Trabalho
e Dialética: Hegel, Marx e a teoria social do devir
Em
seu novo livro, "Trabalho e dialética: Hegel, Marx e a teoria
social do devir", o professor de filosofia da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) Jesus Ranieri demonstra a atualidade e
relevância das contribuições de G. W. F. Hegel, Karl Marx e György
Lukács em uma análise que busca responder aos impasses teóricos,
éticos e sociopolíticos abertos pela crise permanente da
modernidade.
Nesta
obra, o autor aponta semelhanças profundas entre o conjunto de seu
trabalho e a interpretação lukacsiana da obra de Hegel, para ele
uma das mais originais e férteis, principalmente no que diz respeito
à influência deste no pensamento de Marx.
“Lukács
nos permite perceber uma unidade entre Hegel e Marx que não é
possível encontrar de forma nítida nem nos próprios textos
marxianos, assim como nos deixa igualmente visualizar a propensão
materialista de Hegel”, afirma na introdução.
Oswaldo
Giacoia Junior, prefaciador do livro, destaca três linhas de força
que resumem o essencial da retomada de Hegel por Jesus Ranieri.
Primeiro, o reconhecimento da importância da processualidade e do
devir para a inteligência do real, na medida em que “mais decisivo
que o ser é o processo pelo qual este se produz, em sua
necessidade”. Segundo, a interpretação do débito de Marx
com a teoria social de Hegel, que prepara as bases para uma concepção
materialista dos processos históricos e vê no trabalho a condição
pressuposta para todo desenvolvimento do ser.
Por
fim, o terceiro operador teórico diz respeito à função das
contradições no pensamento de Hegel e Marx, e é explicado por
Ranieri como a forma e a matéria do agir humano no mundo, o motor do
movimento da realidade, no sentido de que todo avanço, sendo ou não
sinônimo de progresso, contrapõe-se a forças que o contradizem e é
responsável pela definição da identidade de qualquer objeto. “O
texto de Jesus Ranieri combina, de maneira equilibrada, forma e
conteúdo, método e resultado”, conclui Giacoia.
Após
traduzir diretamente dos originais os Manuscritos
econômico-filosóficos (Boitempo, 2004), de Karl Marx, e publicar o
livro A câmara escura (Boitempo, 2001), no qual dissecou parte
importante das categorias presentes em obras seminais do filósofo
alemão, Ranieri dá continuidade a uma análise rigorosa dos
conceitos de alienação [Entäusserung] e estranhamento
[Entfremdung]. O autor explora com densidade o lugar dessas
categorias na formação histórica do espírito, como elemento que
cria e, ao mesmo tempo, confronta-se com uma realidade que se faz
estranha a ele mesmo.
“Este
estudo ofereceu um avanço substantivo à distinção, tanto
terminológica quanto categorial, dos termos”, afirma Ricardo
Antunes, professor de sociologia da Unicamp, para quem o centro da
reflexão do novo livro de Ranieri é o ato de trabalho como momento
de reprodução social, indicado por Hegel, e inserido por Marx em
uma totalidade dinâmica e desenvolvida, em que o ser social aparece
tanto no início quanto no fim do processo.
Trecho
do livro
“Não
é possível compreender o lugar do trabalho na reprodução da vida
humana sem considerar que ele representa, além dessa reprodução, o
caráter abstrato (ou seja, conceitual) de incorporação de
necessidades que aparecem para nós como elementos constituintes de
nossa existência, em um complexo que avança para além da mera
elaboração de produtos.
Nesse
sentido é que o trabalho é propriamente o ‘princípio do novo’,
algo vinculado à ‘categoria de gênese do social’ – a história
do homem e o comportamento humano só podem ser compreendidos por
meio de uma teoria das necessidades, uma vez que a gênese de nossa
estrutura mental (formada a partir do trabalho) nos leva ao constante
embate com toda e qualquer ‘estaticidade’.
”Sobre
o autorJesus Ranieri é professor livre-docente do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), autor de A câmara escura: alienação e
estranhamento em Marx (Boitempo, 2001) e tradutor de Manuscritos
econômico-filosóficos, de Karl Marx(Boitempo, 2004).
Fonte:
Carta Capital
Trecho
do livro