sexta-feira, 23 de julho de 2010

A velha mídia finge que o país não mudou

Venicio A. de Lima *

O país realmente mudou. A velha mídia, todavia, insiste em "fazer de conta" que tudo continua como antes e seu poder permanece o mesmo de 1989. Aparentemente, ainda não se convenceu de que os tempos são outros.

 

Apesar de não haver consenso entre aqueles que estudaram o processo eleitoral de 1989 – as primeiras eleições diretas para presidente da República depois dos longos anos de regime autoritário –, é inegável que a grande mídia, sobretudo a televisão, desempenhou um papel por muitos considerado decisivo na eleição de Fernando Collor de Mello. O jovem e, até então, desconhecido governador de Alagoas emergiu no cenário político nacional como o "caçador de marajás" e contou com o apoio explícito, sobretudo, da Editora Abril e das Organizações Globo.

No final da década de 80 do século passado, o poder da grande mídia na construção daquilo que chamei de CR-P, cenário de representação da política, era formidável. A mídia tinha condições de construir um "cenário" – no jornalismo e no entretenimento – onde a política e os políticos eram representados e qualquer candidato que não se ajustasse ao CR-P dominante corria grande risco de perder as eleições. Existiam, por óbvio, CR-Ps alternativos, mas as condições de competição no "mercado" das representações simbólicas eram totalmente assimétricas.

Foi o que ocorreu, primeiro com Brizola e, depois, com Lula. Collor, ao contrário, foi ele próprio se tornando uma figura pública e projetando uma imagem nacional "ajustada" ao CR-P dominante que, por sua vez, era construído na grande mídia paralelamente a uma maciça e inteligente campanha de marketing político, com o objetivo de garantir sua vitória eleitoral [cf. Mídia: teoria e política, Perseu Abramo, 2ª. edição, 1ª. reimpressão, 2007].


2010 não é 1989

Em 2010 o país é outro, os níveis de escolaridade e renda da população são outros e, sobretudo, cerca de 65 milhões de brasileiros têm acesso à internet. A grande mídia, claro, continua a construir seu CR-P, mas ele não tem mais a dominância que alcançava 20 anos atrás. Hoje existe uma incipiente, mas sólida, mídia alternativa que se expressa, não só, mas sobretudo, na internet. E – mais importante – o eleitor brasileiro de 2010 é muito diferente daquele de 1989, que buscava informação política quase que exclusivamente na televisão.

Apesar de tudo isso, a velha mídia finge que o país não mudou.


O CR-P do pós-Lula

Instigante artigo publicado na Carta Maior por João Sicsú, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do IPEA e professor do Instituto de Economia da UFRJ, embora não seja este seu principal foco, chama a atenção para a tentativa da grande mídia de construir, no processo eleitoral de 2010, um CR-P que pode ser chamado de "pós-Lula".

Ele parte da constatação de que dois projetos para o Brasil estiveram em disputa nos últimos 20 anos: o estagnacionista, que acentuou vulnerabilidades sociais e econômicas, aplicado no período 1995-2002, e o desenvolvimentista redistributivista, em andamento. Segundo Sicsú, há líderes, aliados e bases sociais que expressam essa disputa. "De um lado, estão o presidente Lula, o PT, o PC do B, alguns outros partidos políticos, intelectuais e os movimentos sociais. Do outro, estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), o PSDB, o DEM, o PPS, o PV, organismos multilaterais (o Banco Mundial e o FMI), divulgadores midiáticos de opiniões conservadoras e quase toda a mídia dirigida por megacorporações".

O que está em disputa nas eleições deste ano, portanto, são projetos já testados, que significam continuidade ou mudança. Este seria o verdadeiro CR-P da disputa eleitoral para presidente da República.

A grande mídia, no entanto, tenta construir um CR-P do "pós-Lula". Nele, "o que estaria aberto para a escolha seria apenas o nome do ‘administrador do condomínio Brasil’. Seria como se o ‘ônibus Brasil’ tivesse trajeto conhecido, mas seria preciso saber apenas quem seria o melhor, mais eficiente, ‘motorista’. No CR-P pós-Lula, o presidente Lula governou, acertou e errou. Mas o mais importante seria que o governo acabou e o presidente Lula não é candidato. Agora, estaríamos caminhando para uma nova fase em que não há sentido estabelecer comparações e posições (...); não caberia avaliar o governo Lula comparando-o com os seus antecessores e, também, nenhum candidato deveria (ser de) oposição ou situação (...); projetos aplicados e testados se tornam abstrações e o suposto preparo dos candidatos para ocupar o cargo de presidente se transforma em critério objetivo".

Sicsú comenta que a tentativa da grande mídia de construir esse CR-P se revela, dentre outras, na maneira como os principais candidatos à Presidência são tratados na cobertura política. Diz ele: "a candidata Dilma é apresentada como: ‘a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata à Presidência’. Ou ‘a candidata do PT Dilma Rousseff’. Jamais (...) Dilma (é apresentada) como a candidata do governo (...)". Por outro lado, "Serra e Marina não são apresentados como candidatos da oposição, mas sim como candidatos dos seus respectivos partidos políticos. Curioso é que esses mesmos veículos de comunicação, quando tratam, por exemplo, das eleições na Colômbia, se referem a candidatos do governo e da oposição".

Novos tempos

Muita água ainda vai rolar antes do dia das eleições. Sempre haverá uma importante margem de imprevisibilidade em qualquer processo eleitoral. Se levarmos em conta, no entanto, o que aconteceu nas eleições de 2006, o poder que a grande mídia tradicional tem hoje de construir um CR-P dominante não chega nem perto daquele que teve há 20 anos. E, claro, um tal CR-P não significaria a eleição garantida de nenhum candidato (a).

O país realmente mudou. A velha mídia, todavia, insiste em "fazer de conta" que tudo continua como antes e seu poder permanece o mesmo de 1989. Aparentemente, ainda não se convenceu de que os tempos são outros.

* é professor de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Pancadaria literária: a guerra anunciada entre João Ubaldo e FHC

 

Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de 1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando Henrique Cardoso, alijado da política e na iminência de cair no esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira de Letras.


Por Leandro Fortes, no blog Brasília, eu Vi

 

O artigo, intitulado “Senhor Presidente”, foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL.

Não por outra razão, foi inicialmente censurado em O Estado de S. Paulo, para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima, ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela imprensa e pelo governo de então.

Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro.

Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome “Adelita), eleito em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema é o artigo de João Ubaldo.

Fogueira de brasas

No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: “(…) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico”.

Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: “(…) o senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo”.

E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando Henrique: “(…) E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais”.

Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro. A conferir.

Abaixo, o artigo completo, para quem quiser se deleitar:

 
Senhor Presidente


Por João Ubaldo Ribeiro (25 de outubro de 1998)

 

Senhor Presidente,


Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.


Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.


O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.


Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.


Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.


Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Análise em rochas confirma que Lua tem água mineral

A Lua não é tão árida como se pensava. Ainda que não se encontrem oceanos, lagos ou mesmo uma poça em sua superfície, a água está presente no satélite terrestre. Após a descoberta de gelo em 2009, agora um grupo de pesquisadores acaba de identificar grupos de hidroxila em uma rocha lunar.

