terça-feira, 11 de maio de 2010

Todo o sentimento do mundo

Eduardo Bomfim *

A campanha eleitoral que se aproxima se revestirá de uma importância diferenciada das outras recentes que aconteceram. Os próximos meses mostrarão que acontecerá um embate decisivo ao futuro do Brasil.

Nos estados regionais é bem possível que as paixões e as rivalidades arraigadas entre grupos ou personalidades superem por algum tempo o sentido mais geral de um grande confronto de proporções históricas que estará presente cada dia dos debates, nas ruas, na mídia ou nos comícios.

E alguns poderão tentar rebaixar o nível e o espírito verdadeiro dessa disputa. Porque a esses, na contramão dos anseios, esperanças do povo brasileiro, resta somente fulanizar o discurso, desviar o assunto do que está em jogo, na impossibilidade de apresentar com transparência à sociedade o seu alinhamento político.

Dificilmente conseguirão, no entanto, manter uma linha diversionista por muito tempo porque a gravidade do momento e a profundidade do que estará por se decidir não permitirá que se esconda o confronto das propostas e os programas antagônicos em duelo titânico na sociedade brasileira.

Na verdade a nação estará mais uma vez perante uma incrível encruzilhada histórica, assim como esteve em vários outros momentos do seu jovem itinerário. Pode-se afirmar que essa encruzilhada não será de menor estatura do que a luta dos brasileiros contra o regime de arbítrio que perdurou vinte e um anos, na qual a nação saiu vencedora.

Será uma tremendo duelo entre as grandes maiorias e um determinado segmento das elites nativas associado a um projeto que comumente se chama de neoliberal e todas as suas consequências, testado e posto em prova nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Que conta com o enfurecido e descontrolado engajamento de uma parcela da grande mídia hegemônica nacional, toda poderosa, sem nenhum pudor para com as regras do conceito básico da informação que venha a ser minimamente imparcial.

Essa mesma mídia que apesar do brutal esforço não conseguiu sustar a aprovação do governo Lula por mais de 80% dos brasileiros.

Será uma árdua disputa, que se revestirá de profundo caráter plebiscitário, entre o atual projeto nacional soberano, de desenvolvimento com inclusão social, versus o ultrapassado e nefasto dogma neoliberal.

Ao povo brasileiro valerá a consciência social, associada ao espírito do poeta ao declarar que só tinha duas mãos e todo o sentimento do mundo.

* Advogado, Secretário de Cultura de Maceió - AL
Fonte: http://vermelho.org.br/vermelho.htm

Os delírios de Dom Dadeus

Regina Abrahão *

Para o arcebispo gaúcho a responsabilidade pelos abusos sexuais cometidos por integrantes da igreja católica é a sociedade atual, onde a liberdade sexual permite que inclusive homossexuais tenha direito de manifestação pública.

Abertura de assembléia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Brasília. O arcebispo Dom Dadeus Grings, falando em pedofilia conseguiu comprometer ainda mais a Igreja católica, quando põe a culpa dos abusos sexuais cometidos por padres católicos na sociedade, que ele classificou de pedófila. Mais: para ele, somente a castidade seria necessária para resolver o problema da pedofilia.

Segundo o arcebispo, a pedofilia cometida por sacerdotes católicos é ínfima em relação ao que acontece fora da igreja. Segundo ele, os abusadores católicos são poucos, e o destaque dado aos casos é feito por pessoas incomodadas com a promoção da castidade. Vai mais longe, afirmando que a falta de castidade que ele classifica como excesso de liberdade sexual é responsável não só pela pedofilia, mas também por problemas como a homossexualidade.

Na verdade o arcebispo homofóbico falou não em homossexualidade, mas em homossexualismo. E vai mais longe: Lembra, com saudades, do tempo em que não se tocava no assunto, os homossexuais eram discriminados e não tinham direito de se manifestar em público. E conclui associando homossexualidade com pedofilia, uma vez que agora que os homossexuais tem direito de se manifestara publicamente, o que, segundo ele, abre precedente para que os pedófilos se organizem e reivindiquem seus direitos.

Na verdade não houve aumento dos casos de pedofilia. Está havendo sim uma maior publicização dos casos, antes guardados a sete chaves pela cúpula católica. E não por vontade ou mea-culpa da igreja. É que são tantos os casos que não havia mais como evitar o escândalo. E se castidade resolvesse ou coibisse o problema, ele não ocorreria em tamanha proporção dentro da igreja católica.

Ou seja, Dom Dadeus delirou. Tivéssemos nós aprovada a lei que criminaliza a homofobia, eis nosso arcebispo na cadeia! A sordidez das afirmações, o cinismo do discurso, o moralismo católico que tantas vítimas fez ao longo da nossa história vitimou seus desafetos. E, ao colocar a igreja como “vítima das páginas de jorrnais, revistas e outros meios de comunicação, fustigada, exposta ao público ludíbrio, por causa de fraquezas de alguns de seus membros”, minimiza e dilui a responsabilidade dos trágicos casos de pedofilia protagonizados por seus membros.

Enfim, o mais estarrecedor nem são as desculpas sem fundamento do arcebispo. O que assusta mesmo é a associação de um crime, que é a pedofilia, responsável por incontáveis mazelas posteriores. Injustificável por que geralmente cometido contra vítimas por aqueles que lhe teriam obrigação de proteger com a homoafetividade. Que é questão combatida pela igreja com tamanha voracidade que só pode assustar e atemorizar a todos e todas que porventura pensem na igreja católica como um espaço de dignidade do ser humano.
* Funcionária pública, direigente municipal do PCdoB de Porto Alegre, estudante de ciências sociais da UFRGS. Dirigente da Semapi - RS
 Fonte: http://vermelho.org.br/vermelho.htm

“Utopia e Barbárie”: Lições da história

Cloves Geraldo *

Diretor brasileiro, Silvio Tendler, passeia pelas lutas político-ideológicas dos últimos 100 anos e mostra quais são as suas consequências


Vasto painel sobre as lutas político-ideológicas do século XX e suas consequências no início do Terceiro Milênio, “Utopia e Barbárie” pretende ser, também, uma reflexão de seu diretor, Silvio Tendler (“Jango”) sobre os movimentos de resistência e libertação nacional neste período.Através de imagens de filmes e de acontecimentos reais, ele percorre a Revolução Russa, o Holocausto, as Revoluções Chinesa, Vietnamita e Cubana, o Maio de 68, os conflitos raciais nos EUA, a Perestroika, o Golpe de 64, a Guerrilha do Araguaia e as Diretas Já. E seu passeio por estes processos históricos contribui para a leitura que ele faz e as lições que deles retira.

Na primeira parte (e nas demais), ele expõe os fatos por meio de depoimentos, frases, poemas, sobreposição de imagens que, sem dúvida, impactam. Põe o espectador no centro dos acontecimentos, pois as figuras que ele traz para a exposição viveram aqueles fatos. Deixa, assim, que as palavras e as imagens falem por si. Na segunda parte, quando inclui depoimentos reflexivos, como o do poeta Ferreira Gullar, que avalia o comportamento das organizações de esquerda que optaram pela luta armada, o espectador fica desconectado. Inexiste contraposição ao que Gullar fala.

O espectador tem que pinçar aqui e ali, nos depoimentos do jornalista e ministro das Comunicações do Governo Lula, Franklin Martins, e do escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de “As Veias Abertas da América Latina”, a validade da opção das organizações de esquerda. Gullar avalia que elas erraram, porque a correlação de forças não lhes era favorável. E exemplifica com os casos dos militares brasileiros e das forças armadas chilenas. Eles estariam mais fortes e armados do que as organizações de esquerdas, o que invalidaria a resistência.

Vários detalhes escaparam ao poeta; o direito dos oprimidos resistirem, a necessidade de bloquear os desmandos, as perseguições e torturas perpetradas pelos generais brasileiros e a ausência absoluta de liberdade de manifestação e organização. Cada época e situação política impõem uma forma de luta aos oprimidos. E não foi diferente durante os 21 anos que durou a Ditadura dos Generais, apoiada pelos EUA. Em cada etapa de sua duração, a oposição democrática e popular forjou um tipo de luta, como a Anistia, as Diretas Já, a Constituição de 88 e as eleições diretas.           

Então, passado este interegno, Tendler entra na terceira parte, com suas conclusões. O espectador pode discordar quando ele diz que as formas de luta se fragmentaram. No entanto, ele, espectador, pode entender que o centro da luta utópica, entendida como algo que se pode alcançar (ou não) no futuro, continua sendo do trabalho contra o capital, do oprimido contra o opressor, do Socialismo contra o Capitalismo, dos países subjugados contra o Imperialismo. As formas de luta nas várias frentes são ditadas por estas variações.

Fora estas questões, “Utopia e Barbárie” trás para a reflexão mitos da esquerda como o general vietnamita Nguyen Van Giap, falando sobre a tarefa que recebeu de Ho Chi Minh para organizar a luta contra a França e os EUA, de Che Guevara desancando o imperialismo, de Fidel apoiando Salvador Aliende, no Chile. Mas é igualmente impactante seu mergulho na história nacional não só por seu resultado, como também pelas variações que ela vem apresentando. Do Lula metalúrgico ao Lula presidente, de Dilma Roussef falando sobre os sonhos da juventude dos anos 60, da perseguição perpetrada pelas ditaduras militares latinoamericanas às esquerdas na Operação Condor à construção da democracia na Argentina, Chile e Uruguai e Bolívia.

Neste giro de câmera, Tendler liga as ocorrências que vinculam as lutas no campo capitalista aos conflitos na União Soviética e na China. Estão ali imagens da Primavera de Praga, da Perestroika, da Revolução Cultural, da Perestroika, da Queda do Muro de Berlim, da Praça da Paz Celestial, tentativas de a direita assumir o poder nesses países durante a Guerra Fria. São enquadrados por ele na luta da utopia e da barbárie, mas têm caráter diferente. No campo socialista tem o matiz de regressão ao sistema capitalista, de mercado, de consumo. Não é para superar os bloqueios do sistema socialista para avançar para a integração de mais trabalhadores dos mais diversos setores de produção, serviços e intelectual, ou seja de mais socialismo.

Tendler em suas pinceladas, num filme que levou 19 anos para ser produzido em 15 países, se assombra com a dialética da história, quando aborda o Crash de Setembro de 2008, época da derrocada do sistema financeiro dos EUA e do bloco capitalista. “Ninguém poderia imaginar que o Governo dos EUA fosse assumir a maior seguradora do país”. A voracidade do capital forjou a sua própria crise e sua própria solução: a intervenção do Estado para salvá-lo. Desta forma, vale observar que os oprimidos, frente a casos iguais a estes, só têm que ir criando suas formas de luta, pois a história é lenta e caprichosa, como diz Eduardo Galeano.
Utopia e Barbárie”. Documentário, Brasil, 120 minutos. Direção/Roteiro: Silvio Tendler.
* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: http://vermelho.org.br/vermelho.htm

Nos cem anos de Raquel de Queiroz...

Marco Albertim *

Vale um comentário sobre O Quinze, obra tão ou mais conhecida quanto a autora; inda que não controversa como o perfil cultural da cearense. Já na octogésima sexta edição, a simplicidade da linguagem – seu maior traço – ajuda a pôr em relevo a crueza da seca de 1915.

O cenário surge, não como indício pictórico, mas entranhado nos homens. Não poupa nem Vicente, o fazendeiro de posses que, “Sacudido pela estrada larga do quartau, seguiu rápido, o peito entreaberto na blusa, todo vermelho e tostado do sol, que lá no céu, sozinho, rutilante, espalhava sobre a terra cinzenta e seca uma luz que era quase como fogo.” Para Chico Bento, o vaqueiro pobre, “O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho.”
A opressão de classe aparece no diálogo entre Chico Bento e “o homem das passagens”. Indiferente à sorte dos retirantes, diz o homem: “Que morte! Agora é que retirante tem esses luxos... No 77 não teve trem para nenhum. É você dar um jeito, que passagens, não pode ser...” – Não é um diálogo, é a confirmação do agouro. Na mesma trilha, diz o delegado sobre o filho sumido de Chico Bento: “Não tem jeito que dar não, meu amigo... O menino, naturalmente, foi-se embora com alguém...” Ou no contraste entre a miséria dos retirantes na procissão e os trajes ricos do bispo “(...)os farrapos imundos, atrás do pálio rico do bispo(...)”.
Como boa regionalista, Raquel de Queiroz soube ainda ler o tempo telúrico porque “O sol, no céu, marcava onze horas.” A fome permeia todo o romance, punge quando o menino Josias devora a mandioca brava: “(...)e enterrou os dentes na polpa amarela, fibrosa, que já ia virando pau num dos extremos.” Na mesma altura “(...)roeu todo o pedaço amargo e seco, até que os dentes rangeram na fibra dura.”
Conceição é uma professora que se divide entre os modos urbanos e a bruteza do sertão; é a única que destila preconceito:
-(...)Então Mãe Nácia acha uma tolice um moço branco andar se sujando com negras?
O Quinze tem narrador onisciente, o que permite à autora imiscuir-se no pensamento de cada personagem, sem que assuma os rumos da abstração de cada um. Assim, na imaginação de Conceição, mostra-a, sem perder a segurança de narradora: “Metido com cabras... não se dava respeito... E ainda por cima, não se importava nem em negar...”
Raquel viu a seca de 1915, no Quixadá; dá indícios de autobiografia ao mencionar Machado de Assis: “E a moça comparou dona Inácia àquelas senhoras de alma azul, de que fala o Machado de Assis...” Aqui a autora se mostra supérflua.
Com Graciliano Ramos...

Vidas secas, oito anos depois d’O Quinze, mostra a “catinga rala”, enquanto Raquel desnuda uma “caatinga cinzenta”. Ambos tão francos quanto a crueza do cenário. Sinhá Vitória, como a Cordulina, de Chico Bento, tem o filho “escanchado no quarto”. Graciliano, feliz à exaustão, tão onisciente quanto a cearense, menciona “sentimentos revolucionários” na cachorra Baleia depois de um pontapé. A reprodução dos costumes entre as classes dá-se quando Sinhá Vitória “Teimava em calçar-se como as moças da rua(...)”. A submissão aos costumes se manifesta em Fabiano porque, usando “chapéu de baeta, colarinho e gravata. Não se arriscaria a prejudicar a tradição, embora sofresse com ela.” Atento à opressão de classe, diz que Fabiano - “Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da prefeitura.” Já a submissão de classe surge quando o personagem “(...)notou que aquilo era um homem e, coisa mais grave, uma autoridade.” Ou quando, olhando para o odiado soldado, assunta:
 – Governo é governo.

No capítulo, a subjetividade de Fabiano é explorada até a medula. Também se imiscui com a personagem sem confundir-se com ela; assim, o sonho de Sinhá Vitória é vestir-se de “saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral. E a catinga ficaria toda verde.” Com folgada autoridade, o autor desprende-se das páginas para dizer ao leitor que, Fabiano, imitando “seu Tomás da bolandeira, (...) dizia palavras difíceis(...)Tolice. Via-se perfeitamente que um sujeito como ele não tinha nascido para falar certo.” Em Vidas secas e n’O Quinze os capítulos podem ser lidos como peças autônomas. No primeiro, o destaque está no capítulo Baleia. O leitor deseja uma morte rápida para a cachorra, porque o autor mistura as lembranças do animal com a agonia do fim próximo. No segundo, impressiona a sofreguidão com que Chico Bento sacrifica uma cabra para mitigar a fome da família; sente-se um alívio, logo interrompido com a chegada do rico proprietário.
Mas em Galiléia...

O também cearense Ronaldo Correia de Brito põe três personagens de perfil urbano na rudeza do sertão. Com habilidade de escritor maduro, entrega a narrativa a um dos três primos, Adonias, personagem de primeiro plano. O narrador se divide entre as memórias da infância, as preocupações com os primos na viagem de volta à fazenda do avô. Regionalista, o autor tem estilo apurado, escorreito. Quase escorrega num clichê quando “Um relâmpago dos mais fortes clareou o mundo, no momento em que David atravessou a porta de entrada.” Aliás, um clichê cinematográfico. Demonstra concentração poética no foco telúrico: “Dormi como dormem as pedras, sem sonhos.” Os diálogos são ricos de subjetividade, como na conversa entre dois primos, ante a morte iminente do avô:
- Ele está sofrendo?
- Está. A lucidez é um sofrimento.
No capítulo Lourenço, o autor usa três recursos. O relato de Lourenço sobre um episódio de vingança na família, numa prosa própria, sem volteios de romance; o ressurgimento de Adonias, com a narrativa retomando o curso original; logo interrompida por um diálogo rápido, com perguntas e respostas ligeiras. O autor dá uma trégua ao leitor.
Galiléia foi o livro do ano em 2009.

* Menção honrosa dos Prêmios Literários da Cidade do Recife, com o livro Um presente para o papa e outros contos. Integra as antologias de contos Recife conta o Natal e Panorâmica do conto em PE.
Fonte: http://vermelho.org.br/vermelho.htm

Formação, necessidade crescente do movimento sindical!

Augusto César Petta *

O processo de formação política e sindical acontece para os trabalhadores e trabalhadoras de duas formas: a primeira refere-se à prática, como por exemplo, numa greve em que a contradição capital - trabalho fica muito explícita, ou nas lutas em que os trabalhadores e as trabalhadoras buscam pressionar e interferir na definição das políticas públicas e na gestão do Estado; a segunda, através do estudo, da pesquisa, da elaboração de textos, dos cursos, palestras, debates sobre várias temas sempre situados na conjuntura política e econômica.
Esse processo é mais avançado quando se consegue articular dialeticamente teoria e prática. Lenin, o grande líder da Revolução Russa, ao mesmo tempo que participava intensamente do movimento político, estudava e escrevia, refletindo sobre acontecimentos da conjuntura , indicando qual a tática mais correta a ser aplicada. É dele a famosa frase: sem teoria revolucionária não há prática revolucionária”.

Desde as origens do movimento sindical no Brasil, os historiadores constatam que foram desenvolvidas inúmeras atividades teóricas de formação . A ascensão do sindicalismo classista- constatada sobretudo a partir da segunda década do século XX –permitiu que as atividades de formação classista proliferassem nas conjunturas democráticas e tivessem sérios retrocessos nas conjunturas ditatoriais. Os governos autoritários tudo fazem para que o proletariado não se conscientize a respeito da exploração a que está submetido.

A partir do final de 2008 – quando a CTB estava completando seu primeiro aniversário – o processo de formação classista intensificou-se. Fruto de um convênio firmado entre a CTB, presidida por Wagner Gomes e que tem como Secretária de Formação e Cultura Celina Areas, e o Centro de Estudos Sindicais – CES presidido por Gilda Ameida, considerando-se o período de novembro de 2008 a fevereiro de 2010, foram realizados 18 cursos básicos atingindo 24 Estados, dois cursos nacionais de formação de formadores, 2 cursos de formação de facilitadores de planejamento estratégico situacional, seminário nacional, diversos cursos, seminários, palestras em entidades filiadas a CTB, chegando-se a atingir 1958 participantes. Nas atividades de formação promovidas pelo CES em entidades não filiadas a CTB, chegou-se ao total de 1041 participantes.

Este número significativo de participantes é uma resposta à necessidade concreta de se ter que enfrentar desafios, que levam ao debate questões como estas: Como aumentar o número de participantes nas atividades que a entidade sindical promove, tais como assembléias e congressos ?Como aumentar o número de sindicalizados? Como se situar diante da aplicação de novas técnicas gerenciais que colocam os trabalhadores e trabalhadoras como se fossem colaboradores? Como se situar diante de um governo cujo Presidente é metalúrgico e oriundo do movimento sindical? Como compreender melhor a evolução histórica do movimento sindical? Como analisar a conjuntura em que vivemos? Como planejar estrategicamente as atividades sindicais?

