quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Partido Vivo


9 de Setembro de 2009 - 18h19

Escola do PCdoB marca novo curso e quer mais presença feminina

O próximo curso de nível 3 da Escola Nacional de Formação do PCdoB já tem data marcada: dias 11 a 23 de janeiro. Ele seguirá os mesmos critérios do realizado no final de julho, em Atibaia (SP) e terá igual número de vagas: 100. Para essa próxima edição, a Escola espera poder contar com um número maior de mulheres. “A formação não depende apenas da vontade pessoal. O partido deve estimular e criar condições para a maior participação feminina”, destaca Nereide Saviani, diretora da ENF.  

Segundo Nereide, “parece haver certo descuido, por parte das direções, com relação às mulheres. Muitas vezes o fato de serem mães ou chefes de família dificulta sua participação. O mesmo acontece, por exemplo, com os jovens operários. Isso pode parecer uma questão individual, mas não é”.

Ela avalia que ainda há uma preocupação maior entre os comitês estaduais de garantir as vagas a que têm direito sem, no entanto, atentar para o estímulo à inserção das mulheres nas atividades de Formação. “De fato, o partido está inserido numa realidade social em que a inclusão feminina é dificultada por uma série de fatores, mas é essencial que os comunistas atentem para essa questão”. Com a preocupação de aumentar o número de mulheres na vida partidária, o PCdoB adotou a cota mínima de 30%. “Mas, isso não aconteceu, por exemplo, no último curso, quando as mulheres representaram 27,11% do total de 62 alunos”, lamenta Nereide.

Para mudar esse quadro, a Escola Nacional tem procurado chamar atenção dos comitês estaduais para que o próximo curso tenha mais alunas. “Além de criar melhores condições para elas, é preciso que as direções as estimulem também. Mas, isso é uma via de mão dupla: para que de fato deflagremos um movimento de maior participação feminina, conclamamos as direções estaduais para atentarem para isso e, ao mesmo tempo, esperamos que as mulheres pleiteiem sua participação junto aos comitês estaduais”.

O próximo curso terá o mesmo formato e conteúdo do realizado em julho, com alguns ajustes pontuais sugeridos pelos alunos e professores. Além disso, aqueles que não puderam terminar seu curso agora poderão, após análise de caso por parte da Escola Nacional, continuar seus estudos em janeiro. “Em seguida, o grupo de trabalho responsável pelo currículo fará uma avaliação levando em conta os núcleos e, em cada nível, como esses núcleos estão articulados”, explica a diretora.

Após a realização deste curso, a Escola vai se focar no desenvolvimento do que deve ser o último nível de formação: os estudos avançados. “Nossa ideia é que tenhamos uma capacitação frequente e continuada e, para isso, contamos com os estados”. A eles cabe a aplicação do nível 1 e, pouco a pouco, a direção nacional espera que o nível 2 também possa ser ministrado pelas seções estaduais. Hoje, já existem experiências regionais. O nível 3 e o avançado ficam a cargo da direção nacional.

“Nossa expectativa é constituir e consolidar as seções estaduais para que, futuramente, a esfera central possa se ocupar com o desenvolvimento do nível avançado, bem como a questões relativas à pesquisa”, coloca Nereide. Além disso, “queremos investir na educação à distância para chegarmos mais longe com a nossa formação. Tecnologia para isso existe, mas sua implantação depende da preparação de professores locais que possam aplicar o curso”, complementa.

Balanço

Na avaliação de Nereide Saviani, apesar de não terem sido completadas as 100 vagas disponíveis, “a presença de 62 pessoas foi positiva levando em conta que o semestre foi marcado por eventos variados e pelo processo congressual do próprio PCdoB”. Segundo ela, na avaliação dos professores, o nível das intervenções e avaliações revelaram evolução dos conhecimentos dos alunos.

O curso teve um diferencial em relação aos de nível 2: os certificados serão entregues após avaliação, em formato de monografia, artigo ou fichamento de livro. A indicação dos temas, da bibliografia e do orientador deve ser feita pelos alunos até o dia 20 de novembro e o trabalho finalizado terá como prazo final 28 de fevereiro.

Neste curso, houve a participação de 19 membros do Comitê Central, três como alunos e os demais como professores ou expositores – que totalizaram 27. O balanço feito pela direção nacional da Escola mostra que neste último curso houve “equilíbrio geral entre as faixas etárias considerando-se o critério de faixas por cinco anos”. No caso de faixas mais largas, a avaliação aponta que o maior percentual está nos alunos entre 20 e 30 anos, com 33,88%, seguida pelas faixas de 31 a 40 anos, com 23,72%; 41 a 50 anos com 23,72% e os acima de 50 anos com cerca de 20%.

Ainda conforme a avaliação, 20,33% dos participantes é profissional do partido, 30,5% funcionários públicos, 22% professores e 23,72% estudantes. Mais da metade – 57,62% – é de militantes há mais de dez anos e 30,5% entre seis e dez anos.

No que diz respeito à formação, o documento mostra que a grande maioria, 90%, participou das atividades do nível 2 (centralizadas ou regionalizadas). Dentre os que informaram sua atuação, 20,33% são da frente sindical e 18,64% da juventude. Do total, 54% atuam de alguma maneira no âmbito da formação militante.


De São Paulo,
Priscila Lobregatte
9 de Setembro de 2009 - 20h08

Paulo Henrique Amorim: nem o Jabor aguenta mais o Serra (e SP)

Amiga navegante ouviu hoje a CBN, a rádio que troca a notícia. Elá estava o Jabor. Nem o Jabor aguenta mais o Serra, o fujão.


Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada


Jabor diz que São Paulo é a cidade mais poluída do mundo, ao lado da Cidade do México. Que, aqui, a Sodoma financeira, a terra do sub-capitalismo selvagem, do capitalismo sem regras, criou um cinturão negro de escravos e assaltantes.


(Êpa, êpa, lá vem o “vândalo”…)


Antes, São Paulo era o progresso, o orgulho, a locomotiva que ia nos salvar. A locomotiva quebrou. Hoje, São Paulo é o maior problema do país. Jabor, bem-vindo ao clube!


São Paulo, caríssimo colega Arnaldo Jabor, tem um problema que você não menciona. É o PiG (*), Jabor. O PiG (*) de que a tua CBN faz parte. Do SPTV, que omite, distorce e protege os tucanos. Uma imprensa que engana os moradores da cidade. Ilude. Vende a idéia de que São Paulo é a Chuíça (**), é a Lucerne do Gilberto Dimenstein. Um PiG (*) que sentou no colo dos tucanos há 15 anos e passa a mão na cabeça incompetente deles todos, Jabor.


A imprensa não é o pior de São Paulo. Nem a falta d’água, que você denuncia. O pior é a elite branca. De que o PiG (*) é cúmplice. Deste capitalismo sub-selvagem.

Jabor, sai do Jardim Paulistano e dá um pulo hoje em Heliópolis. Vai ver como está a coleta de lixo, Jabor. Sabe qual é a cara de São Paulo, Jabor? É o Maluf. Hoje, fantasiado de José Serra.


Bem-vindo ao clube, Jabor.




(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Chuíça é o que o PiG (*) de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

terça-feira, 8 de setembro de 2009


8 de Setembro de 2009 - 12h46


 Menino de 10 anos é símbolo da resistência em Honduras

Desde o final de agosto, quando fez um discurso inflamado contra o golpe de Estado em Honduras, o menino Oscar David Montesinos vem ganhando fama mundial. Com apenas 10 anos, ele impressiona pela desenvoltura com que fala contra o governo de Roberto Micheletti, que desde o fim de junho comanda o país. Veja abaixo o vídeo com o discurso do menino contra o golpe.

Durante um show em homenagem à resistência, em Tegucigalpa, capital hondurenha, o menino falou pouco mais de dois minutos. Foi o suficiente para se tornar símbolo da luta contra o golpe no país. O vídeo em que o menino é ovacionado multiplicou-se na internet e tem até versão legendada em português. São inúmeros os comentários de apoio ao presidente deposto Manuel Zelaya.

Na sua breve fala, Oscar David Montesinos afirma que “nós, o povo, temos o poder de colocar Goriletti-Micheletti em xeque”. “Mais duro contra os golpistas!” e “Passo firme até a revolução”, são somente duas das expressões usadas pelo pequeno revolucionário. Veja abaixo a versão com legendas. 


Com Rede Brasil Atual
o discurso dos Coitados!
 
Esse texto é resultado de uma revolta particular com as incongruências teóricas e práticas que teimam em seguir hegemônicas no rural brasileiro. Resolver um problema criando outro é uma prática estéril que pouco faz para o desenvolvimento nacional. Resolver o problema de acesso a terra fabricando futuros “sem terra” é estrategicamente incorreto. E a história provará isso. Vamos a questão.
 
A concentração da propriedade da terra é secular e responsável por grande parte das desigualdades sociais no Brasil. É concreto. Exige elaboração teórica e estratégias baseadas na realidade concreta. Portanto, uma reforma agrária parece imprescindível. Veja que uso o artigo indefinido e reforma agrária aparece com iniciais minúsculas, não sendo substantivo próprio como alguns desejam. O artigo é indefinido porque não se sabe ao certo qual reforma agrária vai acontecer. Ninguém sabe ao certo qual o caminho da reforma agrária, mas tenho convicção de que deve ser orientada ao futuro, com os pés e a cabeça no futuro, aproveitando os avanços que a sociedade já conquistou, principalmente no que tange ao desenvolvimento humano. Redução da jornada de trabalho, direitos trabalhistas, férias, descanso remunerado, assistência médica e odontológica, acesso a educação e a cultura universais, inclusão dos homens no mundo de todos os homens. Qual a justificativa para que os homens e mulheres do mundo rural não tenham acesso a essas benesses?
 
A agricultura familiar como está não é capaz de garantir esses direitos. Esses indivíduos são verdadeiros ornitorrincos na luta de classes. Não são proletários, trabalhadores assalariados, e por isso não conseguem lutar de forma organizada pelos direitos trabalhistas. Tampouco são capitalistas, burgueses, donos dos meios de produção, que exploram força de trabalho assalariada. 
 Não conseguiram ainda se libertar dessas migalhas do capitalismo, que traz consigo a expectativa de tornar-se também um “bem sucedido” economicamente. São proprietários sim, mas isso é meramente uma formalidade. Não são competitivos numa economia onde a escala de produção é um elemento a considerar. A única força de trabalho que exploram é a dos membros da própria família, que cumprem jornadas de trabalho exaustivas, sem receber salário, pois é o “pai” quem controla as finanças, de forma extremamente amadora. Ou exploram outros agricultores familiares, mais próximos da proletarização que eles. É esse o modelo de reforma agrária que queremos? É esse o caminho para a emancipação dos homens?
 
O discurso da agricultura familiar é conservador e reacionário em dois pontos principais. Tem como base social a família, célula da sociedade burguesa, e como estrutura organizacional a garantia da propriedade privada dos meios de produção. A família se transforma, e a experiência dos países de capitalismo avançado mostra que cada vez menos a família como um todo se ocupa das atividades agropecuárias. Geralmente é só o “pai”, e mesmo assim, este assume a atividade como um profissional, tal qual o advogado, o pedreiro, o médico. É bem formado para isso, não sendo raros os casos onde a universidade foi meio de formação. E sobre a questão da propriedade não precisa maiores delongas. Enquanto houver propriedade privada dos meios de produção haverá exploração do homem pelo homem. Ou vão extrair mais-valia de onde?
Sem falar na otimização dos fatores de produção e dos recursos, sempre escassos, como diriam os economistas. Existe uma superexploração do trabalho e uma subutilização dos outros fatores de produção. Trabalham até 14 horas diárias (que outra categoria social seria valente o suficiente para agüentar isso! - diria o francês Bruno Jean) e tem um trator para 10 hectares de terra. Utilizam áreas marginais, que não teriam outro uso senão para preservação dos recursos naturais (tecnicamente falando). São pouco eficientes na alocação dos recursos e não tem nenhum controle sobre isso. E o argumento de que são protetores dos recursos naturais não se fundamenta na prática. Exemplo disso é a depredação do bioma Mata Atlântica, ocupado na sua maior parte por agricultores familiares. Restam em todo o país menos de 7% da área original. E o campeão de desmatamento tem sido Santa Catarina, onde a base social da agropecuária é........a agricultura familiar.
 
O PT, que ao menos no nome é Partido dos Trabalhadores, assumiu o discurso da agricultura familiar, criando inclusive sindicatos (ainda ONGs juridicamente) paralelos, enfraquecendo os históricos STRs e suas Federações, como a CONTAG. Conhecem a FETRAF? No curto prazo essa entidade tem servido para acumular forças para a categoria. As liberações remuneradas de militantes dessa organização não seriam possíveis sem a contribuição sindical que recebem. Inclusive a eleição de muitos deputados da referida legenda deu-se com apoio desses companheiros e companheiras. Mas a história vai revelar a dimensão dos erros que estão cometendo, pois servem agora como legítimos pelegos: não deixam que o desenvolvimento das forças produtivas conduza a uma diferenciação social mais acelerada, geradora de consciência de classe entre os trabalhadores. Contradizem Lênin abertamente e ainda se dizem revolucionários. Tolos.
 
Os defensores da agricultura familiar agarram-se a argumentos saudosistas, do “tempo dos colonos...”, de que “antigamente era melhor...” e assim por diante, desconsiderando os avanços da sociedade capitalista, e as profundas transformações que a eles são inerentes. Apelam para a subjetividade religiosa das pessoas para persuadi-las, enaltecendo os argumentos e desconsiderando os fatos. E como dizem, contra fatos não há argumentos cabíveis. Resta-lhes pregar a imagem dos “Coitados dos nossos colonos!...”
Francamente! Precisamos de uma política laica, de uma ciência laica, de um Estado laico. Ou superamos o subjetivismo religioso que enaltece uma bucólica agricultura familiar, ou não avançaremos na questão agrária.
 
 Elvio Izaias da Silva
Agronomo 
 
 http://barbaopiniao.blogspot.com/
7 de Setembro de 2009 - 0h10

 Internet mais pobre sem Saramago

Carlos Pompe *

No dia 1º, José Saramago se despediu dos leitores de seu Caderno — o blog que inaugurou no dia 15 de setembro de 2008. Nele opinou um pouco sobre tudo e reafirmou posições e compromissos. Inclusive, reafirmou suas convicções marxistas e seu compromisso leninista com o Partido Comunista Português.


Uma seleção do que ele postou no blog foi coletada em livro, O Caderno, que sua editora italiana, Einaudi, pertencente ao direitista primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que se negou a publicar a versão italiana do livro em sua editora devido às críticas que Saramago fez em seus artigos ao governante da Itália.

Além de dizer que seus livros proporcionavam lucro ao dono da editora, o escritor ainda o chamou de “coisa” e delinquente: “Os valores básicos da convivência humana são espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo”. (A coisa Berlusconi, 8/6/09)

Saramago abordou, ao longo desses meses, temas os mais variados das artes – inclusive a literatura, seu ofício – e da sociedade. Expressou seu repúdio ao terrorismo do Estado de Israel contra os palestinos e também condenou ações terroristas contra civis, ocorressem onde fossem. Clamou pela paz e pelo fim das discriminações. Depôs sobre artistas, ativistas e políticos que admira ou conheceu – e também os que deplora.

Seu estilo e sua visão e cultura amplas proporcionaram (e proporcionam, pois os textos continuam abertos à visitação) reflexões como esta, sobre a necessidade de os homens também se rebelarem contra a agressão às mulheres: “Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia”. (Problema de homens, 28/7/09)

Sua abordagem sobre seu papel como artista e cidadão é um caminho a seguir para os que zelam pela coerência: “Como escritor, creio não me ter separado jamais da minha consciência de cidadão. Considero que aonde vai um, deverá ir o outro. Não recordo ter escrito uma só palavra que estivesse em contradição com as convicções políticas que defendo, mas isso não significa que tenha posto alguma vez a literatura ao serviço directo da ideologia que é a minha. Quer dizer, isso sim, que ao escrever procuro, em cada palavra, exprimir a totalidade do homem que sou”. (Do sujeito sobre si mesmo, 7/7/09)

Materialista confesso, pronunciou-se inúmeras vezes contra as duas principais seitas monoteístas do Ocidente: “Se Alá não toma conta da sua gente, isto vai acabar mal. Já tínhamos a Bíblia como manual do perfeito criminoso, agora é a vez do Corão, que o xeque Al Nayan reza todos os dias”. (Torturas, 11/5/09) Este outro seu argumento é atualíssimo neste nosso Brasil, quando governo e Vaticano se unem para perpetrar mais um atentado contra o Estado laico: “Seria de agradecer que a Igreja Católica Apostólica Romana deixasse de meter-se naquilo que não lhe diz respeito, isto é, a vida civil e a vida privada das pessoas. Não devemos, porém, surpreender-nos. À Igreja Católica importa pouco ou nada o destino das almas, o seu objetivo sempre foi controlar os corpos, e o laicismo é a primeira porta por onde começam a escapar-lhe esses corpos, e de caminho os espíritos, já que uns não vão sem os outros aonde quer que seja. A questão do laicismo não passa, portanto, de uma primeira escaramuça. A autêntica confrontação chegará quando finalmente se opuserem crença e descrença, indo esta à luta com o seu verdadeiro nome: ateísmo. O mais são jogos de palavras”. (Laicismo, 4/6/09)

As convicções comunistas do autor também não ficam escondidas em jogos de palavras. Quando um político foi agredido, no 1º de Maio deste ano, Saramago pediu a expulsão dos agressores, se fossem militantes do partido (ele o é há mais de 40 anos), e provocou: “A Vital Moreira chamaram-lhe ‘traidor’, e isto, queira-se ou não se queira, é bastante claro para que o tomemos como o cordão umbilical que liga o desprezível episódio do desfile do 1º. de Maio à saída de Vital Moreira do Partido Comunista há vinte anos. Que espero que não seja por me considerarem a mim também traidor, pois embora militante disciplinado, nem sempre estive de acordo com decisões políticas do meu partido”. (Expulsão, 2/509)

Saramago deixa em aberto a possibilidade de ainda postar textos eventuais no seu blog. Como ele próprio escreveu numa homenagem ao mais conhecido comunista português, Álvaro Cunhal (em 31/7/09)

– “Envelhecer é não ser preciso. Ainda precisávamos de Cunhal quando ele se retirou”.
Ainda precisamos de Saramago, que não envelhece. Disse que se retira da internet para se dedicar mais e melhor aos seus livros. Pois que venham os livros!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

31 de Agosto de 2009 - 19h08

Fraternidade ecológica

Moises Diniz *

Quanto texto, conferência, dissertação, opinião, tinta, tipografia, hemorragia de letras e quanto verbo acerca da necessidade de manter preservada a floresta. Só a quantidade de celulose utilizada em bilhões de páginas de papel, escritas sobre o assunto, reporia 2% da floresta devastada do planeta.

E ninguém sugere que olhemos para as nossas origens na floresta, após a nossa longa, fria e tenebrosa passagem pelas águas.

Temos um medo abissal de olhar para as extremidades de nossos dedos e descobrir que, durante quase um século de milhões de anos, resistimos nas árvores. Nossas garras, que depois se transformaram em mãos, guardaram as marcas digitalizadas das cascas das árvores. Quando vamos retirar a nossa carteira de identidade, o nosso polegar denuncia a nossa origem animal e as marcas indeléveis que ficaram do tempo inestimável de nossa vida braquiadora na floresta.

Viemos de uma resistência biológica e ecológica de milhões de anos. Nossos antepassados, esgotado o período de especiação, estão na floresta a nos lembrar que a única coisa que nos separa dos mamíferos inferiores é a palavra e o raciocínio lógico. Isso já basta para entendermos que entre nós e os mamíferos inferiores deve existir uma cumplicidade que não deixa de ser gratidão.

Além de termos vindo de lá, a partir da evolução das espécies, nos alimentamos de sua carne e de seus frutos. Mesmo os animais domesticados um dia viveram na floresta. A partir das florestas ocupamos as planícies, as cavernas. De lá retiramos as nossas primeiras ferramentas, nossos nomes e vestimentas.

À exceção do sal, o que consumimos que não tenha vindo da floresta? Até os combustíveis fósseis são resultados de trilhões de árvores envelhecidas, apodrecidas e soterradas no quase intocável subsolo do planeta.

Tudo o que temos de mais forte e mais precioso em nossa carga biológica, genética e humana foi adquirido e aperfeiçoado na floresta. Nossas mãos retráteis nasceram do contato rústico e dolorido com as cascas das árvores. Nosso esqueleto de alta resistência e formidável elasticidade óssea foi construído entre os galhos, em nosso deslocamento arbóreo. Nossa visão estereoscópica é fruto da vivência entre as folhagens da copa das árvores.

Adquiridas essas ferramentas biológicas e esgotado o alimento em nosso nicho ecológico arbóreo, como uma espécie fugindo da extinção, descemos ao solo das imensas florestas, antes de nos aventurarmos nas planícies. Nas florestas demarcamos os nossos territórios, organizamos as nossas hordas e famílias e iniciamos o manuseio primitivo das primeiras ferramentas.

Antes de nossa espécie ter realizado a curva pré-histórica de supremacia ‘espiritual’ entre si e os animais inferiores, a alma não era exclusividade do homo sapiens. Os animais da floresta, especialmente os mais fortes e os mais inteligentes, eram dotados de espírito, que orientavam ou puniam o homo erectus. O espírito do búfalo, do urso, do leopardo, da águia, da serpente.

No longo período de transição entre o primata e o homem, nós vivíamos numa relação desigual com o meio ambiente e seus recursos naturais poderosos. Sofremos intempéries mortais do tempo glacial, da chuva ácida, do sol escaldante, dos vulcões, das torrentes e das tempestades. As feras da floresta nos dizimavam como formigas e nosso tempo era curto em cada território e caverna. Então, decidimos nos vingar, nos transformamos numa força geológica. O antropoceno está matando aqueles que o criaram, como um monstro que nasce do parto de uma borboleta.

A nossa vingança se voltou contra nós mesmos e estamos a destruir as últimas reservas de água, floresta e toda a acumulação primitiva de recursos naturais. Estamos matando a nossa galinha dos ovos de ouro e sequer a maioria da população tem acesso aos ovos.

Uma minoria consome os recursos naturais, que se tornam bens sofisticados, enquanto a maioria da população do planeta não sabe o que é beber água potável ou alimentar-se três vezes ao dia. Apesar disso, o planeta está se exaurindo e deixando órfãs de seus recursos naturais as gerações do futuro.

No decorrer dos séculos, com o avanço da tecnologia, perdemos a cumplicidade entre o ser humano e o espaço verde que nos criou e nos alimenta. Os homens que dirigem o planeta são os antigos mamíferos que se tornaram lobos do semelhante. Eles cuidam de sua alcatéia, de sua minoria, a controlar e consumir os recursos naturais com cérebro de lobo e estômago de lagarta.

Talvez uma maldição biológica explique a nossa vingança. Nossos genes são quase iguais aos genes dos ratos. Quanto aos macacos somos mais semelhantes, além dos genes, da herança do esqueleto, da fisiologia, da fisionomia e das digitais. Somos descendentes próximos dos macacos e parentes distantes dos anjos. E ainda temos a ousadia de afirmar que somos filhos de Deus.

Durante setenta milhões de anos vivemos nas florestas. Quanto à vida humana nas cidades, ainda não completou meio milhão de anos. E por que tanto desamor aos recursos naturais? Por que tanta indiferença às formas de vida indefesa das florestas e das águas?

Dentre os animais nós somos os únicos capazes de envenenar a própria água que bebemos, de matar um ser vivo sem ter a necessidade de comê-lo para saciar a fome, de escravizar o semelhante, de torturá-lo. Contraditoriamente, somos os únicos que têm alma e, se não bastasse, somos os únicos seres vivos que riem.

A verdade é que toda a nossa ferocidade ancestral e os nossos instintos mais primitivos foram organizados em leis, em códigos canônicos e em sociais convenções. O presídio de hoje é a árvore oposta que abrigava a família de símios que queria roubar os meus frutos. A civilização é uma pele humana que cobre a nossa animalidade ancestral.

Talvez, por isso, não consigamos olhar com fraternidade para as formas de vida que não riem, não torturam, não matam a si mesmas, não rezam, não escravizam. Felizmente, nossos somos a única espécie que perdoa.

Por isso a nossa aposta na espécie humana, na sua capacidade de transformar lixo em arte, de recuperar os rios, de reciclar sua urina, de fazer de um grito uma música, de transformar o desejo mais simples em utopia e de, finalmente, perceber a dimensão da dor nas formas de vida que não fazem parte da civilização.

Somente uma nova ordem humana e ecológica e uma nova filosofia de produção e de consumo serão capazes de deter a barbárie da civilização. Que os antigos espíritos dos animais da terra e das águas nos orientem no rumo ontológico de nossas origens e de nossas utopias coletivas, embebidas no orvalho amazônico da fraternidade e na cura das enfermidades da alma humana, reconstruindo o pacto sócio-ecológico entre o homem e a floresta.


* Neto de índios Ashaninkas, ex Irmão Marista, formado em pedagogia e
deputado estadual pelo PCdoB no Acre.

FIDEL CASTRO - OS FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIO

3 de Setembro de 2009 - 17h01


O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, afirmou que as notícias diretas procedentes dos Estados Unidos produzem em certas ocasiões indignação e às vezes repugnância.
Em um artigo intitulado "O fim não justifica os meios", divulgado na quarta-feira (2) pela publicação digital CubaDebate, Fidel Castro assinala que "qualquer página do grande volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, de um modo geral estão relacionadas com a política dos Estados Unidos da América. Não existe lugar do planeta onde não é experimentada a avassaladora presença do império".

O líder cubano considera que, como é lógico, durante quase dez anos as notícias sobre as guerras brutais dos Estados Unidos ocuparam espaços importantes na imprensa e ainda mais quando havia uma eleição presidencial.
Leia abaixo a íntegra do artigo de Fidel Castro:
Fidel Castro: O fim não justifica os meios

As notícias diretas provenientes dos Estados Unidos da América em ocasiões produzem indignação e outras vezes repugnância.

Como é sabido, nos últimos tempos grande número delas se referiam aos problemas associados à grave crise econômica internacional e as suas consequências no seio do império. Não são, portanto, as únicas referentes a esse poderoso país. Qualquer página do grande volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, de um modo geral estão relacionadas com a política dos Estados Unidos da América. Não existe lugar do planeta onde não é experimentada a avassaladora presença do império.

Como é lógico, durante quase dez anos as notícias sobre as suas brutais guerras ocuparam importantes espaços da imprensa e ainda mais quando havia uma eleição presidencial.

Contudo, ninguém tinha imaginado que no meio do drama das guerras de conquista apareciam as notícias sobre os cárceres secretos e os centros de tortura, um vexante e bem guardado secreto do Governo dos Estados Unidos.

O autor da grotesca política que conduziu a esse ponto tinha usurpado a presidência dos Estados Unidos da América nas eleições de novembro do ano 2000, mediante fraude eleitoral no sul do estado da Flórida onde se decidiu a guerra.

Depois de usurpar o poder , W. Bush não apenas arrastou o país a uma política de guerra, mas também deixou de subscrever o Protocolo de Quioto, negando ao mundo durante 10 anos, na luta pelo meio ambiente, o apoio da nação que consome 25 por cento do combustível fóssil, o que pode ocasionar à espécie humana um prejuízo irreparável. Já a mudança climática está presente no incremento mundial do calor, que os pilotos de aviões executivos podem observar através dos tornados de crescente força que são formados desde as primeiras horas da tarde nas suas rotas tropicais e podem ser motivo de perigo para os seus modernos jatos. Ainda não se conhecem as causas do acidente do avião de Air France que se desintegrou em pleno voo.

Nada seria comparável com as consequências do descongelamento da enorme massa de água acumulada sobre o continente antártico, somada à que se derrete sobre a Groenlândia. O meu ponto de vista sobre a responsabilidade que cai sobre Bush, sustentei-o em recente encontro com o cineasta norte-americano Oliver Stone ao comentar-lhe o seu filme: "W" , referente ao penúltimo Presidente dos Estados Unidos da América.

Limito-me a assinalar que após os erros e horrores políticos de George W. Bush, o ex-presidente Cheney, que foi o seu conselheiro, defende a ideia de que as torturas ordenadas à CIA para obter informação estavam justificadas, razão pela qual salvaram vidas norte-americanas graças à informação obtida por essa via.

É claro que não salvou as vidas dos milhares de norte-americanos que morreram no Iraque, nem as de quase um milhão de iraquianos, nem os que em número crescente morrem no Afeganistão. Também não se sabe quais serão as consequências do ódio acumulado pelos genocídios que estão sendo cometidos ou podem ser cometidos por essas vias.

Trata-se, compreenda-se bem, de um problema essencial de ética política: "o fim não justifica os meios". A tortura não justifica a tortura; o crime não justifica o crime.

Tal princípio foi debatido e se manteve durante séculos. Em virtude dele a humanidade tem condenado todas as guerras de conquista e todos os crimes cometidos. É bem grave que o mais poderoso império e a mais colossal superpotência que haja existido nunca proclame tal política. Mais preocupante ainda não é só que o ex-presidente e o principal inspirador de tão pérfida política a proclame abertamente, mas que um elevado número de cidadãos desse país, talvez mais da metade, a apoie. Nesse caso, seria uma prova do abismo moral ao qual pode conduzir o capitalismo desenvolvido, o consumismo e o imperialismo. De ser assim, deve proclamar-se abertamente e pedir opinião ao resto do mundo.

Considero, contudo, que os cidadãos mais conscientes dos Estados Unidos da América serão capazes de realizar e ganhar essa batalha moral a medida que compreendam a dolorosa realidade. Nenhuma pessoa honesta no mundo deseja para eles, ou para qualquer outro país, a morte de pessoas inocentes, vítimas de qualquer forma de terror, venha de onde vier.

Fidel Castro Ruz, Havana, 2 de setembro de 2009, 19h34 .

Fonte: Agência Cubana de Notícias

GOLPE EM HONDURAS

 3 de Setembro de 2009 - 23h01

Após visita de Zelaya, EUA endurecem com golpistas de Honduras


O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, comemorou a decisão anunciada nesta quinta-feira (3) pelo governo norte-americano de suspender todos os programas de auxílio que mantém com seu país, exceto a ajuda humanitária. Em uma breve entrevista que concedeu após sua reunião com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ocorrida em Washington, Zelaya explicou que as novas sanções demonstram que o regime de facto de Roberto Micheletti "está cada vez mais isolado".

Em uma breve entrevista que concedeu após sua reunião com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ocorrida em Washington, Zelaya explicou que as novas sanções demonstram que o regime de facto de Roberto Micheletti "está cada vez mais isolado". O mandatário também reiterou que sua volta ao poder é uma questão "inegociável"

Nesta quinta-feira (3), o Departamento de Estado norte-americano decidiu suspender "grande parte" das assistências mantidas junto a Honduras. A medida tem como objetivo pressionar o governo de facto a aceitar um acordo que permita a restituição de Zelaya, deposto em um golpe de Estado no fim de junho. O anúncio, feito mediante um comunicado em nome de Ian Kelly, porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos, ocorreu durante a audiência entre Hillary e Zelaya.

No texto, Washington diz ainda que não reconhecerá as eleições presidenciais hondurenhas marcadas para 29 de novembro se o chefe de Estado não for reconduzido ao poder.

"Neste momento, não seremos capazes de apoiar o resultado das eleições", afirma a nota. O Departamento de Estado cobrou uma "conclusão positiva" para a mediação do presidente costa-riquenho, Oscar Arias, o que poderia "prover uma base sólida para a legitimação das eleições".

O comunicado indica que "a restauração das assistências canceladas" será avaliada quando houver em Honduras "a volta de um governo democrático e constitucional". Mas, apesar do endurecimento de posição, Washington evitou qualificar a destituição de Zelaya como um "golpe militar".

Funcionários do governo norte-americano acreditam que o valor dos auxílios interrompidos pode chegar a US$ 200 milhões. Antes, os Estados Unidos já haviam suspendido a cooperação militar e paralisaram o serviço de emissão de vistos para cidadãos hondurenhos.

Também nesta quinta-feira, o governo brasileiro anunciou que voltará a cobrar vistos para hondurenhos que venham ao país. A exigência estava suspensa graças a acordos assinados em 2004.


Fonte: ANSA