segunda-feira, 19 de abril de 2010

Excesso de sexo desnuda impotência do papa

Sucedem-se revelações de novos casos de padres católicos pedófilos. Com a mesma triste insistência, o Vaticano nega conhecimento dos fatos e, quando flagrado em torpe mentira, admite o acobertamento dos celerados e pede desculpa às vítimas – mas não leva os criminosos aos tribunais e nem dá assistência às crianças. Acuado, contra-ataca com declarações desastrosas, das quais depois tem que pedir vênia. Seria uma comédia dos erros, se não fosse uma tragédia em que só as vítimas são punidas.

Os casos se multiplicam. No dia 6 de abril, a Igreja Católica da Noruega e o Vaticano admitiram que a renúncia ao cargo foi a única punição que o bispo de Trondheim, Georg Mueller, sofreu pelos abusos sexuais que cometeu. Mas mesmo essa reprimenda é rara. Ocorreu em 2002, com Juliusz Paetz, arcebispo de Poznan, na Polônia, e em 1995, com o cardeal Hans Hermann, de Viena, ambos também pedófilos. Os inúmeros casos acontecidos nos EUA, Europa, América Latina e outras regiões continuam impunes e, a maioria, abafados.

No caso de Mueller, o papa Bento XVI ainda encobriu o verdadeiro motivo da repreensão ao molestador de crianças, ao divulgar que ele havia sido “renunciado” pela lei canônica 401/2, que declara que o bispo deve apresentar sua desistência caso se torne "inadequado para o preenchimento do cargo".  Convenhamos: abusar sexualmente de uma criança ou adolescente é mais, muito mais do que ser inadequado a qualquer cargo, mesmo que da hierarquia católica. É caso de cadeia, não de renunciação.

Outra revelação recente: o padre Joseph Jeyapaul, que violentou dois menores de idade nos Estados Unidos, em vez de punido foi transferido pelo Vaticano para escolas católicas na Índia, mesmo um arcebispo americano tendo informado o fato à Santa Sé. A Congregação para a Doutrina da Fé se limitou a pedir ao arcebispo de Jeyapaul que monitorasse o facínora "para que não constituísse um risco para menores e não gerasse um escândalo entre os fiéis". Numa estranha deturpação do Evangelho, não é oferecida outra face, mas crianças de outra nacionalidade ao agressor.
Impotente para enfrentar a súcia voluptuosa que encontra na batina o valhacouto para seus vícios, o papa aciona seus pares para injuriar as vítimas dos lascivos.  O decano dos cardeais, monsenhor Angelo Sodano, prestou-se ao serviço de dizer ao “Osservatore Romano”, jornal oficial do Vaticano, que o que está existindo é uma mera “divergência cultural” e que as denúncias e clamor de justiça são "ataques injustos contra o papa” que ocultariam “conceitos da família e da vida contrárias ao Evangelho".

Já seu irmão de fé, frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, que durante a homilia da missa de Sexta-Feira Santa comparou as reações aos escândalos de pedofilia na Igreja Católica com a perseguição sofrida pelos judeus – e que não contava com a reação judaica ao seu disparate –, foi desautorizado pelos seus superiores e teve que fazer-se de arrependido. Lançado às feras pelos colegas de batina, afirmou que não teve a intenção de "ferir as sensibilidades nem de judeus nem de vítimas de pedofilia." Embora Bento XVI tenha sido comunheiro, com seu silêncio, do despautério quando foi pronunciado, Cantalamessa ainda tentou livrar a honra do Sumo Pontífice: "O papa não inspirou (o sermão) e, como todos os demais, ouvia pela primeira vez as palavras que pronunciei."

As orgias clericais não são algo de novo sob o Sol. A novidade é a revelação e a exposição massiva da alta hierarquia católica no encobrimento dos episódios. Em 1743, em Lisboa, foi publicado um Romance Católico, anônimo, pois naqueles entonces o Vaticano podia queimar quem o contrariasse. A obra tratava da devassidão de costumes em conventos e seminários. Com as palavras iniciais dessa obra em versos peço a bênção aos leitores e vou cuidar dos meus afazeres.
"Pecadores, que engolfados no mar do mundo andais, às loucuras ponde termo,  a Lei Divina observai: lástima é, ó humanos, que seja alegria tal, que em lugar de honrar a Deus, tanto assim Deus ofendais? Mas ai que chegou a tanto, o vosso enorme pecar, que até por divertimento a vosso Deus tratais mal. Santo do Céu suspendei o louvor, Anjos pasmai, que o que em voz é glória a Deus, no mundo é pena infernal: atendei para estes homens, no seu estilo de cantar, chorareis com ânsia amarga, o seu delírio, o seu mal!"
Carlos Pompe *
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