quarta-feira, 14 de julho de 2010

  Fórum de Organizações Feministas apresenta contribuições à                                                Cepal                                                  

Na última terça-feira (13) as representantes do Fórum de Organizações Feministas para Articulação do Movimento de Mulheres Latinas Americanas e Caribenhas entregaram um documento à 11ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe (Cepal).

 

O texto traz as contribuições do Fórum de Organizações Feministas discutidas entre os dias 11 e 12. Entre os assuntos abordados está o atual modelo de desenvolvimento na América Latina e Caribe, com foco na promoção da igualdade, crítica do Estado patriarcal, capitalista, racista e da democracia na região.

Integram a delegação brasileira que compõe a Cepal, conselheiras do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), representantes do governo e conselheiras de notório conhecimento. Entre as participantes estão: a coordenadora da União Brasileira de Mulheres, Elza Maria Campos; a secretária Nacional de Mulheres do PCdoB, Liege Rocha e a coordenadora Estadual da UBN do RJ, Helena Piragibe.
Da Redação
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        Cepal defende autonomia para mulheres terem direitos                                                   reconhecidos                                             

A conquista da autonomia econômica, física e política das mulheres é fundamental para o reconhecimento de seus direitos, afirma o documento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), divulgado nesta terça-feira (13) na Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe.

 

De acordo com o documento são necessárias políticas públicas que reformulem os vínculos entre as três instituições fundamentais da sociedade: Estado, família e mercado – com a finalidade de articular um novo pacto social de redistribuição do trabalho entre homens e mulheres.

O texto aponta que as mulheres dedicam mais tempo ao trabalho doméstico não remunerado, independentemente de sua carga de trabalho. De acordo com a Cepal, elas continuam sendo discriminadas no mercado de trabalho e recebendo salários inferiores aos dos homens.

No Brasil, por exemplo, as mulheres dedicam no total 56,6 horas semanais ao trabalho, enquanto os homens ocupam 52 horas. No México a disparidade é ainda maior, as mulheres dedicam 76,3 horas, contra apenas 58,4 dos homens.

Dados de 2008 revelam que na região, 31,6% das mulheres com mais de 15 anos não tinham renda própria, enquanto somente 10,4% dos homens estavam nessa condição. As mulheres superam os homens também no desemprego: são 8,3% contra 5,7%.

Igualdade

O documento diz que o trabalho é a base da igualdade entre os gêneros e considera fundamental a conquista da autonomia econômica, física e política das mulheres. A autonomia econômica, esclarece o texto, implica no controle dos bens materiais e recursos intelectuais, e capacidade de decidir sobre a renda e os ativos familiares.

Outro ponto que o documento enfatiza é a autonomia física – indispensável para superar as barreiras existentes no exercício da sexualidade, da integridade física e da reprodução. O texto ressalta também a autonomia política que envolve a representação feminina nos espaços de tomada de decisões, especialmente nos governos e parlamentos.

Segundo a Cepal, cabe ao Estado tomar as medidas necessárias, sejam legislativas, institucionais, educativas, de saúde, fiscais ou de participação das mulheres na tomada de decisões. Com isso, espera-se eliminar o viés de gênero no mercado de trabalho, superar a diferença salarial, a segmentação e a discriminação.

No documento, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe defende ainda a garantia dos direitos das mulheres no mercado de trabalho e nas famílias.

O evento promovido pela Cepal, com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, acontece até a próxima sexta-feira (16) e Brasília.

Da Redação, com Agência Brasil

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Festival reconta ditaduras latinas pelos olhos de crianças

Três histórias das ditaduras militares latino-americanas contadas pelas visões de crianças estarão no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, cuja quinta edição acontece de 12 a 18 de julho em cinco salas de cinema da capital paulista. O argentino Kamchatka, o chileno Machuca e o brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias têm em comum a forma como as crueldades dos regimes militares são descobertas pela inocência do olhar infantil.

 

Kamchatka, co-produção entre Argentina, Espanha e Itália, narra os efeitos da "guerra suja" em uma família argentina, pelos olhos de Harry, um menino de 10 anos. A direção é de Marcelo Piñeyro e o elenco conta com os conhecidos Ricardo Darín e Cecilia Roth.

O mesmo acontece no chileno Machuca, que conta a história de três crianças de Santiago em situações totalmente diferentes. Enquanto Gonzalo Infante vive em um bairro chique da cidade, Pedro Machuca mora em uma favela.

Mas a distancia entre as duas realidades é reduzida quando o diretor de um colégio católico decide promover uma integração social, abrindo as portas para crianças de famílias pobres. A partir disso, uma amizade cheia de descobertas surge em meio ao clima hostil que a sociedade chilena vive antes, durante e logo depois do golpe contra Salvador Allende (1973).

Já o premiado O Ano..., de Cao Hamburger, conduz a narrativa por Mauro, de 12 anos, que tem como maior sonho ver o Brasil ser tricampeão mundial de futebol. No entanto, às vésperas da Copa de 1970, ele vê sua vida mudar completamente com a ditadura, ao ser separado de seus pais e obrigado a se adaptar a uma nova vida no bairro paulistano do Bom Retiro.

Temáticas como a violência e o tráfico aparecem em filmes brasileiros como Cidade de Deus e Eldorado, que retrata cinco histórias reais de tráfico de seres humanos.

Ao todo, serão exibidos 137 filmes de 15 países diferentes, todos com temáticas comuns da América Latina que têm como objetivo divulgar e discutir a singularidade estética da cinematografia recente e histórica do continente. A maioria dos filmes é inédita e a entrada é gratuita.

O 5º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo acontece entre os dias 12 e 18 de junho nas salas de cinema do Memorial da América Latina – que promove o evento -, Cinesesc, Cinemateca, Museu da Imagem e do Som e do Cinusp Paulo Emílio, todas na capital paulista.

Participação do público

Além das exibições, o público pode contar com oficinas, debates e uma série de palestras ministradas por profissionais do Brasil e do exterior, entre eles o argentino Piñeyro, diretor de O Que Você Faria? (“El Método”, 2005) e Plata Quemada (2000), além de Kamchatka (2002), que fará uma retrospectiva de sua produção em uma aula magna que acontece no dia 17 de julho, às 16h no Memorial da América Latina.

Na ocasião, também recebe homenagem o brasileiro João Batista de Andrade consagrado por O Homem Que Virou Suco (1980), eleito melhor filme no Festival de Moscou, e um dos idealizadores do festival.

Mesas de debates com diretores e profissionais do cinema também acontecerão no Memorial da América Latina. Nelas, serão discutidas questões como a identidade do cinema latino-americano, o impacto dos novos meios na crítica audiovisual e a relação entre o mercado e as escolas de cinema.

Além disso, o público poderá assistir a conversas entre os diretores dos filmes apresentados onde temáticas, semelhanças e curiosidades sobre os filmes serão apresentadas aproximando os espectadores da realidade de produção.

Fonte: Opera Mundi

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Dissipando nuvens

Sidnei Liberal *

Foi preso em Caracas o salvadorenho Francisco Chávez Abarca, integrante da lista de procurados da Interpol, por envolvimento com atentados a bomba em Cuba nos anos 90. Segundo a Folha de São Paulo¹, a prisão ocorreu no aeroporto da capital venezuelana quando Francisco tentava entrar no país com passaporte falso. Sua missão, segundo o presidente Hugo Chávez, era assassiná-lo, resultado de conspiração de setores da oposição com o terrorista. O salvadorenho tem ligações com o cubano naturalizado venezuelano Luis Posada Carriles, que vive em Miami e foi condenado na Venezuela e no Panamá pelos atentados em Cuba. Entre eles, a explosão de um avião que matou 73 pessoas em 1976.

A mesma matéria da Folha informa que o presidente venezuelano ameaça tomar o controle da TV Globovisión, de radical oposição ao governo. Há processos contra os principais dirigente da TV: o presidente Guillermo Zuloaga e um dos maiores acionista da emissora, Nelson Mezerhane, que estão foragidos e têm ordem de captura internacional. Zuloaga é acusado de “usura genérica” por ocultação de veículos para especular no mercado. Mezerhane está envolvido com fraudes do sistema financeiro. O banco do qual era presidente sofreu intervenção do governo.

O presidente Chávez também acusou a oposição de “podridão moral”, por condenar o governo no “escândalo da comida vencida” – o achado de cerca de 70 mil toneladas de alimentos importados por órgão do governo fora do prazo de validade. O fato de certa forma emparedou o governo e serviu para frear temporariamente a cruzada de Chávez contra os especuladores e a indústria de alimentos, culpados pela inflação que acumula 14,2% até maio.

Ameaças contra a vida do máximo dirigente nacional; terroristas condenados que circulam livremente pelas ruas de Miami, paraíso da máfia cubana no exílio; dirigentes de televisão que especulam contra a economia popular e que fraudam o sistema financeiro; constituem a podridão moral de uma elite que não respeita as regras da ética nem cessa de especular em detrimento do poder aquisitivo da população. Tudo direcionado à desestabilização do governo Chávez. É justamente essa elite que a secretária de estado Hillary Clinton chama de “diferentes grupos cívicos que desempenham um papel importante no desenvolvimento da democracia” venezuelana.

Para Hillary, o “intolerante” governo Chávez vem reprimindo lentamente esses “grupos cívicos”. Não tem sido diferente a posição da imprensa brasileira, como macaco de imitação, permanentemente submissa aos interesses contrariados de Washington. Centrais de intriga e agressão diante dos diferentes processos políticos de independência e soberania em curso no nosso continente. Sobram razões, portanto, ao chanceler da Venezuela, Nicolas Maduro: “Rejeitamos esta nova agressão de Hillary Clinton e exigimos respeito absoluto a nossa democracia, a nossas liberdades, a nossa forma de fazer nossa vida, nosso modelo econômico, nosso modelo social, nosso modelo político”.

Segundo Maduro, as críticas da secretária de Estado foram feitas, “exatamente quando em Caracas” se desenvolve "um processo de diálogo, de compreensão das diversas formas de ver o continente", do qual participaram representantes de “todos os Governos” da América Latina e do Caribe. De acordo com a matéria da agência espanhola EFE², “Chanceleres e altos representantes de 30 países latino-americanos e caribenhos realizaram ontem (sábado,3/07) na capital venezuelana um encontro preparatório para a cúpula presidencial da nova Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que acontecerá na Venezuela em 2011”.

A Celac, no discurso de Hugo Chávez diante dos chanceleres, vem abrir caminho para que a América Latina e o Caribe deixem para trás os tempos das “imposições dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA)”. Tempos em que Washington e a OEA condenaram a América Latina e o Caribe “à miséria, ao atraso, à dependência e ao subdesenvolvimento”. Podemos completar: tempos de assassinatos, golpes de estado e ditaduras sob orientação e apoio de Washington e seus representantes nativos.

(1) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0307201003.htm
(2) http://br.noticias.yahoo.com/s/04072010/40/mundo-chanceler-venezuelano-rejeita-nova-agressao.html

* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna


Almas Secas: A Perpetuação do Genocídio (3)  
Escrito por Wellington Fontes Menezes   
14-Jul-2010
 
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
("A triste partida", Patativa do Assaré)
 
Enfrentar permanentemente a questão da fome não é mera caridade ou filantropia permissiva. Deveria ser o programa fundamental de cada governo comprometido com o ser humano. Obviamente, em Estados semidemocráticos, como é caso do Estado brasileiro, a fome é muito mais um elemento de salutar perpetuação da escravidão eleitoral ou nota de rodapé "exótico" em algum jornal da Big Mídia.
 
A fome também é um problema ideológico e cultural. Convencionou-se a acreditar na naturalidade da desgraça famélica alheia como um problema divino ou um "trágico" fenômeno da natureza. Para isto, Josué de Castro desbanca as certezas invioláveis de falaciosas premissas do ‘ocaso da fome’: "Querer justificar a fome do 140710_wellingtonmenezes.jpgmundo como um fenômeno natural e inevitável não passa de uma técnica de mistificação para ocultar as suas verdadeiras causas que foram, no passado, o tipo de exploração colonial imposto à maioria dos povos do mundo, e no presente o neocolonialismo econômico a que estão submetidos os países de economia primária, dependentes, subdesenvolvidos, que são também países de fome".
 
