Pode-se discutir uma política de cotas no ensino. Pode-se
discutir se essa é a maneira mais eficiente de buscar equilíbrio de
oportunidades num país que tem na divisão social a marca da herança
escravagista. Agora, é repugnante que um jornal como O Globo, em seu editorial de hoje (domingo, 25), negue até que tenha havido racismo no Brasil.
Por Brizola Neto, em seu blog "Tijolaço"
Pode-se discutir uma política de
cotas no ensino. Pode-se discutir se essa é a maneira mais eficiente de
buscar equilíbrio de oportunidades num país que tem na divisão social a
marca da herança escravagista. Agora, é repugnante que um jornal como O Globo,
em seu editorial de hoje (domingo, 25), negue até que tenha havido
racismo no Brasil, sob o argumento de que na nossa sociedade miscigenada
até negros foram donos de escravos e chamar os movimentos de afirmação
da cultura negra de “falanges racialistas”, francamente, é assumir o
padrão “Da Costa” de debate político.
É uma mistificação dizer que até os EUA estão “relativizando” a pol´tica
de ações afirmativas para os negros e que, por isso, o Brasil estaria
na contramão da história. Ora, eles podem estar até atenuando certas
políticas, porque tiveram mais de três décadas de ações afirmativas para
os negros que, embora ainda estejam na parcela mais humilde da
população americana, ao lado dos latinos, já conseguiram, até, ter um
deles como presidente da República.
Ontem mesmo o jornal publicou uma matéria mostrando que, entre os
pobres, a chance de uma criança não superar o baixo grau de instrução de
seus pais é de cerca de 60%. Então, é legítimo dizer que, sem
políticas de estado que os insira na competição, a identidade entre ser
negro, ser pobre e ter baixo nível educacional persista no Brasil.
Como disse, é perfeitamente saudável discutir qual a forma que devem
assumir as ações afirmativas em nosso país e, com todos os defeitos que
se possa apontar, a política de cotas foi a única coisa que já se fez
neste sentido. Se é preciso modificá-la, que haja o debate. Mas,
francamente, o que se quer em lugar dela é o nada, a eternização das
diferenças de oportunidade.
A elite brasileira faz assim. Diz que não pode haver tratamento
discriminatório de espécie alguma. Mas só quando é para proteger os mais
pobres. Quando a discriminação – real, objetiva, concreta – se dá pelo
poder econômico isso é democracia, é a “lei do mercado”.
Ou então que o “tratamento diferenciado” aos nossos irmãos negros
continue a ser dado apenas no setor onde já é tradicional: nas batidas
policiais.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Wikileaks vaza vídeos que mostram crimes de guerra no Afeganistão
Nesta segunda-feira (25) ocorreu o que se tem chamado na
mídia de "uma das maiores fugas de informação de inteligência militar
da História. O site Wikileaks, que se transformou no principal meio
para divulgar os excessos militares, repassou uma informação a três
meios de comunicação ocidentais — The Guardian (britânico), Der Spiegel
(alemão) e The New York Times (Estados Unidos) — que envolve tropas
americanas.
A maciça quantidade de informações
que o site abarca desde janeiro de 2004 até dezembro de 2009 e o teor
delicado do conteúdo converte a divulgação em um incidente de vazamento
de informações mais importante dos tempos modernos.
As ações detalhadas de mais de 90 mil incidentes publicados envolvem
militares americanos, forças da Otan, tropas britânicas, francesas e
polonesas e expõem um cenário sombrio e pouco convincente em relação aos
"avanços" que, segundo o governo americano, teriam ocorrido no
Afeganistão.
Segundo esses três meios de comunicação, entre as ações secretas mais delicadas que vieram à tona estão:
A existência de uma unidade especializada (paramilitares) em
assassinatos de líderes talibãs e guerrilheiros sem nenhum julgamento ou
tribunal.
Centenas de incidentes nos quais civis acabam mortos ou feritos por causa das tropas invasoras.
O uso crescente de dispositivos letais de controle remoto por parte da coalizão.
Comos os EUA ocultaram a aquisição de mísseis terra-ar por parte das forças talibãs.
A falta de cooperação dos militares do Paquistão na luta contra
os guerrilheiros que os EUA estão combatendo e até a participação direta
deles no auxílio a esses guerrilheiros.
O ocultamento sistemático dos assassinatos de civis inocentes por parte das forças de ocupação.
A divulgação desses documentos acontece em um momento tenso, já que
aumentou a dúvida sobre a viabilidade da guerra no Afeganistão entre o
público americano e certos setores do Congresso, que há pouco aumentaram
ainda mais com a renúncia do comandante das tropas no Afeganistão,
Stanley McChrystal. A própria existência dessa guerra e os métodos de
contra-guerrilha estarão na mira de um questionamento mais profundo.
A reação da Casa Branca foi de criticar a publicação pelo Wikileaks,
alegando que a divulgação dessa informação de inteligência coloca em
perigo seus efetivos no Afeganistão e também a sua segurança nacional. O
governo americano não fez nenhum esforço para ocultar o que é agora uma
aberta perseguição aos criadores e informantes do Wikileaks.
A Wikileaks colocou novamento o governo dos Estados Unidos na defensiva
com esse vazamento de documentos secretos, desta vez relacionados com a
ocupação do Afeganistão. O fundador do site, Julian Assange, explicou
sua decisão de publicar os documentos como parte da obrigação de "bom
jornalismo", que deve se encarregar de desmascarar os "abusos daqueles
no poder" e que esses documentos iluminam "a verdadeira natureza da
guerra", para que o público "no Afeganistão e em outros países conheçam a
verdade e possam assim lidar com este problema".
Os incidentes redigidos em códigos e jargões militares detalham desde
assassinatos de civis até uma quantidade inusual de incidentes de "fogo
amigo", passando por numerosos incidentes de fogo entre tropas do
Afeganistão e das forças de ocupação.
O arquivo completo está disponível para se baixar a partir da página da Wikileaks (no momento de publicação deste texto, o site estava indisponível).
Da redação, com informações da revista Amauta. http://www.vermelho.org.br/noticia
Deus e o destino não são responsáveis pela pobreza, diz Dilma
Ao se reunir no último sábado (24) com evangélicos em
Brasília, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff,
pediu o apoio dos religiosos para melhorar a qualidade de vida dos
brasileiros, se eleita.
A candidata disse que Deus e o
destino não podem ser responsabilizados pela pobreza e os infortúnios.
Segundo ela, “a mão imperfeita” das pessoas que conduz mal as políticas
públicas.
“A pobreza não é resultado do destino. Não foi Deus que construiu um
país tão desigual. Foi a mão imperfeita de homens e mulheres. Isso
acontece quando nos afastamos dos desígnios de Deus”, afirmou Dilma, na
sede nacional das Assembleias de Deus no Brasil. “Está nas escrituras, o
choro pode durar uma noite, mas a alegria vem no dia seguinte.”
Acompanhada pelo candidato a vice-presidente na chapa PT-PMDB, deputado
federal Michel Temer (PMDB), do chefe de gabinete da Presidência da
República, Gilberto Carvalho, parlamentares, candidatos nas próximas
eleições e líderes evangélicos, Dilma fez um discurso de pouco mais de
20 minutos citando várias passagens bíblicas.
