quarta-feira, 26 de maio de 2021

Na distância do dizer e fazer faltam gerânios


''Quando apenas se olha, discursa e pouco faz, o jardim da luta é terra prometida, terra vazia ou terra arrasada. A retórica segue bonita, mas o jardim, a rua, o horizonte vazio e triste'' (Prof. Neuri a2)


A palavra ‘longe’ pode ser mero advérbio relativo de lugar, a depender de quem o diz, quem ouve, a que referência. Dos gregos a nós, a dimensão ou noção de espaço, tempo e lugar, do dizer e fazer, pode ser descrito, conceituado, mas não findado como determinismo. Dizer isso é importante, quando queremos aferir dimensão daquilo que não só se vê, se vocifera, mas acima de tudo, se faz. Pois, entre o dizer e o fazer, por vezes, se abrem abismos difícil de atravessar, a não ser por palavras, quando as pernas se recusam enfrentar.


A luta deveria ter um pouco dos girassóis (estratégicos na luz do sol, práticos no escuro da noite (na espera do amanhecer) mas nem sempre, ou quase nunca, é. Quando muito, a transformamos em jardim exótico de: rosas com espinhos, bonitas de ver, mas temerosas por espinhar. Como dama da noite, tímida com a luz do dia e desinibida ao anoitecer – embora pouca presença para a ver. No otimismo, até a imaginamos como rosa do deserto, resiliente, teimosa e resistente, apenas para os fortes, no pessimismo é Rosa de Hiroshima, estúpida, sorrateira e inválida, típica dos covardes, que usam das piores ações para justificar a condição.

Mas quando a luta se faz jardim que encanta por dentro e regado por fora com prática transformadora, ela redimensiona a realidade, mexe no espirito, preenche de coragem, provoca mobilidade e transformação na realidade. E aqui lembro dos dirigentes, militantes que pouco falam e muito fazem – e muitas vezes, sem precisar de diretivas. Estes, assemelham-se a história ‘A rua triste dos Gerânios’ descrita pelo escritor Paulo Coelho há quase uma década, nesta, o escritor relata:

‘’Numa rua cinzenta e triste de um bairro operário de Liverpool, uma mulher colocou um vaso de gerânios na janela. Dois dias depois, sua vizinha da frente por inveja, ou porque notou que os gerânios eram bonitos colocou dois vasos de flores. Alguns trabalhadores, voltando para casa, notaram duas janelas diferentes. Suas mulheres, vaidosas, resolveram também comprar flores. Um mês depois, todas as janelas da rua tinham pequenos jardins. Alguém pintou a fachada do lugar onde morava, já que a beleza das flores realçava a feiura do resto. O exemplo foi imitado. Um ano depois, a cinzenta e triste Rua de Liverpool se transformou num referencial de urbanização. Hoje, cinco anos depois, o bairro inteiro está sendo modificado, com apoio da prefeitura. - Tudo porque, um belo dia, alguém colocou um vaso de gerânios na janela.’’

Porque descrevo isso? Porque a luta exige sensibilidade para ver, iniciativa, estratégia, proatividade, e esta, é carregada de uma palavrinha mágica e provocativa chamada convicção, que se traduz em sei o que faço, porque faço e assumo os desafios e responsabilidades sobre aquilo que preciso ver e fazer. Pois, quando apenas se olha, discursa e pouco faz, o jardim da luta é terra prometida, terra vazia ou terra arrasada. - A retórica segue bonita, mas o jardim, a rua, o horizonte vazio e triste.

Ver-pensar-fazer é mais fecundo que falar-justificar-acomodar. Por ora, se ainda não conseguimos enxergar os ‘gerânios’ na janela, que possamos aprender com os girassóis durante os dias de luz e o escurecer das noites. Na luta, quem não consegue ver e agir na luz do sol, muito menos enfrentará as noites escuras que tem. - Por mais ‘gerânios’ na janela!!!


Prof. Neuri A. Alves