quinta-feira, 22 de abril de 2010

Globo, Veja e Folha: o partido político da mídia vai à guerra

Quando aponta-se que há um partido político da mídia que organiza a oposição ao governo Lula, alguns colegas jornalistas ficam indignados por não se acharem partícipes de qualquer movimento. Julgam-se independentes e acusam aqueles que criticam os veículos como governistas e chapas-brancas.

A ação deste fim de semana que envolveu a Veja (com a capa do Serra de mãozinha no queixo), o jingle da Globo fazendo campanha pelo “Brasil pode mais” em nome dos seus 45 anos (sendo que o número 45 da Globo é igualzinho ao 45 do PSDB) e a pesquisa Datafolha que apresenta números contraditórios com a tendência de outros institutos, é mais uma demonstração de como a mídia comercial é o verdadeiro partido político da oposição demo-tucana.

Sem esses veículos de comunicação, Serra e sua turma teriam chance zero nas próximas eleições. Eles sabem que para que o candidato tucano tenha alguma possibilidade de vitória terão de jogar todas as fichas nele. Parecem estar dispostos a isso.

A ação da Globo, Veja e Folha não se deu ao mesmo tempo por coincidência. É algo articulado e para testar força. Quase como um ensaio de golpe. Algo muito comum quando os militares buscavam articular a derrubada de um governo democrático na América Latina.

Hoje, pesquisas devem estar sendo produzidas para consumo interno com a intenção de verificar se a ação resultou em alguma melhoria para os índices do tucano. A depender dos resultados, a ação se repetirá talvez em maior escala ou seus rumos podem ser alterados.

Por enquanto eles tentaram vender a simpatia de Serra e boas notícias para ele. Os próximos golpes podem (e pelo que indicam serão) ataques ao PT e reportagens acusatórias em relação à candidatura de Dilma.

Não foi à toa que Veja, Globo e Folha agiram conjuntamente. As teses do Instituto Milenium hoje são públicas. Não é preciso ser bidu para saber o que eles pensam da democracia. E para desenhar o que devem fazer no percurso da campanha eleitoral.

Preparem-se para uma campanha nojenta. Porque com jingles bonitinhos com artistas falando mais e mais e com capas de revistas em que Serra aparece de mãozinha no queixo não vai dar para melhorar a vida dele.
Ou seja, vai ter guerra.
  
Por Renato Rovai, em seu blog
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Artur Henrique: Reforma Agrária, uma bandeira da sociedade

A CUT é parceira histórica do MST e tem orgulho disso. A busca por um novo modelo agrário para o Brasil é luta mais que justa, digna. É também de interesse de todos os brasileiros e brasileiras, pois a reforma agrária e a valorização da agricultura familiar são fatores de desenvolvimento nacional, de soberania, de inteligência estratégica frente a um modelo econômico exaurido, para rumar a uma nova sociedade.

É uma luta de combate à pobreza, claro, e para por fim a práticas que deveriam estar extintas há muito tempo no Brasil, como já aconteceu em países desenvolvidos, ainda que capitalistas. Terras improdutivas na mão de umas poucas famílias, muitas recorrendo ao emprego de trabalho escravo e outras tantas usurpando dinheiro e terras públicos, utilizando-se de grilagem ou de subsídios e incentivos fiscais para, em troca, não gerar emprego, não produzir alimentos para a sociedade, para não pagar tributos.

São razões suficientes para qualquer cidadão se sentir parte interessada na reforma agrária. Se todos ainda pudessem entrar em contato com assentamentos bem organizados nascidos da luta pela terra, o apoio popular seria ainda maior, seria imenso. Essa luta é por um país desenvolvido, antenado com o século 21, que gera riquezas e inclui seu povo, onde crianças são saudáveis e idosos têm dignidade. É a busca por um novo eixo para distribuir renda e ainda respeitar o meio ambiente.

A Jornada Nacional da Reforma Agrária que acontece agora em abril é, portanto, de extrema importância para a maioria das pessoas. Pena que os meios de comunicação insistam em tratar o movimento dos trabalhadores rurais sem terra como se fosse criminoso. A partir de generalizações e raciocínios fáceis, tentam vender a imagem de que existem outros caminhos para a reforma, como se houvesse por aí várias pequenas propriedade rurais à venda para quem quiser produzir e que, por isso, as ocupações seriam um jeito malandro, faceiro, de escapar daquele único destino que credenciaria as pessoas como “gente de bem”: trabalhar muito, guardar economias por anos e anos e, aí sim, ousar ter uma propriedade.

Dessa forma apelativa, tentam confundir as pessoas, incluindo especialmente as pessoas de bem. Mas os grandes meios de comunicação esquecem, de propósito, de contar um detalhe fundamental que, revelado, seguramente desfaz qualquer engano ou efeito ilusório: não há um conjunto de propriedades rurais à venda para pequenos agricultores, o que existem são imensos latifúndios, cercados de arame farpado e de jagunços armados, muitos sem nada produzir, sendo que deles foram desalojados de maneira criminosa, tempos atrás, muitos dos que hoje buscam a reforma agrária e aqueles que os antecederam nessa luta.

As ocupações são um instrumento justo porque, muitas vezes, o único. Por isso pressionamos governos para que abracem politicamente a luta e adotem instrumentos que façam a reforma agrária avançar concretamente. Nossos sindicatos, rurais ou urbanos, têm em suas pautas reivindicatórias as bandeiras da atualização dos índices de produtividade da terra – os índices atualmente aplicados referem-se à realidade produtiva agrícola que existia há mais de 30 anos -, pela aprovação da PEC do trabalho escravo – terra onde for flagrada escravidão, desaproprie-se para a reforma agrária – e da aprovação do limite de propriedade da terra.

Em diversos estados onde o movimento atua, a CUT ajuda como pode. No interior de São Paulo, por exemplo, recentemente lideranças nossas acompanharam de perto o drama de dirigentes do MST presos.

Nossos sindicatos de trabalhadores rurais, na Contag e na Fetraf, dedicam-se intensamente a também realizar ocupações e a buscar sem trégua a melhoria do apoio à agricultura familiar e à estrutura latifundiária, especialmente através de nossas mobilizações do Grito da Terra e da Jornada Nacional de Lutas da Agricultura Familiar. Incluímos aí propostas econômicas para viabilizar, dinamizar e profissionalizar a pequena produção, esta que é, segundo não apenas evidências mas também uma recente pesquisa do IBGE, a locomotiva da produção de alimentos para os brasileiros e a principal aliada do respeito à natureza e a proteção das matas. Essa pesquisa do IBGE, por sinal, traz dados que comprovam avanços e, por isso, nos estimulam no combate.

MST, conte com o movimento sindical cutista nessa luta que é de todos nós.

* Artur Henrique é presidente nacional da CUT
Fonte: MST

UNE define posição da entidade nas eleições 2010 nesta semana

58° Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (UNE) reunirá mais de 500 estudantes na UFRJ entre os dias 22 a 25 de abril; objetivo é discutir propostas políticas dos estudantes brasileiros para apresentar aos candidatos nas eleições deste ano.

Entre os dias 22 a 25 de abril (quinta a domingo), mais de 500 lideranças estudantis de todo o Brasil estarão reunidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para discutir e elaborar uma plataforma política a ser apresentada ao conjunto da sociedade. Trata-se do 58° Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes, o Coneg da UNE, um dos principais fóruns de discussão do movimento estudantil brasileiro.

As atividades serão concentradas no Centro Tecnológico da UFRJ, no Fundão. A mesa de abertura será na quinta-feira, dia 22, às 10h, com a participação de autoridades políticas e representantes de entidades do movimento social. A plenária final – quando serão votadas e deliberadas pelos estudantes as principais propostas – será realizada no Terreno da UNE, na Praia do Flamengo-132, histórico espaço onde funcionou a sede da entidade até ser incendiada e demolida pelo regime ditatorial militar, em 1964. Na ocasião, estará exposta a maquete do arquiteto Oscar Niemeyer para o novo prédio que será construído no local.

58º. CONEG da UNE
Data: A partir de 22/04/10
End.: Bloco A do Centro de Tecnologia da UFRJ
CT da UFRJ /Ilha do Fundão
Av. Athos da Silveira Ramos 149 - Bloco A - 2º andar

Plenária Final do 58º CONEG da UNE
Data: 25/04/10
Local: Praia do Flamengo, 132.

Fonte: Estudantenet

Desgoverno demotucano em SP "some" com vagas 

no ensino infantil 

Atraso na entrega de escolas na rede municipal leva ao corte de lugares na pré-escola, deixando mais de 120 mil crianças sem vaga. Zerar deficit de vagas até o final de 2012 é uma das principais promessas de campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM), cujo governo é conduzido por tucanos ligados a José Serra.

A fila de espera por um lugar em creches e pré-escolas na rede municipal de São Paulo ganhou 22 mil crianças a mais neste ano -o fim do deficit de vagas na educação infantil foi uma das principais promessas de campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
A lista, que já tinha 101 mil nomes, chegou a 123 mil em março deste ano. Do novo contingente, 11 mil estão em busca de creche (0 a 3 anos) e outras 11 mil, de pré-escola (4 a 5).

A fila por creche aumentou apesar de a prefeitura ter feito 7.000 matrículas a mais neste ano. Na pré-escola, porém, ela cresceu porque o governo fechou vagas em escolas com excesso de alunos. O corte ocorreu para reduzir o tamanho das turmas, eliminar o terceiro turno em algumas unidades e redistribuir a rede conveniada, que passou a priorizar creche.
A ideia era compensar o corte com novas unidades, mas as obras atrasaram. Das 142 escolas anunciadas no ano passado (85 mil vagas previstas), só oito estão em construção. O resto deve ser entregue só em 2011.

Com isso, o total de matriculados em pré-escola recuou de 308 mil para 285,8 mil neste ano -22,2 mil vagas a menos. O relatório é o primeiro em que há corte de matrícula e alta do deficit. "Não acho bom criança fora da escola. Tanto que construímos 63 Emeis [pré-escolas]. Mas não posso deixar a escola um depósito, como era", disse à Folha o secretário da Educação, Alexandre Schneider. "Já melhoramos muito."

Schneider disse que esperava que o plano de obras "caminhasse mais rapidamente". Segundo ele, houve dificuldade em encontrar terrenos disponíveis e conseguir as licenças para a construção.

Sobre o aumento da demanda em toda rede, ele diz que a própria expansão faz a fila aumentar. "O pai começa a ver como possível a matrícula."

"O sistema precisa de planejamento adequado. Houve erro na previsão", diz o pesquisador Rubens Camargo, da Faculdade de Educação da USP.

"A prefeitura deve se organizar para não seguir nessa omissão", afirma o defensor público estadual Flávio Frasseto.

Sem trabalhar

Segundo o governo, nenhum aluno que estava na rede perdeu a vaga, mas o corte impediu que crianças entrassem no sistema e tornou mais difícil a vida de Eduardo, 4. "Ele está na fila há quase um ano. Não trabalho, não tenho onde deixá-lo", diz Rosilene dos Santos Silva, 32, do Jd. Felicidade (zona norte).

Pesquisas indicam que quem cursa o infantil tem resultados melhores em toda a vida escolar. Segundo a prefeitura, a migração das crianças de seis anos do infantil para o fundamental neste ano não tem impacto na queda das matrículas (quase todas crianças dessa idade já iam para o fundamental).

Fonte: Folha de S. Paulo
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Tiradentes e a atualidade da Questão Nacional

Liberdade – essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
Cecília Meireles, em O Romanceiro da Inconfidência

 

A atualidade de Joaquim José da Silva Xavier deve ser celebrada no 218º aniversário de sua imolação como símbolo de um movimento de autonomia nacional que ainda hoje está por se completar na formação social brasileira. A Conjuração Mineira foi um daqueles sonhos a que os homens se entregam por intuírem o caminho da História antes de a História lhes oferecer as condições determinantes para a materialização do sonho. Assim ocorreu com a Comuna de Paris, em 1871, definida por Karl Marx como uma tentativa de tomar o céu de assalto. Como já tive oportunidade de observar, também aos revolucionários de Vila Rica a História não recusou a razão, mas lhes negou a oportunidade.

O projeto político de conquistar a Independência e proclamar a República do Brasil foi muito além da troça que certos centros de pensamento querem lhe atribuir, apontando os conjurados como mais interessados em não pagar impostos à Coroa portuguesa do que em fundar uma nação. Joaquim José da Silva Xavier foi líder visionário, não um fantoche manipulado pela elite de Vila Rica, que, afinal, se era elite interessada na Independência do Brasil, constituía o povo da época. Como na memorável luta contra os holandeses no Nordeste, no século anterior, em Minas também se reuniam pela causa nacional os reinóis, os mazombos, os mestiços. Todos foram punidos, uns com a morte na cadeia, outros com o degredo e Tiradentes com a forca. Os banidos para a África e que lá morreram só voltariam à pátria por ordem do presidente Getúlio Vargas, que em 1942 mandou buscar um a um os heróis falecidos no desterro.

Inspirados por versos de Virgílio [Libertas quae sera tamen], reivindicavam liberdade ainda que tarde, e tinham como fonte os filósofos do Século das Luzes que refletiam a crise do Absolutismo e do Colonialismo no século XVIII e forjavam novas idéias e poliam os homens que iriam lutar e morrer por elas. Os conjurados de Minas Gerais miravam as nuvens que a Ilustração espalhara no céu da democracia, do que foram exemplos mais eloqüentes a Independência dos Estados Unidos da América, que nasciam como república, e a gloriosa Revolução Francesa. Nações em formação no Novo Mundo, como a americana e a brasileira, e as Colômbias de Simon Bolívar, já eram grandes demais para caber no apertado gibão da Europa feudal em transição para o capitalismo.

O sonho dos conjurados era implantar fábricas de tecidos e siderurgias na colônia que queriam tornar país. Tiradentes desenvolveu sua consciência política patrulhando o Caminho Novo, que ligava Minas ao Rio, por onde via passar as riquezas das jazidas auríferas do Brasil desviadas para Portugal, na quota de 100 arrobas de ouro por ano, aumentada em 1762 para oito mil quilos a título de dívida fiscal atrasada. O esbulho levava o nome de derrama.

Preterido nas promoções da Cavalaria, nunca tendo passado do posto de alferes, estabeleceu-se no Rio, levando a vida como qualquer do povo, trabalhando de mascate, tropeiro, boticário e dentista. Não era um homem sem luzes: órfão, sem nunca ter feito estudos regulares, projetou a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para melhorar o abastecimento de água da sede do vice-reino. Há notícias de que admirava o progresso industrial da Inglaterra, guardava um exemplar da Constituição dos Estados Unidos e citava a figura do presidente da República em oposição a um rei distante.

Depois de enforcado, em 21 de abril de 1792, no Largo de Lampadosa, atual Praça de Tiradentes, no Rio de Janeiro, teve os restos mortais espalhados na estrada que patrulhara e onde tecera seu sonho de Independência política, econômica e cultural do Brasil. Seus algozes o queriam maldito e esquecido, mas cada parte de seu corpo esquartejado parece ter servido de semente para a árvore da liberdade que germinou no Brasil e ornamentou os versos de Cecília Meireles. O povo do Rio de Janeiro logo mandou celebrar missas na intenção da alma do herói, e, pelo repúdio público, fez com que o traidor Joaquim Silvério dos Reis mudasse o nome para Montenegro e o domicílio para o Maranhão.

A atualidade de Tiradentes é a mesma da Questão Nacional que ele antecipou antes da expressão. Seu vulto histórico nos repõe a importância e urgência de um projeto de autonomia nacional com vistas à consolidação de um País forte, soberano, próspero, que produza e distribua riquezas suficientes para assegurar o bem-estar material e espiritual desta civilização única que erguemos nos tópicos.

Desde a infância da Nação esta tem sido uma empreitada difícil. A mesma rainha louca Maria I que mandou esquartejar Tiradentes, promulgou um alvará proibindo fábricas no Brasil e mandou destruir até os teares em que as mulheres fiavam a roupa dos filhos. Quase um século depois, os próceres da República, empenhados em industrializar o Brasil, eram dissuadidos pela casa bancária inglesa dos Rotschild, que nos recomendava exportar café e deles comprar linha, agulhas e botões. Foi na construção da identidade nacional que a República resgatou o heroísmo de Tiradentes.

As lutas do passado continuam, por outros meios e caminhos, no presente. Os embates que o Brasil trava contra o protecionismo das grandes potências, as pressões para a liberalização comercial que nos engoliria como país produtor de riquezas, e tantas outras ofensivas, fortalecem a convicção de que a Questão Nacional está viva, e aponta para a necessidade de mantermos a soberania nacional como atributo essencial do Estado.

Nos dias de hoje, sofremos um tipo novo de intervenção que nos limita a autonomia de dispormos de nosso território e recursos naturais em benefício do desenvolvimento e do bem-estar do povo. A abertura de estradas, construção de hidrelétricas, vivificação das zonas de fronteira, modernização de leis para ampliação da agricultura e democratização da propriedade da terra são boicotadas por governos estrangeiros e suas cabeças de ponte chamadas ONGs do meio ambiente. O exemplo histórico de Tiradentes é um alento para continuarmos a luta pela autonomia de um projeto nacional e soberania do Brasil.

*Aldo Rebelo é jornalista, escritor e deputado federal (PCdoB-SP). Recebeu em 10 de novembro de 2003 a Medalha Tiradentes, da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Aldo Rebelo*

Fonte:http://www.vermelho.org.br/noticia

Cúpula dos Povos propõe referendo mundial 

sobre meio ambiente

A Cúpula Mundial dos Povos, que acontece na Bolívia, para tratar da questão climática, aprovou a criação de um tribunal de justiça climática e a realização de um referendo mundial sobre meio ambiente. As resoluções do encontro serão encaminhadas à cúpula das Nações Unidas, a se realizar no fim do ano, no México. O presidente da Bolívia, Evo Morales, defendeu que as demandas dos movimentos precisam ser respeitadas neste fórum.

Mais de 20 mil pessoas participam da Cúpula Mundial dos Povos, que se encerra nesta quinta-feira (22), com uma "festa da unidade" para comemorar o Dia Internacional da Mãe Terra (Pachamama). Dezessete mesas de trabalho estão encarregadas de elaborar o documento final da conferência, com as propostas aprovadas.

De acordo com a resolução apresentada na atividade, o referendo sobre meio ambiente seria realizado no próximo dia da Mãe Terra, em 2011. A ideia é que ele seja organizado em vários países com o apoio oficial dos governos interessados, e, em outros, por meio dos movimentos sociais, dos sindicatos e das organizações não governamentais.

Entre as questões que seriam submetidas à população estão a concordância ou não com "o abandono do modo de sobreprodução e de consumo excessivo para restabelecer a harmonia com a natureza", a "transferência das despesas de guerra para um orçamento superior para a defesa do planeta", ou ainda a própria "criação de um Tribunal de justiça climático para julgar os que destroem a Terra".

"Deve haver um organismo que sancione severamente, por exemplo, os países que não respeitem o protocolo de Kioto. É preciso estabelecer penalidades", disse o presidente Evo Morales. De acordo com ele, sem uma organização que dê sequência às resoluções aprovadas nas cúpulas internacionais, nunca haverá nada nem ninguém que obrigue as indústrias e os países desenvolvidos a cumprí-las.

Morales, promotor do evento, assinalou que a Cúpula dos Povos "foi uma necesidade ante a posição dos países industrializados na Conferência de Copenhague, que quiseram aprovar decisões que não contribuíam em nada para garantir a sobrevivência do planeta".

De acordo com ele, os países industrializados desejaram "impor um documento para salvar a vida de alguns, mas com uma política prejudical ao meio ambiente. Apenas com a força dos povos em desenvolvimento, o mundo indistrializado respeitará a vida no planeta", disse Evo.

O futuro da Cúpula Mundial dos Povos foi traçado, nesta quinta-feira, com a proposta do teólogo brasileiro Frei Beto de que este tipo de reunião, realizada em Cochabamba, aconteça a cada dois anos. Evo informou que a ideia foi aprovada pelo seu governo e as organizações sociais, como forma de fortalecer a luta em defesa dos direitos da Mãe Terra. Ele defendeu ainda que, na proteção da vida no planeta, não existem diferenças ideológicas ou matizes políticas.

Com agências

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Niemeyer: desigualdade social é o principal 

problema de Brasília

Brasília dos sonhos de Oscar Niemeyer não tem nada a ver com a cidade que você conhece. Ela acabou justamente quando começou a ser habitada por políticos, técnicos e funcionários públicos, a partir de 21 de abril de 1960. Ele prefere os tempos da construção da cidade. As informações são da entrevista feita pela Folha por email, que o Vermelho reproduz.

Mario Fontenelle Oscar Niemeyer na varanda do Palácio do Alvorada. Foto M. M. Fontenelle (1919-1986). Acervo DPHA-DF

"Vivíamos naquela época como uma grande família, sem preconceitos e desigualdades. Uma vez inaugurada Brasília, vieram os homens do dinheiro, e tudo se modificou: a vaidade e o individualismo mais detestáveis se fizeram presentes".

Aos 102 anos, Niemeyer mantém algumas crenças comunistas da adolescência, mas já não endossa um dos maiores dogmas da arquitetura modernista, movimento do início do século 20 do qual ele é um dos maiores representantes: o de que é possível mudar o mundo por meio de projetos.

Niemeyer começou a trabalhar como arquiteto no início dos anos 30, como estagiário do escritório de Lucio Costa, apontado por historiadores como o fundador da arquitetura moderna brasileira. A parceria entre os dois durou até 1939, quando fizeram um projeto conjunto para a feira de Nova York, e seria retomada em Brasília em outros termos: Niemeyer foi escolhido pelo presidente Juscelino Kubitschek para projetar os prédios, enquanto Costa venceu um concurso do projeto urbanístico.

Em 1936, conviveu com Le Corbusier, francês que criou as bases do modernismo, na construção do Ministério da Educação, no Rio. O estilo que o projetaria como inventor nasceu na Pampulha, conjunto arquitetônico inaugurado em 1943 em Belo Horizonte, segundo o próprio Niemeyer.

Ganhador do prêmio mais importante de arquitetura em 1988, o Pritzker, Niemeyer não desistiu do projeto mais polêmico que criou para Brasília, uma praça que, segundo os críticos, desfigura o urbanismo de Lucio Costa. É o que falta, segundo Niemeyer, para a cidade ser como ele a imaginou.

Folha - O sr. dizia há cinco anos que Brasília era uma cidade incompleta, que faltavam prédios que estavam previstos no projeto. Ainda falta algo para a cidade?
Oscar Niemeyer - Acredito que naquela época eu tinha em mente a execução de duas obras que a nova capital hoje pode exibir: um museu de maior porte e a biblioteca. É claro que eu teria enorme satisfação em ver construída uma grande praça capaz de congregar os brasilienses e os visitantes, como aquela que desenhei há cerca de um ano e que provocou tanta celeuma.

Folha - O sr. criou algumas das imagens mais fortes do Brasil moderno. O sr. tinha a intenção de criar símbolos, de inventar uma marca?
Niemeyer - Confesso que nunca me passou pela cabeça essa pretensão. É evidente que os edifícios a que se refere foram projetados com extremo cuidado e marcaram um prolongamento e uma busca renovada daquela arquitetura mais livre e criativa que adoto desde os meus trabalhos realizados para a Pampulha.

Folha - O sr. sofreu um acidente grave de carro ao voltar de Brasília durante a construção. Qual foi o momento mais difícil?
Niemeyer - Talvez a morte de amigos tão queridos ocorrida no transcurso das obras, como a do Eça [Walter Garcia Lopes] ou a de Bernardo Sayão.

Folha - As avenidas muito largas e o isolamento das superquadras das regiões comerciais obrigam os brasilienses a usar automóvel para quase tudo. O que o sr. mudaria para que Brasília fosse melhor para ser desfrutada pelos pedestres, como ocorre no Rio de Janeiro?
Niemeyer - Penso que um dos problemas mais graves atestados nas cidades modernas reside na situação, a meu ver intolerável, em que os seus moradores se tornam reféns dos automóveis.*

Folha - Muitos urbanistas criticam a divisão de Brasília em setores, como o comercial e o de mansões. Os críticos dizem que as melhores cidades para viver têm essas funções misturadas. O que o sr. acha?
Niemeyer - Sinceramente, acho que essa separação fixada pelo Plano Piloto do Lucio [Costa] não é ruim.

Folha - Brasília foi planejada para ser uma cidade mais igualitária, mas acabou se tornando uma das mais desiguais do Brasil. O sr., como um comunista histórico, fica desapontado quando vê esse tipo de evolução?
Niemeyer - É claro que essa evolução me entristece. Brasília mudou bastante em relação àquele clima de união e solidariedade que reinava em seus tempos originais, quando da construção dos seus primeiros edifícios públicos. Vivíamos naquela época como uma grande família, sem preconceitos e desigualdades. Unia-nos um ambiente de confraternização proveniente de idênticos desconfortos. Uma vez inaugurada Brasília, vieram os homens do dinheiro, e tudo se modificou: a vaidade e o individualismo mais detestáveis se fizeram presentes. Nós mesmos terminamos por voltar, gradativamente, aos hábitos e preconceitos da burguesia que reprovávamos.*

Folha - É possível integrar as cidades-satélites ao Plano Piloto? Como o sr. consertaria a divisão e a distância entre ricos e pobres na cidade?
Niemeyer - É obvio que me desagrada profundamente esse tipo de segregação social e espacial. Mas acho que cabe aos especialistas em urbanismo, e não a mim, encontrar as soluções para reduzir ou superar os efeitos perversos da expansão.

Folha - O sr. acha que a arquitetura é capaz de promover transformações sociais, como se acreditava até os anos 50 e 60?
Niemeyer - Tenho hoje as minhas dúvidas. Penso, sim, que a transformação de nosso mundo social num universo mais justo e solidário é que poderá mudar a arquitetura. E, se um dia isso ocorrer, nós, arquitetos, seremos convocados para realizar grandes obras públicas.

Folha - Qual foi a crítica mais injusta que o sr. ouviu sobre Brasília?
Niemeyer - Talvez aquela construída por pessoas que teimam em afirmar que o sonho de Juscelino teria fracassado, uma vez que Brasília não teria trazido o progresso para o interior. Basta pensarmos no progresso de cidades como Goiânia.

Folha - E qual é a crítica mais justa sobre a cidade?
Niemeyer - É provável que seja o aparecimento daquela divisão intolerável entre ricos e pobres nessa metrópole.

Folha - Críticos como André Corrêa do Lago dizem que o sr. será conhecido no futuro como o maior artista brasileiro do século 20. Como o sr. gostaria de ser lembrado?
Niemeyer - Como de hábito, o meu amigo André Corrêa do Lago se mostra muito generoso em suas apreciações. Gostaria de ser lembrado como um ser humano, frágil e perplexo diante deste estranho mundo, como a maioria dos homens. Em síntese: como alguém que passou muito tempo debruçado sobre a prancheta, voltado para a sua arquitetura, mas sempre pronto para participar da luta política, sensível à necessidade histórica de superarmos esse regime de classes que o capitalismo veio a aprofundar.

Fonte: Folha Online