Segundo a candidata, o objetivo dela, se eleita, é dar continuidade a
vários projetos iniciados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Eleita, vou dar continuidade ao projeto do presidente Lula e aprofundar
[em várias áreas]”, afirmou Dilma. “O povo evangélico deste país também
é o povo do governo Lula.”
Para Dilma, os programas sociais devem considerar o apoio à solidez
familiar e também às questões relativas aos jovens, às crianças, aos
idosos e aos deficientes.
Segundo ela, para assumir um cargo de comando e por em prática as metas
definidas é preciso lembrar do pedido do rei Salomão – que governou
Israel por 40 anos e foi considerado um dos mais sábios. “Quero ter
sabedoria e discernimento nesta caminhada”, disse ela.
O presidente das Assembleias de Deus do país, deputado e pastor Manoel
Ferreira (PTB-RJ), defendeu a candidatura de Dilma. Segundo ele, o
Brasil está no rumo certo e por isso não há razão para mudar a
orientação política. “Temos aqui a timoneira [Dilma]. Estamos no rumo
certo, então por que mudar?”, afirmou.
Fonte: Agência Brasil
Paulo Henrique Amorim: o Mainardi vai embora sem pagar o que deve
Amigo navegante me telefona para dizer que o Diogo Mainardi escreveu na Veja, a última flor do Fascio, que vai embora.
Por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada
(O meu simpático zelador tem instruções para não entregar o exemplar da Veja em
casa. Ele corresponde a uma assinatura que não é paga desde tempos
imemoriais, diria o Mino Carta. Não quero que o Daniel Dantas me
processe por furto …)
Isso é um perigo. O Mainardi me deve dinheiro. Ele perdeu no Supremo
Tribunal Federal, por decisão do Ministro Toffoli, recurso em uma causa
que movo contra ele. Contra ele e o patrão, o Robert(o) Civita.
Ele disse na revista do patrão que eu recebia dinheiro de quem eu não
recebia. Como aquele advogado de Dantas que, por isso mesmo, também me
deve um dinheiro. Interessante que o próprio Mainardi foi quem disse que
só escrevia por dinheiro.
Amanhã, vou perguntar ao José Rubens Machado de Campos como faço o
Mainardi me pagar. Preciso do dinheiro para enfrentar as 962 causas que o
Daniel Dantas move contra mim. Numa, já ganhei por 3 a 0.
Interessante: uma ideia me passou pela cabeça: será que existe algum
nexo entre Mainardi e Daniel Dantas? Será que a fuga de um não prenuncia
a do outro?
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Cuba celebra revolução em Dia Nacional de Rebeldia
Os cubanos comemoram, nesta segunda (26), o 57º aniversário do
assalto ao Quartel Moncada. A data, maior festa da Revolução, é
conhecida como o Dia da Rebeldia Cubana. O presidente Raúl Castro
comandou ato na Praça Ernesto Che Guevara, em Santa Clara, onde repousam
os restos do guerrilheiro argentino. Fidel, contudo, não esteve
presente. Ele participou, no sábado (24), de uma cerimônia em memória
dos ex-combatentes da revolução.
Povo de Cuba celebra a revolução
No ato desta manhã. Raúl foi aclamado pela
multidão que, com gritos e palavras de ordem, expressou seu compromisso
com e revolução, o socialismo e com o líder histórico Fidel Castro.
A direção do Partido Comunista dedica este 26 de julho ao libertador
Simón Bolívar e ao Bicentenário das Independências na América Latina. A
tomada do quartel por um grupo de jovens sob a liderança de Fidel
Castro, em 1953, iniciou a luta contra ditadura de Fulgêncio Batista,
que terminou com o triunfo revolucionário do dia 1º de janeiro de 1959.
Na ocasião, muitos guerrilheiros morreram e Fidel foi preso, julgado e
condenado a 15 anos de prisão. Por ser advogado, ele se pronunciou em
auto defesa diante do tribunal e, após 22 meses de prisão, foi libertado
com a anistia geral de 1955.
Compareceram aos atos comemorativos os combatentes da revolução que
participaram do histórico 26 de julho, expedicionários do Granma,
habitantes da região, e outros lutadores cubanos. Também estiveram
presentes membros do Comitê Político do Partido Comunista, dirigentes do
Governo e das organizações de massas, das Forças Amadas Revolucionárias
e do Ministério do Interior, bem como uma ampla delegação da Venezuela.
Conquistas da Revolução
Em festejos prévios, no sábado, Raúl Castro listou as principais
conquistas da revolução. "Cinqüenta e cinco anos é um período curto na
vida de um povo, mas o suficiente para confirmar que o 26 de julho
marcou o início de uma nova era na história de Cuba", disse o
presidente.
Ele elogiou as palavras que seu irmão Fidel empregou, em 1973, durante o
20º aniversário do assalto ao quartel Moncada. Considerou que Fidel, a
quem dedicou a celebração, expressou, de maneira exata e precisa, "a
dura realidade que estava por vir e as formas de enfrentá-la."
"Em um dia como hoje, em 1973, Fidel afirmou que a única salvação para
os povos da América Latina era unir-se e livrar-se da dominação
imperialista, pois só assim conseguiriam um lugar entre as grandes
comunidades humanas", disse ele.
Raúl afirmou ainda que, desde daquele "ato memorável de 1973, apenas as
profundas convicções e a firme determinação de nosso povo para resistir e
vencer tornaram possível a celebração, com orgulho e otimismo, de mais
este aniversário."
Ele destacou que, em 1953, a expectativa de vida "em Cuba era de 59
anos, quase 20 a menos que a atual." Lembrou que "no passado, prevalecia
o tempo de inatividade, as longas filas de desempregados, o
desalojamento dos camponeses das terras que cultivavam e dos
trabalhadores de suas casas porque não podiam pagar o aluguel; não
devemos esquecer a imagem terrível de crianças morrendo de fome,
implorando esmolas, sem médicos ou escolas."
Falou ainda dos últimos investimentos, apesar da difícil situação de
Cuba, do incremento ao turismo e das ações realizadas com a colaboração
da Venezuela. E levantou um grito, dizendo: "Em nome de todos os
patriotas desta ilha, desde a heróica Santiago de Cuba, berço da
revolução, Fidel, lhe dedicamos este aniversário e vamos continuar a sua
iniciativa de 26 julho. Glória eterna aos nossos mártires! Viva a
revolução! Viva Cuba livre!", encerrou, recebendo a resposta da
multidão: "Viva!".
A homenagem de Fidel
Usando o simbólico verde-oliva, Fidel Castro alegrou os cubanos neste
fim de semana ao visitar uma cidade próxima a Havana pela primeira vez
em quatro anos, o que alimentou a discussão relativa a sua participação
ou não na principal festa da revolução.
Para homenagear os rebeldes mortos no ataque ao Quartel Moncada, Fidel
visitou no sábado um mausoléu em Artemisa, 60 km a sudoeste da capital,
vestido com sua camisa militar tradicional, mas sem as insígnias de
Comandante-em-chefe.
Segundo as imagens de televisão, Fidel - com uma boa aparência -
depositou flores nos túmulos dos guerrilheiros que morreram no ataque a
Moncada, primeira ação armada da Revolução Cubana, saudou o povo e leu
em pé e com fluidez uma mensagem "aos combatentes revolucionários de
toda a Cuba".
Foi a sexta aparição pública de Fidel Castro em 17 dias, mas a viagem a
Artemisa marcou a primeira incursão fora de Havana desde que sua doença o
tirou do poder, em julho de 2006.
Com Telesur e Prensa Latina Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
A grande imprensa e o nascimento do novo
Gilson Caroni *
Em pleno ano eleitoral de 2002, o governo submergia em
sérios escândalos na área econômica. O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, e o diretor de Política Monetária da mesma instituição,
Luiz Fernando Figueiredo, eram acusados pelo presidente interino da
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de fazer lobby em favor
das empresas de telefonia. Ambos teriam entregado à Câmara de Política
Econômica, instância governamental, um texto preparado pela BCP,
empresa que operava na banda B de telefonia celular em São Paulo. No
documento eram recomendados aumentos de tarifas, mudanças contratuais
beneficiando as operadoras e redução dos impostos que incidem sobre as
contas dos consumidores.
Tinha mais. Havia sérias suspeitas de que técnicos de alto escalão
do BNDES, do Tesouro Nacional, do Banco do Brasil e do Ministério da
Fazenda fizeram uso de informações privilegiadas para compra e venda de
ações do Banco do Brasil. Eram pessoas que trabalham nas mesmas
instituições que desenharam o projeto de venda de 16,3% do capital do
BB. O então ministro da Fazenda do governo FHC, Pedro Malan, mandou a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investigar as acusações. O
problema é que o órgão fiscalizador abriu sindicância para apurar
denúncias de irregularidades de funcionários em processo de cisão nas
áreas de petroquímica e de papel e celulose. Em suma, em tempos do
império do cassino, o melhor a fazer era, tal como na música de Chico
Buarque, "chamar o ladrão".
O que revelam os parágrafos acima? Um cenário tétrico. Um governo
corrompido em setores-chave de formulação e execução de sua política
econômica. O resultado lógico de instituições que se redefiniram para
melhor servir ao receituário neoliberal. Não havia acidentes de
percurso. A banca internacional e a degradação interna de autoridades e
órgãos que se desviavam de suas funções republicanas não eram obra do
acaso. A segunda era um desdobramento lógico da primeira. E não atingia
apenas instâncias econômicas; levava de roldão uma imprensa que a tudo
silenciava. Por convergência de princípios e por ser sócia do jogo.
Os fatos aqui relatados não são fruto de uma exaustiva investigação
pessoal. Resultam da leitura de novas mídias, em complementação entre o
impresso e o digital, vieram para disputar a hegemonia no campo da
produção e difusão de informação. Veículos como Caros Amigos, Carta Capital e Carta Maior, entre
outros,noticiaram o que a imprensa oligarquizada tratou de jogar para
debaixo do tapete. Os profissionais que militam nesses espaços, ao
invés de seguirem conhecidas orientações editoriais, cumpriram, já
naquele pleito, a função básica de fiscalizar o poder público e
estabelecer a construção de dispositivos contra-hegemônicos.
Por excelência, sempre denunciaram as malfeitorias do consórcio
demo-tucano com amparo em sólido trabalho investigativo, tarefa
irrenunciável de um jornalismo preocupado em atender aos interesses dos
novos sujeitos emergentes e dos movimentos sociais organizados. Hoje, passados oito anos, vemos surgir novas formas de produção
comunicativa que não se deixam submeter a outro imperativo que não seja
o interesse do leitor. Nadando contra a corrente de uma imprensa de
mercado e antinacionalista, não recusam os princípios que fundamentam a
liberdade de imprensa, assegurada em qualquer regime democrático. O
pluralismo está assegurado na cobertura dos fatos, no respeito ao
contraditório e nos mais variados matizes ideológicos de seus
colaboradores e articulistas.
Como veículos de cidadania, não se prestam a agenciamentos de
interesses escusos, a distorções da realidade, infamando, como fazem as
corporações, quem consideram adversários políticos. É bela a aula de
jornalismo dada por espaços que se multiplicam com o surgimento de um
governo comprometido com a luta da classe trabalhadora. Que mantêm na
credibilidade, independente do formato, sua identidade
central. Reafirmam o que disse, já há algum tempo, o jornalista
Washington Novaes: "jornalismo não é profissão a ser exercida em nome
próprio, mas por delegação da sociedade, a quem legitimamente pertence a
informação”.
Se a imprensa tradicional está desfigurada, reduzida à condição de
boletim de campanha, com fanfarras eleitorais semeadas em praticamente
todas as páginas, um fazer jornalístico alternativo, próprio dos que
resistem , ameaça a sua até então granítica hegemonia. As eleições de
outubro talvez venham a ser o divisor de águas do campo comunicativo.
Fruto da massa crítica acumulada, o novo pode enfim nascer. E virá como
desconcertante reconquista do futuro.
Até agosto.
*
É professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso
(Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do
Jornal do Brasil
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A velha mídia finge que o país não mudou
Venicio A. de Lima *
O país realmente mudou. A velha mídia, todavia, insiste em
"fazer de conta" que tudo continua como antes e seu poder permanece o
mesmo de 1989. Aparentemente, ainda não se convenceu de que os tempos
são outros.
Apesar de não haver consenso entre aqueles que estudaram o
processo eleitoral de 1989 – as primeiras eleições diretas para
presidente da República depois dos longos anos de regime autoritário –, é
inegável que a grande mídia, sobretudo a televisão, desempenhou um
papel por muitos considerado decisivo na eleição de Fernando Collor de
Mello. O jovem e, até então, desconhecido governador de Alagoas emergiu
no cenário político nacional como o "caçador de marajás" e contou com o
apoio explícito, sobretudo, da Editora Abril e das Organizações Globo.
No final da década de 80 do século passado, o poder da grande mídia
na construção daquilo que chamei de CR-P, cenário de representação da
política, era formidável. A mídia tinha condições de construir um
"cenário" – no jornalismo e no entretenimento – onde a política e os
políticos eram representados e qualquer candidato que não se ajustasse
ao CR-P dominante corria grande risco de perder as eleições. Existiam,
por óbvio, CR-Ps alternativos, mas as condições de competição no
"mercado" das representações simbólicas eram totalmente assimétricas.
Foi o que ocorreu, primeiro com Brizola e, depois, com Lula. Collor, ao
contrário, foi ele próprio se tornando uma figura pública e projetando
uma imagem nacional "ajustada" ao CR-P dominante que, por sua vez, era
construído na grande mídia paralelamente a uma maciça e inteligente
campanha de marketing político, com o objetivo de garantir sua vitória
eleitoral [cf. Mídia: teoria e política, Perseu Abramo, 2ª. edição, 1ª.
reimpressão, 2007].
2010 não é 1989
Em 2010 o país é outro, os níveis de escolaridade e renda da população
são outros e, sobretudo, cerca de 65 milhões de brasileiros têm acesso à
internet. A grande mídia, claro, continua a construir seu CR-P, mas ele
não tem mais a dominância que alcançava 20 anos atrás. Hoje existe uma
incipiente, mas sólida, mídia alternativa que se expressa, não só, mas
sobretudo, na internet. E – mais importante – o eleitor brasileiro de
2010 é muito diferente daquele de 1989, que buscava informação política
quase que exclusivamente na televisão.
Apesar de tudo isso, a velha mídia finge que o país não mudou.
O CR-P do pós-Lula
Instigante artigo publicado
na Carta Maior por João Sicsú, diretor de Estudos e Políticas
Macroeconômicas do IPEA e professor do Instituto de Economia da UFRJ,
embora não seja este seu principal foco, chama a atenção para a
tentativa da grande mídia de construir, no processo eleitoral de 2010,
um CR-P que pode ser chamado de "pós-Lula".
Ele parte da constatação de que dois projetos para o Brasil estiveram em
disputa nos últimos 20 anos: o estagnacionista, que acentuou
vulnerabilidades sociais e econômicas, aplicado no período 1995-2002, e o
desenvolvimentista redistributivista, em andamento. Segundo Sicsú, há
líderes, aliados e bases sociais que expressam essa disputa. "De um
lado, estão o presidente Lula, o PT, o PC do B, alguns outros partidos
políticos, intelectuais e os movimentos sociais. Do outro, estão o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), o PSDB, o DEM, o PPS, o
PV, organismos multilaterais (o Banco Mundial e o FMI), divulgadores
midiáticos de opiniões conservadoras e quase toda a mídia dirigida por
megacorporações".
O que está em disputa nas eleições deste ano, portanto, são projetos já
testados, que significam continuidade ou mudança. Este seria o
verdadeiro CR-P da disputa eleitoral para presidente da República.
A grande mídia, no entanto, tenta construir um CR-P do "pós-Lula". Nele,
"o que estaria aberto para a escolha seria apenas o nome do
‘administrador do condomínio Brasil’. Seria como se o ‘ônibus Brasil’
tivesse trajeto conhecido, mas seria preciso saber apenas quem seria o
melhor, mais eficiente, ‘motorista’. No CR-P pós-Lula, o presidente Lula
governou, acertou e errou. Mas o mais importante seria que o governo
acabou e o presidente Lula não é candidato. Agora, estaríamos caminhando
para uma nova fase em que não há sentido estabelecer comparações e
posições (...); não caberia avaliar o governo Lula comparando-o com os
seus antecessores e, também, nenhum candidato deveria (ser de) oposição
ou situação (...); projetos aplicados e testados se tornam abstrações e o
suposto preparo dos candidatos para ocupar o cargo de presidente se
transforma em critério objetivo".
Sicsú comenta que a tentativa da grande mídia de construir esse CR-P se
revela, dentre outras, na maneira como os principais candidatos à
Presidência são tratados na cobertura política. Diz ele: "a candidata
Dilma é apresentada como: ‘a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata à
Presidência’. Ou ‘a candidata do PT Dilma Rousseff’. Jamais (...) Dilma
(é apresentada) como a candidata do governo (...)". Por outro lado,
"Serra e Marina não são apresentados como candidatos da oposição, mas
sim como candidatos dos seus respectivos partidos políticos. Curioso é
que esses mesmos veículos de comunicação, quando tratam, por exemplo,
das eleições na Colômbia, se referem a candidatos do governo e da
oposição".
Novos tempos
Muita água ainda vai rolar antes do dia das eleições. Sempre haverá uma
importante margem de imprevisibilidade em qualquer processo eleitoral.
Se levarmos em conta, no entanto, o que aconteceu nas eleições de 2006, o
poder que a grande mídia tradicional tem hoje de construir um CR-P
dominante não chega nem perto daquele que teve há 20 anos. E, claro, um
tal CR-P não significaria a eleição garantida de nenhum candidato (a).
O país realmente mudou. A velha mídia, todavia, insiste em "fazer de
conta" que tudo continua como antes e seu poder permanece o mesmo de
1989. Aparentemente, ainda não se convenceu de que os tempos são outros.
*
é professor de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e
autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de
Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
Pancadaria literária: a guerra anunciada entre João Ubaldo e FHC
Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de
recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em
frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de
1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando
Henrique Cardoso, alijado da política e na iminência de cair no
esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira
de Letras.
Por Leandro Fortes, no blog Brasília, eu Vi
O artigo, intitulado “Senhor
Presidente”, foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro
turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no
Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à
custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro
e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional
era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL.
Não por outra razão, foi inicialmente censurado em O Estado de S. Paulo,
para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a
publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo
de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num
tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima,
ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também
acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela
imprensa e pelo governo de então.
Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu
tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum
momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas
discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria
historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à
bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora
abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro.
Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do
cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os
imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome “Adelita), eleito
em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das
Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns
livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema
é o artigo de João Ubaldo. Fogueira de brasas
No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: “(…) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico”.
Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: “(…) o
senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito
de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um
político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da
cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo”.
E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum
momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João
Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando
Henrique: “(…) E, falando na Academia, me ocorre agora que o
senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela.
Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a
não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu
tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito
a meu lugar no mausoléu dos imortais”.
Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João
Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do
imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar
duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o
fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro.
A conferir. Abaixo, o artigo completo, para quem quiser se deleitar:
Senhor Presidente
Por João Ubaldo Ribeiro (25 de outubro de 1998)
Senhor Presidente,
Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória
estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto
do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito
em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como
qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o
senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito.
O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de
nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo
respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou
qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que
agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim
chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns
milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu
recadinho.
Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez
seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de
alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em
sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de
expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu,
assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do
mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em
universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo
livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades
que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas,
como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.
O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o
primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O
senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e
política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que
acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da
mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do
que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o
senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio
governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor,
que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São
Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um
político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da
cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo.
Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e,
como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe
continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem
mais macho que o senhor.
Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência
histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano
financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta
competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em
grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na
semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o
senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa
do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto
escrevo, estou chorando.
Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou
espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo
mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável,
com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso
lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se
passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa,
a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes.
Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos
corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor,
numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos
os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o
senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o
senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a
arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi
na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu
torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados,
humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu
palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço
muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor
minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que
seu antecessor que hoje vive em Miami.
Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da
Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra
vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois
não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor
passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode
fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na
Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua
carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o
senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos
confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só
entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos
imortais.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Análise em rochas confirma que Lua tem água mineral
A Lua não é tão árida como se pensava. Ainda que não se
encontrem oceanos, lagos ou mesmo uma poça em sua superfície, a água
está presente no satélite terrestre. Após a descoberta de gelo em 2009,
agora um grupo de pesquisadores acaba de identificar grupos de
hidroxila em uma rocha lunar.
Segundo o estudo, publicado na
edição desta quinta-feira (22) da revista Nature, a presença do radical
composto por oxigênio e hidrogênio confirma a existência de água em
minerais no satélite terrestre. A rocha analisada foi trazida pelo
programa Apolo.
“A Lua, considerada desprovida de materiais hídricos, tem água”, disse
John Eiler, professor de geologia e geoquímica no Instituto de
Tecnologia da Califórnia (Caltech), um dos autores do estudo.
Os pesquisadores se surpreenderam ao conseguir medir quantidade
significativa de água em um mineral lunar. O grupo encontrou água em
apatita, um mineral do grupo dos fosfatos, dentro de um basalto coletado
por astronautas.
Para ser mais exato, eles não encontraram água, ou seja, a molécula H2O,
mas hidrogênio na forma de um ânion hidroxila (OH-). “Hidróxido é um
parente químico próximo da água. Se aquecermos a apatita, os íons
hidroxila serão ‘decompostos’ e formarão água”, explicou outro autor da
pesquisa, George Rossman, professor de mineralogia da Caltech.
A rocha lunar examinada agora foi trazida em 1971 por astronautas da
Apolo 14. A proposta de procurar água na amostra foi de Larry Taylor,
professor da Universidade do Tennessee, que enviou amostras ao grupo na
Caltech para análise.
