segunda-feira, 24 de maio de 2010

"Europa não tem moral para criticar Cuba", diz chanceler

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, afirmou, nesta segunda (17) que a União Europeia (UE) carece de autoridade moral para falar sobre a situação dos direitos humanos em seu país. A declaração foi feita enquanto ocorre a 6ª Cúpula União Europeia-América Latina e Caribe, em Madri.

 

Entrevistado pelo canal de televisão Telecinco, Rodríguez reafirmou que Cuba, como país soberano, não reconhece nenhuma autoridade moral por parte do bloco comunitário para tratar desse tipo de assunto.

O chanceler advertiu, também, que enquanto existir a chamada Posição Comum da UE a respeito da Ilha, aprovada em 1996, será impossível uma normalização completa dos vínculos entre a nação antilhana e a UE.

Contudo, o titular de Relações Exteriores cubano reconheceu na Espanha um interlocutor válido, em sua condição de presidente do bloco comunitário durante o semestre atual. O chefe da diplomacia de Havana negou a existência de presos políticos na Ilha, e assegurou que há réus como em qualquer parte do mundo.

"Tratam-se de pessoas julgadas por atos ilegais tipificados em leis prévias e sancionadas em processos ordinários por tribunais civis", esclareceu. "Nada a ver com as comissões ou os tribunais militares, que julgam na base de Guantánamo ou em Abu Ghraib, e do qual a Europa não disse um só palavra", denunciou.

Fonte: Granma

EUA gastaram 2,3 bilhões com propaganda 

Anti-Cuba em 10 anos

A Lei de Acesso à Informação desclassificou documentos que mostram que a USAID (Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional) modificou contratos e investiu mais de 2,3 bilhões de dólares para propaganda contra Cuba desde 1999.

Segundo os contratos da agência com a organização CubaNet – site com sede em Miami contra a Revolução Cubana e um dos parceiros da USAID – os Estados Unidos bancaram jornalistas na ilha para difundir informações distorcidas, divulgando até mesmo dados falsos com o objetivo de convencer a opinião pública internacional contra o governo cubano.

Desde a Revolução Cubana, os EUA promovem uma campanha de agressão contra a ilha caribenha. Nos últimos anos, porém, as ações foram intensificadas com o aumento de investimentos de 98 mil dólares, em 1999, para 20 milhões de dólares previstos para 2010.

O CubaNet, um dos principais parceiros da agência norte-americana, surgiu em 1994, e desde então faz da internet um novo campo de bombardeio a Cuba. Em parceria com a NED (sigla em inglês para Fundação Nacional para a Democracia), organização privada que se diz a serviço da democracia nas Américas, o USAID financia declaradamente o CubaNet alegando “apoiar um programa para expansão de um site de jornalistas independentes em Cuba”, segundo o contrato.

Além disso, os documentos prevêem o controle da USAID sobre as contratações de funcionários, sobre o plano de trabalho e exige um relatório trimestral de progresso e atividades realizadas, o que explicita a intervenção direta da agência norte-americana sobre o site que, em sua própria página, se diz uma “organização apartidária, dedicada a promover a imprensa livre em Cuba, impulsionar o setor independente a desenvolver um sociedade civil e informar ao mundo a realidade do país”.

Tais ações vão contra a própria lei norte-americana que apresenta restrições no envio de dólares para Cuba, proíbe a divulgação de propagandas financiadas pelo governo e a utilização destas informações nos meios de comunicação do país.

Em um documento datado de 19 de abril de 2005, fica explícito que o site não limita seu trabalho ao território cubano: “o CubaNet continua publicando reportagens e promovendo sua disseminação nos meios de comunicação de massa nos EUA e na imprensa internacional”, diz um dos relatórios.

O mesmo arquivo mostra que foi autorizado o envio de “fundos privados” que não pertenciam a USAID para a ilha naquele ano . Diante da restrição do Departamento do Tesouro de Washington, o documento afirma que os “fundos privados” foram escondidos dentro da autorização concedida a agência estadunidense para financiar o site.

Alguns documentos estão disponíveis abaixo:

Contrato original entre USAID e CubaNet

Modificação do contrato USAID-CubaNet em 2005

Modificação do contrato USAID-CubaNet em 2007

Fonte: Opera Mundi

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Cuba denuncia as duas caras dos EUA com o terrorismo

Cuba reiterou, nesta terça-feira (11), que a confecção unilateral pelos Estados Unidos das listas que acusam outros países de suposto apoio ao terrorismo é incompatível com o direito internacional e as resoluções da ONU. Nesse sentido, solicitou que Washington exclua a ilha desta relação, que qualificou como espúria, uma vez que se constitui como uma designação injusta, arbitrária e com motivações politicas.

A posição do país caribenho foi exposta pelo seu representante permanente na ONU, Pedro Núñez Mosquera, durante uma reunião do Conselho de Segurança. "Ao manter Cuba na lista, o novo governo dos EUA nega a racionalidade política que proclama publicamente e segue os passos equivocados de seus predecessores", disse o embaixador.

Ele acrescentou que se trata de uma manipulação política e de flagrantes mentiras contra Cuba para tentar justificar a desacreditada, isolada e insustentável política dos EUA contra a ilha. "Não é em Cuba, mas nos Estados Unidos, que atua impunemente uma máfia terrorista que organizou, financiou e realizou centenas de catos de terrorismo contra a nação cubana", disse Núñez Mosquera.

Ele lembrou que, nos últimos 51 anos, o governo norte-americano esteve envolvido em vários atos terroristas contra o país das Antilhas, que resultaram em 3478 mortos, 2099 incapacitados e perdas materiais de mais de 54 bilhões de dólares. Denunciou ainda a dupla moral dos Estados Unidos, que se considera no direito de comprovar o comportamento de outras nações em matéria de terrorismo, enquanto não julga e permite que vivam em liberdade os responsáveis confessos dos horrendos atos terroristas contra Cuba.

A esse respeito, o embaixador mencionou o caso de Luis Posada Carriles, conhecido como o mais notório terrorista do hemisfério ocidental e contra quem as autoridades norte-americanas se limitaram a abrir um processo judicial por delitos menores. Ele asseverou que o tratamento deste problema por Washington é uma violação clara e flagrante das resoluções do Conselho de Segurança da Assembléia Geral e de vários instrumentos jurídicos internacionais de combate ao terrorismo.

O embaixador cubano insistiu em solicitar que os Estados Unidos julguem Posada Carriles como terrorista ou que o devolva para a Venezuela, país que solicitou sua extradição há quase cinco anos.

Ao mesmo tempo, exigiu à administração estadunidense a libertação dos cinco cubanos anti-terroristas, mantidos como presos políticos há mais de 11 anos em cárceres de segurança máxima. Ele explicou que esses homens estavam apenas tentando obter informações sobre grupos terroristas com sede em Miami, para evitar seus atos violentos e salvar vidas de cubanos e norte-americanos.

"Está nas mãos do governo dos Estados Unidos deixar de utilizar a questão do terrorismo com fins políticos e acabar com a inclusão injusta e infundada de Cuba na lista de países que supostamente patrocinam o terrorismo", afirmou Núñez Mosquera. "Cuba condena todos os atos, métodos e práticas de terrorismo em todas as suas formas e manifestações, em qualquer lugar, por quem quer que os cometa, contra quem se cometam e quaisquer que sejam as suas motivações", disse ele.

Fonte: Prensa Latina

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Greve dos estudantes completa um mês em Porto Rico

Protestos e conflitos têm marcado a greve dos estudantes da Universidade de Porto Rico (UPR), que já completa um mês. Os estudantes protestam contra o aumento da cobrança da matrícula, a privatização de prédios e o corte de verbas para o sistema universitário. A greve está acontecendo na sede da UPR, em Rio das Pedras, e tem o apoio de professores.

Como se não bastasse os conflitos que envolvem estudantes grevistas e a Universidade, um episódio violento, ocorrido neste final de semana, envolvendo a Polícia Nacional e uma suposta turista, em um hotel de luxo da capital do país, enche o caso de mistério.

O ato foi registrado quando os estudantes apareceram no hotel, enquanto o governador, Luis Fortuño, celebrava um jantar de angariação de fundos para o Novo Partido Progressista.

Segundo o governo, a greve já custou mais de cem milhões de dólares. Os grevistas são acusados de tentar desestabilizar a universidade para promover a agenda política de co-governo.

Os grevistas continuam desenvolvendo protestos além do recinto acadêmico, como marchas pacíficas. O objetivo dos estudantes é chegar ao Palácio Santa Catalina, sede do Governo. Por sua parte, o governo se concentra em motivar e mobilizar estudantes contra a greve, tentando manter uma forte declaração em juízo e uso policial.

Na saída da reunião de negociações, ontem (23), os estudantes disseram que a recusa por parte da administração da universidade, de tornar públicas as contas que deveriam ter sido auditadas em outubro no ano passado, põe em risco a aprovação e licenciamento da UPR.

Entre os avanços no processo, a diretoria concordou em retirar a exigência de que os estudantes pobres, com isenção de registro por mérito ou em virtude do contrato de trabalho de seus pais, escolham entre isso e conseguir a bolsa que paga para seus livros, despesas de alojamento e outros.

No entanto, ainda segue a barreira a respeito da matéria acima do orçamento, bem como o aumento do custo do curso, que algumas fontes afirmam que poderia chegar a US$ 1 mil por semestre. Os estudantes afirmam que não há sanções contra os grevistas.

Um grupo de 64 acadêmicos porto-riquenhos que trabalha em reconhecidas universidades dos Estados Unidos, como Princeton, Yale, Columbia e Berkeley, se pronunciou a favor de uma solução imediata ao conflito entre estudantes e direção da UPR. Em nota, estes professores pedem a desmilitarização do recinto de Rio Pedras e que se reinicie o diálogo entre a universidade e os grevistas, de modo a conduzir e solucionar os conflitos de maneira pacífica, respeitando os direitos civis e humanos.

A previsão é que a greve continue até que os pedidos dos estudantes sejam atendidos. A direção da universidade, além de não responder aos universitários grevistas, deu ordens para que não sejam levados alimentos aos internos. As atividades acadêmicas estão interrompidas.

Fonte: Adital

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Fidel: A importância histórica da morte de José Martí

Fazendo abstração dos problemas que hoje angustiam a espécie humana, nossa Pátria teve o privilégio de ser berço de um dos pensadores mais extraordinários que nasceu neste hemisfério: José Martí. Em 19 de maio, completa-se (completou-se) o 115º aniversário de sua gloriosa morte.


Por Fidel

Não seria possível avaliar a magnitude de sua grandeza sem levar em conta que aqueles com os quais escreveu o drama de sua vida também foram figuras extraordinárias, como Antonio Maceo, símbolo perene da firmeza revolucionária que protagonizou o Protesto de Baraguá, e Máximo Gómez, internacionalista dominicano, professor dos combatentes cubanos nas duas guerras pela independência onde participaram.

A Revolução Cubana que, ao longo de mais de meio século, vem resistindo aos ataques do império mais poderoso existente, foi fruto dos ensinamentos daqueles predecessores.

Apesar de que quatro páginas do diário de Martí nunca estiveram ao alcance dos historiadores, o que consta no resto daquele diário pessoal, detalhadamente escrito, e outros documentos seus daqueles dias, é mais do que suficiente para conhecer os detalhes do acontecido. Como nas tragédias gregas, foi uma discrepância entre gigantes.

Na véspera de sua morte em combate, escreveu a seu íntimo amigo, Manuel Mercado: "Já corro todos os dias o perigo de dar minha vida pelo meu país e por meu dever — já que o entendo e tenho ânimos para realizá-lo — de impedir a tempo, com a independência de Cuba, que os Estados Unidos se estendam pelas Antilhas e caiam com essa grande força sobre nossas terras da América. Tudo o que fiz até hoje e farei, é para isso. Em silêncio teve que ser e indiretamente, porque há coisas que, para consegui-las, devem estar ocultas, e de se proclamarem como são, trariam dificuldades muito sérias para conseguir sobre elas o fim".

Quando Martí escreveu estas palavras lapidárias, Karl Marx já tinha escrito O Manifesto Comunista, em 1848, isto é, 47 anos antes da morte de Martí, e Charles Darwin publicara A origem das espécies, em 1859, para citar só duas obras que, na minha opinião, mais influenciaram na história da humanidade.

Marx era um homem tão extraordinariamente desinteresseiro, que seu trabalho científico mais importante, O Capital, talvez jamais se teria publicado se Friedrich Engels não tivesse reunido e organizado os materiais aos quais o autor dedicou sua vida toda. Engels não só se encarregou desta tarefa, mas também foi autor de uma obra intitulada Introdução à dialética da natureza, onde falou do momento em que a energia do nosso sol se esgotaria.

O homem ainda não sabia como libertar a energia existente na matéria, descrita por Albert Einstein em sua famosa fórmula, nem dispunha de computadores que fazem bilhões de operações por segundo, capazes de reconhecerem e transmitirem, ao mesmo tempo, os bilhões de reações por segundo que têm lugar nas células das dezenas de pares de cromossomos que a mãe e o pai entregam em partes iguais, um fenômeno genético e reprodutivo que conheci depois do triunfo da Revolução, buscando as melhores características para a produção de alimentos de origem animal nas condições do nosso clima, que se estende às plantas, através de suas próprias leis hereditárias.

Com a educação incompleta que os cidadãos de mais recursos recebíamos nas escolas, a maioria privadas, consideradas os melhores centros de ensino, tornávamo-nos analfabetos, com um pouco de mais nível que aqueles que não sabiam ler nem escrever ou que frequentavam as escolas públicas.

Por outro lado, o primeiro país do mundo que tentou aplicar as idéias de Marx foi a Rússia, o menos industrializado dos países da Europa.

Lênin, criador da Terceira Internacional, considerava que não havia no mundo organização mais leal às idéias de Marx que a fração bolchevique do Partido Operário Social-Democrata Russo. Embora boa parte daquele imenso país vivesse em condições semifeudais, a classe operária era muito ativa e combativa.

Nos livros que Lênin escreveu depois de 1915, foi crítico incansável do chauvinismo. Em sua obra O imperialismo, fase superior do capitalismo, escrita em abril de 1917, meses antes da tomada do poder como líder da fração bolchevique daquele partido frente a fração menchevique, demonstrou que foi o primeiro em compreender o papel que estavam chamados a desempenhar os países sujeitos ao colonialismo, como a China e outros de grande peso em diversas regiões do mundo.

Por sua vez, a valentia e audácia de que Lênin era capaz foi demonstrada pelo fato de ter aceitado o trem blindado que o exército alemão, por conveniência táctica, lhe proporcionou para transladar-se da Suíça às proximidades de Petrogrado, pelo que os inimigos dentro e fora da fração menchevique do Partido Operário Social-Democrata Russo não tardaram em acusá-lo de espião alemão. De não ter utilizado o famoso trem, o fim da guerra teria surpreendido ele na distante e neutral Suíça, com o qual o minuto ótimo e adequado se teria perdido.

De alguma forma, por puro azar, dois filhos da Espanha, graças a suas qualidades pessoais, passaram a ter um papel relevante na Guerra Hispano-Norte-Americana: o chefe das tropas espanholas na fortificação de El Viso, que defendia o acesso a Santiago da altura de El Caney, um oficial que combateu até ser mortalmente ferido, causando aos famosos Rough Riders — ginetes duros, norte-americanos organizados pelo então tenente-coronel Theodore Roosevelt, que por causa do precipitado desembarque desceram sem seus fogosos cavalos — mais de trezentas baixas, e o almirante que, cumprindo a estúpida ordem do governo espanhol, partiu da baía de Santiago de Cuba com os fuzileiros navais a bordo, uma força seleta, da única maneira possível, que foi desfilar com cada navio, um a um, saindo pelo estreito canal de acesso, tendo em frente a poderosa frota ianque, que com seus encouraçados em linha disparavam com os potentes canhões contra os navios espanhóis, de muito menor velocidade e blindagem.

Logicamente, os navios espanhóis, suas dotações de combate e os fuzileiros navais foram afundados nas profundas águas da fossa de Bartlett. Apenas um desses navios chegou a poucos metros da beira do abismo. Os sobreviventes daquela força foram presos pela esquadra dos Estados Unidos.

A conduta de Martínez Campos foi arrogante e vingativa. Cheio de rancor por seu fracasso na tentativa de pacificar a Ilha, como tinha feito em 1871, apoiou a política ruim e rancorosa do governo espanhol. Valeriano Weyler o substituiu no comando de Cuba; este, com a cooperação dos que enviaram o encouraçado Maine a buscar justificativas para a intervenção em Cuba, decretou a reconcentração da população, que causou enormes sofrimentos ao povo de Cuba e serviu de pretexto aos Estados Unidos para estabelecerem seu primeiro bloqueio econômico, o qual deu lugar a uma enorme escassez de alimentos e provocou a morte de incontáveis pessoas.

Assim se viabilizaram as negociações de Paris, nas que a Espanha abriu mão de todo direito de soberania e propriedade sobre Cuba, depois de mais de 400 anos de ocupação em nome do Rei da Espanha, em meados de outubro de 1492, após afirmar Cristóvão Colombo: "esta é a terra mais formosa que olhos humanos viram".

A versão espanhola da batalha que decidiu a sorte de Santiago de Cuba é a mais conhecida, e sem dúvida houve heroísmo se é analisado o número e a patente dos oficiais e soldados que, numa situação muito desvantajosa, defenderam a cidade, honrando a tradição de luta dos espanhóis, que defenderam seu país dos aguerridos soldados de Napoleão Bonaparte, em 1808, ou a República Espanhola contra a investida nazi-fascista, em 1936.

No ano de 1906, uma ignomínia adicional caiu sobre o comitê norueguês que outorga os prêmios Nobel, ao buscar ridículos pretextos para conceder essa honra a Theodore Roosevelt, eleito duas vezes presidente dos Estados Unidos, em 1901 e 1905. Nem sequer era clara sua verdadeira participação nos combates de Santiago de Cuba à frente dos Rough Riders, e pôde ter muito de lenda a publicidade que recebeu posteriormente.

Eu apenas posso testemunhar a forma em que essa heróica cidade caiu nas mãos das forças do Exército Rebelde, em 1º janeiro de 1959. Então, as ideias de Martí triunfaram em nossa Pátria!

Por Fidel Castro Ruz
Fonte: Granma

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Silvio Rodríguez: cubanos devem decidir a mudança que querem

Um grupo de artistas e escritores espanhóis lançou uma plataforma para democratizar Cuba. E quando um cubano manifesta uma opinião diferente, decretam que seus argumentos são cortinas de fumaça da ditadura da qual ele padece e o comparam aos franquistas.

Por Silvio Rodríguez*, em Cuba Debate 

 

Mas os deuses parecem tê-los castigado. Isso porque, justamente pela ousadia de investigar os crimes do franquismo, o Conselho Geral do Poder Judiciário acaba de suspender o juiz Baltasar Garzón da Audiência Nacional da Espanha. A sentença é um golpe duríssimo contra uma democracia que pretende julgar ou mandar julgar os supostos defeitos alheios, mas não gosta que apontem os seus.

O veto a Garzón, considerado um herói, ocorre no mesmo país que há poucos anos deu ao mundo um verdadeira lição de democracia ao votar contra o partido governante que o envolveu em uma guerra injusta, fazendo vista grossa para enormes manifestações populares.

Pessoalmente, não compreendo como estas personalidades chegaram à conclusão de que a política para Cuba deve ser a do isolamento e do bloqueio. É como se ignorassem que, ao longo de meio século, esta mesma política não conseguiu abalar nem um pouco a determinação da maioria dos cubanos.

Por outro lado, nós, cubanos, também queremos mudanças, mas a partir de nosso próprio consenso. Essas transformações ocorrerão cedo ou tarde, e a única política capaz de acelerá-las é o fim do bloqueio. Não podemos considerar benéfica nenhuma ação dirigida a nós com assédio e pressões. Isto, na verdade, é um insulto à nossa autodeterminação, uma ingerência inadmissível em nossas vidas.

Tantas agressões e ameaças nos ensinaram que a sobrevivência passa por uma sociedade orgânica, íntegra, indivisível. Assim saimos vitoriosos de embates artificiais e naturais. Mas sabemos que somos resultado de uma imposição, por viver acossados. Não acreditamos em um governo centralizado para sempre. Preferimos vê-lo como um conceito de emergência, um mal necessário que o caminho da emancipação nacional nos impôs, para nossa sobrevivência.

O fim do bloqueio será um alívio enorme e criará condições para avançarmos também no conceito democrático. Não quero dizer, fique claro, que só com o fim do bloqueio seremos mais democráticos, mas tenho certeza de que assim atingiremos esse objetivo mais rápido.

A nova plataforma propõe isolar Cuba ainda mais e piorar nossa já precária economia. Pretende convencer o mundo de que a asfixia resolverá nossos problemas. Seu eventual êxito significaria muito mais sofrimento para nosso povo, que há meio século enfrenta todo tipo de dificuldade.

Nossa longa experiência com "propostas" estrangeiras nos diz que esta ação não passa de um novo artifício para nos obrigar a fazer o que outros acham que devemos fazer. Partindo do pressuposto de que se trata de pessoas bem-intencionadas, não sei como não percebem a ofensa de querer que sejamos como elas, com as reservas motivadas por essas democracias de banqueiros ladrões e exércitos de ocupação.

Para completar, quando respondemos que não concordamos, querem nos negar o direito de sermos ouvidos, porque tudo que não acompanha seu raciocínio - dizem - está contaminado de ditadura.

Capitaneados por um grande escritor peruano com um longo histórico reacionário, certos intelectuais espanhóis decidiram gastar mais horas elucubrando como nos prejudicar do que investigando até que ponto eles próprios vivem em uma democracia. Alguns parecem mais preocupados com Orlando Zapata - um homem que teve a coragem de escolher sua própria morte e enfrentá-la - do que com os mais de 100 mil espanhóis assassinados na era de Franco.

É triste ver quão pouco lhes interessa aprofundar seus conhecimentos sobre a realidade cubana, quando suas conclusões são as mesmas que as dos piores inimigos de nossa dignidade. Por isso acabo admitindo que este artigo é realmente uma cortina, mas não de fumaça, e sim de manjerição, contra a fetidez de sua pretensa salvação.

*Silvio Rodríguez é cantor cubano. 

Fonte: Cubadebate, que divulgou o artigo depois de ele ser enviado ao jornal espanhol El País e ter a publicação recusada.

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