quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PROFESSORES E O DESAFIO DE EXPERIMENTAR NOVOS MÉTODOS

Desafio é conseguir que os professores experimentem novos modos de trabalhar. Práticas envolvendo o lúdico, a interdisciplinaridade e a contextualização têm o potencial de melhorar a aprendizagem.

"Professora, hoje não vai ter aula? É só brincadeira?" Perguntas como estas passaram a ser feitas por alunos e pais desde o ano passado para professoras alfabetizadoras de Costa Rica (MS). Isso acontece graças às formações do Pnaic.

No pequeno município, que tem seis escolas na rede e 1.400 alunos de 1º a 3º ano, a adesão dos docentes ao Pacto foi de 100%, mas a mudança de postura frente à sala de aula ainda está em processo, conta Mara Silvia Barbosa, coordenadora do Pnaic na cidade. "Aceitar participar da formação foi tranquilo, mas a mudança de atitude por parte do professor levou cerca de um ano para começar", afirmou. "No começo, essas perguntas incomodavam as professoras."

Segundo Mara, as formações levaram os docentes a sair da zona de conforto, passar do papel de "dono da verdade" para mediador do aprendizado. "Leva um tempo para o convencimento de que aquela "bagunça" pode ser boa, de que com a brincadeira não se está perdendo tempo, mas ganhando", disse. Para ela, contudo, mesmo que esse processo seja uma mudança ainda em curso, as crianças que estão hoje no primeiro ciclo do fundamental encontram uma alfabetização mais "humana" e adequada à idade do que os alunos que estavam na mesma série antes do Pacto.

Para Carolina dos Santos Vera e Silva, professora desde 2002 no município de Frei Miguelinho (PE), as formações foram boas para ela aprender a sistematizar o conhecimento do aluno e ter um olhar individual para cada um. "Sinto que eu ensinava, mas ficava sem amarrar. E, como a turma não é homogênea, tem níveis de conhecimento diferentes, preciso passar atividades diferentes. Não se pode dar uma aula única para todos, cada aluno tem sua necessidade", afirmou.

As práticas de Carolina também passaram a ser mais interdisciplinares e contextualizadas. Ela montou, por exemplo, uma sequência didática de culinária, em que foram abordados conteúdos de ciências (alimentação saudável), matemática (gráficos e tabelas) e língua portuguesa (gênero textual: receita). A experiência foi tão produtiva que acabou integrando um livro de relatos da Universidade Federal de Pernambuco.

Práticas envolvendo o lúdico, a interdisciplinaridade e a contextualização não são exclusividade, porém, dos professores que participam do Pnaic. Professora há 20 anos, Clara Elena Jorquera trabalha atualmente na rede particular, no Colégio Ítaca, em São Paulo, e aproveita as vantagens de contar com uma escola bem equipada e com uma equipe que atua de forma integrada. "Gosto de chamar o professor de artes, de educação física, de música, para fazer um trabalho em conjunto. A gente parte da história de um livro e faz atividades em todas as áreas. Assim as crianças ficam muito envolvidas, dá resultado melhor do que algo fragmentado", relata.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Zygmunt Bauman: "Há uma crise de atenção"

''Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas que tenham talento a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade.''
Uma busca no Google com os termos “modernidade líquida" rende 187 mil resultados em 0,34 segundo. São, todos eles, “fragmentos de conhecimento", na visão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que discursou neste sábado no evento Educação 360.

O pensador defendeu que os educadores precisam estimular determinadas características que ficam prejudicadas com a utilização da tecnologia, "paciência, atenção e a habilidade de ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento. É preciso trabalhar a capacidade de se manter focado." Leia mais abaixo:

— A educação é vítima da modernidade líquida, que é um conceito meu. O pensamento está sendo influenciado pela tecnologia. Há uma crise de atenção, por exemplo. Concentrar-se e se dedicar por um longo tempo é uma questão muito importante. Somos cada vez menos capazes de fazer isso da forma correta — disse o pensador. — Isso se aplica aos jovens, em grande parte. Os professores reclamam porque eles não conseguem lidar com isso. Até mesmo um artigo que você peça para a próxima aula eles não conseguem ler. Buscam citações, passagens, pedaços.

Como o próprio Bauman mencionou, a modernidade líquida — definida nos resultados do Google como a época em que vivemos, caracterizada por “volatilidade" , “incerteza" e “insegurança" — norteou as obras do filósofo; ele escreveu cerca de 30 livros apenas em torno dessa maneira de enxergar a contemporaneidade.

— Não há como contestar que a internet nos trouxe grandes vantagens. A facilidade de acesso à informação, a facilidade com que podemos ignorar as distâncias... Lembro-me de que, quando era jovem, passava muito tempo na biblioteca tentando ler cem livros para encontrar um pedacinho de informação de que precisava. Agora, basta pedir para o Google. Em décimos de segundo ele dá milhares de respostas. Um problema foi eliminado: nós não precisamos passar horas na biblioteca. Mas há um novo problema. Como vou compreender essas milhares de respostas? — questionou Bauman, logo recorrendo à Grécia Antiga para para continuar. — Só agora, idoso, consegui entender Sócrates: “Só sei que nada sei".

Há ainda, na visão de Bauman, outras crises que chegam com a internet e precisam ser superadas. O filósofo defende que vivemos com cada vez menos paciência, pela quantidade de informação que recebemos ao mesmo tempo. E, quando não temos isso, o resultado é a irritação.

— Se demoramos mais de um minuto para acessar a internet quando ligamos o computador, ficamos furiosos. Um minuto só! Nosso limiar de paciência diminuiu. As informações mais bem-sucedidas, que têm mais probabilidade de serem consumidas, são apenas pedaços — diz o polonês. — Outra coisa é a persistência. Conseguir algo contém em si um número de fracassos que faz com que você perca tempo e tenha que recomeçar do zero. E isso é muito complicado. Não é fácil manter essa persistência nesse ambiente com tanto ruído e tantas informações que fluem ao mesmo tempo de todos os lados.

Todo esse novo cenário, explicou o pensador à plateia de educadores, desafia e transforma a posição secular do docente. Para Bauman, “não há como voltar à situação em que o professor é o único conhecedor, a única fonte, o único guia". E dá caminhos:

— Não há como conceber a sociedade do futuro sem tecnologia. Então, se não pode vencê-la, una-se a ela. Tente contrabalancear o impacto negativo, como a crise da atenção, da persistência e de paciência. É preciso ter determinadas qualidades se você deseja construir conhecimento e não só agregá-lo: paciência, atenção e a habilidade de ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento. É preciso trabalhar a capacidade de se manter focado.

► Educação desigual

Hoje, de acordo com o filósofo, a educação reproduz privilégios em vez de aperfeiçoar a sociedade. Ele lembra que, nos EUA, 70% dos alunos na universidade vêm das classes mais altas, enquanto só 3% são das camadas de renda mais baixa. Segundo Bauman, essa é “uma forma de reafirmar a desigualdade social", tema do livro “A riqueza de poucos favorece a todos nós?", o mais recente lançamento (no mês passado) do escritor no Brasil.

— Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas que tenham talento a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade. Mas esse objetivo não está sendo perseguido em muitos lugares. Na Grã-Bretanha, os preços, em vez de diminuírem para as pessoas com menos dinheiro, vão subindo. E cada vez menos pais têm a possibilidade de economizar a quantia necessária para seus filhos cursarem a universidade.

O problema, segundo Bauman, é que a educação está pressionada pela política e pelos interesses corporativos. E isso, explica ele, se reflete na mente do estudante. O polonês critica o fato de os alunos escolherem a área de estudos baseados “no fato de se vão conseguir emprego ou não".

— Se você quer conhecimentos especializados, que são as condições para um bom emprego, precisa estudar quatro ou cinco anos, e isso requer muito esforço. Mas, se você está sendo guiado pelo atual estado de coisas, tudo vai mudar nesse tempo de estudo. E você vai perceber que não vai conseguir encontrar um uso rentável para o tipo de qualificação e habilidade que adquiriu nesses anos de trabalho árduo na faculdade — argumenta.

Mesmo após toda essa lista de desafios, a mensagem que o dono de uma das mais influentes mentes no mundo deixou para o auditório na noite de ontem foi de pura esperança:

— Educar, senhoras e senhores, é fazer um investimento nos próximos cem anos.

Charlie Hebdo, o mundo sofre de esquizofrenia

TERRORISMO - domingo, 11 de janeiro, 2015, o mundo vê deslocar mais de três milhões de manifestantes em França, incluindo cerca de cinquenta chefes de Estado e de Governo em Paris e representantes religiosos, inclusive muçulmanos, judeus e cristãos. A origem deste movimento excepcional, a execução de parte do corpo editorial do semanário Charlie Hebdo, seguido pelo assassinato de policiais e de cidadãos franceses de fé judaica em um hide comércio. No dia anterior, 700.000 pessoas participaram de marchas silenciosas, pacífica, nas principais cidades de França, implantando cartazes sóbrio: "Eu sou Charlie", "liberdade", "Contra o fanatismo", "Contra o Terrorismo", " contra o racismo ".

Há nove anos, a publicação de caricaturas de Maomé no jornal dinamarquês JyllandsPosten, novamente totalmente ou em parte, por várias publicações, incluindo CharlieHebdo, mas também os meios de comunicação no mundo árabe de maioria muçulmana (Al-Haq, Al-Anbat, Al-Liwa), provocou uma onda de protestos. Durante três semanas, eles foram estendidos do norte da Europa para a Indonésia através de África do Sul, causando dezenas de mortes. No Iraque, dois mil manifestantes exigiram uma Shia fatwa permitindo a matança de artistas. Em Londres, os membros sunitas do Hizb At-Tahrir desfraldaram faixas pedindo decapitar "infiéis". No Iêmen, os imãs pregou o caráter "legal" para o assassinato de journaled com "copiado os inimigos do Islã." Em Amã, o editor de Shihan, autor de um artigo "mundo muçulmano, seja razoável" ("O que está trazendo mais prejuízos ao islã, estas caricaturas ou imagens de um tomador Reféns que massacraram sua vítima diante das câmeras "), foi ameaçado, preso e forçado a pedir publicamente perdão por seus comentários. Chefes de Estado e de Governo teve lugar: George W. Bush, Angela Merkel e Chirac condenou a violência enquanto pedindo um fim às "provocações". O primeiro-ministro da Noruega, onde as charges também foram divulgadas, pediu publicamente perdão. E da Turquia, onde os desenhos não foram publicados, Erdogan enviou uma carta aos seus homólogos para afirmar que há "liberdade na terra pode ser utilizada para degradar ou insultar as crenças, valores ou símbolos sagrados". Nesse sentido, o lobby foi conduzida em vão pela Organização da conferência / Cooperação Islâmica (OIC), com o Conselho de Direitos Humanos, para evitar que a "difamação de religiões e profetas."

O nosso mundo contemporâneo é esquizofrênico. Os estados das contradições urso União Europeia: França manteve a legislação "anti-blasfêmia" na Alsácia-Moselle, que continua a viver sob o regime de reestruturação favorecendo católica, protestante e judaica. Em 2009, a Irlanda aprovou uma legislação "anti-blasfêmia" para punir as infracções "nenhuma religião". A Câmara dos Comuns da Inglaterra estava relutante em estender a sua legislação "anti-blasfêmia", que beneficiou apenas anglicanismo, antes de desistir completamente. Em os EUA, a sátira religiosa é um tabu, como recordou David Brooks, um editorial do New York Times intitulado "Eu não sou Charlie Hebdo". Em qualquer campus universitário americano, [Charlie Hebdo] não demorou trinta segundos. Os alunos acusou-o de manter o discurso do ódio e da administração teria que fechar. "Nos estados de maioria muçulmana Árabes Unidos, Kuwait adoptado em 2012 a legislação punindo por qualquer morte blasfemar contra" Deus, o Profeta e suas mulheres. "Uma pequena minoria (quatro deputados xiitas) se opuseram a ela porque ela queria acrescentar à lista os nomes dos" doze imãs. "A Arábia Saudita, que na quarta-feira denunciou o ataque contra Charlie Hebdo , aplicado dois dias depois perto da mesquita al-Jafali em Jeddah aberta ao público, no início da sentença contra o blogueiro Raef Badawi: 1.000 chicotadas, para a série de 50, distribuídos por 20 semanas, por "insultar Islã ".

Onde estão esses pesquisadores e os jornalistas que, durante anos, learnedly explicam que os únicos fatores de violência são social, econômica, política ou geopolítica?Longe de nós querer negar a importância destes elementos de explicação: o cinismo dos líderes do operador multinacional de recursos de matérias-primas do mundo ou jogar financeiro com a renúncia do mercado de ações políticos transformado em VIP para as empresas nacionais de armas que, por vezes, estão apoiando ditadores, para não mencionar algumas ONGs que desviam o dinheiro da ajuda enviada às populações afectadas ... Longe de nós para reduzir religiões e ideologias não religiosas, a face violenta que transmitiam na história. Mas quem se atreveria a dizer que as palavras e atos mortais não foram cometidos em nome de uma fé, qualquer que seja, ao longo da história? O que explicaria o historiador "guerras religiosas" entre os cristãos, na Europa dos séculos XVI e XVII, apenas por causalidades sócio-econômicos? O que é este baluarte de pensamento que, em tempos idos, levou a dizer que foi "louco" para "forma pervertida da religião", como se não houvesse objetos religiosos puros separada dele e que fez que os homens fazem.

Em 2006, o Presidente do Conselho Europeu, de Fatwa e do Conselho Mundial de Ulemás, Youssef Qardhawi, denunciou "a ofensa contra o Islã." Hoje ele condena "derramaram sangue inocente", sem especificar qual, mas lembra-temporada e fora da necessidade de permanecer fiel a thawâbit ("os dados imutável"), que incluemhudud, incluindo o castigo corporal com em alguns casos, e de acordo com procedimentos codificados, sentenças de morte. Em 2006, novamente, Hassan Nasrallah, estimou que "se ele tivesse sido um muçulmano para realizar a fatwa de Khomeini contra o Imam o renegado Salman Rushdie, esta gentalha que insultar nosso Profeta [Maomé] na Dinamarca, Noruega e A França não teria coragem de fazer. " Quase uma década depois, ele contratou seus combatentes na Síria é takfirista grupos sunitas que o secretário-geral do Hezbollah está atacando: "Através de seus atos vis, violentos e desumanos, tais grupos infringiram o Profeta e os muçulmanos mais do que seus inimigos [...] mais do que os livros, filmes e desenhos animados que insultaram o profeta ".

O fator religioso é uma explicação de dizer e fazer muitos de nossos contemporâneos, o contexto, por vezes, servindo como adjuvante. Fé em Deus (s) cresce fraternidade alce e solidariedade, criação, como as explosões de ódio e violência, destruição.Evidência de recordar. Não deve tomar de ânimo leve as dezenas de milhares de hashtags "Serve Charlie" ou "Eu sou Kouachi", assinado pelos filhos da República francesa. O mesmo se aplica para a tomada de reféns, ea morte de alguns deles, no comércio Porte de Vincennes. Transmitindo um antijudaísmo muçulmano em confessar ambiente é uma realidade em destaque durante a última feira muçulmana, em Bruxelas, à qual foi convidado o Kuwait Shaikh Tariq al-Suwaidan, autor de um ensaio intitulado 450 páginas judeus: o 'Enciclopédia Ilustrada (2009). Um dos propósitos deste livro, disponível on-line, é "demonstrar, através de provas e depoimentos, que a religião dos judeus falsificados, em si, incentiva a prática de traição e crime, e alimenta a sua seres para torná-los um grupo especial entre os seres humanos, e dá-lhes o direito de explorar os outros sobre as formas mais hediondas de duplicidade. "

O conflito israelo-palestiniano é uma gangrena que quadro explicativo não pode ser reduzida a uma guerra (neo) colonialismo / descolonização. Ele apresenta muitas semelhanças com o conflito Índia-Paquistão, desencadeadas também há cerca de 70 anos. Não há petróleo por trás do "Muro das Lamentações" no âmbito do "Monte do Templo" em Jerusalém. Estes são muitas referências religiosas que levam como rabino a dizer: "Esta terra é conhecida como a Judéia e Samaria, é judeu" como shaykh para replicar "esta terra é árabe e muçulmano," e uma como a Outra empurrar seus seguidores a lutar -up para massacrer- em Hebron, em torno do túmulo dos patriarcas mitificado. Eles não faltam, aqueles que chamam regularmente para a coexistência pacífica. Mas um ou dois referência religiosa para os estados nunca será sociedades democráticas, pelo menos, a fórmula não existiram no passado: não foram sempre acreditando um pouco mais iguais do que outros em tais configurações, e este é ainda o caso em Israel, como no Paquistão. A nacionalização da religião, qualquer que seja, cria de jure e de facto discriminação.

Devemos ter o cuidado de acrescentar que esses modos de ser e de fazer não são exclusivos para os crentes monoteístas, como mostra a contínua perseguição de muçulmanos pelos budistas na Birmânia ou chamadas ao ódio lançada pela Hindu em Índia? Deve esclarecer que os agnósticos como os ateus não são mais bem preservados, como ilustrado por manifestações anti-religiosas esporádicos após a missa, na virada dos anos 1960-1970, liderada pelo Partido Comunista Chinês?França, visto a partir de Cairo para Kathmandu para as vítimas, não é uma ilha neste mundo. O racismo está alimentando temores lá para provocar ataques contra lugares de culto, incluindo os muçulmanos como foi encontrado nos últimos dias. Fórmula secular que os cidadãos têm explorado há mais de um século, com momentos de tensões fortes ou até mesmo conflitos, sempre foi baseado em um equilíbrio delicado, dependendo de como cada um e de todos em termos apropriados.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Sem filosofia... Nem pensar!

''Filósofo só pára de pensar para pensar em que está pensando.''



Filosofar é pensar. Não um pensar qualquer. Não é um pensar solto no ar, perdido no mar, um ir-e-vir por aí. Não é jogar pôquer, apostar para ganhar tudo ou alguma coisa perder. Ou tudo perder e chorar sobre o pensamento derramado.

Filosofia é pensar dia a dia no dia-a-dia. Pensar é desfiar o fio da meada. Penso, logo desconfio. Pensar a prece, a pressa, o peso, o passo, a pizza, o poço, o prato, a prata, o porquê do epitáfio, as razões do rififi.

Filósofo é aquele que pára para pensar. Pára para não parar de pensar. Pensa para comer o pão com o suor de sua mente. Pensa, logo alonga, longínquo pensamento que o deixa tão perto de tudo. Filósofo só pára de pensar para pensar em que está pensando.

Filosofal viver. Filosofal andar. Filosofal tropeçar. Filosofal cair, e encontrar na queda outros motivos para mais filosofar. Filosofal sentar sobre a pedra filosofal. Idéia tanto bate sobre a pedra, tanto bate até que o pensamento perdura.

Filosofante caminhar, o homem sobre o elefante, o elefante sobre a terra, a terra sobre o vento, o vento filosofante venta para onde quer. O filosofante gigante sobre os ombros de um anão também verá mais longe.

Filosofema retira algemas, descobre o filósofo da gema, faz nascer antenas, penetrar esquemas, abordar todos os temas, reler o poema, inspirar-se no cinema, valorizar o pequeno, o fenômeno, o dilema, remar contra ou a favor da maré.

Filosofice é sempre um risco. Ninguém está livre de pensar contra o pensamento. Ninguém está livre de se aprisionar uma vez mais. Ninguém está livre de pensar que pensa, e despencar do altar que ergueu para si mesmo, confundindo filosofia com empáfia.

Filosofismo é outro risco. Belo risco, afinal, porque somos todos capazes de filosofar. O filosofismo é a filosofia que virou jogada, pretexto, mania, suborno, insulto. O filosofista finge que pensa, e por isso parece pensar melhor que o próprio pensador.

Filosófico texto, contanto que as palavras abram nossa mente e nos façam mentar o mundo. Que o texto filosófico não seja apenas manobra, cobra preparando o bote, veneno que paralisa o leitor e o devora pouco a pouco.

Filosofar, enfim, é começar a pensar sem fim. É pensar quando não se pensa em nada, pensando em tudo. Pensar como sempre. Como nunca.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

O DIA QUE EU A ESCOLA E O TEMPO SOFREMOS DE SOLIDÃO.

''A escola não sai de minha memória, como minha memória passou habitar aquele lugar.''
Na escola isolada, abandonada no interior de Romelândia há um encanto, um espanto, um tesouro guardado na silenciosa parede esquecida em estilizada mensagem ‘’É na educação dos filhos que se revela o caráter dos pais.’’ – esse é o tesouro da responsabilidade da família para com seus filhos na escola.

Sim, escolas não foram feitas para solidão, para silêncios eternos, abandonos do acaso e meros depósitos de crianças. Mas essa escola não está sozinha, encravada nela estão as lições que a vida urbana deixou de fazer.

Nas paredes silenciosas da simpática escola estão grifados artisticamente, paixões pedagógicas, lições de afetos e gritos de amor como: '‘você é a estrelinha que ilumina nossa escola’’ e na outra parede ‘’crianças são como borboletas ao vento, algumas voam pausadamente, mas todas de seu melhor jeito, cada um é diferente, cada uma é linda, e cada uma é especial.’’

Falo da escola Érico Verissimo na linha São Jorge interior de Romelândia. Falo da realidade de tantas escolas neste país abandonadas pela irresponsabilidade e insensibilidade de governantes – diferente dessa escola que o êxodo rural e o baixo número de crianças levou a fechar.

Falo especificamente dessa escola, tão real, presente aqui perto ou dentro de nós, onde não se tem mais crianças para ocupar as salas, sentar nas cadeiras, suprir paixões dos professores e preencher o silêncio da Escola.

Falo da nostalgia, das histórias infinitas ali contadas por décadas, falo das crianças, adolescentes que ali brincaram, falo dessa escola que não morre, mesmo no silêncio, na sensação de abandono, na nostalgia de tempos que não volta, mas não passam também. Porque embora tenha levado longe tantos tesouros que ali se alfabetizaram, os traz de volta constantemente mesmo que somente em memória.

Porque a escola atual, a escola que sonhamos para amanhã e o distante futuro parece sofrer de tédio, de estresse e silêncios que dividem classes, mestres e sonhos? - Enquanto a escola do passado ressuscita constantemente de amor, de lembranças e frutos saborosos de tempos que não voltam mais.

Escolas do passado parecem as escolas que sonhamos para um futuro que não tende a chegar. Porque nessas escolas de futuro esmagamos com métodos pedagógicos modernos as essências de tempos que não voltam mais, da paixão do ensinar pelo professor ao cuidado da família com a educação do respeito e limites dos filhos. 


Nestas escolas que não voltam mais estão depositados o tesouro da responsabilidade hoje esquecida, renegada, abandonada pelos estudantes, por seus pais, seus governantes mesmo sob o nome de escola do presente, do futuro e da esperança. – Mas sem coragem de enfrentar os desafios pertinentes!

Naquela escola que nunca sentei, nunca lecionei mas lá estive por obra do destino, por curiosidade em seu silêncio há algo que não volta mais. Ali há um coração que pulsa como memória nas paredes, uma luz que brilha sobre o quadro negro, uma ordem nas cadeiras que esperam por alunos que não chegam, um portão aberto para o incerto e tão receptivo.

Na Escola isolada moram memórias que não morrem como o escritor que lhes concede o nome – ali mora a história do lugar, o reflexo de um educar que não volta mais, mas que embora de portas fechadas continua a nos ensinar. 'A escola não sai de minha memória, como minha memória passou habitar aquele lugar.'

Neuri a. Alves – Filósofo, Professor Pesquisador

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ESTES NÃO SÃO SERES HUMANOS, NOSSOS IRMÃOS E IRMÃS?

''O limite maior da cultura européia ocidental é sua arrogância que se revela na pretensão de ser a mais elevada do mundo.''

O grau de civilização e de espírito humanitário de uma sociedade se mede pela forma como ela acolhe e convive com os diferentes. Sob este aspecto a Europa nos oferece um exemplo lastimável que beira à barbárie. O menino sírio de 3-4 anos afogado na praia da Turquia simboliza o naufrágio da própria Europa. Ela sempre teve dificuldades de aceitar e de conviver com os “outros”.

Geralmente a estratégia era e continua sendo esta: ou marginaliza o outro, ou o submete ou o incorpora ou o destrói. Assim ocorreu no processo de expansão colonial na Africa, na Asia e principalmente na América Latina. Chegou a destruir etnias inteiras como aquela do Haiti e no México.

'O limite maior da cultura européia ocidental é sua arrogância que se revela na pretensão de ser a mais elevada do mundo', de ter a melhor forma de governo (a democracia), a melhor consciência dos direitos, a criadora da filosofia e da tecnociência e, como se isso não bastasse, ser a portadora da única religião verdadeira: o cristianismo. Resquícios desta soberba aparece ainda no Preâmbulo da Constituição da União Européia. Aí se afirma singelamente:

“O continente europeu é portador de civilização, que seus habitantes a habitaram desde o início da humanidade em sucessivas etapas e que no decorrer dos séculos desenvolveram valores, base para o humanismo: igualdade dos seres humanos, liberdade e o valor da razão…”

Esta visão é somente em parte verdadeira. Ela esquece as frequentes violações destes direitos, as catástrofes que criou com ideologias totalitárias, guerras devastadoras, colonialismo impiedoso e imperialismo feroz que subjudaram e inviabilizaram inteiras culturas na Africa e na América Latina em contraste frontal com os valores que proclama. A situação dramática do mundo atual e as levas de refugiados vindos dos países mediterrâneos se deve, em grande parte, ao tipo de globalização que ela apoia, pois configura, em termos concretos, uma espécie de ocidentalização tardia do mundo, muito mais que uma verdadeira planetização.

Este é o pano de fundo que nos permite entender as ambiguidades e as resistências da maioria dos países europeus em acolher os refugiados e imigrantes que vêm dos países do norte da Africa e do Oriente Médio, fugindo do terror da guerra, em grande parte, provocada pelas intervenções dos ocidentais (NATO) e especialmente pela política imperial norte americana.

Segundo dados o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) somente neste ano 60 milhões de pessoas se viram forçadas a abandonar seus lares. Só o conflito sírio provocou 4 milhões de desalojados. Os países que mais acolhem estas vítimas são o Líbano com mais de um milhão de pessoas (1,1 milhão) e a Turquia (1,8 milhões).

Agora esses milhares buscam um pouco de paz na Europa. Somente neste ano cruzaram o Mediterrâneo cerca de 300.000 pessoas entre imigrantes e refugiados. E o número cresce dia a dia. A recepção é carregada de má vontade, despertando na população de ideologias fascistóides e xenófobas, manifestações que revelam grande insensibilidade e até inumanidade. Foi somente depois da tragédia da ilha de Lampedusa, ao sul da Itália, quando se afogaram 700 pessoas em abril de 2014 que se colocou em marcha uma operação Mare Nostrum com a missão de rastrear possíveis naufrágios.

A acolhida é cheia de percalços, especialmente, por parte da Espanha e da Inglaterra. A mais mais aberta e hospitaleira, apesar dos ataques que se fazem aos acampamentos dos refugiados, tem sido a Alemanha. O governo filo-fascista de Viktor Orbán da Hungria declarou guerra aos refugiados. Tomou uma medida de grande barbárie: mandou construir uma cerca de arame farpado de quatro metros altura ao longo de toda fronteira com a Sérbia, para impedir a chegada dos que vêm do Oriente Médio. Os governos da Eslováquia e da Polônia declararam que somente aceitariam refugiados cristãos.

Estas são medidas criminosas. Todos estes sofredores não são humanos, não são nossos irmãos e irmãs? Kant foi um dos primeiros a propor uma República Mundial (Weltrepublik) em seu último livro A paz perpétua. Dizia que a primeira virtude desta república deveria ser a hospitalidade como direito de todos e dever para todos, pois todos somos filhos da Terra.

Ora, isso está sendo negado vergonhosamente pelos membros da Comunidade Européia. A tradição judeo-cristã sempre afirmou: quem acolhe o estrangeiro, está hospedando anonimamente Deus. Valham as palavras da física quântica que melhor escreveu sobre a inteligência espiritual – Danah Zohar: ” A verdade é que nós e os outros somos um só, que não há separatividade, que nós e o ‘estranho’ somos aspectos da única e mesma vida”(QS: consciência espiritual, Record 2002, p. 219). Como seria diferente o trágico destino dos refugiados se estas palavras fossem vividas com paixão e compaixão.

Leonardo Boff escreveu Hospitalidade:direito e dever de todos, Vozes 2005.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com