Dom Bergonzini o “ bispo da mentira”
Por Altamiro Borges
Dom
Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos, na região metropolitana de São
Paulo, virou o principal cabo-eleitoral do demotucano José Serra. Na semana
passada, ele já havia mandado confeccionar, na surdina e com papel timbrado da
Mitra, 2,1 milhões de panfletos com ataques levianos a Dilma Rousseff. A
iniciativa, que fere a legislação eleitoral, poderia até resultar em processo
criminal e cadeia. Mas ele ainda é bispo e é melhor não atiçar a sua fúria nada
divina!
Neste
final de semana, o religioso, bastante narcisista, voltou aos holofotes. Foi
capa do Estadão e destaque em vários sítios. Na entrevista, Dom Bergonzini
acusa: “O PT é o partido da mentira, é o partido da morte”. Abusando dos
preconceitos, ele afirma que o partido “aceita o aborto até o nono mês de
gravidez. Isso é assassinato de ser humano”. O bispo fere descaradamente o
oitavo mandamento – “não levantarás falso testemunho” –, correndo o sério risco
de arder o inferno.
Estimulo às seitas fascistas
No
maior cinismo, Dom Bergonzini ainda abusa da inteligência alheia ao garantir
que não apóia nenhum candidato. Mas todo seu ódio – incluindo seus sermões, os
panfletos apreendidos pela Polícia Federal e as entrevistas à mídia mercantil –
visam atingir unicamente a candidata petista. Nas entrevistas deste final de
semana, ele foi enfático: “Não votem em Dilma... Se ela ganhar, vou lamentar”.
Na prática, o bispo de Guarulhos abençoa a campanha de Serra e serve de novo
ícone para várias seitas fascistas, como o Opus Dei e a TFP (Tradição, Família
e Propriedade).
Na
sua cegueira, o fanático religioso evita tratar do aborto realizado por Monica
Serra, segundo relatos de várias de suas ex-alunas. Ele também não fala sobre a
pílula do dia seguinte ou sobre a normatização da legislação do aborto,
corretas iniciativas do ex-ministro José Serra. Ele omite que PT e Dilma não
são favoráveis ao aborto, como prega sua visão simplista e tacanha, mas sim que
propõem tratar o complexo tema como uma questão de saúde pública.
Ligado aos tucanos e ao Opus Dei
Para
Carlos Rodriguez, que se apresenta como “participante da Igreja Católica”, Dom
Bergonzini é um risco à própria instituição. “Quem semeia vento, colhe
tempestade”. Ele conhece bem a sua história direitista. “D. Luiz é de São João
da Boa Vista, onde atuava com o Sidney Beraldo, ex-deputado e ex-secretario do
então governador Serra, e mais recentemente um dos coordenadores da campanha de
Geraldo Alckmin, que tem ligações com o Opus Dei, que age nas sombras”.
Em
sua opinião, o direitismo de Dom Bergonzini representa uma ameaça à igreja e à
democracia. “Assistimos ao fundamentalismo religioso matar a religião e
transformá-la em mero instrumento eleitoral. Esta mistura acintosa de religião,
num viés fundamentalista, e de política é um perigo à sociedade brasileira,
pois ameaça os pilares do Estado Laico”.
A triste cumplicidade da CNBB
O
triste nesta história é a cumplicidade da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB). Seu nome é usado e ultrajado pelo clérigo de Guarulhos e ela
ainda passa a mão na sua cabeça. Quando dos seus primeiros panfletos
criminosos, distribuídos por ordem hierárquica nas igrejas, a CNBB soltou uma
tímida nota de crítica. Agora, seu próprio presidente, Dom Geraldo Lyrio,
justifica suas atitudes criminosas. “Ele [Dom Bergonzini] tem o direito e até o
dever, de acordo com sua consciência, de orientar seus fieis do modo que julga
mais conveniente”.
A
CNBB estaria sendo cúmplice da impressão ilegal de panfletos? Estaria
corroborando com as calúnias divulgadas pelo “bispo da mentira”? Será que a
hierarquia católica não aprendeu nada com a história? Em 1964, ela organizou as
famigeradas “marchas com Deus, pela família e pela liberdade”, que criaram o
clima para o golpe militar. Com a instalação da ditadura sanguinária, bispos e
padres foram perseguidos, presos e mortos. Frei Tito Alencar foi o símbolo
desta época sombria. Foi torturado e morreu no exílio. Outros padeceram nas masmorras
da ditadura.
Na
sequência, como que arrependida do seu pecado, a Igreja Católica cumpriu um
papel na luta pela democracia, em defesa dos direitos humanos. O seu setor
progressista, ligado à Teologia da Libertação, ajudou a organizar a resistência
popular, criando milhares de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e estimulando
suas pastorais sociais. Com a guinada conservadora no Vaticano, o setor
progressista foi castrado pela rígida hierarquia católica. Isto explica o
narcisismo de Dom Bergonzini. Mas será que justifica seus crimes eleitorais e
as suas declarações levianas?
Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com