terça-feira, 11 de maio de 2010

Psicanálise é comparada à homeopatia

Carlos Pompe *

O filósofo francês Michel Onfray acaba de lançar Le Crépuscule d'une idole, l'affabulation freudienne (“O crepúsculo de um ídolo, a fábula freudiana), onde questiona a capacidade de cura da psicanálise, ”que diz respeito a Freud e ninguém mais”.

 



Ele compara a psicanálise a uma religião e diz que a capacidade dessa disciplina curar as pessoas é semelhante à da homeopatia.

O filósofo, que escreveu Tratado de ateologia (publicado no Brasil, assim como A escultura de si e A política do rebelde), diz que Freud transformou seus próprios "instintos e necessidades fisiológicas" em uma doutrina com pretensão de ser universal. A psicanálise seria "uma disciplina verdadeira e justa no que diz respeito a Freud e ninguém mais".

Ele afirma que Freud fracassou na cura de pacientes que ele mesmo atendeu, mas ocultou ou alterou suas histórias clínicas para dar a impressão de que havia sido bem sucedido. Sergei Konstantinovitch, por exemplo, indicado por Freud como "o homem dos lobos", continuou fazendo psicanálise mais de meio século depois de Freud dá-lo por curado. Bertha Pappenheim, referida como "Anna O.", continuou tendo recaídas de histeria e alucinações mesmo depois de tratada pelo pai da psicanálise.

"A psicanálise cura tanto quanto a homeopatia, o magnetismo, a radiestesia, a massagem do arco do pé ou o exorcismo feito por um sacerdote, quanto nenhuma oração diante da Gruta de Lourdes (onde há relatos de que Nossa Senhora teria aparecido)", disse o francês. E questionou: "Sabemos que o efeito do placebo constitui 30% da cura de um medicamento. Por que a psicanálise escaparia desta lógica?"

Onfrey pensa que Freud tinha preconceito contra homossexuais e um interesse especial em temas como abuso sexual, complexo de Édipo e incesto. Em termos ideológicos, segundo o autor de “O Crepúsculo de um Ídolo”, Freud flertou com o fascismo e escreveu, em 1933, esta dedicatória para Benito Mussolini: "Com as respeitosas saudações de um veterano que reconhece na pessoa do dirigente um herói da cultura." O criador da psicanálise teria tentado alinhar-se com o chanceler Engelbert Dollfuss, que instaurou o "austrofascismo" no país, e às exigências do regime nazista.

A resposta da historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco às afirmações de Onfrey, num debate com ele, foram pueris: "Quando sabemos que 8 milhões de pessoas na França se tratam com terapias derivadas da psicanálise, está claro que no livro e nas palavras do autor há uma vontade de causar danos". Ora, por esse argumento jamais se contestará nenhum absurdo, pois a imensidão de pessoas que acreditam em absurdos é irrefutável!

Onfray contrapôs que várias reações contra seu livro evitam responder seus argumentos centrais e, em um artigo publicado no jornal francês Le Monde, perguntou se era impossível fazer uma leitura crítica de Freud.

Quando, em 2009, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, excomunhou os médicos que realizaram o aborto no episódio da menina estuprada pelo pai, Michel Onfray denunciou: ”A ideologia da Igreja é reacionária, conservadora e insuportável. A Igreja apresenta indignações seletivas. Durante e após a II Guerra Mundial, ela excomungou todos os comunistas e nunca excomungou um único nazista”.

À psicanálise e às religiões, Onfray opõe o racionalismo, como escreveu no Tratado de ateologia: “Nem a Bíblia nem o Corão. Entre os rabinos, sacerdotes, imãs, aiatolás e outros mulás, insisto contrapor o filósofo. Entre todas essas teologias abracadabrantescas, prefiro recorrer aos pensamentos alternativos à historiografia filosófica dominante: as pessoas com humor, os materialistas, radicais, cínicos, hedonistas, ateus, sensualistas e voluptuosos. Pois eles sabem que só existe um mundo e que toda promoção dos mundos subjacentes leva à perda do uso e benefício do único que há. Pecado realmente mortal...”

* Jornalista e curioso do mundo.
Fonte: http://vermelho.org.br/vermelho.htm