Por fim, gostaria de apresentar duas sugestões básicas aos sindicalistas: a primeira refere-se à necessidade de que as entidades tenham uma secretaria de formação, que deverá promover atividades que propiciem aos diretores e diretoras, aos funcionários e funcionárias e à categoria, a possibilidade de terem uma formação contínua; a segunda refere-se à necessidade de planejar as atividades sindicais, inclusive as de formação.Em geral, as entidades sindicais procuram dar respostas às demandas imediatas das categorias, sem ter um plano estratégico com objetivos e metas claras a serem atingidas. É fundamental que todas entidades realizem seus respectivos planejamentos estratégicos.

Texto publicado inicialmente na revista Visão Classista da CTB

* Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), membro da Comissão Sindical Nacional do PCdoB, ex- Presidente do SINPRO-Campinas e região, ex-Presidente da CONTEE.

Fonte: http://vermelho.org.br/vermelho.htm

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Debate sobre segurança relembra fracasso de José Serra em SP

A exemplo do que ocorreu com a recente declaração sobre o Mercosul (leia mais aqui), o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, meteu novamente os pés pelas mãos ao colocar o tema da segurança na agenda do debate pré-eleitoral. Apesar do discurso "duro" e "propositivo", Serra não consegue escapar da avaliação de que sua gestão como governador de São Paulo teve na área de segurança um de seus mais retumbantes fracassos.

Na segunda-feira (26), durante entrevista ao programa Brasil Urgente, apresentado por José Luiz Datena, Serra usou jargão policialesco e pretensamente popular para defender sua visão sobre segurança pública. "Bandido tem de ser enfrentado com dureza" e "engaiolado", disse o tucano Serra prometeu que, se for eleito, criará um Ministério da Segurança Pública para combater o crime organizado.

O tucano defendeu a criação de um novo ministério, pois o Ministério da Justiça "não foi feito diretamente" para combater o crime. Para Serra, o Ministério da Segurança Pública cuidaria da reorganização de "todo o sistema de segurança do País".

Matança no litoral

A declaração do ex-governador de São Paulo ocorreu no mesmo momento em que órgãos do governo norte-americano recomendavam aos turistas que viessem visitar o Brasil que evitassem a baixada santista, no litoral paulista, devido a onda de assassinatos que ocorre n aregião.


Ao mesmo tempo, o procurador do Estado, Antonio Mafezzoli, acusou ontem o Governo Alberto Goldman (PSDB) de se omitir na investigação sobre a matança de jovens na Baixada Santista. Desde o início da semana passada, 23 pessoas, a maioria delas jovens e sem antecedentes criminais, foram assassinadas em cidades do litoral paulista e outras 12 foram feridas a bala. Segundo o procurador, a mortandade no litoral faz lembrar episódios ocorridos em maio de 2006, quando nove pessoas foram mortas em represália da polícia a ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

"A violência atingiu de novo um grau desproporcional, sem que a polícia tomasse qualquer providência para apurar a autoria dos crimes. O serviço de inteligência da Polícia Civil já deveria estar levantando a identidade dos autores, que não podem ficar impunes", reclamou Mafezzoli.


De acordo com o procurador, a polícia paulista está agindo como se os assassinatos praticados em diferentes cidades da Baixada Santista não estivessem interrelacionados.

"Boa parte desses crimes foi praticada por ninjas encapuzados, utilizando motos e armamentos de alto calibre, que decidem fazer justiça com as próprias mãos, assassinando jovens inocentes, que nem tinham passagens pela polícia. Há uma grave omissão do Estado, complacente com este tipo de procedimento".


Serra foi um fracasso na política de segurança pública


As críticas do procurador só reforçam os dados que mostram que durante o governo Serra a criminalidade no estado de São Paulo só fez aumentar. Segundo dados oficiais divulgados pelo próprio governo paulista, em 2009 os índices de roubo chegaram a bater o recorde da década. Foram 257.004 roubos ano passado, contra 217.967 em 2008, um aumento de 18%. O maior número de ocorrências desse tipo de crime havia sido alcançado em 2003, quando foram registrados 248.406 casos. Homicídios, latrocínios, furtos e sequestros também aumentaram em relação a 2008.


Em queda de 2001 a 2008, o número de homicídios dolosos (intencionais) voltou a crescer no estado. Chegou a 4.557 ano passado, contra 4.426 em 2008, uma elevação de 3%. O governo paulista, no entanto, comemorou o fato de o índice ser de 10,9 assassinatos para cada 100 mil habitantes, um dos menores patamares do país, segundo a Secretaria de Segurança Pública. A Organização Mundial de Saúde, porém, classifica esse quadro como epidemia.


De acordo com planilhas da própria secretaria, o número de latrocínios também subiu de 267 mil para 304 mil (14%), e os sequestros tiveram aumento de 60 mil para 85 (40%). Também chamaram atenção os registros de furto e estupro. No primeiro caso, foram contabilizados 528.933 casos no estado, 8% a mais que em 2008. Já os casos de estupro subiram de 3.338 para 5.647.

Também verificou-se que o aumento de homicídios no interior de São Paulo interrompeu a série histórica de redução desse tipo de crime no estado. As cidades do interior foram responsáveis pelos maiores índices, com elevação de 16,4% (de 1.821 para 2.120) nos homicídios.


Desde 2001, vinham sendo registradas quedas em relação ao número de assassinatos em São Paulo. Mas, no ano passado, o aumento do número geral de homicídios no estado só não foi maior porque a capital e a grande São Paulo tiveram redução nos últimos 12 meses.

Na capital foram 1.235 casos, com queda de 2%. Já na região metropolitana, a diminuição chegou a 10,4%, com 1.202 ocorrências.

Diante do aumento no volume de diversos crimes, o governo de São Paulo avaliou que a crise econômica mundial e a greve da polícia de 2008 foram fatores que "colaboram para o salto dos índices de violência no estado".


A ideia de que a crise econômica mundial colaborou para aumentar a violência em São Paulo é rechaçada por especialistas. "Tratar essa violência como reflexo da crise econômica é uma análise inadequada do fenômeno". Não dá para fazer essa relação entre pobreza e aumento da violência, já que a violência é uma questão que passa por fatores educacionais, demográficos e também pela ação do poder público, avalia o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Marcelo Batista Nery.
Fonte: http://www.vermelho.org.br 
Da redação, com informações do site Brasília Confidencial

Jandira: é preciso punir os torturadores para contar a História

Emoção, convicção, indignação, esperança, solidariedade, saudade e garra. Poderia citar muitos sentimentos para expressar tudo que passou na cabeça e no coração de tantos lutadores, familiares, cidadãos que estiveram na OAB-RJ, dia 15 de abril, para o lançamento da campanha pela abertura dos arquivos da ditadura.

Por Jandira Feghali, no Jornal do Brasil

Diferentemente do que muitos acham, um país só é digno de ser uma nação se conseguir contar plena e verdadeiramente sua História, se definir valores para as relações intergeracionais, se conseguir mostrar as razões da liberdade e para que servem, como também o que significa a falta dela.

Infelizmente o Brasil tem uma tradição histórica e cultural de ignorar, esquecer o passado. Todos os países da América Latina que passaram por ditaduras militares, repressoras e cruéis, abriram seus arquivos e, apesar de leis de anistia ou “obediência devida”, processaram e condenaram os torturadores e os mandantes. Tortura é um crime contra a Humanidade, hediondo e covarde e não pode prescrever e muito menos ser esquecido.

A geração dos nossos filhos e netos tem que saber que a tortura é crime inaceitável e passível de punição. Não pode haver impunidade para quem torturou, matou, e retirou pessoas queridas do convívio de suas famílias e da sociedade, caso dos desaparecidos mortos, esquartejados, despejados no mar ou em cemitérios clandestinos, após terem sido presos, privando suas famílias do direito inalienável de enterrar seus mortos, ou pelo menos saber o que foi feito deles.

Os desaparecidos se transformaram em fantasmas que assombram a cidadania e mantem abertas as feridas dessa guerra suja, por constituírem crimes continuados, uma verdadeira tortura psicológica sem fim. Onde estão eles? O Brasil, “mãe gentil”, tem o direito de saber. Só a verdade trará a paz e cicatrizará essas feridas.

O próprio Estado já reconheceu sua responsabilidade nesses casos que violam todas as leis de guerra. As mentiras passadas e repassadas muitas vezes com o cinismo de alguns generais em meios de comunicação precisam ter a devida resposta do Estado Brasileiro.

As Forças Armadas, cuja grande maioria repudia com firmeza a tortura, a ilegalidade e a quebra da disciplina que resultaram dos porões do regime, precisam demonstrar seu total descompromisso com o período ditatorial, condenar práticas criminosas e assumir junto ao povo a credibilidade de quem tem compromisso com a Constituição e com suas funções lá definidas. O silêncio, os arquivos fechados, as explicações mentirosas, como as do atentado ao RioCentro, comprometem a instituição.

A abertura dos arquivos da ditadura é uma obrigação histórica, que trará tranquilidade à nação, respeito às famílias que obtiveram na reparação econômica um reconhecimento de culpa do Estado, mas não consideram isso uma solução. As mães que perderam seus filhos, muitos ainda jovens estudantes, querem saber quando, como e quem os fizeram entrar para a estatística dos desaparecidos políticos.

Não perdoar os torturadores é decisivo para a democracia, e a Suprema Corte Brasileira terá este compromisso, no qual se empenham lutadores que conseguiram salvar sua vidas com o exílio e o apoio de muitos outros democratas que acreditavam na reconquista de uma República Federativa Brasileira democrática ou até mesmo daqueles que, sem qualquer vínculo ideológico, foram capazes de generosamente auxiliar um coirmão.

Reforçar a cultura da solidariedade, da liberdade, da cidadania plena constitui o maior legado que podemos deixar às futuras gerações. Para isso, é necessário que o Estado Brasileiro torne todo esse período aberto e transparente.

Hoje em dia, quem quiser informar-se sobre o golpe militar de 64, o papel dos norte-americanos nesse golpe, suas causas e consequências ou até sobre a repressão no Brasil terá mais sucesso se se dirigir à Biblioteca do Congresso, em Washington, onde os documentos oficiais relativos ao período estão disponíveis para consulta há alguns anos.

Memória, verdade e justiça são pilares sustentados pelo povo, pelos artistas que emprestam seu prestígio e representatividade à campanha para dar voz aos desaparecidos, uma campanha, que se ampliará pelo país, e será capaz, na mistura da razão com a emoção, de provocar a superação dessa página triste da nossa História, que precisa ser dignamente virada.

* Jandira Feghali, ex-deputada federal pelo PCdoB- RJ, foi secretária de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia de Niterói e secretária de Cultura do Rio de Janeiro (RJ)
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br
                      Chapa Autonomia e Luta obtém 97,74% dos votos                             


Os bancários de Chapecó, Xanxerê e Região escolheram a sua nova diretoria em eleição que ocorreu durante todo o dia de ontem (27). A nova direção conduzirá a entidade no período de 2010 a 2013.

A chapa Autonomia e Luta, única inscrita para concorrer as eleições, encabeçada por Sebastião Araújo recebeu 97,74% dos votos. Participaram da votação 752 bancários. Na contagem dos votos foram 734 votos SIM, 17 votos NÃO, 01 voto NULO.

As propostas da chapa passam pela clara defesa dos direitos dos trabalhadores, autonomia em relação aos bancos e aos governos e a busca, através da organização e mobilização da categoria, ampliar os direitos.

Segundo o presidente eleito do Sindicato dos Bancários de Chapecó, Xanxerê e Região, Sebastião Araújo, é importante a renovação da diretoria pois ela dá novo fôlego para a continuidade das lutas da categoria. “O salário do dirigente é pago pelo banco, então para mim a recompensa maior é a luta pela categoria, por menores que sejam os êxitos é uma grande satisfação pessoal estar na presidência do Sindicato”, afirmou Araújo.

De acordo com Araújo, além da continuidade dos trabalhos, nós queremos focar na saúde preventiva dos bancários e também na fiscalização dos planos de saúde.

Durante a eleição, uma urna fixa ficou aberta das 08h às 18h, no Sindicato dos Bancários de Chapecó e 08 urnas itinerantes passaram em todos os estabelecimentos bancários da base territorial, durante o horário de expediente para coletar o voto dos associado.

 Fonte: Sindicato dos Bancários

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Afinal, o que é uma democracia sem direitos humanos?

Fatima Oliveira *

As polêmicas acerca do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, tão-somente uma diretriz de trabalho, provocam uma efervescência neuronal em quem tem deferência pela liberdade e a vê como um valor que perpassa todas as gerações de direitos humanos. 

Os "contra" se despiram da noção de pluralismo moral e fazem de conta que os direitos humanos não são protetores da humanitude, "apenas acobertam deliquentes sem colarinho; camponeses em busca de um naco de chão; gays e lésbicas que se amam, e mulheres que ousam exercer o direito de decidir" - todos "gentinha da pior laia", sem selo humano. É desfaçatez em demasia!

A Igreja Católica, despudoradamente, insiste em querer imprimir ao Estado brasileiro ares de teocracia católica e não contém o ranço histórico de desrespeito à pluralidade inerente à democracia. O que dizer de figuras que defendem o acobertamento de crimes horrendos, a maioria de domínio público, quando é dever de ofício, são pagas para tanto, defender a plenitude democrática? É o striptease em defesa da inimputabilidade de agentes públicos pelos crimes cometidos na ditadura militar de 1964 tentando acuar uma nação.

Indago ainda por que permitir, irresponsavelmente, que a imagem da instituição e um contingente expressivo das Forças Armadas, a ala jovem e outros tantos, na ativa e na reserva, que não praticaram crimes, têm de herdar a pecha de criminosos? É injusto que nos calemos para que assim seja. A Comissão da Verdade libertará os inocentes da pesada cruz dos crimes cometidos por alguns fascistas e sociopatas de outros naipes.

Li o mais que pude os contra-argumentos veiculados. Fui tomada de uma espécie de intolerância ética pela irracionalidade verborrágica dos "contra" e de enorme gratidão à democracia possível em que vivemos, que dá voz aos desatinados, escancarando entranhas e mostrando quanta quilometragem temos de percorrer até a democracia necessária a uma vida decente, de respeito irrestrito aos direitos humanos.

Na condição de trabalhadora que constrói as riquezas nacionais e tem consciência de que o dinheiro público, fruto de cada tostão do suor de quem trabalha, irriga abundantemente, direta e indiretamente, a Igreja Católica no Brasil, assim como garante a existência e os salários das Forças Armadas, eu me pergunto: por que alguns se acham no direito de entravar as liberdades democráticas? A história da humanidade demonstra que não se constrói uma democracia consistente sobre escombros de crimes hediondos impunes e valores teocráticos. Logo, considero que o contido no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é um passo decisivo para um país de fato de todos nós.

Ter ou não uma religião é um direito constitucional no Brasil. As religiões devem ser dignas dos papéis que as definem como religiões. Quando se metem a regulamentar a vida social e política para além dos seus fiéis e da garantia de livremente existirem, são nocivas à democracia. O que dizer de uma religião que vive de enganar, pois usa dupla identidade - ora se apresenta como religião, ora como Estado (o Vaticano) - ao sabor das conveniências, que prega e pratica a misoginia em pleno século 21; desconhece e desrespeita os direitos sexuais e os direitos reprodutivos de seu clero e de sua segunda divisão, as freiras, porém dá guarida a crimes clericais de natureza sexual; se comporta como se tivesse mandato divino sobre os corpos das mulheres, e ainda quer que as leis de um país laico sigam sua doutrina?

Que ridícula!
* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

O Vaticano arde nas labaredas do inferno por causa da pedofilia

Fatima Oliveira *

O papa está numa encruzilhada e terá que abrir os arquivos

"Papa convoca bispos da Irlanda para discutir escândalos de pedofilia"; "Papa diz a bispos irlandeses que pedofilia é crime hediondo"; "Vaticano cria ‘muro de silêncio’ sobre abusos, diz ministra alemã"; "Igreja holandesa anuncia investigação sobre abusos contra menores"; "Arquidiocese nega que papa tenha ajudado padre acusado de pedofilia"; "Vaticano critica ‘tentativas agressivas’ de envolver papa em escândalo"; "Líder católico da Irlanda pede perdão por proteger padre pedófilo"; "Papa pede desculpas às vítimas de padres irlandeses pedófilos"; "Vaticano ignorou caso de padre que molestou mais de 200"...

Eis uma pequena amostra de manchetes sobre pedofilia clerical de 15.2 a 25.3.2010, data em que outra bradava: "Escândalos podem forçar papa a abrir arquivos secretos, diz vaticanista". É esperar para ver o balancê da nau de São Pedro no mangue em que se encontra a credibilidade moral do Vaticano. Um chamado à responsabilidade não absolverá o papa Bento XVI, que foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) - antigo Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, que zela "pela ortodoxia da Igreja Católica e pelas questões disciplinares" - de 1981 até 2005, quando foi eleito papa.

Conforme o vaticanista Marco Politi, "o monsenhor Charles J. Scicluna, promotor de Justiça da CDF, afirmou que houve 3.000 denúncias de abusos contra menores nos últimos dez anos. O que aconteceu com essas denúncias? Quantas foram julgadas? Quantos religiosos foram considerados culpados e quantos foram punidos? É preciso dar explicações e não admitir mais que os casos sejam ocultados...

O papa está numa encruzilhada e terá que abrir os arquivos secretos da CDF se quiser ser coerente com a transparência que defende... O papa disse que deve haver punição e que as vítimas não foram ouvidas. Deve então ser coerente com essa linha e abrir os arquivos. Tendo feito uma carta tão rigorosa e transparente, ou volta atrás sobre a transparência ou deve ir até o fim... O furacão da pedofilia, depois dos Estados Unidos e da Europa, chegou na Alemanha, pátria do papa, depois na diocese do papa, agora dentro do Vaticano, na Congregação da Doutrina da Fé, onde o cardeal Joseph Ratzinger foi prefeito, apontando para a sua responsabilidade direta".

Há impeachment de papa? Renúncia? Ou só nos resta lavar as mãos, dando uma de Pilatos? Durante 24 anos, o cardeal silenciou sobre a pedofilia clerical! Agora, que é infalível, não pode ser responsabilizado? É um alento que na declaração, divulgada após o encontro com os bispos irlandeses, conste que, "de sua parte, o santo padre observou que o abuso sexual de crianças e jovens não apenas é um crime hediondo, mas também um pecado grave que ofende a Deus e fere a dignidade da pessoa humana criada à Sua imagem". É um discurso significativo. Mas palavras são palavras. Faltam os gestos para demonstrar ao mundo que rompeu com um dos malditos signos da dupla moral sexual: dar guarida a crimes clericais de natureza sexual. É o mínimo esperado, já que a pedofilia clerical e a omissão do Vaticano diante dela sempre andaram de braços dados.

No prefácio do meu romance "A hora do Angelus" (Mazza Edições, 2005), digo que "é uma história que acontece com mais frequência do que se pensa. Ainda que o roteiro que estrutura a história seja uma imaginação da autora, o relato está entremeado de reflexões pontuais sobre omissões do clero romano diante do assédio e do abuso sexual, assim como da pedofilia - milenarmente praticados por padres".

Publicado em: 30/03/2010
FONTE: www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=11255

* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio 
Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

A imanência e a transcendência das coisas e da vida no sertão

Fatima Oliveira *

É, como dizem os rosiólogos, uma paisagem mental perene

De vez em quando, indagam se as crônicas que escrevo são memórias ou ficção. São memórias. Jamais escrevi ficção em qualquer das 419 crônicas publicadas em O TEMPO, incluindo a de hoje. A pergunta tem o poder de me fazer refletir sobre o ofício prazeroso de escrever. Como surge uma crônica? Não sei. Costumo anotar e guardar quando vem à minha mente algo interessante. O assunto aparece, germina, brota e amadurece. Às vezes, demora; às vezes, "encroa" e não sai nada; outras, de uma sentada jorra uma crônica inteirinha. É um processo inexplicável. E assim a vida de escrevinhadora corre.

Adoro escrever sobre a minha meninice. Guardo lembranças calientes. Tive uma infância e adolescência felizes, idílicas até. Tendo sido uma criança venerada, por ser primogênita e primeira neta, nascida de filha única, afilhada dos avós maternos, fui muito mimada, mas educada para ter autonomia. Achava a "Carta de ABC" fascinante e pedi para ir para a escola! Desabrochei muito estudiosa e adorava ler, ler e ler... Foi a sede de saber que fez com que, aos dez anos, fosse "mandada" estudar longe de casa, "lá no Padre Macedo" (Colinas, Maranhão). Não havia mais o que estudar em Graça Aranha. Era 1964.

Desde então, o convívio presencial com a minha família foi apenas nas férias escolares. Saí de casa aos dez anos e nunca mais voltei. Deve haver algo extremamente forte, construído nos dez primeiros anos de minha vida, e suficientemente sólido, que se mantém no campo dos valores morais, do apego à gente e às coisas do sertão, que evidencia que ter vivido ali nos marca para sempre. Costumo dizer que o sertão que conforta e acaricia o meu viver é, como dizem os rosiólogos, uma paisagem mental perene, que nutre a minha vida e a minha produção literária. Há algo de imanente ao sertão que não nos larga nunca e nos acompanha o tempo todo.

Quando fui a Nova York a primeira vez, era 2005, com mil e uma coisas para ver, eu quis ir à Body Shop, de Anita Roddick, só para mirar os sabonetes de óleo de coco de babaçu, lá do Maranhão, pois sei o que é ser uma quebradeira de coco! E, à beira do lago Michigan, em Chicago, enquanto minha filha Débora fotografava aquele mundão de água, a imagem que me veio foi do açude de minha terra e das mulheres lavando roupa...

É pra rir, não é? Eu também ri, e muito, só de pensar que, se tivesse me afogado ali, não estava contando a história. Quando tinha oito anos, fui levar almoço para mamãe, que estava lavando roupa no açude. Aproveitando que ela estava distraída no maior papão, eu "tibum!" no açude! E fui nadando rápido, pretendendo chegar a um toco de palmeira, de onde as pessoas adultas davam saltos mortais e "tomavam pé"... Não sabendo nadar direito, e nem era acostumada a nadar ali, comecei a beber água: subindo e descendo, subindo e descendo... Fui salva por uma das lavadeiras.

Recordo-me de mamãe com um chicotinho de fedegoso me batendo, e eu vomitando até as tripas, enquanto dizia: "Pega tua bicicleta e chispa pra casa, menina atentada!" Ah, isso eu era! Mamãe nunca mais lavou roupa no açude. Foi proibida. Papai dizia que ela não precisava, já que tinha lavadeira. Anos depois, perguntei por que ela gostava de lavar roupa no açude. Respondeu que "era um divertimento". O açude era um ponto de encontro das mulheres, até daquelas que, de vez em quando, usavam a desculpa de lavar roupa só pelo prazer da muvuca. Bonito, não é? Mas lembrar disso à beira do lago Michigan tem dimensão transcendental.

Publicado em: 06/04/2010
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=11317


* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Profetas da Floresta

Moises Diniz *

Falar de uma religião é como interpretar a palavra de Deus, é como decifrar vontades divinas e dialogar com os anjos. Imagine falar de três. Por isso vou aqui falar dos homens, de carne e osso, na sua dor, nos dias de frio, fome, desejos, solidão, calor, sofrimento, na sua humanidade.

Mestres Irineu, Daniel e Gabriel, profetas da floresta, antes de tudo, eram homens, na sua beleza e na sua perversão, submetidos aos sofrimentos da carne, como nós, como qualquer um, como Buda, como Maomé, como Jesus.

Sim, como Jesus, fundador do Cristianismo. Na época do rei Herodes, o anjo Gabriel aparece a Maria na cidade de Nazaré, virgem e noiva de José, e anuncia que ela viria a conceber do Espírito Santo e que daria ao seu filho o nome de Jesus. Jesus era um menino de prótons, neutros e elétrons. Uma criança constituída de átomos eternos, a brincar com os quasares como se fossem pedaços de gesso.

Homens de carne e osso, como Mestre Irineu, fundador do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo. Filho de ex-escravo, guerreiro das estradas de seringa, em Xapuri, Brasiléia, Sena Madureira, Rio Branco. Irineu Serra cortou seringa na terra de Chico Mendes.
Irineu Serra trabalhou com o Marechal Rondon. Se tivesse sido 15 anos antes, teria trabalhado com Euclides da Cunha, na definição dos limites entre Acre, Peru e Bolívia.

Mestre Irineu fez a sua passagem em 1971, nove anos depois de instalação da Assembléia Legislativa do Acre. Quantos receberam título de cidadão acreano, mas esqueceram do negro maranhense que fundou essa bela religião da floresta. Homens submetidos à mortalidade, como Buda, fundador do Budismo, que nasceu no século VI aC., com o nome de Siddharta Gautama, filho do rei dos Sakias.

Foi assim que esse príncipe, aos vinte e nove anos, casado com a bela princesa Yasodhar, resolveu abandonar a casa no mesmo dia em que nasceu o seu filho Rahula, após ter concebido profundos pensamentos sobre a miséria humana.

Homens pecadores, como todos nós, como Mestre Daniel, fundador do Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz. Maranhense, foi construtor naval, cozinheiro, músico, barbeiro, alfaiate, carpinteiro, marceneiro, artesão, poeta, pedreiro, sapateiro e padeiro.
Vivei no bairro 6 de agosto e no Papôco, na beira do rio, zona de meretrício. Era um boêmio, bebia, fumava, escrevia canções de amor, dormia ao relento. Mestre Daniel era um profeta que estava nascendo dentro de um violão.

No poço das cobras Mestre Daniel recebeu a missão e em 1958 Mestre Daniel desencarnou.
Homens do seu tempo, como Maomé, fundador do Islamismo. Nascido em Meca, Maomé foi durante a primeira parte da sua vida um mercador. Tinha por hábito retirar-se para orar e meditar nos montes perto de Meca.

Os muçulmanos acreditam que em 610, quando Maomé tinha quarenta anos, enquanto realizava um desses retiros espirituais numa das cavernas do Monte Hira, foi visitado pelo anjo Gabriel que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus, e comunicou que Deus o havia escolhido como o último profeta enviado à humanidade. Maomé deu ouvidos à mensagem do anjo e, após sua morte, estes versos foram reunidos e integrados no Alcorão.

Homens comuns, mas especiais, como Mestre Gabriel, fundador da União do Vegetal. Baiano filho do povo, tem que abandonar todos os laços familiares, porque soube ser solidário com um amigo, contra a injustiça.
Vem pro Norte, passa por Rondônia e vem trabalhar na seringa como um brabo, enfrentando até esporada de arraia. Em 1946 conhece sua amada, Mestre Pequenina e em 1961 Mestre Gabriel, soldado da borracha, funda a UDV no Acre. Em 1971 Mestre Gabriel fez a sua passagem, nove anos depois da instalação da Assembléia Legislativa do Acre.

Homens que fundaram uma religião. São como saliva de Deus, seus olhos mortais, seus ouvidos, compatriotas dos anjos, na pátria da eternidade e do sonho humano de viver sem dores.
Jesus, Irineu, Buda, Daniel, Maomé, Gabriel. Homens comuns que ultrapassaram o seu tempo, se fizeram maiores do que os obstáculos e todas as misérias humanas.

Capazes de vencer a dor, os vícios, as indecências, as fraquezas humanas. Homens que se fizeram próximos dos anjos. Homens que, aqui na Amazônia do Brasil fundaram uma religião e fizeram homens e mulheres se tornarem melhores, mais fraternos, mais irmãos.

Gabriel, Irineu e Daniel ficaram próximos das dores humanas, sentiram o odor da carne e todos os seus incensos, provaram do vinho profano e abriram suas almas para as aventuras da mortalidade, apalparam a pele áspera das árvores, dos cipoais e a pele macia das mulheres amazônicas, suportaram o calor do sol e o frio das madrugadas, a sede e a fome, as doenças da época, os desejos de adolescente e os sonhos de adulto.

As mães de Gabriel, Irineu e Daniel sangraram no parto e os três Mestres nasceram cobertos de sangue como toda criança, um instrumento rústico cortante separou os seus umbigos do corpo e uma palmada carinhosa arrancou-lhe o primeiro soluço de choro.

A comida que eles consumiam se decompunha no estômago e ele precisava se desfazer delas, urinar, limpar-se, se vestir. Os Mestres Gabriel, Irineu e Daniel eram humanos como todo e qualquer homem da Terra e seus desejos seguiam a lógica da mortalidade. Eles eram homens, com todas as necessidades que acompanham a nossa espécie desde os primórdios.

Gabriel, Irineu e Daniel eram mortais, dotados de todas as habilidades humanas e perseguidos, como pássaros feridos, por todas as serpentes que infernizam os homens, especialmente aqueles que sobrevivem do trabalho de suas próprias mãos e, como herança do Éden perdido, comem do suor do próprio rosto.
Nossa homenagem a esses homens, que apesar de toda montanha da mortalidade sobre os seus dias, foram capazes de se tornarem anjos.

Nossa reverência aos queridos Mestres Gabriel, Irineu e Daniel.

Nota: discurso que proferimos na sessão especial da Assembléia Legislativa do Acre, proposta por nós, em homenagem aos mestres fundadores das religiões que têm a ayahuasca como sacramento.
* Neto de índios Ashaninkas, ex Irmão Marista, formado em pedagogia e
deputado estadual pelo PCdoB no Acre.

Fonte:http://www.vermelho.org.br/coluna

“Procurando Elly”

Cloves Geraldo *

Escolha punida
O direito de a mulher escolher seu companheiro é o centro do drama dirigido pelo iraniano Asghar Farhadi

Com economia de meios e incidentes encadeados de forma a criar uma multiplicidade de climas, o diretor iraniano Asghar Farhadi põe o espectador frente a vários caminhos que, no final, ficam abertos. Por mais que ele, espectador, tente aceitar o desfecho que o filme lhe apresenta, fica com a impressão de que ele está subentendido. Ou seja, o que Farhadi quer dizer está para além da tela. Nisto se constitui o achado deste “Procurando Elly”. Em certo momento, dá para fazer paralelos com os crimes praticados contra a mulher no Brasil, onde sua decisão de romper uma relação acaba pondo sua vida em jogo.

Percebe-se que na sociedade iraniana, mais rígida em seus códigos éticos e morais, Elly (Taraneh Alidousti) tem pouca ou nenhuma escolha, enquanto que no Brasil, com toda a “permissividade”, os registros de violência são ditados igualmente pela persistência de códigos patriarcais, machistas e reativos. Daí as semelhanças que vão surgindo ao longo do filme, pondo o espectador diante de um espelho de sua própria sociedade. Pois o que está em jogo nos entrechos que se encadeiam mudando a narrativa a todo instante é a procura desesperada pela identidade de Elly.

Afinal quem é essa jovem professora que se transforma ora em vítima, ora em culpada? Os entrechos vão colocando ao longo do filme as diversas visões dos personagens, masculinos e femininos, compondo um mosaico que no final dará uma idéia de quem é Elly, mas não suas reais intenções. Nisto se constitui a beleza deste “Procurando Elly”. Ela é quase um esboço de personagem. Aparece não em sua intensidade, mas em fios, em instantes, como quando solta papagaio com as crianças na praia, ou impaciente dizendo à sua amiga Sapideh (Golshifteh Farahani) que tem de voltar logo à Teerã.

Elly simboliza mulher iraniana

É tudo que se vê dela. Sua inquietação é tal que o espectador desconfia que ela seja ligada a alguma organização política contraria ao regime dos aiatolás. E tem uma tarefa urgente a executar não podendo mais desfrutar o feriado com Sapideh e os três casais de amigos no litoral de Teerã. Principalmente Ahmed (Shahab Hosseini), que veio da Alemanha para com ela ficar noivo. Um fio que uma vez puxado vai trazendo complicações de toda espécie para gerar uma confusão tal que o grupo antes unido se desestrutura. Farhadi dota-o de várias rodilhas, que se prendem à velha casa de praia rústica, vazia, cheia de partes quebradas; à praia de areia suja, às marés revoltas, às tentativas de Sapideh de  mantê-la junto deles, uma vez que precisa dela, Elly, para o feriado ser completo.

Um incidente irá desencadear uma série de mal entendidos, a ponto do que era equilíbrio se tornar seu elo mais fraco: a absorção de Elly pelo grupo. O drama familiar, com seus incidentes normais, vira, de repente, pesadelo. Elly desapareceu e a tragédia assume outro caráter. Farhadi constrói e desconstrói ao mesmo tempo todo arcabouço dramatúrgico do filme de suspense. Por que ela desapareceu torna-se mais importante do que explicar como isto se deu. Elucidar este mistério poderá livrar Sapideh, que organizou o noivado dela com Ahmad, de ser acusada de cumplicidade com Elly.

Diretor deixa espaço para espectador pensar

É então que Farhadi usa os entrechos para descontruir o que o espectador acha que está entendendo. Não basta Sapideh revelar as razões de Elly para romper uma relação que não mais atende a seu desejo, é necessário introduzir outro personagem para o espectador compreender o que ele, Farhadi, quer dizer. O jovem Alireza, quase em pânico, completará com seu comportamento o que ele, diretor, quer dizer ao espectador: toda esta confusão se deve única e exclusivamente ao papel da mulher na sociedade iraniana. Até esta conclusão, o espectador terá puxado vários fios, pistas falsas, choques de casais – de Amir com Sapideh, de Spyman com Shohreh -, buscas de Ahmed e Nauzidehr e do desespero de Sapideh, acusada de ter causado todo o sofrimento do grupo.

No final, quando estiver deixando o cinema, o espectador ainda estará montando em sua cabeça este mosaico de pistas. Do incidente na praia, que levou todos a procurá-la, até a chegada de Alireza, “Procurando Elly” não tem nada demais. Usa poucos cenários, a casa em reforma, metáfora sobre a sociedade iraniana, diversos personagens, e encadeia os entrechos com competência. Desta forma, seria mais um drama familiar que vira um bom filme de suspense. Só isto. O que o torna diferente, cheios de nuanças, entrechos criativos, são suas elipses, o subentendido, o que deixa para o espectador preencher. A chave para isto é o diálogo de Alireza com Sapideh: “Só me diz uma coisa. Ela falou que gosta de mim? Sim ou não? – Sim”, responde Sapideh. Toda a trama do filme é traduzida neste diálogo (o espectador sabe se é mentira ou não).
Todo o arcabouço moral se perpetua. E apenas Elly e Sapideh são punidas.


Procurando Elly” (“Darbareye Elly”). Drama. Irã. 2009. 119 minutos. Roteiro/Direção: Asghar Farhadi. Elenco: Golshifteh Farahani, Taraneh Alidousti, Shahab Hosseini, Merila Zarei, Peyman Moadi.
(*) Urso de Prata no Festival de Berlim, 2009.
* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Reconstrução do Imaginário Socialista

Leandro Alves * 
"Nada é impossível mudar.  
Desconfiai do mais trivial,  
na aparência singelo.  
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.  
Suplicamos expressamente:  
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,  
pois em tempo de desordem sangrenta,  
de confusão organizada,  
de arbitrariedade consciente,  
de humanidade desumanizada,  
nada deve parecer natural  
nada deve parecer impossível de mudar."  
Bertolt Brecht
Ensinamentos do primeiro ciclo das revoluções socialistas

O século XX deu inicio ao primeiro ciclo de revoluções socialistas. Muito se passou desde a Revolução de Outubro. Muito se avaliou e muito ainda tem que ser avaliado, mas algumas conclusões já podem ser extraídas dessas experiências: i) as experiências que ocorreram no século XX foram sim experiências socialistas. Os erros e insuficiências não descredenciam os feitos diretos e indiretos das revoluções socialistas.

Os precursores do Socialismo deram os primeiros passos de uma longa caminhada. Nosso ideal é superior ao do capitalismo, pois é inclusivo e igualitário; ii) a construção do socialismo deve ser obra dos trabalhadores e das massas populares, a complexidade da luta política não deixa mais espaço para que pequenos grupos cheguem ao poder sem amparo popular, a nova sociedade só se concretizará com o engajamento de um grande número de homens e mulheres; iii) não há modelo de socialismo, não existem “receitas” preestabelecidas.

O Socialismo para ser construído em nosso País, deverá – para se concretizar - respeitar as particularidades históricas do Brasil e de seu povo; iv) a transição para o socialismo é um processo longo, com diversos processos de transformações lentas e cruentas, não cabendo voluntarismos esquerdistas, mas sim um conhecimento concreto da realidade que estamos inseridos. A derrota que sofremos no início da década de 90 está longe de representar o fim da história, representa sim, um novo ciclo de construção do socialismo, o inicio de uma caminha rumo à emancipação da humanidade.

Capitalismo incapaz e senil

Do ponto de vista dialético, um fenômeno só se desenvolve plenamente se não tiver obstáculos que impeçam seu desenvolvimento. Enquanto existia o campo socialista, o capitalismo teve de se conter. Não podia mostrar sua real face, o Estado de bem estar social é um exemplo de como o capitalismo teve de se adequar a uma realidade mundial que tinha como característica geral a bipolaridade política. Quando o campo socialista foi derrotado, o capitalismo pôde, sem um contraponto político-ideológico, mostrar sua natureza excludente. O resultado concreto é inegável: o capitalismo não foi capaz de resolver, sequer minimizar, os grandes problemas que a humanidade enfrenta.

Se não bastasse isso, o capitalismo atravessa uma das maiores crises de sua história. Não é uma mera crise cíclica, que possa ser contornada com medidas do tipo “keinisianas”, mas sim uma crise estrutural. Essa crise afetou o sistema do capital e não apenas o capitalismo. E não são poucos os que dizem que o pior ainda está por vir. Essa situação tem gerado um grande número de contestações. Elas espalham-se pelo mundo. Não se restringem mais a periferia do sistema. Entretanto, o Socialismo não esta na ordem do dia, pois embora em crise o capitalismo ainda é hegemônico política e culturalmente. Ainda estamos em um período predominantemente contrário aos interesses dos povos e da classe operária. É nessa conjuntura que devemos pensar a reconstrução do imaginário Socialista.


Nossa ação no dia a dia

Somos homens e mulheres que atuamos no cotidiano da luta política. Seja no parlamento, no sindicato, na associação de moradores, na universidade, enfim, nos diversos espaços da vida social e política de nosso País. A questão que se apresenta é que nessa ação cotidiana, somos “engolidos” pelas atividades práticas desses movimentos e acabamos nos afastando da luta política. Não é por acaso que o capitalismo se mantém “de pé” mesmo com a sua incapacidade de resolver os problemas da grande massa de seres humanos.
A luta econômica – por melhores salários, por moradia, por educação, entre outras -, não supera a questão fundamental do sistema: a produção social da riqueza produzida pela sociedade e a apropriação privada dessa riqueza. Confirmando essa assertiva, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) elaborou um levantamento que aponta as desigualdades no Brasil. Um dos dados mostra que os 10% mais ricos concentram 75,4% da riqueza do país.

Realizar apenas a luta econômica possui um grande limitador. Ao lutarmos dentro das “regras do sistema” nosso horizonte se limita ao próprio sistema – por mais que se melhorem os salários a mais valia continuará a existir. A luta econômica isolada nos restringe apenas a uma oposição do sistema e não uma oposição ao sistema. Isso gera um limite histórico, por não conseguir sair dos marcos do capital acabamos dependendo do objeto que negamos, nossa ação fica restrita a ordem atual. Por isso devemos politizar nossa ação nos movimentos sociais, partir do específico – a luta econômica - e fazer a ligação com o geral – a luta política.

Luta política e unitária

Na atualidade há uma serie de movimentos sociais – movimento negro, mulheres, sindical, comunitário, LGBT, estudantil, ecológico, para ficar só nesses – que possuem suas especificidades, suas bandeiras de lutas, que tomadas isoladamente podem minimizar as mazelas impostas pelo capitalismo, mas nunca conseguirão ir à raiz do problema, ou seja, colocar em xeque as estruturas dessa sociedade excludente. As cotas – raciais e de gênero, por exemplo - são medidas compensatórias importantes para a realidade de exclusão que o capitalismo impôs aos negros e às mulheres em nosso País, mas só elas, desconectadas de um projeto político que tenha como fundamento o fim da exploração não conseguirão contribuir para a emancipação dos trabalhadores. Unir a luta econômica à luta política é elemento essencial por aqueles que almejam construir uma sociedade Socialista.

Precisamos, também, romper com a compartimentação que existe entre os movimentos sociais. A luta pela redução da carga horária de trabalho sem redução de salário dever ser uma luta de todos os movimentos sociais e não apenas do sindical. A luta pela igualdade de gênero deve ser pautada por todos os movimentos sociais e não apenas pelo movimento feminista. Renato Rabelo – Presidente Nacional do PCdoB – nos dá uma lição de sabedoria política, diz ele, que “o isolamento é o primeiro passo para a derrota”. Essa máxima deve pautar a ação de todos os militantes na atualidade, pois só com uma grande unidade conseguiremos acumular forças rumo transformação radical da sociedade.

Em síntese, é preciso unir, dentro de cada movimento social, as lutas imediatas à luta política, dando um rumo estratégico a cada ação tática. É preciso, também, unir os diferentes movimentos sociais, buscando unificação na ação cotidiana, construindo uma unidade solida para a defesa dos interesses das maiorias. Não há espaço para a luta despolitizada, para o isolamento político, nem para a compartimentação da luta para quem deseja edificar um caminho concreto para o fim da exploração. A elevação da consciência dos lutadores sociais através da politização das lutas cotidianas e da unidade entre os movimentos sociais será fator importantíssimo para o futuro da construção do Socialismo.

Novos agentes políticos

Além dos movimentos tradicionais, como o sindical - que deve ser o pilar de qualquer projeto socialista, pois é ele que enfrenta diretamente a contradição entre o capital e o trabalho -, o comunitário e o estudantil, apareceram novos lutadores sociais. São movimentos que carregam grande potencial de mobilização e contestação. Movimentos como o Hip Hop, Rádios Comunitárias, Comitês de Resistência Popular, os Centros de Educação Popular, Cooperativas de Trabalho, entre outros do gênero, nasceram de um vácuo existente nas favelas e vilas das grandes cidades. Esses movimentos conseguiram aglutinar um grande numero de pessoas que não participavam dos movimentos tradicionais, pois não estavam incluídos na ação desses movimentos. Os movimentos tradicionais não possuíam - e ainda não possuem - uma proposta organizativa voltadas para esses novos seguimentos. Precisamos romper esse obstáculo para a reconstrução de um novo imaginário Socialista. É necessário que criemos uma política para esses novos lutadores, pois eles não se organizam tradicionalmente em sindicatos ou associações similares.
Estes movimentos apresentam elementos similares em sua constituição, quais sejam, a solidariedade – ainda não é uma solidariedade de classe -, o inconformismo com a exploração, a negação do sistema capitalista, as diversas formas de expressão cultural como fator aglutinador e um contato com a realidade enfrentada pela maioria da população. Esses movimentos estão construindo uma nova perspectiva de ação das massas trabalhadoras e exploradas através da cultura popular como forma de resistência ao sistema capitalista, estão construindo uma nova forma de luta, a partir da cultura, da musica, da dança, da pintura, enfim da expressão artística e da união comunitária. Um projeto socialista precisa incluir esses novos agentes sociais, como forma de incluir e massificar a luta por uma nova sociedade.

Coerência e relevância política

A luta política apresenta-nos um grande número de possibilidades. Há caminhos fáceis como a atuação baseada apenas em discursos fáceis, ditos revolucionários, porem sem eficácia efetiva na vida dos trabalhadores e excluídos. Esse caminho é o mais utilizado por setores esquerdistas, pois qualquer um é “coerente” sem ter a pratica como critério da verdade, tendo como parâmetro apenas o discurso teórico.
Existe o caminho dos que se jogam nas questões imediatas, vivem correndo para “resolver” os problemas, alcançam um papel relevante em determinado período, mas perdem o rumo, pois suas ações não levam a transformação efetiva da sociedade.

O caminho para edificar um novo imaginário socialista é complexo e contraditório, pois exige que se atue no cotidiano, buscando – a partir das questões imediatas - um elo com a luta política, com a luta transformadora. Em outras palavras, é preciso ser coerente com o objetivo central – com a estratégia - sem perder a relevância política na atualidade. Essa é a tarefa de todos que desejam seriamente construir o socialismo em nosso País. Acumular forças com as lutas específicas, sem perder o norte, o objetivo estratégico: a construção de uma sociedade socialista.

Nada é impossível de mudar

Todos os dias somos bombardeados pela mídia, com mensagens de que o mundo sempre foi assim, que não há alternativa e que nada pode ser feito. Não podemos criar nenhum tipo de organização social melhor que o capitalismo. Só nos resta, então, nos adaptar a essa realidade e pronto.
Na verdade a vida não é bem assim. Do comunismo primitivo até os dias atuais, a única verdade que podemos extrair é a de que tudo pode mudar. E essa mudança se dá pela ação concreta dos seres humanos. O capitalismo foi um avanço em comparação com o feudalismo, já teve um papel revolucionário. Entretanto, há muito tempo perdeu esse caráter progressista e passou a ser conservador. As relações sociais que o capitalismo engendra já entraram em contradição com as forças produtivas da sociedade. A contradição entre produção social das riquezas e sua apropriação privada e entre anarquia das decisões na produção e a competição desenfreada são expressões claras dos limites do capitalismo.

A humanidade pode ir mais longe. Pode construir uma sociedade melhor, justa e solidária. Onde o ser humano seja o principal, onde o conhecimento fique a serviço da paz e do desenvolvimento de todos, onde a dignidade da pessoa humana seja um pilar intocável, onde a igualdade não seja mera retórica formal, mas se apresente no campo econômico, político e social. Para tanto precisamos enraizar o projeto Socialista no imaginário dos trabalhadores e trabalhadoras, das massas populares, dos homens e mulheres que almejam um mundo melhor.

A criação de um novo imaginário Socialista, só será possível se estiver permeada pela unidade política de todos os movimentos sociais, por uma concepção teórica antidogmatica, crítica e criadora, pela mais ampla participação popular, pela solidariedade, pelo conteúdo de classe e por um profundo amor pela vida humana. As condições objetivas para caminharmos nesse rumo já estão dadas, precisamos iniciar a edificação das condições subjetivas. Então, mãos a obra, pois nada é impossível de mudar.
* Leandro Alves é Servidor do Poder Judiciário Gaúcho, ex-assessor Sindical, ex-assessor Parlamentar. E-mail: leandroalvesrs@htmail.com
FONTE: http://www.vermelho.org.br/coluna

Nas eleições, se não acredita, eu vou sonhar pra você ver

Não era voto de cabresto, mas de consideração

Tá no sangue. Nas eleições acabo como em "Cantigas de Sabiá": "Xô meu sabiá, xô minha zabelê/ Toda madrugada eu sonho é com você/ Se você não acredita eu vou sonhar pra você ver". Eleição é festa. Tempo de sonhar sonhos possíveis. Papai, ao falecer aos 33 anos (1963), era, pela segunda vez, o "vereador do Braulino". Meu avô, o personagem político da família e da eterna confiança do deputado Sales Moreira Lima - dever moral que herdou do pai, o velho Bodô, meu bisavô, vaqueiro do deputado na década de 30.

Os Bodô votavam no deputado. Não era voto de cabresto, mas de consideração, coisa hoje muito esquecida. Honravam a memória do velho Bodô, homem de um tempo em que no sertão todo vaqueiro tirava uma sementinha de gado. Ter um gadinho, sina de quem gosta de leite mungido na porteira do curral e do cheiro de bosta de boi, perpassou todas as gerações do velho Bodô: filho, neto, bisneto, trineto e tataraneto (quarta geração de netos).

"Seu" Sales e Dona Lili, sua esposa, chegavam num Jeep. Era parar e o foguete correr solto. A casa enchia. Festança. Deixavam tudo "no jeito": dinheiro para transportar gente pra votar, o segredo de garantir votos naquela biboca. Tia Lô dizia: "Pobre andando de carro em dia de eleição é voto do ‘sinhô’ Moreira da Serra Negra". Uma vez ouvi meu avô dizendo: "Deputado, a comida é por minha conta. Mato uns garrotinhos com prazer pra garantir comida farta pros seus eleitores. Pra lhe eleger, aqui em casa todo mundo trabalha. Até minha neta ("euzinha" aqui...) já escreve os papéis pros eleitores. A gente daqui é de pouca leitura. Meus votos são certos. Palavra de Bodô".

É um diálogo que elucida o poder do dinheiro nas eleições. Já era proibido dar comida e transportar eleitores. Ninguém ligava. No quintal da vovó era feita uma latada. Um monte de mulheres preparando arroz, cozidão, panelada e "carne fresca sapecada na brasa" (hoje é churrasco!). Feijão? Jamais! Imagina dar feijão pra eleitor! Em Graça Aranha, a política era de alta temperatura e pressão. Fervia. Policiamento ostensivo - soldadinho para cima e pra baixo. Diziam que era para "guardar as urnas".

Uma vez prenderam um caminhão cheio dos Bodô do Centro do Hermínio. A mando do prefeito, Nacor Rolim, adversário do pai velho. Ele falou pra vovó: "Maria, cadê meu revólver?" Vovó despachou as crianças pra "Quinta do Braulino" (nome da nossa propriedade). Anos depois conversei com ele sobre o assunto. Disse-me que para "desprender" seu povo foi suficiente mandar um portador dizer ao prefeito que os Bodô eram homens de bem e nunca dormiram na cadeia, mas se ele quisesse um motivo pra um Bodô dormir engaiolado não soltasse o caminhão "incontinenti", palavra que ele usava muito, que significava: agora, na hora, já!

Mamãe recebia os caminhões, distribuía um papelzinho e levava o povo pra votar. Era o terror das seções eleitorais. Muito simpática, abordava mais mulheres, dizia: "Deixa ver se tá levando o papel certo". Se não era dos candidatos dela, bradava: "Num é esse não! Pega o certo!" E, de braço dado, ia com a pessoa até a entrada da seção. Boca-de-urna de 100%. Papai era dos mais votados. Ela sabia, certinho, os votos dele em cada urna! Dias antes, fazia serão escrevendo à mão os tais papeizinhos, acho que eram números, que no dia da eleição carregava dentro do sutiã. Ainda adora eleições, mas diz que hoje são sem graça. Tem razão. Impossível reproduzir a sua boca-de-urna.
Adoro eleições porque insisto em sonhar.

Publicado em: 20.04.2010
Fonte: www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=11435

 Fatima Oliveira *
* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.
 
http://www.vermelho.org.br/coluna

Globo, Veja e Folha: o partido político da mídia vai à guerra

Quando aponta-se que há um partido político da mídia que organiza a oposição ao governo Lula, alguns colegas jornalistas ficam indignados por não se acharem partícipes de qualquer movimento. Julgam-se independentes e acusam aqueles que criticam os veículos como governistas e chapas-brancas.

A ação deste fim de semana que envolveu a Veja (com a capa do Serra de mãozinha no queixo), o jingle da Globo fazendo campanha pelo “Brasil pode mais” em nome dos seus 45 anos (sendo que o número 45 da Globo é igualzinho ao 45 do PSDB) e a pesquisa Datafolha que apresenta números contraditórios com a tendência de outros institutos, é mais uma demonstração de como a mídia comercial é o verdadeiro partido político da oposição demo-tucana.

Sem esses veículos de comunicação, Serra e sua turma teriam chance zero nas próximas eleições. Eles sabem que para que o candidato tucano tenha alguma possibilidade de vitória terão de jogar todas as fichas nele. Parecem estar dispostos a isso.

A ação da Globo, Veja e Folha não se deu ao mesmo tempo por coincidência. É algo articulado e para testar força. Quase como um ensaio de golpe. Algo muito comum quando os militares buscavam articular a derrubada de um governo democrático na América Latina.

Hoje, pesquisas devem estar sendo produzidas para consumo interno com a intenção de verificar se a ação resultou em alguma melhoria para os índices do tucano. A depender dos resultados, a ação se repetirá talvez em maior escala ou seus rumos podem ser alterados.

Por enquanto eles tentaram vender a simpatia de Serra e boas notícias para ele. Os próximos golpes podem (e pelo que indicam serão) ataques ao PT e reportagens acusatórias em relação à candidatura de Dilma.

Não foi à toa que Veja, Globo e Folha agiram conjuntamente. As teses do Instituto Milenium hoje são públicas. Não é preciso ser bidu para saber o que eles pensam da democracia. E para desenhar o que devem fazer no percurso da campanha eleitoral.

Preparem-se para uma campanha nojenta. Porque com jingles bonitinhos com artistas falando mais e mais e com capas de revistas em que Serra aparece de mãozinha no queixo não vai dar para melhorar a vida dele.
Ou seja, vai ter guerra.
  
Por Renato Rovai, em seu blog
http://www.vermelho.org.br/noticia

Artur Henrique: Reforma Agrária, uma bandeira da sociedade

A CUT é parceira histórica do MST e tem orgulho disso. A busca por um novo modelo agrário para o Brasil é luta mais que justa, digna. É também de interesse de todos os brasileiros e brasileiras, pois a reforma agrária e a valorização da agricultura familiar são fatores de desenvolvimento nacional, de soberania, de inteligência estratégica frente a um modelo econômico exaurido, para rumar a uma nova sociedade.

É uma luta de combate à pobreza, claro, e para por fim a práticas que deveriam estar extintas há muito tempo no Brasil, como já aconteceu em países desenvolvidos, ainda que capitalistas. Terras improdutivas na mão de umas poucas famílias, muitas recorrendo ao emprego de trabalho escravo e outras tantas usurpando dinheiro e terras públicos, utilizando-se de grilagem ou de subsídios e incentivos fiscais para, em troca, não gerar emprego, não produzir alimentos para a sociedade, para não pagar tributos.

São razões suficientes para qualquer cidadão se sentir parte interessada na reforma agrária. Se todos ainda pudessem entrar em contato com assentamentos bem organizados nascidos da luta pela terra, o apoio popular seria ainda maior, seria imenso. Essa luta é por um país desenvolvido, antenado com o século 21, que gera riquezas e inclui seu povo, onde crianças são saudáveis e idosos têm dignidade. É a busca por um novo eixo para distribuir renda e ainda respeitar o meio ambiente.

A Jornada Nacional da Reforma Agrária que acontece agora em abril é, portanto, de extrema importância para a maioria das pessoas. Pena que os meios de comunicação insistam em tratar o movimento dos trabalhadores rurais sem terra como se fosse criminoso. A partir de generalizações e raciocínios fáceis, tentam vender a imagem de que existem outros caminhos para a reforma, como se houvesse por aí várias pequenas propriedade rurais à venda para quem quiser produzir e que, por isso, as ocupações seriam um jeito malandro, faceiro, de escapar daquele único destino que credenciaria as pessoas como “gente de bem”: trabalhar muito, guardar economias por anos e anos e, aí sim, ousar ter uma propriedade.

Dessa forma apelativa, tentam confundir as pessoas, incluindo especialmente as pessoas de bem. Mas os grandes meios de comunicação esquecem, de propósito, de contar um detalhe fundamental que, revelado, seguramente desfaz qualquer engano ou efeito ilusório: não há um conjunto de propriedades rurais à venda para pequenos agricultores, o que existem são imensos latifúndios, cercados de arame farpado e de jagunços armados, muitos sem nada produzir, sendo que deles foram desalojados de maneira criminosa, tempos atrás, muitos dos que hoje buscam a reforma agrária e aqueles que os antecederam nessa luta.

As ocupações são um instrumento justo porque, muitas vezes, o único. Por isso pressionamos governos para que abracem politicamente a luta e adotem instrumentos que façam a reforma agrária avançar concretamente. Nossos sindicatos, rurais ou urbanos, têm em suas pautas reivindicatórias as bandeiras da atualização dos índices de produtividade da terra – os índices atualmente aplicados referem-se à realidade produtiva agrícola que existia há mais de 30 anos -, pela aprovação da PEC do trabalho escravo – terra onde for flagrada escravidão, desaproprie-se para a reforma agrária – e da aprovação do limite de propriedade da terra.

Em diversos estados onde o movimento atua, a CUT ajuda como pode. No interior de São Paulo, por exemplo, recentemente lideranças nossas acompanharam de perto o drama de dirigentes do MST presos.

Nossos sindicatos de trabalhadores rurais, na Contag e na Fetraf, dedicam-se intensamente a também realizar ocupações e a buscar sem trégua a melhoria do apoio à agricultura familiar e à estrutura latifundiária, especialmente através de nossas mobilizações do Grito da Terra e da Jornada Nacional de Lutas da Agricultura Familiar. Incluímos aí propostas econômicas para viabilizar, dinamizar e profissionalizar a pequena produção, esta que é, segundo não apenas evidências mas também uma recente pesquisa do IBGE, a locomotiva da produção de alimentos para os brasileiros e a principal aliada do respeito à natureza e a proteção das matas. Essa pesquisa do IBGE, por sinal, traz dados que comprovam avanços e, por isso, nos estimulam no combate.

MST, conte com o movimento sindical cutista nessa luta que é de todos nós.

* Artur Henrique é presidente nacional da CUT
Fonte: MST

UNE define posição da entidade nas eleições 2010 nesta semana

58° Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (UNE) reunirá mais de 500 estudantes na UFRJ entre os dias 22 a 25 de abril; objetivo é discutir propostas políticas dos estudantes brasileiros para apresentar aos candidatos nas eleições deste ano.

Entre os dias 22 a 25 de abril (quinta a domingo), mais de 500 lideranças estudantis de todo o Brasil estarão reunidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para discutir e elaborar uma plataforma política a ser apresentada ao conjunto da sociedade. Trata-se do 58° Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes, o Coneg da UNE, um dos principais fóruns de discussão do movimento estudantil brasileiro.

As atividades serão concentradas no Centro Tecnológico da UFRJ, no Fundão. A mesa de abertura será na quinta-feira, dia 22, às 10h, com a participação de autoridades políticas e representantes de entidades do movimento social. A plenária final – quando serão votadas e deliberadas pelos estudantes as principais propostas – será realizada no Terreno da UNE, na Praia do Flamengo-132, histórico espaço onde funcionou a sede da entidade até ser incendiada e demolida pelo regime ditatorial militar, em 1964. Na ocasião, estará exposta a maquete do arquiteto Oscar Niemeyer para o novo prédio que será construído no local.

58º. CONEG da UNE
Data: A partir de 22/04/10
End.: Bloco A do Centro de Tecnologia da UFRJ
CT da UFRJ /Ilha do Fundão
Av. Athos da Silveira Ramos 149 - Bloco A - 2º andar

Plenária Final do 58º CONEG da UNE
Data: 25/04/10
Local: Praia do Flamengo, 132.

Fonte: Estudantenet