terça-feira, 25 de março de 2014

ADÉLIA PRADO: Os versos desalinhados rimando alienação!

“Essa 'entrevista' existiu ou inventei.”

Explico: Assisti na TV Cultura ontem a noite entrevista da memorável poeta mineira Adélia Prado de quem sempre tive muita apreço pelos versos alinhados aos espantos do mundo. Mas confesso: por vários momentos na entrevista foi decepcionante. 

ADÉLIA DISSE: que era adepta da Teologia da Libertação mas que deixou de defender quando entendeu melhor o Documento do Concilio Vaticano II; 

MINHA OPINIÃO: - acho Adélia nunca entendeu nada do Vaticano II, nunca leu em especial documentos como Medelin, Puebla e Santo Domingo. Se leu não entendeu, se entendeu esqueceu e se esqueceu porque não era importante pra ela. E nem falo da mulher poeta, falo da graduada em filosofia. 

ADÉLIA DISSE: que fez parte dos grupos de estudos da Igreja Progressista e que foi critica ferrenha da Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) que conduziu o processo de condenação do Livro 'Igreja: Carisma e Poder' de Leonardo Boff e também sua expulsão da Igreja Católica. 

MINHA OPINIÃO: fica mais claro que a poeta nunca entendeu o poder de disputa dentro da Instituição Católica e muito menos o papel inquisidor do Cardeal e Teólogo Conservador Joseph Ratzinger. Ela não entendeu que Ele passou 30 anos velando ocupar o cargo de Papa como um urubu esperando até o ultimo momento a morte de João Paulo II para assumir. Certamente Adélia não leu o Documento ridículo "Dominus Iesus'' escrito por ele enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no incio do ano 2000 e assinado por João Paulo II como se fosse obra do papa. Onde ele usa de proselitismo e falta de humildade para dizer que a Igreja Romana é única deixada por JC á Pedro e portanto unica promotora da Salvação. 

ADÉLIA DISSE: que tem imenso amor pelo Papa Francisco, pela simplicidade, alegria e identidade com o povo simples; 

MINHA OPINIÃO: para mim mais uma demonstração de que ela nem conhecia o trabalho demolidor de Joseph Ratzinger na cúria romana (queimando homossexuais, condenado divorciados, inocentando padres pedófilos), pois o mesmo nunca gostou do Cardeal Bergoglio, o argentino que se tornou Papa Francisco pelo espírito simples carismático de sempre. Ele sim é uma espécie de paragrafo vivo do Vaticano II e dos Documentos de Puebla, Medelin e Santo Domingo que convocam o povo ao protagonismo das mudanças, justiça social a partir de sua realidade. (leia-se libertação); 

ADÉLIA DISSE: "Nós estamos vivendo um tempo muito cinzento, é uma ditadura disfarçada, por causa dos desmandos políticos"; 

MINHA OPINIÃO: parece que a nossa escritora ao longo de suas décadas de vida se refugiou no 'Alice no país das maravilhas', na 'A Cidade do Sol' de Campanella, ou em 'A Cidade Eterna' de Santo Agostinho. Ela esqueceu os 500 anos de colonização que deveriam ser 'bem mandado' mesmo e nem levou a sério a 'Sociedade Alternativa' de Raul Seixas. Ou seja, revelou nas entrelinhas que talvez a alternativa para um Brasil 'bem mandado' possa ser o conterrâneo tucaninho ex governador de minas de uma linhagem provinciana e oligárquica. 

ADÉLIA DISSE: entre linhas que tem aversões a Vladimir Putin, Dilma, governos progressista da nossa América, movimentos e organizações que buscam justiça social; 

MINHA OPINIÃO: ao desnudar-se sociologicamente o que poderia estar carregando por décadas Adélia nos ajuda entender melhor a afirmação: 

''AS VEZES NO CORAÇÃO DE UM LIBERTÁRIO PODE ESTAR REPRIMIDO O DESEJO DE SER UM GRANDE CONSERVADOR''. 

A entrevista foi marcada por duas realidades tacanhas: as perguntas simplistas, vazias e desencontradas dos entrevistadores e as respostas em sua grande maioria desprovidas de uma coerência e o encantamento dos versos de outrora. 

Me fez adaptar célebre verso da poeta: “Essa 'entrevista' existiu ou inventei.” - Pois a estrofe perfeita é decepção! 

Neuri Adilio Alves 
Filósofo, Professor e Pesquisador