 

Segundo o estudo, publicado na edição desta quinta-feira (22) da revista Nature, a presença do radical composto por oxigênio e hidrogênio confirma a existência de água em minerais no satélite terrestre. A rocha analisada foi trazida pelo programa Apolo.

“A Lua, considerada desprovida de materiais hídricos, tem água”, disse John Eiler, professor de geologia e geoquímica no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), um dos autores do estudo.

Os pesquisadores se surpreenderam ao conseguir medir quantidade significativa de água em um mineral lunar. O grupo encontrou água em apatita, um mineral do grupo dos fosfatos, dentro de um basalto coletado por astronautas.

Para ser mais exato, eles não encontraram água, ou seja, a molécula H2O, mas hidrogênio na forma de um ânion hidroxila (OH-). “Hidróxido é um parente químico próximo da água. Se aquecermos a apatita, os íons hidroxila serão ‘decompostos’ e formarão água”, explicou outro autor da pesquisa, George Rossman, professor de mineralogia da Caltech.

A rocha lunar examinada agora foi trazida em 1971 por astronautas da Apolo 14. A proposta de procurar água na amostra foi de Larry Taylor, professor da Universidade do Tennessee, que enviou amostras ao grupo na Caltech para análise.

Mas a ideia de procurar água em apatita não era nova. “Charles Sclar e Jon Bauer, da Universidade Lehigh, notaram que algo estava faltando nos resultados das análises químicas feitas em 1975. Agora, 35 anos depois, somos capazes de fazer medições adequadas e vimos que eles estavam certos. A peça que faltava era a hidroxila”, disse Jeremy Boyce, outro autor do estudo na Caltech.

O grupo investigou a rocha lunar em busca de sinais de hidrogênio, enxofre e cloro por meio de uma microssonda iônica, capaz de analisar grãos de materiais com tamanhos muito menores do que a espessura de um fio de cabelo humano.

As análises mostraram que, em termos da presença de tais elementos, a apatita lunar é semelhante à encontrada em rochas vulcânicas na Terra. “Há mais água na Lua do que se imaginava, mas ainda assim em ordens de magnitude muito inferiores às da Terra”, disse Eiler.

A existência de vulcões na Lua há mais de 4 bilhões de anos deu aos cientistas a pista de que a água poderia estar presente em minerais lunares, uma vez que as dinâmicas dos vulcões terrestres são principalmente dirigidas pela água.

A possibilidade de extrair água no subterrâneo da Lua amplia as chances de instalar bases humanas no satélite. Levar água da Terra é um dos principais obstáculos para a permanência do homem na Lua, uma vez que o custo atual é superior a US$ 50 mil por litro transportado.

Fonte: Agência Fapesp

http://www.vermelho.org.br/noticia

Radioatividade em Faluja é mais grave que em Hiroxima

A leitura do fundamentado texto de Layla Anwar deixa o leitor como uma angústia revoltante e algumas interrogações: Como é possível no século 21 tamanha barbárie? O que significa direitos humanos para o poder nos EUA? Como é possível os governos de todos e cada um dos nossos países colaboraram, e pior, terem relações de subordinação com criminosos tão cruéis? Cada vez é mais evidente por que razão de os EUA não aceitaram para seus cidadãos a territorialidade do Tribunal Penal Internacional.

 

Esta informação é demasiado importante para ser somente anotada… e este é apenas um comentário apressado. Acabei de assistir a uma reposição da Arabic-interview, da Al-Jazira, conduzida por Ahmad Mansour com o professor Chris Busby. O professor Busby é Cientista e Director da Green Audit, e conselheiro científico do Comitê Europeu para os Riscos de Radiação. Para saber mais sobre o professor Busby e o seu trabalho pode procurar no Google: Chris Busby Uranium.

Por Layla Anwar

O professor Busby publicou vários artigos sobre radiação, urânio e contaminação em países como o Líbano, Kosovo, Gaza e, claro, Iraque.

Falar-vos-ei das suas recentes descobertas, que eram o tema do programa emitido pela Al-Jazira. Como alguns de vocês saberão, Faluja é uma cidade proibida. Foi sujeita a intensos bombardeios em 2004, com bombas de urânio empobrecido (DU, do inglês Depleted Uranium) e fósforo branco, e depois disso transformou-se numa zona interdita — o que significa que tanto as autoridades-fantoche como as forças invasoras e ocupantes estadunidenses não permitem que se conduza nenhum estudo em Faluja.

Faluja está cercada. Evidentemente que tanto os estadunidenses como os iraquianos sabem de alguma coisa que escondem do público. E é aqui que entra o professor C. Busby. Determinado em ir até ao fundo do que aconteceu em Faluja em 2004.

Sendo um cientista de renome na sua área, conduziu pesquisas e exames em Faluja cujos resultados preliminares serão publicados nas próximas semanas – assim esperamos.

O professor Busby encontrou bastantes obstáculos enquanto desenvolvia o seu projeto. Nem ele nem nenhum membro da sua equipe foram autorizados a entrar em Faluja para realizar entrevistas. Logo, na sua opinião, quando a porta principal se fecha, torna-se necessário encontrar outras portas para abrir. E foi o que fez.

Conseguiu reunir uma equipe de iraquianos de Faluja para conduzir os exames por ele. A pesquisa baseou-se em 721 famílias de Faluja, num total de 4.500 participantes - vivendo em zonas com diferentes níveis de radiação. Os resultados foram comparados com um grupo padrão - um exemplo do mesmo número de famílias vivendo numa zona não-radioativa noutro país árabe. Para esse efeito comparativo, escolheu três outros países - Kuwait, Egito e Jordânia.

Antes de avançarmos para os resultados preliminares, devo salientar o seguinte:
  • As autoridades iraquianas ameaçaram todos os envolvidos na pesquisa, de prisão e detenção, caso cooperassem com os “terroristas” que os estavam a entrevistar. Por outras palavras, foram ameaçados na alçada da lei anti-terrorista.
  • As forças estadunidenses proibiram o professor Busby de obter quaisquer dados, argumentando que Faluja é uma zona insurgente.
Os médicos de Faluja recusaram o pedido para prestarem declarações que seriam transmitidas diretamente para o programa de Ahmad Mansour, já que receberam inúmeras ameaças de morte e temem pelas suas vidas.Noutras palavras, este estudo foi conduzido em condições extremamente difíceis. Mas foi conduzido.


Como o programa ainda não foi carregado no Youtube, não posso proporcionar uma transcrição oral absolutamente exata. Mas tomei breves notas e memorizei o necessário. Farei o possível para apresentar todos os fatos a que hoje assisti. E então o que é que os EUA e os seus fantoches iraquianos não querem que o público saiba? E porque é que não autorizam quaisquer medições dos níveis de radiação em Faluja, e porque é que proíbem até a AIEA de entrar na cidade? Que é que aconteceu em Faluja, exatamente? Que tipos de bombas foram usadas? Somente DU ou outra coisa mais?
  • Algo que é bastante curioso em Faluja é a subida dramática das taxas de câncer, num curto espaço de tempo, por exemplo em 2004. Exemplos fornecidos pelo professor Busby:
  • Taxa de leucemia infantil aumentou 40 vezes desde 2004 em comparação com anos anteriores. Comparada com a Jordânia é 38 vezes maior.
  • Taxa de câncer da mama cresceu 10 vezes desde 2004
  • Taxa de câncer linfático cresceu também 10 vezes desde 2004.
Outra curiosidade em Faluja é o dramático aumento nas taxas de mortalidade infantil. Comparada com dois outros países árabes, como o Kuwait e o Egito, que não estão contaminados pelas radiações, é este o retrato:

  • Mortalidade infantil em Faluja é de 80 crianças por cada 1.000 nascimentos, em comparação com o Kuwait, com 9 crianças por cada 1.000 nascimentos, e com o Egito, com 19 crianças a cada 1.000 (assim, a taxa de mortalidade infantil no Iraque é 4 vezes maior do que no Egito e 9 vezes maior que no Kuwait).

A terceira particularidade em Faluja é o número de malformações congênitas que explodiram repentinamente desde 2004. Este é um assunto que já abordei no passado. Mas não é toda a verdade, hoje aprendi um pouco mais. A radiação de qualquer dos agentes utilizados pelas forças de “libertação” não só causaram massivas deformações genéticas como também, e não menos importante:
  • Provocaram alterações estruturais em nível celular. Por sua vez, isto significa que devido às alterações genéticas dos rapazes (falta de cromossomo X), estes têm mais probabilidades de morrer ao nascer, e as moças têm mais probabilidades de sobreviver com fortes deformações. Outro exemplo adiantado pelo professor Busby: antes de 2003, as taxas de natalidade em Faluja eram as seguintes: 1.050 rapazes para 1.000 moças. Em 2005, somente 350 rapazes nasceram — o que significa que a maioria não sobreviveu.
  • Tal como para as moças, e é aqui que jaz a tragédia, a radiação causa mudanças no DNA, o que significa que caso sobrevivam, e tentem reproduzir, darão provavelmente à luz filhas geneticamente desfiguradas e filhos nados-mortos.
  • As conclusões anteriores são suportadas noutros estudos conduzidos nos filhos e netos que sobreviveram a Hiroxima (realizado em 2007) e que evidencia que até a terceira geração exibe malformações congênitas, incluindo doenças (câncer, problemas cardio-vasculares) numa taxa de aumento de 50 vezes. Em Tchernobyl, por outro lado, estudos em animais na mesma área demonstram que os efeitos da radiação modificaram geneticamente 22 gerações. Em suma, a radiação é transmitida de gene para gene e tem efeitos cumulativos com o passar do tempo. (não dissecarei o porquê – as propriedades acumulativas/ memória das células e a atividade do sistema imunológico – poderá ler mais detalhes sobre isso quando o artigo do professor Busby for publicado) [1].
  • Algumas destas deformações em crianças são tão grotescas que, tanto a Al-Jazira como a BBC (que produziu um documentário sobre a mesma matéria), recusaram a difusão destas imagens.

Exemplos das deformações que Ahmad Mansour revelou em imagens:
  • Crianças nascidas sem olhos
  • Crianças com duas e três cabeças
  • Crianças nascidas sem orifícios
  • Crianças nascidas com tumores cerebrais e retinais malignos
  • Crianças nascidas sem órgãos vitais
  • Crianças nascidas sem membros ou com excesso dos mesmos
  • Crianças nascidas sem genitais
  • Crianças nascidas com severas malformações cardíacas
Mais…


Sobre esse assunto, os médicos em Faluja foram questionados acerca da relevância para o estudo da comparação das taxas de deformação congênita no espaço de um mês (comparando-o com o mês anterior). Eis o resultado: somente no espaço de um mês, os recém-nascidos com malformações cresceram de uma (mês anterior) para três vezes por dia (mês corrente, que para efeitos de estudo foi Fevereiro de 2010).

O urânio é introduzido na corrente sanguínea através da ingestão e inalação.

Os níveis massivos de urânio a que a população de Faluja foi sujeita também concorre para o aumento vertiginoso de câncer nos pulmões, vasos linfáticos e mama, na população adulta.

Com estas conclusões preliminares, o professor Busby e a sua equipe concluíram que, em comparação com Hiroxima e Nagasaki, Faluja é pior. E cito o professor Busby: “A situação em Faluja é horrenda e assustadora, mais perigosa e grave que Hiroxima…”

Uma nota lateral, ou talvez não

Referi que estes eram resultados preliminares. Por quê?

Porque o professor Busby tem sido ameaçado, viu os seus fundos de pesquisa cortados, portas fechadas, foi ameaçado (tal como outros cientistas que tentaram conduzir estudos semelhantes nos anos 90, no Iraque). As implicações políticas são enormes e perigosas para os EUA e seus homens. Significa que as evidências científicas de crimes de guerra estão aqui mesmo na ponta dos dedos…

Logo, a vida do professor Busby não tem sido fácil. A pesquisa que conduziu e produziu com grande dificuldade foi enviada para a revista científica Lancet, para uma revisão do Comitê Científico. A revista científica Lancet recusou-o, afirmando que não tinha tempo para o rever. Os laboratórios que, no passado, cooperaram com ele no teste de amostras recusaram colaborar quando souberam que as amostras provinham do Iraque. Só dois laboratórios estão disponíveis para testar as amostras do material/agente usado em Faluja – e fazem-no a um preço exorbitante – pela natureza sensível do estudo. Também devido à falta de verbas, o professor Busby tem cerca de 20 amostras de Faluja para teste – que guarda cuidadosamente. Aguarda os fundos necessários para testar as amostras.

Quando questionado por Ahmad Mansour acerca da sua perseverança perante os enormes obstáculos que tem enfrentado, a sua resposta foi:

“Toda a minha vida procurei a verdade, sou um caçador da verdade nesta selva de mentiras. Também tenho filhos. As crianças não são só o nosso futuro, são os portadores das gerações futuras. Nos últimos 50 anos temos contaminado o planeta (com radiação) e passamos esta herança para os nossos filhos e netos. Devemos a verdade à população de Faluja.”

Quando questionado como lida com a escassez de fundos e o excesso de portas fechadas na cara, respondeu:

“Confio na boa vontade de pessoas que enviam pequenas quantias, e acredito verdadeiramente que quanto a porta principal se fecha, outras se abrem. Quando há vontade, há caminho.”

Tiro-lhe o chapéu, professor Busby.

Insto a que todos que leiam este artigo, todas as pessoas de consciência, insto a que todos os iraquianos (mexam-se, por amor de Deus!) e todos os árabes contatem o professor Busby e doem para que as amostras de Faluja sejam testadas e a verdade venha à tona. Terminarei este artigo com uma última citação que dedico a este grande homem:

“A verdade tem asas que não podem ser cortadas”

Tenho de terminar. Já é madrugada. Ainda não dormi. Quis colocar este artigo disponível ao mundo… a questão que levo comigo para a cama - se é que conseguirei fechar os olhos - é a mesma questão que tenho colocado desde 2003
Por quê? Que fez o povo iraquiano, que fizeram as crianças iraquianas para merecer isto?

A conclusão é horrível…

Nota do tradutor:
[1] A autora refere-se ao texto “Cancer, Infant Mortality and Birth Sex-Ratio in Falujah, Iraq 2005–2009”, Chris Busby, Malak Hamdan and Entesar Ariabi, Int. J. Environ. Res. Public Health 2010, 7, 2828-2837; doi:10.3390/ijerph7072828.

* Layla Anwar é membro da Arab Woman Blues, uma organização que considera que a sua pátria é a nação árabe.


Fonte: ODiario.info, Tradução de José Pedro Ribeiro

A pouca cultura nossa de cada dia

Luciano Siqueira *


Quando subi ao palco – a contragosto, pois palco em evento cultural é para os artistas – ao lado do então prefeito João Paulo, no Marco Zero, numa tarde de domingo, por ocasião de um concerto da Orquestra Sinfônica do Recife, não contive a emoção ao perceber a composição do público de cerca de cinco mil pessoas ali reunidas: gente do nosso povo, boa parte vinda de bairros periféricos, a quem se atribui (erroneamente) a preferência quase exclusiva por produtos musicais de baixa qualidade popularizados pela grande mídia.

Cena semelhante pôde presenciar durante os oitos anos em que estivemos na Prefeitura do Recife. Em espetáculos gratuitos, pois produto cultural de qualidade custa caro.

A observação vem a propósito de um estudo feito há algum tempo pela Universidade Federal de Minas Gerais, a propósito do baixo dispêndio do brasileiro com cultura: apenas 40% dos habitantes de nossas regiões metropolitanas tem esse item em seu orçamento familiar.

A estimativa se apóia em informações contidas na Pesquisa de Orçamento Familiar, realizada entre 2002 e 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo focou nove regiões metropolitanas – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém – e do Distrito Federal e procurou cruzar idade, escolaridade e renda no consumo de artigos de áudio, vídeo, leitura e arte, além de ingressos de teatro, shows, cinema, museus e estádios. Também incluiu a aquisição de instrumentos musicais, aparelhos de televisão, máquinas fotográficas e gastos com internet e TV por assinatura.

Na interpretação dos pesquisadores, dois fatores principais determinariam esse perfil de baixo consumo de cultura: preço e nível de escolaridade.

Pode ser. Quanto a preço cobrado em casas de espetáculo e por produtos como CDs, DVDs e livros, por exemplo, está longe do alcance da média de uma população cuja massa salarial é baixa.

Mas quanto à escolaridade, cabe dúvida. Pelo menos pela observação empírica das bem sucedidas tentativas de ofertar no Recife produtos de qualidade para grandes públicos formados por extratos mais populares e de reconhecido baixo nível de instrução formal.

O problema não é simples, é evidente. Reclama inclusive políticas públicas que convirjam no sentido de baratear custos dos produtos culturais – algo complexo que implica ação sobre toda a cadeia produtiva da cultura – e, obviamente, melhorar a qualidade de vida da população que vive do próprio trabalho, do ponto de vista material e espiritual. Vale refletir.
* Médico, vereador em Recife, membro do Comitê Central do PCdoB

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

quinta-feira, 22 de julho de 2010


                    Promotor Natural e o Devido Processo Legal                  


Há mais de vinte anos, exatamente em 20 de maio de 1987, em artigo publicado no jornal "O Estado de São Paulo", o eminente ministro do Supremo Tribunal Federal, Sidney Sanches, em exposição feita junto à Subcomissão do Poder Judiciário e Ministério Público, textualmente afirmou que "o interesse público será melhor atendido e a Justiça melhor servida se o Ministério Público, em qualquer de suas funções em juízo, estiver a salvo de influências externas, seja no âmbito estadual, seja no federal", clamando por maior autonomia, financeira e administrativa, para que se garanta a seus membros maior segurança e isenção, em nome do interesse público e da justiça.

Da mesma forma, tornava-se necessária a outorga de garantias, idênticas às da magistratura, diante de possíveis influências, inclusive de ordem política, para que seus membros atuem em nome e na defesa da sociedade. Posteriormente, o constituinte, atendendo aos reclamos dos operadores do direito, estabeleceu, em cláusula pétrea, que "ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente" (art.5º inciso LIII, da CF). Garantiu-se, assim, ao acusado, prévio conhecimento de quem o perseguirá em juízo e quem aplicará o direito ao caso concreto.

Defensor da legalidade, cristalina qualificação do Ministério Público, causa espécie a posterior designação de Promotor de Justiça, em detrimento do intitulado Promotor Natural, vedando-se, dessa forma, a discricionária designação, afastando-se o verdadeiro titular, ferindo-se a regra pétrea, verdadeira garantia constitucional, porque, conforme doutrina o eminente jurista Jaques de Camargo Penteado, "governo algum pode interferir no Ministério Público para obter acusação contra inimigo político, sob pena de violação dos princípios da igualdade e da ampla defesa. Não basta o controle jurisdicional posterior, eis que a todo indivíduo deve ser assegurado o direito de jamais ver seu nome inserido numa denúncia sem supedâneo suficiente. E o contrário deve igualmente ser analisado. Governo algum pode interferir no Parquet para obter denúncia que jamais chegará a bom termo ou arquivamento que deixará de levar à condenação justamente aquele que feriu a ordem jurídica".

Os notáveis avanços e as novas tarefas atribuídas ao Ministério Público, ao contrário do que se pode inferir, possuem o condão de permitir a seus membros o cumprimento desses misteres, em proveito da sociedade, única beneficiada, não tendo jamais o intuito de estabelecer privilégio a determinada casta de funcionários.

A concessão de discricionariedade na designação de promotor em detrimento daquele prévia e legalmente autorizado a propor ação desvirtua e macula o devido processo legal, voltando-se a tempos pretéritos "em que o Ministério Público se notabilizou por servir ao governo e aos governantes, situação esta incompatível com sua atual destinação constitucional", conforme alerta Hugo Nigro Mazzilli, que aponta o caminho correto: "justamente para que o Ministério Público possa servir a sociedade e não aos governantes, precisa ser dotado de garantias substanciais que assegurem a independência administrativa e funcional - garantias concretas e não palavras retumbantes na Lei Maior, mas vazias de maior conteúdo prático".

A evolução da instituição, assim, caminha para o respeito às garantias estabelecidas na Constituição Federal, mas, antes de tudo, são garantias da própria coletividade e que devem, portanto, ser rigorosamente concretizadas para que não se constituam em meros enunciados. 

Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e 1º Secretário do Ministério Público Democrático. 


      Fonte: http://www.correiocidadania.com.br

A mentira na história e a compreensão da crise



O capitalismo atravessa uma crise estrutural para a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que deforma o real, impondo à humanidade uma Historia deformada , forjada pelo capitalismo para lhe servir os interesses. 

Essa compreensão é extraordinariamente dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.

A lógica das crises
No esforço para enganar e confundir os povos, a primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um bombardeio midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira, resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia, mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do capitalismo, de âmbito mundial. A simulação da surpresa fez parte do jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se na lógica da História. 

Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do capitalismo. 

A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita, numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Yalta. Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos assumidos. 

A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram rapidamente retomados.Como os povos estavam sedentos de paz, uma gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista sobre uma paz perpétua. 

A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente discutido com a Casa Branca. O medo da "barbárie russa" abriu o caminho à Doutrina Truman e à OTAN. Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.

Cabe recordar que somente após o afastamento dos comunistas dos governos da França e da Itália os ministros anticomunistas deixaram de integrar governos de países do Leste europeu. 

É também significativo que os historiadores norte-americanos e ingleses – com raríssimas exceções - omitam que a implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa sem recurso à força armada, enquanto na Grécia – país situado na zona de influência inglesa - o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas a mídia ocidental ignorou esses massacres. O tema era incômodo.O tão comentado plano russo de "conquista e dominação mundiais" não passa de um mito forjado em Washington e Londres para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como "aliança defensiva" capaz de se opor "à subversão comunista". E a arma atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem. 

Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a guerra e promover o "expansionismo comunista" uma sociedade nessas condições?

A agressividade vinha toda dos EUA que tinham sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado britânico. 

A Grã Bretanha, cujo império principiava a desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao aliado russo, antes freqüentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina de Ferro, meses antes do final da guerra tenha afirmado: "Não conheço outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o governo soviético russo. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma discussão sobre a boa fé russa". (citado por Isaac Deutscher em Ironias da História, pág. 184; Ed. Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o mundo… 

Mesma hipocrisia numa crise muito diferente 
Desagregada a União Soviética e implantado o capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados. Surgiu assim "o eixo do mal". Pequenos países como Cuba, o Iraque e a Coréia do

Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram apresentados como "ameaça à segurança" dos EUA e dos seus aliados. Um homem, Osama Bin Laden, foi guindado a "inimigo número um" dos EUA. O Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial. 
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina midiática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre "as armas de destruição massiva" que Saddam Hussein teria acumulado para agredir a humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror. O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.

O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer que, afinal, as tais armas de destruição massiva não existiam.

Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da história.

Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das mais importantes civilizações criadas pela humanidade é a mais recente ameaça à "segurança dos EUA". A Agência Internacional de Energia Atômica não conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com o objetivo de produzir armas nucleares. Com o aval do Brasil e da Turquia , o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se ele não se submeter a todas as suas exigências. 

Isto acontece quando Obama se viu forçado a demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na seqüência de uma entrevista na qual o general McChrystal - aliás, um criminoso de guerra (vide artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) - criticou duramente o presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na região. 

Entre a farsa e a tragédia

Diariamente, a grande mídia norte-americana repete que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica.É suficiente ler os artigos sobre o tema de Prêmios Nobel da Economia (aliás, empenhados na salvação do capitalismo), como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo, para se compreender que a situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se. Não é a taxa do PIB que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas financeira. 

Os discursos do presidente contribuem para confundir os cidadãos em vez de esclarecê-los. Persistem contradições entre a Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da administração que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres. 
A retórica presidencial não pode esconder que a estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais. As empresas acumulam novamente lucros fabulosos enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios principescos. 

O grande capital resiste, aliás, com o apoio firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria tímidas - como a reforma do sistema de saúde - que a administração adota (ver artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).É cada vez mais transparente que estamos perante uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia como saída "salvadora" é muito forte, mas no próprio Pentágono generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão terrestre está excluída e o bombardeio com armas convencionais de alvos estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca onda de anti-americanisno no mundo muçulmano. 

O recurso a armas nucleares táticas é a opção de uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a extinção da humanidade.Retomo assim a afirmação do início, tema desta reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da crise de civilização que o homem enfrenta.
 
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.

      Fonte: http://www.correiocidadania.com.br

Alejandro Nadal: A caminho da Grande Depressão?

A crise global não dá sinais de se resolver. Os sobressaltos nos mercados financeiros e as más notícias nos setores reais da economia indicam que as coisas poderiam piorar. Alguns analistas já se questionam abertamente se o mundo se encaminha para uma réplica da Grande Depressão dos anos 30.


Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa

Não é uma questão alarmista. A realidade é que as raízes desta crise são muito profundas e encontram-se na própria essência das economias capitalistas. O vulcão que entrou em erupção em 2008 é a parte visível de um desastre que tem vindo a ser cozinhado desde há mais de 30 anos.

Convém recordar alguns traços da evolução da economia estadunidense para compreender que a recuperação vai requerer algo mais que um simples estímulo fiscal. As lições são importantes para todo o mundo.

Nos Estados Unidos, a crise atual não se originou pura e simplesmente no mercado das hipotecas lixo. As origens encontram-se na compressão salarial desde os anos 70. Esse fenômeno pôs fim à chamada fase dourada do capitalismo (1945-1975) marcada por taxas de crescimento sustentado, por remunerações em alta e uma redução notória na desigualdade social. Em contrapartida, a partir dos anos 70, o crescimento reduziu-se, a massa salarial caiu e a desigualdade aumentou.

A única forma de manter níveis adequados de procura agregada foi através do endividamento que começou a crescer desmedidamente nos anos 70. Esse processo culminou com o desenfreado crescimento de passivos do setor privado nos últimos 15 anos nos Estados Unidos. Hoje, o panorama não é nada tranquilizador.

Um estudo recente revela que, em média, a contribuição do endividamento para a procura agregada nesse país durante a década passada atingiu 15 por cento anuais e culminou em 1998 com 22 por cento. Ou seja, quase uma quarta parte da procura agregada nos Estados Unidos foi financiada com dívida em 1998. Em contraste, na década de 20, a dívida só financiou 8,7 por cento da procura agregada, em média.

O descalabro atual é ainda mais preocupante. Nos últimos 30 meses, a descida no nível de endividamento é de 42 por cento. Isto é, o desendividamento tem contribuição negativa para a procura agregada, muito superior ao que aconteceu entre 1929 e 1931 (queda de 12,5 por cento pelo desendividamento).

E esse ritmo de desendividamento não parece estar a diminuir nestes dias. A única coisa que pôde mitigar esse brutal processo de contracção da procura agregada foi o estímulo fiscal que agora está a esgotar-se.

Neste contexto, o apelo à redução do déficit fiscal no comunicado final do G-20 de Toronto é uma estupidez. Desde 1970, nem a procura, nem o emprego cresceram nos Estados Unidos sem a ajuda de uma procura agregada impulsionada pelo endividamento.

Enquanto os assalariados tratavam de compensar o estrangulamento salarial e a perda de poder de compra com mais dívida, o grande capital deslocou as suas operações para países com baixos custos salariais. O processo culminou com o traslado de centenas de milhares de empregos para a China.

Em três décadas, o mundo foi testemunha do desmantelamento do tecido industrial nos Estados Unidos. Alguns consideram que se tratou de um processo associado à evolução normal de uma economia capitalista. Mas a verdade é que as grandes companhias multinacionais que beneficiaram com o translado das suas operações manufatureiras para a China não se desindustrializaram, simplesmente mudaram de domicílio.

Nos Estados Unidos ficaram os que pensam que o melhor desse país é a sua capacidade de fazer inovações financeiras. Um resultado deste processo foi o desequilíbrio mundial entre os maiores países superavitários (China) e deficitários (Estados Unidos). Em boa medida, a incapacidade da economia estadunidense para gerar empregos deve-se precisamente ao desmantelamento do tecido industrial ao longo dos últimos 25 anos.

No Congresso, em Washington, quase ninguém quer outro pacote de estímulo para a economia estadunidense. Por isso, muitos agora pensam que haverá uma recaída e o gráfico da recessão terá a forma de um W. Mas outros pensam que poderia ter a forma de um L muito, mas muito alongado. Isto é, a economia dos Estados Unidos permaneceria no colapso vários anos.

Face a esta paisagem, o G-20 pronunciou-se por manter e aprofundar o modelo econômico neoliberal no mundo. Como se o único futuro possível fosse o mesmo laboratório de onde saiu a crise atual.

Deveriam ler o último capítulo da Teoria Geral de Keynes, em especial a passagem na qual adverte que talvez o único meio de manter o pleno emprego e diminuir a desigualdade será através da socialização do investimento. Mas, com a breca, tudo isto era proibido pensá-lo no pequeno estado policial em que o Canadá transformou a sede do G-20.

Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia

Responsabilidade social

Zillah Branco *

 

A sociedade capitalista imputava a quem tinha alguma parcela de poder, a responsabilidade pelos que dele dependiam, o que dava, em contrapartida, direitos de proprietário da mão de obra disponível. Esta era uma herança medieval favorável aos antigos senhores de terras que eram donos da população residente, que nada tinha de seu, e usava a força de trabalho na produção, em funções de defesa e construção de infra-estrutura. Era uma responsabilidade teórica e mal definia alguns deveres na manutenção das condições de vida dos servos. Com a Revolução Industrial, já no século XIX, os legisladores começaram a isentar de qualquer responsabilidade social os grandes empresários que não estavam ligados à terra como os antigos “senhores”, mas que contratavam assalariados com quem não tinham laços de dependência relativos à vida privada de cada um. Eram contratados, dispensados, substituídos como peças do mecanismo de produção.

Os benefícios de moradia e alguma estrutura de uso social eram construídos como “generosidade da empresa” que cobrava aluguéis e vendia produtos de consumo descontando nos salários. A construção de casas para as famílias de trabalhadores e o fornecimento de água, caminhos e produtos necessários à sobrevivência e à produção cumpria uma função de gestão e publicidade empresarial (que não era reconhecida pela classe empresarial e seus aliados no poder) e condicionava a dependência dos moradores que cumpriam as ordens patronais prendendo-os ao lugar e às dívidas contraídas desde o primeiro dia de contrato.

Quando as Associações Sindicais começam a defender os direitos mínimos de sobrevivência e de pagamento por horas trabalhadas, os legisladores introduziram diferenças nos conceitos jurídicos de modo a denunciar como “conspiração” as defesas sociais contra os interesses da “empresa” considerada como entidade indispensável à produção de interesse nacional. A produção tinha importância (teórica) para o país (e real interesse social e político da classe mandante) e a população devia colaborar para o seu crescimento e não podia defender direitos pessoais. Esta fórmula transformava a empresa na personagem fundamental sem referir que, na verdade, o interesse defendido era pessoal, do proprietário. Consideravam os crimes contra a propriedade, mas não contra as pessoas (pobres, é claro). Até hoje esta anomalia, do ponto de vista da sociedade humana, persiste como uma peia na democracia pelos desleixos jurídicos.

Para o sistema capitalista, a transformação de empresas e instituições em personagens e sujeitos da história, permitiu que o ser humano dominado perdesse essa característica (de sujeito que produz as transformações) e que os mandantes passassem a lideres e dirigentes por terem o poder de decidir o rumo a ser tomado pela empresa. O “valor” atribuído às pessoas/objetos depende dos produtos (em que participa com a sua mais-valia e o que consome através do mercado) e, assim, é estimulada a capacidade e eficiência pessoal, friamente, contabilmente, sem incorporar o valor humano e menos ainda o valor social do coletivo. No outro extremo da sociedade o valor também é pessoal, correspondendo aos recursos financeiros de que dispõe ou o poder político que move as finanças. O valor da produção é relacionado ao crescimento da riqueza e não ao desenvolvimento da sociedade. Os Estados Unidos radicalizaram estes conceitos a ponto de 70% do seu Produto Interno Bruto corresponder ao consumo de quaisquer produtos.

Hoje no Brasil transformado por 8 anos de democracia (apesar das dificuldade herdadas e das oposições políticas) são discutidas as causas sociais dos problemas humanos mais difíceis de serem ultrapassados, como a violência, a criminalidade, as desordens mentais estimulados pelos desequilíbrios sócio-econômicos e começa-se a mencionar a responsabilidade social dos empresários e dirigentes que constituem a elite cujo poder compete com o dos representantes eleitos pela população. Até mesmo a mídia vê-se obrigada a promover debates e, vez por outra, aparecem estudiosos a sério das questões sociais que introduzem interessantes análises. No dia 14/7 o programa da TV Globo, “entre aspas”, surpreendeu os expectadores com uma discussão lúcida sobre a faladoria que a mídia tem alimentado em torno do crime bárbaro em que está implicado o goleiro Bruno.

O psiquiatra Pedro Forbes e o consultor para assuntos de futebol José Carlos Brumoro contestaram a posição habitual divulgada pela TV que aponta como causa da má formação mental de um jovem com talento reconhecido nacionalmente, a família ou as carências sócio-econômicas na infância. Atribuem, sim, aos agentes empresariais que deram ou acompanharam a formação profissional sem cuidar do caráter e dos impulsos descontrolados do jovem que, como tantos outros, saiu da miséria e de uma condição de vida marginal para ser lançado como milionário que tudo pode na sociedade desregrada onde os valores éticos são considerados caretice e muitos dos heróis são ambiciosos sem escrúpulos. Reclamam a responsabilidade de quem conduz a formação da juventude.

Cabe uma pausa para perguntar quem deve ser responsabilizado por esta selva que engole uma juventude desavisada. A família? O sistema escolar? O Estado ? Os serviços sociais e de segurança? Mas a sociedade tem outras fontes de poder que atuam impunemente: as Igrejas, os Partidos, a Mídia, os Editores, as Grandes Empresas, as Corporações Profissionais etc, etc. Na verdade, todos os que participam na vida social são responsáveis (por isso estamos empenhados em levar os trabalhadores e suas famílias, todo o povo, a participarem ativamente nesta sociedade).

Voltando ao tema discutido através da “Globo”, foi explicado pelo psiquiatra P.Forbes que neste trajeto de vida em que é promovido, sem preparo ético, um jovem pobre a um ídolo milionário que “tudo pode”, há uma quebra da identidade que o deixa a mercê de qualquer influência . E Brumoro explica que hoje os dirigentes do futebol não são, como antes, profissionais, mas sim “colaboradores” financeiros. Cuidam apenas da gestão empresarial eficiente para alcançar sucesso.

E fica a pergunta: que exemplo ético ou moral poderá dar alguém que lida com as finanças visando lucros e crescimento econômico, se não tem qualquer vínculo com as questões humanas da formação do jovem que segue uma carreira profissional? Que ambiente cerca o jovem milionário (inclusive nos clubes e nas várias empresas que o envolvem como mais um objeto em promoção) onde ninguém diz “não” ao ídolo, todos o mimam e bajulam, e alguns aproveitam para introduzir os seus produtos que circulam nos antros do crime organizado? Nada mudou na sociedade capitalista desde a Revolução Industrial quando uns são mandantes da elite e os outros são objetos de produzir riqueza.

Mas, o jovem ídolo caído é um cidadão maior de idade, e deve responder pelos seus atos criminosos mesmo que muita gente que prega a educação seja co-responsável pela sua formação defeituosa. A responsabilidade social só é atribuída aos que não têm poder.
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Inpe revela queda de 47% no desmatamento da Amazônia

 

Há apenas dois meses do período de coleta de dados da taxa anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica queda de 47%. O número é maior do que os 42% do porcentual recorde de queda da devastação da floresta, registrado pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no ano passado.

 

A indicação de nova queda aparece nos dados acumulados durante dez meses — entre agosto de 2009 e maio de 2010 — pelo Deter, o sistema de detecção do desmatamento em tempo real. Divulgado também pelo Inpe, o Deter é usado para orientar a ação de fiscais no combate à devastação da Amazônia.

O sistema Deter já captou desde agosto passado o corte de 1.567 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica. Essa área é superior à cidade de São Paulo. Mas conta apenas uma parte da história do que acontece na região.

Mais rápido e menos preciso, o Deter não capta desmatamentos em áreas com menos de 50 hectares (meio quilômetro quadrado). Vem daí a principal diferença entre o sistema de detecção do desmatamento em tempo real e o Prodes, que mede a taxa oficial, divulgada ao final de cada ano.

No ano passado, o Prodes mediu redução recorde de 42% no ritmo do desmatamento. A área abatida foi a menor desde o início da série histórica do Inpe, em 1988. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram devastados 7.464 quilômetros quadrados de floresta, ou cerca de 5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

No ano anterior, a Amazônia havia perdido quase 13 mil quilômetros quadrados de floresta. Essa queda recorde foi registrada depois de um ano de interrupção num período de queda do abate de árvores, e deve-se sobretudo do aumento de fiscalização e de medidas como o corte de crédito aos desmatadores e o embargo da produção em áreas de abate ilegal de árvores.

Piores anos

De acordo com dados dos satélites do Inpe, os piores anos para a floresta foram 1995, 2004 e 2003, com mais de 25 mil quilômetros quadrados devastados em cada um desses anos.

A nova taxa oficial de desmatamento ainda depende das medições dos satélites nos meses de junho e julho, que tradicionalmente apresentam ritmo acelerado de corte de árvores.

O período mais complicado na preservação da floresta começa com o fim das chuvas na região e segue até outubro. Em maio, o Inpe registrou 11,4% de desmatamento a menos do que no mesmo mês do ano passado, dado de contribuiu para a queda de 47% acumulada desde agosto de 2009.

Queda significativa

A exploração ilegal de madeira no Brasil caiu até 75% na última década, segundo estudo do instituto britânico Chatham House. A redução da exploração ilegal teve reflexo direto no contrabando da matéria-prima. A importação de madeira ilegal pelos principais países consumidores caiu pelo menos 30%, segundo o levantamento.

Os pesquisadores analisaram a cadeia produtiva da madeira ilegal em cinco países tropicais detentores de florestas (Brasil, Indonésia, Camarões, Malásia e Gana), em países consumidores (Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França e Holanda) e na China e no Vietnã, que processam a madeira e fornecem produtos para o mundo industrializado.

Segundo a Chatham House, o desmatamento ilegal na Amazônia caiu 75% na última década, principalmente nos últimos cinco anos, quando o governo intensificou o combate às derrubadas na região e modernizou o sistema de transporte e comércio de madeira, com o Documento de Origem Florestal (DOF).

Falhas apontadas

O relatório elogia o sistema brasileiro de monitoramento de florestas e cita o aumento no número de operações policiais na Amazônia para combater o desmate.

No entanto, os pesquisadores ainda apontam falhas no cumprimento das sanções aplicadas nas infrações ocorridas na floresta amazônica, onde a derrubada ilegal ainda representa de 35% a 70% de todo o desmatamento.

"As penas nem sempre são aplicadas. No Brasil, por exemplo, apenas 2,5% das multas são recolhidas", acrescenta o texto.

Da redação, com agências


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Nova York expulsa professor que viajou a Cuba com alunos

A Prefeitura de Nova York decidiu expulsar do sistema público de ensino da cidade um professor de um instituto de Manhattan que organizou uma viagem a Cuba em 2007 com seus alunos, em desobediência à vetusta proibição que o país mantém contra seus cidadãos, proibidos de visitarem a Ilha.

 

A agência municipal que supervisiona as escolas de Nova York decidiu, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira (21), que Nathan Turner, um professor de história que lecionava no instituto de ensino médio Beacon, no bairro do Upper West Side, nunca mais poderá trabalhar como professor na cidade.

A prefeitura local afirma alega que Turner teria sido o único responsável por fazer com que alguns alunos desse instituto nova-iorquino quebrassem as leis federais que proíbem todos os cidadãos americanos de viajarem à ilha caribenha a partir do território americano.

As autoridades municipais retiram qualquer responsabilidade da direção da escola e acusam Turner pela viagem, ao mesmo tempo que açodadamente descrevem o professor como um "comunista que tinha de ver Fidel Castro mais uma vez antes que morresse".

Turner, que reuniu 30 estudantes e administrou a viagem mediante uma organização religiosa de Nova York, já tinha conseguido viajar para Cuba anteriormente com alunos de Beacon em 2000, 2001, 2003 e 2005, com o consentimento do centro e do Departamento de Educação do Estado de Nova York.

As viagens de estudos entre os Estados Unidos e Cuba são permitidas para alunos em idade universitária, mas o instituto Beacon conseguiu enviar em várias ocasiões seus alunos para Cuba, entre os que em 2005 se encontrava a enteada do agora governador de Nova York, David Paterson, segundo detalha o The New York Times.

Turner foi obrigado a deixar seu trabalho no instituto Beacon em 2008 e se mudou para Nova Orleans, onde dirige um projeto comunitário.

Da redação, com agências


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Astrônomos detectam estrela gigantesca

Um corpo estelar duas vezes maior que os detectados até hoje foi enocntrado por astrônomos, quem consideram que o astro terá vida efêmera. Trata-se da estrela gigante R136a1, que tem massa equivalente a 250 vezes a do nosso Sol e é milhões de vezes mais luminosa, segundo descrição dos autores do estudo da Universidade britânica de Sheffield.

 

Este tipo de corpo estelare perdura por apenas alguns milhões de anos, antes de implodir, explicou Paul Crowther, o cientista principal.

As estrelas podem pertencer a dois conjuntos, os de massa pequena , como nosso Sol e os de grande massa, que chegam a no máximo um por cento na quantidade de estrelas existentes no Universo, assinalou o especialista. O R136a1 é um exemplo de um super peso pesado, exemplificou.

As estrelas de tamanho normal ao apagar-se transformam-se em anãs brancas, enquanto as de massa gigante podem formar buracos negros e estrelas de neutron, destacou.

"Levamos algum tempo para chegar a esta conclusão. Achava-se que esse corpo era grande, mas em realidade é enorme", agregou o especialista de Sheffield.

Uma estrela gigante é uma estrela com uma raio e uma luminosidade maior que uma estrela igual de seqüência principal com a mesma temperatura superficial . As que superam a luminosidade das gigantes se denominam supergigantes e hipergigantes.

Fonte: Prensa Latina

Estudantes apresentam propostas para as eleições deste ano

 

A União Nacional dos Estudantes (UNE) divulgou nesta terça-feira (20) – através do Portal EstudanteNet – um documento com as plataformas políticas dos estudantes para as eleições deste ano.

 

O documento intitulado “Projeto UNE pelo Brasil” foi elaborado através das propostas discutidas durante o 58º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg) da UNE – realizado entre os dias 22 e 25 de abril, no Rio de Janeiro. O evento reuniu mais de 500 lideranças estudantis de todo o país.

"Aprovamos um amplo documento construído com propostas discutidas entre as principais lideranças estudantis de todo o país. Aqui estão as nossas reivindicações, o que acreditamos serem avanços, e o que queremos avançar ainda mais. Vamos apresentar aos presidenciáveis e queremos o compromisso deles com nossas pautas. Esse é o papel da UNE. Exigir que a educação, o esporte, a cultura e muitas outras pautas que envolvam os jovens brasileiros tenham prioridade nessas eleições", explica o presidente da entidade, Augusto Chagas.

Propostas

O documento traça linhas estratégicas para o desenvolvimento do país na visão dos estudantes. Tais como mais educação, mais direitos à juventude, mais cultura, soberania internacional, mais democracia e direitos sociais.

“O Projeto Brasil é muito importante para marcar o posicionamento dos estudantes brasileiros com relação aos rumos que o Brasil deve tomar”, afirma o segundo vice-presidente da UNE, Bruno da Mata.

As propostas tratam, entre outros pontos, da aplicação de 50% do Fundo Social do Pré-sal para Educação, desenvolvimento sustentável com geração de empregos e distribuição de renda, defesa da diversidade cultural, do território nacional, pela democratização da comunicação, além de mais direitos para as mulheres e minorias.

Além do discurso

"Fundamental é fazer com que o projeto dos estudantes brasileiros seja construído através de mobilizações, debates e lutas dentro de cada universidade e nas ruas, apenas dessa maneira conquistaremos a universidade e a sociedade que queremos", pontua o primeiro vice-presidente da UNE, Sandino Patriota.

O Projeto UNE pelo Brasil – conduzido pelo movimento estudantil – afirma ainda que não serão aceitas políticas de retrocesso – com o retorno às privatizações, ao estado mínimo e às políticas de destruição da educação.

O objetivo da UNE é mobilizar a rede estudantil por todo o país na defesa do povo brasileiro e de sua soberania. A entidade – não declara apoio a nenhum a nenhum candidato à Presidência da República – pretende fazer a entrega formal do documento a todos os presidenciáveis.

Da Redação, com informações Portal EstudanteNet

Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho

Sidnei Liberal *

Entramos numa fase de campanha política em que a ordem é bater. Se não tiver como bater, há de se inventar, criar, repetir, requentar. Ainda não conseguimos atravessar o período em que o governo Lula foi invadido por um tal “denuncismo”, travestido de jornalismo investigativo. Irresponsável, politiqueiro, sem porteira, como diria Veríssimo, o pai.


É o que revelam tantos textos pseudojornalísticos, prenhes de “denunciou”, “teria elaborado”, “teria causado”, “foi acusada”, “escândalo”. Quase sempre de fonte suspeita, adversária. Interesses subreptícios, beirando o explícito. São palavras, intenções e ações que não resistem ao menor crivo do jornalismo sério.

O jornalismo sério, para informação da nova geração, é uma prática dos tempos de Barbosa Lima Sobrinho, de Carlos Castelo Branco. Hoje, anêmica, em baixa na bolsa midiática global.

É temerário, pois, auferir credibilidade passiva, acrítica, ao que está ou esteve na rede, nas revistas, jornais, ou foi divulgado por rádio e/ou televisão. Pior ainda os “repassando”, textos que circulam na internet, geralmente de má qualidade e pior credibilidade, no mais das vezes, apócrifos. Como se sabe, textos primários são impressos em papel. E papel tudo aceita. É por isso que o Jornalista tem o cacoete profissional, qual um cheque lista de aeronauta, de não escrever um texto que não responda a maioria das perguntas: quem? o que? quando? onde? e por que? O leitor crítico também busca estas respostas em suas leituras.

O leitor acrítico, não. Ele lê/ouve seu Jabor, Mainardi, Casoy, Cantanhêde, confiando que seus textos não possam ter a menor intenção de distorcer a realidade dos fatos. Não desconfia que cada fato pode ter mais de uma versão, cada uma ditada pelo interesse de quem a escreve e divulga. Ele não percebe que são muitas as armas do convencimento, seja uma aura de santidade, de falsa inquietação moral, seja uma contundência verbal ou a beleza plástica pela qual o texto se apresenta. A acriticidade da leitura e os textos sem o viés profissional têm dominado o panorama político brasileiro desde o “escândalo” do “mensalão”, quando, como dizia Nelson Rodrigues, “os idiotas perderam a modéstia”.

E por que o denuncismo? Nada como práticas deletérias antigas serem expostas em novo tempo e contexto para tentar, como foi largamente feito, desestabilizar a reeleição de um governo que não teve origem na elite e, ao mesmo tempo, teve a ousadia de tentar recuperar parte do que foi surrupiado dos pobres pela burguesia. A burguesia fede, dizia Cazuza. E é mesquinha e vingativa, diríamos. Ela não suporta ver um governo “analfabeto” ousar conduzir sua política exterior com soberania e responsabilidade em relação ao grande capital, aos donos da geopolítica internacional. Um governo que desafiou o usual adesismo automático de antes ao expansionismo do tio Sam.

A grande possibilidade de vitória da candidatura identificada com o atual governo, por um lado, e a defesa de interesses contrariados da nossa elite, personificados na candidatura tucana, por outro, têm produzido frenético retorno da onda denuncista. A grande maioria da imprensa nacional, comprometida com o retorno tucano, começa a mostrar suas ferramentas de fazer tramoia. Desta vez, com maior dose do que o presidente Lula chama de jogo rasteiro. Comprova-o a grosseria, a falta de respeito e o preconceito com que um grande jornal de circulação nacional, a Folha de S. Paulo, pôde estampar, em página nobre do jornal, a candidata Dilma caracterizada de prostituta.

Mais: Fabricação de boatos, dossiês fantasmas, câmaras e teclados atentos a qualquer escorregão. Episódios retirados do contexto e ressaltados como desqualificador da candidata. Como exemplo de tramóia, uma legítima contratação de assessoria jurídica para acompanhamento do processo eleitoral, como o fazem todos os candidatos. A mídia transforma o fato em artimanha da candidatura petista “para burlar” a legislação eleitoral.

No caso dos dossiês, a condenação pode ser pelo fato de ter sido (supostamente ou não) elaborado, vazado, comprado, ou, de outro lado, pelo seu conteúdo. Depende de quem pode ser atingido. Foi por essa tramoia que não mais soubemos o que aconteceu com o caso de mais de 1000 ambulâncias superfaturadas por uma máfia que se instalou no Ministério da Saúde de Serra. Quando o conteúdo supostamente atinge o lado da “base de sustentação”, não interessa discutir a elaboração, o “vazamento”, a compra do dossiê. Discute-se o conteúdo.

Se o assunto é um suposto esquema irregular de financiamento de campanha comandado pelo vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge e, de quebra, uma milionária usina de arapongagem supostamente financiada pelo Ministério da Saúde para bisbilhotar futuros adversários presidenciáveis do candidato Serra, dá-se preferência à criação de uma suposta oferta de um “dossiê” correspondente ao comitê político do lado oposto. Um dos jornais assume a tramoia e forma-se uma retumbante onda em toda a mídia. Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho.
* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna