Há mais de vinte anos, exatamente em 20 de maio de 1987, em artigo publicado
no jornal "O Estado de São Paulo", o eminente ministro do Supremo
Tribunal Federal, Sidney Sanches, em exposição feita junto à Subcomissão do
Poder Judiciário e Ministério Público, textualmente afirmou que "o
interesse público será melhor atendido e a Justiça melhor servida se o
Ministério Público, em qualquer de suas funções em juízo, estiver a salvo de
influências externas, seja no âmbito estadual, seja no federal", clamando
por maior autonomia, financeira e administrativa, para que se garanta a seus
membros maior segurança e isenção, em nome do interesse público e da justiça.
Da mesma forma, tornava-se necessária a outorga de garantias, idênticas às
da magistratura, diante de possíveis influências, inclusive de ordem política,
para que seus membros atuem em nome e na defesa da sociedade. Posteriormente, o
constituinte, atendendo aos reclamos dos operadores do direito, estabeleceu, em
cláusula pétrea, que "ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente" (art.5º inciso LIII, da CF). Garantiu-se, assim, ao
acusado, prévio conhecimento de quem o perseguirá em juízo e quem aplicará o
direito ao caso concreto.
Defensor da legalidade, cristalina qualificação do Ministério Público, causa
espécie a posterior designação de Promotor de Justiça, em detrimento do
intitulado Promotor Natural, vedando-se, dessa forma, a discricionária
designação, afastando-se o verdadeiro titular, ferindo-se a regra pétrea,
verdadeira garantia constitucional, porque, conforme doutrina o eminente
jurista Jaques de Camargo Penteado, "governo algum pode interferir no
Ministério Público para obter acusação contra inimigo político, sob pena de
violação dos princípios da igualdade e da ampla defesa. Não basta o controle
jurisdicional posterior, eis que a todo indivíduo deve ser assegurado o direito
de jamais ver seu nome inserido numa denúncia sem supedâneo suficiente. E
o contrário deve igualmente ser analisado. Governo algum pode interferir no
Parquet para obter denúncia que jamais chegará a bom termo ou arquivamento que
deixará de levar à condenação justamente aquele que feriu a ordem
jurídica".
Os notáveis avanços e as novas tarefas atribuídas ao Ministério Público, ao
contrário do que se pode inferir, possuem o condão de permitir a seus membros o
cumprimento desses misteres, em proveito da sociedade, única beneficiada, não
tendo jamais o intuito de estabelecer privilégio a determinada casta de
funcionários.
A concessão de discricionariedade na designação de promotor em detrimento
daquele prévia e legalmente autorizado a propor ação desvirtua e macula o
devido processo legal, voltando-se a tempos pretéritos "em que o
Ministério Público se notabilizou por servir ao governo e aos governantes,
situação esta incompatível com sua atual destinação constitucional",
conforme alerta Hugo Nigro Mazzilli, que aponta o caminho correto:
"justamente para que o Ministério Público possa servir a sociedade e não
aos governantes, precisa ser dotado de garantias substanciais que assegurem a
independência administrativa e funcional - garantias concretas e não palavras
retumbantes na Lei Maior, mas vazias de maior conteúdo prático".
A evolução da instituição, assim, caminha para o respeito às garantias
estabelecidas na Constituição Federal, mas, antes de tudo, são garantias da
própria coletividade e que devem, portanto, ser rigorosamente concretizadas
para que não se constituam em meros enunciados.
Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e 1º Secretário do
Ministério Público Democrático.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
A
mentira na história e a compreensão da crise
O capitalismo atravessa uma crise estrutural para
a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o
sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é
indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que
deforma o real, impondo à humanidade uma Historia deformada , forjada pelo
capitalismo para lhe servir os interesses.
Essa compreensão é extraordinariamente
dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes
transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em
época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as
forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em
verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.
A lógica das crises
No esforço para enganar e confundir os povos, a
primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um
bombardeio midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira,
resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram
a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia,
mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas
adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do
capitalismo, de âmbito mundial. A simulação da surpresa fez parte do
jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança
mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e
anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se
na lógica da História.
Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra
Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia
prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do
capitalismo.
A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha
como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente
conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita,
numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Yalta.
Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se
entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos
assumidos.
A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino
Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar
outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas
anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram
rapidamente retomados.Como os povos estavam sedentos de paz, uma
gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir
no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava
um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente
para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista
sobre uma paz perpétua.
A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O
famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de
Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente
discutido com a Casa Branca. O medo da "barbárie russa" abriu
o caminho à Doutrina Truman e à OTAN. Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de
romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.
Cabe recordar que somente após o afastamento dos
comunistas dos governos da França e da Itália os ministros anticomunistas
deixaram de integrar governos de países do Leste europeu.
É também significativo que os historiadores
norte-americanos e ingleses – com raríssimas exceções - omitam que a
implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa
sem recurso à força armada, enquanto na Grécia – país situado na zona de
influência inglesa - o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta
repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o
poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a
sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas a mídiaocidental ignorou
esses massacres. O tema era incômodo.O tão comentado plano russo de "conquista e
dominação mundiais" não passa de um mito forjado em Washington e Londres
para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como "aliança
defensiva" capaz de se opor "à subversão comunista". E a arma
atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem.
Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara
mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava
desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado
as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a
guerra e promover o "expansionismo comunista" uma sociedade nessas
condições?
A agressividade vinha toda dos EUA que tinham
sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as
suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado
britânico.
A Grã Bretanha, cujo império principiava a
desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao
aliado russo, antes freqüentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos
jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina
de Ferro, meses antes do final da guerra tenha afirmado: "Não conheço
outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o
governo soviéticorusso. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma
discussão sobre a boa fé russa". (citado por Isaac Deutscher em Ironias
da História, pág. 184; Ed. Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido
pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o
mundo…
Mesma hipocrisia numa crise muito diferente
Desagregada a União Soviética e implantado o
capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar
inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados.
Surgiu assim "o eixo do mal". Pequenos países como Cuba, o Iraque e a
Coréia do
Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram
apresentados como "ameaça à segurança" dos EUA e dos seus aliados. Um
homem, Osama Bin Laden, foi guindado a "inimigo número um" dos EUA. O
Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e
ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar
desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é
responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina
midiática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre "as armas de
destruição massiva" que Saddam Hussein teria acumulado para agredir a
humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de
Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror.
O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.
O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal
como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer
que, afinal, as tais armas de destruição massiva não existiam.
Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA
agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da história.
Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das
mais importantes civilizações criadas pela humanidade é a mais recente ameaça à
"segurança dos EUA". A Agência Internacional de Energia Atômica não
conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas
instalações nucleares com o objetivo de produzir armas nucleares. Com o aval do
Brasil e da Turquia , o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu
urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de
impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o
presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se
ele não se submeter a todas as suas exigências.
Isto acontece quando Obama se viu forçado a
demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na seqüência de uma
entrevista na qual o general McChrystal - aliás, um criminoso de guerra (vide
artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) - criticou duramente o
presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na
região.
Entre a farsa e a tragédia
Diariamente, a grande mídia norte-americana repete
que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela
administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se
inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica.É suficiente ler os artigos sobre o tema de
Prêmios Nobel da Economia (aliás, empenhados na salvação do capitalismo), como
Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo, para se compreender que a
situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se. Não é a taxa do PIB
que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas
financeira.
Os discursos do presidente contribuem para
confundir os cidadãos em vez de esclarecê-los. Persistem contradições entre a
Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman
das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da administração
que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.
A retórica presidencial não pode esconder que a
estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por
uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais. As empresas acumulam novamente lucros fabulosos
enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os
banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios
principescos.
O grande capital resiste, aliás, com o apoio
firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria
tímidas - como a reforma do sistema de saúde - que a administração adota (ver
artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).É cada vez mais transparente que estamos perante
uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria
da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia
como saída "salvadora" é muito forte, mas no próprio Pentágono
generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão
terrestre está excluída e o bombardeio com armas convencionais de alvos
estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca onda de
anti-americanisno no mundo muçulmano.
O recurso a armas nucleares táticas é a opção de
uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades
internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União
Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio
de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a
extinção da humanidade.Retomo assim a afirmação do início, tema desta
reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da
crise de civilização que o homem enfrenta.
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
Alejandro Nadal: A caminho da Grande Depressão?
A crise global não dá sinais de se resolver. Os sobressaltos
nos mercados financeiros e as más notícias nos setores reais da
economia indicam que as coisas poderiam piorar. Alguns analistas já se
questionam abertamente se o mundo se encaminha para uma réplica da
Grande Depressão dos anos 30.
Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa
Não é uma questão alarmista. A
realidade é que as raízes desta crise são muito profundas e encontram-se
na própria essência das economias capitalistas. O vulcão que entrou em
erupção em 2008 é a parte visível de um desastre que tem vindo a ser
cozinhado desde há mais de 30 anos.
Convém recordar alguns traços da evolução da economia estadunidense para
compreender que a recuperação vai requerer algo mais que um simples
estímulo fiscal. As lições são importantes para todo o mundo.
Nos Estados Unidos, a crise atual não se originou pura e simplesmente no
mercado das hipotecas lixo. As origens encontram-se na compressão
salarial desde os anos 70. Esse fenômeno pôs fim à chamada fase dourada
do capitalismo (1945-1975) marcada por taxas de crescimento sustentado,
por remunerações em alta e uma redução notória na desigualdade social.
Em contrapartida, a partir dos anos 70, o crescimento reduziu-se, a
massa salarial caiu e a desigualdade aumentou.
A única forma de manter níveis adequados de procura agregada foi através
do endividamento que começou a crescer desmedidamente nos anos 70. Esse
processo culminou com o desenfreado crescimento de passivos do setor
privado nos últimos 15 anos nos Estados Unidos. Hoje, o panorama não é
nada tranquilizador.
Um estudo recente revela que, em média, a contribuição do endividamento
para a procura agregada nesse país durante a década passada atingiu 15
por cento anuais e culminou em 1998 com 22 por cento. Ou seja, quase uma
quarta parte da procura agregada nos Estados Unidos foi financiada com
dívida em 1998. Em contraste, na década de 20, a dívida só financiou 8,7
por cento da procura agregada, em média.
O descalabro atual é ainda mais preocupante. Nos últimos 30 meses, a
descida no nível de endividamento é de 42 por cento. Isto é, o
desendividamento tem contribuição negativa para a procura agregada,
muito superior ao que aconteceu entre 1929 e 1931 (queda de 12,5 por
cento pelo desendividamento).
E esse ritmo de desendividamento não parece estar a diminuir nestes
dias. A única coisa que pôde mitigar esse brutal processo de contracção
da procura agregada foi o estímulo fiscal que agora está a esgotar-se.
Neste contexto, o apelo à redução do déficit fiscal no comunicado final
do G-20 de Toronto é uma estupidez. Desde 1970, nem a procura, nem o
emprego cresceram nos Estados Unidos sem a ajuda de uma procura agregada
impulsionada pelo endividamento.
Enquanto os assalariados tratavam de compensar o estrangulamento
salarial e a perda de poder de compra com mais dívida, o grande capital
deslocou as suas operações para países com baixos custos salariais. O
processo culminou com o traslado de centenas de milhares de empregos
para a China.
Em três décadas, o mundo foi testemunha do desmantelamento do tecido
industrial nos Estados Unidos. Alguns consideram que se tratou de um
processo associado à evolução normal de uma economia capitalista. Mas a
verdade é que as grandes companhias multinacionais que beneficiaram com o
translado das suas operações manufatureiras para a China não se
desindustrializaram, simplesmente mudaram de domicílio.
Nos Estados Unidos ficaram os que pensam que o melhor desse país é a sua
capacidade de fazer inovações financeiras. Um resultado deste processo
foi o desequilíbrio mundial entre os maiores países superavitários
(China) e deficitários (Estados Unidos). Em boa medida, a incapacidade
da economia estadunidense para gerar empregos deve-se precisamente ao
desmantelamento do tecido industrial ao longo dos últimos 25 anos.
No Congresso, em Washington, quase ninguém quer outro pacote de estímulo
para a economia estadunidense. Por isso, muitos agora pensam que haverá
uma recaída e o gráfico da recessão terá a forma de um W. Mas outros
pensam que poderia ter a forma de um L muito, mas muito alongado. Isto
é, a economia dos Estados Unidos permaneceria no colapso vários anos.
Face a esta paisagem, o G-20 pronunciou-se por manter e aprofundar o
modelo econômico neoliberal no mundo. Como se o único futuro possível
fosse o mesmo laboratório de onde saiu a crise atual.
Deveriam ler o último capítulo da Teoria Geral de Keynes, em especial a
passagem na qual adverte que talvez o único meio de manter o pleno
emprego e diminuir a desigualdade será através da socialização do
investimento. Mas, com a breca, tudo isto era proibido pensá-lo no
pequeno estado policial em que o Canadá transformou a sede do G-20.
Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia
Responsabilidade social
Zillah Branco *
A sociedade capitalista imputava a quem tinha alguma
parcela de poder, a responsabilidade pelos que dele dependiam, o que
dava, em contrapartida, direitos de proprietário da mão de obra
disponível. Esta era uma herança medieval favorável aos antigos senhores
de terras que eram donos da população residente, que nada tinha de
seu, e usava a força de trabalho na produção, em funções de defesa e
construção de infra-estrutura. Era uma responsabilidade teórica e mal
definia alguns deveres na manutenção das condições de vida dos servos.
Com a Revolução Industrial, já no século XIX, os legisladores começaram
a isentar de qualquer responsabilidade social os grandes empresários
que não estavam ligados à terra como os antigos “senhores”, mas que
contratavam assalariados com quem não tinham laços de dependência
relativos à vida privada de cada um. Eram contratados, dispensados,
substituídos como peças do mecanismo de produção.
Os benefícios de moradia e alguma estrutura de uso social eram construídos como “generosidade da empresa”
que cobrava aluguéis e vendia produtos de consumo descontando nos
salários. A construção de casas para as famílias de trabalhadores e o
fornecimento de água, caminhos e produtos necessários à sobrevivência e
à produção cumpria uma função de gestão e publicidade empresarial (que
não era reconhecida pela classe empresarial e seus aliados no poder) e
condicionava a dependência dos moradores que cumpriam as ordens
patronais prendendo-os ao lugar e às dívidas contraídas desde o primeiro
dia de contrato.
Quando as Associações Sindicais começam a defender os direitos
mínimos de sobrevivência e de pagamento por horas trabalhadas, os
legisladores introduziram diferenças nos conceitos jurídicos de modo a
denunciar como “conspiração” as defesas sociais contra os interesses da “empresa” considerada
como entidade indispensável à produção de interesse nacional. A
produção tinha importância (teórica) para o país (e real interesse
social e político da classe mandante) e a população devia colaborar
para o seu crescimento e não podia defender direitos pessoais. Esta
fórmula transformava a empresa na personagem fundamental sem referir
que, na verdade, o interesse defendido era pessoal, do proprietário.
Consideravam os crimes contra a propriedade, mas não contra as pessoas (pobres, é claro). Até hoje esta anomalia, do ponto de vista da sociedadehumana, persiste como uma peia na democracia pelos desleixos jurídicos.
Para o sistema capitalista, a transformação de empresas e
instituições em personagens e sujeitos da história, permitiu que o ser
humano dominado perdesse essa característica (de sujeito que produz as
transformações) e que os mandantes passassem a lideres e dirigentes por
terem o poder de decidir o rumo a ser tomado pela empresa. O “valor”
atribuído às pessoas/objetos depende dos produtos (em que participa com a
sua mais-valia e o que consome através do mercado) e, assim, é
estimulada a capacidade e eficiência pessoal, friamente, contabilmente,
sem incorporar o valor humano e menos ainda o valor social do
coletivo. No outro extremo da sociedade o valor também é pessoal,
correspondendo aos recursos financeiros de que dispõe ou o poder
político que move as finanças. O valor da produção é relacionado ao
crescimento da riqueza e não ao desenvolvimento da sociedade. Os
Estados Unidos radicalizaram estes conceitos a ponto de 70% do seu
Produto Interno Bruto corresponder ao consumo de quaisquer produtos.
Hoje no Brasil transformado por 8 anos de democracia (apesar das
dificuldade herdadas e das oposições políticas) são discutidas as
causas sociais dos problemas humanos mais difíceis de serem
ultrapassados, como a violência, a criminalidade, as desordens mentais
estimulados pelos desequilíbrios sócio-econômicos e começa-se a
mencionar a responsabilidade social dos empresários e
dirigentes que constituem a elite cujo poder compete com o dos
representantes eleitos pela população. Até mesmo a mídia vê-se obrigada
a promover debates e, vez por outra, aparecem estudiosos a sério das
questões sociais que introduzem interessantes análises. No dia 14/7 o
programa da TV Globo, “entre aspas”, surpreendeu os expectadores com
uma discussão lúcida sobre a faladoria que a mídia tem alimentado em
torno do crime bárbaro em que está implicado o goleiro Bruno.
O
psiquiatra Pedro Forbes e o consultor para assuntos de futebol José
Carlos Brumoro contestaram a posição habitual divulgada pela TV que
aponta como causa da má formação mental de um jovem com talento
reconhecido nacionalmente, a família ou as carências sócio-econômicas
na infância. Atribuem, sim, aos agentes empresariais que deram ou
acompanharam a formação profissional sem cuidar do caráter e dos
impulsos descontrolados do jovem que, como tantos outros, saiu da
miséria e de uma condição de vida marginal para ser lançado como milionário que tudo pode na sociedade desregrada onde os valores éticos são considerados caretice e muitos dos heróis são ambiciosos sem escrúpulos. Reclamam a responsabilidade de quem conduz a formação da juventude.
Cabe uma pausa para perguntar quem deve ser responsabilizado por
esta selva que engole uma juventude desavisada. A família? O sistema
escolar? O Estado ? Os serviços sociais e de segurança? Mas a sociedade
tem outras fontes de poder que atuam impunemente: as Igrejas, os
Partidos, a Mídia, os Editores, as Grandes Empresas, as Corporações
Profissionais etc, etc. Na verdade, todos os que participam na vida
social são responsáveis (por isso estamos empenhados em levar os
trabalhadores e suas famílias, todo o povo, a participarem ativamente
nesta sociedade).
Voltando ao tema discutido através da “Globo”, foi explicado pelo
psiquiatra P.Forbes que neste trajeto de vida em que é promovido, sem
preparo ético, um jovem pobre a um ídolo milionário que “tudo pode”, há uma quebra da identidade que o deixa a mercê de qualquer influência . E Brumoro explica que hoje os
dirigentes do futebol não são, como antes, profissionais, mas sim
“colaboradores” financeiros. Cuidam apenas da gestão empresarial
eficiente para alcançar sucesso.
E fica a pergunta: que exemplo ético ou moral poderá dar alguém que
lida com as finanças visando lucros e crescimento econômico, se não tem
qualquer vínculo com as questões humanas da formação do jovem que
segue uma carreira profissional? Que ambiente cerca o jovem milionário
(inclusive nos clubes e nas várias empresas que o envolvem como mais um
objeto em promoção) onde ninguém diz “não” ao ídolo, todos o mimam e
bajulam, e alguns aproveitam para introduzir os seus produtos que
circulam nos antros do crime organizado? Nada mudou na sociedade
capitalista desde a Revolução Industrial quando uns são mandantes da
elite e os outros são objetos de produzir riqueza.
Mas, o jovem ídolo caído é um cidadão maior de idade, e deve
responder pelos seus atos criminosos mesmo que muita gente que prega a
educação seja co-responsável pela sua formação defeituosa. A
responsabilidade social só é atribuída aos que não têm poder.
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Inpe revela queda de 47% no desmatamento da Amazônia
Há apenas dois meses do período de coleta de dados da taxa
anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica
queda de 47%. O número é maior do que os 42% do porcentual recorde de
queda da devastação da floresta, registrado pelos satélites do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no ano passado.
A indicação de nova queda aparece
nos dados acumulados durante dez meses — entre agosto de 2009 e maio de
2010 — pelo Deter, o sistema de detecção do desmatamento em tempo real.
Divulgado também pelo Inpe, o Deter é usado para orientar a ação de
fiscais no combate à devastação da Amazônia.
O sistema Deter já captou desde agosto passado o corte de 1.567
quilômetros quadrados da Floresta Amazônica. Essa área é superior à
cidade de São Paulo. Mas conta apenas uma parte da história do que
acontece na região.
Mais rápido e menos preciso, o Deter não capta desmatamentos em áreas
com menos de 50 hectares (meio quilômetro quadrado). Vem daí a principal
diferença entre o sistema de detecção do desmatamento em tempo real e o
Prodes, que mede a taxa oficial, divulgada ao final de cada ano.
No ano passado, o Prodes mediu redução recorde de 42% no ritmo do
desmatamento. A área abatida foi a menor desde o início da série
histórica do Inpe, em 1988. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram
devastados 7.464 quilômetros quadrados de floresta, ou cerca de 5 vezes o
tamanho da cidade de São Paulo.
No ano anterior, a Amazônia havia perdido quase 13 mil quilômetros
quadrados de floresta. Essa queda recorde foi registrada depois de um
ano de interrupção num período de queda do abate de árvores, e deve-se
sobretudo do aumento de fiscalização e de medidas como o corte de
crédito aos desmatadores e o embargo da produção em áreas de abate
ilegal de árvores. Piores anos
De acordo com dados dos satélites do Inpe, os piores anos para a
floresta foram 1995, 2004 e 2003, com mais de 25 mil quilômetros
quadrados devastados em cada um desses anos.
A nova taxa oficial de desmatamento ainda depende das medições dos
satélites nos meses de junho e julho, que tradicionalmente apresentam
ritmo acelerado de corte de árvores.
O período mais complicado na preservação da floresta começa com o fim
das chuvas na região e segue até outubro. Em maio, o Inpe registrou
11,4% de desmatamento a menos do que no mesmo mês do ano passado, dado
de contribuiu para a queda de 47% acumulada desde agosto de 2009. Queda significativa
A exploração ilegal de madeira no Brasil caiu até 75% na última década,
segundo estudo do instituto britânico Chatham House. A redução da
exploração ilegal teve reflexo direto no contrabando da matéria-prima. A
importação de madeira ilegal pelos principais países consumidores caiu
pelo menos 30%, segundo o levantamento.
Os pesquisadores analisaram a cadeia produtiva da madeira ilegal em
cinco países tropicais detentores de florestas (Brasil, Indonésia,
Camarões, Malásia e Gana), em países consumidores (Estados Unidos,
Japão, Reino Unido, França e Holanda) e na China e no Vietnã, que
processam a madeira e fornecem produtos para o mundo industrializado.
Segundo a Chatham House, o desmatamento ilegal na Amazônia caiu 75% na
última década, principalmente nos últimos cinco anos, quando o governo
intensificou o combate às derrubadas na região e modernizou o sistema de
transporte e comércio de madeira, com o Documento de Origem Florestal
(DOF). Falhas apontadas
O relatório elogia o sistema brasileiro de monitoramento de florestas e
cita o aumento no número de operações policiais na Amazônia para
combater o desmate.
No entanto, os pesquisadores ainda apontam falhas no cumprimento das
sanções aplicadas nas infrações ocorridas na floresta amazônica, onde a
derrubada ilegal ainda representa de 35% a 70% de todo o desmatamento.
"As penas nem sempre são aplicadas. No Brasil, por exemplo, apenas 2,5% das multas são recolhidas", acrescenta o texto.
Da redação, com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Nova York expulsa professor que viajou a Cuba com alunos
A Prefeitura de Nova York decidiu expulsar do sistema público
de ensino da cidade um professor de um instituto de Manhattan que
organizou uma viagem a Cuba em 2007 com seus alunos, em desobediência à
vetusta proibição que o país mantém contra seus cidadãos, proibidos de
visitarem a Ilha.
A agência municipal que supervisiona
as escolas de Nova York decidiu, segundo relatório divulgado nesta
quarta-feira (21), que Nathan Turner, um professor de história que
lecionava no instituto de ensino médio Beacon, no bairro do Upper West
Side, nunca mais poderá trabalhar como professor na cidade.
A prefeitura local afirma alega que Turner teria sido o único
responsável por fazer com que alguns alunos desse instituto
nova-iorquino quebrassem as leis federais que proíbem todos os cidadãos
americanos de viajarem à ilha caribenha a partir do território
americano.
As autoridades municipais retiram qualquer responsabilidade da direção
da escola e acusam Turner pela viagem, ao mesmo tempo que açodadamente
descrevem o professor como um "comunista que tinha de ver Fidel Castro
mais uma vez antes que morresse".
Turner, que reuniu 30 estudantes e administrou a viagem mediante uma
organização religiosa de Nova York, já tinha conseguido viajar para Cuba
anteriormente com alunos de Beacon em 2000, 2001, 2003 e 2005, com o
consentimento do centro e do Departamento de Educação do Estado de Nova
York.
As viagens de estudos entre os Estados Unidos e Cuba são permitidas para
alunos em idade universitária, mas o instituto Beacon conseguiu enviar
em várias ocasiões seus alunos para Cuba, entre os que em 2005 se
encontrava a enteada do agora governador de Nova York, David Paterson,
segundo detalha o The New York Times.
Turner foi obrigado a deixar seu trabalho no instituto Beacon em 2008 e
se mudou para Nova Orleans, onde dirige um projeto comunitário.