Com a abdução da política pelo capital, urgentes debates são deixados de lado (ou distorcidos de sua realidade) dentro de uma sociedade em que poderiam contrariar os interesses dos capitalistas. Assuntos considerados mais "cosméticos" socialmente e pouco capazes de ferir as engrenagens capitalistas, como o debate em torno dos direitos de minorias (sexuais, "raciais"
 
Obviamente, tais lutas sociais são importantes, porém, não afetam diretamente ao grande capital (paradoxalmente, como não são movimentos de "ruptura", muitas vezes colaboram ainda para criar muito mais cisão dentro da própria sociedade!). A Big Mídia, por exemplo, insiste exaustivamente em considerar que a reforma agrária é um tema do passado. Ressalta Josué de Castro: "Precisamos enfrentar o tabu da reforma agrária - assunto proibido, escabroso, perigoso - com a mesma coragem com que enfrentamos o tabu da fome".
 
Para muitos defensores da sociedade irrealista que só existe em duvidosos índices econométricos em véspera de eleição ou nas manchetes da Big Mídia, é necessário a sociedade se voltar para a importância da centralidade do debate em torno da fome e da subalimentação. Agora, o "grande" Brasil extasiado em crescimento de índice econômico chinês não pode ter a ousadia de mexer no próspero latifundiário?
 
Na mesma dimensão da propaganda governamental, o maior exportador de carne bovina do planeta (um robusto percentual de 28% do comércio mundial em 2008, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, ABIEC) convive com o drama de milhões de pessoas que sequer podem comprar um único quilo de carne semanal (até mesmo mensal!). O seguido recorde dos grãos na agricultura abastece mercados consumidores com potencial poder de compra, e os grãos de pior qualidade podem encher as cestas básicas da nefasta caridade eleitoreira.
 
Não obstante, a produção cultural foi bem mais generosa com o ser humano e a denúncia da espoliação do homem pelo próprio homem sempre foi campo de interesse. Entre vários autores que fizeram a denúncia da fome no Nordeste, temos as canções imortais de Luiz Gonzaga, a poesia magistralmente seca de Patativa do Assaré e João Cabral de Melo Neto e a literatura de Graciliano Ramos, destacando o clássico "Vidas Secas". No campo cinematográfico, vários filmes e documentários ressaltaram o descalabro da fome. Inspirado em "Vidas Secas", recentemente se destaca o documentário de José Padilha, "Garapa" (2009), no qual o diretor procura imergir o espectador na perspectiva do drama dos que sentem fome nos bolsões de pobreza endêmica no Ceará. O título do documentário de Padilha bem é apropriado, uma vez que "garapa" é a mistura de água com açúcar ou rapadura, preparada pelas famílias para alimentar suas crianças e driblar momentaneamente a fome.
 
A fome não é uma querela pontual, para os seres humanos que vivem em regiões endêmicas de extrema pobreza trata-se asperamente da luta pela mera sobrevivência de seus corpos secos e tísicos. No caso brasileiro, a seca nordestina, como símbolo do mais profundo e bárbaro descarte humano, é uma seca de almas em desespero permanente.
 
Acima de tudo, é a seca derivada da criminosa indiferença dos centros de decisões sócio-econômicas que mais castiga e assassina anualmente de forma lenta e corrosiva milhões de homens, mulheres e principalmente as crianças. Salvo alguma catastrófica tragédia natural ou astronômica que dizime a espécie humana, seguramente apenas com a sociedade proporcionando novos modelos sócio-econômicos de produção, que tenham como base a socialização mais humana e igualitária da riqueza produzida em coletividade, se terá o cessar da perpetuação por completo do genocídio da fome.
 
Leia os outros dois artigos da série:
 
Almas Secas: A Perpetuação do Genocídio (1)
 
Almas Secas: A Perpetuação do Genocídio (2)
 
Wellington Fontes Menezes é mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), bacharel e licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Rede Pública do estado de São Paulo. 

Fonte:  http://www.correiocidadania.
 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Monstros da Veja revelam desespero

Fundo vermelho-sangue, cabeças de hidras, estrela petista, manchete (“O monstro do radicalismo”) e chamada (“A fera petista que Lula domou agora desafia a candidata Dilma”). A capa da última edição da revista Veja é realmente assustadora, mas ela também é reveladora: mostra que quem está assustada é a famíglia Civita, dona deste panfleto fascistóide.


Por Altamiro Borges (Miro) em seu Blog

Desesperada, a revista sequer teve criatividade e publicou uma capa muito similar à da véspera da eleição presidencial de 2002.

Na “reporcagem” fica a sensação de que a Veja já jogou a toalha. Ela parece não acreditar mais na possibilidade de vitória do seu candidato, o demotucano José Serra – tanto que não fala das suas dificuldades na escolha do vice e na ausência do registro do seu programa. Apavorada, a revista tentar enquadrar a candidatura de Dilma Rousseff. Ela repete a velha dupla tática da direita: faz campanha aberta para o seu candidato, mas procura interferir na linha política do seu adversário.

Tentativa de domesticar o programa

Já no editorial, o medo transparece. A partir da trapalhada no registro do programa petista, ela critica a “falta de controle da candidata sobre os radicais do seu partido”. O motivo do temor é a afirmação, mantida na segunda versão do programa, de que os meios de comunicação no país são “pouco afeitos à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático” e de que é preciso enfrentar “o monopólio e a concentração” no setor. A revista confessa, mais uma vez, que é inimiga da Constituição Federal, que propõe o fim do monopólio e o estímulo à pluralidade informativa.

A prepotente famíglia Civita, que se acovardou diante da ditadura militar e demitiu jornalistas críticos, como Mino Carta, insiste em se apropriar da bandeira da liberdade de expressão. “A imprensa não tem lições a receber de quem não compreende esse valor universal da democracia”, afirma o editorial. É com esta linha canhestra que a “reporcagem” tentará acuar o comando da campanha de Dilma, domesticando o seu programa e afastando “seus radicais”. O texto não é dirigido ao leitor emburrecido desta revista, mas aos vacilantes e “moderados” da campanha adversária.

“Cortar as cabeças” dos radicais

A “reporcagem” tenta o tempo todo estimular a cizânia nas esquerdas. “O programa de governo do PT traz de volta a ameaça da censura à imprensa e reacende o debate: Dilma conseguirá controlar os radicais de seu partido e domar o monstro do autoritarismo?... Se eleita, conseguirá repetir o feito de Lula e impedir que os radicais do PT transformem o Brasil numa república socialista, de economia planejada e centralizada e sem garantias à liberdade de expressão?”. Seu objetivo fica patente na frase agressiva: “Lula teve de cortar a cabeça dessa hidra em diversas oportunidades”.

Neste esforço para domesticar o programa e estimular a cizânia, a Veja chega a montar uma lista risível dos “moderados e pragmáticos” (Lula, Palocci e Dulci) e dos “radicais e incendiários” (Marco Aurélio Garcia, Franklin Martins e Paulo Vannuchi). Ainda neste segundo grupo, ela inclui o ministro Celso Amorim e a “imoral política externa brasileira”. Eles seriam as hidras que Dilma deveria “cortar as cabeças”, além de ceifar qualquer proposta mais avançada de mudanças.

Uma nova “carta aos brasileiros”

Ao final da “reporcagem”, como que já assumindo a derrota do seu candidato, a família Civita expressa seu desejo para a adversária, lembrando a manobra patrocinada pelos barões da mídia e do capital financeiro nas eleições de 2002. “O chamado ‘risco Lula’ provocou desvalorização do real, fuga de capitais, instabilidade econômica, e só foi amenizado quando ele [Lula] divulgou a Carta ao Povo Brasileiro... Para afastar definitivamente as desconfianças que ainda rondam sua candidatura, Dilma talvez tenha de seguir o exemplo do seu padrinho político”.

A mídia golpista encara o pleito deste ano como uma batalha de vida ou morte. Ela teme perder a eleição e avalia que este provável resultado aprofundará o processo de mudanças no país. Dilma Rousseff, com seu passado de esquerda e maior firmeza de convicções, apavora as famíglias Civita, Marinho, Frias e Mesquita. Se depender dos barões da mídia, é essa “hidra” que terá sua cabeça cortada numa das campanhas mais sujas da história. Mas, caso isto não ocorra, por uma questão de bom-senso é melhor se precaver, domesticando seu programa e afastando os "radicais".
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia