domingo, 1 de agosto de 2010


Cuba é o único país da América Latina que legalizou o aborto


Por incrível que pareça, na época em que vivemos, o aborto é legal em apenas um país da América Latina, Cuba. Cinco países – Chile, El Salvador, Honduras, Nicarágua e República Dominicana – o proíbem em qualquer circunstância, até quando a vida da mãe está em perigo. Uma lei que torna o aborto legal na Cidade do México está sendo atacada pela Igreja Católica Romana.


Mas o aborto não é o único problema dos direitos da mulher na América Latina. Embora muitos governos da região se descrevam como progressistas, as vidas cotidianas de milhões de mulheres na América Latina continuam atoladas na pobreza, dominação masculina e discriminação por causa da negligência nas reformas sociais e medidas legais.

Ainda assim, a votação argentina que permitiu os casamentos entre pessoas de mesmo sexo é uma espécie de revolução social – um sinal possível de que talvez a campanha pelos direitos das mulheres possa estar por perto. O passado recente e turbulento da Argentina e a opressão e perseguição brutal de gays e lésbicas não indicavam em hipótese alguma a nova posição mundial da nação da Patagônia, como defensora de seus direitos. 

Há algumas décadas, durante a “guerra suja”, depois do golpe militar de março de 1976, bares gays de Buenos Aires foram fechados, e mais de mil homens gays foram perseguidos, presos, sequestrados, torturados e mortos. As histórias de centenas de milhares de “desaparecidos” – gays e heterossexuais – assombram o país ainda hoje.

Desafio à religião

Fora da cosmopolita Buenos Aires, esta é uma região onde a homossexualidade ainda é um tabu, geralmente vista como pecado mortal, uma abominação, uma piada cruel e um motivo aceito para o ostracismo social. É uma região onde os insultos contra os gays e lésbicas estão entre as coisas mais odiosas que se pode dizer sobre um homem ou uma mulher, e onde os meninos que demonstram o que se considera como maneirismos efeminados são condenados à zombaria e ao isolamento.

Nesse cenário, o avanço dos gays na Argentina pode abrir o caminho para outras nações que antes eram repressoras, como o vizinho Chile. Por enquanto, com apenas o Canadá no continente americano, a Argentina se juntou a um punhado de países europeus, incluindo a Espanha, Portugal, Bélgica e a Holanda. É notável que três países fortemente católicos – Argentina, Espanha e Portugal – tenham desafiado a religião e a tradição social para levantar esse assunto incômodo e controverso, visto por alguns no Ociente como a batalha dos direitos humanos da nossa época.

A lei argentina tem distinções notáveis: ela foi aprovada por uma pequena margem e, nesse momento, aplica-se apenas a cidadãos argentinos. Gays e lésbicas estrangeiros que planejam se casar na Argentina estão sem sorte. Mais significativamente, a lei superou uma oposição amarga das igrejas Católica Romana, Mórmom e evangélica, às quais pertence a maioria da população.

Questões em impasse

Não está certo se outros países do hemisfério irão seguir o exemplo. Até o Brasil, conhecido por sua tolerância a diferentes estilos de vida, está relutante. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil apoia a legalização das uniões civis, mas as medidas legislativas não foram aprovadas.

A Cidade do México era até agora a primeira jurisdição na América Latina a permitir que gays e lésbicas se casem e adotem filhos, uma lei que foi adotada em dezembro de 2009. Embora muitos ativistas tenham comemorado, poucas pessoas acreditam que as tendências liberais da cidade se espalharão para estados mais tradicionais do México extremamente católico.

No Chile, o governo planeja propor uniões civis limitadas, mas não tem planos para ir mais adiante. O Uruguai e a Colômbia têm união civil, mas o casamento gay não está em pauta. A maioria dos países da América Central é contra os direitos dos homossexuais, exceto provavelmente pela Costa Rica, que está considerando algum tipo de garantias civis.

O exemplo cubano

Mais interessante, talvez, seja Cuba. Nas primeiras décadas da revolução de Fidel Castro – conforme documentaram filmes e livros –, os gays e lésbicas não eram bem-vistos pelo governo, nem pela sociedade. Mas hoje os homossexuais podem andar e falar abertamente – graças em grande parte à filha do presidente Raúl Castro, Mariela Castro.

Aos 47 anos, Mariela é chefe do Centro Nacional para Educação Sexual de Bua e sempre foi uma defensora ferrenha dos direitos para gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. “Para mim, a identidade e a orientação sexual é um direito humano”, disse ela à revista alemã Der Spiegel numa entrevista deste mês. 

Ela e outros ativistas, com o apoio tácito do governo de seu pai, ajudaram a atenuar as atitudes em relação aos gays. Mariela apresentou recentemente um projeto de lei para legalizar as parcerias homossexuais – e teve o apoio de seu pai, disse. Mas retirou a proposta sob os ataques da Igreja Católica e alguns órgãos do governo.

Califórnia

Nos Estados Unidos, os eleitores da Califórnia e outros estados proibiram os casamentos entre pessoas de mesmo sexo. Só o Distrito de Colúmbia e cinco estados, quatro deles em New England (o quinto é Iowa), legalizaram os casamentos gays.

“A chave da conquista dos direitos humanos na Argentina foi a forte liderança dos legisladores e da presidente. É hora de vermos as autoridades que elegemos se levantarem pela Constituição e todas as famílias”, diz Evan Wolfson, diretor-executivo da organização Freedom to Marry. “Os Estados Unidos devem liderar, e não ficar para trás, no que diz respeito ao tratar a todos igualmente diante da lei.”

O presidente Barack Obama agiu para retirar a política de “não pergunte, não conte” dos militares, que retirou milhares de gays e lésbicas das forças armadas. O presidente conseguiu o apoio de altos funcionários militares, e parece possível que eventualmente os militares acabem com a política discriminatória.

Embora o casamento de pessoas do mesmo sexo seja um dos temas mais quentes das guerras culturais nos EUA, o presidente e a maioria dos políticos pisam em ovos em relação ao assunto. Alguns, como Obama, apoiam a união civil, mas não o casamento gay. Algumas pesquisas mostram que uma maioria esquálida de pessoas nos Estados Unidos apoiam o casamento de pessoas do mesmo sexo.

De qualquer maneira, o assunto inflama emoções profundas e, assim como o aborto, irá eventualmente acabar na Suprema Corte dos EUA. Para esse verão, os homossexuais e simpatizantes dos EUA podem se confortar com The Kids Are All Right, o primeiro filme hollywoodiano de massa a retratar um casal de lésbicas com filhos – uma família norte-americana moderna. 

Da Redação, com informações do International Herald Tribune

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lei Maria da Penha Neles!

Jandira Feghali *


A violência contra a mulher desconhece barreiras de classe, religião, instrução ou geografia. Seus índices sempre revelaram uma histórica impotência das instituições em coibi-la de forma vigorosa e mesmo a incapacidade de se prover uma consciência coletiva que gerasse um ambiente propício às necessárias mudanças estruturais, em especial no sistema de justiça, para transformar a cultura jurídica dominante, que hoje ainda se mostra dissociada da normativa internacional dos direitos humanos das mulheres, como demonstram as notícias provenientes de pesquisas acadêmicas e dos jornais, onde as denúncias nem sempre levam ao prosseguimento processual.

Numa sociedade de nítida desigualdade de gênero as mulheres ainda enfrentam preconceitos, muitas vezes de seus próprios familiares, e, em grande parte, optam pelo silêncio. Mas após a existência da Lei Maria da Penha, esse quadro vem mudando. Muitas conseguem ultrapassar esta barreira, denunciam e buscam ajuda, querem uma resposta efetiva do Estado: levar o processo até as últimas consequências, ou no mínimo, evitar o pior, ou seja, proteção suficiente para sua vida e a de seus filhos.

Nos últimos dias, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - SPM, órgão vinculado à Presidência da República, divulgou dados que registram o aumento, nos cinco primeiros meses desse ano, de 95% no número de denúncias recebidas pelo 180 - a Central de Atendimento à Mulher - em relação ao mesmo período do ano passado. A Central registrou 271.719 atendimentos de janeiro a maio de 2010. Em 2009, o número deste período corresponde a 138.985 atendimentos. Isto não significa que aumentou o número de casos.

A lei, portanto, ampliou a visibilidade da trágica violência cometida, principalmente por aqueles que gozaram da intimidade, do afeto e do convívio com a mulher. A estatística continua a perseguir nossa luta, mas hoje temos instrumentos para reduzi-la.

O reconhecimento do crime de violência contra a mulher é recente historicamente. Vista como “objeto de posse” ou “produto”, qualquer ato de violência contra ela seria considerado natural, como expressam, sem escrúpulos, alguns homens com forte aparição de mídia e, por isso, uma péssima referência para a sociedade e para os jovens. Antes da Lei Maria da Penha, a agressão contra a mulher era considerada crime de menor potencial ofensivo, tratada nos Juizados Especiais Criminais e frequentemente respondida com o pagamento de cestas básicas. A Lei criou os Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e vedou penas desproporcionais ao dano produzido, que terminavam por humilhar as mulheres e reforçar os estereótipos que é dever do Estado combater.

A lei “pegou”, afirmo sem medo de errar, pois está marcada pela sociedade, já mudou comportamentos de homens e mulheres e impediu muitas agressões e mortes. Mas também afirmo sem medo de errar, que o seu descumprimento tem permitido barbaridades como a que diariamente é estampada em todas as mídias.

Falta aos milhares de chefes de Executivo e Judiciário estabelecer prioridade para a prevenção e o combate à violência contra a mulher, sobretudo a produzida no âmbito doméstico e ou familiar. É preciso determinar orçamentos sensíveis à questão, criar número suficiente de Juizados Especiais e outros serviços de apoio, com pessoal especializado, como por exemplo atendimento médico-legal apetrechado para dar conta de desafios como compreender o fascínio que a vítima de violência muitas vezes nutre por seu agressor/torturador e que lhe reduz a percepção do risco e obscurece as possibilidades de reação, treinar seus profissionais, assumir as ações de prevenção e atendimento, determinar as medidas de urgência, e acabar com interpretações errôneas às explícitas linhas e significados do texto da Lei. Como omitir proteção por erro de interpretação, não reagir a expressões que vulgarizam a violência, não dar seguimento a processos, ser tolerante com mau comportamento quando temos poder hierárquico para punir!? Todos essas configuram atitudes inaceitáveis, venham de homens ou mulheres que assumem cargos de comando e decisão.

A atuação do movimento feminista brasileiro, desde o slogan “quem ama não mata”, provocou nova dimensão à dramática realidade. Reagiu e enfraqueceu o manejo da tese da legitima defesa da honra, comumente arguida em casos de assassinatos como os de Ângela Diniz e tantos outros. Além disso, partiu para a mobilização do Legislativo, com a determinação de criar uma lei especial para enfrentar e coibir esse grave fenômeno social. É preciso que a Justiça recepcione, integralmente, a Lei especial conduzida pelos anseios e necessidades das mulheres – Lei Maria da Penha!

A lei Maria da Penha existe!

Escrita a partir da ausculta e observação da vida real em todo o Brasil, exige seu cumprimento por muitas vozes e mãos. A sociedade brasileira precisa imediatamente criar um movimento suprapartidário pelo cumprimento da Lei Maria da Penha, envolvendo homens e mulheres desejosos de um mundo de igualdade substantiva de direitos, sem impunidade! As mulheres, em especial, precisam deixar de figurar como vítimas, muito menos vítimas passivas.

Com a palavra, a Justiça!

* Foi deputada estadual, quatro vezes deputada federal, secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói e Secretária municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Relatou a Lei Maria da Penha.
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Criança, TV e batata frita

 
Sidnei Liberal *


15% das nossas crianças já são consideradas obesas e 30% estão acima do peso normal para a idade. Em todo o mundo, pelo menos 42 milhões de crianças com menos de 5 anos estarão obesas ou acima do peso até o fim deste ano de 2010. Destas, quase 34 milhões vivem em paises em desenvolvimento, como o Brasil. São dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados em matéria de Carolina Khodr, especial para o Diário de Pernambuco1de 17/07/2010.  Outro dado a ser avaliado: 50% da publicidade na TV são dirigidas às crianças. É aí onde a criança é estimulada ao uso do refrigerante, que contém cerca de 3 colheres de sopa de açúcar. Há outra colher para cada bola de sorvete. Cada biscoito recheado contém 60% do seu peso em açúcar.

Cifras preocupantes de gordura saturada dão a cremosidade e o sabor aos biscoitos recheados, aos sorvetes, salsichas e pizzas. O sal de uma Coca-cola “zero”, de um salgadinho, pizza, salsicha, altera o equilíbrio hídrico do organismo da criança, com retenção de líquido e aumento do peso corpóreo e da pressão arterial. O aumento do consumo de refeições industrializadas e de alimentos com excessos de açúcar, sal e gordura é um risco para a saúde e assusta os especialistas. São os riscos que a publicidade desses tipos de produtos agora é obrigada a deixar claro ao consumidor. É a nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quem diz.  
Uma pesquisa do Ministério da Saúde mostra uma progressiva queda no consumo de alimentos saudáveis, substituídos por produtos industrializados e refeições prontas. São estes os novos vilões de uma alimentação inadequada, por excesso de açúcar, sal e gordura, que, consumidos com frequência, são responsáveis por sérios problemas de saúde. Informações que justificam as novas regras da Anvisa, que introduzem veiculações de alertas nos comerciais de televisão e rádio. Um texto como “o produto tal contém muito açúcar e, consumido em grande quantidade, aumenta o risco de obesidade e cárie dentária”, será corriqueiro em nossas guloseimas.

Além disso, a Anvisa estabeleceu limites para os constituintes de cada classe de alimentos. Assim, num pacote de 100 gramas de biscoitos recheados, que contém cerca de 60gramas de açúcar, a doçura não pode mais passar de 15 gramas. Nos salgados, o limite de gordura saturada passa a ser de 5%. De sal (sódio), apenas 0,4%. Razões sobram ao governo para incidir numa desordem alimentar que, de acordo com a OMS, leva mais de 45% da população brasileira ao excesso de peso e cerca de 20% à obesidade. Excesso de peso e má alimentação desencadeiam problemas cardiovasculares, responsáveis principais pelos óbitos no País.
Como explica a Anvisa, os brasileiros, especialmente os jovens, “são muito influenciados pelas propagandas. A iniciativa da Anvisa visa a proteger os consumidores da omissão de informações e da indução ao consumo exagerado”. E "os alertas nas propagandas vão possibilitar a reflexão do consumidor, para que ocorra uma mudança de comportamento, desestimulando os excessos. Essa medida reflete a capacidade e o dever do Estado de proteger a população".

Informa Carolina Khodr que em sua última assembleia, realizada em Genebra, 2010, a OMS “recomendou que os países adotassem medidas para reduzir o impacto da propaganda de alimentos pouco nutritivos sobre as crianças, já que as escolhas delas influenciam em até 80% as compras feitas pela família”. As crianças, segundo fonte da Fundação Oswaldo Cruz, “são estimuladas por sons, cores e imagens, são tentadas pelas logomarcas e seduzidas pelos presentes oferecidos com os alimentos". Como conseqüência, altos riscos de alterações metabólicas, obesidade, hipertensão arterial.

Há na matéria do bravo e eterno Diário de Pernambuco uma pequena menção à responsabilidade compartilhada da mídia, em especial a Televisão, por este risco à saúde dos nossos adultos e da nossa infância. A preocupação é procedente e não poderia estar ausente do debate nacional no atual cenário eleitoral. Pautar sua discussão, entretanto, não é fácil. É o que demonstra a irada reação dos donos do poder midiático a um programa prévio de uma das candidaturas a presidência, por conter indícios de discussão sobre o papel dos meios de comunicação no Brasil. À luta, pais!
(1) http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/07/17/brasil6_0.asp

* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Meio ambiente

Eron Bezerra *
 

Atualmente, como nós sabemos, a questão ambiental é usada como pano de fundo de um objetivo ideológico específico: o bloqueio da Amazônia e a sua eventual internacionalização.


Os fatos que sustentam essa afirmativa são abundantes e nem vale apenas enumerá-los. São por demais evidentes para que alguém isento ouse questioná-los. Mas devemos ter o cuidado de separar o discurso reacionário pró-internacionalização daqueles que efetivamente demonstram real preocupação com a sustentabilidade.

A forma predatória de uso dos recursos naturais está comprometendo a existência da nossa espécie e de dezenas de outras espécies de terráqueos sobre a face da terra. E, por isso mesmo, reclama outro modo de produção se é que temos interesse em continuar usando tais recursos.

A pesquisa certamente vai responder a muitas interrogações e questionamentos que hoje ainda não tem respostas satisfatórias. Isso não deve nos paralisar. O nível de conhecimento cientifico e tecnológico atual nos permite manejar florestas, espécies florestais e animais outrora ameaçados de extinção, andar de avião ou carro movido a hidrogênio e dispor de toda uma gama de produtos “limpos”. Todavia, na etapa atual do capitalismo, o uso desses produtos é condicionado pela lucratividade, o que obviamente tem restringido a sua utilização e o seu alcance.

Assim, esse tema figura em todas as rodas de debate. Freqüenta a academia e o mundo político de forma intensa e é manejado de acordo com a concepção ideológica do interlocutor de plantão, seja o produtivismo, o santuarismo ou o sustentabilismo.

Não é inusitado, portanto, que a 62ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o mais importante encontro de pesquisadores do país tenha pautado esse tema para reflexão. É uma grande oportunidade para se tratar o assunto com a seriedade que se impõe na prazerosa capital potiguar.

A preocupação real e sincera com a questão ambiental não é nova. Mas nenhum pensador de vulto dedicou a atenção que o tema requer. Compreensível. A consciência é produto da realidade material objetiva. E realidade objetiva era “crescimento rápido”.

Amazônidas de grande visão como Artur Cesar Ferreira Reis, Araujo Lima, Djalma Batista, Agnelo Bittencourt e Samuel Benchimol já revelavam grande preocupação com o tema, num momento em que a questão ambiental ainda não era “modismo”. E mais recentemente o poeta Thiago de Melo e o jurista Bernardo Cabral têm dedicado boa parte de suas elaborações teóricas em torno desse tema. Thiago fez da poesia o seu escudo para a defesa sincera da questão ambiental. Cabral fez da defesa recorrente da importância da água a sua causa maior, tanto como parlamentar quanto como articulista.

Esforço-me para dar a minha modesta contribuição a esse tema. Por isso aceitei com prazer suspender a campanha por um dia para vir a 62ª Reunião Anual da SBPC, a convite do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) para fazer o lançamento de meu livro “Amazônia, esse mundo à parte”, no qual eu procuro abordar a complexidade amazônica, sua cultura, sua gente, seus mistérios.

A luta de idéias é algo permanente e nem sempre sutil. Precisamos assegurar que a sustentabilidade seja concepção real de desenvolvimento e não retórica para os produtivistas que apenas querem mascarar seu caráter predador ou para os sustentabilistas que tão somente recorrem ao palavrório para impedir todo e qualquer uso de nossos recursos naturais.

* Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual, Membro do CC do PCdoB, Secretário Nacional da Questão Amazônica e Indígena.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Levantar as bandeiras da juventude, para avançar nas mudanças

  

André Tokarski *

Estamos na terceira semana oficial da campanha eleitoral e o tema das eleições já contagia boa parte do povo e da juventude. Os primeiros movimentos já deixaram claro que vivemos uma verdadeira guerra eleitoral, de intensa disputa e combate. A juventude brasileira jamais se furtou a um bom combate e agora não será diferente.


É durante as eleições que a política transita com mais facilidade no dia a dia do povo. Vira assunto na escola e no trabalho, dentro de casa e na mesa do bar. Ao seu próprio modo, os trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, jovens, mulheres, todos discutem o que pode mudar na sua vida com o processo eleitoral.

A eleição presidencial de 2010 tem características únicas, que devem servir para chamar a nossa atenção para os impactos do seu resultado. O Brasil vive um ciclo de crescimento e desenvolvimento não visto há décadas. Os êxitos obtidos com o Governo Lula transformaram a vida de milhões de brasileiros e brasileiras. Em especial para a juventude, nunca vivemos um período de tantas conquistas importantes. Os sonhos da juventude estão se transformando em realidade e temos a consciência de que existe espaço para mais avanços.

Nos últimos sete anos, mais de 600 mil estudantes de baixa renda tiveram acesso ao Prouni. O REUNI dobrou o número de vagas nas universidades federais, foram criadas mais de 214 escolas técnicas federais. O Projovem beneficiou milhares de jovens com bolsas remuneradas para incentivando a volta à escola e a formação profissional. O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) é um espaço de debate e formulação de propostas com a participação organizada da juventude. E há duas semanas escrevemos o nome da juventude brasileira na Constituição da República.

A UJS tem propostas e compromissos com o Brasil, toda a sua militância deve se empenhar de corpo e alma na campanha eleitoral, apresentado suas propostas e mobilizando a juventude.

Devemos atuar em duas frentes:
1- denunciar com veemência o risco do retrocesso que viveria o nosso país com a eleição de Serra. Volta das privatizações, do desemprego e da marginalização da juventude.
2- Apresentar nossas bandeiras e propostas: reconhecimento da juventude como agente estratégico do novo projeto nacional de desenvolvimento, criação do Sistema Nacional de Juventude, defesa do 50% do Fundo Social do Pré-sal para a educação.

É no debate de conteúdo e na comparação de projetos que vamos conquistar a confiança da juventude e a mobilização social necessária para a construção de um projeto de governo mais ousado, que aprofunde as mudanças iniciadas com o governo Lula.

Por isso, é tarefa de todo militante da UJS participar ativamente das eleições, em todos os âmbitos e espaços, na escola, no trabalho, nas redes sociais, em casa... Devemos lutar para eleger Dilma, mais também nos empenharmos com muita força na eleição de Governadores, Senadores, Deputados Federais e Estaduais comprometidos com as bandeiras da UJS e da juventude.

Vamos à luta!

* 26 anos, é Presidente da UJS e membro do Comitê Central do PCdoB. Publica seus artigos também no blog: http://juventudenarede.wordpress.com

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Brizola Neto: O racismo de O Globo

Pode-se discutir uma política de cotas no ensino. Pode-se discutir se essa é a maneira mais eficiente de buscar equilíbrio de oportunidades num país que tem na divisão social a marca da herança escravagista. Agora, é repugnante que um jornal como O Globo, em seu editorial de hoje (domingo, 25), negue até que tenha havido racismo no Brasil.


Por Brizola Neto, em seu blog "Tijolaço"

Pode-se discutir uma política de cotas no ensino. Pode-se discutir se essa é a maneira mais eficiente de buscar equilíbrio de oportunidades num país que tem na divisão social a marca da herança escravagista. Agora, é repugnante que um jornal como O Globo, em seu editorial de hoje (domingo, 25), negue até que tenha havido racismo no Brasil, sob o argumento de que na nossa sociedade miscigenada até negros foram donos de escravos e chamar os movimentos de afirmação da cultura negra de “falanges racialistas”, francamente, é assumir o padrão “Da Costa” de debate político.

É uma mistificação dizer que até os EUA estão “relativizando” a pol´tica de ações afirmativas para os negros e que, por isso, o Brasil estaria na contramão da história. Ora, eles podem estar até atenuando certas políticas, porque tiveram mais de três décadas de ações afirmativas para os negros que, embora ainda estejam na parcela mais humilde da população americana, ao lado dos latinos, já conseguiram, até, ter um deles como presidente da República.

Ontem mesmo o jornal publicou uma matéria mostrando que, entre os pobres, a chance de uma criança não superar o baixo grau de instrução de seus pais é de cerca de 60%. Então, é legítimo dizer que, sem políticas de estado que os insira na competição, a identidade entre ser negro, ser pobre e ter baixo nível educacional persista no Brasil.

Como disse, é perfeitamente saudável discutir qual a forma que devem assumir as ações afirmativas em nosso país e, com todos os defeitos que se possa apontar, a política de cotas foi a única coisa que já se fez neste sentido. Se é preciso modificá-la, que haja o debate. Mas, francamente, o que se quer em lugar dela é o nada, a eternização das diferenças de oportunidade.

A elite brasileira faz assim. Diz que não pode haver tratamento discriminatório de espécie alguma. Mas só quando é para proteger os mais pobres. Quando a discriminação – real, objetiva, concreta – se dá pelo poder econômico isso é democracia, é a “lei do mercado”.

Ou então que o “tratamento diferenciado” aos nossos irmãos negros continue a ser dado apenas no setor onde já é tradicional: nas batidas policiais.
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia