Análise em rochas confirma que Lua tem água mineral
A Lua não é tão árida como se pensava. Ainda que não se
encontrem oceanos, lagos ou mesmo uma poça em sua superfície, a água
está presente no satélite terrestre. Após a descoberta de gelo em 2009,
agora um grupo de pesquisadores acaba de identificar grupos de
hidroxila em uma rocha lunar.
Segundo o estudo, publicado na
edição desta quinta-feira (22) da revista Nature, a presença do radical
composto por oxigênio e hidrogênio confirma a existência de água em
minerais no satélite terrestre. A rocha analisada foi trazida pelo
programa Apolo.
“A Lua, considerada desprovida de materiais hídricos, tem água”, disse
John Eiler, professor de geologia e geoquímica no Instituto de
Tecnologia da Califórnia (Caltech), um dos autores do estudo.
Os pesquisadores se surpreenderam ao conseguir medir quantidade
significativa de água em um mineral lunar. O grupo encontrou água em
apatita, um mineral do grupo dos fosfatos, dentro de um basalto coletado
por astronautas.
Para ser mais exato, eles não encontraram água, ou seja, a molécula H2O,
mas hidrogênio na forma de um ânion hidroxila (OH-). “Hidróxido é um
parente químico próximo da água. Se aquecermos a apatita, os íons
hidroxila serão ‘decompostos’ e formarão água”, explicou outro autor da
pesquisa, George Rossman, professor de mineralogia da Caltech.
A rocha lunar examinada agora foi trazida em 1971 por astronautas da
Apolo 14. A proposta de procurar água na amostra foi de Larry Taylor,
professor da Universidade do Tennessee, que enviou amostras ao grupo na
Caltech para análise.
Mas a ideia de procurar água em apatita não era nova. “Charles Sclar e
Jon Bauer, da Universidade Lehigh, notaram que algo estava faltando nos
resultados das análises químicas feitas em 1975. Agora, 35 anos depois,
somos capazes de fazer medições adequadas e vimos que eles estavam
certos. A peça que faltava era a hidroxila”, disse Jeremy Boyce, outro
autor do estudo na Caltech.
O grupo investigou a rocha lunar em busca de sinais de hidrogênio,
enxofre e cloro por meio de uma microssonda iônica, capaz de analisar
grãos de materiais com tamanhos muito menores do que a espessura de um
fio de cabelo humano.
As análises mostraram que, em termos da presença de tais elementos, a
apatita lunar é semelhante à encontrada em rochas vulcânicas na Terra.
“Há mais água na Lua do que se imaginava, mas ainda assim em ordens de
magnitude muito inferiores às da Terra”, disse Eiler.
A existência de vulcões na Lua há mais de 4 bilhões de anos deu aos
cientistas a pista de que a água poderia estar presente em minerais
lunares, uma vez que as dinâmicas dos vulcões terrestres são
principalmente dirigidas pela água.
A possibilidade de extrair água no subterrâneo da Lua amplia as chances
de instalar bases humanas no satélite. Levar água da Terra é um dos
principais obstáculos para a permanência do homem na Lua, uma vez que o
custo atual é superior a US$ 50 mil por litro transportado.
Radioatividade em Faluja é mais grave que em Hiroxima
A leitura do fundamentado texto de Layla Anwar deixa o leitor
como uma angústia revoltante e algumas interrogações: Como é possível
no século 21 tamanha barbárie? O que significa direitos humanos para o
poder nos EUA? Como é possível os governos de todos e cada um dos
nossos países colaboraram, e pior, terem relações de subordinação com
criminosos tão cruéis? Cada vez é mais evidente por que razão de os EUA
não aceitaram para seus cidadãos a territorialidade do Tribunal Penal
Internacional.
Esta informação é demasiado
importante para ser somente anotada… e este é apenas um comentário
apressado. Acabei de assistir a uma reposição da Arabic-interview, da
Al-Jazira, conduzida por Ahmad Mansour com o professor Chris Busby. O
professor Busby é Cientista e Director da Green Audit, e conselheiro
científico do Comitê Europeu para os Riscos de Radiação. Para saber mais
sobre o professor Busby e o seu trabalho pode procurar no Google: Chris
Busby Uranium.
Por Layla Anwar
O professor Busby publicou vários artigos sobre radiação, urânio e
contaminação em países como o Líbano, Kosovo, Gaza e, claro, Iraque.
Falar-vos-ei das suas recentes descobertas, que eram o tema do programa
emitido pela Al-Jazira. Como alguns de vocês saberão, Faluja é uma
cidade proibida. Foi sujeita a intensos bombardeios em 2004, com bombas
de urânio empobrecido (DU, do inglês Depleted Uranium) e fósforo branco,
e depois disso transformou-se numa zona interdita — o que significa que
tanto as autoridades-fantoche como as forças invasoras e ocupantes
estadunidenses não permitem que se conduza nenhum estudo em Faluja.
Faluja está cercada. Evidentemente que tanto os estadunidenses como os
iraquianos sabem de alguma coisa que escondem do público. E é aqui que
entra o professor C. Busby. Determinado em ir até ao fundo do que
aconteceu em Faluja em 2004.
Sendo um cientista de renome na sua área, conduziu pesquisas e exames em
Faluja cujos resultados preliminares serão publicados nas próximas
semanas – assim esperamos.
O professor Busby encontrou bastantes obstáculos enquanto desenvolvia o
seu projeto. Nem ele nem nenhum membro da sua equipe foram autorizados a
entrar em Faluja para realizar entrevistas. Logo, na sua opinião,
quando a porta principal se fecha, torna-se necessário encontrar outras
portas para abrir. E foi o que fez.
Conseguiu reunir uma equipe de iraquianos de Faluja para conduzir os
exames por ele. A pesquisa baseou-se em 721 famílias de Faluja, num
total de 4.500 participantes - vivendo em zonas com diferentes níveis de
radiação. Os resultados foram comparados com um grupo padrão - um
exemplo do mesmo número de famílias vivendo numa zona não-radioativa
noutro país árabe. Para esse efeito comparativo, escolheu três outros
países - Kuwait, Egito e Jordânia.
Antes de avançarmos para os resultados preliminares, devo salientar o seguinte:
As autoridades iraquianas ameaçaram todos os envolvidos na
pesquisa, de prisão e detenção, caso cooperassem com os “terroristas”
que os estavam a entrevistar. Por outras palavras, foram ameaçados na
alçada da lei anti-terrorista.
As forças estadunidenses proibiram o professor Busby de obter quaisquer dados, argumentando que Faluja é uma zona insurgente.
Os médicos de Faluja recusaram o pedido para prestarem declarações que
seriam transmitidas diretamente para o programa de Ahmad Mansour, já que
receberam inúmeras ameaças de morte e temem pelas suas vidas.Noutras
palavras, este estudo foi conduzido em condições extremamente difíceis.
Mas foi conduzido.
Como o programa ainda não foi carregado no Youtube, não posso
proporcionar uma transcrição oral absolutamente exata. Mas tomei breves
notas e memorizei o necessário. Farei o possível para apresentar todos
os fatos a que hoje assisti. E então o que é que os EUA e os seus
fantoches iraquianos não querem que o público saiba? E porque é que não
autorizam quaisquer medições dos níveis de radiação em Faluja, e porque é
que proíbem até a AIEA de entrar na cidade? Que é que aconteceu em
Faluja, exatamente? Que tipos de bombas foram usadas? Somente DU ou
outra coisa mais?
Algo que é bastante curioso em Faluja é a subida dramática das
taxas de câncer, num curto espaço de tempo, por exemplo em 2004.
Exemplos fornecidos pelo professor Busby:
Taxa de leucemia infantil aumentou 40 vezes desde 2004 em
comparação com anos anteriores. Comparada com a Jordânia é 38 vezes
maior.
Taxa de câncer da mama cresceu 10 vezes desde 2004
Taxa de câncer linfático cresceu também 10 vezes desde 2004.
Outra curiosidade em Faluja é o dramático aumento nas taxas de
mortalidade infantil. Comparada com dois outros países árabes, como o
Kuwait e o Egito, que não estão contaminados pelas radiações, é este o
retrato:
Mortalidade infantil em Faluja é de 80 crianças por cada 1.000
nascimentos, em comparação com o Kuwait, com 9 crianças por cada 1.000
nascimentos, e com o Egito, com 19 crianças a cada 1.000 (assim, a taxa
de mortalidade infantil no Iraque é 4 vezes maior do que no Egito e 9
vezes maior que no Kuwait).
A terceira particularidade em Faluja é o número de malformações
congênitas que explodiram repentinamente desde 2004. Este é um assunto
que já abordei no passado. Mas não é toda a verdade, hoje aprendi um
pouco mais. A radiação de qualquer dos agentes utilizados pelas forças
de “libertação” não só causaram massivas deformações genéticas como
também, e não menos importante:
Provocaram alterações estruturais em nível celular. Por sua vez,
isto significa que devido às alterações genéticas dos rapazes (falta de
cromossomo X), estes têm mais probabilidades de morrer ao nascer, e as
moças têm mais probabilidades de sobreviver com fortes deformações.
Outro exemplo adiantado pelo professor Busby: antes de 2003, as taxas de
natalidade em Faluja eram as seguintes: 1.050 rapazes para 1.000 moças.
Em 2005, somente 350 rapazes nasceram — o que significa que a maioria
não sobreviveu.
Tal como para as moças, e é aqui que jaz a tragédia, a radiação
causa mudanças no DNA, o que significa que caso sobrevivam, e tentem
reproduzir, darão provavelmente à luz filhas geneticamente desfiguradas e
filhos nados-mortos.
As conclusões anteriores são suportadas noutros estudos
conduzidos nos filhos e netos que sobreviveram a Hiroxima (realizado em
2007) e que evidencia que até a terceira geração exibe malformações
congênitas, incluindo doenças (câncer, problemas cardio-vasculares) numa
taxa de aumento de 50 vezes. Em Tchernobyl, por outro lado, estudos em
animais na mesma área demonstram que os efeitos da radiação modificaram
geneticamente 22 gerações. Em suma, a radiação é transmitida de gene
para gene e tem efeitos cumulativos com o passar do tempo. (não
dissecarei o porquê – as propriedades acumulativas/ memória das células e
a atividade do sistema imunológico – poderá ler mais detalhes sobre
isso quando o artigo do professor Busby for publicado) [1].
Algumas destas deformações em crianças são tão grotescas que,
tanto a Al-Jazira como a BBC (que produziu um documentário sobre a mesma
matéria), recusaram a difusão destas imagens.
Exemplos das deformações que Ahmad Mansour revelou em imagens:
Crianças nascidas sem olhos
Crianças com duas e três cabeças
Crianças nascidas sem orifícios
Crianças nascidas com tumores cerebrais e retinais malignos
Crianças nascidas sem órgãos vitais
Crianças nascidas sem membros ou com excesso dos mesmos
Crianças nascidas sem genitais
Crianças nascidas com severas malformações cardíacas
Mais…
Sobre esse assunto, os médicos em Faluja foram questionados acerca da
relevância para o estudo da comparação das taxas de deformação congênita
no espaço de um mês (comparando-o com o mês anterior). Eis o resultado:
somente no espaço de um mês, os recém-nascidos com malformações
cresceram de uma (mês anterior) para três vezes por dia (mês corrente,
que para efeitos de estudo foi Fevereiro de 2010).
O urânio é introduzido na corrente sanguínea através da ingestão e inalação.
Os níveis massivos de urânio a que a população de Faluja foi sujeita
também concorre para o aumento vertiginoso de câncer nos pulmões, vasos
linfáticos e mama, na população adulta.
Com estas conclusões preliminares, o professor Busby e a sua equipe
concluíram que, em comparação com Hiroxima e Nagasaki, Faluja é pior. E
cito o professor Busby: “A situação em Faluja é horrenda e assustadora,
mais perigosa e grave que Hiroxima…” Uma nota lateral, ou talvez não
Referi que estes eram resultados preliminares. Por quê?
Porque o professor Busby tem sido ameaçado, viu os seus fundos de
pesquisa cortados, portas fechadas, foi ameaçado (tal como outros
cientistas que tentaram conduzir estudos semelhantes nos anos 90, no
Iraque). As implicações políticas são enormes e perigosas para os EUA e
seus homens. Significa que as evidências científicas de crimes de guerra
estão aqui mesmo na ponta dos dedos…
Logo, a vida do professor Busby não tem sido fácil. A pesquisa que
conduziu e produziu com grande dificuldade foi enviada para a revista
científica Lancet, para uma revisão do Comitê Científico. A revista
científica Lancet recusou-o, afirmando que não tinha tempo para o rever.
Os laboratórios que, no passado, cooperaram com ele no teste de
amostras recusaram colaborar quando souberam que as amostras provinham
do Iraque. Só dois laboratórios estão disponíveis para testar as
amostras do material/agente usado em Faluja – e fazem-no a um preço
exorbitante – pela natureza sensível do estudo. Também devido à falta de
verbas, o professor Busby tem cerca de 20 amostras de Faluja para teste
– que guarda cuidadosamente. Aguarda os fundos necessários para testar
as amostras.
Quando questionado por Ahmad Mansour acerca da sua perseverança perante
os enormes obstáculos que tem enfrentado, a sua resposta foi:
“Toda a minha vida procurei a verdade, sou um caçador da verdade nesta
selva de mentiras. Também tenho filhos. As crianças não são só o nosso
futuro, são os portadores das gerações futuras. Nos últimos 50 anos
temos contaminado o planeta (com radiação) e passamos esta herança para
os nossos filhos e netos. Devemos a verdade à população de Faluja.”
Quando questionado como lida com a escassez de fundos e o excesso de portas fechadas na cara, respondeu:
“Confio na boa vontade de pessoas que enviam pequenas quantias, e
acredito verdadeiramente que quanto a porta principal se fecha, outras
se abrem. Quando há vontade, há caminho.”
Tiro-lhe o chapéu, professor Busby.
Insto a que todos que leiam este artigo, todas as pessoas de
consciência, insto a que todos os iraquianos (mexam-se, por amor de
Deus!) e todos os árabes contatem o professor Busby e doem para que as
amostras de Faluja sejam testadas e a verdade venha à tona. Terminarei
este artigo com uma última citação que dedico a este grande homem:
“A verdade tem asas que não podem ser cortadas”
Tenho de terminar. Já é madrugada. Ainda não dormi. Quis colocar este
artigo disponível ao mundo… a questão que levo comigo para a cama - se é
que conseguirei fechar os olhos - é a mesma questão que tenho colocado
desde 2003
Por quê? Que fez o povo iraquiano, que fizeram as crianças iraquianas para merecer isto?
A conclusão é horrível…
Nota do tradutor:
[1] A autora refere-se ao texto “Cancer, Infant Mortality and Birth
Sex-Ratio in Falujah, Iraq 2005–2009”, Chris Busby, Malak Hamdan and
Entesar Ariabi, Int. J. Environ. Res. Public Health 2010, 7, 2828-2837;
doi:10.3390/ijerph7072828.
* Layla Anwar é membro da Arab Woman Blues, uma organização que considera que a sua pátria é a nação árabe.
Fonte: ODiario.info, Tradução de José Pedro Ribeiro
A pouca cultura nossa de cada dia
Luciano Siqueira *
Quando subi ao palco – a contragosto, pois palco em evento
cultural é para os artistas – ao lado do então prefeito João Paulo, no
Marco Zero, numa tarde de domingo, por ocasião de um concerto da
Orquestra Sinfônica do Recife, não contive a emoção ao perceber a
composição do público de cerca de cinco mil pessoas ali reunidas: gente
do nosso povo, boa parte vinda de bairros periféricos, a quem se atribui
(erroneamente) a preferência quase exclusiva por produtos musicais de
baixa qualidade popularizados pela grande mídia.
Cena semelhante pôde presenciar durante os oitos anos em que estivemos
na Prefeitura do Recife. Em espetáculos gratuitos, pois produto cultural
de qualidade custa caro.
A observação vem a propósito de um estudo feito há algum tempo pela
Universidade Federal de Minas Gerais, a propósito do baixo dispêndio do
brasileiro com cultura: apenas 40% dos habitantes de nossas regiões
metropolitanas tem esse item em seu orçamento familiar.
A estimativa se apóia em informações contidas na Pesquisa de Orçamento
Familiar, realizada entre 2002 e 2003 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo focou nove regiões metropolitanas – Rio de Janeiro, São Paulo,
Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e
Belém – e do Distrito Federal e procurou cruzar idade, escolaridade e
renda no consumo de artigos de áudio, vídeo, leitura e arte, além de
ingressos de teatro, shows, cinema, museus e estádios. Também incluiu a
aquisição de instrumentos musicais, aparelhos de televisão, máquinas
fotográficas e gastos com internet e TV por assinatura.
Na interpretação dos pesquisadores, dois fatores principais
determinariam esse perfil de baixo consumo de cultura: preço e nível de
escolaridade.
Pode ser. Quanto a preço cobrado em casas de espetáculo e por produtos
como CDs, DVDs e livros, por exemplo, está longe do alcance da média de
uma população cuja massa salarial é baixa.
Mas quanto à escolaridade, cabe dúvida. Pelo menos pela observação
empírica das bem sucedidas tentativas de ofertar no Recife produtos de
qualidade para grandes públicos formados por extratos mais populares e
de reconhecido baixo nível de instrução formal.
O problema não é simples, é evidente. Reclama inclusive políticas
públicas que convirjam no sentido de baratear custos dos produtos
culturais – algo complexo que implica ação sobre toda a cadeia produtiva
da cultura – e, obviamente, melhorar a qualidade de vida da população
que vive do próprio trabalho, do ponto de vista material e espiritual.
Vale refletir.
* Médico, vereador em Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Promotor Natural e o Devido
Processo Legal
Há mais de vinte anos, exatamente em 20 de maio de 1987, em artigo publicado
no jornal "O Estado de São Paulo", o eminente ministro do Supremo
Tribunal Federal, Sidney Sanches, em exposição feita junto à Subcomissão do
Poder Judiciário e Ministério Público, textualmente afirmou que "o
interesse público será melhor atendido e a Justiça melhor servida se o
Ministério Público, em qualquer de suas funções em juízo, estiver a salvo de
influências externas, seja no âmbito estadual, seja no federal", clamando
por maior autonomia, financeira e administrativa, para que se garanta a seus
membros maior segurança e isenção, em nome do interesse público e da justiça.
Da mesma forma, tornava-se necessária a outorga de garantias, idênticas às
da magistratura, diante de possíveis influências, inclusive de ordem política,
para que seus membros atuem em nome e na defesa da sociedade. Posteriormente, o
constituinte, atendendo aos reclamos dos operadores do direito, estabeleceu, em
cláusula pétrea, que "ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente" (art.5º inciso LIII, da CF). Garantiu-se, assim, ao
acusado, prévio conhecimento de quem o perseguirá em juízo e quem aplicará o
direito ao caso concreto.
Defensor da legalidade, cristalina qualificação do Ministério Público, causa
espécie a posterior designação de Promotor de Justiça, em detrimento do
intitulado Promotor Natural, vedando-se, dessa forma, a discricionária
designação, afastando-se o verdadeiro titular, ferindo-se a regra pétrea,
verdadeira garantia constitucional, porque, conforme doutrina o eminente
jurista Jaques de Camargo Penteado, "governo algum pode interferir no
Ministério Público para obter acusação contra inimigo político, sob pena de
violação dos princípios da igualdade e da ampla defesa. Não basta o controle
jurisdicional posterior, eis que a todo indivíduo deve ser assegurado o direito
de jamais ver seu nome inserido numa denúncia sem supedâneo suficiente. E
o contrário deve igualmente ser analisado. Governo algum pode interferir no
Parquet para obter denúncia que jamais chegará a bom termo ou arquivamento que
deixará de levar à condenação justamente aquele que feriu a ordem
jurídica".
Os notáveis avanços e as novas tarefas atribuídas ao Ministério Público, ao
contrário do que se pode inferir, possuem o condão de permitir a seus membros o
cumprimento desses misteres, em proveito da sociedade, única beneficiada, não
tendo jamais o intuito de estabelecer privilégio a determinada casta de
funcionários.
A concessão de discricionariedade na designação de promotor em detrimento
daquele prévia e legalmente autorizado a propor ação desvirtua e macula o
devido processo legal, voltando-se a tempos pretéritos "em que o
Ministério Público se notabilizou por servir ao governo e aos governantes,
situação esta incompatível com sua atual destinação constitucional",
conforme alerta Hugo Nigro Mazzilli, que aponta o caminho correto:
"justamente para que o Ministério Público possa servir a sociedade e não
aos governantes, precisa ser dotado de garantias substanciais que assegurem a
independência administrativa e funcional - garantias concretas e não palavras
retumbantes na Lei Maior, mas vazias de maior conteúdo prático".
A evolução da instituição, assim, caminha para o respeito às garantias
estabelecidas na Constituição Federal, mas, antes de tudo, são garantias da
própria coletividade e que devem, portanto, ser rigorosamente concretizadas
para que não se constituam em meros enunciados.
Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e 1º Secretário do
Ministério Público Democrático.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
A
mentira na história e a compreensão da crise
O capitalismo atravessa uma crise estrutural para
a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o
sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é
indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que
deforma o real, impondo à humanidade uma Historia deformada , forjada pelo
capitalismo para lhe servir os interesses.
Essa compreensão é extraordinariamente
dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes
transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em
época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as
forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em
verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.
A lógica das crises
No esforço para enganar e confundir os povos, a
primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um
bombardeio midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira,
resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram
a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia,
mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas
adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do
capitalismo, de âmbito mundial. A simulação da surpresa fez parte do
jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança
mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e
anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se
na lógica da História.
Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra
Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia
prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do
capitalismo.
A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha
como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente
conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita,
numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Yalta.
Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se
entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos
assumidos.
A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino
Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar
outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas
anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram
rapidamente retomados.Como os povos estavam sedentos de paz, uma
gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir
no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava
um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente
para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista
sobre uma paz perpétua.
A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O
famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de
Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente
discutido com a Casa Branca. O medo da "barbárie russa" abriu
o caminho à Doutrina Truman e à OTAN. Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de
romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.
Cabe recordar que somente após o afastamento dos
comunistas dos governos da França e da Itália os ministros anticomunistas
deixaram de integrar governos de países do Leste europeu.
É também significativo que os historiadores
norte-americanos e ingleses – com raríssimas exceções - omitam que a
implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa
sem recurso à força armada, enquanto na Grécia – país situado na zona de
influência inglesa - o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta
repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o
poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a
sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas a mídiaocidental ignorou
esses massacres. O tema era incômodo.O tão comentado plano russo de "conquista e
dominação mundiais" não passa de um mito forjado em Washington e Londres
para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como "aliança
defensiva" capaz de se opor "à subversão comunista". E a arma
atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem.
Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara
mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava
desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado
as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a
guerra e promover o "expansionismo comunista" uma sociedade nessas
condições?
A agressividade vinha toda dos EUA que tinham
sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as
suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado
britânico.
A Grã Bretanha, cujo império principiava a
desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao
aliado russo, antes freqüentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos
jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina
de Ferro, meses antes do final da guerra tenha afirmado: "Não conheço
outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o
governo soviéticorusso. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma
discussão sobre a boa fé russa". (citado por Isaac Deutscher em Ironias
da História, pág. 184; Ed. Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido
pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o
mundo…
Mesma hipocrisia numa crise muito diferente
Desagregada a União Soviética e implantado o
capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar
inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados.
Surgiu assim "o eixo do mal". Pequenos países como Cuba, o Iraque e a
Coréia do
Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram
apresentados como "ameaça à segurança" dos EUA e dos seus aliados. Um
homem, Osama Bin Laden, foi guindado a "inimigo número um" dos EUA. O
Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e
ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar
desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é
responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina
midiática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre "as armas de
destruição massiva" que Saddam Hussein teria acumulado para agredir a
humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de
Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror.
O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.
O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal
como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer
que, afinal, as tais armas de destruição massiva não existiam.
Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA
agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da história.
Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das
mais importantes civilizações criadas pela humanidade é a mais recente ameaça à
"segurança dos EUA". A Agência Internacional de Energia Atômica não
conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas
instalações nucleares com o objetivo de produzir armas nucleares. Com o aval do
Brasil e da Turquia , o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu
urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de
impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o
presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se
ele não se submeter a todas as suas exigências.
Isto acontece quando Obama se viu forçado a
demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na seqüência de uma
entrevista na qual o general McChrystal - aliás, um criminoso de guerra (vide
artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) - criticou duramente o
presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na
região.
Entre a farsa e a tragédia
Diariamente, a grande mídia norte-americana repete
que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela
administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se
inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica.É suficiente ler os artigos sobre o tema de
Prêmios Nobel da Economia (aliás, empenhados na salvação do capitalismo), como
Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo, para se compreender que a
situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se. Não é a taxa do PIB
que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas
financeira.
Os discursos do presidente contribuem para
confundir os cidadãos em vez de esclarecê-los. Persistem contradições entre a
Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman
das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da administração
que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.
A retórica presidencial não pode esconder que a
estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por
uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais. As empresas acumulam novamente lucros fabulosos
enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os
banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios
principescos.
O grande capital resiste, aliás, com o apoio
firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria
tímidas - como a reforma do sistema de saúde - que a administração adota (ver
artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).É cada vez mais transparente que estamos perante
uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria
da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia
como saída "salvadora" é muito forte, mas no próprio Pentágono
generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão
terrestre está excluída e o bombardeio com armas convencionais de alvos
estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca onda de
anti-americanisno no mundo muçulmano.
O recurso a armas nucleares táticas é a opção de
uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades
internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União
Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio
de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a
extinção da humanidade.Retomo assim a afirmação do início, tema desta
reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da
crise de civilização que o homem enfrenta.
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
Alejandro Nadal: A caminho da Grande Depressão?
A crise global não dá sinais de se resolver. Os sobressaltos
nos mercados financeiros e as más notícias nos setores reais da
economia indicam que as coisas poderiam piorar. Alguns analistas já se
questionam abertamente se o mundo se encaminha para uma réplica da
Grande Depressão dos anos 30.
Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa
Não é uma questão alarmista. A
realidade é que as raízes desta crise são muito profundas e encontram-se
na própria essência das economias capitalistas. O vulcão que entrou em
erupção em 2008 é a parte visível de um desastre que tem vindo a ser
cozinhado desde há mais de 30 anos.
Convém recordar alguns traços da evolução da economia estadunidense para
compreender que a recuperação vai requerer algo mais que um simples
estímulo fiscal. As lições são importantes para todo o mundo.
Nos Estados Unidos, a crise atual não se originou pura e simplesmente no
mercado das hipotecas lixo. As origens encontram-se na compressão
salarial desde os anos 70. Esse fenômeno pôs fim à chamada fase dourada
do capitalismo (1945-1975) marcada por taxas de crescimento sustentado,
por remunerações em alta e uma redução notória na desigualdade social.
Em contrapartida, a partir dos anos 70, o crescimento reduziu-se, a
massa salarial caiu e a desigualdade aumentou.
A única forma de manter níveis adequados de procura agregada foi através
do endividamento que começou a crescer desmedidamente nos anos 70. Esse
processo culminou com o desenfreado crescimento de passivos do setor
privado nos últimos 15 anos nos Estados Unidos. Hoje, o panorama não é
nada tranquilizador.
Um estudo recente revela que, em média, a contribuição do endividamento
para a procura agregada nesse país durante a década passada atingiu 15
por cento anuais e culminou em 1998 com 22 por cento. Ou seja, quase uma
quarta parte da procura agregada nos Estados Unidos foi financiada com
dívida em 1998. Em contraste, na década de 20, a dívida só financiou 8,7
por cento da procura agregada, em média.
O descalabro atual é ainda mais preocupante. Nos últimos 30 meses, a
descida no nível de endividamento é de 42 por cento. Isto é, o
desendividamento tem contribuição negativa para a procura agregada,
muito superior ao que aconteceu entre 1929 e 1931 (queda de 12,5 por
cento pelo desendividamento).
E esse ritmo de desendividamento não parece estar a diminuir nestes
dias. A única coisa que pôde mitigar esse brutal processo de contracção
da procura agregada foi o estímulo fiscal que agora está a esgotar-se.
Neste contexto, o apelo à redução do déficit fiscal no comunicado final
do G-20 de Toronto é uma estupidez. Desde 1970, nem a procura, nem o
emprego cresceram nos Estados Unidos sem a ajuda de uma procura agregada
impulsionada pelo endividamento.
Enquanto os assalariados tratavam de compensar o estrangulamento
salarial e a perda de poder de compra com mais dívida, o grande capital
deslocou as suas operações para países com baixos custos salariais. O
processo culminou com o traslado de centenas de milhares de empregos
para a China.
Em três décadas, o mundo foi testemunha do desmantelamento do tecido
industrial nos Estados Unidos. Alguns consideram que se tratou de um
processo associado à evolução normal de uma economia capitalista. Mas a
verdade é que as grandes companhias multinacionais que beneficiaram com o
translado das suas operações manufatureiras para a China não se
desindustrializaram, simplesmente mudaram de domicílio.
Nos Estados Unidos ficaram os que pensam que o melhor desse país é a sua
capacidade de fazer inovações financeiras. Um resultado deste processo
foi o desequilíbrio mundial entre os maiores países superavitários
(China) e deficitários (Estados Unidos). Em boa medida, a incapacidade
da economia estadunidense para gerar empregos deve-se precisamente ao
desmantelamento do tecido industrial ao longo dos últimos 25 anos.
No Congresso, em Washington, quase ninguém quer outro pacote de estímulo
para a economia estadunidense. Por isso, muitos agora pensam que haverá
uma recaída e o gráfico da recessão terá a forma de um W. Mas outros
pensam que poderia ter a forma de um L muito, mas muito alongado. Isto
é, a economia dos Estados Unidos permaneceria no colapso vários anos.
Face a esta paisagem, o G-20 pronunciou-se por manter e aprofundar o
modelo econômico neoliberal no mundo. Como se o único futuro possível
fosse o mesmo laboratório de onde saiu a crise atual.
Deveriam ler o último capítulo da Teoria Geral de Keynes, em especial a
passagem na qual adverte que talvez o único meio de manter o pleno
emprego e diminuir a desigualdade será através da socialização do
investimento. Mas, com a breca, tudo isto era proibido pensá-lo no
pequeno estado policial em que o Canadá transformou a sede do G-20.
Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia
Responsabilidade social
Zillah Branco *
A sociedade capitalista imputava a quem tinha alguma
parcela de poder, a responsabilidade pelos que dele dependiam, o que
dava, em contrapartida, direitos de proprietário da mão de obra
disponível. Esta era uma herança medieval favorável aos antigos senhores
de terras que eram donos da população residente, que nada tinha de
seu, e usava a força de trabalho na produção, em funções de defesa e
construção de infra-estrutura. Era uma responsabilidade teórica e mal
definia alguns deveres na manutenção das condições de vida dos servos.
Com a Revolução Industrial, já no século XIX, os legisladores começaram
a isentar de qualquer responsabilidade social os grandes empresários
que não estavam ligados à terra como os antigos “senhores”, mas que
contratavam assalariados com quem não tinham laços de dependência
relativos à vida privada de cada um. Eram contratados, dispensados,
substituídos como peças do mecanismo de produção.
Os benefícios de moradia e alguma estrutura de uso social eram construídos como “generosidade da empresa”
que cobrava aluguéis e vendia produtos de consumo descontando nos
salários. A construção de casas para as famílias de trabalhadores e o
fornecimento de água, caminhos e produtos necessários à sobrevivência e
à produção cumpria uma função de gestão e publicidade empresarial (que
não era reconhecida pela classe empresarial e seus aliados no poder) e
condicionava a dependência dos moradores que cumpriam as ordens
patronais prendendo-os ao lugar e às dívidas contraídas desde o primeiro
dia de contrato.
Quando as Associações Sindicais começam a defender os direitos
mínimos de sobrevivência e de pagamento por horas trabalhadas, os
legisladores introduziram diferenças nos conceitos jurídicos de modo a
denunciar como “conspiração” as defesas sociais contra os interesses da “empresa” considerada
como entidade indispensável à produção de interesse nacional. A
produção tinha importância (teórica) para o país (e real interesse
social e político da classe mandante) e a população devia colaborar
para o seu crescimento e não podia defender direitos pessoais. Esta
fórmula transformava a empresa na personagem fundamental sem referir
que, na verdade, o interesse defendido era pessoal, do proprietário.
Consideravam os crimes contra a propriedade, mas não contra as pessoas (pobres, é claro). Até hoje esta anomalia, do ponto de vista da sociedadehumana, persiste como uma peia na democracia pelos desleixos jurídicos.
Para o sistema capitalista, a transformação de empresas e
instituições em personagens e sujeitos da história, permitiu que o ser
humano dominado perdesse essa característica (de sujeito que produz as
transformações) e que os mandantes passassem a lideres e dirigentes por
terem o poder de decidir o rumo a ser tomado pela empresa. O “valor”
atribuído às pessoas/objetos depende dos produtos (em que participa com a
sua mais-valia e o que consome através do mercado) e, assim, é
estimulada a capacidade e eficiência pessoal, friamente, contabilmente,
sem incorporar o valor humano e menos ainda o valor social do
coletivo. No outro extremo da sociedade o valor também é pessoal,
correspondendo aos recursos financeiros de que dispõe ou o poder
político que move as finanças. O valor da produção é relacionado ao
crescimento da riqueza e não ao desenvolvimento da sociedade. Os
Estados Unidos radicalizaram estes conceitos a ponto de 70% do seu
Produto Interno Bruto corresponder ao consumo de quaisquer produtos.
Hoje no Brasil transformado por 8 anos de democracia (apesar das
dificuldade herdadas e das oposições políticas) são discutidas as
causas sociais dos problemas humanos mais difíceis de serem
ultrapassados, como a violência, a criminalidade, as desordens mentais
estimulados pelos desequilíbrios sócio-econômicos e começa-se a
mencionar a responsabilidade social dos empresários e
dirigentes que constituem a elite cujo poder compete com o dos
representantes eleitos pela população. Até mesmo a mídia vê-se obrigada
a promover debates e, vez por outra, aparecem estudiosos a sério das
questões sociais que introduzem interessantes análises. No dia 14/7 o
programa da TV Globo, “entre aspas”, surpreendeu os expectadores com
uma discussão lúcida sobre a faladoria que a mídia tem alimentado em
torno do crime bárbaro em que está implicado o goleiro Bruno.
O
psiquiatra Pedro Forbes e o consultor para assuntos de futebol José
Carlos Brumoro contestaram a posição habitual divulgada pela TV que
aponta como causa da má formação mental de um jovem com talento
reconhecido nacionalmente, a família ou as carências sócio-econômicas
na infância. Atribuem, sim, aos agentes empresariais que deram ou
acompanharam a formação profissional sem cuidar do caráter e dos
impulsos descontrolados do jovem que, como tantos outros, saiu da
miséria e de uma condição de vida marginal para ser lançado como milionário que tudo pode na sociedade desregrada onde os valores éticos são considerados caretice e muitos dos heróis são ambiciosos sem escrúpulos. Reclamam a responsabilidade de quem conduz a formação da juventude.
Cabe uma pausa para perguntar quem deve ser responsabilizado por
esta selva que engole uma juventude desavisada. A família? O sistema
escolar? O Estado ? Os serviços sociais e de segurança? Mas a sociedade
tem outras fontes de poder que atuam impunemente: as Igrejas, os
Partidos, a Mídia, os Editores, as Grandes Empresas, as Corporações
Profissionais etc, etc. Na verdade, todos os que participam na vida
social são responsáveis (por isso estamos empenhados em levar os
trabalhadores e suas famílias, todo o povo, a participarem ativamente
nesta sociedade).
Voltando ao tema discutido através da “Globo”, foi explicado pelo
psiquiatra P.Forbes que neste trajeto de vida em que é promovido, sem
preparo ético, um jovem pobre a um ídolo milionário que “tudo pode”, há uma quebra da identidade que o deixa a mercê de qualquer influência . E Brumoro explica que hoje os
dirigentes do futebol não são, como antes, profissionais, mas sim
“colaboradores” financeiros. Cuidam apenas da gestão empresarial
eficiente para alcançar sucesso.
E fica a pergunta: que exemplo ético ou moral poderá dar alguém que
lida com as finanças visando lucros e crescimento econômico, se não tem
qualquer vínculo com as questões humanas da formação do jovem que
segue uma carreira profissional? Que ambiente cerca o jovem milionário
(inclusive nos clubes e nas várias empresas que o envolvem como mais um
objeto em promoção) onde ninguém diz “não” ao ídolo, todos o mimam e
bajulam, e alguns aproveitam para introduzir os seus produtos que
circulam nos antros do crime organizado? Nada mudou na sociedade
capitalista desde a Revolução Industrial quando uns são mandantes da
elite e os outros são objetos de produzir riqueza.
Mas, o jovem ídolo caído é um cidadão maior de idade, e deve
responder pelos seus atos criminosos mesmo que muita gente que prega a
educação seja co-responsável pela sua formação defeituosa. A
responsabilidade social só é atribuída aos que não têm poder.
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Inpe revela queda de 47% no desmatamento da Amazônia
Há apenas dois meses do período de coleta de dados da taxa
anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica
queda de 47%. O número é maior do que os 42% do porcentual recorde de
queda da devastação da floresta, registrado pelos satélites do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no ano passado.
A indicação de nova queda aparece
nos dados acumulados durante dez meses — entre agosto de 2009 e maio de
2010 — pelo Deter, o sistema de detecção do desmatamento em tempo real.
Divulgado também pelo Inpe, o Deter é usado para orientar a ação de
fiscais no combate à devastação da Amazônia.
O sistema Deter já captou desde agosto passado o corte de 1.567
quilômetros quadrados da Floresta Amazônica. Essa área é superior à
cidade de São Paulo. Mas conta apenas uma parte da história do que
acontece na região.
Mais rápido e menos preciso, o Deter não capta desmatamentos em áreas
com menos de 50 hectares (meio quilômetro quadrado). Vem daí a principal
diferença entre o sistema de detecção do desmatamento em tempo real e o
Prodes, que mede a taxa oficial, divulgada ao final de cada ano.
No ano passado, o Prodes mediu redução recorde de 42% no ritmo do
desmatamento. A área abatida foi a menor desde o início da série
histórica do Inpe, em 1988. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram
devastados 7.464 quilômetros quadrados de floresta, ou cerca de 5 vezes o
tamanho da cidade de São Paulo.
No ano anterior, a Amazônia havia perdido quase 13 mil quilômetros
quadrados de floresta. Essa queda recorde foi registrada depois de um
ano de interrupção num período de queda do abate de árvores, e deve-se
sobretudo do aumento de fiscalização e de medidas como o corte de
crédito aos desmatadores e o embargo da produção em áreas de abate
ilegal de árvores. Piores anos
De acordo com dados dos satélites do Inpe, os piores anos para a
floresta foram 1995, 2004 e 2003, com mais de 25 mil quilômetros
quadrados devastados em cada um desses anos.
A nova taxa oficial de desmatamento ainda depende das medições dos
satélites nos meses de junho e julho, que tradicionalmente apresentam
ritmo acelerado de corte de árvores.
O período mais complicado na preservação da floresta começa com o fim
das chuvas na região e segue até outubro. Em maio, o Inpe registrou
11,4% de desmatamento a menos do que no mesmo mês do ano passado, dado
de contribuiu para a queda de 47% acumulada desde agosto de 2009. Queda significativa
A exploração ilegal de madeira no Brasil caiu até 75% na última década,
segundo estudo do instituto britânico Chatham House. A redução da
exploração ilegal teve reflexo direto no contrabando da matéria-prima. A
importação de madeira ilegal pelos principais países consumidores caiu
pelo menos 30%, segundo o levantamento.
Os pesquisadores analisaram a cadeia produtiva da madeira ilegal em
cinco países tropicais detentores de florestas (Brasil, Indonésia,
Camarões, Malásia e Gana), em países consumidores (Estados Unidos,
Japão, Reino Unido, França e Holanda) e na China e no Vietnã, que
processam a madeira e fornecem produtos para o mundo industrializado.
Segundo a Chatham House, o desmatamento ilegal na Amazônia caiu 75% na
última década, principalmente nos últimos cinco anos, quando o governo
intensificou o combate às derrubadas na região e modernizou o sistema de
transporte e comércio de madeira, com o Documento de Origem Florestal
(DOF). Falhas apontadas
O relatório elogia o sistema brasileiro de monitoramento de florestas e
cita o aumento no número de operações policiais na Amazônia para
combater o desmate.
No entanto, os pesquisadores ainda apontam falhas no cumprimento das
sanções aplicadas nas infrações ocorridas na floresta amazônica, onde a
derrubada ilegal ainda representa de 35% a 70% de todo o desmatamento.
"As penas nem sempre são aplicadas. No Brasil, por exemplo, apenas 2,5% das multas são recolhidas", acrescenta o texto.
Da redação, com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Nova York expulsa professor que viajou a Cuba com alunos
A Prefeitura de Nova York decidiu expulsar do sistema público
de ensino da cidade um professor de um instituto de Manhattan que
organizou uma viagem a Cuba em 2007 com seus alunos, em desobediência à
vetusta proibição que o país mantém contra seus cidadãos, proibidos de
visitarem a Ilha.
A agência municipal que supervisiona
as escolas de Nova York decidiu, segundo relatório divulgado nesta
quarta-feira (21), que Nathan Turner, um professor de história que
lecionava no instituto de ensino médio Beacon, no bairro do Upper West
Side, nunca mais poderá trabalhar como professor na cidade.
A prefeitura local afirma alega que Turner teria sido o único
responsável por fazer com que alguns alunos desse instituto
nova-iorquino quebrassem as leis federais que proíbem todos os cidadãos
americanos de viajarem à ilha caribenha a partir do território
americano.
As autoridades municipais retiram qualquer responsabilidade da direção
da escola e acusam Turner pela viagem, ao mesmo tempo que açodadamente
descrevem o professor como um "comunista que tinha de ver Fidel Castro
mais uma vez antes que morresse".
Turner, que reuniu 30 estudantes e administrou a viagem mediante uma
organização religiosa de Nova York, já tinha conseguido viajar para Cuba
anteriormente com alunos de Beacon em 2000, 2001, 2003 e 2005, com o
consentimento do centro e do Departamento de Educação do Estado de Nova
York.
As viagens de estudos entre os Estados Unidos e Cuba são permitidas para
alunos em idade universitária, mas o instituto Beacon conseguiu enviar
em várias ocasiões seus alunos para Cuba, entre os que em 2005 se
encontrava a enteada do agora governador de Nova York, David Paterson,
segundo detalha o The New York Times.
Turner foi obrigado a deixar seu trabalho no instituto Beacon em 2008 e
se mudou para Nova Orleans, onde dirige um projeto comunitário.
Da redação, com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia
Astrônomos detectam estrela gigantesca
Um corpo estelar duas vezes maior que os detectados até hoje
foi enocntrado por astrônomos, quem consideram que o astro terá vida
efêmera. Trata-se da estrela gigante R136a1, que tem massa equivalente a
250 vezes a do nosso Sol e é milhões de vezes mais luminosa, segundo
descrição dos autores do estudo da Universidade britânica de Sheffield.
Este tipo de corpo estelare perdura
por apenas alguns milhões de anos, antes de implodir, explicou Paul
Crowther, o cientista principal.
As estrelas podem pertencer a dois conjuntos, os de massa pequena , como
nosso Sol e os de grande massa, que chegam a no máximo um por cento na
quantidade de estrelas existentes no Universo, assinalou o especialista.
O R136a1 é um exemplo de um super peso pesado, exemplificou.
As estrelas de tamanho normal ao apagar-se transformam-se em anãs
brancas, enquanto as de massa gigante podem formar buracos negros e
estrelas de neutron, destacou.
"Levamos algum tempo para chegar a esta conclusão. Achava-se que esse
corpo era grande, mas em realidade é enorme", agregou o especialista de
Sheffield.
Uma estrela gigante é uma estrela com uma raio e uma luminosidade maior
que uma estrela igual de seqüência principal com a mesma temperatura
superficial . As que superam a luminosidade das gigantes se denominam
supergigantes e hipergigantes.
Fonte: Prensa Latina
Estudantes apresentam propostas para as eleições deste ano
A União Nacional dos Estudantes (UNE) divulgou nesta
terça-feira (20) – através do Portal EstudanteNet – um documento com as
plataformas políticas dos estudantes para as eleições deste ano.
O documento intitulado “Projeto UNE
pelo Brasil” foi elaborado através das propostas discutidas durante o
58º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg) da UNE – realizado
entre os dias 22 e 25 de abril, no Rio de Janeiro. O evento reuniu mais
de 500 lideranças estudantis de todo o país.
"Aprovamos um amplo documento construído com propostas discutidas entre
as principais lideranças estudantis de todo o país. Aqui estão as nossas
reivindicações, o que acreditamos serem avanços, e o que queremos
avançar ainda mais. Vamos apresentar aos presidenciáveis e queremos o
compromisso deles com nossas pautas. Esse é o papel da UNE. Exigir que a
educação, o esporte, a cultura e muitas outras pautas que envolvam os
jovens brasileiros tenham prioridade nessas eleições", explica o
presidente da entidade, Augusto Chagas. Propostas
O documento traça linhas estratégicas para o desenvolvimento do país na
visão dos estudantes. Tais como mais educação, mais direitos à
juventude, mais cultura, soberania internacional, mais democracia e
direitos sociais.
“O Projeto Brasil é muito importante para marcar o posicionamento dos
estudantes brasileiros com relação aos rumos que o Brasil deve tomar”,
afirma o segundo vice-presidente da UNE, Bruno da Mata.
As propostas tratam, entre outros pontos, da aplicação de 50% do Fundo
Social do Pré-sal para Educação, desenvolvimento sustentável com geração
de empregos e distribuição de renda, defesa da diversidade cultural, do
território nacional, pela democratização da comunicação, além de mais
direitos para as mulheres e minorias. Além do discurso
"Fundamental é fazer com que o projeto dos estudantes brasileiros seja
construído através de mobilizações, debates e lutas dentro de cada
universidade e nas ruas, apenas dessa maneira conquistaremos a
universidade e a sociedade que queremos", pontua o primeiro
vice-presidente da UNE, Sandino Patriota.
O Projeto UNE pelo Brasil – conduzido pelo movimento estudantil – afirma
ainda que não serão aceitas políticas de retrocesso – com o retorno às
privatizações, ao estado mínimo e às políticas de destruição da
educação.
O objetivo da UNE é mobilizar a rede estudantil por todo o país na
defesa do povo brasileiro e de sua soberania. A entidade – não declara
apoio a nenhum a nenhum candidato à Presidência da República – pretende
fazer a entrega formal do documento a todos os presidenciáveis.
Da Redação, com informações Portal EstudanteNet
Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho
Sidnei Liberal *
Entramos numa fase de campanha política em que a ordem é
bater. Se não tiver como bater, há de se inventar, criar, repetir,
requentar. Ainda não conseguimos atravessar o período em que o governo
Lula foi invadido por um tal “denuncismo”, travestido de jornalismo
investigativo. Irresponsável, politiqueiro, sem porteira, como diria
Veríssimo, o pai.
É o que revelam tantos textos pseudojornalísticos, prenhes
de “denunciou”, “teria elaborado”, “teria causado”, “foi acusada”,
“escândalo”. Quase sempre de fonte suspeita, adversária. Interesses
subreptícios, beirando o explícito. São palavras, intenções e ações que
não resistem ao menor crivo do jornalismo sério.
O jornalismo sério, para informação da nova geração, é uma prática dos
tempos de Barbosa Lima Sobrinho, de Carlos Castelo Branco. Hoje,
anêmica, em baixa na bolsa midiática global.
É temerário, pois, auferir credibilidade passiva, acrítica, ao que está
ou esteve na rede, nas revistas, jornais, ou foi divulgado por rádio
e/ou televisão. Pior ainda os “repassando”, textos que circulam na
internet, geralmente de má qualidade e pior credibilidade, no mais das
vezes, apócrifos. Como se sabe, textos primários são impressos em papel.
E papel tudo aceita. É por isso que o Jornalista tem o cacoete
profissional, qual um cheque lista de aeronauta, de não escrever um
texto que não responda a maioria das perguntas: quem? o que? quando?
onde? e por que? O leitor crítico também busca estas respostas em suas
leituras.
O leitor acrítico, não. Ele lê/ouve seu Jabor, Mainardi, Casoy,
Cantanhêde, confiando que seus textos não possam ter a menor intenção de
distorcer a realidade dos fatos. Não desconfia que cada fato pode ter
mais de uma versão, cada uma ditada pelo interesse de quem a escreve e
divulga. Ele não percebe que são muitas as armas do convencimento, seja
uma aura de santidade, de falsa inquietação moral, seja uma contundência
verbal ou a beleza plástica pela qual o texto se apresenta. A
acriticidade da leitura e os textos sem o viés profissional têm dominado
o panorama político brasileiro desde o “escândalo” do “mensalão”,
quando, como dizia Nelson Rodrigues, “os idiotas perderam a modéstia”.
E por que o denuncismo? Nada como práticas deletérias antigas serem
expostas em novo tempo e contexto para tentar, como foi largamente
feito, desestabilizar a reeleição de um governo que não teve origem na
elite e, ao mesmo tempo, teve a ousadia de tentar recuperar parte do que
foi surrupiado dos pobres pela burguesia. A burguesia fede, dizia
Cazuza. E é mesquinha e vingativa, diríamos. Ela não suporta ver um
governo “analfabeto” ousar conduzir sua política exterior com soberania e
responsabilidade em relação ao grande capital, aos donos da geopolítica
internacional. Um governo que desafiou o usual adesismo automático de
antes ao expansionismo do tio Sam.
A grande possibilidade de vitória da candidatura identificada com o
atual governo, por um lado, e a defesa de interesses contrariados da
nossa elite, personificados na candidatura tucana, por outro, têm
produzido frenético retorno da onda denuncista. A grande maioria da
imprensa nacional, comprometida com o retorno tucano, começa a mostrar
suas ferramentas de fazer tramoia. Desta vez, com maior dose do que o
presidente Lula chama de jogo rasteiro. Comprova-o a grosseria, a falta
de respeito e o preconceito com que um grande jornal de circulação
nacional, a Folha de S. Paulo, pôde estampar, em página nobre do jornal, a candidata Dilma caracterizada de prostituta.
Mais: Fabricação de boatos, dossiês fantasmas, câmaras e teclados
atentos a qualquer escorregão. Episódios retirados do contexto e
ressaltados como desqualificador da candidata. Como exemplo de tramóia,
uma legítima contratação de assessoria jurídica para acompanhamento do
processo eleitoral, como o fazem todos os candidatos. A mídia transforma
o fato em artimanha da candidatura petista “para burlar” a legislação
eleitoral.
No caso dos dossiês, a condenação pode ser pelo fato de ter sido
(supostamente ou não) elaborado, vazado, comprado, ou, de outro lado,
pelo seu conteúdo. Depende de quem pode ser atingido. Foi por essa
tramoia que não mais soubemos o que aconteceu com o caso de mais de 1000
ambulâncias superfaturadas por uma máfia que se instalou no Ministério
da Saúde de Serra. Quando o conteúdo supostamente atinge o lado da “base
de sustentação”, não interessa discutir a elaboração, o “vazamento”, a
compra do dossiê. Discute-se o conteúdo.
Se o assunto é um suposto esquema irregular de financiamento de campanha
comandado pelo vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge e, de quebra, uma
milionária usina de arapongagem supostamente financiada pelo Ministério
da Saúde para bisbilhotar futuros adversários presidenciáveis do
candidato Serra, dá-se preferência à criação de uma suposta oferta de um
“dossiê” correspondente ao comitê político do lado oposto. Um dos
jornais assume a tramoia e forma-se uma retumbante onda em toda a mídia.
Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho.
* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
As memórias balsâmicas podem minorar a insanidade moral?
Fatima Oliveira *
Diante do meu interesse sobre a capacidade de enfrentar
problemas e resolvê-los sem gerar novos conflitos, e até que ponto a
agressividade destruidora impede resolvê-los "numa boa", sem mortos e
feridos, uma amiga disse que ando filosofando demais. Ela tem alguma
razão. São perguntas filosóficas, mas ancoradas também em outros naipes.
Meu
interesse é focado em pessoas desprovidas do "locus da moralidade", que
a psiquiatria catalogava como "insanité sans délire" (insanidade
moral), hoje sociopatia ou psicopatia - uma condição neurodegenerativa,
que atinge 1% a 3% da população, "intratável, incurável e irreversível" -
o mesmo que Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), ou
Distúrbio da Personalidade Antissocial (DPAS), para maiores de 18 anos, e
que na infância é diagnosticado como um dos "transtornos disruptivos do
comportamento", atitudes antissociais: Transtorno Desafiador e de
Oposição; Transtorno de Conduta; e Transtorno de Personalidade
Antissocial.
Leiga em psiquiatria, prefiro a antiga terminologia "insanidade moral",
que expressa bem a condição de TPAS/DPAS: insanos morais irrecuperáveis,
pois não há ex-sociopata; não têm dó de ninguém; possuem memória
afetiva distorcida: mesmo criados em ambientes emocionalmente saudáveis,
sentem-se lesados. Compreendê-los exige mergulhar num mundo estranho,
pois nascem incapazes de incorporar discernimento moral e habilidades
sociais para solucionar problemas de modo ético e não conseguem sair da
borrasca para um céu de brigadeiro, pois não possuem o porto seguro das
memórias afetivas.
Rememorar a minha infância é balsâmico. Ouço vovó mandando entrar quando
a brincadeira de roda estava na melhor parte: "Chispa! Pra dentro. Lave
os pés e escove os dentes". Ordem inegociável. Depois de "asseada", eu
corria para o colo do meu avô, que àquela hora sempre estava sentado na
calçada "pegando uma fresca". Esperneava quando ele dizia: "Pega a
menina Maria, já dormiu...". Ele não me levava até o quarto, pois não
entrava no quarto das meninas. Era uma conduta moral lá das brenhas do
sertão. Adulta, perguntei à vovó por que aquilo. Respondeu que "não se
usava pai entrar no quarto das filhas, depois de grandes. Era o
costume".
É doce ouvir: "Vamos ler a revista nova do papai?" Abria onde queria que
eu lesse; e, se eu errasse a entonação, ou engolisse a pontuação, ele
corrigia: "Lê de novo! Agora sem engolir as vírgulas e os pontos".
Transporto-me para a máquina de costura da mamãe, onde eu surrupiava
pedaços de pano para fazer roupas de boneca e, desgraçadamente, sempre
quebrava a agulha e saía de fininho... Quando ela via a agulha quebrada,
logo dizia: "A que horas aquela traquina passou por aqui?".
Insanos morais não guardam os carinhos recebidos e sentem que todos lhes
devem tudo! Seria eficaz uma terapia que os ensine a cultivarem
memórias balsâmicas? A criança que vive numa família (biológica ou
social) sem bagagem emocional para suprir carinho e outras formas de
afetividade pode ter dificuldades de aprender habilidades sociais para
resolver problemas, mas não chega à "insanidade moral", apesar das
evidências de que abandono e outras manifestações de desamor na infância
estão estreitamente ligadas às posturas agressivas e similares. As que
desfrutam de boa acolhida navegam em céu de brigadeiro - estado de
aconchego que só quem é ou foi criança feliz tem para recordar e ser
acalentada nos momentos difíceis ou felizes vida afora.
*
Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e
Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas
e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
terça-feira, 20 de julho de 2010
A arte e a rebeldia de Caravaggio
Mazé Leite *
Neste domingo, 18 de julho, completaram-se exatos 400 anos da
morte de um dos maiores gênios da pintura: Michelangelo Merisi Da
Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio. Revolucionário em seu tempo,
subverteu as regras estéticas impostas pelo Concílio de Trento.
Michelangelo Merisi
nasceu no povoado de Caravaggio, na lombardia italiana, em 29/09/1571.
Seus pais, Fermo Merisi e Lucia Oratori, morreram cedo. Com apenas 12
anos, foi enviado para estudar no atelier de Simoni Peterzano, que se
dizia discípulo de Ticiano (1488-1576). Passou quatro anos vivendo e
estudando no atelier desse mestre. Com ele, aprendeu o tratamento das
cores segundo o método de Ticiano e o naturalismo da escola pictórica
lombarda.
Tendo rompido com seu mestre, parte para Veneza onde observou obras
de Ticiano, e a técnica do sfumato de Leonardo da Vinci
(1452-1519). A atitude artística do jovem pintor já era de rebeldia
contra os convencionalismos de sua época. E o homem Caravaggio também
era atraído por brigões, beberrões e vagabundos, freqüentando
prostíbulos, jogos e se envolvendo em todo tipo de confusão, inclusive
com os sbirri, a polícia. Era um homem agoniado, inquieto.
Mas seu destino era Roma, a cidade que atraía artistas de todo
canto, devido à demanda da igreja católica que transformava a cidade
num canteiro de obras, com o objetivo de ser o centro da cristandade e
do mundo civilizado. Artistas de toda a Europa afluíam à cidade,
participando das discussões sobre pintura, estudando os mestres.
Chegando à cidade, foi morar na casa do monsenhor Pandolfo Puzzi,
onde viveu em condições tão frugais que apelidou o padre de “monsenhor
salada”. Caravaggio perambulava pela cidade, percorrendo ateliês em
busca de trabalho. Necessitado, pintava até três quadros por dia, que
vendia muito barato. Com o passar do tempo, foi ficando conhecido e,
segundo o biógrafo Gilles Lambert, Caravaggio alternava com seus amigos
“sessões de trabalho, de festas e de diversões no submundo”. Era amigo
de homossexuais e prostitutas, muitos dos quais posaram para ele em
seu atelier. Seus modelos eram esses marginalizados, em quem o artista
via o desespero da luta cotidiana pela sobrevivência em um ambiente
dominado pela miséria. Em plena Roma, a cidade dos papas e cardeais
cercados de riqueza e opulência!
No começo, Caravaggio se recusou a pintar quadros com temas
religiosos. Mas logo, aconselhado por colegas, viu que essa era uma
forma de sobreviver e pintou “São Francisco recebendo os estigmas”, de
1595, considerada a pioneira e a que melhor expressa a estética da arte
barroca. Em geral os quadros eram encomendados por ricos burgueses que
com eles presenteavam as igrejas, mas muitos de seus quadros foram
recusados pelos padres. Nota-se que, nele, a transcendência do divino
não surge como um além separado do mundo, mas como realidade da alma
humana.
Em maio de 1606, em meio a uma briga de jogo, Caravaggio matou um
colega. Condenado à morte, fugiu para Nápoles, depois indo para a ilha
de Malta. De lá, fugiu para a Sicília, após agredir um cavaleiro da
Ordem de Malta. Cansado, doente, ansioso pelo indulto que o permitiria
voltar a Roma para continuar seu trabalho, foi detido no Porto Ercole,
por engano, e levado à fortaleza da cidade. Lambert diz que ele foi
visto, já livre da prisão, “atarantado, faminto, enfermo, extenuado em
busca de um barco” que o levasse de volta a Roma. Estava infectado por
feridas e com febre. E assim morreu no dia 18 de julho de 1610, antes
de receber a notícia de seu indulto.
Fora essa vida inquieta e atribulada, Caravaggio foi um pintor
original. O aspecto mais notável de sua obra é o tratamento do
claro-escuro. Consiste em projetar a luz sobre as figuras com um
contraste intenso e brusco com as sombras, o que marca o início de uma
das grandes conquistas da pintura barroca. Outra característica
primordial de seu estilo é o realismo enfático como reação ao idealismo
renascentista. Ao invés de pintar figuras, mesmo as religiosas, com ar
solene ou suave, conforme os ditames da igreja, ele as trata com um
realismo quase insolente, usando como modelos, o povo das ruas.
Um bom
exemplo, entre inúmeros outros, é o quadro O Enterro da Virgem.
A figura de Maria foi inspirada no cadáver de uma prostituta afogada
no rio Tibre e com o ventre inchado. Maria Madalena foi retratada
muitas vezes a partir do modelo de uma jovem amante do pintor, assim
como seus vários “João Batista” teve como modelo um rapaz amante de
Caravaggio, que era bissexual.
As personagens principais dos quadros de Caravaggio estão sempre
localizados na obscuridade: um cômodo sombrio, um exterior noturno ou
simplesmente um fundo escuro. Uma luz poderosa que provém de um ponto da
parte superior da tela envolve os personagens à maneira de um projetor
de luz sobre uma cena de teatro. O coração da cena é especialmente
iluminado e os contrastes produzidos por essa maneira de pintar
conferem uma atmosfera dramática ao quadro.
Edward Gombrich, em seu livro História da Arte, diz que
Caravaggio queria a verdade, acima de tudo. Por isso não tinha respeito
pela beleza idealizada de seu tempo. No quadro São Tomé, os
três apóstolos parecem trabalhadores comuns, com os rostos curtidos
pelo tempo, testas enrugadas. Ele queria copiar a natureza, fosse ela
bela ou feia e fez todo o possível para que as figuras dos textos
bíblicos parecessem reais.
Sem Caravaggio não haveria – como diz o crítico de arte Roberto
Longhi – “Ribera, Vermeer, La Tour, Rembrandt. E Delacroix, Courbet e
Manet teriam pintado de outra maneira”. Poucos artistas têm fascinado a
posteridade de artistas e encorajado a ousadia criativa como ele o
fez.
* Artista plástica, membro do Atelier
de Arte Realista de Maurício Takiguthi, designer gráfica. Graduanda em
Letras pela FFLCH-USP. Membro da coordenação da Seção Paulista da
Fundação Maurício Grabois.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
Religião na escola estimula o
preconceito e a intolerância
Carlos Pompe *
A professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB)
liderou uma pesquisa que apurou que livros didáticos mais aceitos pelas
escolas públicas promovem a homofobia e pregam o cristianismo. O estudo
gerou o livro Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil.
A pesquisa conclui que
o preconceito e a intolerância religiosa são inculcados em milhares de
crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro. Foram analisados os
25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do
país. Os livros foram escolhidos a partir dos títulos mais aceitos pelas
escolas do governo federal, segundo informações do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação. A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes
mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso – limitada a
uma referência anônima e sem biografia –, 12 vezes mais que o líder
budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que
Lutero, referência intelectual para o Protestantismo (Calvino nem mesmo é
citado).
“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo
cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, informa uma
das autoras do trabalho, a antropóloga e professora do Departamento de
Serviço Social, Débora Diniz.
A psicóloga e coautora do livro, Tatiana Lionço, salienta que, antes de
ir parar nas mochilas de crianças e jovens, todo material didático passa
por uma avaliação de uma banca de profissionais do Programa Nacional do
Livro Didático, vinculado ao Ministério da Educação. Todos, menos os de
Religião. “Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má
formação dos alunos”, comenta.
Ela questiona o modelo de ensino religioso nas escolas do país com base
no princípio constitucional de que o Estado deveria ser laico (neutro em
relação às religiões). “Se o Estado deveria ser laico, por que ensinar
religião nas escolas? Se a religião for tratada na sala de aula, tem de
ser de forma responsável e diversificada”, acrescenta.
A discriminação de homossexuais vem junto com a doutrinação religiosa
feita às cutas do Estado, em escolas públicas. “Desvio moral”, “doença
física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “o homossexualismo não
se revela natural” são algumas das expressões usadas para tratar das
pessoas que optam por ligações com o mesmo sexo. Um exercício com a
bandeira das cores do arco-íris acaba com a seguinte questão: “Se isso
(o homossexualismo) se tornasse regra, como a humanidade iria se
perpetuar?”.
Débora diz que num dos livros didáticos uma pessoa sem religião é
associada ao nazismo (que, contraditoriamente, teve apoio ativo da
Igreja Católica e foi combatido pela União Soviética, primeiro Estado a
adotar expressamente o materialismo dialético no ensino público). “É
sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter comportamentos
violentos e ameaçadores”, observa. “Os livros usam de generalizações
para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa ela que é
uma das três autoras da pesquisa.
“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”,
afirma Débora. A antropóloga reforça a imposição do catecismo. “Cristãos
tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasilieras,
tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”, comenta.
O estudo, realizado entre março e julho de 2009, revela a ligação entre
as editoras responsáveis pelas publicações e a doutrinação religiosa. A
editora FTD, por exemplo, pertence aos irmãos Maristas, sociedade
católica criada em 1817, na França. Também são católicas as editoras
Vozes, Paulus Paulinas, Vida e Edições Loyola. “É esse contexto nebuloso
de relações e interesses que envolve a pesquisa” diz Débora. Outras das
principais editoras do material escolar são a Abril de Educação, líder
do mercado, a Ártica, Scipione Saraiva, Moderna e Dimensão.
As 112 páginas da publicação, lançada pelas editoras UnB e Letras
Livres, ainda conta com a contribuição da assistente social Vanessa
Carrião, do instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
* Jornalista e curioso do mundo. Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna