segunda-feira, 22 de agosto de 2011

                                      Atílio Boron: Fidel em seus 85                                     
Fidel, lúcido como sempre e mais sábio do que nunca. O passar dos anos, acompanhado por uma notável capacidade para refletir sobre as vicissitudes de sua vida e do mundo o enriqueceram extraordinariamente.

Por Atílio Borón*, em seu blog


Seu olhar, que sempre teve o privilégio de internar-se no horizonte histórico-universal, tornou-se mais agudo: Fidel vê onde os demais não veem; e o que vê são as essências e não as aparências. Tinha razão García Márquez, quando disse que ele é "incapaz de conceber qualquer ideia que não seja descomunal”.

Retirado de todos os seus cargos à frente da revolução cubana, continua sendo, sem a menor dúvida, "o Comandante”. Não somente do glorioso "Movimento 26 de Julho” ou das Forças Armadas Revolucionárias Cubanas, mas de um exército mundial de mulheres e homens que lutam por sua vida, por sua dignidade e pela sobrevivência do gênero humano, hoje ameaçada por um arsenal nuclear de incalculáveis proporções uma pequeníssima parte do qual sobraria para arrasar toda forma de vida no planeta Terra. Sobrevivência também comprometida pela fúria predatória de um sistema –o capitalista-, que converte tudo o que toca em mercadoria, em um simples objeto, cuja excludente finalidade é produzir lucro.

A favor dessa visão de águia que, em seu momento, Lênin reconhecera em Rosa Luxemburgo, pode denunciar, quase solitário, a crise ecológica que hoje nos abruma, bem como os perigos da demente corrida armamentista desencadeada pelo imperialismo estadunidense.

Alguns, certamente, recordarão sua intervenção na I Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, quando o Comandante alertou sobre o risco ecológico no qual o planeta se encontrava. Enquanto o presidente dos Estados Unidos, George Bush, negava-se a assinar os protocolos do Rio, Fidel denunciava que "uma importante espécie biológica está em risco de desaparecer devido à rápida e progressiva liquidação de suas condições naturais de vida: o ser humano”.

E prosseguia sua análise, dizendo que o consumismo desenfreado e o desperdício irracional que a economia capitalista propicia são os responsáveis fundamentais por essa situação: "com somente 20% da população mundial... (os capitalismos metropolitanos) consomem as duas terças partes da energia produzida no mundo. Envenenaram o ar; debilitaram e perfuraram a camada de ozônio; saturaram a atmosfera de gases que alteram as condições climáticas com efeitos catastróficos que já começamos a padecer. Os bosques desaparecem; os desertos se estendem; milhões de toneladas de terra fértil vão parar, anualmente, no mar. Inúmeras espécies se extinguem. A pressão populacional e a pobreza conduzem a esforços desesperados para sobreviver, mesmo à custa da natureza. Não é possível culpar os países do Terceiro Mundo por essa situação; colônias ontem, nações exploradas e saqueadas hoje por uma ordem econômica mundial injusta”.

Com certeza, suas palavras não foram escutadas pela quase totalidade dos chefes de Estado lá convocados - quem, agora, recorda agora seus nomes?- e que continuaram bailando desprevenidos no deck do Titanic.

Sábio como poucos, Fidel se perguntava nesse mesmo discurso: "Quando as supostas ameaças do Comunismo desapareceram e já não restam pretextos para guerras frias, corridas armamentistas e gastos militares, o que impede dedicar, imediatamente, esses recursos para promover o desenvolvimento do Terceiro Mundo e combater a ameaça de destruição ecológica do planeta?”. Ele sabia perfeitamente bem a resposta, tal como a expusera em milhares de ocasiões: o impedimento radica na própria essência do capitalismo como sistema e no imperialismo como sua forma atual.

Lúcido e valoroso combatente desse flagelo, na prática, porém também no plano das ideias, Fidel denunciou seus horrores desde antes do assalto ao Moncada e em seu extraordinário alegado em defesa própria.

Testemunha e, ao mesmo tempo, excepcional protagonista da lenta, porém inexorável decadência do imperialismo estadunidense, suas iniciativas práticas bem como suas didáticas reflexões oferecem aos povos um riquíssimo arsenal de ideias e informações, recolhidas com a minuciosidade própria de um Darwin, sabedor de que para mudar a complexa realidade de nosso tempo, de nada valem esquemas preconcebidos ou rotundas simplificações.

Retirado de seus cargos oficiais, o infatigável soldado continua lutando sem quartel na crucial "batalha de ideias”, uma frente que, lamentavelmente, a esquerda descuidou durante muito tempo; porém, agora, conta com inúmeros combatentes. E desde lá, ilumina o esperançado caminho que conduz rumo à emancipação humana e social. Como diz a canção popular mexicana, Fidel, "feliz em teu dia, e que vivas muitos anos mais”.


* Atilio Borón é doutor em Ciência Política pela Harvard University e professor titular de Filosofia Política da Universidade de B. Aires, Argentina
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