segunda-feira, 14 de junho de 2010

Em visita ao PCdoB, PC chinês debate o Brasil e a 

América Latina

Com uma visita à sede nacional do PCdoB, em São Paulo, seis dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCCh) iniciaram, nesta segunda-feira (14), uma intensa agenda de atividades pelo Brasil. Chefiada por Sun Gan, secretário-executivo do Conselho de Trabalho dos Órgãos subordinados diretamente ao Comitê Central do PC, a delegação chinesa saudou o PCdoB como “partido amigo” e manifestou interesse em “reforçar os laços e os investimentos” entre as duas legendas.

Sun Gan afirmou que os comunistas brasileiros têm uma “trajetória histórica muito respeitável” e demonstraram forças ao resistir a mais de 60 anos na clandestinidade. “O Partido Comunista Chinês valoriza o intercâmbio e a amizade tradicional com partidos como o PCdoB.

Segundo o dirigente chinês, seu partido baseia sua atuação em cinco pilares: ideologia, organização, métodos de trabalho, política anticorrupção e construção do sistema partidário. Também compartilha de princípios resguardados pelo PCdoB, como a combinação de firmeza nos princípios revolucionários com flexibilidade no modo de perseguir os objetivos táticos e estratégicos, além do pressuposto de que não há modelo único de socialismo.

“Cada país deve levar em conta suas peculiaridades e, ao mesmo tempo, estar sintonizada com os avanços do tempo histórico, de modo a não cair em dogmas”, declarou Sun Gan. Sobre a experiência chinesa, destacou o excepcional desempenho do país em 2009. “Apesar da crise econômica, o governo tomou medidas corretas, e a o nosso PIB cresceu 8,9%. Terminamos o ano com US$ 2,4 trilhões de reservas”, agregou o dirigente, agregando que o crescimento econômico da China volta-se, em primeiro lugar, à melhoria da vida do povo.

Informes sobre o PCdoB, o Brasil e a América Latina

Segundo o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, um dos principais temas da reunião entre os PCs foi a realidade política brasileira. “O PCCh se mostrou especialmente interessado em temas como o formato de uma disputa eleitoral no Brasil, o processo de escolha dos candidatos, as chances de vitória da pré-candidata Dilma Rousseff e a garantias de que os êxitos do governo Lula terão continuidade.”

Segundo Renato, uma eventual derrota de Dilma “exprimiria um grande retrocesso” para o processo de integração latino-americana. “Sua eleição, ao contrário, traria mais perspectivas de ascenso democrático região”. O dirigente do PCdoB enumerou ao menos quatro trunfos de Dilma na corrida à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

1) a capacidade política de Dilma, que representa como poucos o sucesso do governo Lula;
2) o prestígio de Lula, cuja popularidade mantém níveis recordes após sete anos e meio como presidente;
3) a ampla aliança em torno da pré-candidatura, que inclui PT, PMDB, PCdoB, PSB, PDT, entre outros partidos;
4) o respaldo popular de Dilma, que conta com o apoio das principais lideranças sociais, estudantis e sindicais do Brasil.

 
Ricardo Abreu, o Alemão, secretário de Relações Internacionais do PCdoB, destacou outros dois temas que sobressaíram nos debates: as possibilidades de maior cooperação dos Bric (grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China) e a conjuntura político-econômica na América do Sul e na América Latina. “Foi uma reunião, sobretudo, de atualização. O PC chinês aproveitou o convite do PCdoB para se reunir conosco e entender melhor os rumos tomados pelo Brasil no âmbito das relações internacionais.”


Ao comentar a liderança alcançada pelo Brasil nas negociações com o Irã, o PCdoB sublinhou a ousadia e a correção da política externa do governo Lula, que, segundo Renato Rabelo, “pressupõe valores como a paz, o diálogo e a consolidação de um mundo multipolar”. Os dirigentes chineses responderam que “estão de pleno acordo” — e que a China “tem os mesmos objetivos”.

Construção partidária

Antes do encontro com Renato, os membros do PCCh participaram de uma exposição sobre a história, os princípios e a organização dos comunistas brasileiros. Intitulada “A Construção Partidária no Nível Atual das Exigências”, a exposição foi ministrada por Walter Sorrentino, secretário de Organização do PCdoB.

“É uma grande honra manter essa boa relação entre duas grandes nações, dois povos e dois partidos. Temos um grande papel a jogar no mundo, e esse encontro eleva ainda mais os termos de nosso intercâmbio”, declarou Sorrentino.

A delegação chinesa segue no Brasil até quarta-feira. Na agenda, há reuniões com o líder do PMDB na Câmara Federal, deputado Henrique Eduardo Alves, e os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB) e do PT, José Eduardo Dutra. Os dirigentes chineses também devem participar de uma apresentação do Ipea sobre o Estado brasileiro, suas instituições e o serviço público, além de visita a uma fazenda de alta produtividade em Goiás.

De São Paulo,
André Cintra

Fonte: http://www.vermelho.org.br

quarta-feira, 9 de junho de 2010

 Criminalização da pobreza

A polícia do Rio de Janeiro, em comparação com as suas congêneres do Brasil e do mundo, é a que mais mata e a que mais morre. Ela é ao mesmo tempo algoz e vítima de um processo vicioso que só faz agravar a espiral da violência, resultado inevitável de uma política de segurança da qual o governo se vangloria, apesar da sua comprovada ineficácia.
 
Toda vez que se publicam relatórios e dados sobre a questão da violência e os direitos humanos, o cidadão fluminense se vê diante do doloroso dever de constatar a permanência de tão trágica realidade. Exemplo? Basta ver o informe da Human Rights Watch (HRW), publicado com destaque nos jornais desta quarta-feira. Os números são estarrecedores e não foram desmentidos pelas autoridades.
 
Em 2008, os policiais do Rio cometeram 1.137 homicídios durante o expediente ou fora dele. O tamanho do absurdo se mede pela comparação com outros estados e até países. No estado de São Paulo, foram 397 as mortes cometidas por policiais no mesmo período. Na África do Sul e nos Estados Unidos, considerado o país inteiro em ambos os casos, os números foram 468 e 371, respectivamente. A relação entre o número de mortos e número de prisões efetuadas é outro dado altamente revelador. No Rio, para cada suspeito morto por policiais, estes conseguiram efetuar 23 prisões; em São Paulo, 1/348; e nos EUA 1/37.751. Outra dimensão do mesmo descalabro são os dados que medem a relação entre mortes cometidas por policiais para cada óbito de policial. Nos EUA 9,05; em São Paulo, 18,05; e no Rio são 43,73 mortos para cada óbito policial.
 
Toda comparação, claro, padece de problemas e carece de ser relativizada. Mas, no caso, trata-se de uma questão específica, analisada com base em dados oficiais, em regiões assemelhadas. Em todas elas, a violência se concentra nas megalópoles atravessadas pelos problemas típicos do capitalismo pós-moderno. Sendo assim, descartado o castigo de Deus como hipótese, deve haver uma explicação para os números que conferem ao Rio de Janeiro uma distinção tão macabra. Para os estudiosos mais acurados do assunto, a política de segurança adotada pelo governo Cabral é a causa maior do descalabro.
 
Ancorada na lógica do confronto bruto, tal política opera na base da aceitação tácita do uso ilegal da força letal. Há muito que se denuncia, sem que se consiga estancar a sangria literal que daí decorre, os chamados "autos de resistência". São utilizados como forma de justificar os homicídios cometidos e funcionam, na prática, como uma licença para matar. Ao comparar a recente derrubada de um helicóptero policial com a queda das Torres Gêmeas, o secretário de Segurança forneceu justificativa para a espiral de violência. No espírito da vendeta, bandido e polícia se igualam no exercício descontrolado da força e na produção da insegurança coletiva.
 
A brutalidade policial cumpre também uma função política. A reprodução das relações sociais marcadas pela desigualdade e pela injustiça não se faz sem certo grau de violência segregacionista contra os mais pobres. Como escreveu, em artigo recente, Chico Alencar, deputado federal do PSOL/RJ: "uma política de segurança que mira invariavelmente os de baixo, jogando sobre eles toda culpa sobre os malfeitos de uma sociedade desigual, tem nome e sobrenome: criminalização da pobreza".
 
Léo Lince é sociólogo. 
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
 Espetáculo obsceno

O tempo passa, o tempo voa, a bolsa sobe e desce, a crise finge sumir e reaparece, mas a lucratividade dos banqueiros continua numa boa. Na alta ou na baixa, no sujo ou no limpo e até no mal lavado, eles ganham sempre. Mandam e desmandam nos governos, regulam os que deviam regulá-los, seguem soberanos na fortaleza inexpugnável da tirania financeira que avassala o mundo.
 
Em todo e qualquer lugar, seja no Império Americano hipotecado, na tragédia grega ou nos pólos avançados da velha Europa, os protocolos da supremacia absoluta do capital financeiro continuam a girar as roletas do cassino. Por toda a parte, com a voracidade das matilhas, eles atacam sem dó nem piedade.
 
Aqui no Brasil, então, nem se fala. A cada trimestre os balancetes dos bancos registram recordes cuja superação parecia impossível. A regra, que se repete de maneira cronometrada, foi confirmada na safra atual. O lucro líquido declarado pelos maiores bancos privados brasileiros nos três primeiros meses deste ano alcançou um padrão estratosférico. Nunca, em tempo algum, o Itaú, o Bradesco e Santander ganharam tanto dinheiro.
 
Para evitar a sensaboria dos números, vamos nos limitar ao caso do Itaú Unibanco. É, por enquanto, o maior banco privado e declarou, para o trimestre, um lucro líquido de R$ 3,23 bilhões. Um aumento brutal, de cerca de 60%, em relação ao mesmo período do ano passado. Lucratividade espantosa: é o maior valor já registrado para um trimestre ao longo de toda a história do setor.
 
Uma conta simples, dando de lambuja os domingos e feriados, define o montante do lucro líquido diário: R$ 35,9 milhões. Logo, para efeito de comparação, um trabalhador de salário mínimo levaria quase seis séculos para amealhar uma quantia semelhante. Como Brasil foi "descoberto" em 1500, para equiparar ao que o Itaú lucra num dia, o nosso trabalhador hipotético teria que ter começado sua poupança na era pré-colombiana.
 
Uma disparidade absurda. Um retrato cruel do abismo que separa as classes sociais no Brasil de hoje. Não há ou, melhor dizendo, não deveria haver qualquer possibilidade de convívio sereno entre a consciência digna da cidadania e semelhante absurdo. No entanto, no torpor gerado pela morfina-dinheiro, o absurdo é tratado como parte integrante da paisagem. Natural como a explosão de um vulcão.
 
A roleta financeira que gira sem freios é a imagem mais precisa do horror econômico que nos governa. A propriedade que tem o dinheiro - de existir como valor separado de qualquer substância - está na base desta vertigem da pecúnia sem limites. A violenta concentração de poder materializado no dinheiro, hermafrodita que se reproduz na relação consigo mesmo (D-D’), explica muita coisa. A dívida pública, um Himalaia de juros sobre juros. A prevalência do financiamento privado de campanhas eleitorais cada vez mais caras. O tal superávit primário, que sacrifica direitos sociais e sucateia serviços públicos essenciais para garantir o pagamento religioso dos juros.
 
Montaigne, no célebre ensaio "Dos Canibais", relata a presença de índios trazidos do "Novo Mundo" recém descoberto para visitar a reluzente corte francesa. Ao invés de se embasbacarem com tanto luxo e riqueza, eles se espantaram foi com a desigualdade. Para eles, a brutal disparidade entre o palácio e as ruas não era natural. O sentimento igualitário do passado imemorial há de retornar no futuro utópico. Por enquanto, quando os bancos publicarem balancetes, por favor, tirem as crianças da sala para evitar o espetáculo obsceno.
 
Léo Lince é sociólogo. 
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/
 
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O tempo está doido!
Escrito por Gabriel Perissé   

Tenho ouvido várias vezes, e eu mesmo tenho repetido sem pensar, uma frase cheia de perplexidade: - É, o tempo está doido!
Doido tempo porque simplesmente não quer obedecer à nossa lógica. Ficamos espantados se chove demais, se o sol vem e vai embora sem avisar, sem pedir licença.
Ficamos escandalizados se faz calor no inverno, se faz frio no verão. Queremos, talvez, abrir um processo contra o tempo quando ele, doido, não obedece às nossas previsões.
Mas doido o tempo não é. O tempo nunca foi sensato. Não se pode fazer terapia com o tempo. Nem esperar que ele se comporte como nós, seres tão sensatos que somos. O tempo e seus temporais não são surtos da natureza. Não são manifestações hormonais. São, apenas, naturais.
Que idéia doida a nossa, querer que o tempo seja um rapaz cordato, uma senhora recatada, um cidadão responsável, um funcionário pontual, honesto, sem gestos bruscos, sem palavras intempestivas, um moço ajuizado, de temperamento tranqüilo, uma moça com a cabeça no lugar. O tempo não é gente, minha gente!
Dizem, e digo eu, que o tempo enlouqueceu, que o tempo está maluco. Devemos então interná-lo num manicômio? Devemos prendê-lo em camisa de força? Devemos ministrar remédios que o deixem calmo, sereno, sem tremores, sem lágrimas, sem febres, falando em voz baixa, chuvisco em nosso ouvido?
O tempo, com o passar do tempo, poderá ficar ainda mais louco. Se não tomarmos providências imediatas, o tempo vai amanhecer cada vez mais desgovernado. Poderá tornar-se um problema insolúvel.
Já é tempo de dizer ao tempo que ele administre melhor suas emoções, peça conselhos, leia algum tipo de auto-ajuda. Não é fácil, deve ele admitir, vivermos sob tamanho despautério, não é justo que nós, tão prudentes, sejamos vítimas dessa loucura do tempo, de suas enchentes, suas ventanias, manias.
Tempo lelé, tempo aloprado que ele é. Tempo biruta, demente, capaz de matar a gente num acesso de fúria. Tempo que me desatina, tempo destrambelhado, desvairado. Tempo mentecapto. Tempo pancada, batendo até altas horas o seu tambor. Tempo pinel.
Saio de casa sem saber o que o tempo vai aprontar. Levo guarda-chuva, roupa de inverno, desconfio das nuvens, não me impressiono com a brandura do sol.
E, à noite, o tempo não dorme. Fica acordado, tempo lunático, sua insônia me deixa agitado. Também não consigo dormir.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor. 

Website: http://www.perisse.com.br/
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br 


Uso e abuso dos professores

Escrito por Gabriel Perissé

Li na Folha de S. Paulo, no dia 23 de janeiro de 2010, matéria assim intitulada: "SP admite ter de usar professor reprovado".
O verbo "usar" entra pelos olhos, assalta as mentes, espanca o coração, cai torto no estômago e nos faz mal.
O verbo "usar", bem conhecemos. Eu, você, todos nós usamos o verbo "usar". Usamos e abusamos. Faço uso desse verbo porque muitas coisas eu aprendi a usar.
Uso roupa, uso computador, uso escada para subir, uso papel para escrever, uso dinheiro para comprar, uso carro para me transportar, uso de tudo que é lícito para viver humanamente.
Usar não é errado quando uso e manipulo o que é usável e manipulável: objetos a meu dispor, simples ou complexos, caros ou baratos, de qualidade ou vagabundos.
Mas usar pessoas, isso não; isso é demais da conta. Usar pessoas, jamais! Usar alguém para escalar. Usar alguém para ganhar. Usar alguém para gozar. Usar alguém para vencer. Usar alguém é coisa que ninguém deveria fazer. Usar alguém não é do bem. Usar alguém faz mal, e faz mal aos dois: a quem é usado, e também àquele que usa!
Dirão, talvez, que entendi mal. Que o título da matéria não tem maldade. Que "usar" é assim mesmo, usamos sem pensar. Que temos aí um modo de escrever inofensivo. Que estou exagerando a força da palavra. Que estou usando mal a minha capacidade de ler o jornal. Que estou vendo coisas.
Contudo, lá está, a matéria diz: os professores reprovados serão usados. Usados, concluo, porque foram reprovados. E foram reprovados porque sempre foram usados. Porque têm sido objeto de uso e abuso.
O professor fez a prova e foi reprovado. O que será que essa prova provará? Será essa prova eliminatória ou "humilhatória"? O governo de São Paulo garante que o professor, mesmo reprovado, será usado. E ele, o professor, que já se habituou a ser usado faz tanto tempo, voltará a ser temporário. Por quanto tempo?
Usado e mal pago, de manhã, à tarde e à noite, o professor se sente manipulado como uma coisa. Sem aplauso, excluso, mero parafuso, o professor aceita ser usado.
E aqueles que, useiros e vezeiros em usar os professores, humilham o docente, provam, na verdade, que não sabem servir a sociedade. E se não vivem para servir, para que servem?
Gabriel Perissé é Doutor em Educação pela USP e escritor.
Livraria como lugar de terapia 


Entrar numa livraria é, em si mesmo, um ato terapêutico. Tudo ali converge para a cura do tédio e outras doenças: livros que querem gente e gente que gosta de livros, gente que trabalha com livros e gente buscando livros, cheiro de livro, livros em exposição, suas capas, a sensação incontestável de que o mundo é feito de papel e palavras.
Pelo menos uma vez por semana, saia da cama com a idéia fixa: entrar numa livraria. Fique ali durante meia hora, ou mais. Toque os livros e se deixe observar por eles.
Escolha um, leia algumas páginas ao acaso. Visite autores conhecidos. Conheça novos autores. Não pisque, não hesite, arrisque, molhe os pés nas águas frias de algum livro.
Não é preciso comprar nenhum livro no dia em que estiver na livraria. Basta ficar ali dentro, experimentando o clima livral, como se o mundo fosse aquilo só, aquela fosse a paisagem em que nos coube viver.
Escolha um dia qualquer, entre na livraria, para ouvir a respiração dos livros, seus sussurros, seus chamados silenciosos, sentir no ar a aflição dos livros — porque eles querem sair dali para conhecer a realidade aqui fora.
Se algum livro conquistar você, compre-o então, tire-o dali, daquela prisão, daquela redoma, daquele orfanato, daquele abismo. Leve-o para fora, prometa-lhe a leitura mais intensa, as descobertas mais empolgantes, os delírios de quem lê. Leve-o para fora dali. Para dentro da sua vida.
O livro comprado e levado é mais do que uma nova companhia. É compromisso para sempre, na euforia e na depressão, na miséria e na abundância, sem possibilidade de empréstimos, pois bem sabemos que livro não se empresta... Nem se devolve.
Ao chegar em casa, deixe o livro descansar um pouco, não tenha pressa. Deixe que ele se sinta à vontade. Mais tarde, quando enfim vocês dois estiverem juntos e puderem conversar em paz, esqueça-se de tudo, para lembrar o essencial.
Contudo, muitos outros livros estão ainda na livraria, sem destino, correndo o risco do encalhe, abandonados à própria sorte, ameaçados pelo esquecimento, pela morte. É preciso, portanto, voltar até lá, mergulhar outra vez na livraria.
Entre na livraria qualquer dia desses. Lá estão eles, os livros. Não queira saber se são caros ou baratos, famosos ou modestos, compreensíveis ou obscuros. Entre lá. Eles estão esperando por você, ansiosamente.




Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor. 

Website: http://www.perisse.com.br/ 
Escrito por Gabriel Perissé - 22-Mar-2010