quarta-feira, 9 de junho de 2010

Livraria como lugar de terapia 


Entrar numa livraria é, em si mesmo, um ato terapêutico. Tudo ali converge para a cura do tédio e outras doenças: livros que querem gente e gente que gosta de livros, gente que trabalha com livros e gente buscando livros, cheiro de livro, livros em exposição, suas capas, a sensação incontestável de que o mundo é feito de papel e palavras.
Pelo menos uma vez por semana, saia da cama com a idéia fixa: entrar numa livraria. Fique ali durante meia hora, ou mais. Toque os livros e se deixe observar por eles.
Escolha um, leia algumas páginas ao acaso. Visite autores conhecidos. Conheça novos autores. Não pisque, não hesite, arrisque, molhe os pés nas águas frias de algum livro.
Não é preciso comprar nenhum livro no dia em que estiver na livraria. Basta ficar ali dentro, experimentando o clima livral, como se o mundo fosse aquilo só, aquela fosse a paisagem em que nos coube viver.
Escolha um dia qualquer, entre na livraria, para ouvir a respiração dos livros, seus sussurros, seus chamados silenciosos, sentir no ar a aflição dos livros — porque eles querem sair dali para conhecer a realidade aqui fora.
Se algum livro conquistar você, compre-o então, tire-o dali, daquela prisão, daquela redoma, daquele orfanato, daquele abismo. Leve-o para fora, prometa-lhe a leitura mais intensa, as descobertas mais empolgantes, os delírios de quem lê. Leve-o para fora dali. Para dentro da sua vida.
O livro comprado e levado é mais do que uma nova companhia. É compromisso para sempre, na euforia e na depressão, na miséria e na abundância, sem possibilidade de empréstimos, pois bem sabemos que livro não se empresta... Nem se devolve.
Ao chegar em casa, deixe o livro descansar um pouco, não tenha pressa. Deixe que ele se sinta à vontade. Mais tarde, quando enfim vocês dois estiverem juntos e puderem conversar em paz, esqueça-se de tudo, para lembrar o essencial.
Contudo, muitos outros livros estão ainda na livraria, sem destino, correndo o risco do encalhe, abandonados à própria sorte, ameaçados pelo esquecimento, pela morte. É preciso, portanto, voltar até lá, mergulhar outra vez na livraria.
Entre na livraria qualquer dia desses. Lá estão eles, os livros. Não queira saber se são caros ou baratos, famosos ou modestos, compreensíveis ou obscuros. Entre lá. Eles estão esperando por você, ansiosamente.




Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor. 

Website: http://www.perisse.com.br/ 
Escrito por Gabriel Perissé - 22-Mar-2010

“Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”

Sexo, violência, corrupção, antisemitismo, família e religião são os ingredientes usados pelo diretor sueco Niels Arden Oplev para fazer, a partir do romance “Millennium 1”, do escritor Stieg Larsson (1954/2004), um filme que mantém o espectador acesso. Não que os filmes atuais já não tenham saturado o espectador com histórias de igual conteúdo. Só que neste “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, eles assumem um caráter multifacetado.


Da mesma moeda

Filme do diretor sueco Niels Arden Oplev faz espectador trafegar pelas trilhas obscuras do ódio e da vingança abertas por uma serial killer nazista



Oplev e seus co-roteiristas Rasmus Hersterberg e Nicolai Arcel dotam as sequências em que o sexo predomina de uma brutalidade que o destitui de qualquer erotismo. Torna-se bestial, voltado para prazeres doentios, que revelam a capacidade de o ser humano sentir prazer ao provocar dor no outro.

Mesmo quando a detetive particular Lisbeth Salander (Noomi Rapace) se sente atraída pelo jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), ela o usa mecanicamente. É como se ela, Lisbeth, temesse extravasar seus sentimentos. Apenas quando sofre abuso sexual, eles se manifestam. E, embora tanto ela quanto seu tutor e algoz sintam prazer em causar dor um no outro, ela sempre racionaliza o sofrimento.

Em duas sequências, ela responde à violência a que foi submetida com uma ferocidade que o surpreende. Sodomia, fetichismo, estupro, vão e voltam, por ação de um e outro. Sua aparente fragilidade é compensada pela rapidez e engenhosidade com que excuta sua ação. O fato de ser mulher pouco importa: ela não se furta a mergulhar no mal absoluto. Só então, seu algoz se retrai por sabê-la capaz de provocar-lhe dores e humilhação insuspeitas.

Em meio ao mal absoluto

Lisbeth Salander acaba tornando-se personagem emblemático deste início de Terceiro Milênio. Dark, andrógina, punk, ela avança pelos espaços disposta a responder a qualquer provocação. Não faz a mulher frágil, desprotegida, ela tem seus instantes de rancor, de vingança. Cerebral, meticulosa, inclemente, ela tem um senso de justiça, ética e moral muito particular. Tornam-se, assim, ferramentas para seus fins. Nada mais.

Diferente dela, Mikael segue a cartilha do politicamente correto. Suas denúncias das falcatruas praticadas por um magnata financeiro publicadas na revista Millennium onde trabalha lhe custam caro. Só o salva, aparentemente, o convite feito pelo bilionário Henrik Vender (Sven-Bertil Taube) para investigar o desaparecimento de sua sobrinha Harriet. Aos poucos, ele percebe que na família Vender reina o ódio entre os irmãos e o temor do passado, marcado pela adesão ao nazismo, antisemitismo, desaparecimentos e mortes misteriosas. E todos procuram se isolar para que nada abale o conglomerado empresarial que dirigem.

Mikael então dependerá de Lisbeth para desvendar esta intrincada teia familiar, cheia de intrigas, incestos e golpes baixos. Ela o ajuda por querer, no fundo, compensá-lo por algo que ele desconhece. E ela própria tem um passado nebuloso contra o qual se debate. Desta forma se completam; se atraem e se repelem. Portanto, uma dupla disfuncional. Daquelas que têm uma química perfeita, mas cujos interesses são dispares, ditados pelas circunstâncias que os fazem lutar juntos.

Trama às vezes é inverossímil

Stieg Larsson e Oplev os obrigam decifrar diversos quebracabeças. Principalmente citações bíblicas plantadas pelo serial killer para despistar sua psicopatia antisemita. São pistas que embaralham a investigação impedindo-os ligá-las a fatos reais. A ponto de assemelhar-se a uma trama urdida por Robert Ludlun (“Círculo Matarese”): nebulosa, inverossímil, cheia de citações que remetem a “Seven” e “Código DaVinci”, sem vinculá-las ao assassino em série, cuja ira descarrega em mulheres judias.

Comportamento que atesta a decadência dos Vender, que tudo fazem para não ter suas ações desmascaradas. Martin, sobrinho de Henrik, revela-se possuidor dos traços malignos do pai, com uma frieza digna de Lisbeth. Esta, no instante em que com ele se defronta, joga sobre ele todo o ódio acumulado em suas relações com os homens que a fizeram sofrer. Inclemente, ela faz da “Lei do Talião”, olho por olho, dente por dente, algo menor: uma cena de arrepiar.

Embora, a narrativa conduzida por Oplev torne o filme instigante, sua trama não deixa de ser nebulosa. Ele tenta torná-la assimilável com uma encenação grandiosa, montagem gráfica, tomadas panorâmicas, ambientes sombrios. Mas tem dificuldade para encontrar o fechamento certo. Usa dois prólogos, dominados pelo emocional, que reduzem o impacto do filme. Descamba para o dramalhão, a necessidade de ter um fecho otimista, numa obra pontuada pelo realismo frio, ditado pela brancura da neve. Puro cinemão, ainda que bem estruturado e cheio de reviravoltas.

“Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”. (“Man Sim Hatar Kvinnor”). Aventura. Suécia/Dinamarca/Alemanha. 2009. 152 minutos. Roteiro: Niels Arden Oplev/Rasmus Hersterberg/ Nicolai Arcel, baseado no romance “Millennium 1”, de Stieg larsson. Direção: Niels Arden Oplev. Elenco:Michael Nyqvist, Noomi Rapace e Sven-Bertil Taube.



Cloves Geraldo * * Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: Publicado dia 21 de Maio de 2010 - 0h08
Portal: http://www.vermelho.org.br/coluna 

Não silencio sobre direitos e cidadania para não ser cúmplice

Sobrevivesse ou não, deveria “entrar na Justiça”

O que dizer a um marido que dirige 120 quilômetros com a mulher em coma, 13 dias após o parto, e não encontrou socorro no caminho, embora tenha tentado num hospital em Pará de Minas? Disse-lhe que desconhecer os riscos dá coragem para atos como o dele.


Raramente algo me surpreende num pronto-socorro, depois de tantos anos pelejando. Mas às 6h30 da matina, após quase 24 horas de plantão, ver o enfermeiro levando uma mulher jovem, aparentemente em coma, para a sala de emergência, e saber que ela veio no carro da família, de um lugar a 120 km da capital, é estranho. Pois Minas é o Estado que mais possui ambulâncias e tem enraizada, desde priscas eras, a ideia da ambulância como, em si, um serviço de saúde. Candidato dono de ambulância não perde eleições nas Gerais.

Doente atendida, ânimos serenados e saindo do plantão, fui à portaria. Lá, uma família desolada: o marido, o filho de uns 8 anos, a mãe e uma irmã da mulher com um bebê de 13 dias nos braços. Uma cena chocante. Procurei chão ao saber que todos vieram no mesmo carro! Sem saber o que dizer, mas, como sou prática, pedi a uma enfermeira que providenciasse um pediatra para examinar o bebê e orientar a família sobre a sua alimentação. O que foi feito.

Meu mal-estar era profundo. De que adiantam as minhas lágrimas? De nada! Então, eu as engoli. Disse ao marido que tudo o que a medicina sabia fazer seria feito, porém estávamos recebendo a mulher em estado gravíssimo; e, se ela sobrevivesse ou não, em nome da dignidade e da memória dela, ele deveria “entrar na Justiça” para que os responsáveis fossem punidos exemplarmente. É uma história que não pode receber o selo da impunidade. Urge que as “autoridades competentes” demonstrem competência, saindo do imobilismo e tomando alguma providência. Morbimortalidade materna tem responsáveis, sempre!

O casal, ela com 37 anos, reside em Conceição do Pará (MG). No dia 11 de maio, ela fez uma cesariana em Pitangui (MG). Obteve alta no dia seguinte. No dia 19, apresentou forte dor de cabeça. Foi ao médico. Mesmo medicada, na sexta-feira à noite, a dor se tornou insuportável. Pediu ao marido que a levasse a Pará de Minas, um lugar de “mais recursos”. Não foi atendida. A mãe declarou que pedia para que não deixassem a sua filha morrer e implorou por uma ambulância. E nada! Sem nenhum médico ter se dignado a vê-la, da porta do hospital, a família pegou a estrada para Beagá.

Era sábado, 22 de maio. Amanhecia. No mesmo dia foi para o CTI, num pós-operatório neurocirúrgico (hemorragia subaracnoidea). Era uma paciente que precisava vir para Beagá, pois em sua cidade e naquela onde não foi acolhida eram parcos os recursos para a doença dela. Todavia, faria uma enorme diferença para ela ter sido atendida antes e transportada adequadamente. São cenas chocantes de descasos assim que dão todo sentido ao 28 de maio - Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher, e no Brasil, desde 1994, Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.

“Morte materna é a morte de uma mulher durante a gestação, ou dentro de um período de 42 dias após o parto, independentemente da duração ou localização da gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela”. O 28 de maio é uma vitrine da história do feminismo e de todos espaços de resistência da luta mundial das mulheres pelo direito à saúde, em especial o sagrado direito de não morrer antes do tempo por causas preveníveis e evitáveis, e nem cruel, como a morte materna.
Fatima Oliveira  * Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: Publicada 26 de Maio de 2010
Portal:  http://www.vermelho.org.br/coluna

Cuidado com as filhas de Obama

Quem advertiu foi o próprio presidente. Malia e Sasha são duas bonitas meninas que completam 11 e 9 anos. Elas têm em Michelle e em Barack um duplo arsenal genético para serem no futuro muito elegantes. Mas, parece que ainda são duas diabinhas, a julgar pela bricadeira que Obama fez, num jantar público, para alguém que se aproximava de suas filhas: "Tenho duas palavras para vocês: zangões predadores".


Foto: Julilanne Showalter (Reuters)  
 
Era uma referência à mais nova arma de extermínio do império que ele governa: o veículo aéreo não tripulado, os aviões zangões da CIA, que vêm realizando operações de assassinato no Afeganistão e no Paquistão. Também já foram usados no Iêmen e na Somália, segundo reportagem especial da Reuters¹, publicada no Huffington Post, sob o sugestivo título de "Como a Casa Branca aprendeu a amar o programa de aviões zangões da CIA".

Mais que uma banalização dos assassinatos, a permanente exibição desses zangões representam a velha arrogância da cultura do poder nos EUA, daquelas que os caubóis de Hollywood materializavam em suas pistolas e botas cravejadas de prata, diante do povoado assustado. A mesma arrogância das ameaças de autoridades da Casa Branca, mostrada no Estadão² desta terça-feira: “O Brasil está desperdiçando toda a boa vontade dos EUA... Se o acordo for usado por outros países para adiar as sanções, isso vai prejudicar Brasil e a Turquia nos EUA”.

 “O acordo não muda as medidas que estamos adotando para que o Irã cumpra suas obrigações, incluindo sanções”, disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Uma arrogância que bate de frente com a receptividade do Financial Times³, que em editorial apoiou o acordo como uma saída para o impasse com o Irã. Ou com a observação do Council on Foreign Relations4, de NY, a instituição mais influente sobre a política externa dos EUA, para quem o acordo “põe EUA e seus parceiros europeus em situação difícil”, mas “afinal, receber bem a troca de combustível anunciada pode ser a escolha certa para os EUA”.

O analista David Rothkopf, da Foreign Policy5, avalia que o acordo pode ter derrubado anos de decisão bilateral entre EUA e União Soviética e depois EUA e a “comunidade internacional”, no conflito para definir os rumos da região. O acordo Brasil/Turquia/Irã também foi reconhecido por setores brasileiros que costumam ser críticos à nossa política externa, como a Folha de S Paulo6, em editorial nesta terça-feira. Como o ex-ministro Rubens Ricupero, em entrevista ao portal Terra Magazine7, e como o jornalista Jânio de Freitas8, para quem “Já se pode considerar que Lula e a sua equipe de relações externas fizeram no Irã um trabalho positivo para o Brasil”.

Em editorial nesta terça-feira The Guardian9 também caminha na contramão da arrogância de EUA e “comunidade internacional”. O sóbrio jornal britânico disse que o rascunho de sanções preparado contra o Irã “pode ser visto como um tapa das grandes potências nos esforços de negociação de outros países”. E aconselhou: “porém, neste mundo multipolar, Obama não pode se permitir tal coisa”. O jornal também elogiou Turquia e Brasil e lembrou o Japão: “juntas, essas nações assumiram o papel de negociador honesto abandonado por Inglaterra, França e Alemanha”, disse The Guardian.

Na mesma contramão, Roger Cohen, do New York Times10, lamenta que Brasil e Turquia tenha sido esnobados depois de “responderam ao chamado de Obama por uma nova era de responsabilidades compartilhada”. Para Cohen, os EUA não conseguem mais "impor soluções" às crises globais e sua reação ao acordo em Teerã "não fez nenhum sentido". Também o francês Le Monde11, em editorial desta quinta-feira, destaca as atuações de Brasil e Turquia que, depois de sucessos nos temas ambiental e comercial, marcaram uma nova etapa. “Os livros de história vão guardar esta data, 17 de maio, quando o Brasil e a Turquia propuseram à ONU o acordo negociado com Teerã”.

Se os zangões predadores de Obama deixarem.

(1) http://www.reuters.com/article/idUSTRE64H5SL20100518

(2) http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100518/not_imp553182,0.php

(3) http://www.ft.com/cms/s/0/9304584a-61e2-11df-998c-00144feab49a.html

(4) http://www.cfr.org/publication/22144/irans_sketchy_uranium_deal.html

(5) http://rothkopf.foreignpolicy.com/posts/2010/05/17/the_return_of_plan_b_emerging_power_diplomacy_in_the_middle_east

(6) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905201001.htm

(7) http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4435512-EI6578,00-Lula+merece+aplausos+opina+Ricupero+sobre+acordo+com+Ira.html

(8) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1805201005.htm

(9) http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/may/19/iran-nuclear-processing-un-sanctions

(10) http://www.nytimes.com/2010/05/21/opinion/21iht-edcohen.html

(11) http://www.lemonde.fr/opinions/article/2010/05/19/nucleaire-iranien-le-sud-emergent-veut-sa-place-dans-la-negociation_1353888_3232.html

Sidnei Liberal  * Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

Fonte: Publicada 26 de Maio de 2010 - 0h02
http://www.vermelho.org.br/coluna

RESPOSTA AS CRITICAS CONTRA O GOVERNO CHAVES

A Guerra dos Botões

(Caro Marquinho) O poder da mídia está bem mais acima do que o poder eventual de um Cidadão Kane, um Roberto Marinho ou mesmo um Guillermo Zuloaga. O problema maior é o controle da comunicação que no mundo todo está circunscrito a meia dúzia de megaempresas.

Refiro-me à televisão, ao livro, jornal, revista, cinema, rádio, a despejar em nossas cabeças, já muito ocupadas com o cotidiano, a notícia já selecionada, conforme mostra “A Caixa de Sapatos de William Bonner”, postado no Boletim HSLiberal ¹. É desse modo que recebemos, muitas vezes de forma descuidada, a informação que outros interesses produzem. E falo apenas daqueles que, como nós, lê, ouve e vê com alguma criticidade.  Imagine aqueles que nem tempo tem para pensar.

Recorrer à Justiça? Primeiro, ela nunca fará, como nunca fez, a reposição justa por um dano causado pelo desproporcional poder midiático. A notícia irresponsavelmente dada, sem a apuração profissional da cartilha jornalística, não tem o seu desmanche garantido, mesmo que desminta em igual tamanho e lugar. Nem há dinheiro que pague uma difamação, uma calúnia, um dano moral. E veja que a não apuração tem sido a tônica mundial, com reclamos que vão de Obama a Chávez. Em segundo lugar, os donos da Justiça têm o mesmo DNA que os donos da comunicação, no mundo inteiro.

Imagine o estrago que fazem, em escala mundial, os meios de comunicação que, como você bem diz, “pode criar heróis ou bandidos, levar uma pessoa ao sucesso ou apeá-la dele, santificar ou satanizar grupos ou indivíduos”. E quem são os donos dessa mídia pós-derrocada da União Soviética, num mundo não mais bipolar? Hoje, o partido único, que você tanto teme, tem sede em Washington. E quando falo de partido, estou falando do Mercado, do deus-mercado. Mas, também poderia estar falando de único partido no poder nos EUA. Ou os Democratas e Republicanos têm alguma diferenciação ideológica entre si?
A guerra e a arrogância de Obama são diferentes ou mais amenas do que a de Bush? Diminuíram ou aumentaram os esforços da guerra imperialista de ocupação e de alteração da geopolítica mundial? Aumentaram ou diminuíram os poderes dos órgãos multipolares que garantiam certo equilíbrio, certa limitação ao insaciável expansionismo bélico de Washington?

Diante de tanto poder, é desprezível a discussão sobre uma pretensa limitação da mídia na Venezuela. Recorrentes divulgações da imprensa brasileira dizem que a imprensa de Caracas não pode se manifestar contra o governo. Os fatos históricos não são assim. Ali, a mídia privada, que é a grande maioria, pregou explicitamente durantes meses, diariamente, em todos os canais e em todos os horários, a deposição do governo. E a mídia conseguiu o golpe, apeando do poder o presidente eleito pelo voto democrático. Com ajuda de Washington, documentadamente. Veja (não deixe de ver) o vídeo “A revolução não será televisionada”², de cineastas irlandeses. Ou “A Guerra contra a Democracia”³, do premiado jornalista John Pilger. Não sejamos apressados, caro Marquinho, em julgar o processo venezuelano.

Tampouco não nos apressemos em crer, sem criticidade, os mitos e exageros adrede plantados em livros, jornais, cinemas, revistas, televisões, rádios, sobre os processos da antiga União Soviética, da Revolução Cultural chinesa, da Revolução Cubana ou do processo cambojano. Essa visão distorcida e recorrente tem um objetivo muito claro: esconder o outro lado da História. Uma cortina de fumaça esconde a verdadeira dimensão do nazismo, cujas cifras de extermínio, 6 milhões de judeus, são cotejadas com supostos 60 milhões de mortes creditadas a Stalin. A discussão do tema extermínio esconde as mortes praticadas contra a resistência de nações invadidas em sua soberania pelas guerras de expansão e de conquistas de bases militares e de petróleo.

Veja, caro Marquinho, que quando você fala de Hiroshima e Nagasaki, não por sua culpa, não aparece a assinatura na terrível obra macabra com que os Estados Unidos da América inauguraram  seus brinquedos de destruição em massa. Milhares de vidas destruídas de uma só vez, outras tantas condenadas a doenças fatais pelo resto de suas vidas. Até parece que foi fruto de uma fatalidade. Mas, não foi. Foi tio SAM quem cortou a fita simbólica da Era Nuclear. Hoje, EUA declaram ter 5 mil e tantas ogivas nucleares, fora as não contabilizadas, por não se submeterem ao crivo da AIEA. Falo das que Washington assiste “tecnicamente”, na Índia, no Paquistão, em Israel.

Por falar em Israel, Intifada é, do lado palestino, “A Guerra dos Botões”4, diante do despejar de mísseis judeus numa população de velhos, crianças e mulheres, encurralada no gueto de Gaza. Ou mísseis ianques nos povoados da Coréia, do Vietnã, antes, do Iraque, do Afeganistão, hoje.

E você sabe, caro Marquinho, de que lado estão os pouquíssimos donos de quase todos o meios de comunicação no mundo.

(1) http://boletimhsliberal.blogspot.com/search?updated-min=2009-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&updated-max=2010-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&max-results=33

(2) http://www.google.com/url?q=http://www.youtube.com/watch%3Fv%3DaQu8ic0WRXo&source=video&vgc=rss&usg=AFQjCNGAnyXoOoAZ_6WE4hKLqmxEREfbvQ


(3) http://www.youtube.com/watch?v=zP1gBNjpshA


(4) Filme clássico do cinema francês, de um lirismo impressionante, dirigido por Yves Robert, em1962, baseado na obra do escritor francês Louis Pergaud, “La Guerre des Boutons” (1913).
Sidnei Liberal  - * Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

O Jurista e a luta de ideias

Instrumento contraditório
A sociedade atual se apresenta sob a hegemonia da classe capitalista. Nessa realidade o resultado do processo legislativo configura um ordenamento jurídico que tem por fundamento a manutenção das diferenças sociais – onde a propriedade privada dos meios de produção é um dos seus grandes pilares. O Estado se expressa através da lei, tendo na Constituição a síntese de seus objetivos. Os valores que se cristalizam na constituição servem, ao mesmo tempo, de fundamento e limitador para ação do Estado. Então nasce um ordenamento contraditório, pois nele encontraremos elementos que garantem a dominação da classe no poder, mas também encontraremos expressos nesse ordenamento os interesses dos extratos sociais que não detém o poder. O Estado não pode assumir seu lado de classe, deve parecer neutro perante a sociedade. Se manifestasse expressamente seu caráter de classe, perderia sua legitimidade para mediar as relações sociais. Aí reside o espaço que devemos explorar. É na contradição interna do ordenamento jurídico que os juristas vinculados aos interesses dos excluídos podem ajudar na luta de ideias.

Um exemplo concreto

Sou servidor do Poder Judiciário, numa comarca que atuei havia um processo de reintegração de posse, referente a uma área ocupada por 300 famílias. Já havia a determinação de reintegração em favor do proprietário, dada pelo juiz anterior. O oficial de justiça pediu ao magistrado o reforço da Brigada Militar para poder cumprir a ordem judicial. Minha função era elaborar uma proposta de decisão e apresentar ao magistrado. Não podia dar uma contra-ordem, pois o ordenamento jurídico estava ao lado do proprietário. Então, embasei meu parecer na dignidade da pessoa humana. Não discuti a propriedade, mas suspendi, por tempo indeterminado, a reintegração, até que o poder público propiciasse condições dignas para a saída daquelas famílias.

O direito do proprietário sobre a terra não podia ser retirado, pois ele estava sob o amparo do ordenamento jurídico, mas aquelas famílias tinham que ter sua dignidade respeitada, pois nosso ordenamento também defende esse princípio. Não existia propriedade que tirasse a dignidade dos ocupantes, não podiam ser “jogados pra fora” como queria o proprietário da área. Nesse conflito de direitos o Estado, mesmo na ordem capitalista, não pode simplesmente tomar o lado da propriedade. Porque a propriedade privada e a dignidade da pessoa humana estão no mesmo patamar jurídico, são preceitos constitucionais - servem de fundamento para a ação e limitação do Estado Brasileiro.

Na prática, a reintegração foi suspensa por quatro meses. Nesse ínterim, a comunidade se mobilizou e procurou a prefeitura e conseguiu a decretação da utilidade pública daquela área. No final, com o prazo que a decisão judicial propiciou, foi possível reverter todo o destino daquelas famílias. Todos permaneceram na área e hoje são os legítimos proprietários. Esse é só um exemplo, nosso ordenamento tem várias contradições, que se bem manejadas podem ajudar na garantia de direitos.

O papel do jurista

Ante um ordenamento jurídico contraditório e, em última instância, mantenedor do sistema capitalista, aqueles que operam com esse ordenamento têm função importante na luta de ideias, seja em favor dos excluídos ou contra eles.

O jurista pode ser um servo da lei, tornando-se, por consequência, um servo da manutenção do “status quo”. Entretanto, se for consciente de sua função, se parar para refletir quanto às contradições existentes na sociedade atual, pode se rebelar e se colocar a serviço da transformação social. Quando toma essa postura e se depara com uma lei injusta, deve revelar a todos os equívocos de tal lei, suas impossibilidades e aporias.

Os setores progressistas devem criar seus juristas - com o objetivo de disputar a hegemonia no campo do direito. O jurista, vinculado aos interesses das maiorias, deve defender e incorporar seus valores, mostrando sua universalidade e sua maior capacidade de incluir a maioria dos setores sociais junto ao seu projeto político. Deve ter uma atuação firme e forte, ajudando no enfrentamento das injustiças sociais impostas pelo Estado capitalista.

Direito e luta de ideias

Num país como o Brasil, que para ser entendido deve se ter em conta o conceito de revolução passiva, onde as transformações nunca se deram com uma ruptura única e definitiva, mas dentro de um processo, longo, contraditório e lento de transições. E onde o Estado sempre teve – e continua tendo - um papel decisivo no desenvolvimento econômico, político e social. Nenhuma tática política será eficaz se não incluir em seu campo de atuação a esfera jurídica como espaço de luta e de disputa de ideias.

Uma ordem social, para se consolidar, precisa de valores que a legitimem e que sirvam de base para a sua consolidação. Em dado momento histórico esses valores se cristalizam em instituições que corporificam tais valores e simbolizam o avanço social. Lembremos o que representou os Sovietes para luta socialista no século XX. Nesses momentos – quando os valores se corporificam em instituições -, as ideias ganham força e dão consistência às transformações sociais e políticas.

A luta de ideias é um campo de batalha importante para a transformação social. Precisamos ocupar espaço na luta de ideias no direito, dada a importância do campo jurídico na manutenção e transformação das relações de poder. O jurista foi um intelectual que ocupou um papel importante para a consolidação da ordem atual. Precisamos formar juristas que tenham uma relação estreita com os diversos movimentos sociais. Juristas orgânicos que incorporem as bandeiras desses lutadores, que deem um conteúdo político a essas bandeiras e direcione-as para a consolidação de valores sociais mais avançados. Valores esses que sirvam de justificação e legitimação para uma nova ordem política e social: o socialismo.

* Leandro Alves é Servidor do Poder Judiciário Gaúcho, ex-assessor Sindical, ex-assessor Parlamentar. E-mail: leandroalvesrs@hotmail.com

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

A história de célia e bona barcia: ousar lutar, ousar filmar*

João Carlos Bona Garcia foi fundador do Partido Operário Comunista (POC) de Passo Fundo - RS, originado a partir da Política Operária (POLOP), no final da década de 1960.

 

Em 1970, membros do POC passaram a ação conjunta com organizações da guerrilha urbana. Neste contexto, militantes criaram a Unidade de Combate "Manoel Raimundo Soares" (UC/MRS),  homenagem ao sargento que apareceu morto em agosto de 1966, próximo a Ilha das Flores, boiando com os pés e mãos amarradas, após ter sido preso em março, panfleteando contra a Ditadura.

A UC/MRS passou a executar ações armadas com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), onde já militava Bona, como a tentativa de seqüestro de Curtis Carly Cutter, cônsul norte-americano em Porto Alegre, em 4 de abril de 1970. Dois dias antes, Irgeu João Menegon, Reinholdo Amadeu Klement, Bona Garcia e Luiz Carlos Dametto expropriaram um Volks do Banco do Brasil que transportava 65.000 cruzeiros da Companhia Ultragás, empresa presidida por Albert Boilesen, colaborador ativo da Operação Bandeirantes (OBAN).

Para Bona Garcia, a “tentativa de sequestro foi a causa do extermínio das organizações de luta armada no Rio Grande do Sul”, seguindo-se o uso sistemático da repressão. Bona foi preso em abril de 1970, em Porto Alegre, sendo levado para a DOPS, com sessões de tortura. Depois de um mês, foi destinado ao Presídio Central e para a Ilha do Presídio da Ilha.

Em 13 de janeiro de 1971, Bona Garcia foi um dos 70 presos políticos trocados pelo Embaixador da Suíça, Giovanni Enrico Bucher, sequestrado pela VPR, numa operação de Carlos Lamarca e de Devanir José de Carvalho, do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Banidos do Brasil, o grupo dos 70 foi para Santiago do Chile, durante o governo socialista de Salvador Allende.

Do Chile, Bona Garcia escreveu carta a Célia, a quem conhecera aos 15 anos, iniciando o namoro pouco depois de ela mudar de Restinga Seca, a terra do pintor Iberê Camargo, para Passo Fundo, em 1966. Célia foi para o Chile, em junho de 1971. No Chile, o nascimento do filho Rodrigo, em 1973. Porém, depois de uma viagem a Argélia para uma reunião da VPR, aconteceu o Golpe de 11 de setembro. A saída do Chile era inevitável. Seu cunhado Leopoldo conseguir a ida de um padre ao Chile, que retirou Célia e Rodrigo. Após, Bona conseguiu uma entrada cinematográfica na Embaixada da Argentina, com a Buenos Aires.

Na Argentina, surgiu a ideia do exílio na Argélia com a ajuda de Miguel Arraes. Lá, o nascimento de Luciano. Posteriormente, no final de 1974, a França e em seguida a atuação no Comitê Brasileiro pela Anistia, com “gente do MDB, do PC, do PCdoB, do PCBR, da VAR, da ALN, trotskistas, até de um  novo movimento criado no exterior , o OMO”, antes da volta ao Brasil e a Passo Fundo, em 1979. Depois disso, como disse em Verás que um filho teu não foge à luta, o retorno à política, a sua parte para o “fortalecimento da democracia”.

Esta trajetória pode ser vista no filme Em teu nome, de Paulo Nascimento. O diretor e roteirista ganhou o kikito de melhor direção no 37º Festival de Gramado, em 2009.

Filmado no Brasil, na França, no Marrocos e no Chile, Em teu nome aborda a transformação pessoal de militantes e exilados políticos, a primeira grande película sobre a resistência à Ditadura no Rio Grande do Sul.

As licenças poéticas do excepcional roteiro não tiram o fundo histórico em que a obra se inspirou. Com um engajado humanismo, traz à tela uma versão ousadamente filmada, um extraordinário momento do cinema político rio-grandense.

Paulo Nascimento abre os arquivos da memória contra o esquecimento, disputa por uma verdade reivindicada na poesia de Thiago de Mello, poeta que Recebeu o Grupo dos 70, no Chile: “Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras”.

* Este artigo foi publicado em versão ampliada, com o título “Ousar lutar, ousar filmar”, no Caderno Mix – Ideias, do Diário de Santa Maria, edição de 29.30/05/2010, p. 10-11.
** Professor Adjunto do Departamento de História da UFSM, Doutor em História Social do Trabalho.

Fontes:
- BONA GARCIA, João Carlos; POSENATO, Júlio. Verás que um filho teu não foge à luta. Porto Alegre: Posenato Artes e Cultura, 1989.
- Em teu nome. Direção: Paulo Nascimento. Ficção, Brasil, 2009, 100', Accorde Filmes.
- MELLO, Thiago de. Os estatutos do homem (Ato Institucional Permanente). Poema.


Diorge Konrad
Doutor em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Professor Adjunto de História do Brasil e de Teoria da História do Departamento de História da UFSM - RS
 Site:  http://www.vermelho.org.br/coluna

Nunca está só quem não tem boas memórias para recordar

Em 2009, pessoas que moravam sozinhas eram 30% na Inglaterra; 25% nos EUA (em Nova York, chegavam a 50%); e 11% no Brasil. NO ENTANTO, SOLTEIROS SERIAM MAIS PROPENSOS A DOENÇAS

 

Uma tendência a partir da década de 80 nos países de cultura europeia é a moradia unipessoal, hoje um fenômeno social mundial. Argumenta-se que o aumento da expectativa de vida criou condições para que uma população com mais pessoas idosas morasse sozinha. Depois virou um estilo de vida de jovens que conseguiam se sustentar, fora de suas casas de origem, demolindo o mito de que morar só é um sofrimento.

Em 2009, a taxa de pessoas que moravam sozinhas era de 30% na Inglaterra; 25% nos Estados Unidos, mas em Nova York chegava a 50,6%; e de 11% no Brasil, onde a maioria das pessoas que moram sozinhas é de pessoas mais velhas - cerca de 40% com mais de 60 anos. Na cultura brasileira, um homem morar sozinho não é tão estranho quanto uma mulher. Se para o homem é uma opção, para a mulher é "encalhe", daí o estigma de mal-amada e enjeitada que ficou no caritó. Lembra da música: "Oi, bota pó, Vitalina tire o pó, moça velha não sai mais do caritó"? Era a imagem do inferno!

Eu morria de medo de ficar no caritó, explicado na crônica "Vitalinas", por Rachel de Queiroz: "Caritó é a pequena prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem, fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo e o cachimbo. Vitalina, conforme a popularizou a cantiga, é a solteirona, a moça velha que se enfeita - bota pó e tira pó -, mas não encontra marido. E assim a Vitalina que ficou no caritó é como quem diz que ficou na prateleira, sem uso, esquecida, guardada intacta" ("O Cruzeiro", 19.9.1959).

Dados científicos atuais demonstram que o caritó, como significado de solteirice, adoece é os homens! Recente estudo da Universidade de Cornell (EUA) constatou que pessoas idosas que moram sozinhas, sem vínculos com a família e nem com amigos, são propensas a doenças físicas e mentais. Barbara Bartlein, autora de "Why Did I Marry You Anyway?", diz que tudo indica que os homens se beneficiam mais do casamento do que as mulheres, embora a expectativa de vida das mulheres seja maior no mundo.

A taxa de mortalidade de solteiros é 250% mais elevada, por todas as causas de morte, do que a dos casados; os solteiros consomem bebidas alcoólicas duas vezes mais que os casados; e que no caso de câncer os casados tendem a ter melhores taxas de recuperação.

Pesquisa da Universidade de Tel Aviv (Israel, 2010), com mais de 10 mil funcionários públicos israelenses, acompanhados por 34 anos, comparando solteiros com casados na década de 60, concluiu que homens que relataram serem felizes no casamento correm menos risco de acidente vascular cerebral fatal do que os solteiros e os infelizes no casamento, que apresentaram 64% mais chances de um "derrame fatal".

Estudo da Universidade de Otago (Nova Zelândia, 2010), com mais de 34 mil pessoas de 15 países, concluiu que "o fim de um casamento, seja pelo divórcio ou por morte do cônjuge, está associado a um aumento nos riscos de distúrbios de saúde mental, com as mulheres sendo mais propensas a abusar de drogas - incluindo álcool e medicamentos -, e os homens a se tornarem depressivos; e que homens casados correm menos riscos de problemas com ansiedade e depressão do que os solteiros".

Morar só é o mesmo que viver em solidão? Solidão é sinônimo de sofrimento? Por entender que quem tem memórias prazerosas para recordar nunca está só, vejo a solidão como um estado mental, prazeroso ou não, que independe de companhia presencial.
Fatima Oliveira *
Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005. 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna