quinta-feira, 22 de julho de 2010


A mentira na história e a compreensão da crise



O capitalismo atravessa uma crise estrutural para a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que deforma o real, impondo à humanidade uma Historia deformada , forjada pelo capitalismo para lhe servir os interesses. 

Essa compreensão é extraordinariamente dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.

A lógica das crises
No esforço para enganar e confundir os povos, a primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um bombardeio midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira, resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia, mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do capitalismo, de âmbito mundial. A simulação da surpresa fez parte do jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se na lógica da História. 

Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do capitalismo. 

A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita, numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Yalta. Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos assumidos. 

A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram rapidamente retomados.Como os povos estavam sedentos de paz, uma gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista sobre uma paz perpétua. 

A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente discutido com a Casa Branca. O medo da "barbárie russa" abriu o caminho à Doutrina Truman e à OTAN. Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.

Cabe recordar que somente após o afastamento dos comunistas dos governos da França e da Itália os ministros anticomunistas deixaram de integrar governos de países do Leste europeu. 

É também significativo que os historiadores norte-americanos e ingleses – com raríssimas exceções - omitam que a implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa sem recurso à força armada, enquanto na Grécia – país situado na zona de influência inglesa - o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas a mídia ocidental ignorou esses massacres. O tema era incômodo.O tão comentado plano russo de "conquista e dominação mundiais" não passa de um mito forjado em Washington e Londres para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como "aliança defensiva" capaz de se opor "à subversão comunista". E a arma atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem. 

Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a guerra e promover o "expansionismo comunista" uma sociedade nessas condições?

A agressividade vinha toda dos EUA que tinham sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado britânico. 

A Grã Bretanha, cujo império principiava a desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao aliado russo, antes freqüentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina de Ferro, meses antes do final da guerra tenha afirmado: "Não conheço outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o governo soviético russo. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma discussão sobre a boa fé russa". (citado por Isaac Deutscher em Ironias da História, pág. 184; Ed. Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o mundo… 

Mesma hipocrisia numa crise muito diferente 
Desagregada a União Soviética e implantado o capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados. Surgiu assim "o eixo do mal". Pequenos países como Cuba, o Iraque e a Coréia do

Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram apresentados como "ameaça à segurança" dos EUA e dos seus aliados. Um homem, Osama Bin Laden, foi guindado a "inimigo número um" dos EUA. O Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial. 
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina midiática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre "as armas de destruição massiva" que Saddam Hussein teria acumulado para agredir a humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror. O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.

O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer que, afinal, as tais armas de destruição massiva não existiam.

Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da história.

Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das mais importantes civilizações criadas pela humanidade é a mais recente ameaça à "segurança dos EUA". A Agência Internacional de Energia Atômica não conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com o objetivo de produzir armas nucleares. Com o aval do Brasil e da Turquia , o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se ele não se submeter a todas as suas exigências. 

Isto acontece quando Obama se viu forçado a demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na seqüência de uma entrevista na qual o general McChrystal - aliás, um criminoso de guerra (vide artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) - criticou duramente o presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na região. 

Entre a farsa e a tragédia

Diariamente, a grande mídia norte-americana repete que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica.É suficiente ler os artigos sobre o tema de Prêmios Nobel da Economia (aliás, empenhados na salvação do capitalismo), como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo, para se compreender que a situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se. Não é a taxa do PIB que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas financeira. 

Os discursos do presidente contribuem para confundir os cidadãos em vez de esclarecê-los. Persistem contradições entre a Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da administração que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres. 
A retórica presidencial não pode esconder que a estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais. As empresas acumulam novamente lucros fabulosos enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios principescos. 

O grande capital resiste, aliás, com o apoio firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria tímidas - como a reforma do sistema de saúde - que a administração adota (ver artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).É cada vez mais transparente que estamos perante uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia como saída "salvadora" é muito forte, mas no próprio Pentágono generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão terrestre está excluída e o bombardeio com armas convencionais de alvos estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca onda de anti-americanisno no mundo muçulmano. 

O recurso a armas nucleares táticas é a opção de uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a extinção da humanidade.Retomo assim a afirmação do início, tema desta reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da crise de civilização que o homem enfrenta.
 
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.

      Fonte: http://www.correiocidadania.com.br

Alejandro Nadal: A caminho da Grande Depressão?

A crise global não dá sinais de se resolver. Os sobressaltos nos mercados financeiros e as más notícias nos setores reais da economia indicam que as coisas poderiam piorar. Alguns analistas já se questionam abertamente se o mundo se encaminha para uma réplica da Grande Depressão dos anos 30.


Por Alejandro Nadal, no Informação Alternativa

Não é uma questão alarmista. A realidade é que as raízes desta crise são muito profundas e encontram-se na própria essência das economias capitalistas. O vulcão que entrou em erupção em 2008 é a parte visível de um desastre que tem vindo a ser cozinhado desde há mais de 30 anos.

Convém recordar alguns traços da evolução da economia estadunidense para compreender que a recuperação vai requerer algo mais que um simples estímulo fiscal. As lições são importantes para todo o mundo.

Nos Estados Unidos, a crise atual não se originou pura e simplesmente no mercado das hipotecas lixo. As origens encontram-se na compressão salarial desde os anos 70. Esse fenômeno pôs fim à chamada fase dourada do capitalismo (1945-1975) marcada por taxas de crescimento sustentado, por remunerações em alta e uma redução notória na desigualdade social. Em contrapartida, a partir dos anos 70, o crescimento reduziu-se, a massa salarial caiu e a desigualdade aumentou.

A única forma de manter níveis adequados de procura agregada foi através do endividamento que começou a crescer desmedidamente nos anos 70. Esse processo culminou com o desenfreado crescimento de passivos do setor privado nos últimos 15 anos nos Estados Unidos. Hoje, o panorama não é nada tranquilizador.

Um estudo recente revela que, em média, a contribuição do endividamento para a procura agregada nesse país durante a década passada atingiu 15 por cento anuais e culminou em 1998 com 22 por cento. Ou seja, quase uma quarta parte da procura agregada nos Estados Unidos foi financiada com dívida em 1998. Em contraste, na década de 20, a dívida só financiou 8,7 por cento da procura agregada, em média.

O descalabro atual é ainda mais preocupante. Nos últimos 30 meses, a descida no nível de endividamento é de 42 por cento. Isto é, o desendividamento tem contribuição negativa para a procura agregada, muito superior ao que aconteceu entre 1929 e 1931 (queda de 12,5 por cento pelo desendividamento).

E esse ritmo de desendividamento não parece estar a diminuir nestes dias. A única coisa que pôde mitigar esse brutal processo de contracção da procura agregada foi o estímulo fiscal que agora está a esgotar-se.

Neste contexto, o apelo à redução do déficit fiscal no comunicado final do G-20 de Toronto é uma estupidez. Desde 1970, nem a procura, nem o emprego cresceram nos Estados Unidos sem a ajuda de uma procura agregada impulsionada pelo endividamento.

Enquanto os assalariados tratavam de compensar o estrangulamento salarial e a perda de poder de compra com mais dívida, o grande capital deslocou as suas operações para países com baixos custos salariais. O processo culminou com o traslado de centenas de milhares de empregos para a China.

Em três décadas, o mundo foi testemunha do desmantelamento do tecido industrial nos Estados Unidos. Alguns consideram que se tratou de um processo associado à evolução normal de uma economia capitalista. Mas a verdade é que as grandes companhias multinacionais que beneficiaram com o translado das suas operações manufatureiras para a China não se desindustrializaram, simplesmente mudaram de domicílio.

Nos Estados Unidos ficaram os que pensam que o melhor desse país é a sua capacidade de fazer inovações financeiras. Um resultado deste processo foi o desequilíbrio mundial entre os maiores países superavitários (China) e deficitários (Estados Unidos). Em boa medida, a incapacidade da economia estadunidense para gerar empregos deve-se precisamente ao desmantelamento do tecido industrial ao longo dos últimos 25 anos.

No Congresso, em Washington, quase ninguém quer outro pacote de estímulo para a economia estadunidense. Por isso, muitos agora pensam que haverá uma recaída e o gráfico da recessão terá a forma de um W. Mas outros pensam que poderia ter a forma de um L muito, mas muito alongado. Isto é, a economia dos Estados Unidos permaneceria no colapso vários anos.

Face a esta paisagem, o G-20 pronunciou-se por manter e aprofundar o modelo econômico neoliberal no mundo. Como se o único futuro possível fosse o mesmo laboratório de onde saiu a crise atual.

Deveriam ler o último capítulo da Teoria Geral de Keynes, em especial a passagem na qual adverte que talvez o único meio de manter o pleno emprego e diminuir a desigualdade será através da socialização do investimento. Mas, com a breca, tudo isto era proibido pensá-lo no pequeno estado policial em que o Canadá transformou a sede do G-20.

Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia

Responsabilidade social

Zillah Branco *

 

A sociedade capitalista imputava a quem tinha alguma parcela de poder, a responsabilidade pelos que dele dependiam, o que dava, em contrapartida, direitos de proprietário da mão de obra disponível. Esta era uma herança medieval favorável aos antigos senhores de terras que eram donos da população residente, que nada tinha de seu, e usava a força de trabalho na produção, em funções de defesa e construção de infra-estrutura. Era uma responsabilidade teórica e mal definia alguns deveres na manutenção das condições de vida dos servos. Com a Revolução Industrial, já no século XIX, os legisladores começaram a isentar de qualquer responsabilidade social os grandes empresários que não estavam ligados à terra como os antigos “senhores”, mas que contratavam assalariados com quem não tinham laços de dependência relativos à vida privada de cada um. Eram contratados, dispensados, substituídos como peças do mecanismo de produção.

Os benefícios de moradia e alguma estrutura de uso social eram construídos como “generosidade da empresa” que cobrava aluguéis e vendia produtos de consumo descontando nos salários. A construção de casas para as famílias de trabalhadores e o fornecimento de água, caminhos e produtos necessários à sobrevivência e à produção cumpria uma função de gestão e publicidade empresarial (que não era reconhecida pela classe empresarial e seus aliados no poder) e condicionava a dependência dos moradores que cumpriam as ordens patronais prendendo-os ao lugar e às dívidas contraídas desde o primeiro dia de contrato.

Quando as Associações Sindicais começam a defender os direitos mínimos de sobrevivência e de pagamento por horas trabalhadas, os legisladores introduziram diferenças nos conceitos jurídicos de modo a denunciar como “conspiração” as defesas sociais contra os interesses da “empresa” considerada como entidade indispensável à produção de interesse nacional. A produção tinha importância (teórica) para o país (e real interesse social e político da classe mandante) e a população devia colaborar para o seu crescimento e não podia defender direitos pessoais. Esta fórmula transformava a empresa na personagem fundamental sem referir que, na verdade, o interesse defendido era pessoal, do proprietário. Consideravam os crimes contra a propriedade, mas não contra as pessoas (pobres, é claro). Até hoje esta anomalia, do ponto de vista da sociedade humana, persiste como uma peia na democracia pelos desleixos jurídicos.

Para o sistema capitalista, a transformação de empresas e instituições em personagens e sujeitos da história, permitiu que o ser humano dominado perdesse essa característica (de sujeito que produz as transformações) e que os mandantes passassem a lideres e dirigentes por terem o poder de decidir o rumo a ser tomado pela empresa. O “valor” atribuído às pessoas/objetos depende dos produtos (em que participa com a sua mais-valia e o que consome através do mercado) e, assim, é estimulada a capacidade e eficiência pessoal, friamente, contabilmente, sem incorporar o valor humano e menos ainda o valor social do coletivo. No outro extremo da sociedade o valor também é pessoal, correspondendo aos recursos financeiros de que dispõe ou o poder político que move as finanças. O valor da produção é relacionado ao crescimento da riqueza e não ao desenvolvimento da sociedade. Os Estados Unidos radicalizaram estes conceitos a ponto de 70% do seu Produto Interno Bruto corresponder ao consumo de quaisquer produtos.

Hoje no Brasil transformado por 8 anos de democracia (apesar das dificuldade herdadas e das oposições políticas) são discutidas as causas sociais dos problemas humanos mais difíceis de serem ultrapassados, como a violência, a criminalidade, as desordens mentais estimulados pelos desequilíbrios sócio-econômicos e começa-se a mencionar a responsabilidade social dos empresários e dirigentes que constituem a elite cujo poder compete com o dos representantes eleitos pela população. Até mesmo a mídia vê-se obrigada a promover debates e, vez por outra, aparecem estudiosos a sério das questões sociais que introduzem interessantes análises. No dia 14/7 o programa da TV Globo, “entre aspas”, surpreendeu os expectadores com uma discussão lúcida sobre a faladoria que a mídia tem alimentado em torno do crime bárbaro em que está implicado o goleiro Bruno.

O psiquiatra Pedro Forbes e o consultor para assuntos de futebol José Carlos Brumoro contestaram a posição habitual divulgada pela TV que aponta como causa da má formação mental de um jovem com talento reconhecido nacionalmente, a família ou as carências sócio-econômicas na infância. Atribuem, sim, aos agentes empresariais que deram ou acompanharam a formação profissional sem cuidar do caráter e dos impulsos descontrolados do jovem que, como tantos outros, saiu da miséria e de uma condição de vida marginal para ser lançado como milionário que tudo pode na sociedade desregrada onde os valores éticos são considerados caretice e muitos dos heróis são ambiciosos sem escrúpulos. Reclamam a responsabilidade de quem conduz a formação da juventude.

Cabe uma pausa para perguntar quem deve ser responsabilizado por esta selva que engole uma juventude desavisada. A família? O sistema escolar? O Estado ? Os serviços sociais e de segurança? Mas a sociedade tem outras fontes de poder que atuam impunemente: as Igrejas, os Partidos, a Mídia, os Editores, as Grandes Empresas, as Corporações Profissionais etc, etc. Na verdade, todos os que participam na vida social são responsáveis (por isso estamos empenhados em levar os trabalhadores e suas famílias, todo o povo, a participarem ativamente nesta sociedade).

Voltando ao tema discutido através da “Globo”, foi explicado pelo psiquiatra P.Forbes que neste trajeto de vida em que é promovido, sem preparo ético, um jovem pobre a um ídolo milionário que “tudo pode”, há uma quebra da identidade que o deixa a mercê de qualquer influência . E Brumoro explica que hoje os dirigentes do futebol não são, como antes, profissionais, mas sim “colaboradores” financeiros. Cuidam apenas da gestão empresarial eficiente para alcançar sucesso.

E fica a pergunta: que exemplo ético ou moral poderá dar alguém que lida com as finanças visando lucros e crescimento econômico, se não tem qualquer vínculo com as questões humanas da formação do jovem que segue uma carreira profissional? Que ambiente cerca o jovem milionário (inclusive nos clubes e nas várias empresas que o envolvem como mais um objeto em promoção) onde ninguém diz “não” ao ídolo, todos o mimam e bajulam, e alguns aproveitam para introduzir os seus produtos que circulam nos antros do crime organizado? Nada mudou na sociedade capitalista desde a Revolução Industrial quando uns são mandantes da elite e os outros são objetos de produzir riqueza.

Mas, o jovem ídolo caído é um cidadão maior de idade, e deve responder pelos seus atos criminosos mesmo que muita gente que prega a educação seja co-responsável pela sua formação defeituosa. A responsabilidade social só é atribuída aos que não têm poder.
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Inpe revela queda de 47% no desmatamento da Amazônia

 

Há apenas dois meses do período de coleta de dados da taxa anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica queda de 47%. O número é maior do que os 42% do porcentual recorde de queda da devastação da floresta, registrado pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no ano passado.

 

A indicação de nova queda aparece nos dados acumulados durante dez meses — entre agosto de 2009 e maio de 2010 — pelo Deter, o sistema de detecção do desmatamento em tempo real. Divulgado também pelo Inpe, o Deter é usado para orientar a ação de fiscais no combate à devastação da Amazônia.

O sistema Deter já captou desde agosto passado o corte de 1.567 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica. Essa área é superior à cidade de São Paulo. Mas conta apenas uma parte da história do que acontece na região.

Mais rápido e menos preciso, o Deter não capta desmatamentos em áreas com menos de 50 hectares (meio quilômetro quadrado). Vem daí a principal diferença entre o sistema de detecção do desmatamento em tempo real e o Prodes, que mede a taxa oficial, divulgada ao final de cada ano.

No ano passado, o Prodes mediu redução recorde de 42% no ritmo do desmatamento. A área abatida foi a menor desde o início da série histórica do Inpe, em 1988. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram devastados 7.464 quilômetros quadrados de floresta, ou cerca de 5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

No ano anterior, a Amazônia havia perdido quase 13 mil quilômetros quadrados de floresta. Essa queda recorde foi registrada depois de um ano de interrupção num período de queda do abate de árvores, e deve-se sobretudo do aumento de fiscalização e de medidas como o corte de crédito aos desmatadores e o embargo da produção em áreas de abate ilegal de árvores.

Piores anos

De acordo com dados dos satélites do Inpe, os piores anos para a floresta foram 1995, 2004 e 2003, com mais de 25 mil quilômetros quadrados devastados em cada um desses anos.

A nova taxa oficial de desmatamento ainda depende das medições dos satélites nos meses de junho e julho, que tradicionalmente apresentam ritmo acelerado de corte de árvores.

O período mais complicado na preservação da floresta começa com o fim das chuvas na região e segue até outubro. Em maio, o Inpe registrou 11,4% de desmatamento a menos do que no mesmo mês do ano passado, dado de contribuiu para a queda de 47% acumulada desde agosto de 2009.

Queda significativa

A exploração ilegal de madeira no Brasil caiu até 75% na última década, segundo estudo do instituto britânico Chatham House. A redução da exploração ilegal teve reflexo direto no contrabando da matéria-prima. A importação de madeira ilegal pelos principais países consumidores caiu pelo menos 30%, segundo o levantamento.

Os pesquisadores analisaram a cadeia produtiva da madeira ilegal em cinco países tropicais detentores de florestas (Brasil, Indonésia, Camarões, Malásia e Gana), em países consumidores (Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França e Holanda) e na China e no Vietnã, que processam a madeira e fornecem produtos para o mundo industrializado.

Segundo a Chatham House, o desmatamento ilegal na Amazônia caiu 75% na última década, principalmente nos últimos cinco anos, quando o governo intensificou o combate às derrubadas na região e modernizou o sistema de transporte e comércio de madeira, com o Documento de Origem Florestal (DOF).

Falhas apontadas

O relatório elogia o sistema brasileiro de monitoramento de florestas e cita o aumento no número de operações policiais na Amazônia para combater o desmate.

No entanto, os pesquisadores ainda apontam falhas no cumprimento das sanções aplicadas nas infrações ocorridas na floresta amazônica, onde a derrubada ilegal ainda representa de 35% a 70% de todo o desmatamento.

"As penas nem sempre são aplicadas. No Brasil, por exemplo, apenas 2,5% das multas são recolhidas", acrescenta o texto.

Da redação, com agências


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Nova York expulsa professor que viajou a Cuba com alunos

A Prefeitura de Nova York decidiu expulsar do sistema público de ensino da cidade um professor de um instituto de Manhattan que organizou uma viagem a Cuba em 2007 com seus alunos, em desobediência à vetusta proibição que o país mantém contra seus cidadãos, proibidos de visitarem a Ilha.

 

A agência municipal que supervisiona as escolas de Nova York decidiu, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira (21), que Nathan Turner, um professor de história que lecionava no instituto de ensino médio Beacon, no bairro do Upper West Side, nunca mais poderá trabalhar como professor na cidade.

A prefeitura local afirma alega que Turner teria sido o único responsável por fazer com que alguns alunos desse instituto nova-iorquino quebrassem as leis federais que proíbem todos os cidadãos americanos de viajarem à ilha caribenha a partir do território americano.

As autoridades municipais retiram qualquer responsabilidade da direção da escola e acusam Turner pela viagem, ao mesmo tempo que açodadamente descrevem o professor como um "comunista que tinha de ver Fidel Castro mais uma vez antes que morresse".

Turner, que reuniu 30 estudantes e administrou a viagem mediante uma organização religiosa de Nova York, já tinha conseguido viajar para Cuba anteriormente com alunos de Beacon em 2000, 2001, 2003 e 2005, com o consentimento do centro e do Departamento de Educação do Estado de Nova York.

As viagens de estudos entre os Estados Unidos e Cuba são permitidas para alunos em idade universitária, mas o instituto Beacon conseguiu enviar em várias ocasiões seus alunos para Cuba, entre os que em 2005 se encontrava a enteada do agora governador de Nova York, David Paterson, segundo detalha o The New York Times.

Turner foi obrigado a deixar seu trabalho no instituto Beacon em 2008 e se mudou para Nova Orleans, onde dirige um projeto comunitário.

Da redação, com agências


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Astrônomos detectam estrela gigantesca

Um corpo estelar duas vezes maior que os detectados até hoje foi enocntrado por astrônomos, quem consideram que o astro terá vida efêmera. Trata-se da estrela gigante R136a1, que tem massa equivalente a 250 vezes a do nosso Sol e é milhões de vezes mais luminosa, segundo descrição dos autores do estudo da Universidade britânica de Sheffield.

 

Este tipo de corpo estelare perdura por apenas alguns milhões de anos, antes de implodir, explicou Paul Crowther, o cientista principal.

As estrelas podem pertencer a dois conjuntos, os de massa pequena , como nosso Sol e os de grande massa, que chegam a no máximo um por cento na quantidade de estrelas existentes no Universo, assinalou o especialista. O R136a1 é um exemplo de um super peso pesado, exemplificou.

As estrelas de tamanho normal ao apagar-se transformam-se em anãs brancas, enquanto as de massa gigante podem formar buracos negros e estrelas de neutron, destacou.

"Levamos algum tempo para chegar a esta conclusão. Achava-se que esse corpo era grande, mas em realidade é enorme", agregou o especialista de Sheffield.

Uma estrela gigante é uma estrela com uma raio e uma luminosidade maior que uma estrela igual de seqüência principal com a mesma temperatura superficial . As que superam a luminosidade das gigantes se denominam supergigantes e hipergigantes.

Fonte: Prensa Latina

Estudantes apresentam propostas para as eleições deste ano

 

A União Nacional dos Estudantes (UNE) divulgou nesta terça-feira (20) – através do Portal EstudanteNet – um documento com as plataformas políticas dos estudantes para as eleições deste ano.

 

O documento intitulado “Projeto UNE pelo Brasil” foi elaborado através das propostas discutidas durante o 58º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg) da UNE – realizado entre os dias 22 e 25 de abril, no Rio de Janeiro. O evento reuniu mais de 500 lideranças estudantis de todo o país.

"Aprovamos um amplo documento construído com propostas discutidas entre as principais lideranças estudantis de todo o país. Aqui estão as nossas reivindicações, o que acreditamos serem avanços, e o que queremos avançar ainda mais. Vamos apresentar aos presidenciáveis e queremos o compromisso deles com nossas pautas. Esse é o papel da UNE. Exigir que a educação, o esporte, a cultura e muitas outras pautas que envolvam os jovens brasileiros tenham prioridade nessas eleições", explica o presidente da entidade, Augusto Chagas.

Propostas

O documento traça linhas estratégicas para o desenvolvimento do país na visão dos estudantes. Tais como mais educação, mais direitos à juventude, mais cultura, soberania internacional, mais democracia e direitos sociais.

“O Projeto Brasil é muito importante para marcar o posicionamento dos estudantes brasileiros com relação aos rumos que o Brasil deve tomar”, afirma o segundo vice-presidente da UNE, Bruno da Mata.

As propostas tratam, entre outros pontos, da aplicação de 50% do Fundo Social do Pré-sal para Educação, desenvolvimento sustentável com geração de empregos e distribuição de renda, defesa da diversidade cultural, do território nacional, pela democratização da comunicação, além de mais direitos para as mulheres e minorias.

Além do discurso

"Fundamental é fazer com que o projeto dos estudantes brasileiros seja construído através de mobilizações, debates e lutas dentro de cada universidade e nas ruas, apenas dessa maneira conquistaremos a universidade e a sociedade que queremos", pontua o primeiro vice-presidente da UNE, Sandino Patriota.

O Projeto UNE pelo Brasil – conduzido pelo movimento estudantil – afirma ainda que não serão aceitas políticas de retrocesso – com o retorno às privatizações, ao estado mínimo e às políticas de destruição da educação.

O objetivo da UNE é mobilizar a rede estudantil por todo o país na defesa do povo brasileiro e de sua soberania. A entidade – não declara apoio a nenhum a nenhum candidato à Presidência da República – pretende fazer a entrega formal do documento a todos os presidenciáveis.

Da Redação, com informações Portal EstudanteNet

Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho

Sidnei Liberal *

Entramos numa fase de campanha política em que a ordem é bater. Se não tiver como bater, há de se inventar, criar, repetir, requentar. Ainda não conseguimos atravessar o período em que o governo Lula foi invadido por um tal “denuncismo”, travestido de jornalismo investigativo. Irresponsável, politiqueiro, sem porteira, como diria Veríssimo, o pai.


É o que revelam tantos textos pseudojornalísticos, prenhes de “denunciou”, “teria elaborado”, “teria causado”, “foi acusada”, “escândalo”. Quase sempre de fonte suspeita, adversária. Interesses subreptícios, beirando o explícito. São palavras, intenções e ações que não resistem ao menor crivo do jornalismo sério.

O jornalismo sério, para informação da nova geração, é uma prática dos tempos de Barbosa Lima Sobrinho, de Carlos Castelo Branco. Hoje, anêmica, em baixa na bolsa midiática global.

É temerário, pois, auferir credibilidade passiva, acrítica, ao que está ou esteve na rede, nas revistas, jornais, ou foi divulgado por rádio e/ou televisão. Pior ainda os “repassando”, textos que circulam na internet, geralmente de má qualidade e pior credibilidade, no mais das vezes, apócrifos. Como se sabe, textos primários são impressos em papel. E papel tudo aceita. É por isso que o Jornalista tem o cacoete profissional, qual um cheque lista de aeronauta, de não escrever um texto que não responda a maioria das perguntas: quem? o que? quando? onde? e por que? O leitor crítico também busca estas respostas em suas leituras.

O leitor acrítico, não. Ele lê/ouve seu Jabor, Mainardi, Casoy, Cantanhêde, confiando que seus textos não possam ter a menor intenção de distorcer a realidade dos fatos. Não desconfia que cada fato pode ter mais de uma versão, cada uma ditada pelo interesse de quem a escreve e divulga. Ele não percebe que são muitas as armas do convencimento, seja uma aura de santidade, de falsa inquietação moral, seja uma contundência verbal ou a beleza plástica pela qual o texto se apresenta. A acriticidade da leitura e os textos sem o viés profissional têm dominado o panorama político brasileiro desde o “escândalo” do “mensalão”, quando, como dizia Nelson Rodrigues, “os idiotas perderam a modéstia”.

E por que o denuncismo? Nada como práticas deletérias antigas serem expostas em novo tempo e contexto para tentar, como foi largamente feito, desestabilizar a reeleição de um governo que não teve origem na elite e, ao mesmo tempo, teve a ousadia de tentar recuperar parte do que foi surrupiado dos pobres pela burguesia. A burguesia fede, dizia Cazuza. E é mesquinha e vingativa, diríamos. Ela não suporta ver um governo “analfabeto” ousar conduzir sua política exterior com soberania e responsabilidade em relação ao grande capital, aos donos da geopolítica internacional. Um governo que desafiou o usual adesismo automático de antes ao expansionismo do tio Sam.

A grande possibilidade de vitória da candidatura identificada com o atual governo, por um lado, e a defesa de interesses contrariados da nossa elite, personificados na candidatura tucana, por outro, têm produzido frenético retorno da onda denuncista. A grande maioria da imprensa nacional, comprometida com o retorno tucano, começa a mostrar suas ferramentas de fazer tramoia. Desta vez, com maior dose do que o presidente Lula chama de jogo rasteiro. Comprova-o a grosseria, a falta de respeito e o preconceito com que um grande jornal de circulação nacional, a Folha de S. Paulo, pôde estampar, em página nobre do jornal, a candidata Dilma caracterizada de prostituta.

Mais: Fabricação de boatos, dossiês fantasmas, câmaras e teclados atentos a qualquer escorregão. Episódios retirados do contexto e ressaltados como desqualificador da candidata. Como exemplo de tramóia, uma legítima contratação de assessoria jurídica para acompanhamento do processo eleitoral, como o fazem todos os candidatos. A mídia transforma o fato em artimanha da candidatura petista “para burlar” a legislação eleitoral.

No caso dos dossiês, a condenação pode ser pelo fato de ter sido (supostamente ou não) elaborado, vazado, comprado, ou, de outro lado, pelo seu conteúdo. Depende de quem pode ser atingido. Foi por essa tramoia que não mais soubemos o que aconteceu com o caso de mais de 1000 ambulâncias superfaturadas por uma máfia que se instalou no Ministério da Saúde de Serra. Quando o conteúdo supostamente atinge o lado da “base de sustentação”, não interessa discutir a elaboração, o “vazamento”, a compra do dossiê. Discute-se o conteúdo.

Se o assunto é um suposto esquema irregular de financiamento de campanha comandado pelo vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge e, de quebra, uma milionária usina de arapongagem supostamente financiada pelo Ministério da Saúde para bisbilhotar futuros adversários presidenciáveis do candidato Serra, dá-se preferência à criação de uma suposta oferta de um “dossiê” correspondente ao comitê político do lado oposto. Um dos jornais assume a tramoia e forma-se uma retumbante onda em toda a mídia. Não são tempos de Barbosa Lima e Castelinho.
* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

As memórias balsâmicas podem minorar a insanidade moral?

Fatima Oliveira *

Diante do meu interesse sobre a capacidade de enfrentar problemas e resolvê-los sem gerar novos conflitos, e até que ponto a agressividade destruidora impede resolvê-los "numa boa", sem mortos e feridos, uma amiga disse que ando filosofando demais. Ela tem alguma razão. São perguntas filosóficas, mas ancoradas também em outros naipes. 

 

Meu interesse é focado em pessoas desprovidas do "locus da moralidade", que a psiquiatria catalogava como "insanité sans délire" (insanidade moral), hoje sociopatia ou psicopatia - uma condição neurodegenerativa, que atinge 1% a 3% da população, "intratável, incurável e irreversível" - o mesmo que Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), ou Distúrbio da Personalidade Antissocial (DPAS), para maiores de 18 anos, e que na infância é diagnosticado como um dos "transtornos disruptivos do comportamento", atitudes antissociais: Transtorno Desafiador e de Oposição; Transtorno de Conduta; e Transtorno de Personalidade Antissocial.


Leiga em psiquiatria, prefiro a antiga terminologia "insanidade moral", que expressa bem a condição de TPAS/DPAS: insanos morais irrecuperáveis, pois não há ex-sociopata; não têm dó de ninguém; possuem memória afetiva distorcida: mesmo criados em ambientes emocionalmente saudáveis, sentem-se lesados. Compreendê-los exige mergulhar num mundo estranho, pois nascem incapazes de incorporar discernimento moral e habilidades sociais para solucionar problemas de modo ético e não conseguem sair da borrasca para um céu de brigadeiro, pois não possuem o porto seguro das memórias afetivas.


Rememorar a minha infância é balsâmico. Ouço vovó mandando entrar quando a brincadeira de roda estava na melhor parte: "Chispa! Pra dentro. Lave os pés e escove os dentes". Ordem inegociável. Depois de "asseada", eu corria para o colo do meu avô, que àquela hora sempre estava sentado na calçada "pegando uma fresca". Esperneava quando ele dizia: "Pega a menina Maria, já dormiu...". Ele não me levava até o quarto, pois não entrava no quarto das meninas. Era uma conduta moral lá das brenhas do sertão. Adulta, perguntei à vovó por que aquilo. Respondeu que "não se usava pai entrar no quarto das filhas, depois de grandes. Era o costume".


É doce ouvir: "Vamos ler a revista nova do papai?" Abria onde queria que eu lesse; e, se eu errasse a entonação, ou engolisse a pontuação, ele corrigia: "Lê de novo! Agora sem engolir as vírgulas e os pontos". Transporto-me para a máquina de costura da mamãe, onde eu surrupiava pedaços de pano para fazer roupas de boneca e, desgraçadamente, sempre quebrava a agulha e saía de fininho... Quando ela via a agulha quebrada, logo dizia: "A que horas aquela traquina passou por aqui?".


Insanos morais não guardam os carinhos recebidos e sentem que todos lhes devem tudo! Seria eficaz uma terapia que os ensine a cultivarem memórias balsâmicas? A criança que vive numa família (biológica ou social) sem bagagem emocional para suprir carinho e outras formas de afetividade pode ter dificuldades de aprender habilidades sociais para resolver problemas, mas não chega à "insanidade moral", apesar das evidências de que abandono e outras manifestações de desamor na infância estão estreitamente ligadas às posturas agressivas e similares. As que desfrutam de boa acolhida navegam em céu de brigadeiro - estado de aconchego que só quem é ou foi criança feliz tem para recordar e ser acalentada nos momentos difíceis ou felizes vida afora.


* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

terça-feira, 20 de julho de 2010

A arte e a rebeldia de Caravaggio

Mazé Leite *
 

Neste domingo, 18 de julho, completaram-se exatos 400 anos da morte de um dos maiores gênios da pintura: Michelangelo Merisi Da Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio. Revolucionário em seu tempo, subverteu as regras estéticas impostas pelo Concílio de Trento. 

 

Os MúsicosMichelangelo Merisi nasceu no povoado de Caravaggio, na lombardia italiana, em 29/09/1571. Seus pais, Fermo Merisi e Lucia Oratori, morreram cedo. Com apenas 12 anos, foi enviado para estudar no atelier de Simoni Peterzano, que se dizia discípulo de Ticiano (1488-1576). Passou quatro anos vivendo e estudando no atelier desse mestre. Com ele, aprendeu o tratamento das cores segundo o método de Ticiano e o naturalismo da escola pictórica lombarda.

Tendo rompido com seu mestre, parte para Veneza onde observou obras de Ticiano, e a técnica do sfumato de Leonardo da Vinci (1452-1519). A atitude artística do jovem pintor já era de rebeldia contra os convencionalismos de sua época. E o homem Caravaggio também era atraído por brigões, beberrões e vagabundos, freqüentando prostíbulos, jogos e se envolvendo em todo tipo de confusão, inclusive com os sbirri, a polícia. Era um homem agoniado, inquieto.

Mas seu destino era Roma, a cidade que atraía artistas de todo canto, devido à demanda da igreja católica que transformava a cidade num canteiro de obras, com o objetivo de ser o centro da cristandade e do mundo civilizado. Artistas de toda a Europa afluíam à cidade, participando das discussões sobre pintura, estudando os mestres.

Chegando à cidade, foi morar na casa do monsenhor Pandolfo Puzzi, onde viveu em condições tão frugais que apelidou o padre de “monsenhor salada”. Caravaggio perambulava pela cidade, percorrendo ateliês em busca de trabalho. Necessitado, pintava até três quadros por dia, que vendia muito barato. Com o passar do tempo, foi ficando conhecido e, segundo o biógrafo Gilles Lambert, Caravaggio alternava com seus amigos “sessões de trabalho, de festas e de diversões no submundo”. Era amigo de homossexuais e prostitutas, muitos dos quais posaram para ele em seu atelier. Seus modelos eram esses marginalizados, em quem o artista via o desespero da luta cotidiana pela sobrevivência em um ambiente dominado pela miséria. Em plena Roma, a cidade dos papas e cardeais cercados de riqueza e opulência!

No começo, Caravaggio se recusou a pintar quadros com temas religiosos. Mas logo, aconselhado por colegas, viu que essa era uma forma de sobreviver e pintou “São Francisco recebendo os estigmas”, de 1595, considerada a pioneira e a que melhor expressa a estética da arte barroca. Em geral os quadros eram encomendados por ricos burgueses que com eles presenteavam as igrejas, mas muitos de seus quadros foram recusados pelos padres. Nota-se que, nele, a transcendência do divino não surge como um além separado do mundo, mas como realidade da alma humana.

Em maio de 1606, em meio a uma briga de jogo, Caravaggio matou um colega. Condenado à morte, fugiu para Nápoles, depois indo para a ilha de Malta. De lá, fugiu para a Sicília, após agredir um cavaleiro da Ordem de Malta. Cansado, doente, ansioso pelo indulto que o permitiria voltar a Roma para continuar seu trabalho, foi detido no Porto Ercole, por engano, e levado à fortaleza da cidade. Lambert diz que ele foi visto, já livre da prisão, “atarantado, faminto, enfermo, extenuado em busca de um barco” que o levasse de volta a Roma. Estava infectado por feridas e com febre. E assim morreu no dia 18 de julho de 1610, antes de receber a notícia de seu indulto.

Fora essa vida inquieta e atribulada, Caravaggio foi um pintor original. O aspecto mais notável de sua obra é o tratamento do claro-escuro. Consiste em projetar a luz sobre as figuras com um contraste intenso e brusco com as sombras, o que marca o início de uma das grandes conquistas da pintura barroca. Outra característica primordial de seu estilo é o realismo enfático como reação ao idealismo renascentista. Ao invés de pintar figuras, mesmo as religiosas, com ar solene ou suave, conforme os ditames da igreja, ele as trata com um realismo quase insolente, usando como modelos, o povo das ruas.

Um bom exemplo, entre inúmeros outros, é o quadro O Enterro da Virgem. A figura de Maria foi inspirada no cadáver de uma prostituta afogada no rio Tibre e com o ventre inchado. Maria Madalena foi retratada muitas vezes a partir do modelo de uma jovem amante do pintor, assim como seus vários “João Batista” teve como modelo um rapaz amante de Caravaggio, que era bissexual.

As personagens principais dos quadros de Caravaggio estão sempre localizados na obscuridade: um cômodo sombrio, um exterior noturno ou simplesmente um fundo escuro. Uma luz poderosa que provém de um ponto da parte superior da tela envolve os personagens à maneira de um projetor de luz sobre uma cena de teatro. O coração da cena é especialmente iluminado e os contrastes produzidos por essa maneira de pintar conferem uma atmosfera dramática ao quadro.

Edward Gombrich, em seu livro História da Arte, diz que Caravaggio queria a verdade, acima de tudo. Por isso não tinha respeito pela beleza idealizada de seu tempo. No quadro São Tomé, os três apóstolos parecem trabalhadores comuns, com os rostos curtidos pelo tempo, testas enrugadas. Ele queria copiar a natureza, fosse ela bela ou feia e fez todo o possível para que as figuras dos textos bíblicos parecessem reais.
Sem Caravaggio não haveria – como diz o crítico de arte Roberto Longhi – “Ribera, Vermeer, La Tour, Rembrandt. E Delacroix, Courbet e Manet teriam pintado de outra maneira”. Poucos artistas têm fascinado a posteridade de artistas e encorajado a ousadia criativa como ele o fez.
* Artista plástica, membro do Atelier de Arte Realista de Maurício Takiguthi, designer gráfica. Graduanda em Letras pela FFLCH-USP. Membro da coordenação da Seção Paulista da Fundação Maurício Grabois.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Religião na escola estimula o preconceito e a intolerância

Carlos Pompe *

A professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB) liderou uma pesquisa que apurou que livros didáticos mais aceitos pelas escolas públicas promovem a homofobia e pregam o cristianismo. O estudo gerou o livro Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil.


A pesquisa conclui que o preconceito e a intolerância religiosa são inculcados em milhares de crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro. Foram analisados os 25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do país. Os livros foram escolhidos a partir dos títulos mais aceitos pelas escolas do governo federal, segundo informações do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso – limitada a uma referência anônima e sem biografia –, 12 vezes mais que o líder budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que Lutero, referência intelectual para o Protestantismo (Calvino nem mesmo é citado).

“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, informa uma das autoras do trabalho, a antropóloga e professora do Departamento de Serviço Social, Débora Diniz.

A psicóloga e coautora do livro, Tatiana Lionço, salienta que, antes de ir parar nas mochilas de crianças e jovens, todo material didático passa por uma avaliação de uma banca de profissionais do Programa Nacional do Livro Didático, vinculado ao Ministério da Educação. Todos, menos os de Religião. “Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má formação dos alunos”, comenta.

Ela questiona o modelo de ensino religioso nas escolas do país com base no princípio constitucional de que o Estado deveria ser laico (neutro em relação às religiões). “Se o Estado deveria ser laico, por que ensinar religião nas escolas? Se a religião for tratada na sala de aula, tem de ser de forma responsável e diversificada”, acrescenta.

A discriminação de homossexuais vem junto com a doutrinação religiosa feita às cutas do Estado, em escolas públicas. “Desvio moral”, “doença física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “o homossexualismo não se revela natural” são algumas das expressões usadas para tratar das pessoas que optam por ligações com o mesmo sexo. Um exercício com a bandeira das cores do arco-íris acaba com a seguinte questão: “Se isso (o homossexualismo) se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?”.

Débora diz que num dos livros didáticos uma pessoa sem religião é associada ao nazismo (que, contraditoriamente, teve apoio ativo da Igreja Católica e foi combatido pela União Soviética, primeiro Estado a adotar expressamente o materialismo dialético no ensino público). “É sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, observa. “Os livros usam de generalizações para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa ela que é uma das três autoras da pesquisa.

“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”, afirma Débora. A antropóloga reforça a imposição do catecismo. “Cristãos tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasilieras, tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”, comenta.

O estudo, realizado entre março e julho de 2009, revela a ligação entre as editoras responsáveis pelas publicações e a doutrinação religiosa. A editora FTD, por exemplo, pertence aos irmãos Maristas, sociedade católica criada em 1817, na França. Também são católicas as editoras Vozes, Paulus Paulinas, Vida e Edições Loyola. “É esse contexto nebuloso de relações e interesses que envolve a pesquisa” diz Débora. Outras das principais editoras do material escolar são a Abril de Educação, líder do mercado, a Ártica, Scipione Saraiva, Moderna e Dimensão.

As 112 páginas da publicação, lançada pelas editoras UnB e Letras Livres, ainda conta com a contribuição da assistente social Vanessa Carrião, do instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
* Jornalista e curioso do mundo.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

sexta-feira, 16 de julho de 2010



O Horizonte Perdido: a hipocrisia do debate educacional

 
Escrito por Wellington Fontes Menezes    

"Há muita gente que tem se acostumado com lugares piores do que este – observava Bernard no
fim da primeira semana passada em Shangri-La; era, sem dúvida,
uma das muitas lições que estava aprendendo".
(James Hilton, "Horizonte Perdido", 1933)

Um discurso vazio
 

Em "Horizonte Perdido" (1933), James Hilton descreve o desvelo do mito da terra prometida e ficcional de Shangri-La, um lugar com cenas paradisíacas em algum ponto do Tibete onde se encontraria a fartura da saúde e da felicidade. Na esteira da Shangri-la da retórica brasileira, o atual debate sobre a Educação Básica pública oscila entre um rocambolesco discurso tecnicista meritocrático e os idílicos suvenires protocolares dos gabinetes de burocratas de ONGs, técnicos ou acadêmicos a anos-luz da realidade.
 
Indiferente ao processo de formação básica de seu povo, a ação governamental está movida por uma praxe neoliberal de privatizar o debate educacional em ONGs ou entidades similares. O resultado é o destilar de retóricas pueris com resultados meramente protocolares e burocráticos.
 
Empresas privadas disfarçadas de agentes sociais e ventiladas pela onda neoliberal, com raras exceções, as tais ONGs trabalham com dois objetivos fundamentais: a manutenção de seu espaço de lucratividade (atrelada com ações de marketing para sua própria sobrevivência financeira) e o debate da praxe do onanismo de projetos simplistas, idílicos, surrealistas ou de inviável execução na prática (geralmente é algum dourar da cereja de um bolo apodrecido). O Estado, em especial no governo tucano paulista, além de culpar simplesmente a classe docente pelo descalabro abissal, procura muito mais justificar as deficiências do sistema com a aplicação de remendos demasiadamente limitados e inadequados à severa crise que se instalou na Educação Básica. O resultado bem conhecido é a perpetuação da hecatombe educacional pública.
 
Coagidos pelo pragmatismo do desencanto do mundo ao estilo weberiano, perdidos em lutas internas fratricidas intestinais, os sindicatos ligados à educação se enrijeceram e se tornaram burocratizados, perdendo o rumo de sua ação para além da reivindicação dos soldos proletários. Exceto por alguns programas pífios e paliativos, a desarticulação entre universidades, sindicatos e secretarias de Educação dos estados é outro fator que impede uma construção realística de novos e urgentes projetos pedagógicos.
 
No momento em que a ideologia neoliberal adentra na sociedade como um valor de uma perversa moral, a meritocracia invade a fala ressonante de "policemakers", técnicos, professores e acadêmicos. A Educação deixa de ser um valor humanitário fundamental para se tornar uma competição capitalista entre seus agentes: a meritocracia é o mais perverso engodo neoliberal que se alojou na cultura do debate educacional. Para o riso amarelo de seus defensores, tudo se resolveria com a aplicação de provas de mérito e exames de verificação da tal "qualidade". Não fazendo coro ao hipócrita discurso do tecnicismo meritocrático, não se pode cobrar coisa alguma de uma mera miragem. A sintética e asséptica punição não contribui em absolutamente nada no desenvolvimento do ser humano.
 
Uma trágica miragem
 
O sistema de Educação Básica público é uma miragem, aliás, uma trágica miragem. Entre provas e mais provas de suposta "aferição pedagógica", anualmente é depositado um enorme volume do erário público em pesquisas débeis e inúteis, além de uma miríade de processos de verificação da tal "qualidade", dos quais se sabe o resultado previamente. Bom para o caixa de ONGs e empresas que aplicam provas dos sistemas meritocráticos de "qualidade total" em vultosos contratos com o governo.
 
Como se estivéssemos numa Suécia morena dos trópicos, a dispersão das provas meritocráticas no exaurido sistema educacional se tornou tão sintomática que pipocaram saltitantes as tais "olimpíadas dos saberes" (nas Ciências Exatas, Humanas e Biológicas). Na lógica da competição "educacional", em tudo quanto é campo do saber, tem-se uma "olimpíada" a ser competida pelos alunos.
 
Não se admira quando a BOVESPA cria um programa que ensina alunos a investirem na bolsa de valores! A "BOVESPA vai à escola" é um programa de uma aviltante excrescência! A proletária periferia paulistana agradece a nobre gentileza dos homens da impune fluidez do capital! A lição é simples, deslocar o parco dinheiro embutido no FGTS dos futuros proletários para a aplicação em ações das próprias empresas pelas quais eles mesmos são espoliados diariamente. Bela lição aos futuros "micro-investidores" do Jardim Ângela, Cidade Tiradentes ou Paraisópolis! Coisas da violência simbólica que faria até mesmo Adam Smith corar a face de vergonha!
 
Aos destroços de um sistema falido, soma-se a complacente ação da Big Mídia que, além de ser conivente com o neoliberalismo, emite na sociedade um discurso maquiavélico que privilegia a competição irracional em detrimento do caráter humanitário da educação. Logo, como subprodutos da falência do sistema público de Educação Básica, são emanados os parcos valores da sobrevivência no "mundo-cão" da competição desenfreada, no mais puro destilar do darwinismo social. O resultado é bem conhecido: a falência total de um sistema público de Ensino Básico, com alunos que saem das escolas muito próximos da mera e humilhante condição de analfabetos funcionais.
 
Para o retumbante fracasso no sistema público educacional, muitos defensores neoliberais, técnicos burocratas e resignados da esquerda pragmática se refugiam em simplistas e estapafúrdias desculpas do nosso anacrônico histórico de desigualdades sociais. A insistência para um novo modelo de educação é necessária ainda em pleno século XXI, num país que vive tempos midiáticos de neomilagre econômico (com taxas de crescimento próximas às do período dos governos militares).
 
Seres humanos não podem continuar a ser tratados como meras mercadorias. A lógica do descarte humano é um valor atroz que prevalece na sintonia fina entre mercado e ação governamental. Por mais bizarro que qualquer leitor desatento possa imaginar, o discurso neoliberal é construído com um vil destilar de cinismo nas falidas políticas educacionais. Grande parte das unidades escolares públicas é maquiada em perdulárias propagandas governamentais, já que parte significativa dessas escolas se constitui em antros de medo, insegurança e selvageria de coação moral e física. Exceto algumas ilhas que ainda estão na sobrevida do balão de oxigênio, o resultado real nas políticas educacionais é o desleixo do Poder Público pelo seu povo, sobretudo de menor poder econômico, dentro de uma sociedade movida pelas matrizes da ética do consumo.
 
Um turvo horizonte
 
O Paraíso sempre propalado em belos debates sobre o vazio se perdeu de vista. Ao contrário dos maquiladores de plantão, que sempre surgem do caos com seus sórdidos discursos franciscanos, que visam minimizar o caos atávico do sistema público. Defender um sistema sabidamente apodrecido é compactuar com uma política de exclusão de gerações de seres humanos, que são enganadas dentro de verdadeiras cadeias prisionais que muitos ainda insistem em chamar de unidades escolares.
 
Com o descaso governamental, a instituição das frágeis franquias familiares e a ética do consumo que majora os valores pessoais e sociais na pós-modernidade, é preciso compreender o caquético papel caricatural que possui a escola pública. Falida e débil, a Educação Básica pública apenas cumpre um burocrático papel de expedição de diplomas. Como prêmio de consolação, aos que sobreviveram a este processo de saturação do ser humano, pode-se ganhar eventualmente um mimo governamental, como uma vaga derivada de uma controversa política de cotas em universidades públicas ou uma bolsa de estudo em alguma faculdade privada de Ensino Superior de qualidade duvidosa, mas sedenta pelos louros do patrocínio governamental. A Educação brasileira é um grande arremedo arrastado de programas e ações governamentais díspares, desconexas e eleitoreiras.
 
De forma direta ou indireta, o mercado dita as regras e as políticas a serem supostamente implementadas pelo Poder Público. Torna-se ridículo o cínico discurso de muitas ONGs, como a marqueteira "Todos pela Educação", fomentada por grandes grupos econômicos e pousando com um querubim supostamente assistencialista, preocupado com a Educação no país. Naturalmente, se realmente tais grupos empresariais estivessem tão preocupados com a Educação (o tal mote da "responsabilidade social empresarial"), da mesma forma como o estão quando se trata de ganhar obscuros processos de licitação nas três esferas de poder, por exemplo, poderiam usar seus poderosos lobistas para pressionarem políticos a encararem a Educação Básica como projeto fundamental de governo de qualquer sigla partidária.
 
Longe de algum horizonte da propalada Shangri-La, entre tantas maravilhas contemplativas importadas de modelos educacionais estadunidenses, europeus ou asiáticos, a ocuparem o espaço inutilmente sem observarem a realidade local, o tempo passa e o faz-de-conta continua sendo a palavra de ordem. Enquanto o debate sobre a Educação é visto pela ótica da desfaçatez e da rapina do mercado, continuará a sangria de dinheiro público escoado pelo ralo, com gerações de alunos sendo conduzidas como fardo social e professores-fordistas tratados como animadores proletariados de salas de aula lotadas até a entrega das notas do final de cada ano letivo.
 
Aliás, cada ano letivo do Ensino Básico público é mais uma miragem para ser computada em belas estatísticas educacionais, posteriormente usadas a bel-prazer de interesses eleitoreiros dos governantes.
 

Wellington Fontes Menezes é mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), bacharel e licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Rede Pública do estado de São Paulo. 
  
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br 

quarta-feira, 14 de julho de 2010


Alceu elogia Pontos de Cultura e diz que novo tempo "chegou"

Com 38 anos de carreira, o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença continua criativo, rebelde, crítico da indústria cultural, da importação de modelos e da falta de divulgação dos artistas brasileiros. Perto de completar 64 anos, em julho, continua com a vitalidade dos anos 1980, auge de sua carreira, e ainda cativa o público jovem, que revisita suas canções, olha com curiosidade para seus novos trabalhos, suas misturas de sons e ritmos.


Herdeiro musical de Luiz Gonzaga, de Jackson do Pandeiro e de Dorival Caymmi, Alceu deu novo brilho aos ritmos regionais, como baião, coco, toada, maracatu, frevo, caboclinhos, embolada, repentes. Em seu primeiro disco, lançado em 1972 em dobradinha com Geraldo Azevedo, já punha um tempero rock’n’roll nas batidas tradicionais nordestinas que continuaram marcando docemente o compasso de sua história musical, inclusive nos clássicos como Coração Bobo, Espelho Cristalino, Morena Tropicana, La Belle d’Jour, entre outros.

Nas letras das canções Papagaio do Futuro e Espelho Cristalino, ainda nos 70, Alceu já expunha a questão ambiental. O artista, aliás, sempre foi um inquieto “militante” da diversidade cultural brasileira. E da esperança, sentimento presente em muitas de suas letras, falando de amor ou da natureza.

Em suas turnês pelo exterior, o pernambucano influenciou artistas americanos, europeus e brasileiros das gerações mais recentes como Chico Cesar e Zeca Baleiro. Foi um divulgador do movimento manguebeat, de Chico Science e o Nação Zumbi. E considera que as imposições estéticas do imperialismo cultural americano e a falta de divulgação por parte dos veículos de comunicação de massa ainda dificultam o surgimento de novos artistas no país.

Com 28 álbuns lançados, Alceu Valença surgiu para o grande público na apresentação ao vivo no 7º Festival Internacional da Canção – tido como o último dos grandes –, com Papagaio do Futuro.

Era 1972, o clima de ebulição dos episódios anteriores não era mais tolerado pela ditadura, a Globo cedia a todas as pressões e as caras começaram a mudar. Despontavam nomes como Belchior, Ednardo, Fagner, Walter Franco, Raul Seixas, Sérgio Sampaio. A fase nacional foi vencida por Fio Maravilha (de Jorge Ben, com Maria Alcina), e Diálogo, samba de Baden Powel e Paulo César Pinheiro.

Alceu não figurou entre os primeiros, mas levantou a plateia ao se apresentar na companhia de Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro. “Estou montado no futuro indicativo/ Já não corro mais perigo/ Nada tenho a declarar/ Terno de vidro costurado a parafuso/ Papagaio do futuro/ Num para-raio ao luar.../ Eu fumo e tusso/ Fumaça de gasolina/ Olha que eu fumo e tusso/ É fumaça de gasolina.”

Nos anos 1980 emplacou um clássico que fez história, o disco Cavalo de Pau, e nos anos 1990 outro, O Grande Encontro, na companhia de Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Elba Ramalho.

Alceu é um entusiasta dos Pontos de Cultura, programa criado pelo Ministério da Cultura em 2005 que, por meio de convênios, fortalece iniciativas artísticas desenvolvidas pela sociedade civil nas comunidades. Atualmente, existem mais de 650 deles espalhados pelo país: “Esse projeto favorece realmente os mais carentes, mas a barreira ainda está na mídia, na imprensa. Precisamos aprofundar a discussão e a divulgação da cultura brasileira, que têm de ser em escala bem maior”, disse numa entrevista.

Em seu blog, o músico expressou assim a percepção de mudanças que vêm acontecendo no país: “Desde o início da minha carreira, botei o pé na estrada, me doía ver a miséria berrante da maior parte de nossa gente, quase sempre negros, caboclos, quase sempre nordestinos. Mês passado, ao viajar, em busca de locações para a Luneta do Tempo, pelo interior do agreste de Pernambuco (São Bento, Pesqueira, Alagoinha, Cimbres), me comovi vendo que os lugares por onde passei estão caminhando para um nível de vida mais digno. As cidades estão mais limpas, as casas bem pintadas, as praças ajardinadas, o povo mais feliz. Tenho consciência que precisamos avançar muito mais, sobretudo, na educação e na saúde. Cada vez mais acredito no Brasil e em nossa gente”.

E a esperança e a alegria que marcam sua poesia e sua música parecem continuar firmes na sua forma de pensar e ver o Brasil: “Demorou, mas chegou. Um novo tempo. Conseguimos resistir, por décadas, a toda sorte de colonialismo, intempéries sociais, econômicas e políticas. Saímos fortalecidos, mais maduros, sabendo, inclusive, que o processo está no início e que, portanto, precisamos continuar trilhando esse novo caminho. Não precisamos mais seguir a cartilha de ninguém. Agora negociamos com países africanos, árabes, europeus e asiáticos sem tutor e sem chancela de ninguém. Alegria, minha gente, alegria...”


Fonte: Rede Brasil Atual
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  Fórum de Organizações Feministas apresenta contribuições à                                                Cepal                                                  

Na última terça-feira (13) as representantes do Fórum de Organizações Feministas para Articulação do Movimento de Mulheres Latinas Americanas e Caribenhas entregaram um documento à 11ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe (Cepal).

 

O texto traz as contribuições do Fórum de Organizações Feministas discutidas entre os dias 11 e 12. Entre os assuntos abordados está o atual modelo de desenvolvimento na América Latina e Caribe, com foco na promoção da igualdade, crítica do Estado patriarcal, capitalista, racista e da democracia na região.

Integram a delegação brasileira que compõe a Cepal, conselheiras do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), representantes do governo e conselheiras de notório conhecimento. Entre as participantes estão: a coordenadora da União Brasileira de Mulheres, Elza Maria Campos; a secretária Nacional de Mulheres do PCdoB, Liege Rocha e a coordenadora Estadual da UBN do RJ, Helena Piragibe.
Da Redação
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        Cepal defende autonomia para mulheres terem direitos                                                   reconhecidos                                             

A conquista da autonomia econômica, física e política das mulheres é fundamental para o reconhecimento de seus direitos, afirma o documento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), divulgado nesta terça-feira (13) na Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe.

 

De acordo com o documento são necessárias políticas públicas que reformulem os vínculos entre as três instituições fundamentais da sociedade: Estado, família e mercado – com a finalidade de articular um novo pacto social de redistribuição do trabalho entre homens e mulheres.

O texto aponta que as mulheres dedicam mais tempo ao trabalho doméstico não remunerado, independentemente de sua carga de trabalho. De acordo com a Cepal, elas continuam sendo discriminadas no mercado de trabalho e recebendo salários inferiores aos dos homens.

No Brasil, por exemplo, as mulheres dedicam no total 56,6 horas semanais ao trabalho, enquanto os homens ocupam 52 horas. No México a disparidade é ainda maior, as mulheres dedicam 76,3 horas, contra apenas 58,4 dos homens.

Dados de 2008 revelam que na região, 31,6% das mulheres com mais de 15 anos não tinham renda própria, enquanto somente 10,4% dos homens estavam nessa condição. As mulheres superam os homens também no desemprego: são 8,3% contra 5,7%.

Igualdade

O documento diz que o trabalho é a base da igualdade entre os gêneros e considera fundamental a conquista da autonomia econômica, física e política das mulheres. A autonomia econômica, esclarece o texto, implica no controle dos bens materiais e recursos intelectuais, e capacidade de decidir sobre a renda e os ativos familiares.

Outro ponto que o documento enfatiza é a autonomia física – indispensável para superar as barreiras existentes no exercício da sexualidade, da integridade física e da reprodução. O texto ressalta também a autonomia política que envolve a representação feminina nos espaços de tomada de decisões, especialmente nos governos e parlamentos.

Segundo a Cepal, cabe ao Estado tomar as medidas necessárias, sejam legislativas, institucionais, educativas, de saúde, fiscais ou de participação das mulheres na tomada de decisões. Com isso, espera-se eliminar o viés de gênero no mercado de trabalho, superar a diferença salarial, a segmentação e a discriminação.

No documento, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe defende ainda a garantia dos direitos das mulheres no mercado de trabalho e nas famílias.

O evento promovido pela Cepal, com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, acontece até a próxima sexta-feira (16) e Brasília.

Da Redação, com Agência Brasil

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Festival reconta ditaduras latinas pelos olhos de crianças

Três histórias das ditaduras militares latino-americanas contadas pelas visões de crianças estarão no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, cuja quinta edição acontece de 12 a 18 de julho em cinco salas de cinema da capital paulista. O argentino Kamchatka, o chileno Machuca e o brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias têm em comum a forma como as crueldades dos regimes militares são descobertas pela inocência do olhar infantil.

 

Kamchatka, co-produção entre Argentina, Espanha e Itália, narra os efeitos da "guerra suja" em uma família argentina, pelos olhos de Harry, um menino de 10 anos. A direção é de Marcelo Piñeyro e o elenco conta com os conhecidos Ricardo Darín e Cecilia Roth.

O mesmo acontece no chileno Machuca, que conta a história de três crianças de Santiago em situações totalmente diferentes. Enquanto Gonzalo Infante vive em um bairro chique da cidade, Pedro Machuca mora em uma favela.

Mas a distancia entre as duas realidades é reduzida quando o diretor de um colégio católico decide promover uma integração social, abrindo as portas para crianças de famílias pobres. A partir disso, uma amizade cheia de descobertas surge em meio ao clima hostil que a sociedade chilena vive antes, durante e logo depois do golpe contra Salvador Allende (1973).

Já o premiado O Ano..., de Cao Hamburger, conduz a narrativa por Mauro, de 12 anos, que tem como maior sonho ver o Brasil ser tricampeão mundial de futebol. No entanto, às vésperas da Copa de 1970, ele vê sua vida mudar completamente com a ditadura, ao ser separado de seus pais e obrigado a se adaptar a uma nova vida no bairro paulistano do Bom Retiro.

Temáticas como a violência e o tráfico aparecem em filmes brasileiros como Cidade de Deus e Eldorado, que retrata cinco histórias reais de tráfico de seres humanos.

Ao todo, serão exibidos 137 filmes de 15 países diferentes, todos com temáticas comuns da América Latina que têm como objetivo divulgar e discutir a singularidade estética da cinematografia recente e histórica do continente. A maioria dos filmes é inédita e a entrada é gratuita.

O 5º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo acontece entre os dias 12 e 18 de junho nas salas de cinema do Memorial da América Latina – que promove o evento -, Cinesesc, Cinemateca, Museu da Imagem e do Som e do Cinusp Paulo Emílio, todas na capital paulista.

Participação do público

Além das exibições, o público pode contar com oficinas, debates e uma série de palestras ministradas por profissionais do Brasil e do exterior, entre eles o argentino Piñeyro, diretor de O Que Você Faria? (“El Método”, 2005) e Plata Quemada (2000), além de Kamchatka (2002), que fará uma retrospectiva de sua produção em uma aula magna que acontece no dia 17 de julho, às 16h no Memorial da América Latina.

Na ocasião, também recebe homenagem o brasileiro João Batista de Andrade consagrado por O Homem Que Virou Suco (1980), eleito melhor filme no Festival de Moscou, e um dos idealizadores do festival.

Mesas de debates com diretores e profissionais do cinema também acontecerão no Memorial da América Latina. Nelas, serão discutidas questões como a identidade do cinema latino-americano, o impacto dos novos meios na crítica audiovisual e a relação entre o mercado e as escolas de cinema.

Além disso, o público poderá assistir a conversas entre os diretores dos filmes apresentados onde temáticas, semelhanças e curiosidades sobre os filmes serão apresentadas aproximando os espectadores da realidade de produção.

Fonte: Opera Mundi

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Dissipando nuvens

Sidnei Liberal *

Foi preso em Caracas o salvadorenho Francisco Chávez Abarca, integrante da lista de procurados da Interpol, por envolvimento com atentados a bomba em Cuba nos anos 90. Segundo a Folha de São Paulo¹, a prisão ocorreu no aeroporto da capital venezuelana quando Francisco tentava entrar no país com passaporte falso. Sua missão, segundo o presidente Hugo Chávez, era assassiná-lo, resultado de conspiração de setores da oposição com o terrorista. O salvadorenho tem ligações com o cubano naturalizado venezuelano Luis Posada Carriles, que vive em Miami e foi condenado na Venezuela e no Panamá pelos atentados em Cuba. Entre eles, a explosão de um avião que matou 73 pessoas em 1976.

A mesma matéria da Folha informa que o presidente venezuelano ameaça tomar o controle da TV Globovisión, de radical oposição ao governo. Há processos contra os principais dirigente da TV: o presidente Guillermo Zuloaga e um dos maiores acionista da emissora, Nelson Mezerhane, que estão foragidos e têm ordem de captura internacional. Zuloaga é acusado de “usura genérica” por ocultação de veículos para especular no mercado. Mezerhane está envolvido com fraudes do sistema financeiro. O banco do qual era presidente sofreu intervenção do governo.

O presidente Chávez também acusou a oposição de “podridão moral”, por condenar o governo no “escândalo da comida vencida” – o achado de cerca de 70 mil toneladas de alimentos importados por órgão do governo fora do prazo de validade. O fato de certa forma emparedou o governo e serviu para frear temporariamente a cruzada de Chávez contra os especuladores e a indústria de alimentos, culpados pela inflação que acumula 14,2% até maio.

Ameaças contra a vida do máximo dirigente nacional; terroristas condenados que circulam livremente pelas ruas de Miami, paraíso da máfia cubana no exílio; dirigentes de televisão que especulam contra a economia popular e que fraudam o sistema financeiro; constituem a podridão moral de uma elite que não respeita as regras da ética nem cessa de especular em detrimento do poder aquisitivo da população. Tudo direcionado à desestabilização do governo Chávez. É justamente essa elite que a secretária de estado Hillary Clinton chama de “diferentes grupos cívicos que desempenham um papel importante no desenvolvimento da democracia” venezuelana.

Para Hillary, o “intolerante” governo Chávez vem reprimindo lentamente esses “grupos cívicos”. Não tem sido diferente a posição da imprensa brasileira, como macaco de imitação, permanentemente submissa aos interesses contrariados de Washington. Centrais de intriga e agressão diante dos diferentes processos políticos de independência e soberania em curso no nosso continente. Sobram razões, portanto, ao chanceler da Venezuela, Nicolas Maduro: “Rejeitamos esta nova agressão de Hillary Clinton e exigimos respeito absoluto a nossa democracia, a nossas liberdades, a nossa forma de fazer nossa vida, nosso modelo econômico, nosso modelo social, nosso modelo político”.

Segundo Maduro, as críticas da secretária de Estado foram feitas, “exatamente quando em Caracas” se desenvolve "um processo de diálogo, de compreensão das diversas formas de ver o continente", do qual participaram representantes de “todos os Governos” da América Latina e do Caribe. De acordo com a matéria da agência espanhola EFE², “Chanceleres e altos representantes de 30 países latino-americanos e caribenhos realizaram ontem (sábado,3/07) na capital venezuelana um encontro preparatório para a cúpula presidencial da nova Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que acontecerá na Venezuela em 2011”.

A Celac, no discurso de Hugo Chávez diante dos chanceleres, vem abrir caminho para que a América Latina e o Caribe deixem para trás os tempos das “imposições dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA)”. Tempos em que Washington e a OEA condenaram a América Latina e o Caribe “à miséria, ao atraso, à dependência e ao subdesenvolvimento”. Podemos completar: tempos de assassinatos, golpes de estado e ditaduras sob orientação e apoio de Washington e seus representantes nativos.

(1) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0307201003.htm
(2) http://br.noticias.yahoo.com/s/04072010/40/mundo-chanceler-venezuelano-rejeita-nova-agressao.html

* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna