade que atraía artistas de todo
canto, devido à demanda da igreja católica que transformava a cidade
num canteiro de obras, com o objetivo de ser o centro da cristandade e
do mundo civilizado. Artistas de toda a Europa afluíam à cidade,
participando das discussões sobre pintura, estudando os mestres.
Chegando à cidade, foi morar na casa do monsenhor Pandolfo Puzzi,
onde viveu em condições tão frugais que apelidou o padre de “monsenhor
salada”. Caravaggio perambulava pela cidade, percorrendo ateliês em
busca de trabalho. Necessitado, pintava até três quadros por dia, que
vendia muito barato. Com o passar do tempo, foi ficando conhecido e,
segundo o biógrafo Gilles Lambert, Caravaggio alternava com seus amigos
“sessões de trabalho, de festas e de diversões no submundo”. Era amigo
de homossexuais e prostitutas, muitos dos quais posaram para ele em
seu atelier. Seus modelos eram esses marginalizados, em quem o artista
via o desespero da luta cotidiana pela sobrevivência em um ambiente
dominado pela miséria. Em plena Roma, a cidade dos papas e cardeais
cercados de riqueza e opulência!
No começo, Caravaggio se recusou a pintar quadros com temas
religiosos. Mas logo, aconselhado por colegas, viu que essa era uma
forma de sobreviver e pintou “São Francisco recebendo os estigmas”, de
1595, considerada a pioneira e a que melhor expressa a estética da arte
barroca. Em geral os quadros eram encomendados por ricos burgueses que
com eles presenteavam as igrejas, mas muitos de seus quadros foram
recusados pelos padres. Nota-se que, nele, a transcendência do divino
não surge como um além separado do mundo, mas como realidade da alma
humana.
Em maio de 1606, em meio a uma briga de jogo, Caravaggio matou um
colega. Condenado à morte, fugiu para Nápoles, depois indo para a ilha
de Malta. De lá, fugiu para a Sicília, após agredir um cavaleiro da
Ordem de Malta. Cansado, doente, ansioso pelo indulto que o permitiria
voltar a Roma para continuar seu trabalho, foi detido no Porto Ercole,
por engano, e levado à fortaleza da cidade. Lambert diz que ele foi
visto, já livre da prisão, “atarantado, faminto, enfermo, extenuado em
busca de um barco” que o levasse de volta a Roma. Estava infectado por
feridas e com febre. E assim morreu no dia 18 de julho de 1610, antes
de receber a notícia de seu indulto.
Fora essa vida inquieta e atribulada, Caravaggio foi um pintor
original. O aspecto mais notável de sua obra é o tratamento do
claro-escuro. Consiste em projetar a luz sobre as figuras com um
contraste intenso e brusco com as sombras, o que marca o início de uma
das grandes conquistas da pintura barroca. Outra característica
primordial de seu estilo é o realismo enfático como reação ao idealismo
renascentista. Ao invés de pintar figuras, mesmo as religiosas, com ar
solene ou suave, conforme os ditames da igreja, ele as trata com um
realismo quase insolente, usando como modelos, o povo das ruas.
Um bom
exemplo, entre inúmeros outros, é o quadro O Enterro da Virgem.
A figura de Maria foi inspirada no cadáver de uma prostituta afogada
no rio Tibre e com o ventre inchado. Maria Madalena foi retratada
muitas vezes a partir do modelo de uma jovem amante do pintor, assim
como seus vários “João Batista” teve como modelo um rapaz amante de
Caravaggio, que era bissexual.
As personagens principais dos quadros de Caravaggio estão sempre
localizados na obscuridade: um cômodo sombrio, um exterior noturno ou
simplesmente um fundo escuro. Uma luz poderosa que provém de um ponto da
parte superior da tela envolve os personagens à maneira de um projetor
de luz sobre uma cena de teatro. O coração da cena é especialmente
iluminado e os contrastes produzidos por essa maneira de pintar
conferem uma atmosfera dramática ao quadro.
Edward Gombrich, em seu livro História da Arte, diz que
Caravaggio queria a verdade, acima de tudo. Por isso não tinha respeito
pela beleza idealizada de seu tempo. No quadro São Tomé, os
três apóstolos parecem trabalhadores comuns, com os rostos curtidos
pelo tempo, testas enrugadas. Ele queria copiar a natureza, fosse ela
bela ou feia e fez todo o possível para que as figuras dos textos
bíblicos parecessem reais.
Sem Caravaggio não haveria – como diz o crítico de arte Roberto
Longhi – “Ribera, Vermeer, La Tour, Rembrandt. E Delacroix, Courbet e
Manet teriam pintado de outra maneira”. Poucos artistas têm fascinado a
posteridade de artistas e encorajado a ousadia criativa como ele o
fez.
* Artista plástica, membro do Atelier
de Arte Realista de Maurício Takiguthi, designer gráfica. Graduanda em
Letras pela FFLCH-USP. Membro da coordenação da Seção Paulista da
Fundação Maurício Grabois.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
Religião na escola estimula o
preconceito e a intolerância
Carlos Pompe *
A professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB)
liderou uma pesquisa que apurou que livros didáticos mais aceitos pelas
escolas públicas promovem a homofobia e pregam o cristianismo. O estudo
gerou o livro Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil.
A pesquisa conclui que
o preconceito e a intolerância religiosa são inculcados em milhares de
crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro. Foram analisados os
25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do
país. Os livros foram escolhidos a partir dos títulos mais aceitos pelas
escolas do governo federal, segundo informações do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação. A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes
mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso – limitada a
uma referência anônima e sem biografia –, 12 vezes mais que o líder
budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que
Lutero, referência intelectual para o Protestantismo (Calvino nem mesmo é
citado).
“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo
cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, informa uma
das autoras do trabalho, a antropóloga e professora do Departamento de
Serviço Social, Débora Diniz.
A psicóloga e coautora do livro, Tatiana Lionço, salienta que, antes de
ir parar nas mochilas de crianças e jovens, todo material didático passa
por uma avaliação de uma banca de profissionais do Programa Nacional do
Livro Didático, vinculado ao Ministério da Educação. Todos, menos os de
Religião. “Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má
formação dos alunos”, comenta.
Ela questiona o modelo de ensino religioso nas escolas do país com base
no princípio constitucional de que o Estado deveria ser laico (neutro em
relação às religiões). “Se o Estado deveria ser laico, por que ensinar
religião nas escolas? Se a religião for tratada na sala de aula, tem de
ser de forma responsável e diversificada”, acrescenta.
A discriminação de homossexuais vem junto com a doutrinação religiosa
feita às cutas do Estado, em escolas públicas. “Desvio moral”, “doença
física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “o homossexualismo não
se revela natural” são algumas das expressões usadas para tratar das
pessoas que optam por ligações com o mesmo sexo. Um exercício com a
bandeira das cores do arco-íris acaba com a seguinte questão: “Se isso
(o homossexualismo) se tornasse regra, como a humanidade iria se
perpetuar?”.
Débora diz que num dos livros didáticos uma pessoa sem religião é
associada ao nazismo (que, contraditoriamente, teve apoio ativo da
Igreja Católica e foi combatido pela União Soviética, primeiro Estado a
adotar expressamente o materialismo dialético no ensino público). “É
sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter comportamentos
violentos e ameaçadores”, observa. “Os livros usam de generalizações
para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa ela que é
uma das três autoras da pesquisa.
“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”,
afirma Débora. A antropóloga reforça a imposição do catecismo. “Cristãos
tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasilieras,
tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”, comenta.
O estudo, realizado entre março e julho de 2009, revela a ligação entre
as editoras responsáveis pelas publicações e a doutrinação religiosa. A
editora FTD, por exemplo, pertence aos irmãos Maristas, sociedade
católica criada em 1817, na França. Também são católicas as editoras
Vozes, Paulus Paulinas, Vida e Edições Loyola. “É esse contexto nebuloso
de relações e interesses que envolve a pesquisa” diz Débora. Outras das
principais editoras do material escolar são a Abril de Educação, líder
do mercado, a Ártica, Scipione Saraiva, Moderna e Dimensão.
As 112 páginas da publicação, lançada pelas editoras UnB e Letras
Livres, ainda conta com a contribuição da assistente social Vanessa
Carrião, do instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
* Jornalista e curioso do mundo. Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
sexta-feira, 16 de julho de 2010
O Horizonte Perdido: a hipocrisia do debate educacional
Escrito por Wellington Fontes Menezes
"Há muita gente que tem se acostumado com lugares
piores do que este – observava Bernard no
fim da primeira semana passada em Shangri-La; era, sem dúvida,
uma das muitas lições que estava aprendendo".
(James Hilton, "Horizonte Perdido", 1933)
Um discurso vazio
Em "Horizonte Perdido" (1933), James Hilton descreve o desvelo do mito
da terra prometida e ficcional de Shangri-La, um lugar com cenas
paradisíacas em algum ponto do Tibete onde se encontraria a fartura da
saúde e da felicidade. Na esteira da Shangri-la da retórica brasileira, o
atual debate sobre a Educação Básica pública oscila entre um
rocambolesco discurso tecnicista meritocrático e os idílicos suvenires
protocolares dos gabinetes de burocratas de ONGs, técnicos ou acadêmicos
a anos-luz da realidade.
Indiferente ao processo de formação básica de seu povo, a ação
governamental está movida por uma praxe neoliberal de privatizar o
debate educacional em ONGs ou entidades similares. O resultado é o
destilar de retóricas pueris com resultados meramente protocolares e
burocráticos.
Empresas privadas disfarçadas de agentes sociais e ventiladas pela onda
neoliberal, com raras exceções, as tais ONGs trabalham com dois
objetivos fundamentais: a manutenção de seu espaço de lucratividade
(atrelada com ações de marketing para sua própria sobrevivência
financeira) e o debate da praxe do onanismo de projetos simplistas,
idílicos, surrealistas ou de inviável execução na prática (geralmente é
algum dourar da cereja de um bolo apodrecido). O Estado, em especial no
governo tucano paulista, além de culpar simplesmente a classe docente
pelo descalabro abissal, procura muito mais justificar as deficiências
do sistema com a aplicação de remendos demasiadamente limitados e
inadequados à severa crise que se instalou na Educação Básica. O
resultado bem conhecido é a perpetuação da hecatombe educacional
pública.
Coagidos pelo pragmatismo do desencanto do mundo ao estilo weberiano,
perdidos em lutas internas fratricidas intestinais, os sindicatos
ligados à educação se enrijeceram e se tornaram burocratizados, perdendo
o rumo de sua ação para além da reivindicação dos soldos proletários.
Exceto por alguns programas pífios e paliativos, a desarticulação entre
universidades, sindicatos e secretarias de Educação dos estados é outro
fator que impede uma construção realística de novos e urgentes projetos
pedagógicos.
No momento em que a ideologia neoliberal adentra na sociedade como um
valor de uma perversa moral, a meritocracia invade a fala ressonante de
"policemakers", técnicos, professores e acadêmicos. A Educação deixa de
ser um valor humanitário fundamental para se tornar uma competição
capitalista entre seus agentes: a meritocracia é o mais perverso engodo
neoliberal que se alojou na cultura do debate educacional. Para o riso
amarelo de seus defensores, tudo se resolveria com a aplicação de provas
de mérito e exames de verificação da tal "qualidade". Não fazendo coro
ao hipócrita discurso do tecnicismo meritocrático, não se pode cobrar
coisa alguma de uma mera miragem. A sintética e asséptica punição não
contribui em absolutamente nada no desenvolvimento do ser humano.
Uma trágica miragem
O sistema de Educação Básica público é uma miragem, aliás, uma trágica
miragem. Entre provas e mais provas de suposta "aferição pedagógica",
anualmente é depositado um enorme volume do erário público em pesquisas
débeis e inúteis, além de uma miríade de processos de verificação da tal
"qualidade", dos quais se sabe o resultado previamente. Bom para o
caixa de ONGs e empresas que aplicam provas dos sistemas meritocráticos
de "qualidade total" em vultosos contratos com o governo.
Como se estivéssemos numa Suécia morena dos trópicos, a dispersão das
provas meritocráticas no exaurido sistema educacional se tornou tão
sintomática que pipocaram saltitantes as tais "olimpíadas dos saberes"
(nas Ciências Exatas, Humanas e Biológicas). Na lógica da competição
"educacional", em tudo quanto é campo do saber, tem-se uma "olimpíada" a
ser competida pelos alunos.
Não se admira quando a BOVESPA cria um programa que ensina alunos a
investirem na bolsa de valores! A "BOVESPA vai à escola" é um programa
de uma aviltante excrescência! A proletária periferia paulistana
agradece a nobre gentileza dos homens da impune fluidez do capital! A
lição é simples, deslocar o parco dinheiro embutido no FGTS dos futuros
proletários para a aplicação em ações das próprias empresas pelas quais
eles mesmos são espoliados diariamente. Bela lição aos futuros
"micro-investidores" do Jardim Ângela, Cidade Tiradentes ou
Paraisópolis! Coisas da violência simbólica que faria até mesmo Adam
Smith corar a face de vergonha!
Aos destroços de um sistema falido, soma-se a complacente ação da Big
Mídia que, além de ser conivente com o neoliberalismo, emite na
sociedade um discurso maquiavélico que privilegia a competição
irracional em detrimento do caráter humanitário da educação. Logo, como
subprodutos da falência do sistema público de Educação Básica, são
emanados os parcos valores da sobrevivência no "mundo-cão" da competição
desenfreada, no mais puro destilar do darwinismo social. O resultado é
bem conhecido: a falência total de um sistema público de Ensino Básico,
com alunos que saem das escolas muito próximos da mera e humilhante
condição de analfabetos funcionais.
Para o retumbante fracasso no sistema público educacional, muitos
defensores neoliberais, técnicos burocratas e resignados da esquerda
pragmática se refugiam em simplistas e estapafúrdias desculpas do nosso
anacrônico histórico de desigualdades sociais. A insistência para um
novo modelo de educação é necessária ainda em pleno século XXI, num país
que vive tempos midiáticos de neomilagre econômico (com taxas de
crescimento próximas às do período dos governos militares).
Seres humanos não podem continuar a ser tratados como meras mercadorias.
A lógica do descarte humano é um valor atroz que prevalece na sintonia
fina entre mercado e ação governamental. Por mais bizarro que qualquer
leitor desatento possa imaginar, o discurso neoliberal é construído com
um vil destilar de cinismo nas falidas políticas educacionais. Grande
parte das unidades escolares públicas é maquiada em perdulárias
propagandas governamentais, já que parte significativa dessas escolas se
constitui em antros de medo, insegurança e selvageria de coação moral e
física. Exceto algumas ilhas que ainda estão na sobrevida do balão de
oxigênio, o resultado real nas políticas educacionais é o desleixo do
Poder Público pelo seu povo, sobretudo de menor poder econômico, dentro
de uma sociedade movida pelas matrizes da ética do consumo.
Um turvo horizonte
O Paraíso sempre propalado em belos debates sobre o vazio se perdeu de
vista. Ao contrário dos maquiladores de plantão, que sempre surgem do
caos com seus sórdidos discursos franciscanos, que visam minimizar o
caos atávico do sistema público. Defender um sistema sabidamente
apodrecido é compactuar com uma política de exclusão de gerações de
seres humanos, que são enganadas dentro de verdadeiras cadeias
prisionais que muitos ainda insistem em chamar de unidades escolares.
Com o descaso governamental, a instituição das frágeis franquias
familiares e a ética do consumo que majora os valores pessoais e sociais
na pós-modernidade, é preciso compreender o caquético papel caricatural
que possui a escola pública. Falida e débil, a Educação Básica pública
apenas cumpre um burocrático papel de expedição de diplomas. Como prêmio
de consolação, aos que sobreviveram a este processo de saturação do ser
humano, pode-se ganhar eventualmente um mimo governamental, como uma
vaga derivada de uma controversa política de cotas em universidades
públicas ou uma bolsa de estudo em alguma faculdade privada de Ensino
Superior de qualidade duvidosa, mas sedenta pelos louros do patrocínio
governamental. A Educação brasileira é um grande arremedo arrastado de
programas e ações governamentais díspares, desconexas e eleitoreiras.
De forma direta ou indireta, o mercado dita as regras e as políticas a
serem supostamente implementadas pelo Poder Público. Torna-se ridículo o
cínico discurso de muitas ONGs, como a marqueteira "Todos pela
Educação", fomentada por grandes grupos econômicos e pousando com um
querubim supostamente assistencialista, preocupado com a Educação no
país. Naturalmente, se realmente tais grupos empresariais estivessem tão
preocupados com a Educação (o tal mote da "responsabilidade social
empresarial"), da mesma forma como o estão quando se trata de ganhar
obscuros processos de licitação nas três esferas de poder, por exemplo,
poderiam usar seus poderosos lobistas para pressionarem políticos a
encararem a Educação Básica como projeto fundamental de governo de
qualquer sigla partidária.
Longe de algum horizonte da propalada Shangri-La, entre tantas
maravilhas contemplativas importadas de modelos educacionais
estadunidenses, europeus ou asiáticos, a ocuparem o espaço inutilmente
sem observarem a realidade local, o tempo passa e o faz-de-conta
continua sendo a palavra de ordem. Enquanto o debate sobre a Educação é
visto pela ótica da desfaçatez e da rapina do mercado, continuará a
sangria de dinheiro público escoado pelo ralo, com gerações de alunos
sendo conduzidas como fardo social e professores-fordistas tratados como
animadores proletariados de salas de aula lotadas até a entrega das
notas do final de cada ano letivo.
Aliás, cada ano letivo do Ensino Básico público é mais uma miragem para
ser computada em belas estatísticas educacionais, posteriormente usadas a
bel-prazer de interesses eleitoreiros dos governantes.
Wellington Fontes Menezes é mestrando em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP), bacharel e licenciado em Física
pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Rede Pública do
estado de São Paulo.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Alceu elogia Pontos de Cultura e diz que novo tempo "chegou"
Com 38 anos de carreira, o cantor e compositor pernambucano
Alceu Valença continua criativo, rebelde, crítico da indústria cultural,
da importação de modelos e da falta de divulgação dos artistas
brasileiros. Perto de completar 64 anos, em julho, continua com a
vitalidade dos anos 1980, auge de sua carreira, e ainda cativa o público
jovem, que revisita suas canções, olha com curiosidade para seus novos
trabalhos, suas misturas de sons e ritmos.
Herdeiro musical de Luiz Gonzaga, de
Jackson do Pandeiro e de Dorival Caymmi, Alceu deu novo brilho aos
ritmos regionais, como baião, coco, toada, maracatu, frevo, caboclinhos,
embolada, repentes. Em seu primeiro disco, lançado em 1972 em
dobradinha com Geraldo Azevedo, já punha um tempero rock’n’roll nas
batidas tradicionais nordestinas que continuaram marcando docemente o
compasso de sua história musical, inclusive nos clássicos como Coração
Bobo, Espelho Cristalino, Morena Tropicana, La Belle d’Jour, entre
outros.
Nas letras das canções Papagaio do Futuro e Espelho Cristalino, ainda
nos 70, Alceu já expunha a questão ambiental. O artista, aliás, sempre
foi um inquieto “militante” da diversidade cultural brasileira. E da
esperança, sentimento presente em muitas de suas letras, falando de amor
ou da natureza.
Em suas turnês pelo exterior, o pernambucano influenciou artistas
americanos, europeus e brasileiros das gerações mais recentes como Chico
Cesar e Zeca Baleiro. Foi um divulgador do movimento manguebeat, de
Chico Science e o Nação Zumbi. E considera que as imposições estéticas
do imperialismo cultural americano e a falta de divulgação por parte dos
veículos de comunicação de massa ainda dificultam o surgimento de novos
artistas no país.
Com 28 álbuns lançados, Alceu Valença surgiu para o grande público na
apresentação ao vivo no 7º Festival Internacional da Canção – tido como o
último dos grandes –, com Papagaio do Futuro.
Era 1972, o clima de ebulição dos episódios anteriores não era mais
tolerado pela ditadura, a Globo cedia a todas as pressões e as caras
começaram a mudar. Despontavam nomes como Belchior, Ednardo, Fagner,
Walter Franco, Raul Seixas, Sérgio Sampaio. A fase nacional foi vencida
por Fio Maravilha (de Jorge Ben, com Maria Alcina), e Diálogo, samba de
Baden Powel e Paulo César Pinheiro.
Alceu não figurou entre os primeiros, mas levantou a plateia ao se
apresentar na companhia de Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro. “Estou
montado no futuro indicativo/ Já não corro mais perigo/ Nada tenho a
declarar/ Terno de vidro costurado a parafuso/ Papagaio do futuro/ Num
para-raio ao luar.../ Eu fumo e tusso/ Fumaça de gasolina/ Olha que eu
fumo e tusso/ É fumaça de gasolina.”
Nos anos 1980 emplacou um clássico que fez história, o disco Cavalo de
Pau, e nos anos 1990 outro, O Grande Encontro, na companhia de Geraldo
Azevedo, Zé Ramalho e Elba Ramalho.
Alceu é um entusiasta dos Pontos de Cultura, programa criado pelo
Ministério da Cultura em 2005 que, por meio de convênios, fortalece
iniciativas artísticas desenvolvidas pela sociedade civil nas
comunidades. Atualmente, existem mais de 650 deles espalhados pelo país:
“Esse projeto favorece realmente os mais carentes, mas a barreira ainda
está na mídia, na imprensa. Precisamos aprofundar a discussão e a
divulgação da cultura brasileira, que têm de ser em escala bem maior”,
disse numa entrevista.
Em seu blog, o músico expressou assim a percepção de mudanças que vêm
acontecendo no país: “Desde o início da minha carreira, botei o pé na
estrada, me doía ver a miséria berrante da maior parte de nossa gente,
quase sempre negros, caboclos, quase sempre nordestinos. Mês passado, ao
viajar, em busca de locações para a Luneta do Tempo, pelo interior do
agreste de Pernambuco (São Bento, Pesqueira, Alagoinha, Cimbres), me
comovi vendo que os lugares por onde passei estão caminhando para um
nível de vida mais digno. As cidades estão mais limpas, as casas bem
pintadas, as praças ajardinadas, o povo mais feliz. Tenho consciência
que precisamos avançar muito mais, sobretudo, na educação e na saúde.
Cada vez mais acredito no Brasil e em nossa gente”.
E a esperança e a alegria que marcam sua poesia e sua música parecem
continuar firmes na sua forma de pensar e ver o Brasil: “Demorou, mas
chegou. Um novo tempo. Conseguimos resistir, por décadas, a toda sorte
de colonialismo, intempéries sociais, econômicas e políticas. Saímos
fortalecidos, mais maduros, sabendo, inclusive, que o processo está no
início e que, portanto, precisamos continuar trilhando esse novo
caminho. Não precisamos mais seguir a cartilha de ninguém. Agora
negociamos com países africanos, árabes, europeus e asiáticos sem tutor e
sem chancela de ninguém. Alegria, minha gente, alegria...”
Fonte: Rede Brasil Atualhttp://www.vermelho.org.br/noticia
Fórum de Organizações Feministas apresenta contribuições à Cepal
Na última terça-feira (13) as representantes do Fórum de
Organizações Feministas para Articulação do Movimento de Mulheres
Latinas Americanas e Caribenhas entregaram um documento à 11ª
Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe
(Cepal).
O texto traz as contribuições do
Fórum de Organizações Feministas discutidas entre os dias 11 e 12. Entre
os assuntos abordados está o atual modelo de desenvolvimento na América
Latina e Caribe, com foco na promoção da igualdade, crítica do Estado
patriarcal, capitalista, racista e da democracia na região.
Integram a delegação brasileira que compõe a Cepal, conselheiras do
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), representantes do
governo e conselheiras de notório conhecimento. Entre as participantes
estão: a coordenadora da União Brasileira de Mulheres, Elza Maria
Campos; a secretária Nacional de Mulheres do PCdoB, Liege Rocha e a
coordenadora Estadual da UBN do RJ, Helena Piragibe.
Cepal defende autonomia para mulheres terem direitos reconhecidos
A conquista da autonomia econômica, física e política das
mulheres é fundamental para o reconhecimento de seus direitos, afirma o
documento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal), divulgado nesta terça-feira (13) na Conferência Regional sobre a
Mulher da América Latina e do Caribe.
De acordo com o documento são
necessárias políticas públicas que reformulem os vínculos entre as três
instituições fundamentais da sociedade: Estado, família e mercado – com a
finalidade de articular um novo pacto social de redistribuição do
trabalho entre homens e mulheres.
O texto aponta que as mulheres dedicam mais tempo ao trabalho doméstico
não remunerado, independentemente de sua carga de trabalho. De acordo
com a Cepal, elas continuam sendo discriminadas no mercado de trabalho e
recebendo salários inferiores aos dos homens.
No Brasil, por exemplo, as mulheres dedicam no total 56,6 horas semanais
ao trabalho, enquanto os homens ocupam 52 horas. No México a
disparidade é ainda maior, as mulheres dedicam 76,3 horas, contra apenas
58,4 dos homens.
Dados de 2008 revelam que na região, 31,6% das mulheres com mais de 15
anos não tinham renda própria, enquanto somente 10,4% dos homens estavam
nessa condição. As mulheres superam os homens também no desemprego: são
8,3% contra 5,7%.
Igualdade
O documento diz que o trabalho é a base da igualdade entre os gêneros e
considera fundamental a conquista da autonomia econômica, física e
política das mulheres. A autonomia econômica, esclarece o texto, implica
no controle dos bens materiais e recursos intelectuais, e capacidade de
decidir sobre a renda e os ativos familiares.
Outro ponto que o documento enfatiza é a autonomia física –
indispensável para superar as barreiras existentes no exercício da
sexualidade, da integridade física e da reprodução. O texto ressalta
também a autonomia política que envolve a representação feminina nos
espaços de tomada de decisões, especialmente nos governos e parlamentos.
Segundo a Cepal, cabe ao Estado tomar as medidas necessárias, sejam
legislativas, institucionais, educativas, de saúde, fiscais ou de
participação das mulheres na tomada de decisões. Com isso, espera-se
eliminar o viés de gênero no mercado de trabalho, superar a diferença
salarial, a segmentação e a discriminação.
No documento, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
defende ainda a garantia dos direitos das mulheres no mercado de
trabalho e nas famílias.
O evento promovido pela Cepal, com o apoio da Secretaria de Políticas
para as Mulheres da Presidência da República, acontece até a próxima
sexta-feira (16) e Brasília.
Da Redação, com Agência Brasil
http://www.vermelho.org.br/
Festival reconta ditaduras latinas pelos olhos de crianças
Três histórias das ditaduras militares latino-americanas
contadas pelas visões de crianças estarão no Festival de Cinema
Latino-Americano de São Paulo, cuja quinta edição acontece de 12 a 18 de
julho em cinco salas de cinema da capital paulista. O argentino
Kamchatka, o chileno Machuca e o brasileiro O Ano em que Meus Pais
Saíram de Férias têm em comum a forma como as crueldades dos regimes
militares são descobertas pela inocência do olhar infantil.
Kamchatka, co-produção entre
Argentina, Espanha e Itália, narra os efeitos da "guerra suja" em uma
família argentina, pelos olhos de Harry, um menino de 10 anos. A direção
é de Marcelo Piñeyro e o elenco conta com os conhecidos Ricardo Darín e
Cecilia Roth.
O mesmo acontece no chileno Machuca, que conta a história de três
crianças de Santiago em situações totalmente diferentes. Enquanto
Gonzalo Infante vive em um bairro chique da cidade, Pedro Machuca mora
em uma favela.
Mas a distancia entre as duas realidades é reduzida quando o diretor de
um colégio católico decide promover uma integração social, abrindo as
portas para crianças de famílias pobres. A partir disso, uma amizade
cheia de descobertas surge em meio ao clima hostil que a sociedade
chilena vive antes, durante e logo depois do golpe contra Salvador
Allende (1973).
Já o premiado O Ano..., de Cao Hamburger, conduz a narrativa por Mauro,
de 12 anos, que tem como maior sonho ver o Brasil ser tricampeão mundial
de futebol. No entanto, às vésperas da Copa de 1970, ele vê sua vida
mudar completamente com a ditadura, ao ser separado de seus pais e
obrigado a se adaptar a uma nova vida no bairro paulistano do Bom
Retiro.
Temáticas como a violência e o tráfico aparecem em filmes brasileiros
como Cidade de Deus e Eldorado, que retrata cinco histórias reais de
tráfico de seres humanos.
Ao todo, serão exibidos 137 filmes de 15 países diferentes, todos com
temáticas comuns da América Latina que têm como objetivo divulgar e
discutir a singularidade estética da cinematografia recente e histórica
do continente. A maioria dos filmes é inédita e a entrada é gratuita.
O 5º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo acontece entre os
dias 12 e 18 de junho nas salas de cinema do Memorial da América Latina –
que promove o evento -, Cinesesc, Cinemateca, Museu da Imagem e do Som e
do Cinusp Paulo Emílio, todas na capital paulista.
Participação do público
Além das exibições, o público pode contar com oficinas, debates e uma
série de palestras ministradas por profissionais do Brasil e do
exterior, entre eles o argentino Piñeyro, diretor de O Que Você Faria?
(“El Método”, 2005) e Plata Quemada (2000), além de Kamchatka (2002),
que fará uma retrospectiva de sua produção em uma aula magna que
acontece no dia 17 de julho, às 16h no Memorial da América Latina.
Na ocasião, também recebe homenagem o brasileiro João Batista de Andrade
consagrado por O Homem Que Virou Suco (1980), eleito melhor filme no
Festival de Moscou, e um dos idealizadores do festival.
Mesas de debates com diretores e profissionais do cinema também
acontecerão no Memorial da América Latina. Nelas, serão discutidas
questões como a identidade do cinema latino-americano, o impacto dos
novos meios na crítica audiovisual e a relação entre o mercado e as
escolas de cinema.
Além disso, o público poderá assistir a conversas entre os diretores dos
filmes apresentados onde temáticas, semelhanças e curiosidades sobre os
filmes serão apresentadas aproximando os espectadores da realidade de
produção.