quinta-feira, 20 de março de 2014

CHAPECÓ: A CPI DO ASFALTO TERMINOU EM PIZZA

"Como previsto a CPI do 'Gagá' no Legislativo terminou em Pizza.''


Como cantei a pedra e esperava aconteceu os 'inocentes' de sempre absolvidos! Some comigo o relatório final da CPI do ASFALTO: o presiDENTE tucaninho com as mascaras de sempre, o relATOR parasita adoçando a inocência do ancião e do governo, o denunciante com cara de impotente e a manada governista absolvendo-se mutuamente, blindando o governo na ilicitude covarde e incoerente de seus iguais. 

Agora multiplique tudo isso pela alegria do ancião absolvido do deslize denunciante. Em homenagem a ele vai constar no regimento interno da 'casa do povo' que daqui pra frente em todas as sessões do legislativo chapecoense terá um momento lúdico em homenagem aos eleitores palhaços. O critério da verdade será medido por anedotas e o café da tarde adoçado com o riso irônico. 

Com o relatório final da CPI fica determinado que na cidade de Chapecó em ano eleitoral não haverá mais COMPRA DE VOTO escondida pelas forças econômicas. Tudo será filmado, registrado em cartório, homologado pela 'ZONA' eleitoral e legitimado pelas instâncias da justiça como normal. Aqui tudo pode, menos condenar os corruptos, comprovar denuncias, exigir punição de culpados, investigar assassinato de vereador e dizer que o juiz eleitoral tem posição! 

Enquanto os cachorros pedem parte da pizza, os rabo preso exige liberdade, outros limpam o que sobrou da sujeira, nós somos subjulgados na impotência somos banhados na vergonha por dias, meses, anos. Pois se depender do aparato sujo montado na cidade do administrativo as instâncias da Justiça qualquer evidência concreta será visto como fofocas levianas, acusações oposicionista e prejuízo ao 'bolso seletivo'. 

Do 'BOLSA ALFAFA' a 'URNA PAVIMENTADA' e as 'DENUNCIAS DO GAGÁ' ficam as evidências de rastros da vergonha, leviandades legislativa e memória curta de quem votou! Até quando?

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador e Palestrante

sexta-feira, 7 de março de 2014

Chapecó: o farisaísmo político e o Silêncio de Deus

''Porque o silêncio de Deus se durante uma década ele circulou na cidade como chavão político!''

Quando o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche expôs ao mundo a declaração ''Deus está morto'', o mundo cristão venho a baixo com teólogos, pastores, críticos, moralistas e os opinadores de botequim o declarando insano antes mesmo de ser acometido por doença. Mal sabiam ou queriam eles acreditar que o filósofo com tamanha destreza, percepção e competência teve a coragem eloquente de desnudarmos. Ele desnudou nossas contradições, mostrou que o Ente metafísico havia sido substituído pelas nossas conveniências modernas. Havia Ele se tornado produto desdenhado do nosso jogo de necessidades supérfluas, de nosso culto as catedrais de consumo e mazelas hedonista do mundo profano, embora continuasse 'insepulcro' em locais de cultos. 

Foto montagem de Avenida Getúlio Vargas centro de Chapecó
Porque me ater a tal comentário? Porque queria chegar ao título do texto e rememorar o uso de o versículo bíblico de Romanos 8,13 muito usado como estandarte profano em Chapecó: ''Se Deus é por nós quem será contra nós'' que circulou como mantra massificada politicamente pelo menos durante uma década em nossa cidade. Há serviço de que? … de quem? … e por quê?...esse fragmento bíblico deturpadamente circulava em para brisas, para choques e latarias de veículos. 

A resposta é simples: não se tratava de evangelização, mas de politização e vulgarização da expressão bíblica. Da coisificação de Deus em detrimento de processos políticos eleitorais da direita usual. A face vergonhosa e bandida da política moderna com 'fariseus e saduceus' diferente da história bíblica, aqui governam juntos como os cobradores de 'impostos' e os 'impostores' do tempo de JC. Mas o que me chama atenção diante dos grandes problemas políticos que a cidade enfrenta é esse aparente desaparecimento usual do versículo bíblico me incitando a fazer perguntas aos proponentes e usuários do mesmo: 

Porque agora o 'Silêncio de Deus' diante da violência se supostamente como usado no versículo aqui 'Ele seria (governaria) por/pra nós'? Teria Deus se envergonhado dos 'seus escolhidos' homens públicos e abandonado o barco a deriva? Teria Deus se frustrado com os mentirosos oportunistas de altares e palanques políticos? Teria Deus se zangado com os Fariseus e Saduceus da administração que o usaram diante da ignorância do povo pra governar e DESgovernar? Estaria Deus envergonhado de vereadores, prefeito e deputados que se elegeram em-e-por Chapecó usando seu nome em vão?

Não!!! Deus não poderia se envergonhar, esquecer e fugir, não poderia ser covarde, não abandonaria o seu povo, não faria o papel dos usurpadores, oportunistas. O que vem acontecendo na cidade é que o farisaísmo não consegue mais esconder a vulgaridade do modelo esgotado e falido de administração! O que não se consegue mais é enganar massivamente o povo com o uso de expressões delegadas ao pecaminoso as ameaças chulas e até concretizadas como assédio moral de servidores, banalização de assassinatos como foi o caso do vereador ou atentados contra lideranças e cidadãos comuns. O que não se consegue mais é enganar aquela grande massa de pessoas famintas de espiritualidade, outrora enganadas dentro de igrejas que tem por prática condenar inocentes e inocentar bandidos para serem seus representantes políticos. – Razão pela qual é preciso se emancipar dessa espécie de menoridade espiritualista. 

É preciso os cidadãos emanciparem-se em consciência para discernir a trajetória estratégica de um idiota que conheci com 'sinais de dislexia' no inicio dos anos 80 fazendo pregações em uma casa simples na rua Rui Barbosa. O mesmo chamado de ''Homem de Deus'' mas que passou pelo menos os últimos 30 anos usando de pregações relés pra fazer carreira na política. E como se fosse a personificação do quinto evangelho para lá do apócrifo edificou um imenso patrimônio, ocupando atualmente a cadeira pelo quinto mandato consecutivo de deputado. A quem ele responderia essa espécie de silêncio do 'Deus' por ele propalado que estaria junto do povo como sinal de libertação? O Deus que libertaria o povo dos próprios opressores que ele costuma se assentar a mesa para a ceia do fascismo administrativo e correligionário!

A grande verdade é que se o povo chapecoense realmente deseja ter uma cidade com menos violência, mais política de acessibilidade, mobilidade urbana, transporte de qualidade, saúde, educação, lazer, infraestrutura nos bairros e interior precisa dar passos! Precisa avançar para além do ufanismo midiático, tendencioso, falso e mentiroso tão ativo na cidade. Precisa se emancipar do vulgarismo pentecostalista, evangélico e carismático, relacionando quantidade e qualidade. Sabendo discernir pela seriedade dos que anunciam a palavra sem a teologia da retribuição de palanques. Precisa se libertar do maniqueísmo ignorante que afeta como uma chaga no 'inconsciente coletivo' de boa parte da população, inocentando algoses, criminalizando, desprezando e esterilizando a possibilidade do novo. 

Quando assim passarmos a agir ouviremos mais a 'Voz' de Deus, escutaremos mais a voz de nossos iguais, discerniremos o que é uma ação política coletiva em busca de mais segurança pública (clamor do povo) e o que é pirotecnia politiqueira de empresários preocupados com seu capital. Quando assim fizermos como cidadãos livres novamente pra viver e acreditar, veremos que o novo pode mudar a história, porque ele é parte de nós como ''vinho novo em odres velhos''! E então enfim, Deus Consciência sentará a mesa da justiça político-social novamente e nos fará cidadãos de coragem para mudar, movidos pela esperança libertadora, porque para além disso só castigo, ranger de dentes e desesperanças. 

