Melhoras
ao modelo vigente de sustentabilidade?
Publicado
em 24-Abr-2012
Leonardo Boff
Para ser
sustentável o desenvolvimento há de ser economicamente viável,
socialmente justo e ambientalmente correto. Já submetemos à crítica
este modelo standard. Mas devemos ser justos. Houve analistas e
pensadores que se deram conta das insuficiências deste tripé.
Acrescentaram-lhes outras pilastras complementares. Vejamos algumas
delas.
Gestão da mente sustentável:
Para que exista um desenvolvimento sustentável importa
previamente construir novo design mental, chamado por seu
formulador, o Prof. Evandro Vieira Ouriques, da Escola de Comunicação
do Universidade Federal do Rio de Janeiro, de gestão da mente
sustentável. Tenta resgatar o valor da razão sensível pela qual o
ser humano se sente parte da natureza, se impõe um
autocontrole para superar a compulsão ao produtivismo e ao
consumismo. Visa a um desenvolvimento integral e não só econômico,
o que envolve dimensões do humano. É um avanço inegável. Melhor
seria se entendesse Terra-Humanidade-Desenvolvimento como um único e
grande sistema interconectado, fundando um novo paradigma.
Generosidade: Rogério Ruschel,
editor da revista eletrônica Business do Bem, acrescentou uma outra
pilastra: a categoria ética da generosidade. Esta se funda num dado
antropológico básico: o ser humano não é apenas egoísta buscando
seu bem particular, mas é muito mais um ser social que coloca os
bens comuns acima dos particulares ou os interesses dos outros no
mesmo nível de seus próprios. Generoso é aquele que comparte, que
distribui conhecimentos e experiências sem esperar nada em troca.
Uma sociedade é humana quando além da justiça necessária
incorpora a generosidade e o espírito de cooperação de seus
cidadãos.
Para Ruschel a generosidade se
opõe frontalmente ao lema básico do capital especultativo do greed
is good, isto é, boa é a ganância. Ela não é boa mas
perversa, porque quase afundou todo o sistema econômico mundial. Na
generosidade há algo de verdadeiro porque especificamente humano. Na
feliz metáfora do jornalista Marcondes da ONG Envolverde há que se
distinguir a generosidade da simples filantropia, da responsabilidade
social e da sustentabilidade. A primeira, dá o peixe ao
faminto; a responsabilidade social, ensina a pescar; a
sustentabilidade preserva o rio que permite pescar e com o
peixe matar a fome. Entretanto, parece-nos, que somente ela é
insuficiente. Demanda outras dimensões como a superação da
desigualdade, a forma de consumo e a atenção à comunidade de vida
que precisa também ser alimentada e preservada.
A Cultura: Em 2001 o australiano
John Hawkes lançou “o quarto pilar da sustentabilidade: a função
essencial da cultura no planejamento público”. No Brasil foi
mérito de Ana Carla Fonseca Reis, fundadora da empresa “Garimpo de
Soluções” e autora do livro Economia da Cultura e Desenvolvimento
Sustentável de tê-la assumido, difundindo-a em muitos
cursos e palestras. Este dado da cultura é fundamental, porque
encerra princípios e valores ausentes no conceito standard de
sustentabilidade. Favorece o cultivo das dimensões tipicamente
humanas como a coesão social, a arte, a religião, a
criatividade e as ciências. Deixa para trás a obsessão pelo lucro
e pelo crescimento material e abre espaço para uma forma de habitar
a Terra que condiz melhor com a lógica da natureza. Ocorre que esta
dimensão da cultura foi sequestrada pelos interesses comerciais. Só
será realmente eficaz quando, libertada, fundar uma relação
criativa com a natureza.
A neuroplasticidade do cérebro:
Cientistas se dão conta de que a estrutura neural do cérebro é
extremamente plástica. Através de comportamentos críticos ao
sistema consumista, se podem gerar hábitos de moderação e
respeitadores dos ciclos da natureza. O cérebro coevolui consonante
a evolução exterior, dando-se ai uma relação de interdependência.
Por fim, o Cuidado essencial: eu
mesmo desenvolvi a categoria “cuidado” como essencial para a
sustentabilidade. Entendo o cuidado exposto em dois textos – Saber
cuidar: ética do humano-compaixão pela Terra (1999) e O cuidado
necessário (2012) como uma constante cosmológica e
biológica.Detalhes podem ser lidos nos livros referidos.
Nesta fase de busca de formas
mais adequadas para garantir a vitalidade da Terra e o futuro de
nossa espécie, toda contribuição é benvinda e sempre traz alguma
luz.
Leonardo Boff é autor de
Preservar a Terra-cuidar da Vida. Como evitar o fim do mundo, Record,
RJ 2011.
Fonte: