terça-feira, 18 de janeiro de 2011


                       Paul Singer: Erradicação da miséria, oposição ousada              


Não sei de qualquer governo nacional que tenha se proposto a erradicar a miséria de seu país em quatro anos de mandato. Ainda assim, nossa presidente Dilma Rousseff apresenta essa meta como a fundamental do seu governo.


Apesar de inédita, não lhe falta credibilidade, dado que o seu antecessor alcançou redução surpreendente da miséria em seus dois mandatos. Seja como for, a erradicação da miséria exigirá tal empenho da sociedade e do governo que só uma mobilização total de suas melhores forças a tornará realidade.

Miséria é pobreza tão extrema que suas vítimas frequentemente não sabem quando e nem de onde virá sua próxima refeição; moram ao relento, pois não têm trabalho e nem renda regular.

Vivem sujeitos ao acaso, como diz o povo, "ao Deus dará". Erradicar a miséria só pode significar transformar a vida dessas pessoas.

Não bastará lhes dar dinheiro para que possam adquirir ao menos o essencial à sobrevivência. Para que possam mudar de vida, será preciso que se convençam de que são capazes de se unir e juntos alcançar pelo trabalho padrões normais de vida.
A maioria dos muito pobres vive em comunidades situadas em bolsões de pobreza, e sua sobrevivência se deve em boa medida porque se ajudam mutuamente.
Esse é um instinto humano, que pode ser observado em ação em qualquer situação catastrófica: enchentes, terremotos ou incêndios.
A vida dos miseráveis é desastrosa: quase sempre correm perigo de perecer, do qual são salvos, às vezes, por uma mão amiga, que não raramente é a de outro miserável que o necessitado de hoje pode ter ajudado antes. Deixar a miséria pode representar, para a pessoa, abandonar uma normalidade cruel, mas à qual se acostumou, e se separar de companheiros de sina com os quais se sente protegido.
Para ele, a questão crucial pode ser: que alternativa de vida os que querem erradicar a miséria lhe oferecem? Possivelmente muitos dos que agora são miseráveis nem sempre o foram, mas por diversas circunstâncias perderam tudo.
Os que em consequência enlouqueceram ou ficaram dependentes de álcool ou drogas talvez não queiram voltar à vida que já tiveram, porque a perda dela lhes foi demasiado traumática.

Erradicar a miséria, do ponto de vista de seus beneficiários, é mudar profundamente suas vidas.

Para que aconteça, é indispensável que os seus beneficiários também sejam seus sujeitos, e não meros objetos; que eles possam optar por projetos que lhes exigirão empenho para conquistar um padrão normal de vida não apenas para si, mas possivelmente para uma família e uma prole.
Para tanto, será preciso que participem da elaboração dos novos projetos de vida e que recebam os recursos essenciais para realizá-lo.
Nos últimos sete anos, nós da Secretaria Nacional de Economia Solidária participamos diretamente de programas que permitiram ao governo Lula erradicar parte da miséria brasileira: o Fome Zero, a transformação de moradores de rua em recicladores de lixo organizados em cooperativas, de egressos de manicômios e penitenciárias em membros de cooperativas sociais, de trabalhadores sem terra em camponeses assentados, além de muitas outras comunidades socialmente excluídas.
Aprendemos que erradicar a pobreza é possível e, se assim o é, se torna eticamente necessário. E que serão os pobres que se redimirão, é claro que com o auxílio dos poderes públicos e dos movimentos sociais.
Paul Singer é secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. Foi secretário municipal do Planejamento de São Paulo (gestão Luiza Erundina).

Fonte: Folha de S.Paulo

                            Em uma década, número de mestres e doutores                   

                                                          no Brasil dobra                                                                                         

O número de mestres e doutores titulados no Brasil dobrou nos últimos dez anos. Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de 2001 a 2010, a quantidade de pesquisadores formados por ano no país passou de 26 mil para cerca de 53 mil.


Apenas em 2010, 12 mil pesquisadores receberam o título de doutor e 41 mil o de mestre. Os dados constam do balanço final do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação divulgado pelo governo federal no fim do ano passado.

O documento compila informações de vários órgãos ligados à pesquisa no país e avalia o resultado de um plano de investimento lançado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2007.

Ainda segundo o texto, só em 2009, 161 mil estudantes estavam matriculados em programas de mestrado e doutorado de universidades brasileiras. O número equivale a 90% da soma dos mestres e doutores titulados no país de 2003 até 2009.

“Esses números são extremamente significativos”, afirmou o pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo (USP), Vahan Agopyan. “Para padrões latino-americanos, é um crescimento muito grande. Mas ainda temos que avançar”.

Agopyan disse que o aumento na titulação de pesquisadores deve-se principalmente ao investimento governamental. Segundo ele, os governos federal e de alguns estados como São Paulo, Paraná e Bahia entenderam a importância da pesquisa para o desenvolvimento do país e passaram a dar mais atenção ao setor.

CursosO número de cursos de pós-graduação ofertados no país também cresceu nos últimos dez anos. Em 2001, eles eram 1,5 mil. Já em 2009, subiram para 2,7 mil. Só as universidades federais têm quase 1,5 mil programas de mestrado ou doutorado.

Bolsas
Além disso, cresceu o número de bolsas de estudo concedidas a estudantes. Em 2001, a Capes e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) concederam 80 mil bolsas de mestrado e doutorado. Em 2010, foram 160 mil.

InvestimentosTodo esse investimento, quase atingiu as previsões do Ministério. No lançamento do plano de ação, a expectativa era de que o Brasil passasse a investir o equivalente a 1,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisas até 2010. O montante chegou a 1,25%.
“Empresas também precisam investir em pesquisa”, complementou Agopyan, apontando uma das falhas que o país precisa resolver. “O Brasil é grande. Precisamos formar pelo menos 20 mil doutores por ano”.
A China, por exemplo, investiu 1,44% do seu PIB em 2007. Com isso, formou 36 mil doutores. Já o Japão, um dos países mais inovadores do mundo, investiu 3,44% e formou 17 mil doutores em um ano.

Informações da Agência Brasil

                                          Havana será a capital mundial da educação                                        

Com o histórico de ter reunido mais de 54 mil educadores de todas as partes do mundo desde que se iniciaram, em 1986, os congressos de Pedagogia, terá início em Havana, Cuba, no próximo dia 24 mais um congresso de educadores, fazendo do país caribenho a capital educacional do mundos congressos de Pedagogía en 1986, Cuba será la semana próxima la capital mundial da Educação


O fórum bienal, é o maior já organizado em Cuba, que já sediou 11 edições anteriores, das quais participaram no total 44.978 estrangeiros e 9.300 cubanos, segundo informou a presidente do Comitê Científico do encontro, Eva Escalona, também diretora de Ciência e Técnica do Ministério da Educação.
Ao falar sobre as projeções de participantes no encontro que se inicia na próxima semana no Palácio de Convenções de Havana, Escalona afirmou que já estão inscritos 2.800 trabalhos, uma cifra que supera os apresentados em 2009.
Independentemente da quantidade de trabalhos apresentados, o desafio é não permitir que o nivel científico seja inferior, acrescentou.
Entre as delegações mais numerosas se encontram as da Venezuela e do México, que superarão mais de mil participantes cada uma, a de Cuba, com 600, e a do Brasil (500), ressalvando que não são dados definitivos.

Vários ministros representando os membros da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) farão exposições sobre suas experiências em matéria educacional durante o congresso.

Além da ministra da Educação de Cuba, Ena Elsa Velázquez, e do ministro da Educação Superior, Miguel Díaz-Canel, farão conferências os ministros venezuelanos da Educação Universitária, Edgardo Antonio Ramírez e da Educação, Jennifer Gil.

Também está prevista uma intervenção do titular da Educação da Bolivia, Roberto Aguilar, e está confirmada a visita de ministros de países africanos.

Fonte: Prensa Latina

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


QUEM GANHA? Marionetes ou tablado?

 
Eu prefiro tablado porque é chão firme, marionetes são pré-fabricada para manipulação! Por faço uso da metafora? - Um aluno me perguntou esta semana: “professor quem ganha? - Devolvi-lhe a pergunta! Ganhar o que? - A eleição para o DCE da Unochapecó indagou o mesmo. Pergunta difícil para quem não esta diretamente por dentro da vida universitária, mas razoável de ser respondida para mim que: … acompanhei parte da programação esplendida do CUCA 2010; … me inteirei dos comentários sobre debates dos candidatos; … assisti a entrevista dos mesmos na webtv da Universidade; … de saber de atitudes de caráter facistas por parte de alguns e claro de me inteirar das forças em disputa. 

Ao longo de minha vida acadêmica aprendi que estar numa universidade não significa apenas ser parte dela. Pois a vida universitária vai para além da sala de aula, ela se desenrola nas relações sociais como um todo dentro da instituição e para além dela, uma vez que a universidade é o universo de esperanças éticas, profissionais e emancipatória de uma sociedade. Pelo menos deveria e precisa ser. O Diretório acadêmico é um instrumento de luta dos estudantes inserido neste todo e não um objeto de desejo narcísico como alguns estudantes acreditam ser. 

O que percebi nas comparações de propostas e na entrevista dos candidatos é uma nítida clareza de quem tem experiência a frente da entidade como o candidato da Chapa 1 e uma pretensiosa, utópica e até irresponsável apresentação do candidato da Chapa 2. Primeiro porque o candidato Rafael da Chapa 2 não conseguiu responder a primeira pergunta do apresentador sobre  movimento estudantil e avançou perdidamente sobre propostas mirabolantes, de:  “Melhorar a segurança com (Cancelas) grades e portões na Universidade”; “asfaltar as dependências internas do campus”, propor “convênios médicos” para estudantes que mal conseguem pagar transporte e mensalidades, “citar conversa e possível acordo” com o dono da empresa de onibus que não respeita a anos as solicitações de melhorias no transporte para universidade. 

Penso que o candidato  esqueceu que nem todos os estudantes tem condições de pagar um curso de Engenharia Quimica ou Medicina, que nem todos tem carro próprio para deslocamento. E que a função de um diretório acadêmico é lutar pela permanência dos acadêmicos na universidade com mensalidades acessíveis, mais bolsas de estudos, melhores suas condições de transporte entre outras. Isso para não se aprofundar em questões que vão mais longe. Somente até aqui meu nobre aluno já tem subsídios que podem ajudar na escolha da melhor gestão possível ao dizer que para mim: “uma das chapas significa  a ampliação das lutas em defesa dos estudantes, parte destas já em andamento e a outra chapa significa o aparelhismo do Diretório acadêmico orientados pela máquina pública municipal e entram na disputa como um “ovo de serpente” inofensivo aparente pelos corredores da universidade mas que se eclodir se torna perigoso. Subsídios estes apontam que Chapa 2 é uma fabricação da força direitista da politica municipal, basta entender o porque em almoço realizado pelos mesmos no ultimo sábado estavam presentes lideranças politicas de partidos como DEM, PSDB e seus comissionados, talvez seja por isso que falam em asfalto na universidade, isso para não falar em “operação tapete preto”. 

Outro fato assustador é ouvir um candidato falar em defesa e representação dos estudantes quando um de seus membros de chapa,  acadêmico de Direito é afastado do CER de Chapecó tendo como acusação de atos de tortura contra  um menor, e justificar estas acusações na atitude agressiva no debate dia 08 de novembro no campus de Chapecó em que o mesmo ameaçou agredir fisicamente um acadêmico. Então meu caro aluno se estes são subsídios suficientes para sua escolha de voto eu não teria dúvidas. Não deixe o ovo da serpente eclodir!  Como seu professor não posso deixar  as falácias serem servidas como prato do dia. Não apoio Chapa negra que coage  estagiários para apoio e voto, que ameaça agredir acadêmico, que conversa com empresário de onibus sem compromisso com estudantes. 

Quem ganha? Eu respondo:  ganha a inteligência e maturidade dos acadêmicos eu aposto na Chapa da transparência, sinceridade, responsabilidade já fez história eu aposto na 1. Eu prefiro o tablado, porque nele se levanta bandeiras de luta e se vislumbra conquistas de cultura politica e arte!

Prof. Neuri A².
Filósofo Existencialista,
Esp. Antropologia Filosófica

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vida de Che vira história em quadrinhos

 

As aventuras de Ernesto "Che" Guevara foi adaptada para "Che: Una Biografía Gráfica", uma história em quadrinhos que descreve a trajetória do revolucionário argentino em nove capítulos, desde sua infância, sua viagem de motocicleta pela América do Sul, até sua morte, aos 39 anos, numa aldeia boliviana.

 

Escrita por Sid Jacobson e ilustrada por Ernie Colón, a revista foi publicada em espanhol com traços de desenho animado. A dupla também foi responsável por uma bem-sucedida adaptação para os quadrinhos das investigações nos Estados Unidos sobre os atentados das Torres Gêmeas de Nova York.

O roteiro destacou o período compreendido entre 1950 e 1967, quando "Che" desenvolveu seu discurso político. Nos primeiros capítulos, os quadrinhos narram a viagem que o então jovem médico e seu amigo Alberto Granado realizam desde Córdoba (Argentina) até Caracas.

O projeto foi baseado nos registros escritos pelo próprio Guevara em seus diários e aborda o contexto político dos séculos 19 e 20 dos países da América Latina, desde a Argentina de Juan Domingo Perón até o México do presidente Lázaro Cárdenas.

A história em quadrinhos também conta o período cubano de "Che". Inclui-se aí seu desembarque na ilha a bordo do "Granma", em 1956, junto a Fidel e Raúl Castro, seu vital triunfo para a Revolução Cubana em Santa Clara, sua crítica ao capitalismo e seu percurso pela Europa para conseguir apoio econômico a Cuba.

A trajetória de Che Guevara já foi tema de diversas obras. Algumas das mais conhecidas são os filmes Diários de Motocicleta (2004, do cineasta brasileiro Walter Salles), protagonizado por Gael Garcia Bernal e baseado nos textos do próprio guerrilheiro, e Che (2008), produção dividida em duas partes dirigida por Steven Soderbergh. Neste último, Benicio Del Toro interpretou Che Guevara.

Com agências

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

                      A Grave Crise de Identidade do Jornalismo                                   

Reproduzo matéria publicada no sítio Carta Maior com base em informações do espanhol El Periódico:


No dia 27 de agosto, Ignácio Ramonet desafiou, desde a tribuna do Pequeno Palácio da Música, em Barcelona, a todos aqueles que defendem que o jornalismo – e o jornalista – já não são necessários, e que afirmam que a informação circula mais livre, mais abundante e mais transparente do que nunca. Frente a estes, sentenciou que não: que “a massa de informação oculta supera o imaginável em muitos temas“, que “na democracia a batalha pela liberdade de expressão nunca está definitivamente terminada”, e que os jornalistas devem existir porque uma de suas tarefas é “ampliar os limites dessa liberdade”.
A entrega do oitavo prêmio Antonio Asensio de Jornalismo, homenagem concedida pelo grupo Zeta em memória de seu fundador, foi – e provavelmente muitos antecipavam que, sendo Ramonet o premiado, seria assim – reivindicativa: uma tranqüila, mas robusta, reivindicação do jornalismo.

Ramonet é diretor da edição espanhola do Le Monde Diplomatique e figura proeminente da esquerda. Em seu discurso, o presidente do grupo Zeta, José Montilla, lembrou que o prêmio foi outorgado a ele “enquanto jornalista e ativista, por seu trabalho no Le Monde Diplomatique, mas também por suas iniciativas sociais”. 

Ramonet citou a divulgação de documentos do Pentágono feito pelo Wikileaks como exemplo do jornalismo com rótulo: o rótulo do necessário. “Ultimamente alguns grandes conglomerados de comunicação de dimensão continental e mesmo planetária querem converter o jornalismo em um entretenimento domesticado, em uma tediosa simplificação da realidade. O importante se dilui no trivial e o sensacionalismo substitui a explicação. Felizmente, mesmo neste novo contexto, podem surgir forças resistentes, como o Wikileaks está demonstrando”.

Sem dizê-lo, porém, Ramonet insinuou que Wikileaks é mais a exceção e menos a regra. “A imprensa escrita”, assinalou, “vive um dos momentos mais difíceis, e o jornalismo atravessa uma grave crise de identidade. Digo isso sem nostalgia, porque não creio que tenha existido uma idade de ouro do jornalismo. Fazer jornalismo de qualidade jamais foi fácil, sempre comportou riscos e ameaças: o poder político e o poder do dinheiro, e freqüentemente os dois, sempre trataram de coagir sua liberdade”.

Frente a este estado de coisas, “o jornalista deve reafirmar sua vontade de saber e compreender para poder transmitir”, disse ainda Ramonet. “Quando todos os meios de deixam arrastar pela velocidade e pela instantaneidade, o jornalista deve considerar que o importante é frear, desacelerar, conceder-se tempo para a dúvida, a análise e a reflexão. A informação é algo muito sério, porque de sua qualidade depende a qualidade da democracia”. E fez um último chamamento: “Ainda existem muitas injustiças no mundo que justificam uma concepção do jornalismo a favor de mais liberdade, justiça e democracia”.

A fala de Ramonet não foi um discurso isolado. O seu diagnóstico sobre o estado das coisas no jornalismo coincidiu, em termos gerais, com as palavras de Montilla, que disse que “as novas tecnologias não deveriam supor a desaparição da profissão jornalística” e defendeu profissionais rigorosos e com independência de critérios. Na mesma linha, o presidente da comissão executiva do grupo Zeta, Juan Llopart, falou dos “momentos incertos e confusos que vive o jornalismo” (provocados, em parte, para ele, pela “vertiginosa revolução tecnológica”) e reivindicou o rigor intelectual, o profissionalismo e o compromisso nas salas de redação. Valores que, concluiu, Ramonet representa.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte:http://altamiroborges.blogspot.com/

                      Dilma é elogiada em edição extra da Veja                          

Urariano Mota *

Dos cinco sentidos ensinados na velha escola, visão, audição, olfato, paladar e tato, o sentido dos olhos sempre foi o que julgávamos mais confiável. Veja, sempre nos diziam, quando não acreditávamos no que nos diziam. Veja! sempre nos ordenam hoje, quando opomos resistência ao que nos põem diante dos olhos. Por isso pusemos os óculos para ver, ainda que online, a capa da última edição da revista Veja.



Só elogios para Dilma Rousseff. Incrível. Se Machado de Assis fosse visto comendo cuscuz em Água Fria, seria mais crível. Confesso que tive vontade de correr à banca de revistas, ou à revistaria, como insistem em falar os do sudeste. E, mais envergonhado que se procurasse o suprassumo das pornografias, daquelas que nos apontam nas ruas e dizem, ali vai um absoluto degenerado, pedir baixinho e sem erguer os olhos:
- O senhor tem a Veja?
O estupor do colunista cabe nesse quase exagero. Se não, veja o leitor a edição extra e extraordinária da revista. Veja:

“Uma vitória de todos os brasileiros"
Esta Edição Extra de VEJA comemora a eleição de Dilma Rousseff, narra sua trajetória de vida, suas aventuras e desventuras na política, discorre sobre os perigos e desafios da poltrona em que ela vai se sentar a partir de 1º de janeiro de 2011.
Sem nunca ter se candidatado antes a qualquer cargo eletivo, sendo quase desconhecida dos brasileiros até ser nomeada ministra da Casa Civil por Lula em 2005, Dilma Rousseff elegeu-se, no domingo passado, presidente da República do Brasil com 55,7 milhões de votos — 12 milhões a mais do que seu concorrente, José Serra. Dilma tornou-se a primeira mulher eleita para ocupar o mais alto posto da hierarquia política do país.
Foi uma vitória de Dilma. Foi uma vitória do presidente Lula, que, com a força de sua popularidade, abriu caminho para uma candidata cujo desempenho nas urnas foi, no começo, uma incógnita até mesmo para os mais fervorosos partidários. Foi uma vitória de todos os brasileiros, dos candidatos e suas campanhas, que levaram a eleição a ser disputada em dois turnos, fazendo ressurgir a oposição no cenário do país e dando legitimidade ao processo político. Foi um triunfo do ‘fator bem-estar’, a atmosfera de orgulho, alívio financeiro e esperança criada pelos acertos econômicos e sociais de FHC e Lula, e que favoreceu o voto na continuidade.

Esta edição traz também os principais trechos do primeiro discurso de Dilma Rousseff depois de eleita. O pronunciamento, feito na noite de domingo em Brasília, mostrou uma presidente eleita senhora do lugar que agora ocupa e com plena consciência das prioridades políticas, econômicas e sociais do país. Mas, principalmente, salientou sua fé no papel presidencial de zelar pela Constituição e, consequentemente, pelo respeito aos direitos ali assegurados. Dilma reafirmou o respeito irrestrito à liberdade de expressão e seu reconhecimento de que ‘as críticas do jornalismo livre ajudam o país e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório’ Um grande começo”.

O que escrever diante disso? De imediato, que essa Veja não é a Veja. Que essa não é a referência dos oficiais de pijama e dos velhos generais.  Ou o  estandarte da Tradição, Família e Propriedade. Ou que acorda, nessa edição, sem vergonha e pudor e moral, é verdade, mas acorda, diante do novo tempo. Ou, enfim, que está à beira do limite de sua sobrevivência como órgão independente da Petrobras, Banco do Brasil e outras estatais de petralhas, como sempre chamou os petistas. Mas ainda assim, no espaço de 48 horas, depois da última edição de sábado, quando zombou e deformou semelhanças entre o Presidente Lula e Fidel, é muito rápido dilmais.

Em “A gênese do Doutor Fausto”, ao falar dos dias da segunda guerra mundial quando escrevia o romance Doutor Fausto, Thomas Mann transcreve do seu diário: “Naqueles dias, alcançou-nos a notícia da queda de Mussolini e a nomeação de Badoglio como primeiro-ministro e chefe das forças armadas; muita gente ainda seria liquidada, embora houvesse garantias oficiais de que ‘a palavra dada será cumprida e a guerra continua’. Mal a milícia fora assimilada pelo exército, eclodiram em toda a  península manifestações de paz e alegria;  a mudança de orientação da imprensa foi veemente – ‘Estamos livres!’ saudou o Corriere della Sera”.

Quanta semelhança para essa edição extra da Veja. Um cristão diria: ó Deus, valeu a pena estar vivo para ver a que ponto chega esse tipo de gênero humano. Quem duvidar, veja, aqui





* Autor de “Os Corações Futuristas” e de “Soledad no Recife”, que recria os últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, executada por Fleury com o auxílio do traidor. 



domingo, 31 de outubro de 2010


Após interferência do Papa, brasileira pede a própria excomunhão

"A gota d’água que me levou a redigir essa carta foi a ordem de Vossa Senhoria para que os pastores orientassem politicamente seus fiéis com base em preceitos morais, tendo em vista a eleição para a Presidência da República que ocorre no próximo domingo (31/10/2010). Bem, para mim o único preceito válido é o do Estado laico e considero um absurdo completo a Igreja se pronunciar sobre isso", protesta Maíra Kubík Mano em carta dirigida ao papa Bento XVI. Veja, abaixo, a íntegra da carta:


Pedido de excomunhão

Prezada autoridade papal, 
Eu, Maíra Kubík Mano, cidadã brasileira, 28 anos, venho, por meio desta, solicitar à Igreja Católica Apostólica Romana minha excomunhão. 
Fui batizada involuntariamente, quando tinha poucos meses de vida, pelos meus pais. Eles nada mais fizeram do que seguir a tradição de seus antepassados e não pretendo nem vou responsabilizá-los por isso. 
Contudo, aos 9 anos, fui de livre e espontânea vontade tomar a comunhão (Eucaristia). Fiz o curso necessário para tanto na Igreja Nossa Senhora do Brasil, em São Paulo, SP, Brasil. Durante nove meses, aprendi os preceitos católicos e estudei passagens bíblicas. Em seguida, participei da cerimônia em que recebi, pela primeira vez, a hóstia, ou o corpo de Cristo. 
Desde então, fui à missa poucas vezes e, com o passar do tempo, identifiquei-me cada vez menos com a doutrina católica. Ou, melhor dizendo, com aquela pregada diretamente pelo Vaticano. 
É preciso aqui fazer uns parênteses para afirmar que tenho, isso sim, laços fortes com a chamada Teologia da Libertação, que inundou de solidariedade e compromissos sociais os rincões do Brasil na segunda metade do século XX. Mas com esse grupo, imagino, você não está preocupado. Conseguiu isolá-lo, desautorizá-lo, diminuí-lo. Porém, quero registrar aqui que não foi possível enterrá-lo. O exemplo de sua força segue vivo com D. Pedro Casaldáliga, Dom Tomás Balduíno e tantos outros. 
De qualquer forma, cheguei à conclusão de que tenho um desacordo absoluto e completo com Sua Santidade, sem possibilidade de repactuação. Entre os pontos mais prementes sobre os quais temos visões diametralmente opostas estão legalização do aborto, casamento gay e utilização de preservativos durante o ato sexual. Isso só para começar a conversa. Poderia discorrer páginas e mais páginas sobre o lugar subalterno e humilhante que vocês têm reservado às mulheres durante séculos a fio. 
A gota d’água que me levou a redigir essa carta foi a ordem de Vossa Senhoria para que os pastores orientassem politicamente seus fiéis com base em preceitos morais, tendo em vista a eleição para a Presidência da República que ocorre no próximo domingo (31/10/2010). Bem, para mim o único preceito válido é o do Estado laico e considero um absurdo completo a Igreja se pronunciar sobre isso. Religião e governo misturados é uma fórmula maléfica, que prejudica as liberdades individuais e coletivas e só semeia o autoritarismo doutrinário. 
E, como se tudo isso não fosse suficiente, atualmente eu me defino como atéia. 
Sendo assim, peço que Sua Santidade seja sensível e caridosa o bastante para compreender que eu não quero mais ser considerada uma parte deste rebanho. Nem oficialmente, nem extra-oficialmente. Me conceda a excomunhão. 
Obrigada desde já, 
Maíra Kubík Mano 


*Texto originalmente publicado no blog Viva Mulher