O
filósofo Nietzsche escreveu em seu Zaratustra em 1883: "O
homem é corda distendida entre o animal e o super-homem: uma corda
sobre um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar, perigosos
olhar para trás, perigoso tremer e parar."
Eis que nos
encontramos diante desta 'corda', na fronteira do abandono, na
ausência do Estado, em labirintos da incerteza e trevas da
insegurança. Não é segredo ou novidade a ninguém as inserções
de violência ocorridas contra simpatizantes, lideres comunitários e
militantes políticos da esquerda na cidade de Chapecó. Embora há
muito tempo implantado na cidade uma espécie de 'Maniqueísmo
Ideológico' proposto na ideia sectária do “Bem” enquanto
(Direita) e a personificação do “Mal” centrada na Esquerda,
ocorrem estas ameaças embora muitas delas de forma verbal, mas
propositivas. E após o episódio que encravou em nossa história um
paragrafo de vergonha nacional no crime bárbaro e covarde cometido
contra o vereador Marcelino Chiarello, levou muitos como eu a emitir
a seguinte pergunta: Quem seria o próximo? Agora que já temos,
reformulamos a pergunta: Quem será o próximo?
Nestes dias tivemos o nome, rosto e
posição político ideológico no caso envolvendo o assessor do
Vereador Paulinho da Silva do PCdoB, Patrick Monteiro. A grande
verdade é que todos nós estamos nos equilibrando sobre esta corda
estendida que separa uma espécie fissura, profundo abismo da
impunidade, aberto logo após o laudo fictício que tentou declarar
como suicido a morte do então vereador Chiarello. Por isso, enquanto
todo e qualquer cidadão comprometido com as causas sociais tenta se
equilibrar sobre este abismo, há outros que balançam a corda com
ameaças, enquanto outros ainda esperam com suas lanças afiadas pela
xenofobia a esquerda, e as lutas sociais.
Existe um poder primitivo que emana de
foice e machado nas mãos, como um desbravador primeiro que expulsou,
matou índios e caboclos que aqui habitavam. Existe uma hegemonia de
autoprotecionismo que leva os covardes a levantarem sua voz, emitirem
suas ameaças e concretizarem seus atos sobre qualquer cidadão que
no uso direito democrático questione a maldita estrutura que
parasita a cidade de forma livre e imune de qualquer punição. O
mais assustador nisso tudo é a brecha do precedente que nos leva a
duvidar da atuação ética dos órgãos de investigação.
Agredir simpatizantes e assassinar
militantes políticos de esquerda se tornou comum, pode virar mantra
repetido e modalidade xenofóbica, opção de mercado, eugenia de
classe. Vai se tornando clichê maldito e sinônimo de paz de
bandidos que fazem o sítio do poder e estrutura por aqui.
Fica fácil de agir e concretizar a
vontade de minorias setorizadas, quando se justifica fazer segurança
pública somente com publicidade. Declarando assassinatos como
suicídio, fazendo do Data Show
planilha de eficiência
com números de 'BO' (Boletim de Ocorrência), diligências e
imagens de Câmaras de monitoramento, este Big Brother, cretino,
paliativo e tendencioso.
Fica fácil apresentar dados com prisão
de 'ladrões de galinha' porque ele rouba pra comer, pra vender,
trocar, se expor e não mais está preocupado se vai ser detido na
próxima esquina.
Fica fácil aprender o viciado em
drogas, ladrão de farol, por que ele nem foge mais, furta a bolsa, o
celular, a carteira, e até tira a vida da vítima pra sustentar o
seu vicio no lucrativo mercado do tráfico. Porque em Chapecó virou
uma visível e sangrenta chaga maldita, onde uma grande estrutura da
sociedade lucra como mercado comum em casas, apartamentos, bares,
praças e esquinas, muitas vezes bem próximo de Postos da Polícia.
O crime esta por toda parte, não existe mais o local especificado,
ou que cabe em planilha de dados fixos com justificativa de
policiamento preventivo.
Os dados ilustrativos em
RETROPROJETORES e DATA SHOW apresentados como
receituário Estatístico e Eficiente não passam de piadas da
Segurança Pública, naquilo que chamam de Ação da Inteligência,
Técnico/Cientifico e Preventivo. Este deslumbramento com números
expositivos não prova nada e se justifica apenas como política do
lobismo publicitário e cômodo. Na prática ela não apresenta
eficácia nem para 'Coibir' e muito mesmo para 'Prevenir', e piora
ainda mais a situação abrindo uma lacuna de medo e insegurança em
todo cidadão. Ou não foi o que aconteceu com o recente assassinato
do vereador Marcelino Chiarello? - Que ao iluminarem os preceitos
pragmáticos da impunidade, abriram o caminho livre as trevas do
direito a barbárie.
A única certeza que deve servir a
todos nós cidadãos Chapecoenses é que estes acontecimentos não
podem cair no 'lacismo relaxado' da normalidade como aparenta desejar
determinados setores. Pois aceitar como normal o assassinato de um
vereador, um homossexual, um professor; esfaquear um advogado e
militante de esquerda, espancar uma mulher, agredir uma criança ou
qualquer atentado contra um ser humano é o sinal claro de que
perdemos a grande essência do respeito à vida. Estamos perdendo o
direito ao manifesto democrático, ao lugar livre da voz ativa na
sociedade, e submetido a uma espécie de silencio obsequioso, cada
vez mais refém de nós mesmos.
Mas acima de qualquer desconfiança,
não podemos perder a essência da esperança que nos move, pois é
dela, nela e por ela que esperamos o grande levante das colunas de
justiça, primeiro como direito constituído por via legal, ou em
última e insana necessidade como justificativa de nossa defesa
pessoal. Ninguém mais estará seguro e muito menos apto a dar
condições de confiabilidade a qualquer órgão do aparelhismo legal
da ineficiência enquanto ele não der resposta coerente e concretas
as atrocidades cometidas na turbamulta de nossa cidade.
Pois o estado real das coisas em
Chapecó nos leva a optar por apenas dois caminhos a nossa frente: ou
nos tornamos como lobos em estado de natureza ao modo do Homem em
Thomas Hobbes, ou simplesmente nos colocamos como ovelhas creditadas
a imolação em campo aberto numa esquina qualquer do velho, atual e
futuro Xapecó. Porque tudo o que temos até agora a nossa frente é
um sombrio 'Abismo da Impunidade', que após o ciclo da madeira, do
frango, do suíno, parece abrir o caminho para o inicio do ciclo dos
assassinatos em série também!
A impunidade parece ter se tornado 'fetiche material' de assassinos de aluguel, e alguém está pagando alto neste sarapatel do tudo pode, em nome do que possam esta justificando como caminho do ''BEM''. Ou os órgãos públicos de investigação e responsabilidades com a justiça vão nos provar o contrário?
A impunidade parece ter se tornado 'fetiche material' de assassinos de aluguel, e alguém está pagando alto neste sarapatel do tudo pode, em nome do que possam esta justificando como caminho do ''BEM''. Ou os órgãos públicos de investigação e responsabilidades com a justiça vão nos provar o contrário?
“Na hora do ataque guerreiro
forte, gritai bem alto o nome do agressor, do assaltante de
dignidade, do ladrão de liberdades nas terras do Xapecó. Antes de
qualquer morte guerreiro forte, gritai bem alto o nome do assassino,
do usurpador de direitos, do ameaçador e covarde, do enviado colonizador!”
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Professor Neuri Adilio Alves
Formado em Filosofia, Esp. Antropologia Filosófica