“Fragmentos de minha
memória aos 9 anos que se passaram do I Congresso Internacional de
educação no ano de 2003!”
Que educação nós
queremos para os nossos filhos? Esta é a pergunta que precisa ser
refeita em casa. É preciso saltar aos olhos dos pais um olhar ao
longe no horizonte. Lá onde inicia o santuário do tempo, na tenra
idade onde fomos forjados como suposta matéria bruta, lapidados (as)
para as ricas experiências emancipatórias da cidadania futura.
Experiência aquela quase como um batismo da educação do 'cagaço'
(medo/respeito), aquela iniciada sobre o medo dos corretivos da mamãe
e do olhar coercitivo e respeitado do papai, mas que refletia em bom comportamento na escola.. E para justificar esta
necessidade eu quero voltar aos dias 13 e 14 de outubro de 2003, ao I
Congresso Internacional de Educação realizado no Anhembi em São
Paulo promovido pela Editora Moderna. Como seminarista que se
preparava para a vida missionário na Africa Eu estive lá, como mais
de mil professores, pedagogos e orientadores de todo Brasil. Foi sem
dúvidas um dos maiores e melhores debates sobre a Educação em
nosso país.
Um Congresso que seria
apenas uma atividade para se trocar informação se tornou um marco
de análise da realidade educacional no Brasil. Foi lá que pela
primeira e ultima vez tive o prazer de ver, ouvir e aprender com um
dos maiores educadores e pedagogos universal a Palestra 'Educação
uma Experiência Pessoal' com o genial escritor português José
Saramago. Foi como um ritual de iniciação nos acalorados debates
que se seguiram a exposição do Nobel Escritor para resgatar a
imagem do professor e função especifica da Escola. Pois segundo
Saramago a escola não pode assumir o papel de educadora, porque este
é o papel da família. A escola é o ambiente onde se deve
revolucionar o conhecimento, o lugar onde se estimula o
desenvolvimento das potencialidades do estudante, e não o lugar onde
se procura lapidar o que já exige implosão.
Ao falar do processo de
formação pessoal ele assim descreveu: “ Os meus primeiros
educadores eram analfabetos. Durante sete anos não fui educado
porque os meus não sabiam ler e escrever, assim como milhões de
pessoas no Brasil não sabem ler e escrever.” - Mas é um erro
confundir educação (mais complexa e profunda que envolve a família
como formadora), com Instrução (relacionada à informação),
porque analfabetos não podem Instruir mas apenas Educar. E
completou: “ A escola não pode suprir o que porventura, a família
não soube ou não quis resolver.” Para Saramago independente das
famílias serem humildes ou não, podem ocorrer dificuldades em
instruir, mas que os pais não podem fugir da tarefa de educar. Para ele a omissão de responsabilidade educacional familiar acaba se
refletindo nas relações na escola. “Há uma situação de crise
no interior da sala de aula, que leva muitas vezes, à situação
física, com professor humilhado, e à perda do sentido de
autoridade, dificultando uma relação capaz de discutir e gerar
troca de saberes e conhecimento.” Acrescentou brilhantemente: “os
mestres (professores) são os heróis de nosso tempo. É na escola
que se aprende os limites da liberdade.”
A abordagem aqui se
justifica pela situação enfrentada no Brasil por milhares de
professores vitimas dos desafios da falta de limites com que os
alunos chegam as salas de aula. Centenas são os casos de conflitos
entre alunos e professores, violência, ameaças, e até casos de
assassinatos. Milhares são os casos de atos irracionais entre
próprios colegas de classe. O fato é que a escola se tornou a
receptora legal de uma espécie protótipo de de pequenos
delinquentes. Vem se tornando uma espécie de depósito de um bruto
material humano, um lugar para adolescentes canalizarem suas
frustrações e rebeldia no professor encarregado de ajudar-lhes no
processo de amadurecimento no campo do conhecimento.
O sofrimento da escola
se amplia no grande numero de professores desvalorizados, abandonados
pelos governos, violentados pela cobrança da sociedade por
creditar-lhes o papel que não os compete que é educar, quando a
função é tão somente ensinar. A escola não pode ser o centro de
adestramento para o mercado de trabalho ou qualquer aventura cidadã.
A escola precisa superar sua fase de escrava imperativa da poderosa
microfísica da politica suja que se apodera do aparelho de Estado,
transformando educadores em generais guardiões, doutores da
ignorância e especialistas sectários ideológicos, que passam,
semestres, fases e anos parasitando os departamentos de gerência da
educação formativa. Verdade ainda a ser mais exposta apontando
exemplos aqui em nossa cidade com os pesados cabides de parasitas
comissionados dos órgãos públicos de educação.
Nós só temos uma
saída enquanto esperançosos espectadores de uma profunda revolução
educacional em nosso país. É a esperança dos que sonham com maior
valorização por parte dos governos, valorização da sociedade, a
recolocação da família no compromisso da formação de seus filhos
e nossos cidadãos. E o nosso grande papel como membros desta grande
família chamada Brasil, para além de meros amigos da escola
precisamos ser o fiéis guardiões da integridade funcional e
direcional do processo para que possamos continuar creditando a sua
fundamental importância pra aquilo do qual nós chamamos de futuro
de nossos filhos. Do contrário recontaremos o fim da história num
grande 'conselho de classe público' narrando como epopeia trágica a
degradação de nosso próprio futuro como nação; como estado e
como munícipes.
Trechos de Entrevista do Escritor José Saramago:
“O tempo para
refletir, ele é necessário. Pode uma pessoa ser competentíssima
mas se ela se tornar uma máquina de trabalhar, isso me parece que é
condenar a inanição ou inatividade um órgão que nos custou
milênios a criar e desenvolver, uma coisa um pouquito repugnante
chamado cérebro. Porque cada vez há mais coisas para saber, e cada
vez há menos condições para sabê-las. Então o que acontece é
que o saber concentrou-se numa minoria, numa elite. Não é que
saibam de tudo, mas estão juntos. E todos juntos são como que uma
espécie de intelectual orgânico, ou um cientista orgânico. Como se
constituíssem um galáxia de saber. E além disso, há uma imensa
massa cada vez maior de ignorantes. Ignorantes que sabem ler, que
sabem escrever, que são capazes de ler um jornal mais ou menos, que
já têm certa dificuldade em penetrar num texto mais complexo. O
problema da massificação do ensino não foi resolvido. As portas da
escola e da universidade abriram-se e entraram milhares e milhares de
jovens. E o sistema não estava, e continua não estar, preparado
para dar a esses jovens o ensino da mesma qualidade que supostamente
se pensaria que seria a obrigação do sistema educativo dar.”
“ Escola deveria
ensinar a ouvir. Cabe a ela ensinar o aluno a escrever corretamente e
também explicar por por que as regras são assim e não de outra
maneira. Mas a escola não será o lugar onde se revoluciona a
estrutura da língua. Esta tarefa pertence aos escritores, se estes
considerarem que têm motivos para fazer.”
Neuri Adilio Alves
Filósofo - Professor, Pesquisador