Por acaso os presidentes não têm direito de adoecer? Afinal, estão mais expostos às enfermidades devido a todas as exigências do cargo. Que compostura e dignidade comportam certos setores da sociedade e seus porta-vozes impressos e eletro-eletrônicos quando um presidente se enferma e festejam, mostram satisfação, sabendo que o fato representa aflição e preocupação ao povo que o elegeu.
Que classe
de seres humanos são os que desejam, dissimuladamente, a morte de presidentes e
políticos que não podem controlar, quando diante das tragédias comuns de nosso
dia-a-dia se mostram consternados e piedosos .A direita venezuelana – e isto se
pode estender a todas de todos os recantos, em especial de Washington a Madri –
pretende conseguir agora, graças ao câncer que acometeu o presidente Hugo
Chávez, o que não conseguiu em doze anos: sua derrocada do poder, por qualquer
meio. Tentaram a sedição do golpe militar, valeram-se da Pdvsa para paralisar o
país, alegaram fraude em disputas eleitorais, arquitetaram múltiplas
conspirações para desestabilizar o governo. Não conseguiram. Perderam as ruas,
perderam as urnas e perderam os quartéis.
A doença
de Chávez desatou uma odiosa e repugnante campanha midiática global que jogou
no lixo os últimos resquícios de integridade moral e os princípios que devem
nortear o jornalismo: objetividade e verdade. Preferiram entregar-se à
manipulação política servindo aos interesses da oligarquia local e à estratégia
regional do império. Quem lesse a grande imprensa privada da Venezuela
percebia que havia certo regozijo com a enfermidade do presidente, exigindo que
Chávez se licenciasse e o vice-presidente Elias Jaua assumisse o Palácio
Miraflores. Alegavam os meios de comunicação e políticos de oposição, com base
em “informações confidenciais” ou em “relatos do serviço de inteligência da
CIA” que o estado de Chávez era terminal, que se havia cometido gravíssimo erro
médico de diagnóstico e execução cirúrgica, que o câncer já se espalhara.
Enfim, que o presidente não tinha condições de permanecer no cargo e muito
menos de governar de Havana, onde estava hospitalizado.
Fizeram
‘tabula rasa’ do comunicado oficial do chanceler Nicolas Maduro de 10 de junho
, segundo o qual o presidente sofrera cirurgia de emergência para limpar um
abscesso pélvico e desdenharam a manifestação do próprio Chávez em 30 de junho
de que tivera de passar por uma segunda cirurgia para extirpar células e tumor
cancerígeno . A respeito da doença do presidente seguem dizendo “segundo
as versões oficiais insuscetíveis de confirmação” e que a “localização e
gravidade, assim como o tratamento e o prognóstico dos médicos são mantidos em
segredo”. Georges Pompidou, presidente da França, morreu de
macroglobulinemia de Waldenström, um tipo de câncer linfático, no exercício de
suas funções; François Mitterand governou boa parte de seus 14 anos de mandato
carregando um câncer na pró-stata; e mais recentemente Fernando Lugo do
Paraguai, governa normalmente ainda que portador de linfoma. São alguns
exemplos e nenhum deles recebeu o tratamento mórbido de que Chávez é
alvo. O regresso de Chávez e a incrível manifestação espontânea que reuniu
mais de 150 mil pessoas para ouvir o presidente do ‘ Balcão do Povo ’ do
Palácio Miraflores e demonstrar sua imensa alegria consistiram em resposta
contundente àqueles que insistem em desestabilizar o governo.
A reação
venezuelana e o império esperavam que o afastamento do cenário político e
administrativo de Chávez levassem a uma literal paralisia da ação
governamental. Para seu imenso desgosto, no mês que Chávez esteve distante de
Caracas, antes pelo giro que incluiu Brasília, Quito e Havana e depois pela
internação hospitalar, o governo enfrentou galhardamente o desafio e seguiu
funcionando normalmente. Não ocorreu nem ingovernabilidade nem vazio de poder
nem paralisia de funções nem crise política nem agitação social como
prognosticavam a oposição e seus porta-vozes midiáticos.Insistem agora que as
mazelas do país – os descaminhos da economia, a inflação nas alturas, a
criminalidade desabrida, a escassez de moradias e o racionamento de energia –
se agravaram. São problemas reais, existem e precisam ser combatidos. No
entanto, escamoteiam e evitam dizer que nenhum governo do mundo fez tanto em
tão pouco tempo pela saúde e educação de seu povo.
A
Venezuela está livre do analfabetismo, mais da metade da população freqüenta
alguma sala de aula, todo o povo tem acesso gratuito à medicina preventiva, a
Missão Vivenda Venezuela está entregando casas para a população pobre, o
instituto norte-americano Gallup situou a Venezuela em 6º lugar de bem-estar do
mundo, considerando próspero seu nível de vida atual e expectativas futuras, o
PIB cresceu 4,5% no 1º trimestre, caiu a taxa de desemprego para 8,1%, o
salário mínimo e a distribuição de renda é o mais alto e a melhor da região, a
pobreza foi reduzida drasticamente nos últimos 12 anos.É por tudo isso que o
povo venezuelano participou entusiasticamente das comemorações do Bicentenário
da Independência da Venezuela, saindo às ruas às dezenas de milhares. Ao vibrar
com a parada das forças militares do país, estavam saudando a independência e a
soberania atual da Venezuela. Este é, a par da melhoria das condições de vida
da população em geral, um dado essencial. Ao abrir o dia festivo de 5 de
julho , tendo ao lado os comandantes das Forças Armadas , da Guarda Nacional e
da Milícia Popular , o presidente Chávez declarou: “ Não tínhamos melhor maneira
para comemorar esse dia que o celebrando sendo independentes como somos, já não
somos colônia de nenhum império nem o seremos nunca .”A independência, porém,
levou uma década para se consolidar, sendo concretizada finalmente em 24 de
junho de 1821 quando as tropas comandadas por Simon Bolívar derrotaram
definitivamente as espanholas na Batalha de Carabobo.Igualmente, a próxima
década – de 2011 a 2021 – terá por escopo consolidar o processo revolucionário
bolivariano socialista. Chávez deve agora priorizar sua saúde, continuar
governando mais apoiado em seus auxiliares e lançar-se com ímpeto na campanha
eleitoral de 2012.
Sua visão
estratégica, seu elã e capacidade política de gerar iniciativas que fortalecem
a união dos povos latino-americanos e do Caribe, como a Alba, Petrocaribe,
Telesur e diversas outras, fazem de Chávez um protagonista na luta pela total
independência e integração de Nossa América.Mas a história ensina também que,
ao longo dos próximos anos, faz-se mister que novas lideranças , provadas e capazes
, surjam para levar adiante as bandeiras da soberania , da justiça social , da
democracia , da paz e fraternidade entre os povos , da mãe-Terra, do socialismo
enfim .
* Max
Altman é jornalista, advogado e membro da Secretaria Nacional de Relações Internacionais
do Partido dos Trabalhadores.