Pois ao contrário do que a maioria acredita o ufanismo moralista, o pentecostalismo apocalíptico, o evangelismo de porta de cadeia, o populismo de salvação e messiânico nunca foram sinais de vida, mas projetos de morte. Morte das motivações, da coragem de mudar e lutar por algo novo, de pensar a vida como a única oportunidade que temos pra crescer como agentes de transformação e libertação de todas as formas de opressão. E que venham os supostamente instruídos na teologia do cagaço de encontro aos meus anos de seminário com a teologia tomista e da libertação, das incessantes horas dedicadas a filosofia, antropologia, psicologia e sociologia estarei aqui armado para o debate. Vocês com o fundamentalismo messiânico e apologeta da serpente pecaminosa e eu a cortante navalha de Ockham. Confesso que tenho vergonha de rememorar certas coisas, mas acredito que o filósofo tinha razão 'até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens'.

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia e Antropologia

domingo, 2 de março de 2014

E se Joaquim Barbosa fosse candidato a presidente?

Artigo Publicado 10 junho 2013

É sintomático o fato de a figura do atual presidente do STF ser cogitado como candidato à Presidência em pesquisas de opinião. Mas o que isso significaria em termos políticos? 

Um rumor de toga

Primeiro, surgiu uma cogitação no reino da boataria. Depois, passou a perambular uma torcida pelas redes sociais. Finalmente, a ideia de uma candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República em 2014 se espalhou por alguns veículos de imprensa.

O assunto até chegou a ser ventilado fora do país. Em uma entrevista à agência Bloomberg, especializada em mercado financeiro, o já presidente do STF foi apresentado ao público estrangeiro como alguém comparável a Barack Obama. A repórter Ellis Cose começou a entrevista logo fazendo a pergunta, direta e reta, sobre a possibilidade de ele concorrer à Presidência da República. Barbosa respondeu:

"Eu nunca me vi sendo presidente do Brasil. Em primeiro lugar, não sou político. Nunca fui e penso que sou uma pessoa improvável para esse tipo de atividade por causa da minha franqueza. Nunca lidei nem tenho conexões com partidos".

Mesmo assim, alguns entusiastas, por conta própria, criaram uma página especialmente para fazer a apologia do suposto-futuro-jamais-candidato e para colocar sua campanha na rua, aliás, fora do prazo determinado pela lei eleitoral. Na página já se pode baixar o adesivo, conhecer sua biografia e acompanhar notícias na imprensa que falam da aventada candidatura.

Mas, e o partido?

Finalmente, apareceu o que faltava: um partido, ou quase. O Partido Militar, que ainda não existe, tem apenas metade das fichas de filiação necessárias para ser homologado e lançar-se às eleições de 2014. Mas não se fez de rogado e já anunciou um convite a Joaquim Barbosapara ser candidato. O convite certamente se tornou a principal peça publicitária de um partido em busca de uma razão de ser.

Pouca gente sabe, mas o Brasil já teve dois presidentes que passaram pelo STF. O primeiro foi Epitácio Pessoa, de 1918 a 1922. O segundo foi José Linhares, que assumiu o cargo interinamente, por dois meses, no lugar de Getúlio Vargas, quando deposto em 1945.

No campo das possibilidades, uma aventura presidencial de Joaquim Barbosa teria várias dificuldades. Para concorrer à presidência, é fundamental ter o apoio de um partido nacional, de preferência, médio ou grande, e de uma coligação que ofereça uma razoável cobertura nos estados. Partidos e coligações maiores proporcionam mais tempo de rádio e TV, mais comitês eleitorais e mais propaganda de rua, que contam muito até em campanha para vereador, que dirá para presidente.

Enfim, das duas, uma: ou Barbosa teria que ser “adotado” por um partido médio ou grande, desses que acabou de chamar de “partidos de mentirinha”, ou teria que inventar um partido de verdade do dia para a noite, algo difícil de escapar da pecha de oportunismo.

O problema é que os partidos grandes e médios, quase todos, já têm lá seus candidatos. Salvo algumas exceções, como, por exemplo, o DEM, ex-partido de Demóstenes Torres e José Roberto Arruda, ou o PTB de Roberto Jefferson. Qualquer que seja o partido, a vida pregressa de seus líderes e correligionários imediatamente se colaria em Barbosa. “Diga-me com quem tu andas”, perguntariam os eleitores.

E se Barbosa formasse chapa com Marina Silva?

Se optasse por um partido maior, Barbosa ficaria muito mal na foto. Se saísse por um partido pequeno, sumiria da foto. Inventar um novo partido em menos de seis meses é algo fora de questão. A única possibilidade viável, até para evitar uma concorrência na mesma raia, seria uma dobradinha Barbosa- Marina Silva, ou vice-versa. Aí teríamos uma candidatura espetaculosa, cheia de apelos midiáticos.

O primeiro grande problema é que nem Barbosa nem Marina têm cara de estarem pleiteando a vice de quem quer que seja. O segundo problema é que a Rede é, por excelência, um partido de mentirinha. É um partido que tem vergonha de usar a palavra “partido” para se definir, mas que defende com unhas e dentes o interesse de não apenas ser reconhecido como um partido, mas de ter as regalias a eles reservadas de modo a poder usar os recursos do fundo partidário e ter acesso ao horário eleitoral, que é pago com dinheiro público, antes mesmo de ter recebido um único voto.

A ideologia desse partido tem nome. Chama-se Marina Silva. Seus seguidores são os “marineiros”, um culto à personalidade pra ninguém botar defeito. É o partido da Marina, pela Marina e para a Marina.

O que faria Joaquim Barbosa em um partido dessa natureza, depois de ter reclamado dos que buscam “o poder pelo poder”?

Quem financiaria Joaquim Barbosa?

Outro aspecto a se perguntar é quem iria financiar a campanha de Barbosa. Seguindo estritamente as regras eleitorais fiscalizadas pelo TSE, qualquer um poderia fazê-lo. Pela Rede, estariam excluídas as empresas de armas, bebidas alcoólicas, cigarros e agrotóxicos, mas foram providencialmente preservados os bancos e as empreiteiras, que são os maiores doadores de campanha.

Mas, imaginemos uma campanha heroica, financiada por recursos individuais. O fato de os recursos serem individuais não diz se eles são grandes ou pequenos. Doações individuais não necessariamente são mais limpas do que as provenientes de empresas – depende da pessoa e da empresa. Uma campanha voluntariosa normalmente é eivada de informalidades. Muita coisa é feita na cara e na coragem, de modo até criativo, mas às vezes difícil de ser “contabilizado”.

Por mais quixotesco que seja o candidato, ele se torna protagonista ou coadjuvante do sistema político que se propõe a atacar. Ser candidato significa aceitar as regras do jogo, sendo conivente com as mazelas que aponta, ou conformar-se à condição de anticandidato.

Quanto tempo duraria um governo Joaquim Barbosa?

Tão ou mais importante do que imaginar se Barbosa pode ou não ser candidato, ou se teria chances de ser eleito, é considerar que tipo de governo ele faria. Qual seria seu programa? Qual seria sua agenda prioritária de desenvolvimento do país? Quem seriam seus líderes na Câmara e no Senado? E seus partidos aliados? De que maneira ele trataria os demais Poderes? Como trataria o próprio Judiciário? E os governadores de estado? E os prefeitos? E a imprensa? O que ele de fato conseguiria fazer? Quanto tempo duraria um governo Joaquim Barbosa sem que se corresse o risco de paralisia decisória?

Por que caminhos iria levar sua pregação contra os partidos, contra as maiorias congressuais e contra a dominância do Executivo sobre a agenda do país, requisitos para que um governo governe? Que tipo de regime seria esse em que um presidente deve supostamente se comportar como uma majestade que reina, mas não governa?

Que poder é esse?

O Judiciário não é um poder representativo, tampouco é um poder democrático. Seus integrantes devem ser, todos eles, pessoas democráticas, e suas decisões servem a proteger o Estado democrático de Direito. No entanto, o Judiciário é - e é feito para ser - um poder meritocrático, em que pese seus membros serem indicados, como se sabe, por regras sujeitas a injunções políticas e a interesses de toda sorte.

Mas parece que a mosca azul tem rondado a instância suprema do Judiciário país. É sintomático o fato de a figura de seu atual presidente ser cogitado como candidato à Presidência. Não que ele não possa. Pode e deve. Para tal temos partidos, eleições e debate democrático.

Seria positivo termos mais gente do Judiciário como candidata. Isso poderia contribuir para trazer outras questões relevantes à baila, de forma qualificada. Contudo, termos magistrados se comportando quase como pré-candidatos é algo que compromete o papel do Judiciário brasileiro. Mesmo em um campeonato com muitos jogadores pernas de pau e desleais, com jogos cheios de lances faltosos, ninguém imagina que a melhor solução para o problema seja o juiz começar a chutar a bola e a reclamar do nível dos times.

De 1988 a 2012, o número de ações que deram entrada no Poder Judiciário subiu de 350 mil para 26 milhões (dados do Anuário da Justiça, 2013). Fosse um Poder mais transparente e mais eficiente para lidar com o problema da impunidade, diante dessa avalanche de processos sob sua responsabilidade, já daria uma grande contribuição à República.

Antonio Lassance - Cientista político
Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

Fonte: http://antoniolassance.blogspot.com.br

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AULA NÃO PRECISA SER ''SHOW''

''A Aula não precisa ser um “show” para realizar o ensino e a aprendizagem.''

Às vezes até mesmo nós, na condição de professores, somos tomados pelo embalo do momento em que a Educação se deixa virar facilmente para cultura do espetáculo. Uma cultura que imputa e dita suas regras em virtude do sistema econômico capitalista que, entre outras coisas, transforma o educador num animador de auditório e o estudante num cliente. Infelizmente, estamos sendo quase que forçados a abraçar uma causa da Educação voltada para o “vale tudo” desde que o estudante não saia da Escola ou da Universidade.

Estamos relativizando demais os critérios da aprendizagem. E isso se deve ao fato de aceitarmos exigências profissionais vindas de um sistema falido, sem compromisso com a Educação e submetido a quaisquer negócios de ordem financeira. Daí paira sobre nós esse discurso ideológico do sistema espetacular.

Que discurso é esse? É um discurso que prima por uma Educação sem reflexão, valorizando inúmeros estímulos como produtos da tecnologia e dos meios de comunicação de massa. Possibilita a descentralização da capacidade cognitiva do estudante, como também a incapacidade de concentração em atividades que demandam tempo de análise e capacidade reflexiva. “O tempo espetacular exige que a consciência se fragmente, de modo a captar a maior quantidade de percepções possíveis” (NUNES-BITTENCOURT, Renato. Educação sem reflexão no sistema espetacular. Conhecimento Prático. Filosofia, São Paulo, ano 7, ed. 46, p. 66, dez 2013/jan 2014).

O artigo de Renato Nunes-Bittencourt vai mais além nessa questão e realça, segundo ele, “os sintomas desse mal-estar cultural”. Repare: 

“Na conjuntura educacional contemporânea, um dos sintomas mais evidentes desse mal-estar cultural reside na transformação do professor em um animador de auditório, ocorrendo assim a obrigação profissional de entreter o alunado com uma dinâmica imbecilizante, de modo a tratar sua turma como pessoas que se recusam a sair do estado de menoridade existencial” (idem).

Não podemos tratar nossos estudantes como clientes, mercadorias, cujo preço é o atendimento imediato de seus caprichos. Porém, é com respeito, apostando em suas potencialidades e faculdades para aprender que merecem ser tratados. Eles precisam sair da condição de meros espectadores das aulas e assumirem a posição de sujeitos autônomos, críticos à altura de qualquer desafio. Quem sabe até pudéssemos incitá-los ao diálogo para ultrapassarem a dimensão do espetáculo na sociedade e na sala de aula.

A respeito disso evoco aqui um episódio curioso sobre a vida de Platão mencionado nas Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres de Diógenes Laértios, onde traz o encontro dramático de Sócrates e Platão no contexto das Tragédias. 

Acostumado a frequentar o teatro e as festas dionisíacas, justamente no instante em que ia participar de um concurso de tragédias, Platão, ao ouvir aquele homem e seus argumentos de mestre, passa a segui-lo e joga seus poemas às chamas.

Veja que Platão ultrapassa sua condição de amante de espetáculos para se transformar em amante de espetáculos da verdade. No livro V da República, Platão escreve um diálogo importante entre Gláuco e Sócrates mostrando a distinção entre os que são apenas amantes de espetáculos e os que são amantes de espetáculos da verdade. Os verdadeiros estudantes, para Platão, devem ser filósofos. “Mas aquele que deseja saborear toda a ciência, que se entrega alegremente ao estudo e nele se revela insaciável, a esse chamaremos, com razão, de filósofo, não é assim?” Pergunta ironicamente Sócrates a Gláuco. 

Os efeitos do sistema espetacular na Educação já se fazem sentir quando as aulas se tornam apenas mecanismo de animação, dinamização e sensacionalismo emocional, uma vez que só existem para prender a atenção e atender ao gosto da maioria (clientela). Ora, não estamos num palco ou num circo, muito menos num programa de “reality show”. A Aula não precisa ser um “show” para realizar o ensino e a aprendizagem. Aulas são feitas de provocação (problematização), trabalho, diálogo, investigação (pesquisa), conteúdo, muita leitura e reflexão. Quem se dispõe a ir à aula, deveria ir como se fosse ao trabalho. Só que é um trabalho diferente, um trabalho intelectual. Mas se chegar a um “show” ou se estiver assistindo a um espetáculo numa aula, queira ir mais adiante, assuma o controle, ultrapasse.

Segundo Libâneo, a aula:
“[...] não se aplica somente à aula expositiva, mas a todas as formas didáticas organizadas e dirigidas direta ou indiretamente pelo professor, tendo em vista realizar o ensino e a aprendizagem. [..] ela é toda situação didática na qual se põem objetivos, conhecimentos, problemas, desafios, com fins instrutivos e formativos, que incitam as crianças e jovens a aprender” (LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 28º Ed. São Paulo: Cortez, 2008. p.178). 

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Bel. e Licenciado em Filosofia, Esp. em Metafísica, Esp. em Estudos Clássicos.

Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com.br/

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O PROFESSOR E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UM MUNDO HUMANIZADO

“(...) os professores devem se assumir como intelectuais transformadores, aqueles capazes de trabalhar com grupos que se propõem a resistir às intenções de opressão e dominação presentes na escola e na sociedade e a participar de uma luta coletiva por emancipação”

Diante da realidade que vivemos no mundo atual, é preciso encontrar caminhos para se dar um salto na qualidade da educação em todos os níveis de ensino. Quando se observa a divulgação feita pelos meios de comunicação e tantas informações obtidas por muitas pessoas, que, diretamente estão envolvidas no processo educacional, identificam-se inúmeros problemas que vêm se desencadeando nas instituições escolares. 

Como professores, devemos ter consciência da nossa responsabilidade para ajudar a minimizar a situação e, gradativamente, sair dessa crise. Sabe-se que novas mentalidades, novas posturas, iniciativas, muito empenho e decisão é que poderão construir uma sociedade diferente, humanizada e ética. E é exatamente no desenvolver da educação sistemática que poderemos promover uma “revolução” de mentes e de atitudes, na perspectiva de um mundo melhor. Afinal, a pessoa humana é o centro da educação: a vida do ser humano em sua totalidade está envolvida, inevitavelmente, na educação. 

Precisamos, pois, dar mostras de que integramos uma classe profissional que contribui, sobremaneira, para a transformação da sociedade, tornando os cidadãos mais capacitados e eticamente atuantes. Oportuno se faz a afirmação do Prof. Flávio Moreira (UFRJ), quando reflete sobre as ideias de Henry Giroux: “os professores devem se assumir como intelectuais transformadores, aqueles capazes de trabalhar com grupos que se propõem a resistir às intenções de opressão e dominação presentes na escola e na sociedade e a participar de uma luta coletiva por emancipação”, ou seja: tomar decisões a partir de uma visão progressista de educação, ter abertura para examinar os tipos de atividades que vêm sendo desenvolvidas, identificar as “mesmices”, observar os mais diversos problemas que afetam o universo escolar, batalhar por inovações, superando gradativamente as verticalidades, para, então, ousar a implementação de mudanças a nível qualitativo no âmbito socioeducacional e político. 

Assim, nas atividades pedagógico-científicas, é necessário que o professor recorra à observação criteriosa, para que, de forma analítica, promova o exame detido da situação real. Cabe a ele a função de aprendizagem do aluno, com afinco, dedicação, sistematicidade, continuidade e persistência, de tal modo que, paulatinamente, os alunos passem a ter autonomia, saibam conquistar o conhecimento, tornando-se construtores e produtores do mesmo, numa busca incessante de aprofundamento do saber, aprimorando cada vez mais o seu papel de sujeito atuante nas escolas. Quanto mais nos dedicarmos à nossa valiosa profissão, mais realizados seremos como professores e, melhores contribuições daremos às exigências socioculturais e políticas do mundo atual. 

Profª. Elza Maria Cruz Brito 
(Educadora de professores, formadora de opiniões no Maranhão) 

Fonte: 
http://boletimodiad.blogspot.com.br

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

DAS IDEIAS E DOS HOMENS

''Mitos e ideias voltaram para nós, invadiram-nos, deram-nos emoção, amor, ódio, êxtase, furor.''

Devemos estar conscientes de que desde a alvorada da humanidade, a linguagem, a cultura, as normas de pensamento agarraram o gênero humano e nunca mais o largaram. Desde essa alvorada, levantou-se a noosfera, com o desenrolar dos mitos, dos deuses, e o formidável levantamento desses seres empurrou, arrastou o Homo sapiens para delírios, massacres, crueldades, adorações, extases, sublimidades desconhecidas no mundo animal.

Desde essa alvorada, vivemos no meio das florestas dos símbolos e não podemos sair dela. Ainda no fim do nosso segundo milênio, como os 'daimons' dos gregos, e por vezes como demônio do Evangelho, os nossos demônios ideais arrastam-nos, submergem a nossa consciência, tornam-nos inconscientes. Dando-nos a ilusão de sermos hiperconscientes. 

A humanidade não sofreu de insuficiência de amor. Ela produziu excessos de amor que se precipitaram para os deuses, para os ídolos e paras as ideias, e voltaram para os humanos transmudados em intolerância e terror. 

- Tanto amor e tanta fraternidade perdidos, desperdiçados, enganados, desnaturados, apodrecidos, endurecidos!
- Tanto amor e fraternidade que alimentaram os seres de espírito enquanto seres humanos estoiravam com a sua falta.
- Tanto amor engolido nas tantas vezes implacável religião de amor e tanta fraternidade engolida nas tantas vezes impiedosa ideologia da fraternidade!

A noosfera está em nós e nós estamos na noosfera. Mais ainda, a noosfera saiu inteira das nossas almas e dos nossos espíritos. Os mitos ganharam forma, consistência, realidade, a partir de fantasmas formados pelos nossos sonhos e pelas nossas imaginações. As ideias adquiriram forma, consistência, realidade, a partir dos símbolos e dos pensamentos das nossas inteligências. 

Mitos e ideias voltaram para nós, invadiram-nos, deram-nos emoção, amor, ódio, êxtase, furor. Que vitalidade espantosa, e que faz parte de nossas vidas, a da noosfera. É efetivamente uma parte da nossa substância que ai vive. 

Fonte: Edgar Morin - (O Método IV) As Ideias: a sua natureza, vida, habitat e organização.

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador Edgar Morin 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

VOU TE ABRAÇAR

"Lá há um jardim encantado onde planto árvores para meus amigos que morrem."

Escrevi-lhe então a carta abaixo: 

“Meu querido, muito querido Ladon: Tantos anos se passaram... E perdi contato com você. Mas você esteve sempre no meu coração e eu o imaginava caminhando sozinho pelas montanhas, em busca de silêncio, de comunhão com Deus e com a natureza. Contei muitas vezes a estória da nossa estranha amizade — porque é estranho pensar que duas pessoas que nunca se encontraram pudessem ser tão amigas. E agora me contam que você está se preparando para o momento de ficar encantado...

Foi-me dito que você tomou a decisão de viver o resto da sua vida da forma mais livre e mais corajosa. A vida é preciosa e deve ser bebida até sua última gota. Quando chegar a minha vez espero ter a sua liberdade e a sua coragem. A vida é bonita e é preciso que a morte seja bonita também. É trágico que nos dias de hoje, como resultado da parafernália médica, a morte tenha se tornado feia, solitária e amedrontadora. Um dos nossos poetas chamou a morte de ‘minha mais nova namorada’... Talvez ele estivesse pensando na morte como a Pietà — a morte como uma mulher que recebe o nosso corpo no seu colo.

Tenho um lugar nas montanhas. Há riachinhos, cachoeiras, árvores, pássaros de todos os tipos, de tucanos a beija-flores, e borboletas... Lá de cima eu vejo o horizonte, ao longe... Dentro de mim mora um menino. E esse menino fez um balanço numa árvore. E quando estou balançando, tentando tocar as folhas com o dedão do pé, tenho a impressão de que estou quase voando... Lá há um jardim encantado onde planto árvores para meus amigos que morrem. Já plantei minha própria árvore, pois nunca se sabe ao certo quando a nossa hora vai chegar.

Todas as árvores são de florestas tropicais com uma exceção: um pinheiro canadense, nome científico ‘liquidambar’, com folhas como mãos abertas com dedos esticados. Por muito tempo procurei essa árvore, sem sucesso. Mas uma amiga me deu uma muda como presente de aniversário. Eu a plantei numa encosta de onde se vê o horizonte. Acho que ela está gostando do clima. Mas ainda não lhe dei nenhum nome. Será que você concordará se eu lhe der o nome de Ladon Sheats? Assim, quando alguém me perguntar pelas razões daquele nome, eu contarei a sua estória... E as pessoas saberão que há, nesse mundo, pessoas bonitas que tornam a vida digna de ser vivida...

Estou lhe enviando esse livro que escrevi para minha filha, quando ela tinha 3 anos. Era cedo de manhã. Eu ainda estava dormindo. Ela saiu do seu quarto, veio até o meu lado, me acordou e me perguntou: ‘Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?’ Eu fiquei perplexo, sem palavras. Ela não havia tido nenhuma experiência com a morte.

Como é que aqueles pensamentos apareceram na cabecinha dela? E então ela acrescentou: ‘Não chore porque eu vou abraçar você...’ Essas palavras se tornaram no centro da estória 'A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens'. Não importa que você não entenda português. Aceite esse livro como um sacramento de amor. Nós nos encontraremos algum dia, em algum lugar... Seu amigo e irmão, Rubem Alves.”

* * *
Sempre que ouço a canção 'The Lord of the Dance', seja no CD 'Simple Gifts', seja no 'Appalachian Spring', seja na menina que toca a flauta doce, eu me lembro do Ladon Sheats.

A árvore está lá na montanha em Pocinhos do Rio Verde, subindo para os céus. Mas eu fico triste porque o liquidambar ficou mudo. Não conta mais estórias...

Por Rubem Alves

Fonte: Correio Popular - 02/02 - 2014