Mas a ideia de procurar água em apatita não era nova. “Charles Sclar e
Jon Bauer, da Universidade Lehigh, notaram que algo estava faltando nos
resultados das análises químicas feitas em 1975. Agora, 35 anos depois,
somos capazes de fazer medições adequadas e vimos que eles estavam
certos. A peça que faltava era a hidroxila”, disse Jeremy Boyce, outro
autor do estudo na Caltech.
O grupo investigou a rocha lunar em busca de sinais de hidrogênio,
enxofre e cloro por meio de uma microssonda iônica, capaz de analisar
grãos de materiais com tamanhos muito menores do que a espessura de um
fio de cabelo humano.
As análises mostraram que, em termos da presença de tais elementos, a
apatita lunar é semelhante à encontrada em rochas vulcânicas na Terra.
“Há mais água na Lua do que se imaginava, mas ainda assim em ordens de
magnitude muito inferiores às da Terra”, disse Eiler.
A existência de vulcões na Lua há mais de 4 bilhões de anos deu aos
cientistas a pista de que a água poderia estar presente em minerais
lunares, uma vez que as dinâmicas dos vulcões terrestres são
principalmente dirigidas pela água.
A possibilidade de extrair água no subterrâneo da Lua amplia as chances
de instalar bases humanas no satélite. Levar água da Terra é um dos
principais obstáculos para a permanência do homem na Lua, uma vez que o
custo atual é superior a US$ 50 mil por litro transportado.
Radioatividade em Faluja é mais grave que em Hiroxima
A leitura do fundamentado texto de Layla Anwar deixa o leitor
como uma angústia revoltante e algumas interrogações: Como é possível
no século 21 tamanha barbárie? O que significa direitos humanos para o
poder nos EUA? Como é possível os governos de todos e cada um dos
nossos países colaboraram, e pior, terem relações de subordinação com
criminosos tão cruéis? Cada vez é mais evidente por que razão de os EUA
não aceitaram para seus cidadãos a territorialidade do Tribunal Penal
Internacional.
Esta informação é demasiado
importante para ser somente anotada… e este é apenas um comentário
apressado. Acabei de assistir a uma reposição da Arabic-interview, da
Al-Jazira, conduzida por Ahmad Mansour com o professor Chris Busby. O
professor Busby é Cientista e Director da Green Audit, e conselheiro
científico do Comitê Europeu para os Riscos de Radiação. Para saber mais
sobre o professor Busby e o seu trabalho pode procurar no Google: Chris
Busby Uranium.
Por Layla Anwar
O professor Busby publicou vários artigos sobre radiação, urânio e
contaminação em países como o Líbano, Kosovo, Gaza e, claro, Iraque.
Falar-vos-ei das suas recentes descobertas, que eram o tema do programa
emitido pela Al-Jazira. Como alguns de vocês saberão, Faluja é uma
cidade proibida. Foi sujeita a intensos bombardeios em 2004, com bombas
de urânio empobrecido (DU, do inglês Depleted Uranium) e fósforo branco,
e depois disso transformou-se numa zona interdita — o que significa que
tanto as autoridades-fantoche como as forças invasoras e ocupantes
estadunidenses não permitem que se conduza nenhum estudo em Faluja.
Faluja está cercada. Evidentemente que tanto os estadunidenses como os
iraquianos sabem de alguma coisa que escondem do público. E é aqui que
entra o professor C. Busby. Determinado em ir até ao fundo do que
aconteceu em Faluja em 2004.
Sendo um cientista de renome na sua área, conduziu pesquisas e exames em
Faluja cujos resultados preliminares serão publicados nas próximas
semanas – assim esperamos.
O professor Busby encontrou bastantes obstáculos enquanto desenvolvia o
seu projeto. Nem ele nem nenhum membro da sua equipe foram autorizados a
entrar em Faluja para realizar entrevistas. Logo, na sua opinião,
quando a porta principal se fecha, torna-se necessário encontrar outras
portas para abrir. E foi o que fez.
Conseguiu reunir uma equipe de iraquianos de Faluja para conduzir os
exames por ele. A pesquisa baseou-se em 721 famílias de Faluja, num
total de 4.500 participantes - vivendo em zonas com diferentes níveis de
radiação. Os resultados foram comparados com um grupo padrão - um
exemplo do mesmo número de famílias vivendo numa zona não-radioativa
noutro país árabe. Para esse efeito comparativo, escolheu três outros
países - Kuwait, Egito e Jordânia.
Antes de avançarmos para os resultados preliminares, devo salientar o seguinte:
As autoridades iraquianas ameaçaram todos os envolvidos na
pesquisa, de prisão e detenção, caso cooperassem com os “terroristas”
que os estavam a entrevistar. Por outras palavras, foram ameaçados na
alçada da lei anti-terrorista.
As forças estadunidenses proibiram o professor Busby de obter quaisquer dados, argumentando que Faluja é uma zona insurgente.
Os médicos de Faluja recusaram o pedido para prestarem declarações que
seriam transmitidas diretamente para o programa de Ahmad Mansour, já que
receberam inúmeras ameaças de morte e temem pelas suas vidas.Noutras
palavras, este estudo foi conduzido em condições extremamente difíceis.
Mas foi conduzido.
Como o programa ainda não foi carregado no Youtube, não posso
proporcionar uma transcrição oral absolutamente exata. Mas tomei breves
notas e memorizei o necessário. Farei o possível para apresentar todos
os fatos a que hoje assisti. E então o que é que os EUA e os seus
fantoches iraquianos não querem que o público saiba? E porque é que não
autorizam quaisquer medições dos níveis de radiação em Faluja, e porque é
que proíbem até a AIEA de entrar na cidade? Que é que aconteceu em
Faluja, exatamente? Que tipos de bombas foram usadas? Somente DU ou
outra coisa mais?
Algo que é bastante curioso em Faluja é a subida dramática das
taxas de câncer, num curto espaço de tempo, por exemplo em 2004.
Exemplos fornecidos pelo professor Busby:
Taxa de leucemia infantil aumentou 40 vezes desde 2004 em
comparação com anos anteriores. Comparada com a Jordânia é 38 vezes
maior.
Taxa de câncer da mama cresceu 10 vezes desde 2004
Taxa de câncer linfático cresceu também 10 vezes desde 2004.
Outra curiosidade em Faluja é o dramático aumento nas taxas de
mortalidade infantil. Comparada com dois outros países árabes, como o
Kuwait e o Egito, que não estão contaminados pelas radiações, é este o
retrato:
Mortalidade infantil em Faluja é de 80 crianças por cada 1.000
nascimentos, em comparação com o Kuwait, com 9 crianças por cada 1.000
nascimentos, e com o Egito, com 19 crianças a cada 1.000 (assim, a taxa
de mortalidade infantil no Iraque é 4 vezes maior do que no Egito e 9
vezes maior que no Kuwait).
A terceira particularidade em Faluja é o número de malformações
congênitas que explodiram repentinamente desde 2004. Este é um assunto
que já abordei no passado. Mas não é toda a verdade, hoje aprendi um
pouco mais. A radiação de qualquer dos agentes utilizados pelas forças
de “libertação” não só causaram massivas deformações genéticas como
também, e não menos importante:
Provocaram alterações estruturais em nível celular. Por sua vez,
isto significa que devido às alterações genéticas dos rapazes (falta de
cromossomo X), estes têm mais probabilidades de morrer ao nascer, e as
moças têm mais probabilidades de sobreviver com fortes deformações.
Outro exemplo adiantado pelo professor Busby: antes de 2003, as taxas de
natalidade em Faluja eram as seguintes: 1.050 rapazes para 1.000 moças.
Em 2005, somente 350 rapazes nasceram — o que significa que a maioria
não sobreviveu.
Tal como para as moças, e é aqui que jaz a tragédia, a radiação
causa mudanças no DNA, o que significa que caso sobrevivam, e tentem
reproduzir, darão provavelmente à luz filhas geneticamente desfiguradas e
filhos nados-mortos.
As conclusões anteriores são suportadas noutros estudos
conduzidos nos filhos e netos que sobreviveram a Hiroxima (realizado em
2007) e que evidencia que até a terceira geração exibe malformações
congênitas, incluindo doenças (câncer, problemas cardio-vasculares) numa
taxa de aumento de 50 vezes. Em Tchernobyl, por outro lado, estudos em
animais na mesma área demonstram que os efeitos da radiação modificaram
geneticamente 22 gerações. Em suma, a radiação é transmitida de gene
para gene e tem efeitos cumulativos com o passar do tempo. (não
dissecarei o porquê – as propriedades acumulativas/ memória das células e
a atividade do sistema imunológico – poderá ler mais detalhes sobre
isso quando o artigo do professor Busby for publicado) [1].
Algumas destas deformações em crianças são tão grotescas que,
tanto a Al-Jazira como a BBC (que produziu um documentário sobre a mesma
matéria), recusaram a difusão destas imagens.
Exemplos das deformações que Ahmad Mansour revelou em imagens:
Crianças nascidas sem olhos
Crianças com duas e três cabeças
Crianças nascidas sem orifícios
Crianças nascidas com tumores cerebrais e retinais malignos
Crianças nascidas sem órgãos vitais
Crianças nascidas sem membros ou com excesso dos mesmos
Crianças nascidas sem genitais
Crianças nascidas com severas malformações cardíacas
Mais…
Sobre esse assunto, os médicos em Faluja foram questionados acerca da
relevância para o estudo da comparação das taxas de deformação congênita
no espaço de um mês (comparando-o com o mês anterior). Eis o resultado:
somente no espaço de um mês, os recém-nascidos com malformações
cresceram de uma (mês anterior) para três vezes por dia (mês corrente,
que para efeitos de estudo foi Fevereiro de 2010).
O urânio é introduzido na corrente sanguínea através da ingestão e inalação.
Os níveis massivos de urânio a que a população de Faluja foi sujeita
também concorre para o aumento vertiginoso de câncer nos pulmões, vasos
linfáticos e mama, na população adulta.
Com estas conclusões preliminares, o professor Busby e a sua equipe
concluíram que, em comparação com Hiroxima e Nagasaki, Faluja é pior. E
cito o professor Busby: “A situação em Faluja é horrenda e assustadora,
mais perigosa e grave que Hiroxima…” Uma nota lateral, ou talvez não
Referi que estes eram resultados preliminares. Por quê?
Porque o professor Busby tem sido ameaçado, viu os seus fundos de
pesquisa cortados, portas fechadas, foi ameaçado (tal como outros
cientistas que tentaram conduzir estudos semelhantes nos anos 90, no
Iraque). As implicações políticas são enormes e perigosas para os EUA e
seus homens. Significa que as evidências científicas de crimes de guerra
estão aqui mesmo na ponta dos dedos…
Logo, a vida do professor Busby não tem sido fácil. A pesquisa que
conduziu e produziu com grande dificuldade foi enviada para a revista
científica Lancet, para uma revisão do Comitê Científico. A revista
científica Lancet recusou-o, afirmando que não tinha tempo para o rever.
Os laboratórios que, no passado, cooperaram com ele no teste de
amostras recusaram colaborar quando souberam que as amostras provinham
do Iraque. Só dois laboratórios estão disponíveis para testar as
amostras do material/agente usado em Faluja – e fazem-no a um preço
exorbitante – pela natureza sensível do estudo. Também devido à falta de
verbas, o professor Busby tem cerca de 20 amostras de Faluja para teste
– que guarda cuidadosamente. Aguarda os fundos necessários para testar
as amostras.
Quando questionado por Ahmad Mansour acerca da sua perseverança perante
os enormes obstáculos que tem enfrentado, a sua resposta foi:
“Toda a minha vida procurei a verdade, sou um caçador da verdade nesta
selva de mentiras. Também tenho filhos. As crianças não são só o nosso
futuro, são os portadores das gerações futuras. Nos últimos 50 anos
temos contaminado o planeta (com radiação) e passamos esta herança para
os nossos filhos e netos. Devemos a verdade à população de Faluja.”
Quando questionado como lida com a escassez de fundos e o excesso de portas fechadas na cara, respondeu:
“Confio na boa vontade de pessoas que enviam pequenas quantias, e
acredito verdadeiramente que quanto a porta principal se fecha, outras
se abrem. Quando há vontade, há caminho.”
Tiro-lhe o chapéu, professor Busby.
Insto a que todos que leiam este artigo, todas as pessoas de
consciência, insto a que todos os iraquianos (mexam-se, por amor de
Deus!) e todos os árabes contatem o professor Busby e doem para que as
amostras de Faluja sejam testadas e a verdade venha à tona. Terminarei
este artigo com uma última citação que dedico a este grande homem:
“A verdade tem asas que não podem ser cortadas”
Tenho de terminar. Já é madrugada. Ainda não dormi. Quis colocar este
artigo disponível ao mundo… a questão que levo comigo para a cama - se é
que conseguirei fechar os olhos - é a mesma questão que tenho colocado
desde 2003
Por quê? Que fez o povo iraquiano, que fizeram as crianças iraquianas para merecer isto?
A conclusão é horrível…
Nota do tradutor:
[1] A autora refere-se ao texto “Cancer, Infant Mortality and Birth
Sex-Ratio in Falujah, Iraq 2005–2009”, Chris Busby, Malak Hamdan and
Entesar Ariabi, Int. J. Environ. Res. Public Health 2010, 7, 2828-2837;
doi:10.3390/ijerph7072828.
* Layla Anwar é membro da Arab Woman Blues, uma organização que considera que a sua pátria é a nação árabe.
Fonte: ODiario.info, Tradução de José Pedro Ribeiro
A pouca cultura nossa de cada dia
Luciano Siqueira *
Quando subi ao palco – a contragosto, pois palco em evento
cultural é para os artistas – ao lado do então prefeito João Paulo, no
Marco Zero, numa tarde de domingo, por ocasião de um concerto da
Orquestra Sinfônica do Recife, não contive a emoção ao perceber a
composição do público de cerca de cinco mil pessoas ali reunidas: gente
do nosso povo, boa parte vinda de bairros periféricos, a quem se atribui
(erroneamente) a preferência quase exclusiva por produtos musicais de
baixa qualidade popularizados pela grande mídia.
Cena semelhante pôde presenciar durante os oitos anos em que estivemos
na Prefeitura do Recife. Em espetáculos gratuitos, pois produto cultural
de qualidade custa caro.
A observação vem a propósito de um estudo feito há algum tempo pela
Universidade Federal de Minas Gerais, a propósito do baixo dispêndio do
brasileiro com cultura: apenas 40% dos habitantes de nossas regiões
metropolitanas tem esse item em seu orçamento familiar.
A estimativa se apóia em informações contidas na Pesquisa de Orçamento
Familiar, realizada entre 2002 e 2003 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo focou nove regiões metropolitanas – Rio de Janeiro, São Paulo,
Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e
Belém – e do Distrito Federal e procurou cruzar idade, escolaridade e
renda no consumo de artigos de áudio, vídeo, leitura e arte, além de
ingressos de teatro, shows, cinema, museus e estádios. Também incluiu a
aquisição de instrumentos musicais, aparelhos de televisão, máquinas
fotográficas e gastos com internet e TV por assinatura.
Na interpretação dos pesquisadores, dois fatores principais
determinariam esse perfil de baixo consumo de cultura: preço e nível de
escolaridade.
Pode ser. Quanto a preço cobrado em casas de espetáculo e por produtos
como CDs, DVDs e livros, por exemplo, está longe do alcance da média de
uma população cuja massa salarial é baixa.
Mas quanto à escolaridade, cabe dúvida. Pelo menos pela observação
empírica das bem sucedidas tentativas de ofertar no Recife produtos de
qualidade para grandes públicos formados por extratos mais populares e
de reconhecido baixo nível de instrução formal.
O problema não é simples, é evidente. Reclama inclusive políticas
públicas que convirjam no sentido de baratear custos dos produtos
culturais – algo complexo que implica ação sobre toda a cadeia produtiva
da cultura – e, obviamente, melhorar a qualidade de vida da população
que vive do próprio trabalho, do ponto de vista material e espiritual.
Vale refletir.
* Médico, vereador em Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Promotor Natural e o Devido
Processo Legal
Há mais de vinte anos, exatamente em 20 de maio de 1987, em artigo publicado
no jornal "O Estado de São Paulo", o eminente ministro do Supremo
Tribunal Federal, Sidney Sanches, em exposição feita junto à Subcomissão do
Poder Judiciário e Ministério Público, textualmente afirmou que "o
interesse público será melhor atendido e a Justiça melhor servida se o
Ministério Público, em qualquer de suas funções em juízo, estiver a salvo de
influências externas, seja no âmbito estadual, seja no federal", clamando
por maior autonomia, financeira e administrativa, para que se garanta a seus
membros maior segurança e isenção, em nome do interesse público e da justiça.
Da mesma forma, tornava-se necessária a outorga de garantias, idênticas às
da magistratura, diante de possíveis influências, inclusive de ordem política,
para que seus membros atuem em nome e na defesa da sociedade. Posteriormente, o
constituinte, atendendo aos reclamos dos operadores do direito, estabeleceu, em
cláusula pétrea, que "ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente" (art.5º inciso LIII, da CF). Garantiu-se, assim, ao
acusado, prévio conhecimento de quem o perseguirá em juízo e quem aplicará o
direito ao caso concreto.
Defensor da legalidade, cristalina qualificação do Ministério Público, causa
espécie a posterior designação de Promotor de Justiça, em detrimento do
intitulado Promotor Natural, vedando-se, dessa forma, a discricionária
designação, afastando-se o verdadeiro titular, ferindo-se a regra pétrea,
verdadeira garantia constitucional, porque, conforme doutrina o eminente
jurista Jaques de Camargo Penteado, "governo algum pode interferir no
Ministério Público para obter acusação contra inimigo político, sob pena de
violação dos princípios da igualdade e da ampla defesa. Não basta o controle
jurisdicional posterior, eis que a todo indivíduo deve ser assegurado o direito
de jamais ver seu nome inserido numa denúncia sem supedâneo suficiente. E
o contrário deve igualmente ser analisado. Governo algum pode interferir no
Parquet para obter denúncia que jamais chegará a bom termo ou arquivamento que
deixará de levar à condenação justamente aquele que feriu a ordem
jurídica".
Os notáveis avanços e as novas tarefas atribuídas ao Ministério Público, ao
contrário do que se pode inferir, possuem o condão de permitir a seus membros o
cumprimento desses misteres, em proveito da sociedade, única beneficiada, não
tendo jamais o intuito de estabelecer privilégio a determinada casta de
funcionários.
A concessão de discricionariedade na designação de promotor em detrimento
daquele prévia e legalmente autorizado a propor ação desvirtua e macula o
devido processo legal, voltando-se a tempos pretéritos "em que o
Ministério Público se notabilizou por servir ao governo e aos governantes,
situação esta incompatível com sua atual destinação constitucional",
conforme alerta Hugo Nigro Mazzilli, que aponta o caminho correto:
"justamente para que o Ministério Público possa servir a sociedade e não
aos governantes, precisa ser dotado de garantias substanciais que assegurem a
independência administrativa e funcional - garantias concretas e não palavras
retumbantes na Lei Maior, mas vazias de maior conteúdo prático".
A evolução da instituição, assim, caminha para o respeito às garantias
estabelecidas na Constituição Federal, mas, antes de tudo, são garantias da
própria coletividade e que devem, portanto, ser rigorosamente concretizadas
para que não se constituam em meros enunciados.
Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e 1º Secretário do
Ministério Público Democrático.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
A
mentira na história e a compreensão da crise
O capitalismo atravessa uma crise estrutural para
a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o
sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é
indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que
deforma o real, impondo à humanidade uma Historia deformada , forjada pelo
capitalismo para lhe servir os interesses.
Essa compreensão é extraordinariamente
dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes
transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em
época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as
forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em
verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.
A lógica das crises
No esforço para enganar e confundir os povos, a
primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um
bombardeio midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira,
resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram
a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia,
mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas
adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do
capitalismo, de âmbito mundial. A simulação da surpresa fez parte do
jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança
mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e
anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se
na lógica da História.
Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra
Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia
prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do
capitalismo.
A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha
como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente
conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita,
numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Yalta.
Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se
entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos
assumidos.
A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino
Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar
outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas
anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram
rapidamente retomados.Como os povos estavam sedentos de paz, uma
gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir
no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava
um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente
para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista
sobre uma paz perpétua.
A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O
famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de
Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente
discutido com a Casa Branca. O medo da "barbárie russa" abriu
o caminho à Doutrina Truman e à OTAN. Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de
romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.
Cabe recordar que somente após o afastamento dos
comunistas dos governos da França e da Itália os ministros anticomunistas
deixaram de integrar governos de países do Leste europeu.
É também significativo que os historiadores
norte-americanos e ingleses – com raríssimas exceções - omitam que a
implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa
sem recurso à força armada, enquanto na Grécia – país situado na zona de
influência inglesa - o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta
repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o
poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a
sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas a mídiaocidental ignorou
esses massacres. O tema era incômodo.O tão comentado plano russo de "conquista e
dominação mundiais" não passa de um mito forjado em Washington e Londres
para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como "aliança
defensiva" capaz de se opor "à subversão comunista". E a arma
atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem.
Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara
mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava
desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado
as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a
guerra e promover o "expansionismo comunista" uma sociedade nessas
condições?
A agressividade vinha toda dos EUA que tinham
sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as
suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado
britânico.
A Grã Bretanha, cujo império principiava a
desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao
aliado russo, antes freqüentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos
jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina
de Ferro, meses antes do final da guerra tenha afirmado: "Não conheço
outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o
governo soviéticorusso. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma
discussão sobre a boa fé russa". (citado por Isaac Deutscher em Ironias
da História, pág. 184; Ed. Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido
pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o
mundo…
Mesma hipocrisia numa crise muito diferente
Desagregada a União Soviética e implantado o
capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar
inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados.
Surgiu assim "o eixo do mal". Pequenos países como Cuba, o Iraque e a
Coréia do
Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram
apresentados como "ameaça à segurança" dos EUA e dos seus aliados. Um
homem, Osama Bin Laden, foi guindado a "inimigo número um" dos EUA. O
Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e
ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar
desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é
responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina
midiática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre "as armas de
destruição massiva" que Saddam Hussein teria acumulado para agredir a
humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de
Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror.
O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.
O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal
como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer
que, afinal, as tais armas de destruição massiva não existiam.
Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA
agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da história.
Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das
mais importantes civilizações criadas pela humanidade é a mais recente ameaça à
"segurança dos EUA". A Agência Internacional de Energia Atômica não
conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas
instalações nucleares com o objetivo de produzir armas nucleares. Com o aval do
Brasil e da Turquia , o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu
urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de
impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o
presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se
ele não se submeter a todas as suas exigências.
Isto acontece quando Obama se viu forçado a
demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na seqüência de uma
entrevista na qual o general McChrystal - aliás, um criminoso de guerra (vide
artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) - criticou duramente o
presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na
região.
Entre a farsa e a tragédia
Diariamente, a grande mídia norte-americana repete
que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela
administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se
inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica.É suficiente ler os artigos sobre o tema de
Prêmios Nobel da Economia (aliás, empenhados na salvação do capitalismo), como
Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo, para se compreender que a
situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se. Não é a taxa do PIB
que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas
financeira.
Os discursos do presidente contribuem para
confundir os cidadãos em vez de esclarecê-los. Persistem contradições entre a
Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman
das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da administração
que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.
A retórica presidencial não pode esconder que a
estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por
uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais. As empresas acumulam novamente lucros fabulosos
enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os
banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios
principescos.
O grande capital resiste, aliás, com o apoio
firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria
tímidas - como a reforma do sistema de saúde - que a administração adota (ver
artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).É cada vez mais transparente que estamos perante
uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria
da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia
como saída "salvadora" é muito forte, mas no próprio Pentágono
generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão
terrestre está excluída e o bombardeio com armas convencionais de alvos
estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca onda de
anti-americanisno no mundo muçulmano.
O recurso a armas nucleares táticas é a opção de
uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades
internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União
Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio
de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a
extinção da humanidade.Retomo assim a afirmação do início, tema desta
reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da
crise de civilização que o homem enfrenta.
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
Alejandro Nadal: A caminho da Grande Depressão?
A crise global não dá sinais de se resolver. Os sobressaltos
nos mercados financeiros e as más notícias nos setores reais da
economia indicam que as coisas poderiam piorar. Alguns analistas já se
questionam abertamente se o mundo se encaminha para uma réplica da
Grande Depressão dos anos 30.
Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa
Não é uma questão alarmista. A
realidade é que as raízes desta crise são muito profundas e encontram-se
na própria essência das economias capitalistas. O vulcão que entrou em
erupção em 2008 é a parte visível de um desastre que tem vindo a ser
cozinhado desde há mais de 30 anos.
Convém recordar alguns traços da evolução da economia estadunidense para
compreender que a recuperação vai requerer algo mais que um simples
estímulo fiscal. As lições são importantes para todo o mundo.
Nos Estados Unidos, a crise atual não se originou pura e simplesmente no
mercado das hipotecas lixo. As origens encontram-se na compressão
salarial desde os anos 70. Esse fenômeno pôs fim à chamada fase dourada
do capitalismo (1945-1975) marcada por taxas de crescimento sustentado,
por remunerações em alta e uma redução notória na desigualdade social.
Em contrapartida, a partir dos anos 70, o crescimento reduziu-se, a
massa salarial caiu e a desigualdade aumentou.
A única forma de manter níveis adequados de procura agregada foi através
do endividamento que começou a crescer desmedidamente nos anos 70. Esse
processo culminou com o desenfreado crescimento de passivos do setor
privado nos últimos 15 anos nos Estados Unidos. Hoje, o panorama não é
nada tranquilizador.
Um estudo recente revela que, em média, a contribuição do endividamento
para a procura agregada nesse país durante a década passada atingiu 15
por cento anuais e culminou em 1998 com 22 por cento. Ou seja, quase uma
quarta parte da procura agregada nos Estados Unidos foi financiada com
dívida em 1998. Em contraste, na década de 20, a dívida só financiou 8,7
por cento da procura agregada, em média.
O descalabro atual é ainda mais preocupante. Nos últimos 30 meses, a
descida no nível de endividamento é de 42 por cento. Isto é, o
desendividamento tem contribuição negativa para a procura agregada,
muito superior ao que aconteceu entre 1929 e 1931 (queda de 12,5 por
cento pelo desendividamento).
E esse ritmo de desendividamento não parece estar a diminuir nestes
dias. A única coisa que pôde mitigar esse brutal processo de contracção
da procura agregada foi o estímulo fiscal que agora está a esgotar-se.
Neste contexto, o apelo à redução do déficit fiscal no comunicado final
do G-20 de Toronto é uma estupidez. Desde 1970, nem a procura, nem o
emprego cresceram nos Estados Unidos sem a ajuda de uma procura agregada
impulsionada pelo endividamento.
Enquanto os assalariados tratavam de compensar o estrangulamento
salarial e a perda de poder de compra com mais dívida, o grande capital
deslocou as suas operações para países com baixos custos salariais. O
processo culminou com o traslado de centenas de milhares de empregos
para a China.
Em três décadas, o mundo foi testemunha do desmantelamento do tecido
industrial nos Estados Unidos. Alguns consideram que se tratou de um
processo associado à evolução normal de uma economia capitalista. Mas a
verdade é que as grandes companhias multinacionais que beneficiaram com o
translado das suas operações manufatureiras para a China não se
desindustrializaram, simplesmente mudaram de domicílio.
Nos Estados Unidos ficaram os que pensam que o melhor desse país é a sua
capacidade de fazer inovações financeiras. Um resultado deste processo
foi o desequilíbrio mundial entre os maiores países superavitários
(China) e deficitários (Estados Unidos). Em boa medida, a incapacidade
da economia estadunidense para gerar empregos deve-se precisamente ao
desmantelamento do tecido industrial ao longo dos últimos 25 anos.
No Congresso, em Washington, quase ninguém quer outro pacote de estímulo
para a economia estadunidense. Por isso, muitos agora pensam que haverá
uma recaída e o gráfico da recessão terá a forma de um W. Mas outros
pensam que poderia ter a forma de um L muito, mas muito alongado. Isto
é, a economia dos Estados Unidos permaneceria no colapso vários anos.
Face a esta paisagem, o G-20 pronunciou-se por manter e aprofundar o
modelo econômico neoliberal no mundo. Como se o único futuro possível
fosse o mesmo laboratório de onde saiu a crise atual.
Deveriam ler o último capítulo da Teoria Geral de Keynes, em especial a
passagem na qual adverte que talvez o único meio de manter o pleno
emprego e diminuir a desigualdade será através da socialização do
investimento. Mas, com a breca, tudo isto era proibido pensá-lo no
pequeno estado policial em que o Canadá transformou a sede do G-20.