quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Allende, Che e a luta por uma América Latina livre e solidária

 
Leandro Alves *
 

Se estivessem vivos Salvador Allende e Ernesto Che Guevara completariam, no próximo mês, cento e dois e oitenta e dois anos respectivamente. Resgatar a história desses dois ícones da vida política latino-americana não é apenas falar do passado baseado em algum romantismo saudosista. Falar do Companheiro Presidente e do Comandante Che é falar de resistência popular, de combatividade, de ousadia, de amor à vida, de justiça social, enfim, é falar da luta pelo socialismo.

 

O companheiro Presidente
Em 26 de junho de 1908, nascia, no Chile, Salvador Allende. Foi líder estudantil, um dos fundadores do Partido Socialista Chileno, Deputado, Ministro da Saúde, Senador, perdeu três eleições, 1952, 1958 e 1964 até eleger-se Presidente do Chile em 1970 pela Unidade Popular.

A característica mais importante na sua vida política foi a busca pela unidade da esquerda chilena, que tinha como principais partidos o Partido Socialista e o Partido Comunista. Allende entendia que esse era o primeiro passo para a conquista do Poder Político e a construção do socialismo – que em sua opinião passava pela via institucional. Essa posição ficou conhecida como a “via chilena para o socialismo”.

O guerrilheiro humanista

Em 14 de junho de 1928, nascia, na Argentina, Ernesto Che Guevara. Em 1953 conheceu Raul e Fidel Castro, em 1956 desembarcava em Cuba junto com o exército rebelde. Depois da vitória, Che torna-se o segundo homem mais importante de Cuba. Che passou de Guerrilheiro Internacionalista a Ministro cubano. Uma de suas características mais importantes era sua convicção humanitária. Tinha um espírito inquieto e nutria um intenso repudio pela exploração capitalista. Esse foi um dos principais motivos que levou Che a deixar Cuba e fosse “construir” guerrilhas.

Che acreditava ser possível exportar o modelo cubano para todo o mundo. Depois da revolução cubana Che realizou mais três expedições guerrilheiras, em 1964, na Argentina, onde seu grupo foi descoberto e a maioria morta ou capturada. A segunda, em 1965, no antigo Congo Belga, onde não obteve sucesso novamente, e em 1966, na Bolívia, não só não obteve êxito, como acabou capturado e covardemente assassinado.

Transição ou Ruptura, não faz diferença

Allende dedicou-se a construção de uma grande frente que abrisse caminho dentro da legalidade, através de reformas democrático-populares, para o socialismo em seu país. Durante seu governo nacionalizou as minas de cobre, principal riqueza chilena, estatizou as minas de carvão e os serviços de telefonia, aumentou a intervenção nos bancos, fez a reforma agrária. O problema, é que Allende esperava – por confiança numa trajetória de institucionalidade sem rupturas que existia no Chile - que as elites assistiriam inertes enquanto as reformas fossem realizadas. A vida mostrou que ele estava errado.

Che, por sua vez, defendeu e praticou a revolta armada como forma de tomada de poder e a construção do socialismo. Para a América Latina defendia a guerra de guerrilha, como modelo universal. Para Che se uma vanguarda armada se instalasse no campo e conquistasse o apoio dos camponeses poderia derrotar qualquer exército. Chegou a dizer que “não seria necessário esperar que ocorressem as condições gerais objetivas” para a tomada do poder.

Um dos ensinamentos que devemos extrair dessas duas histórias é que as elites não aceitam perder poder, não importa a forma. Não importava se um tentou construir o socialismo a partir de um processo de transição dentro dos marcos da legalidade e o outro buscasse o socialismo através da luta armada. Para as elites não havia diferença entre eles, ambos representavam perigo e deveriam ser aniquilados. O ensinamento a ser tirado de seus exemploes é que devemos estar preparados para todas as formas de lutas.

O imperialismo a espreita

O sistema capitalista apresenta sinais de fadiga e instabilidade. Suas crises se apresentam cada vez mais seguidas e duradouras. A história já mostrou que em momentos de crise as elites preferem apelar para seus setores mais atrasados e sanguinários a perderem dinheiro e poder tal como aconteceu no Chile e outros países da América Latina que foram vítimas de ditaduras patrocinadas pelos EUA.

Para os que acham que estou exagerando lembro que em abril de 2008 foi reativada a 4ª Frota dos Estados Unidos. A 4ª Frota é voltada para operações na América Latina. Conforme matéria no Le Monde Dipomatique Brasil (edição de junho/2008) a 4ª Frota “É um poder ao qual nenhum país latino-americano tem forças para se opor”. Sem falar na 2ª e 6ª Frotas (Mediterrâneo), 3ª Frota (norte e leste do Pacífico), 5ª Frota (Golfo Pérsico), 7ª Frota (Oceano Índico e Oeste do Pacífico). Quem acha que esse aparato militar foi feito para fazer turismo pelos mares do planeta está redondamente enganado.

Exemplo de unidade e combatividade

Na atualidade os exemplos de unidade política e combatividade na luta, representado por Allende e Che continuam vigentes. Na atual quadra da luta política suas condutas ganham sentido estratégico tornando-se fundamental para os rumos da humanidade. Os lutadores sociais têm na atuação destes dois defensores do socialismo um grande referencial político. O humanismo socialista de Che e a defesa da justiça e inclusão social por Allende não morreram com eles. São bandeiras dos militantes sindicais, estudantis, comunitários, feministas, enfim, de todos que buscam uma sociedade verdadeiramente humana e igualitária.

As tarefas que se apresentam para a humanidade neste momento histórico exigem dos lutadores sociais unidade e combatividade. Precisamos amadurecer e entender que a luta política é complexa e precisa de unidade entre os setores avançados da sociedade, tal como defendia Allende. A divisão da esquerda só serve às elites. A combatividade é fundamental para que os lutadores sociais não se acomodem com as “comodidades” da institucionalidade e continuem lutando por uma sociedade justa e igualitária para todos, como nos ensinou Che.

Ensinamentos e continuidade

A trajetória desses dois lutadores nos ensina que não podemos copiar modelos e que devemos construir nossos caminhos a partir de nossa realidade político-social. Importante ressaltar, pois história desses dois lutadores mostra que não podemos subestimar as forças políticas contrarias aos ideais humanitários.

Allende e Che seguiram caminhos diferentes ao longo de suas vidas, mas compartilhavam dos mesmos ideais humanitários e socialistas. A dedicação que tiveram para a construção de uma sociedade socialista é exemplo para todas as gerações. Mais que homenageá-los devemos honrar sua história continuando sua luta.

Lutemos por uma América Latina livre e solidária!

* Leandro Alves é Servidor do Poder Judiciário Gaúcho, ex-assessor Sindical, ex-assessor Parlamentar. E-mail: leandroalvesrs@hotmail.com
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna