Não seria possível avaliar a
magnitude de sua grandeza sem levar em conta que aqueles com os quais
escreveu o drama de sua vida também foram figuras extraordinárias, como
Antonio Maceo, símbolo perene da firmeza revolucionária que protagonizou
o Protesto de Baraguá, e Máximo Gómez, internacionalista dominicano,
professor dos combatentes cubanos nas duas guerras pela independência
onde participaram.
A Revolução Cubana que, ao longo de mais de meio século, vem resistindo
aos ataques do império mais poderoso existente, foi fruto dos
ensinamentos daqueles predecessores.
Apesar de que quatro páginas do diário de Martí nunca estiveram ao
alcance dos historiadores, o que consta no resto daquele diário pessoal,
detalhadamente escrito, e outros documentos seus daqueles dias, é mais
do que suficiente para conhecer os detalhes do acontecido. Como nas
tragédias gregas, foi uma discrepância entre gigantes.
Na véspera de sua morte em combate, escreveu a seu íntimo amigo, Manuel
Mercado: "Já corro todos os dias o perigo de dar minha vida pelo meu
país e por meu dever — já que o entendo e tenho ânimos para realizá-lo —
de impedir a tempo, com a independência de Cuba, que os Estados Unidos
se estendam pelas Antilhas e caiam com essa grande força sobre nossas
terras da América. Tudo o que fiz até hoje e farei, é para isso. Em
silêncio teve que ser e indiretamente, porque há coisas que, para
consegui-las, devem estar ocultas, e de se proclamarem como são, trariam
dificuldades muito sérias para conseguir sobre elas o fim".
Quando Martí escreveu estas palavras lapidárias, Karl Marx já tinha
escrito O Manifesto Comunista, em 1848, isto é, 47 anos antes da
morte de Martí, e Charles Darwin publicara A origem das espécies,
em 1859, para citar só duas obras que, na minha opinião, mais
influenciaram na história da humanidade.
Marx era um homem tão extraordinariamente desinteresseiro, que seu
trabalho científico mais importante, O Capital, talvez jamais se
teria publicado se Friedrich Engels não tivesse reunido e organizado os
materiais aos quais o autor dedicou sua vida toda. Engels não só se
encarregou desta tarefa, mas também foi autor de uma obra intitulada
Introdução à dialética da natureza, onde falou do momento em que a
energia do nosso sol se esgotaria.
O homem ainda não sabia como libertar a energia existente na matéria,
descrita por Albert Einstein em sua famosa fórmula, nem dispunha de
computadores que fazem bilhões de operações por segundo, capazes de
reconhecerem e transmitirem, ao mesmo tempo, os bilhões de reações por
segundo que têm lugar nas células das dezenas de pares de cromossomos
que a mãe e o pai entregam em partes iguais, um fenômeno genético e
reprodutivo que conheci depois do triunfo da Revolução, buscando as
melhores características para a produção de alimentos de origem animal
nas condições do nosso clima, que se estende às plantas, através de suas
próprias leis hereditárias.
Com a educação incompleta que os cidadãos de mais recursos recebíamos
nas escolas, a maioria privadas, consideradas os melhores centros de
ensino, tornávamo-nos analfabetos, com um pouco de mais nível que
aqueles que não sabiam ler nem escrever ou que frequentavam as escolas
públicas.
Por outro lado, o primeiro país do mundo que tentou aplicar as idéias de
Marx foi a Rússia, o menos industrializado dos países da Europa.
Lênin, criador da Terceira Internacional, considerava que não havia no
mundo organização mais leal às idéias de Marx que a fração bolchevique
do Partido Operário Social-Democrata Russo. Embora boa parte daquele
imenso país vivesse em condições semifeudais, a classe operária era
muito ativa e combativa.
Nos livros que Lênin escreveu depois de 1915, foi crítico incansável do
chauvinismo. Em sua obra O imperialismo, fase superior do capitalismo,
escrita em abril de 1917, meses antes da tomada do poder como líder da
fração bolchevique daquele partido frente a fração menchevique,
demonstrou que foi o primeiro em compreender o papel que estavam
chamados a desempenhar os países sujeitos ao colonialismo, como a China e
outros de grande peso em diversas regiões do mundo.
Por sua vez, a valentia e audácia de que Lênin era capaz foi demonstrada
pelo fato de ter aceitado o trem blindado que o exército alemão, por
conveniência táctica, lhe proporcionou para transladar-se da Suíça às
proximidades de Petrogrado, pelo que os inimigos dentro e fora da fração
menchevique do Partido Operário Social-Democrata Russo não tardaram em
acusá-lo de espião alemão. De não ter utilizado o famoso trem, o fim da
guerra teria surpreendido ele na distante e neutral Suíça, com o qual o
minuto ótimo e adequado se teria perdido.
De alguma forma, por puro azar, dois filhos da Espanha, graças a suas
qualidades pessoais, passaram a ter um papel relevante na Guerra
Hispano-Norte-Americana: o chefe das tropas espanholas na fortificação
de El Viso, que defendia o acesso a Santiago da altura de El Caney, um
oficial que combateu até ser mortalmente ferido, causando aos famosos
Rough Riders — ginetes duros, norte-americanos organizados pelo então
tenente-coronel Theodore Roosevelt, que por causa do precipitado
desembarque desceram sem seus fogosos cavalos — mais de trezentas
baixas, e o almirante que, cumprindo a estúpida ordem do governo
espanhol, partiu da baía de Santiago de Cuba com os fuzileiros navais a
bordo, uma força seleta, da única maneira possível, que foi desfilar com
cada navio, um a um, saindo pelo estreito canal de acesso, tendo em
frente a poderosa frota ianque, que com seus encouraçados em linha
disparavam com os potentes canhões contra os navios espanhóis, de muito
menor velocidade e blindagem.
Logicamente, os navios espanhóis, suas dotações de combate e os
fuzileiros navais foram afundados nas profundas águas da fossa de
Bartlett. Apenas um desses navios chegou a poucos metros da beira do
abismo. Os sobreviventes daquela força foram presos pela esquadra dos
Estados Unidos.
A conduta de Martínez Campos foi arrogante e vingativa. Cheio de rancor
por seu fracasso na tentativa de pacificar a Ilha, como tinha feito em
1871, apoiou a política ruim e rancorosa do governo espanhol. Valeriano
Weyler o substituiu no comando de Cuba; este, com a cooperação dos que
enviaram o encouraçado Maine a buscar justificativas para a intervenção
em Cuba, decretou a reconcentração da população, que causou enormes
sofrimentos ao povo de Cuba e serviu de pretexto aos Estados Unidos para
estabelecerem seu primeiro bloqueio econômico, o qual deu lugar a uma
enorme escassez de alimentos e provocou a morte de incontáveis pessoas.
Assim se viabilizaram as negociações de Paris, nas que a Espanha abriu
mão de todo direito de soberania e propriedade sobre Cuba, depois de
mais de 400 anos de ocupação em nome do Rei da Espanha, em meados de
outubro de 1492, após afirmar Cristóvão Colombo: "esta é a terra mais
formosa que olhos humanos viram".
A versão espanhola da batalha que decidiu a sorte de Santiago de Cuba é a
mais conhecida, e sem dúvida houve heroísmo se é analisado o número e a
patente dos oficiais e soldados que, numa situação muito desvantajosa,
defenderam a cidade, honrando a tradição de luta dos espanhóis, que
defenderam seu país dos aguerridos soldados de Napoleão Bonaparte, em
1808, ou a República Espanhola contra a investida nazi-fascista, em
1936.
No ano de 1906, uma ignomínia adicional caiu sobre o comitê norueguês
que outorga os prêmios Nobel, ao buscar ridículos pretextos para
conceder essa honra a Theodore Roosevelt, eleito duas vezes presidente
dos Estados Unidos, em 1901 e 1905. Nem sequer era clara sua verdadeira
participação nos combates de Santiago de Cuba à frente dos Rough Riders,
e pôde ter muito de lenda a publicidade que recebeu posteriormente.
Eu apenas posso testemunhar a forma em que essa heróica cidade caiu nas
mãos das forças do Exército Rebelde, em 1º janeiro de 1959. Então, as
ideias de Martí triunfaram em nossa Pátria!