sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fichas sujas: mensalaleiros do DEM se aliam a Roriz 

e Serra no DF.

Personagens do "mensalão do DEM" estão juntos novamente. Nesta quinta-feira (8), ocorreu a primeira reunião oficial de campanha entre o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e o grupo político que sustentou o governo de José Roberto Arruda (ex-DEM) no Distrito Federal até 2009. Sete meses após a revelação do escândalo de corrupção local, que opôs Arruda a Roriz, todos estão unidos agora para derrotar Agnelo Queiroz (PT) e seu vice, Tadeu Filippelli (PMDB).

 

Arruda respaldou o acordo que seus aliados — no comando do PSDB, do DEM e do PR no DF — fecharam para apoiar Roriz ao governo e o tucano José Serra para a Presidência. A união pode contar com o ex-senador Luiz Estevão, cassado em 2000 e acusado de envolvimento na obra superfaturada do Fórum Trabalhista de São Paulo, mas cotado para ser tesoureiro da campanha. "Ele (Estevão) não quer. Se ele quisesse eu ia querer. É uma excelente figura. E qual o defeito dele? Para mim, não tem", diz o cínico Roriz, candidato a governador pelo PSC.

Também na quinta, ele se reuniu com dirigentes dos partidos e integrantes de sua chapa, entre eles Alberto Fraga (DEM), candidato ao Senado. Na semana passada, Fraga visitou Arruda para discutir a aliança com Roriz. "Não o consultei. Apenas falei que seria suicídio sairmos sozinhos. E ele (Arruda) falou que realmente não tínhamos alternativa", afirma Fraga.

O PSOL entrou com pedido de impugnação da candidatura de Roriz, com base na Lei da Ficha Limpa. Em 2007, ele deixou o Senado após denúncia de envolvimento em corrupção.

Da Redação, com informações do jornal O Estado de S. Paulo

"Os Gritos das Gaivotas"

Jairo Junior *

 

“Os continentes são convenções, apenas existem terras separadas por mares”.
Nos bolsos dos seres marinhos sempre há monte de terras seca.
Nós desconseguimos de chegar aos bolsos aferroalhados.
Na loucura do pôr do Sol, gaivotas gritam avisando as rotas.
Uns poucos sabem traduzir os gritos das gaivotas.
Estes chegam à terra firme”

 





Com este trecho do belo livro “O Planalto e a Estepe” do escritor angolano Pepetela homenageamos um homem que sem dúvidas estava entre estes “poucos” que sabem traduzir os gritos das gaivotas.

Paulo Jorge, quadro político, militante, estrategista e liderança do MPLA e da sociedade angolana, veio a falecer neste ultimo final de semana, deixando um legado de lutas e contribuição ao que Angola e seu povo são hoje, mas com certeza ainda para o que este país será no futuro.

Paulo Teixeira Jorge que será enterrado nesta quinta-feira no cemitério Sant`Ana na capital Luanda. Foi um dos quadros mais tradicionais do MPLA.

Remanescente do grupo fundador do partido militou ao lado de Agostinho Neto nos primórdios do movimento em Lisboa.

Quando os primeiros apoios ainda eram poucos, vindos das vanguardas mais lúcidas da diáspora angolana e dos internacionalistas que se aliavam à luta contra o colonialismo.

Eram tempos muito diferentes dos atuais, quando o MPLA, com os seus quatro milhões de militantes espalhados pelo país, como disse o Paulo Jorge em entrevista pouco antes de sua morte. Estes milhões de militantes do Partido cujo amor e cuidado sempre obteve deste que sem dúvidas foi um dos seus mais destacados dirigentes.

Nascido em Beguela, Paulo Jorge estudou engenharia química em Portugal. Entrou na luta clandestina contra o regime colonial em 1956, aos 28 anos de idade.

Em novembro de 1957, aderiu ao MPLA, que havia sido fundado em 10 de dezembro do ano anterior.

A sua própria história de vida confundia-se com a do partido no qual ocupou todas as posições desde as bases até o topo da pirâmide partidária. Atualmente era membro do Comitê Central, do Bureau Político e do Secretariado, onde ocupava o posto de Secretario para as Relações Internacionais.

Durante a guerra, esteve na frente de Cabida e no Leste. Na província de Moxico. Com a independência foi convocado pelo presidente Agostinho Neto para a área internacional do governo do qual nunca mais se afastou.

Em 1976, assumiu o Ministério das Relações Exteriores, tido sido o 2º a ocupar esta pasta: O primeiro foi José Eduardo dos Santos, atual Presidente da República, que a deixou para ser o vice-primeiro Ministro.
Na condição de estrategista da política internacional da nova nação percorreu praticamente todos os paises do mundo. Agindo sempre com descortino e amplitude.

Sua habilidade pôde ser testada logo no inicio do mandato. Na sua primeira missão diplomática no exterior, aqui mesmo no Brasil, veio a ser condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul, o maior galardão do Governo Brasileiro. Mas, só que tinha um detalhe importante, o nosso país era governado por uma ditadura militar que compunha um espectro político totalmente oposto ao da nascente nação africana e muito mais ainda do comunista.

Paulo Teixeira Jorge - 52 anos de militância qualificada dentro e fora do seu partido faz desta perda, irreparável.

Nós aqui do PCdoB e da AABA, assim como todo o amigo de Angola e da África, temos convicção que suas contribuições nos terrenos teórico e prático nos ajudaram, e muito, nesta caminhada pela Paz, Desenvolvimento e Qualidade de Vida. Lá ou aqui.

* Presidente Associação Brasil Angola (AABA); Diretor do Centro Cultural Africano (CCA); Coordenador do Congresso Nacional de Capoeira (CNC)


Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Dois livros importantes

João Guilherme Vargas Netto *

 Há dois livros que merecem ser lidos e estudados por todos aqueles que se interessam pela luta dos trabalhadores e pelo movimento sindical.

 

São edições recentes (ano 2009) produzidas pelas próprias instituições e distribuídas gratuitamente aos interessados.
O primeiro deles é da OIT (www.oitbrasil.org.br) “Duração do trabalho em todo o mundo – Tendências de jornadas de trabalho, legislações e políticas numa perspectiva global comparada” (232 páginas mais índices), elaborado por três técnicos da instituição, Sangheon Lee, Deirdre McCann e Jon C. Messenger, em sete anos de trabalho. Em seu prefácio destaca-se que os estudos sistemáticos sobre as jornadas de trabalho, tanto nos países industrializados como nos países em desenvolvimento, são “surpreendentemente raros”, o que valoriza ainda mais a edição brasileira quando o movimento sindical luta para conseguir a redução constitucional da jornada.

O segundo, de responsabilidade do DIEESE (www.dieese.org.br), parcialmente financiado pela Fundação Ford e apresentado pelas seis centrais sindicais – CGTB, CTB, CUT, Força Sindical, NCST e UGT – é o “Salário Mínimo – Instrumento de Combate à Desigualdade” (252 páginas), que tem como objetivo tratar – de maneira abrangente – as diferentes dimensões que o salário mínimo assume no debate que se desenvolve na sociedade brasileira (destaco, por exemplo, o importante capítulo 11 – Salário Mínimo e os Pisos Estaduais – fonte essencial para o estudo e a divulgação do tema).

O livro da OIT é arma para a luta em curso pela redução da jornada sem redução de salário.
O livro do DIEESE valoriza a vitória do movimento sindical e dos trabalhadores ao garantir, junto com o governo federal, uma política permanente de valorização do salário mínimo, “uma das mais bem sucedidas experiências de ação unitária das Centrais nos últimos anos”.

* É consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Centrais acusam tucano de impostura e golpe contra trabalhadores

As centrais sindicais lançaram manifesto conjunto na última quarta-feira (7) onde alertam a população para que não se deixe enganar pelas mentiras veiculadas na rádio e na televisão por José Serra, candidato de Fernando Henrique e do PSDB à Presidência da República, a respeito de pretensas medidas que teria proposto em prol da classe trabalhadora. Serra age como um verdadeiro lobo vestido em pele de cordeiro.


Sob o título “Serra: impostura e golpe contra os trabalhadores”, CUT, Força Sindical, CTB, CGTB e Nova Central denunciam que “o candidato José Serra (PSDB) tem se apresentado como um benemérito dos trabalhadores, divulgando inclusive que é o responsável pela criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e por tirar do papel o Seguro-Desemprego. Não fez nenhuma coisa nem outra. Aliás, tanto no Congresso Nacional quanto no governo sua marca registrada foi atuar contra os trabalhadores”. De acordo com as centrais, “a mentira tem perna curta e os fatos desmascaram o tucano”.

Falsificando a história

A nota assinada pelos presidentes das centrais (Wagner Gomes, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil; Artur Henrique, da Central Única dos Trabalhadores; Miguel Torres, em exercício, da Força Sindical; Antonio Neto, da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil e José Calixto Ramos, da Nova Central Sindical dos Trabalhadores) ressalta é fundamental que a população seja bem informada a respeito dos fatos para que dimensione o tamanho da falsidade que vem sendo divulgada pelo PSDB.

“A verdade”, esclareceram, é que “o seguro-desemprego foi criado pelo decreto presidencial nº 2.284, de 10 de março de 1986, assinado pelo então presidente José Sarney. Sua regulamentação ocorreu em 30 de abril daquele ano, através do decreto nº 92.608, passando a ser concedido imediatamente aos trabalhadores”. Da mesma forma, “o FAT foi criado pelo Projeto de Lei nº 991, de 1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB-RS). Um ano depois Serra apresentou um projeto sobre o FAT (nº 2.250/1989), que foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados, na sessão de 13 de dezembro de 1989, uma vez que o projeto de Jorge Uequed já havia sido aprovado”.

Reprovado pelo Diap

Na Assembleia Nacional Constituinte (1987/1988), o candidato tucano votou reiteradamente contra os trabalhadores, assinala o manifesto: “Serra não votou pela redução da jornada de trabalho para 40 horas; não votou pela garantia de aumento real do salário mínimo; não votou pelo abono de férias de 1/3 do salário; não votou para garantir 30 dias de aviso prévio; não votou pelo aviso prévio proporcional; não votou pela estabilidade do dirigente sindical; não votou pelo direito de greve; não votou pela licença paternidade; não votou pela nacionalização das reservas minerais”.

Por isso, conforme recordam os sindicalistas, José Serra foi reprovado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que conferiu aos parlamentares uma nota entre zero a dez de acordo com a posição assumida na votação dos temas de interesse da classe trabalhadora, em particular o capítulo sobre direitos sociais.

Serra, que a esta altura já tinha se bandeado para o lado da direita, teve nota 3,75 pelo desempenho na Constituinte. Vale lembrar que no primeiro turno da Constituinte, o atual candidato tucano tirou nota 2,50 e, no segundo turno, por se ausentar em várias votações em que havia votado contra, levou nota 5,0 – o que lhe elevou a média para 3,75.

Homem do capital financeiro

Já em 1994, diante da proposta de Revisão Constitucional, lembram as centrais, “Serra apresentou a proposta nº 16.643, para permitir a proliferação de vários sindicatos por empresa, cabendo ao patrão decidir com qual sindicato pretendia negociar. Ainda por essa proposta, os sindicatos deixariam de ser das categorias, mas apenas dos seus representados. O objetivo era óbvio: dividir e enfraquecer os trabalhadores e propiciar o lucro fácil das empresas. Os trabalhadores enfrentaram e derrotaram os ataques de Serra contra a sua organização, garantindo a manutenção de seus direitos previstos no artigo 8º da Constituição”.

Conforme o manifesto, “é por essas e outras que Serra, enquanto governador de São Paulo, reprimiu a borrachadas e gás lacrimogêneo os professores que estavam reivindicando melhores salários; jogou a tropa de choque contra a manifestação de policiais civis que reivindicavam aumento de salário, o menor salário do Brasil na categoria; arrochou o salário de todos os servidores públicos do Estado de São Paulo”.

“As Centrais Sindicais brasileiras estão unidas em torno de programa de desenvolvimento nacional aprovado na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, em 1º de junho, com mais de 25 mil lideranças sindicais, contra o retrocesso e para garantir a continuidade do projeto que possibilitou o aumento real de 54% do salário mínimo nos últimos sete anos, a geração de 12 milhões de novos empregos com carteira assinada, que acabou com as privatizações, que descobriu o pré-sal e tirou mais de 30 milhões de brasileiros da rua da amargura”, conclui o documento assinado pela CUT, Força Sindical, CTB, Nova Central e CGTB.

Enfim, Serra é um homem do capital financeiro e, como tal, já se revelou inimigo da classe trabalhadora. Definitivamente não merece a confiança das centrais sindicais.

Da redação, com agências


http://www.vermelho.org.br/noticia

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Propaganda enganosa: Serra mente sobre FAT e Seguro Desemprego

José Serra (PSDB) afirmou, na TV, ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT - e do Seguro Desemprego. O locutor do programa do PSDB repetiu várias vezes: "Foi o Serra que criou o maior patrimônio dos trabalhadores brasileiros, o FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador. Ele criou também o Seguro desemprego". Um levantamento feito com dados da Câmara dos Deputados revela que Serra mentiu.

 

A campanha de José Serra (PSDB) tem batido na tecla de que foi ele o responsável pela emenda à Constituinte que propiciou a criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e que ele também teria sido o grande responsável pela criação do Seguro Desemprego. “Foi o Serra que criou o maior patrimônio dos trabalhadores brasileiros, o FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador. Ele criou também o Seguro desemprego”, repetiu várias vezes o locutor do programa do PSDB, levado ao ar esta semana na TV.

Ele mesmo também não se cansa de alardear aos quatro cantos. “Fui o autor da emenda à Constituição brasileira que instituiu o que veio a ser o Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT”. “O Fundo, hoje, é o maior do Brasil e é patrimônio dos trabalhadores brasileiros, e financia o BNDES, a expansão das empresas, as grandes obras, os cursos de qualificação profissional, o salário dos pescadores na época do defeso”, diz. “Graças ao FAT, também, tiramos o Seguro Desemprego do papel e demos a ele a amplitude que tem hoje”, repetiu o tucano na Convenção Nacional do PTB.

Mas, a realidade dos fatos não confirma as afirmações de José Serra e nem as de sua campanha. O Seguro Desemprego não teve nada a ver com sua atuação parlamentar. Ele foi criado pelo decreto presidencial nº 2.283 de 27 de fevereiro de 1986, assinado pelo então presidente José Sarney. O seguro começou a ser pago imediatamente após a assinatura do decreto presidencial. O ex-presidente José Sarney já havia desmentido as declarações do tucano em relação ao Seguro Desemprego. “Não sei de onde ele [Serra] tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele [Serra] era secretário de Economia e Planejamento do governador Franco Montoro”, explicou o senador.

Depois, a Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, determinou em seu art. 239, que os recursos provenientes da arrecadação das contribuições para o PIS e para o PASEP fossem destinados ao custeio do Programa do Seguro Desemprego, do Abono Salarial e, pelo menos quarenta por cento, ao financiamento de Programas de Desenvolvimento Econômico, esses últimos a cargo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.

Fomos então pesquisar a data exata da criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) já que Serra diz que foi uma emenda sua que propiciou a criação do fundo. Está lá nos anais da Câmara. O FAT foi criado pelo Projeto de Lei nº 991, de 1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB-RS). O projeto diz textualmente: "DISCIPLINA A CONCESSÃO DO SEGURO DESEMPREGO, NA FORMA QUE ESPECIFICA, E DETERMINA OUTRAS PROVIDÊNCIAS. NOVA EMENTA: REGULA O PROGRAMA DO SEGURO DESEMPREGO, O ABONO SALARIAL, INSTITUI O FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR - FAT, E DA OUTRAS PROVIDENCIAS".

Como José Serra seguia insistindo em afirmar que foi ele o autor da lei que criou o FAT, fizemos então uma extensa pesquisa nos arquivos da Câmara dos Deputados da década de 80 e 90. Lá confirmamos que José Serra não está falando a verdade. Ele apresentou o projeto de lei nº 2.250, de 1989, com o objetivo de criar o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Foi apresentado em 1989. Portanto, não foi na Constituinte, como ele diz. O seu projeto tramitou na casa e foi considerado PREJUDICADO pelo plenário da Câmara dos Deputados na sessão do dia 13 de dezembro de 1989. O resultado da tramitação pode ser visto no link abaixo, da Câmara Federal: (www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=201454) . Os deputados consideraram o projeto prejudicado pelo fato de já ter sido apresentado o PL 991/1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB). Ou seja, um ano antes de Serra já havia a proposta de criação do FAT.

Nem o FAT foi criado por Serra e nem o Seguro Desemprego “saiu do papel” por suas mãos, como afirma a sua propaganda. A campanha tucana sobre Serra ter criado o FAT e “vestir a camisa do trabalhador” está, portanto, toda ela baseada numa farsa e numa mentira.

Fonte: Hora do Povo

http://www.vermelho.org.br/noticia

Bens de capital lideram retomada de investimentos industriais

O setor de bens de capital é o que mais se recuperou do baque causado pela crise econômica na indústria brasileira no ano passado. Em torno de 41% das indústrias do setor pretendem expandir a capacidade produtiva este ano, enquanto o percentual chegava a apenas 20% em 2009, de acordo com a Sondagem de Investimentos da Indústria, realizada pela Fundação Getúlio Vargas.


O setor bateu recorde entre as empresas que não têm programa de investimento, com o percentual mais baixo da série histórica, iniciada em 1998. As indústrias de bens de capital que não vão investir somam apenas 7%. O recorde anterior, registrado em 2008, era de 14%.

Recuperação consolidada

"A recuperação do setor de bens de capital consolida totalmente a recuperação da indústria brasileira, não só em termos de produção, mas de retorno ao investimento. Isso mostra que todas as fases estão recuperadas", disse o coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre- FGV), Aloísio Campelo. Com efeito, o crescimento do setor reflete, acompanha e ao mesmo tempo alavanca a elevação da taxa geral de investimentos na economia ou, conforme o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Os investimentos constituem o motor da expansão da economia.

Outro recorde foi registrado pelo setor de bens duráveis de consumo. Muito voltados para o mercado interno, com a produção de eletrodomésticos de linha branca, dos bens duráveis que desejam expandir a capacidade produtiva chegam a 56% do total, enquanto no ano passado somavam apenas 36%. "Ainda estamos influenciados pela aceleração bem mais forte dos segmentos voltados ao mercado interno, que puxam os investimentos em expansão da capacidade produtiva", disse Campelo. Isto reflete a maior valorização dos salários, especialmente devido ao aumento do salário mínimo, e programas de redistribuição da renda como o Bolsa Família.

Mais investimentos

Os não duráveis também tiveram grande avanço, passando de 23% para 40%. E as indústrias voltadas para os bens intermediários que desejam ampliar a capacidade produtiva passaram de 19% para 39%.

Entre os setores de uso, o de materiais de transporte - que inclui tanto montadoras como autopeças - foi o de maior percentual entre as empresas que estimam investir prioritariamente em expansão de capacidade produtiva. No setor, 96% das empresas planejam investir, sendo que 60% são para expansão da capacidade. Este é o segundo maior percentual, atrás apenas do registrado em 2008, quando foi de 68%.

Outro setor de destaque em expansão de capacidade produtiva foi o de materiais elétricos e telecomunicações, que inclui eletrodomésticos, eletroeletrônicos, televisores e celulares, registrou 39% das empresas buscando expansão da capacidade produtiva.

Da redação, com Juliana Ennes, do Valor

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Código Florestal: bate-boca marca início das discussões

O tamanho da polêmica que gira em torno das mudanças no Código Florestal pode ser vista nas seis plenárias cheias que acompanharam o início das discussões do relatório final do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), na comissão especial, na manhã e tarde desta segunda-feira (5). As discussões, que descambaram para um bate-boca no início da reunião, foi acompanhado pelos telões instalados em cinco outros plenários, já que o plenário da apresentação não comportaria todo o público.

 

Agência Câmara
O público acompanhou o debate em seis plenárias diferentes onde foram instalados telões.
Código Florestal
O deputado Ivan Valente (Psol-SP) protagonizou um bate-boca com o presidente da comissão especial, Moacir Micheletto (PMDB-PR) logo no início da reunião. Valente queria adiar a discussão alegando que os deputados não tiveram tempo de conhecer as alterações apresentadas pelo relator. Micheletto disse que manteria a discussão porque não tinha respaldo regimental para suspender o debate.

O relator socorreu o presidente, explicando que “o meu substitutivo (proposta intermediária entre o texto original e outro com alterações) tem que ser consequencia do debate que ainda não aconteceu”, acrescentando que “como acolher alterações definitivas sem o debate, só com exercício da premonição ou arte da adivinhação. A lógica nos impõe o debate e em seguida, o relator apresenta complementação do voto.”

A reunião foi suspensa para negociação entre os parlamentares e retomada em seguida com a decisão acertada de começar a discussão pela manhã e continuar a tarde. Michelleto explicou que daria continuidade à discussão no período da tarde para dar tempo aos deputados para avaliação das mudanças sugeridas e obedecendo a lista oficial dos inscritos para o debate.

Passíveis de alteração

No início da reunião, Aldo Rebelo apresentou os pontos mais polêmicos do texto e que são passíveis de alteração. Entre eles está o que retira a obrigatoriedade de reserva legal para as pequenas propriedades (com até quatro módulos fiscais). O texto será alterado para deixar claro que não é permitido novo desmatamento. A liberação é exclusivamente para efeito de recomposição. Na prática, o pequeno proprietário não é obrigado a reflorestar, mas é obrigado a manter o que ainda tenha de floresta em sua propriedade.

Outra mudança no parecer é que, se houver desmatamento não autorizado, o responsável estará sujeito a sanções cíveis e penais, mesmo recompondo a área.

Outro item que pode ser alterado, segundo Aldo Rebelo, é a parte da moratória de cinco anos para as multas por crimes ambientais. As multas terão o prazo de prescrição suspenso, ou seja, o prazo é para que o proprietário possa se regularizar e não para ele aproveitar para ganhar tempo e ela for prescrita. Após esse período, volta a valer o que diz a lei hoje, que é de Reserva Legal de 80% na Amazônia Legal; 35% no Cerrado; e 20% na Mata Atlântica.

Aldo também anunciou o propósito de retirar a autorização para os estados reduzirem a Área de Preservação Permanente (APP) na beira dos rios. Os rios de até cinco metros de largura podem reduzir a preservação de mata ciliar de 30 para 15 metros e não 7,5 metros como previa o texto original.

Grande esforço

Ele explicou que as mudanças sugeridas representam “grande esforço” dele, com ajuda dos consultores legislativos, técnicos do Ministério do Meio Ambiente, partidos políticos, juristas, pesquisadores etc, “para devolver a regularidade e legalidade aos 90% dos agricultores brasileiros e assegurar que os médios e grandes correspondam as exigências da legislação.”

Aldo Rebelo, que recebeu apoio da maioria dos parlamentares da comissão especial, disse que o projeto contempla todos os interesse, “não contempla de forma unilateral, sectária, excludente, mas contempla de forma que o cidadão brasileiro possa olhar para o meio ambiente com a tranquilidade de proteção a ele e para a agricultura de que continuará a cumprir seu papel de produção.”

E, estimulando o debate, se mostrou disposto a ceder para avançar naquilo que aperfeiçoe e traga a solução adequada provisória, destacou, lembrando que “ninguém legisla para eternidade.”

De Brasília
Márcia Xavier

Fonte: http://www.vermelho.org.br

Entidades estudantis realizam Salão Científico na SBPC

 De 25 a 30 de julho de 2010, estudantes, pesquisadores, professores e gestores da área de Ciência,Tecnologia & Inovação se reunirão em Natal (RN) para o 2º Salão Nacional de Divulgação Científica. Com o tema "Integração Científica e Tecnológica da América Latina", a atividade faz parte da programação oficial da 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Mostra científica recebe trabalhos até o próximo domingo (11/7).

 

 

O Salão é organizado pelas entidades estudantis nacionais: Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), em parceria com a Organização Continental Latino Americana e Caribenha dos Estudantes (OCLAE) e a Comissão Executiva Nacional do Programa de Educação Tutorial (Cenapet).

Os debates, atividades culturais e oficinas acontecem no Centro de Biociências da UFRN. As inscrições para o 2º Salão podem ser feitas através do sítio www.salaonacional.org.br, onde também há mais informações sobre o evento.

Mostra científica

Com o intuto de promover a integração entre jovens cientistas do ensino médio, da graduação e da pós-graduação, a mostra científica do 2º Salão recebe trabalhos de estudantes de todos os níveis de ensino, bolsistas ou não. A mostra será registrada junto ao International Standard Book Number (ISBN) e os trabalhos apresentados serão publicados em CD e também na internet, no Hotsite do Salão e também no Portal da ANPG.

O prazo final para inscrição de trabalhos vai até o próximo domingo (11/7). Atualmente, há mais de 90 trabalhos inscritos, segundo a organização do evento. Para inscrever o resumo do seu trabalho, acesse o formulário de inscrição online e confira o edital.

De São Paulo, Luana Bonone



Fonte: http://www.vermelho.org.br/

domingo, 4 de julho de 2010

Ibope confirma empate entre Dilma e Serra, 

Azenha critica mídia

Às vésperas do início oficial das campanhas eleitorais, a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra aparecem empatados na corrida presidencial. Ambos têm 39% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope encomendada pela Associação Comercial de São Paulo. O jornalista Luiz Carlos Azenha denuncia as movimentações que precedem as pesquisas eleitorais com o objetivo de influenciar os seus resultados.

 

Charge por Junião via jornal Diário do Povo (Campinas/SP) 

 
Ibope confirma empate entre Dilma e Serra, Azenha critica métodos
A pesquisa, feita após Serra ganhar destaque em 20 anúncios de 30 segundos do PSDB, exibidos em rede nacional de rádio e televisão, confirma o cenário captado nos últimos dias pelo instituto Datafolha, que também apontou um empate técnico entre os presidenciáveis: Serra com 39% e Dilma com 38%.

Há pouco mais de uma semana, o Ibope havia divulgado a primeira pesquisa em que a candidata do PT aparecia como líder isolada, com cinco pontos porcentuais de vantagem em relação ao adversário. Desde então, o tucano subiu quatro pontos porcentuais e Dilma oscilou negativamente um ponto. A candidata do PV, Marina Silva, apenas oscilou de 9% para 10%.

Notícias falsas

O jornalista Luiz Carlos Azenha, do Blog Vi o mundo, denuncia os métodos pré-pesquisa utilizados para influenciar seus resultados: "Existe um novo padrão para divulgar o resultado de pesquisas eleitorais. Ele começa com o vazamento e a disseminação de notícias falsas sobre os dados, especialmente na internet. As notícias falsas, então, circulam na blogosfera carregadas por internautas desavisados, que deixam comentários em blogs de grande leitura. Cria-se uma expectativa em relação a números, que quando divulgados surpreendem. Foi assim com a nova pesquisa do Ibope, que registra empate entre Dilma Rousseff e José Serra (na anterior Dilma tinha cinco pontos de vantagem)."

O empate entre os dois principais candidatos à Presidência, segundo o Ibope, persiste na simulação de segundo turno: ambos aparecem com 43% das intenções de voto.

Brasileiro confia que Dilma vai ganhar

Dilma está à frente, porém, no quesito expectativa de vitória. Para 45% dos entrevistados, ela será a próxima presidente da República. Outros 34% preveem que Serra será o vencedor.

Também na pesquisa espontânea, aquela em que os eleitores manifestam a sua preferência antes de ler a lista de candidatos, Dilma lidera com 22% das intenções de voto. Serra vem a seguir, com 17%. Ainda há 12% de eleitores que citam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o seu nome favorito, apesar de ele não ser candidato para o próximo pleito.


Gêneros e regiões

O candidato do PSDB voltou a se distanciar de Dilma no eleitorado feminino. Nesse segmento, o tucano lidera por 46% a 39%. A pesquisa Ibope realizada entre os dias 18 e 21 de junho mostrava, pela primeira vez, um empate entre os dois principais adversários entre as mulheres. Entre os homens, é a petista quem leva vantagem, por 48% a 39%. 

O tucano também se descolou da adversária na região Sudeste, onde voltou a ocupar a liderança isolada, com 41% a 34%. No Norte/Centro-Oeste, Serra virou o jogo: perdia por 40% a 34% e agora lidera por 43% a 35%. Na Região Sul, o tucano vence por 45% a 37%.

Dilma está à frente apenas no Nordeste (50% a 30%). Oscilações significativas nos resultados regionais não são incomuns. Como o número de entrevistas é relativamente pequeno em cada região, as margens de erro nesse quesito são grandes.

Palanque eletrônico

O Ibope mediu o impacto da propaganda partidária exibida recentemente, que foi utilizada pelos candidatos como plataforma para se promover.

Um terço dos entrevistados lembrou ter visto propagandas do candidato tucano nas duas semanas anteriores ao levantamento. No caso de Dilma, esse índice foi de 27%.

Todos os dados se referem ao cenário em que são apresentados aos entrevistados apenas os nomes dos três principais concorrentes à eleição. Quando os chamados "nanicos" são incluídos no levantamento, Serra e Dilma empatam em 36% e Marina fica com 8%.

A pesquisa ainda incluiu os nomes de Ciro Moura (PTC) e Mário de Oliveira (PTdoB), que desistiram de concorrer às vésperas do prazo final para as convenções partidárias. Ontem, o PSL anunciou que Américo de Souza também não será mais candidato, o que reduziu o número de presidenciáveis para dez.

Só o começo

A três meses do primeiro turno, pouco mais da metade da população afirma ter "muito interesse" ou "interesse médio" pelas eleições. Nada menos que 44% admitem ter pouco ou nenhum interesse pela questão. Este talvez seja um dos principais dados da pesquisa, pois indica que as eleições 2010 estão só começando.

De Sâo Paulo, Luana Bonone, com Estadão e Blog Vi o mundo


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Governo e centrais debatem proposta de mínimo para 2011

A proposta das centrais sindicais de utilizar o crescimento acelerado da economia deste ano para elevar o salário mínimo de R$ 510 para R$ 570 em 2011 pode criar indexação perigosa e gerar esqueletos para futuros governos. Essa é a avaliação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ele disse que não dá para calcular o mínimo com base em estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010 porque trabalhadores podem reivindicar na Justiça a diferença, se houver, em relação ao número oficial.

 

O número fechado do PIB deste ano será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apenas em março e ainda deve passar por uma revisão em setembro. Já o novo valor do mínimo começa a vigorar em janeiro.

"Se o mínimo de 2011 for calculado com o PIB de 2010, como querem as centrais sindicais, pode haver um monte de ações na Justiça e vamos ter esqueleto. O PIB de dois anos atrás não gera pendência jurídica", afirmou o ministro. "É preciso ter cuidado com esse discurso para não cair em oportunismo", acrescentou.

O negociado

Bernardo continua defendendo o cálculo com base no PIB de dois anos antes, mais o acumulado em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Ou seja, pela proposta do governo, o mínimo de 2011 seria calculado com o PIB de 2009, que foi negativo em 0,2%, e não garantiria ganho real. "Conversei com o presidente Lula sobre o assunto, mas ainda não há uma conclusão. Temos que defender o critério negociado", ressaltou.

O real

Mas os parlamentares e sindicalistas são totalmente contra a sugestão da equipe econômica e já começam a trabalhar por ganho real na Comissão Mista do Orçamento (CMO). O senador petista Tião Viana, que é relator do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), propôs um cálculo alternativo com base na média de crescimento de 2008 e 2009, o que viabilizaria uma alta acima da inflação de quase 3% e o mínimo chegaria a R$ 550. (AE)

Da redação, com Agência Estado

http://www.vermelho.org.br/noticia

Morre, aos 75 anos, o guia espiritual do movimento Hezbollah

Aiatolá Fadlalah fazia parte da lista americana de "terroristas internacionais"


O aitolá xiita Mohamed Hussein Fadlalah, considerado o primeiro guia espiritual do partido pró-iraniano Hezbollah e catalogado como "terrorista" pelos Estados Unidos, morreu neste domingo, aos 75 anos, em um hospital de Beirute, segundo informou um de seus principais conselheiros. O aiatolá foi internado na sexta-feira por causa de uma hemorragia interna.

 

Mohamed Hussein Fadlalah era considerado o guia espiritual do Hezbollah durante os primeiros anos deste movimento pró-iraniano fundado em 1982 com o apoio da Guarda da Revolução iraniana. Hassan Nasralah estava inscrito na lista americana de "terroristas internacionais" estabelecida em 1995.

Nos anos 1980 a imprensa americana o acusou de estar por trás de vários sequestro de americanos no Líbano por grupos radicais vinculados ao Irã. Outros meios de comunicação o apresentavam, no entanto, como um mediador da crise, e, por fim, seu papel nunca foi esclarecido.

O aitolá, nascido em 1935 em um família clerical libanesa na cidade de Najaf, no centro do Iraque, muito influente no mundo xiita, se manteve partidário da revolução islâmica iraniana e da luta armada contra Israel.

Em linha com o Hezbollah (o Partido de Deus, em árabe), era a favor da instauração de um regime islâmico no Líbano, apesar de acha que isso só seria possível pela vontade popular. Por outro lado, rejeitou os chamados à guerra santa de Osama bin Laden e dos talibãs, aos quais considerava seita.

Em 2005 condenou os ataques contra civis depois dos atentados cometidos na estação balneária egípcia de Sharm el-Sheikh. Autor de vários livros teológicos, o "Sayyed" (título dado aos descendentes do profeta Maomé) era conhecido por sua abertura ao desenvolvimento científico e de sua audácia na interpretação dos textos do Islã.

Fadlallah, um carismático líder de longa barba branca e rosto sereno, também era célebre por seus decretos religiosos considerados tolerantes em relação às mulheres. Por exemplo, em seu decreto ou "fatwas", proibiu a ablação do clitóris e autorizou às mulheres rezar com as unhas pintadas.

Em junho de 2009, em pleno debate sobre o véu integral na França, acusou o presidente francês Nicolas Sarkozy de "oprimir a mulheres e de atacar sua vontade e sua liberdade de escolha ao proibi-la de escolher suas prendas". Fadlallah escapou de vários ataques. Em um deles, num subúrbio de Beirute, morreram 80 civis em 1985.

Fonte: Zero Hora, com AFP

http://www.vermelho.org.br/noticia

Paul Krugman: Mitos da austeridade

Quando era jovem e ingênuo, eu acreditava que pessoas importantes assumiam posições com base numa análise cuidadosa das opções disponíveis. Hoje, sei que as coisas não são assim. Boa parte daquilo em que as Pessoas Sérias acreditam repousa em preconceitos, e não na análise. Tais preconceitos estão sujeitos a excentricidades e modismos.


Por Paul Kugman*

O que nos traz ao tema da presente coluna. Nos últimos meses, assistimos impressionados e horrorizados à emergência, entre os círculos responsáveis, de um consenso em favor de uma austeridade fiscal imediata. Ou seja, de alguma maneira tornou-se sabedoria convencional a ideia de que agora é a hora de cortar os gastos, apesar do fato de as maiores economias do mundo permanecerem num estado de profunda depressão.

Esta sabedoria convencional não tem como base provas e nem uma análise cuidadosa. Em vez disso, ela repousa sobre o que poderíamos chamar piedosamente de especulação e, menos educadamente, de fantasias da imaginação da elite governamental – especificamente, sobre a crença no que me parecem ser entidades mágicas chamadas justiceiros invisíveis do mercado de obrigações e a fadinha da confiança.

Os justiceiros do mercado de obrigações são investidores que desistem de governos que, na percepção deles, seriam incapazes de pagar suas dívidas ou não estariam dispostos a fazê-lo. Não resta dúvida de que os países podem sofrer crises de confiança (basta ver a crise grega). Mas o que os defensores da austeridade afirmam é que (a) os justiceiros do mercado de obrigações estão prestes a atacar os Estados Unidos, e (b) qualquer gasto adicional com medidas de estímulo vai atiçá-los ainda mais.

Que motivo temos para acreditar nisso? É verdade que os EUA apresentam problemas orçamentários no longo prazo, mas as medidas de estímulo que implementarmos nos próximos anos terão um efeito praticamente nulo sobre nossa capacidade de lidar com tais problemas de endividamento no longo prazo. Como disse recentemente Douglas Elmendorf, diretor do Gabinete Orçamentário do Congresso, “não existe contradição intrínseca em promover um maior estímulo fiscal agora, quando o desemprego é alto e muitas fábricas e empresas operam abaixo da capacidade, e impor a contenção fiscal daqui a muitos anos, quando produção e emprego estarão provavelmente próximos do seu verdadeiro potencial”.

Ainda assim, de tempos em tempos, dizem-nos que os justiceiros do mercado de obrigações chegaram e que, para aplacá-los, temos de impor a austeridade agora, já, imediatamente. Três meses atrás, uma discreta alta nos juros de longo prazo foi recebida com verdadeira histeria: “Temores em relação ao endividamento elevam juros”, foi a manchete do Wall Street Journal, apesar de não haver nada que indicasse tal temor, e Alan Greenspan declarou que a crise era um “canário na mina”.

Desde então, os juros de longo prazo caíram novamente. Longe de fugir dos títulos da dívida americana, os investidores evidentemente os enxergam como a aposta mais garantida numa economia vacilante. Mesmo assim, os defensores da austeridade ainda nos garantem que os justiceiros pretendem nos atacar a qualquer momento se não cortamos os gastos imediatamente.

Mas não se preocupe: cortes nos gastos podem ser dolorosos, mas a fadinha da confiança vai aliviar a dor. “A ideia de que medidas de austeridade possam levar a uma estagnação é incorreta”, declarou Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu em entrevista concedida recentemente. Por quê? A resposta: “Medidas que inspiram confiança vão impulsionar a recuperação econômica, e não retardá-la.”

Onde está a prova de que a contração fiscal seja uma medida expansionista por inspirar mais confiança? (Por sinal, foi esta a doutrina exposta por Herbert Hoover em 1932.) Bem, houve casos históricos de cortes nos gastos e aumentos nos impostos seguidos de crescimento econômico. Mas, ao que me parece, cada um destes exemplos se revela, num exame mais cuidadoso, uma situação na qual os efeitos negativos da austeridade foram compensados por outros fatores, elementos que dificilmente serão considerados relevantes hoje. A era da austeridade-com-crescimento vivida pela Irlanda na década de 1980, por exemplo, dependeu de uma drástica transformação do déficit comercial em superávit comercial, o que não é uma estratégia que pode ser seguida por todos ao mesmo tempo.

E os exemplos contemporâneos de austeridade são pouquíssimo encorajadores. A Irlanda agiu com rigor e disciplina nesta crise, implementando melancolicamente selvagens cortes nos gastos. Como recompensa, o país vivenciou um declínio proporcional ao da Depressão – e os mercados financeiros continuam a tratar o país como um sério candidato à inadimplência. Outros atingidos disciplinados, como Letônia e Estônia, sofreram destino ainda pior – acredite se puder, os três países apresentaram declínios na produção e no índice de emprego piores do que os vividos na Islândia, que foi obrigada, pela própria dimensão de sua crise financeira, a adotar medidas menos ortodoxas.

Assim, da próxima vez que você ouvir pessoas de aparência séria explicando a necessidade da austeridade fiscal, tente analisar seus argumentos. Quase certamente, você descobrirá que aquilo que soa como realismo teimoso repousa na verdade sobre um alicerce de fantasia, na crença de que justiceiros invisíveis vão nos recompensar se formos bonzinhos. E medidas econômicas do mundo real – medidas que prejudicarão as vidas de milhões de famílias de trabalhadores – estão sendo elaboradas a partir deste alicerce.

*Paul Krugman é economista e norte-americano. Autor de diversos livros, também é desde 2000 colunista do The New York Times.

Fonte: Estadão


http://www.vermelho.org.br/noticia

Psicólogos respondem a ofensa de Diogo Mainardi

No artigo "Por que Dunga não é um behaviorista", psicólogos behavioristas respondem comentário de Diogo Mainardi considerado ofensivo pelos estudiosos da área.

O texto intitulado “O caso do Sr. D”, publicado pelo colunista da revista Veja Diogo Mainardi, em 26 de junho de 2010, traz alguns equívocos sobre a tradição de psicologia chamada genericamente de behaviorismo ou psicologia comportamental. Mainardi faz a seguinte afirmação em seu texto: “Dunga só pode ser nosso B. F. Skinner. Ele faz com seus jogadores precisamente o mesmo que, nos primórdios do behaviorismo, B. F. Skinner fazia com os pombos e com os macacos de seu laboratório. Primeiro, prende-os numa gaiola. Segundo, isola-os de qualquer contato com o exterior. Terceiro, raciona seus alimentos. Quarto, condiciona seu comportamento administrando-lhes choques elétricos”.

Cabe lembrar que Dunga não é um behaviorista e, consequentemente, não é um especialista do comportamento. Ele é apenas alguém que algumas vezes usa desavisadamente a punição, procedimento que psicólogos comportamentais combatem veementemente.

O behaviorismo é uma filosofia que embasa a ciência empírica que estuda o comportamento dos organismos, sendo esta chamada de Análise do Comportamento ou Psicologia Comportamental. Behavioristas não criaram a punição (ou mesmo os choques elétricos) e seu fundador - B. F. Skinner - é o maior inimigo de práticas coercitivas ou punitivas. As instituições sociais criaram as punições, e não os behavioristas. Como cidadãos, observamos consternados métodos “disciplinadores” em nossas relações econômicas, governamentais, educacionais, religiosas, entre outras. Todos nós estamos bem familiarizados com as práticas de nossa cultura, que apresenta consequências punitivas para pessoas que infringem a leis, tais como a não prestação de contas ao fisco, o não cumprimento de deveres cívicos, o desempenho insatisfatório em trabalhos escolares, ou qualquer ação que seja classificada como pecado ou erro.

Os behavioristas, buscando meios de suprimir essas práticas e demonstrar seus efeitos perniciosos, pesquisam a punição com profundidade há mais de 60 anos, com robusta produção científica, denunciando veementemente as práticas coercitivas na sociedade. Mesmo em épocas de ditadura militar, analistas do comportamento não deixaram de se manifestar publicamente contra a prática da punição em nossa cultura. Maria Amélia Matos (em memória) foi uma das pessoas que o fizeram, em um artigo denominado “A ética no uso do controle aversivo”, de 1982.

Temos behavioristas no Brasil reconhecidos internacionalmente, trabalhando e buscando soluções para um vasto leque de problemas humanos, sem o uso de punição. No campo da saúde, desenvolvemos tecnologias de intervenção que melhoram a vida das pessoas que sofrem dos mais diversos distúrbios. Comumente tratamos dos efeitos maléficos provocados pela punição e ensinamos nossos clientes a como efetivamente enfrentá-la. Temos terapeutas comportamentais trabalhando com pessoas deprimidas, fóbicas, ansiosas. Trabalhamos também com crianças com problema de desenvolvimento dos mais diversos. O tratamento de maior eficácia para o autismo é reconhecidamente de orientação behaviorista.

Como cientistas também preocupados com as práticas educacionais, auxiliamos na formação de melhores professores e na educação de crianças para que essas venham a se tornar cidadãos dignos e atuantes em suas comunidades. Pessoas que saibam fazer escolhas e que não venham a causar sofrimentos a outros ou a si mesmo, usando, inadvertidamente, a mesma punição que aprenderam em ambientes sociais coercitivos.

Muitos colegas na Psicologia Comportamental trabalham em empresas, no esporte ou no planejamento de políticas sociais mais humanas. B. F. Skinner, ao seu tempo, foi um humanitário e as causas ilustradas no livro Walden II (obra bem lembrada por Mainardi) são, por assim dizer, genuinamente humanitárias. Vale lembrar que, em nenhum momento desta obra de ficção, o autor propõe uma sociedade totalitária. Pelo contrário, sua proposta de sociedade defende o respeito à individualidade e à liberdade individual. Aliás, o mesmo Skinner defende que, se a sociedade em que vivemos não usasse tanta punição, nem precisaríamos criar um termo como a “liberdade”, já que ele seria um valor comum e não um estado de exceção.

Em setembro próximo teremos o 19º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC - www.abpmc.org.br), o maior fórum científico da área. Reunimos hoje mais de três mil pesquisadores, profissionais e alunos de graduação preocupados com a relevância social das nossas descobertas e com o rigor ético de nossas intervenções. Queremos, sim, construir um mundo mais digno. E os dados da ciência do comportamento vêm sendo profícuos em nos ensinar a como fazer isso. Mas isso depende da capacidade de nossos interlocutores superarem preconceitos históricos e ouvir o que temos a compartilhar à luz do atual desenvolvimento da Análise do Comportamento e do behaviorismo skinneriano. Basta uma rápida pesquisa nos anais de nossos Encontros para notar nossa preocupação com temas que afligem a sociedade e que poderão comprometer a sobrevivência de nossa cultura, entre os quais estão justamente as mais variadas formas de punição.

Sabemos que os termos técnicos da Análise do comportamento por vezes impedem a adequada compreensão de nossa ciência. Mas a ABPMC estará sempre de portas abertas para esclarecer dúvidas, dialogar com colegas cientistas de outras áreas e com qualquer interessado na compreensão de nossa abordagem.

Da redação, com informações da diretoria da ABPMC


http://www.vermelho.org.br/noticia


 

Argélia, um 3 de julho para não ser esquecido

Gilson Caroni *

Há quatro anos, quando esteve na Argélia, Lula agradeceu ao povo argelino “por ter acolhido muitos brasileiros, obrigados a sair do país durante o regime militar". Tempos depois, ao declarar”que o continente africano não quer mais colonização, e sim cooperação", o presidente brasileiro reiterou o lugar ocupado pela África em uma política externa que, tanto no âmbito propriamente político quanto no relacionamento comercial, tem na soberania dos povos sua marca clara, nítida, inconfundível. De fato, desde o início do processo de descolonização, as principais lideranças do continente pugnam por uma ordem internacional diferente, mais justa, que permita aos que se libertaram do jugo colonial assumir o papel de sujeitos ativos do seu próprio desenvolvimento. E esse ponto nos remete a uma data especial, rica em simbolismos políticos por seu caráter quase inaugural.

Há exatos 48 anos, em 3 de julho de 1962,  a nação argelina se tornava independente, após mais de um século de submissão ao colonialismo francês. A guerra travada entre a resistência patriótica e forças colonialistas devastou o país, passando para a história como uma das mais sangrentas de toda a era contemporânea. Na luta, durante oito anos (1954-1962), perderam a vida mais de um milhão de pessoas. Reavivar esses dias é comemorar a vitória contra a tirania colonial, é desmentir a crença, generalizada e falsa, de que momentos constituintes na vida de um povo são idealizações impossíveis.

Os setores mais conservadores da França nos anos 50 não estavam dispostos a perder a colônia argelina, após a retumbante derrota sofrida na Indochina, em 1954, justamente o ano em que se inicia a luta armada liderada pela Frente de Libertação Nacional (FLN). O descontentamento, através de uma violência incomum, refletia a inviabilidade de alternativas políticas que permitissem alcançar quaisquer formas aceitáveis de governo autônomo ou de administração dos próprios destinos.

Jean Paul-Sartre, o filósofo existencialista, escreveria que o “nacionalismo argelino não é a simples retomada de antigas tradições ou conhecidas afeições. Ele é o meio de que eles dispõem para fazer cessar sua exploração". Sartre, um dos muitos franceses progressistas a apoiar, incondicionalmente, a revolução argelina, com certeza enxergava na ação da FLN um "alargamento do possível", um fenômeno que se impunha como escolha livre, porém “situada”.

A guerra sangrou o país, desestruturando sua economia. Além disso, a emigração maciça após a independência (milhares de pessoas abandonaram a Argélia quando o governo provisório da FLN assumiu o poder) prejudicou sensivelmente o processo de reconstrução e edificação do projeto socialista.  Embora os resultados iniciais tenham sido satisfatórios na educação e habitação, muitas promessas não se concretizaram. Com 34 milhões de habitantes, o segundo país da África conheceu vários períodos de instabilidade política desde a conquista da soberania política.

Hoje, um em cada dez trabalhadores está desempregado e 95% das exportações estão concentradas em petróleo e gás. A diversificação da economia é o grande desafio para o governo de Abdelaziz Bouteflika no momento em que é retomado o processo de reconstrução do país.

Há muito a ser feito além dos acordos de cooperação conjunta firmados na visita presidencial. As carências na área de infraestrutura, sobretudo na geração de energia e na construção civil, podem ser supridas pelo incremento da política Sul-Sul do Itamaraty. Ao empresariado brasileiro há várias portas de entrada para o mercado africano. Aos argelinos, a possibilidade de descobrir no Brasil o parceiro desejável para consolidar as promessas de um 3 de julho inacabado. Um devir que abraça dois continentes.

* É professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Decretos garantem mais autonomia às universidades

Documentos elaborados pela Andifes e Ministério da Educação devem ser assinados pelo presidente Lula em 19 de julho

 

O presidente Lula deve assinar, no próximo 19 de julho, dois decretos que ampliam a autonomia das universidades públicas brasileiras. Os documentos, finalizados em reunião entre a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes) e o Ministério da Educação (MEC), na noite da quinta-feira, 1º de julho, dão mais independência às universidades em relação à gestão financeira e à contratação de pessoal, duas reivindicações históricas das instituições.

Na prática, as medidas significam menos burocracia e mais agilidade para os gestores. O Decreto de Gestão Financeira, por exemplo, fortifica a autonomia das universidades para o reaproveitamento de créditos de um ano para o outro – antes havia a ameaça de devolução do dinheiro não usado durante o período - e da realocação interna de recursos entre rubricas distintas. “Cada universidade tem necessidades singulares na gestão do orçamento”, observa o presidente da Andifes, professor Edward Madureira.

Mais concursos

Outro avanço, incluído no Decreto de Pessoal, diz respeito à autonomia na realização de concursos públicos para a contratação de professores e servidores técnicos. “Hoje há uma dependência da liberação do Ministério do Planejamento para a contratação, o que torna lenta a substituição de profissionais que deixam as universidades”, explica Edward, reitor da Universidade Federal de Goiás. Com a criação do Banco de Servidores Equivalentes, um novo concurso poderá ser feito em curto prazo.

A reunião desta quinta-feira contou com a presença do ministro Fernando Haddad, da secretária de Ensino Superior, Maria Paula Dallari, da diretoria da Andifes e do reitor da UnB, professor José Geraldo de Sousa Junior. “O encontro foi muito bom. Conseguimos chegar a um consenso sobre os meios para efetivar as reivindicações das universidades”, destaca José Geraldo. “Esses decretos são resultados de um trabalho longo e de intensas negociações entre reitores e governo”, completa Edward.

Urgência

O presidente da Andifes não esconde a expectativa sobre a assinatura dos decretos na reunião com o presidente Lula, que desde 2003 recebe anualmente o grupo de reitores. “Está tudo redondinho e muito bem elaborado”, avalia. A Andifes tinha a preocupação de conseguir medidas para melhorar a gestão das universidades públicas antes do fim do mandato do presidente, que acaba em 31 de dezembro. Se depender do clima da reunião no MEC, os documentos não serão questionados.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 5.540), que trata da “autonomia administrativa, financeira e disciplinar” das universidades brasileiras é de 1961. Na avaliação de Edward Madureira, de lá para cá – são 49 anos - alguns avanços em termos de legislação ocorreram, mas as mudanças não acompanharam as necessidades das instituições. “A ampliação do acesso e a expansão do ensino superior no país demandam uma evolução também das leis sobre gestão”, explica o reitor da UFG.

Fonte: UnB

http://www.vermelho.org.br/noticia

"A Jovem Rainha Vitória": Falsos retoques

Cloves Geraldo *
 

Filme do diretor Jean-Marc Vallée tenta maquiar a imagem da Rainha Vitória, que expandiu o colonialismo britânico, submetendo povos e nações

 

           Os dramas vitorianos, que destacam o passado de glória do Império britânico, têm em “A Jovem Rainha Vitória”, de Jean-Marc Vallée, uma tentativa de modernizar a imagem da rainha britânica (1819/1901) sob cujo reinado (1837/1901) ele mais se expandiu. Daí surgindo o slogan de que era o império onde o “sol jamais se punha”. Um poder que Vallée procura justificar com cenários deslumbrantes, vestuários luxuosos, romance, intrigas palacianas, pondo o espectador diante de uma realeza faminta pelo poder. E uma jovem Vitória (Emily Blunt) centrada, decidida a fazer valer seu ponto de vista para não sucumbir às tramas urdidas pela realeza e os líderes políticos da Monarquia Parlamentar.


              Com esta abordagem revisionista, Vallée e seu roteirista Julian Fellowes retocam a imagem da Rainha Vitória I e, por extensão, da própria realeza britânica. Centram o filme numa jovem rebelde, que se insurge contra o padrasto e conselheiro John Conroy, que pretende submetê-la, desde já, a seu controle, para, a partir daí, ditar as políticas do império. Ela, no entanto, está ciente de seu futuro, reforçado pelo apoio do tio, o rei Guilherme IV (Jim Broadbent), que a ajuda livrar-se de Conroy, abrindo caminho para sua posse com rainha.


             Ela então se defronta com as disputas entre os partidos conservador e liberal, cujos líderes tentam atraí-la para suas políticas. Mas também é cortejada pelo herdeiro do trono belga, seu primo Albert (Rupert Fiend), cujo tio, o rei Leopoldo I, da Bélgica (Thomas Kretschmann), percebendo a falência de seu reinado espera que o sobrinho se case com ela para salvar a coroa. Com estes fios de história, Vallée monta sua narrativa, optando pelo romance entre os jovens Vitória e Albert, tendo como pano de fundo as lutas políticas e as frustrações de Conroy e de sua mãe, a duquesa de Kent (Miranda Richardson).



              Destes fios surgem uma jovem Vitória com traços feministas, disposta a enfrentar membros da realeza e as lideranças políticas, que se sucedem no poder tentando atraí-la para seus interesses. Principalmente quando Vitória chega ao poder. Insegura, ela pende entre os conselhos do primeiro-ministro conservador lorde Melbourne (Paul Bettany) e do príncipe Albert. Sua juventude e inexperiência não lhe permitem apreender os interesses em jogo, configurados nas disputas parlamentares e na ebulição popular vinda das ruas.


               Surgem então suas vacilações, notadamente quando hesita em dividir as responsabilidades de Rainha com o então marido Albert, para depois abandonar a teimosia e a insegurança, caminhando para a maturidade. Mas é também quando as fragilidades do filme emergem, tornando obscuras e incompreensíveis as mudanças de poder no Parlamento, evidenciando também o conservadorismo de Vitória, contrastando com o perfil avançado que Fellowes e Vallée querem lhe dar.


             Os liberais, mostrados em trajes escuros, são vistos como ávidos pelo poder, radicais, enquanto os conservadores são mostrados como “maleáveis, sedutores, até”.  Basta ver as relações de Vitória com Melbourne, o primeiro-ministro conservador: são fiéis aliados, estando ela sempre junto dele. Contraditoriamente, são nestas mal resolvidas passagens, mudanças de rumo narrativo, que entram um terceiro víeis: o da rua. Ele aparece nos comentários de Albert, “preocupado” com as condições de vida do proletariado britânico, e nos confrontos políticos no Parlamento, influenciados pelas vozes das ruas.


                Filme de Vallée é saudosista


              O povo surgido nas conversas dela com Albert e, notadamente, na sequência do atentado; é mostrado como fantasmagórico personagem coletivo, uma ameaça, portanto, ao seu reinado. Conservadora, imperialista, ela só agravou os problemas sociais durante seus 60 anos de poder. O que fragiliza a tentativa da dupla Valléé/Fellowes em modernizá-la. Embora busquem retocar sua imagem, percebe-se que os dois querem, na verdade, é mostrar que no passado monárquico, colonialista, havia uma monarca que submetia a todos, povos e nações, ao contrário do atual momento histórico da Grã-Bretanha, cheio de fracassos econômico-financeiros, submissão aos EUA e fragilidades sociais.


             É, assim, um filme nostálgico, saudoso do tempo em que o imperialismo britânico reinava absoluto no planeta. Um deslize e tanto, em se tratando de visão política registrada em celulóide. O colonialismo britânico, superado pelo imperialismo estadunidense durante a II Guerra Mundial, deixou feridas ainda não cicatrizadas nos quatro continentes. Engendrou a Revolução Industrial, sustentada pelas riquezas das colônias e a exploração do proletariado britânico, enriqueceu a nobreza e a monarquia e gerou uma burguesia ávida pelo controle das riquezas das nações colonizadas.    


           Assim, os retoques da dupla Vallée/Fellowes não resistem à análise mais acurada.  Não poderia ser diferente.

A Jovem Rainha Vitória” (“The Young Victoria”). Drama. Reino Unido/EUA. 2009. 105 minutos. Roteiro: Julian Fellowes. Direção: Jean-Marc Vallée. Elenco: Emily Blunt, Rupert Friend, Paul Bettany, Miranda Ricardson, Jim Broadbent, Thomas Kretschmann.
(*) Oscar 2010 de Melhor Figurino.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

UJS com Dilma, pra ser muito mais Brasil!

André Tokarski *

Com muito otimismo e disposição para a luta, mais de 1500 militantes da União da Juventude Socialista ocuparam entre os dias 17 e 20 de junho as dependências do Centro de Convenções de Salvador/BA, para a realização do 15º Congresso Nacional da UJS.


O Congresso é resultado de um grande processo de mobilização e debate que contagiou os quatro cantos do país. Foram mais de quatro meses de muita divulgação das nossas idéias em passeatas, plenárias, nas praças e nas ruas do Brasil.
Realizamos nesse período 27 Congressos Estaduais e mais de 300 Congressos municipais, que mobilizaram cerca de 100 mil filiados, resultando em mais de 50 mil participantes na Rede UJS.
Ousadia para inovar e para aprofundar as mudanças no Brasil. Essa foi a marca do congresso. Inovamos ao criar uma Rede Social própria, que já nasce com mais de 50 mil cadastrados e mais de dois mil perfis ativados. Uma ferramenta de organização interna e de mobilização política da juventude na importante trincheira do mundo virtual. Nosso Congresso foi transmitido ao vivo pelo sítio da UJS (www.ujs.org.br), nos principais debates e plenárias estavam conectados mais de mil pessoas, do Brasil e do mundo. Entre um debate e outro, rolava sempre um “free style” com a rapaziada do hip-hop. Com mais de 20 computadores plugados na internet a galera passava o recado do que estava rolando no Congresso para seus amigos do Orkut, do twitter e da Rede UJS. O Congresso inovou também ao realizar a 1ª Mostra Científica da UJS. Duas dezenas de trabalhos nas mais variadas áreas foram apresentados e no final foi constituído o coletivo nacional de Jovens Cientistas da UJS.

Um dos objetivos do Congresso era eleger a nova Direção Nacional da UJS. Marcamos um belo gol de placa nesse quesito: somos ao total um coletivo dirigente com 79 membros titulares e 12 suplentes, com mais de 35% de mulheres e uma média de idade de 24 anos. Participam da nova Direção representantes dos 27 estados brasileiros, jovens lideranças que atuam nas mais variadas frentes: trabalhadores, como o Thiago Santana, de Minas Gerais, que é operador de telemarketing e diretor do Sinttel-MG (Sindicato dos trabalhadores em telefonia de MG); lideranças do movimento estudantil, como Augusto Chagas, presidente da UNE e Yan Evanovich, presidente da UBES; jovens mulheres e cientistas, entre elas Elisângela Lizardo, presidente da ANPG – Associação Nacional dos Pós-graduandos- e mestranda na PUC-SP e Luisa Barbosa, doutoranda em História na UFRJ. Também joga nesse time a jovem Deputada Federal Manuela D´ávila (PCdoB-RS), que além der ser uma grande parlamentar é membro da nova Direção Nacional da UJS. Nas direções estaduais, 11 mulheres presidem nossa organização. É com essa seleção que vamos mobilizar toda a juventude para jogar no time do aprofundamento das mudanças no Brasil.

Saímos desse 15º Congresso mais conectados com a juventude, pois reunimos na UJS ao mesmo tempo diversidade e unidade. O papel fundamental que queremos cumprir é o de canalizar toda rebeldia da juventude para transformar em mobilizações amplas e politizadas, em defesa do Brasil, e do socialismo. Reunimos hoje jovens de várias frentes de atuação: meio-ambiente, LGBT, jovens trabalhadores, do movimento estudantil, hip-hop, entre outras, mas mesmo nessa diversidade de pautas e bandeiras não perdemos o ponto chave que nos unifica, que é a luta em defesa do Brasil e do socialismo. A UJS está se preparando para avançar junto como esse novo ciclo político iniciado com o Governo Lula. Está pronta para crescer ainda mais para aproveitar todas as oportunidades que esse momento oferece. O Brasil tem hoje mais de 50 milhões de jovens. É ilusão pensar um processo de mudanças sem a participação ativa da juventude e a UJS estará liderando esse processo.

A idéia-força do Congresso é de que é preciso transformar todo otimismo que toma conta do Brasil em capacidade de luta e mobilização. Nunca vivemos um período em que o Brasil tivesse tantas possibilidades de dar certo e queremos aproveitar todas elas. Nesse sentido, aprovamos como bandeiras prioritárias: a luta pela destinação de 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação, o esforço para construir um grande legado esportivo para a juventude relacionado à realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas e a construção de um sistema nacional de juventude, que passe pela aprovação de projetos que consolidam as Políticas Públicas de Juventude como políticas de Estado.

A UJS tem um grande compromisso com o Brasil e com o futuro da juventude, por isso, aprovamos por unanimidade o apoio à candidatura de Dilma Rousseff. Para que os ventos continuem a soprar na direção do aprofundamento das mudanças, levaremos aos quatro cantos do país a bandeira da eleição de Dilma para a Presidência da República. Nos oito anos de governo Lula a juventude reencontrou a esperança de viver num país que pode dar certo. Milhões de empregos foram criados, o Prouni possibilitou o acesso à universidade a milhares de jovens que já tinham abandonado esse sonho, e a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil é uma conquista que pode transformar o esporte numa grande ferramenta oportunidades para a juventude.

Para nós, eleger Dilma significa renovar essa esperança na certeza de que podemos conquistar ainda mais. Vamos impedir o retrocesso e derrotar José Serra, o “Exterminador do futuro” da juventude. A UJS com seus mais de 100 mil filiados espalhados no Brasil não medirá esforços para enfrentar essa batalha e temos a convicção que seremos vitoriosos.

André Tokarski, 26 anos, é Presidente da União da Juventude Socialista e publica seus artigos também no blog http://juventudenarede.wordpress.com

* 26 anos, é Presidente da UJS e membro do Comitê Central do PCdoB. Publica seus artigos também no blog: http://juventudenarede.wordpress.com

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Desafios e inquietações dos saberes sobre o genoma humano

Fatima Oliveira *

“O PGH ainda não afetou a saúde da maioria das pessoas”

Foi um momento solene e mágico. Era 26 de junho de 2000. O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ao lado de Francis Collins, do projeto Genoma Humano, e de John Craig Venter, da empresa privada Celera Genomics, apresentaram ao mundo algo como o Santo Graal, o código da vida: as sequências do genoma humano. O mapa do PGH não se sabe de quem é, mas o da Celera é o genoma do próprio Venter!

Acompanhei a peleja dos cientistas ao cerne da intimidade humana, nossos genes, analisando aspectos científicos, políticos, sociais, filosóficos e éticos. E escrevi um livro sobre as "coisas novas das biociências" que foi a primeira publicação de popularização da ciência escrito no Brasil sobre o tema: "Engenharia Genética: O sétimo dia da criação" (Moderna, 1995), atualizado em maio passado.

Embora genômica e proteômica tenham se desenvolvido, o marasmo pós-PGH é inquestionável. E só foi quebrado pela celeuma dos transgênicos nesta primeira década, que se firmaram na área alimentar, farmacêutica e na criação de animais bizarros. Mas o "estado da arte" continua o mesmo diante das incertezas da ciência: "Não há provas de que não fazem mal à saúde".

Ouçamos Francis Collins, atual diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA: "A prometida revolução na saúde humana continua a ser muito real... quem esperava resultados dramáticos da noite para o dia pode sentir-se desapontado... A genômica segue a primeira lei da tecnologia: nós sempre superestimamos os efeitos de curto prazo e subestimamos os de longo". E elenca avanços pontuais dos saberes do genoma humano: "Foram desenvolvidos alguns medicamentos potentes para certos tipos de câncer; os testes genéticos podem prever se as pessoas que sofrem de câncer de mama precisam fazer quimioterapia; foram identificados os principais fatores de risco de degeneração macular (uma doença dos olhos) e se pode prever a resposta de mais de uma dezena de medicamentos". E arremata: "É justo dizer que o PGH ainda não afetou a saúde da maioria das pessoas".

John Craig Venter, agora o mago da "biologia sintética", pontua que, se o PGH custou bilhões, hoje é possível sequenciar um genoma humano em um dia, gastando poucos milhares de dólares. E declara: "Ainda há um caminho a percorrer antes que essa capacidade tenha um efeito significativo na saúde e na medicina... À medida que o custo do sequenciamento cai, a qualidade da informação precisa aumentar. A geração de dados genômicos terá pouco valor sem a informação correspondente sobre as características observáveis do indivíduo, e sem ferramentas de computação para ligar essas duas coisas", pois "os experimentos que transformarão a medicina, revelando a relação entre variação genética e resultados biológicos, como fisiologia e doenças, exigirão os genomas completos de dezenas de milhares de seres humanos, juntamente com dados digitalizados abrangentes de fenótipos".

O geneticista brasileiro Salmo Raskin, na entrevista "O genoma humano e a revolução que não veio", concedida ao "Paraná-online" em 27.4.2010, é taxativo: "Não existe um determinismo genético para tudo, ou seja, nem tudo está escrito em nossos genes"; e que, "só o fato de muito recentemente termos descoberto que ao menos metade do lixo genético é composto por sequências fundamentais na regulação do genoma, já mostra o quanto pouco sabemos sobre a genética humana, depois de anos após o anúncio do sequenciamento".
* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Faltam engenheiros, mas sobram caras de pau

Luciano Rezende *

"A educação é a base para o desenvolvimento. Com uma educação precária, o Brasil está se distanciando dos países do Primeiro Mundo. Como conseqüência, a economia começa a cobrar a conta em função dessa falta de estrutura".


Não há nada de errado na frase acima, com exceção da parte onde diz que estamos nos distanciando dos países do chamado primeiro mundo. Mas no geral, ela é correta. O problema é de onde ela partiu.

Em texto intitulado “Governo petista não preparou o País para o crescimento”, publicado no site do PSDB, o deputado tucano Luiz Carlos Hauly, do Paraná, teve a audácia de criticar o governo Lula pelo fato de que "só 15% dos jovens estão na universidade, o equivalente a um milhão de alunos, quando deveriam ter, no mínimo, 50% dos jovens nas universidades. Fora isso, o ensino médio não oferece cursos profissionalizantes para todos os alunos". Na visão do deputado, Lula é o responsável pelas deformidades do sistema educacional brasileiro, incapaz de formar engenheiros de qualidade para suprir a atual demanda ocasionada pelo crescimento econômico que o mesmo governo (Lula) promove.

A crítica parte justamente de um deputado filiado ao Partido (PSDB) que mais massacrou a educação brasileira. Aproveitou-se de artigo da Folha de São Paulo onde há o alerta que o “País perde US$ 15 bi com má formação de engenheiro” para alfinetar Lula. Mas essa má formação tem um histórico. O desmonte das universidades e escolas técnicas foi patrocinado pelo Governo Fernando Henrique Cardoso e, apesar da grande mobilização da sociedade, não foi possível interromper as políticas neoliberais que vetaram a contratação de novos professores e servidores por oito anos, diminuíram o acesso em vários cursos, sucatearam as estruturas físicas e laboratórios, desmotivaram professores e servidores, congelaram salários e bolsas e outros crimes mais.

O Brasil se tornou, a partir do governo do PSDB, o país com o maior índice de privatização da educação na América Latina e um dos cinco em todo o mundo, se considerados o número de instituições e o percentual de matrículas. Em 1994, 22,5% das instituições de ensino superior eram públicas e 77,5% eram privadas. Em 2002, apenas 11,9% eram públicas e 88,1% privadas. Um crescimento de 118% das instituições privadas enquanto o número de instituições públicas permaneceu o mesmo.

O deputado demonstra ter uma memória fraquíssima. Pensa (ou quer fazer pensar) que é possível saltar de 15% para 50% de jovens na universidade em sete anos. É de se perguntar quanto saltou esse percentual durante os oito anos de governo FHC.

Por isso mesmo é bom comparar. Ou o deputado Hauly também é uma daqueles de que na propaganda eleitoral acha melhor olhar pra frente e esquecer (ou esconder) o passado?

De fato, a carência de engenheiros em nosso país é fato preocupante. Mais que isso, engenheiros devidamente qualificados.

Mas a herança maldita deixada por FHC só vai ser superada em médio e longo prazo. Não se gradua um engenheiro com sólida formação da noite para o dia. Esses profissionais precisam ter uma preparação adequada que comece no ensino fundamental (o mesmo nível de educação em que os governadores - do partido do deputado Hauly - foram contrários a implantação do Piso Nacional para os professores nos seus estados), diferentemente do que propôs os governos tucanos em São Paulo, por exemplo, com o regime de “aprovação automática”, para reduzir custos com o ensino e com isso formar estudantes analfabetos funcionais.

Um partido que enquanto esteve na presidência da república não criou nenhuma universidade pública ou escola técnica em oito anos, não tem moral para vir agora cobrar a formação de engenheiros qualificados. Em contrapartida, Lula e Dilma inauguraram dez novas universidades e 214 escolas técnicas, mesmo assim, muito aquém do que a economia atual, inaugurada por Lula e Dilma, necessita.

No governo passado, nem se tinha engenheiros, nem se tinha empregos. Esse era o dilema. Mas parece que disso o deputado paranaense não se lembra. Ou será isso tudo mais uma invenção da “gente que mente”? O povo saberá quem está com a razão no dia 3 de outubro.

P.S.: Um breve depoimento pessoal: como engenheiro de formação, graduado em uma universidade pública federal em plena era FHC, aproveitei só agora os concursos públicos abertos no governo Lula para ser professor federal. Na época em que me formei (1999) o desemprego era assustador e não houve nenhum concurso público durante todo esse período. Quem não se lembra disso? Meus colegas que antes eram oposição a Lula são hoje anti-PSDB declarados, assim como quase todos os reitores, diretores de escolas e a ampla maioria dos professores que puderam comparar e sentir na carne os dois governos.

* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da direção estadual do PCdoB - MG

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Aldo Rebelo: a comida vai cair do céu

Sob o autoexplicativo título Farms Here, Forests There (Fazendas Aqui, Florestas Lá), foi publicado nos Estados Unidos, em maio, estudo patrocinado pela National Farmers Union (Associação Nacional de Fazendeiros) e pela organização não-governamental Avoided Deforestation Partners (Parceiros contra o Desmatamento, em tradução livre). 


Por Aldo Rebelo, no O Estado de S.Paulo

A autora principal do relatório é Shari Friedman, ex-funcionária do governo Clinton, quando trabalhou na Environmental Protection Agency (EPA, a Agência de Proteção Ambiental), analisando políticas domésticas de mudanças climáticas e competitividade internacional. Ela também fez parte da equipe norte-americana de negociações para o Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos se negaram a assinar.


O tema do relatório é a perda de competitividade da agroindústria norte-americana diante dos países tropicais, principalmente o Brasil. A tese principal do estudo é que a única forma de conter essa perda de competitividade é reduzir o aumento da oferta mundial de produtos agropecuários, restringindo a expansão da área agrícola nos países tropicais pela promoção de políticas ambientais internacionais mais duras.

Segundo o relatório, "a destruição das florestas tropicais pela produção de madeira, produtos agrícolas e gado tem levado a uma dramática expansão da produção de commodities que competem diretamente com a produção americana". Desse modo, "a agricultura e as indústrias de produtos florestais dos Estados Unidos podem beneficiar-se financeiramente da conservação das florestas tropicais por meio de políticas climáticas".

O estudo avalia que "acabar com o desmatamento por meio de incentivos nos Estados Unidos e da ação internacional sobre o clima pode aumentar a renda agrícola americana de US$ 190 bilhões para US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030". Esse aumento incluiria benefícios diretos de US$ 141 bilhões, decorrentes do aumento da produção de soja, carne, madeira e substitutos de óleo de palma, e economias indiretas de US$ 49 bilhões, em razão do menor custo da energia e de fertilizantes, pela redução das medidas compensatórias associadas à diminuição das florestas tropicais, ou seja, na medida em que os países tropicais poluírem e desmatarem menos, eles poderiam poluir e desmatar mais, sem ter de pagar por isso comprando créditos de carbono e outras medidas mitigadoras.

A candura com que eles tratam do tema é comovedora. O estudo revela que na cabeça deles não passamos mesmo de um fundo de quintal que precisa ser preservado para que eles possam destruir o resto do mundo com a consciência tranquila e, principalmente, com o bolso cheio.

Já vai longe — e sem saudades — o tempo em que a sociedade brasileira se curvava, sem questionamentos e sem esperneio, à tutela dos países ditos do Primeiro Mundo. Hoje é inadmissível pensar que países livres tenham de se submeter às manipulações econômicas de outras nações.

O aspecto trágico dessa proposta é a completa ausência de responsabilidade social dos agricultores norte-americanos, que veem a agricultura apenas como uma forma de aumentar sua própria fortuna, e não como a solução para a questão da fome no mundo. Ao produzir mais alimentos — e, com isso, mantendo seus preços mais acessíveis aos países pobres —, o Brasil ajuda a evitar que essa epidemia terrível se espalhe ainda mais no planeta.

Houve ainda uma época em que a divisão internacional do trabalho imposta pelos países ricos reservava para eles a produção de bens manufaturados e aos países pobres, o fornecimento de bens agrícolas e matérias-primas. Hoje se vai estabelecendo uma nova divisão: os Estados Unidos e a Europa transformaram-se em economias de serviço e grandes produtores e exportadores agrícolas, enquanto a produção industrial se deslocou para a Ásia.

Nesse novo esquema, países como o Brasil deveriam, na opinião deles, cumprir um novo papel: tornar-se uma espécie de "área de preservação permanente global". Com isso se resolveriam dois problemas: o comercial, pois sua produção agrícola ineficiente se viabilizaria pela redução da oferta e pelo aumento dos preços internacionais; e o ambiental, porque garantiríamos a compensação necessária para que eles continuem a manter seu atual padrão de consumo, que exige a exploração dos recursos naturais globais acima da capacidade que a natureza tem de repô-los.

Tudo isso funcionaria muito bem, não fosse o fato de sermos um país de mais de 190 milhões de habitantes, que precisam satisfazer as mesmas necessidades básicas que os americanos e europeus e têm as mesmas aspirações de progresso material e espiritual, cada vez mais parecidas e universais no mundo globalizado. Sim, nós também temos direito à felicidade nos mesmos moldes dos europeus ocidentais e dos norte-americanos!

Faz sentido, portanto, a defesa "desinteressada" que eles fazem dos chamados "povos da floresta". Além de sua expressão quantitativa reduzida, esses brasileiros têm um padrão de consumo que não compete com eles no uso dos recursos naturais e torna perfeitamente viável o esquema de "fazendas lá e florestas aqui".

Só não dizem o que fazer com os 190 milhões de nossa população que não vivem nas florestas e precisam produzir comida e outros bens para ter um padrão de vida digno. Para estes eles têm a solução que já aplicam na África, depois de arruinarem a produção local de algodão, milho, tomate e outros alimentos, com os subsídios milionários que dão aos seus próprios fazendeiros: a chamada "ajuda humanitária".

A continuar nesse ritmo, em vez de comprar comida nos supermercados, vamos acabar tendo de esperá-la cair do céu em fardos atirados pela Força Aérea Americana ou distribuídos pela Cruz Vermelha e pelo Greenpeace.

* Aldo Rebelo é deputado federal (PCdoB-SP), relator do Código Florestal, presidiu a Câmara dos Deputados e foi Ministro de Relações Institucionais no governo Lula

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia