sexta-feira, 20 de março de 2020

Só o temor não nos Salvará


''Não é o vírus que nos mata, morreremos de irresponsabilidades assistidas e vilipendiadas''

Assombroso, mas não suficiente! Sete séculos depois oportunizados estamos a nos beliscar novamente. Se os fatos ainda não eram suficientes, temos agora uma quarentena tentando nos livrar do pior – final da espécie. Da invisibilidade inicial da ‘Peste Negra’ que ceifou milhões de vidas na eurásia aos dias atuais, (afora a visível explosão nuclear) não tivemos nenhuma outra oportunidade de confrontarmo-nos com nossa limitada capacidade de lidar com o invisível – sim invisível. Os vírus são parcelas do invisível que se revela no temor da presença, terror do encontro, trabalho da ciência e dor materializada aos que ficam, após letalidade sobre os que partem. O momento que vivemos seria mera coincidência? Certo que não! 

Diante de um mundo que se revela excessivamente no estético, nos priva do temor forjando falsa autossuficiência, nos isenta da reflexão ao que compõe a aparente visibilidade estética, cedo ou tarde seremos devorados pela frágil arrogância de seres bem informados, através do poder destrutivo que emerge do invisível. E falar do que aparentemente ‘vemos’ não é tratar do que arrogantemente sabemos, decidimos e dominamos sobre nós mesmo. É dizer sim, que pouco sabemos ou controlamos no mundo a nossa volta – na síntese: somos presas cativas do visível e vítimas fáceis do invisível, em parte pela dificuldade de assimilar e aceitar.

Dos assombros vividos, rememoro minha tenra idade em meados dos anos 80, pré-adolescente curtindo nas ondas de rádio a explosão planetária da banda inglesa Queen. Aos doze anos ouvi pela primeira vez ‘Who Wants to Live Forever?’ (Quem quer viver para sempre?) em um dos discos emblemáticos da história da música lançado em 1986, período em que o planeta refletiu profundamente sobre questões existenciais/sociais através do Rock Progressivo com suas letras revelando e provocando reflexões acerca de realidades. Na letra em questão o genial Freddie Mercury da singularidade inconfundível de sua voz a melodia tocante nos provoca profundamente: ‘’Não há tempo para nós, não há lugar para nós. O que é essa coisa que constrói nossos sonhos e vai para longe de nós? - Não há chance para nós, é tudo decidido para nós’’.

São letras que revelam invisíveis, desnudam assombros da vida, denunciam controles sobre nós, iluminam partes do obscurantismo que o mundo nos impõe. Sejam elas, embaladas por um ‘The Wall’ de Pink Floyd tratando de nossas prisões e privações existenciais, até um ‘Muro e Grades’ de nosso Engenheiros do Hawaii, no emblemático disco de meados da mesma década e emblemática letra: ‘’Nas grandes cidades do pequeno dia-a-dia, o medo nos leva a tudo, sobretudo a fantasia. Então erguemos muros que nos dão a garantia. De que morreremos cheios de uma vida tão vazia (...) Um dia super, uma noite super. Uma vida superficial. Entre as sombras entre as sobras... Da nossa escassez’’. - E porque rememorar tais canções? – Porque é difícil acreditar que um mundo de falsos empoderamento, excessos de prepotência, falsa segurança nos levará muito longe cantando no ritmo do ‘Tudo Ok’: ‘’Cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha tá ok’’ – como se o completar da mensagem fosse: quarentena ok, comida ok, vida Ok!!!’’

COVID 19 não é uma novidade é a realidade que assombra. Ele salta do obscurantismo de um mundo explicado por Darwin (mutação/adaptação), compreendido, mas não dominado pela ciência. Tão característico de processos cumulativos de compreensão, cuidados permanentes, investimentos em pesquisas e responsabilidades governamentais – Sim, responsabilidades de governos, o que não reflete o nosso. Um país que caminha para a destruição de seus processos de produção cientifica, esterilização de investimentos e condenação de seu povo a misérias. Imposição as quarentenas estendidas, do cuidados com infecções, isolamento da cidadania, civilidade e direito mínimo a dignidade de grande parte da população. Não é o vírus que nos mata, morreremos de irresponsabilidades assistidas e vilipendiadas. 

Não precisamos responder a grande pergunta ‘Quem quer vive para sempre?’, pois Mercury responde dizendo que o sempre é o nosso hoje, e ninguém espera para sempre do mesmo modo. Ou seja, se amar para sempre (apesar de nosso esforço) não venha ser o preceito total, que ao menos o odiar não seja o nosso desejo final. Pois, não consigo silenciar a voz de Gessinger cantando: ‘’Nas grandes cidades de um país tão irreal. Os muros e grades nos protegem de nosso próprio mal’’. - Então, em que temores e grades protegemos nossas vidas do invisível hoje? 

Neuri A. Alves - Professor, pesquisador em Antropologia Filosófica Existencial. Educador popular, assessor de Formação e Elaboração na estratégia da Agricultura Familiar Catarinense.

domingo, 8 de março de 2020

A luta das Mulheres a me moldar

''De quanta sensibilidade tem sido o escrever, o pensar, participar, assimilar e integrar-se a causa pela justiça social?''
Arquétipo é um conceito usual na psicologia analítica do suíço Carl Gustav Jung. Embora a origem seja a palavra grega ‘arché’, principio, fundamento, o que no ‘frigir dos ovos’ (em subversiva semântica) se encontra com a concepção Junguiana. Porém, muito antes de encontrar-me com as dimensões de anima (presença do feminino) e animus (presença do masculino) descobri em mim e no mundo, sensibilidades que convergem, dialogam. Problematizam realidades enraizadas no patriarcalismo como processo histórico, observado no seio familiar com seis irmãs, mais a mãe progenitora encastelada, enclausurada no lar – e porque não citar, minha experiência de aluno numa sala de 40 mulheres no magistério escolar na década de 1990.
Meu contato com a obra do pensador suíço ainda na tenra idade preencheu-me de assombro, ousadia e temeridade. – Assombro ao entender a possibilidade do compreensível, mensurável a presença do feminino (anima) em mim segundo Jung. Eu, primogênito numa família de sete mulheres, adolescente participe das tribos jovens em afirmação da testosterona. – Ousadia, porque apropriar-se de uma bengala de ciência (mesmo que frágil), por vezes nos dá sensação de poder, principalmente ao tratar do que ainda não temos acúmulos suficientes – e por fim: temeridade, ao mexer no enferrujado, mas cortante machado secular do patriarcado arcaico, estupido e real.  
Não tenho problema de dizer que sou a soma de muitas mulheres, por vezes excessos de anima e escassez de animus. Há em mim parcela de muitas mulheres – e espaço para acrescentar-me um pouco de tantas outras com suas causas, sabedorias e sensibilidades. Mas não quero tratar dos dias que virão, quero problematizar os dias que são e estão, pois aqui as dores do mundo têm cor, sexo, gênero e categoria social. Tem referencial velado, silêncios que matam, contradições que ferem, negações que revelam e elucubrações que se esvaziam.
Talvez por isso, curioso do mundo, ousado provocador, aprendiz colaborador da luta me coloco ao lado das mulheres organizadas em entidades, movimentos, núcleos de resistência ao abandono e a espera de mãos humanas a reatar coragens. E munido destas, enfrentar o divórcio displicente do Estado que teria o papel de lhes assistir – e tantos outros, injustos rompimentos. Das relações que as violentam no seio familiar a transversalidade de violências presente nas interações cotidianas e que deveriam de algum modo nos sensibilizar, mexer por dentro, mas não mexe, nem mesmo pela narrativa histórica de vidas perdidas na luta diária por justiça, equidade.  
Há alguns anos, anônimo participe no plenário de um simpósio latino americano, quisera o destino que Eduardo Galeano escolhesse alguém para presentear, e ganhei um dos mais belos presentes, seu livro ‘Mulheres’. Nele, a intensidade e sensibilidade de um escritor que em suas narrativas faz-nos ver sangue e sofrimento, ouvir gritos e rostos violentados, sensibilizando-nos para o aparente sofrimento distante. Galeano não descreve personagens, ele ilustra vidas, rostos, sujeitos. Mulheres a protagonizar história e aquelas por ela esquecidas – nada passa despercebido em sua vivaz alma latina, perspicaz de militante e sensível escritor. São histórias narradas de mulheres que sonham e são vítimas do sonhar, sobreviventes e que nos ajudam sobreviver. Narrativas comoventes pela determinação e subversão, o toque da fragilidade que não as apequena, mas que humanamente nos atinge como flecha, ou deveria minimamente nos sensibilizar – embora difícil mensurar, ante a realidade que vivemos em nosso país.
A intensidade de suas personagens femininas e suas causas me afetam, me reconstroem, preenchem vazios, provocam sensações adormecidas pela insensibilidade de um tempo gélido como iceberg à deriva. Difícil não se comover com as causas descritas de Joana d’Arc à Rosa Luxemburgo, de Eva Peron às dores infindáveis de esperanças das Mães da Praça de Maio. Entre tantos relatos de lutadoras conhecidas, sua perspicaz sensibilidade a revelar-nos as mulheres escondidas na história, das que lutaram na Comuna de Paris às que se rebelaram nos prostíbulos da patagônia. Com impar sensibilidade o escritor latino não as descreve, mas as desenha para que possamos ao menos ver, se nos falta dignidade para sensibilizar.
E você? – De quanta sensibilidade tem sido o escrever, o pensar, participar, assimilar e integrar-se a causa pela justiça social? – Difícil dizer, quando lutamos primeiro para vencer o que nos violenta internamente como processo histórico. Talvez por isso saiba, o assombro que toma-me a alma agora – mas também, o quanto ainda posso apreender junto as mulheres que diariamente comigo compartilham angustias da luta. As que permite-me visitar suas trincheiras organizativas e reservam tempo a ensinar-me. E mesmo que vítimas seculares, convidam-me para dividir seus dias de desafios e dores nas trincheiras de resistência, como se ao gênero algoz, concedesse mais uma dose de confiança – se antes petrificado, me diluo em seus gestos. 
Por isso, o meu findar é feito de memória, lindas lembranças e um revelar das mulheres presentes em minha vida: da amada companheira de todos os dias, a mãe que desafiou a miséria e todas as dificuldades possíveis oportunizando-me este mundo. Com elas e por elas na origem, memorar as mulheres camponesas e agricultoras familiar que fazem brotar da terra ardida dias de esperanças. As colegas de trabalho pela ousadia de afrontar o patriarcalismo velado nas relações cotidianas, a coordenadora de mulheres na federação pela coragem de assumir tamanho desafio. Enfim, a todas as companheiras de luta que encontro pelos caminhos da vida e que pelo diálogo permanente tenho aprendido tanto, fica o muito obrigado e o renovar de compromissos.
Eu sou um pouco de vocês – sou anima e animus, sou lágrimas e lenço, bandeira e mastro, estrada e pegadas, sou aprendiz de Arqué e operário da Diké – sou 8M com vocês!

Prof. Neuri A. Alves – Assessor de Formação e Elaboração Fetraf-SC

Publicado em 06 de março - Site da Fetraf-SC

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A arrogante classe média 2SM local



'' (...) justo mesmo é Paulo Guedes, o Robin Hood dos banqueiros, salvador dos lucros e algoz dos estúpidos''

É espantoso como a narcísica, mas falsa classe média local/regional, de curta memória, parca identidade, frágil compreensão quebrou o próprio espelho. O que talvez explique em partes, porque no clubinho dos odiosos, nas postagens em redes sociais, no círculo de 'anormais', defendem a fala do escravista, ministro banqueiro Paulo Guedes sobre domésticas passear na Disney. 

Em ampla maioria, escondem na arrogância ou dissolvem na ignorância que são meros trabalhadores também. Que por exemplo, só entraram ou andaram de avião a partir de 2002, e o único dinheiro que gastavam no exterior tinha endereço de curta distância (de carro ou ônibus), ali do outro lado da ponte da amizade em Foz do Iguaçu/PR, onde o então Real (R$) ‘dolarizado’ devorava o pobre guarani.

Até porque, aqui no aeroporto de Chapecó no início deste milênio, só tinha Teco Teco na pista, e estes, pertenciam ao aeroclube local. Quando muito, um avião das agroindústrias, jatinhos alugados e uma visita que outra de aviões presidenciais – voo comercial: só aos exclusivos. Sim, a pista era movimentada por 'piazada' caçando com ‘bodoque’ nas margens e cabeceiras - um perigo aos aeroplanos. - Qualquer objeto no ar estava suscetível ao estilingue.

Então chegaram os vermelhos ao governo, com a política de valorização do salário mínimo, geração de renda, poder de compra, sinal verde ao ‘deus’ Cartão de Crédito, que viria ser o tapete voador de trabalhadores pobres que assumiram o falso status de classe média emancipada. Agora eles tinham emprego, renda e podiam até estudar - uma chance de decolar da política colonial de privilégios para alguns e ignorância a maioria. 

Mas claro, esta falsa ‘classe média’ pobre de consciência, miserável de memória, que então conseguiu ir além do desenhar o nome (aposentando polegar, e mesmo que no modo informal) aprendeu escrever (mesmo que para agredir com palavras a si própria como categoria social), se nega refletir, optando por acusar, reproduzir mentiras e prontos chavões de desprezos as classes laborais - mesmo sendo parte!

Para estes, justo mesmo é Paulo Guedes, o Robin Hood dos banqueiros, salvador dos lucros e algoz dos estúpidos. Parabéns a esta classe média local/regional, com renda MÉDIA 2SM (Dois Salários Mínimos) que há tempo voando não colocam os pés no chão. A cabeça não mais repousa no travesseiro porque os boletos não cabem no holerite mensal, embora sigam com palmas ao governo que os marginaliza como classe, embora insistam mimetizar nas ilusões e atirar pedras a seus ‘iguais’ - por similitude, a si mesma.

Um brinde reflexivo a falsa prosperidade. Mais cedo ou mais tarde vocês voltam do mundo da fantasia, esta Disney criada para a fuga da realidade. Aquelas doze parcelas que custou o pacote de viagem para um tango em Buenos Aires (ao preço do dólar atual) você pagará rapidinho. Mas, o pesadelo deste governo permanecerá por mais 35 mil pés (digo 35 meses) de distância da possibilidade última de findar as cotidianas turbulências e acender alguma luz sobre as trevas que vocês ajudaram provocar.

A trabalhadora doméstica tem noção de suas lutas e direitos alcançados nos últimos anos, (inclusive de viajar para onde quiser), o que incomoda muito, de banqueiros afortunados a arrogantes assalariados. Mas, aos últimos, se permanecerem como Classe ‘Dois Salário Mínimo’ (2SM) estarão no lucro. Pois, tem tudo para terminarem como Classe SSM (Sem Salário Mínimo) – empobrecidos pela concentração do setor financeiro (Tio Patinhas), enganados pelo presidente (Pateta), corroídos pelo ministro da economia (Mickey Mouse) e meros indigentes nesta falsa Suíça, terra catarinense - Fim de viagem!!!


Neuri A. Alves
Pesquisador, assessor de formação e elaboração 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Enfrentar a lógica perversa do modelo de produção



Um dos urgentes desafios planetário é enfrentar a lógica perversa da exclusão e destruição imposta pelo produtivismo desenfreado no campo. Que pelo caráter irresponsável, vilipendiador da vida planetária exige mudança. E mudar, não é mera necessidade de povos, culturas e nações, mas condição ‘sine qua non’ para nossa permanecia territorial, social e cultural, na ‘casa mãe’ (Planeta Terra). 

Ou seja, trata-se de desafio central colocado aos brasileiros também, mais que nunca neste momento, com um governo que presa pela banalização do cuidado responsável aos recursos naturais. - Isso deveria provocar questionamentos em cada cidadão, um interrogar-se do tipo: O que tenho feito? E embora transpareça uma pergunta aberta a processar respostas é preciso ser feita, ou então, basta assumir que estamos longe de apresentar ações objetivas para enfrentar a situação colocada. 

De outro modo, temos ações concretas provindas de muitos lugares. Do movimento global de adolescentes puxado pela sueca Greta E. Thunberg lutando pelo direito a ter um futuro melhor no planeta, até as pautas locais de entidades em diversos continentes. Pautas que vão, do encontro para repensar a lógica da produção de alimentos, a exploração responsáveis dos recursos naturais. Um exemplo destas iniciativas vem da ONG Belga Wervel (um movimento pela agricultura sustentável) - Sediada em Bruxelas, além da luta em defesa da agricultura na Bélgica, encampa a causa em defesa do Bioma Cerrado, uma savana pouca conhecida na Europa e parcamente cuidada no Brasil).

Como organização que trabalha para uma agricultura socialmente responsável e economicamente justa, em 2019 Wervel apresentou um instigante memorando sobre uso da terra, que apesar de ser uma ferramenta propositiva para enfrentar a realidade no pequeno país europeu, muitos pontos se encaixam na realidade brasileira: da revolução verde, do AgroPop/PopAgro, governo dos agrotóxicos, destruidor de políticas públicas para agricultura sustentável e promotor da lógica produtivista irresponsável. 

Por fim, ou enfrentamos a lógica colocada, ou o tempo findara tristemente como um fim de feira – com o dinheiro do financeirismo acumulado irresponsavelmente (sem valor ou sentido de compra), num grande armagedon da insensatez. Que as boas ideias nos sirvam para alguma coisa, senão para mudar nosso agir, ao menos para o tardio ranger de dentes por arrependimento. Sirvamo-nos a seguir das proposições da Wervel!







- Segue o documento:


MEMORANDO DE WERVEL PARA UMA AGRICULTURA COM FUTURO

1. O solo: um meio básico de produção

- Proteção das terras agrícolas contra a especulação fundiária e a expansão desordenada para fins não agrícolas. Implementação efetiva do princípio de adensamento no planejamento urbano.

- Fixação do teto para o preço de terras agrícolas, tanto para venda quanto para arrendamento.

- Um banco de terras baseado no modelo francês (“Sociétés d'Aménagement Foncier et d'Etablissement Rural, SAFER”) poderia ser um instrumento para uma política fundiária eficaz, limitando o valor comercial das terras agrícolas ao seu valor agrícola (intrínseco).

- O aumento da pensão mínima legal para um nível aceitável de bem-estar poderia evitar que esta medida seja conflitante com os interesses dos agricultores que estão se aposentando e não têm um sucessor.

A especulação fundiária em geral reduz os meios de produção comuns a objeto para obtenção de lucro privado e deve ser proibida. A venda ou alienação de terras agrícolas pelo próprio governo, por exemplo, a venda de propriedades do OCMW [Centros públicos de assistência social] a particulares, também é inaceitável.

2. Agricultura: uma profissão com futuro

- Distribuição justa das margens dentro dos diferentes elos da cadeia alimentar, com atenção especial para os preços e rendimentos do agricultor e do consumidor. Autoridade efetiva das consultas dentro da cadeia sobre esse tema, com base nas observações feitas pelo observatório dos preços.

- O direito das organizações de produtores de negociar acordos setoriais sobre preços e volumes de produtos agrícolas com o comércio, a indústria e a distribuição.

3. Agricultura moderna baseada em agroecologia

- Desenvolver boas práticas em agroecologia em combinação com a agricultura orgânica, em função das regiões agrícolas e das culturas agrícolas. Reforço do papel da pesquisa e desenvolvimento do governo nessa área.

- Visar a pecuária vinculada a terra, em função da área forrageira disponível. Visar empreendimentos agrícolas mistos ou de cooperações complementares entre empresas de lavoura e empresas pecuárias.

- Investir no cultivo de espécies forrageiras e alimentícias ricas em proteínas, bem como em espécies com múltiplas aplicações como o cânhamo.

- Desenvolver e divulgar técnicas, culturas e métodos agrícolas, incluindo sistemas agro-florestais, a fim de elevar progressivamente o teor de húmus e a fixação de carbono no solo.

- Integração da agroecologia com a gestão da água e com a preservação e aumento da biodiversidade.

- Restauração e preservação do solo nas suas funções de organismo purificador, de reservatório de águas subterrâneas e de tampão no escoamento de águas superficiais.

- Restauração e preservação do solo como suporte e alimento para os organismos que vivem no subsolo e acima do solo, na maior coesão (simbiótica) e diversidade possíveis.

4. Alimentos saudáveis e acessíveis

- Funcionamento eficiente e transparente da Agência Alimentar da Bélgica. Aumentar o número de inspeções nas empresas que apresentam os maiores riscos. Ênfase na orientação e não na penalização, para empresas e cooperativas menores.

- Buscar um bom equilíbrio na alimentação, utilizando mais proteínas vegetais e menos proteínas animais. Menos publicidade para e menos uso de açúcares e gorduras. O menor número possível de produtos alimentares refinados. Em cozinhas de serviços públicos, escolas e empresas, preferência para produtos locais e da estação, provenientes de propriedades agrícolas que aplicam práticas sustentáveis.

- Limitação dos preços dos alimentos básicos, aplicando a redução nas maiores margens de lucro da cadeia de comercialização do agricultor até o consumidor.

5. Apoio à agricultura local, visando a soberania alimentar

- Apoio às cadeias curtas, reconhecimento do papel do agricultor na transformação e comercialização de alimentos, como parceiro igualitário ao lado da agroindústria e da distribuição atacadista.

- Desenvolvimento de zonas ou cinturões em torno das cidades, onde os alimentos são cultivados visando o abastecimento alimentar dessas cidades.

- Criação de mercados atacadistas regionais e intermunicipais, abastecidos por produtores locais a preços que cubram os custos.

Afinal, no atual sistema de mercado, os leilões aplicam o princípio da ‘oferta e procura’, enquanto o fornecimento pelos mercados atacadistas à preços de equilíbrio respeitam o interesse do produtor. A condição básica para isso é que seja aplicado o princípio da regulação da oferta (controle de produção).


6. Reforma profunda da PAC [Política Agrícola Comum da União Europeia]

- Proteção da produção agrícola interna baseada em um modelo agrícola e alimentar saudável, sustentável e socialmente justo. Exclusão dos acordos de comércio internacional que não cumpram estes requisitos. Nenhum comércio sem normas equivalentes ou sem base em necessidades reais.

Em termos concretos, isto significa que o comércio só pode ser considerado ‘justo’ se não houver substituição devido a uma diferença nos custos de produção (por exemplo, mão-de-obra mal remunerada, admissão de agrotóxicos nocivos no país importador, ...) ou devido a apoio do poder público (por exemplo, apoio a excedentes de mercado ou apoio à produção). Os custos ecológicos também devem ser levados em conta nos custos de transporte.

O comércio em prol do desenvolvimento não pode ser um fim em si mesmo. Alternativamente, poderia ser desenvolvido em conjunto um intercâmbio internacional e assistência ao investimento em tecnologia, em conexão com o desenvolvimento de cooperativas de produção agroecológica de alimentos.

- Regulação dos mercados dos principais produtos agrícolas com base em quotas fundamentadas na demanda interna, de acordo com a especificidade de cada país e de cada região.

- O sistema de prêmios ao rendimento (auxílio por hectare) deve ser mais equilibrado e, sobretudo, mais justo. Incorporar critérios como atividade agrícola e emprego reais, bem como um impacto positivo adicional no nível dos prêmios pela prestação de serviços à sociedade (por exemplo, medidas em benefício da biodiversidade e da fixação do carbono). Discriminação positiva (concessão de prêmios mais elevados) de pequenas empresas e das várias formas de cooperação.

- Garantir rendimentos justos aos agricultores. Para controlar a produção e a oferta, visando preços agrícolas estáveis e suficientes, também deve ser possível lançar mão de garantia de preço mínimo e de armazéns pública.


Wervel, Bruxelas.


Prof. Neuri A. Alves
Assessor de Formação e Elaboração na Fetraf Santa Catarina
Membro Honorário e Voluntário da entidade no Brasil para causa do Cerrado e Agricultura Sustentável

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Feliz Ano Novo aos inesquecíveis

''Não sei brindar falsas alegrias, sigo ocupado com minhas utopias'' 


Feliz novo ano aos inesquecíveis deste tempo, que pelo pouco esforço da consciência, excessos de arrogâncias conseguiram fazer de 2019 uns dos piores anos dos últimos cinco séculos. 

Novo ano a você professor que votou neste governo e viu seus direitos ameaçados, avanços da educação apagados na lousa de sua arrogância no ano que ficou, mas com estragos para décadas;

Novo ano a você funcionário de atendimento na saúde e usuário do SUS. Você que votou no fascismo porque iria melhorar o atendimento no sistema púbico e agora pode ficar sem emprego e saúde publica;

Novo ano a você caminhoneiro que votou no mito da recuperação de rodovias/carreiros/estradas, redução no preço do diesel, melhor valor dos fretes, mas passou o ano velho pagando o preço da sua escolha, furada indignação e pavimentando dias de vergonha;

Novo ano para você colega pesquisador da universidade, institutos federais que atirou pedras nos tempos antanhos de vacas gordas no CNPq e passou o último ano pastando nas bolsas da insensatez;

Novo ano a você familiar de estudante de instituições privadas que militaram para derrubar a 'corrupta' Dilma e agora trancaram matriculas nas universidades porque não tem bolsas de estudos, dinheiro para pagar mensalidades e nem crédito para financiar;

Novo ano para você agricultor que votou no mito da mudança porque queria derrubar uma pequena área de APP ou comprar uma espingarda taquari. Mas agora não tem créditos para sementes, moedas para a pólvora, sem esperanças do que fazer e para onde ir;

Novo ano para você operário que votou para derrubar os 'comunistas do PT, os corruptos do poder e viu este 'ano velho' de "governo novo" com pilantragens e pilhagem de direitos trabalhistas, sociais e passou a virada de ano faltando dinheiro para comprar o gás;

Novo ano a você velho Homem das promiscuas promessas na noite que finda o ano, dos pedidos sem esforço e excessiva pressa. Das preces farisaicas, das bondades espetacularizadas, da ética 'panes et circus' chauvinista de viradas;

Novo a você que divide as angustias desafiantes deste tempo comigo, obrigado pela coragem de seguir fazendo o que assumimos como convicção de vida e compromisso de mundo. Seguiremos nossos caminhos, sem os engodos que arrastam os que pouco pensam, bobagem fazem e a tudo destroem.

Feliz Ano Novo a todos! Queria bater palmas, mas minhas mãos se ocupam do escrever, meus pés se negam fazer o que não sabem, estes ouvidos a curtir descompasso e meus olhos desviar do foco. Não sei brindar falsas alegrias, sigo ocupado com minhas utopias!!!

Prof. Neuri A. Alves

Formação para novas Utopias

''Eu acredito, mas não quero e posso acreditar sozinho''

Há tempos deixei de ser o ‘chato’ que só falava da necessidade de estudar. Entre as razões: o isolamento por parte de alguns, o não bem quisto por parte de outros, o doutrinador pelos oponentes ideológicos, o chato pelos preguiçosos e inimigos da
leitura, o filósofo negador do lattes por que aqueles que veem neste a ferramenta de um orgulho vazio. E por último, apontado como o ‘teórico’ pelos revolucionários da ortodoxia de um fragmento ‘clichê’ da obra de Marx: ‘’o que havia para pensar foi pensado, o que interessa é a transformação do mundo’’.

O ponto de partida, emerge deste último, porque ‘’meus iguais’’ de utopias de outrora e revolucionários de uma falsa e frágil autossuficiência (e ainda agora) fracassaram em partes – deixaram de pensar e fraquejaram na transformação desta realidade. O comodismo fez-se revolução deste tempo - o que suscita novas provocações. Sim, a prática é o critério da verdade como dissera o mestre Marx, mas a prática sem a compreensão da teoria como filha ‘cativa’ da ação é um negar-se a possibilidade de afeiçoar e aperfeiçoar processos, esterilizando assim potenciais avanços. Ou seja, é fundamental que possamos mergulhar nos acúmulos teóricos, de concepções, por serem estes resultados da ação, compreensão e de algum modo, formação do sujeito histórico e todo tecido social.

Compreender a realidade a qual estamos inseridos requer aprofundar-se, inteirar-se, problematizar para apresentar viés de mudanças – do contrário, permanecemos no campo dos achismos, naquela metáfora da lagoa de sapos, onde todo mundo ‘coacha’ alguma coisa. Digo isso, porque trabalhando assessoria de formação, palestras há muitos anos, compreendo algumas questões como centrais, provocativas e necessárias as entidades, organizações, de modo especial, as sindicais, onde tenho pisado o terreno com mais solidez e posso dizer: – É preciso estudar mais!

Não estudar por estudar, para cumprir o mote do ‘tarefismo’ que tomou conta de nossos espaços. Estudar para compreender estes novos tempos e agir sobre a realidade com mais conhecimento de causa e menos desperdícios de energias, com poucos ou nenhum resultado. Porém, submeter-se a isso não exige o que muitos equivocadamente chamam de sacrifícios. Exige sim, adesão, sentimento de necessidade, pertença do sapiens, postura de humildade para dispor-se a relação de crescimento mutuo. - A transformação só pode emergir de um tecido social fortalecido, do contrário se rasgará nas fragilidades de uma composição pouco coesa.

As organizações sociais precisam repensar suas agendas de formação, metodologias (convencionais ou da educação popular), mesmo aquelas que sempre deram certas, pois não significam que ainda possam responder as questões de nosso complexo momento. Já ouvi em alguns lugares que oficinas com tarjetas são formas ‘moderninhas’ de educação popular com pouco resultado. Confesso, me assusta ouvir isso de quem trabalha na organização pedagógico de centros de referências na educação popular e movimentos, como ouvi este ano. Para mim, é o típico pensar de quem reproduz a lógica corporativista do escolasticismo acadêmico. Nada contra a academia, mas não é dela que precisamos essencialmente neste momento, e não trato aqui de teoria em quilos/toneladas - trato da justa medida, aquela que leva formação de massa - quadros é outra coisa e diga-se: não foge da nossa necessidade.

O filósofo Francis Bacon disse: ‘Saber é poder’ – e é sim! - Tanto é, que aqueles que acusam lideranças importantes deste país de ‘burros’, ‘analfabetos’, ou então, que ainda consideram o agricultor o ‘jeca tatu’. Ou na mais ousada negação do poder da sabedoria, chamam Paulo Freire de idiota por um lado, e por outro, militam no elitismo da estupidez para acabar com qualquer processo de educação popular que vise uma formação para consciência de classe – cite-se aqui, a mentalidade do governo federal sobre escolas, universidades e institutos federais. Se eles visam esterilizar, é porque veem resultado, o que por si só, tem que servir-nos de compreensão e convencimento. De ser os espaços de formação das entidades fundamentais para um novo ciclo de processos metodológicos, visando o fortalecimento de nossas lutas, a renovação de lideranças, reoxigenação dos processos, renovar de utopias e iluminar os dias que virão.

Findo este ano convicto do quanto aprendi nas andanças de centenas, milhares de quilômetros percorridos, e quanto ainda precisamos avançar. - Eu acredito, mas não quero e posso acreditar sozinho. - Que o ano novo nos coloque primeiro no compromisso de dizer o que queremos, não apenas para nós. E junto a este, quanto de energia, tempo e necessidade ofereceremos na construção daquela sociedade – mais humana e equitativa que desejamos e precisamos. Do contrário não haverá Natal, ao menos, não o dá justiça que almejamos e muito menos, aquele Natal do ‘menino Deus’ que vem ao mundo para enfrentar os poderosos!


Prof. Neuri Adilio Alves
Fonte: Publicado no Site Fetraf SC

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

TRABALHO DE BASE É UM REENCONTRAR O CAMINHO DE ORIGEM

Publicado na Página da Fetraf-SC - 03 de dezembro 2019


É preciso voltar... reencontrar o caminho de onde viemos. Ainda é tempo de rememorar nossos espíritos, visitar a pia de nosso batismo na luta, de beber nas palavras do poeta Thiago de Mello: ‘’Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar. Vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar. Vale a pena não dormir para esperar a cor do mundo mudar’’. - Urge-nos levantar: com olhos no mundo, no local, sem pontualidades dispersas e com transversalidades correlatas. É preciso entender que não há outra alternativa, é imprescindível reencontrar o caminho de nossas origens, guardado no tempo sob o nome de Trabalho de Base.

Faz-se necessário reencontrar o velho ‘corpo a corpo’, estender às mãos, olhar nos olhos, oferecer o ouvido, oportunizar a fala, queixas e as contradições – de outro modo, desapareceremos como silêncio, diluídos como categorias. É preciso reagrupar, promover um novo batismo de reinserção, nos reconverter ao caminho e identidade de classe trabalhadora, levantar das cinzas como uma Fênix subjugada pelo neoliberalismo, que ao nos individualizar, congelou-nos, imobilizando como energia da luta e organização. Novamente recorro ao poeta: ‘’Não importa que doa: é tempo de avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo... É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. Se trata de abrir o rumo. Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando’’.

E porque deste apelo? – Porque assessorando a Fetraf Santa Catarina nos últimos anos, falar de organização e trabalho de base (para além da linda história) não é novidade. Fizemos pesquisa e diagnóstico na base para entender os desafios. Com os dados coletados passamos realizar atividades de formação, fomentamos processos de multiplicadores, planejamentos de ações em sindicatos, materiais de publicidade, curso para intervenções via diálogo, atividades de contato (corpo a corpo), momentos de troca de saberes com o mestre Ranulfo. Alguns resultados dizem onde e quem fez a experiência. O que reafirma a máxima: ‘A prática é o critério da verdade e a reflexão implica a ação’ – ou seja, embora no caminho, falta muito ainda. Principalmente, na compreensão da necessidade de livrar-se do burocratismo e comodismo que muitos dirigentes se prenderam. É preciso sair para encontrar a base, não esperar contribuições/dinheiro que não vão chegar se não associar o trabalhador.

Sempre que convidado para atividades de debate, reflexão, planejamento e proposição nos últimos anos, tenho por compromisso dizer que se não renovarmos, não só a mentalidade na linha de frente de parte do movimento sindical, extirpar vícios enraizado e aquele ‘profissionalismo’ de carreira incrustado nas entidades, veremos consolidada o que o filósofo Jean Baudrillard dizia: ‘’A imagem do homem sentado, contemplando num dia de greve geral sua tela de televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais deprimentes imagens da antropologia de nosso século’’. – A não consolidação e naturalização desta realidade só é possível com um novo tempo de partida, de reencontro com a base de trabalhadores, oportunizando a participação, formação e reinserção na luta de classe – o sujeito de luta é o objeto da ação.

Mas não sair por sair, precisamos estudar a realidade, ler mais para nos inteirar, nos renovar, revigorar e ser capaz de admitir esta necessidade. Não se trata de revisionismo, e sim, de capacidade de recolocar-se no processo, ciente que em algum momento no caminho dos últimos anos nos perdemos. Que os trabalhadores tiveram suas vidas privatizadas, sua força de trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar como dissera Bertold Brecht. Reconquistar parte deste terreno perdido pelo avanço do capital, pela despolitização, diluição do sentido de classe exige esforço, tempo de reflexão e atitude para ações ousadas, sacrifícios, doação, compromisso e acima de tudo, humildade para reconhecer que certos limites não cabem na luta de classe – e aqui se necessário, abrir caminho para quem está disposto a assumir a linha de frente. Do contrário, não passaremos de multidões famintas e desorientadas em êxodo, massas despolitizadas, boiada sem rumo, praças vazias, meras pipetas do capital, matéria orgânica na diluição cósmica, memórias passageiras e vazias.

Um começo neste processo, passa pelo dirigente disposto a visitar referenciais como o roteiro de textos organizado pelo CEPIS e proposto no livro ‘Trabalho de Base’ compilados por Ranulfo Peloso para ‘Expressão Popular’ (na Fetraf tem exemplares a venda). Já trabalhei este roteiro em atividades de formação em muitos sindicatos e o referencio como bíblia de cabeceira de todo sindicalista comprometido, como instrumento importante de orientação para a organização e luta no movimento sindical. Não tenha medo de ler, pois um livro tem que ser machado a quebrar os gelos presentes em nós. Acima de tudo, é necessário rememorar que somos processo continuo de transformação e Karl Marx disse: ‘a prática é o único critério da verdade’. Ou seja, não há receita mágica para o trabalho de base, o melhor modo de fazer é fazendo – abra o livro, se encontre, se identifique, se sinta caminho e protagonismo.

E não esqueçamos: se Cuba que já fez uma revolução há mais de meio século segue fazendo formação sobre organização e trabalho de base, talvez isso nos sirva, senão de lição, como orientação. Do contrário, não é difícil acreditar no fim da história, do sujeito político e primazia da coisificação: eu, você, o mundo, reduzido a meras coisas.

Prof. Neuri Adilio Alves - Assessor de formação e elaboração na Fetraf-SC