“Ide em
'Paz' Frei Paulo e que o Diabo e seus anjos na cadeia o devorem como
bem desejarem durante estes 20 anos.”
Quem são os pedófilos dentro da igreja? Tem um perfil de idade, forma de comportamento, hierarquia? Alguém já fez este levantamento? Para além das verdadeiras e autênticas realizações e coerência da vida religiosa, vou me arriscar pelas escuras vielas da vida religiosa, pelos labirintos das frustrações mascaradas de vocações. Vidas mal resolvidas, opções frustradas, gente mal preparada, pouca espiritualidade, pouca alteridade. Um grande saldão das mais sombrias repressões da sexualidade humana. Um golpe na libido, um assalto na afetividade e uma negação escancarada da vida. Falo do que vivenciei ao longo dos anos nestes campos da vida religiosa onde um dia eu também estive. Me antecipo a dizer que não sai para resolver problemas afetivos,
mas penso que minha vida afetiva ganhou e muito em qualidade com
minha saída, embora eu desejasse muito ter sido padre missionário
na África. O fato é que percorri paróquias, seminários, conventos
por este Brasil. Conheci irmãos religiosos, padres, freiras, Freis e
seminaristas de todas as ordens e partes do mundo. Esta experiencia
enriqueceu minha existência, me possibilitou ser o pouco do
literalmente pouco que hoje sou, mas com uma bagagem sem precedente e
que nenhuma outra universidade poderia me dar, mesmo tendo estudado
em grandes universidades.
A grande
verdade é que após mais de uma década de dedicação a vida
religiosa dentro de seminários, minha constatação é que a igreja
nos seus bastidores em elevado grau é um esconderijo sombrio das
frustrações humano afetivas. É um labirinto gélido de incertezas,
principalmente depois que o inconsciente coletivo da opção
celibatária religiosa começa a ficar pobre de entusiasmo, clareza e
finalmente de certeza. E o pior das consequências não poderia ser
outro a não ser o de uma vida de frustração, com elevada escala de
neuróticos, arrependidos, deprimidos, insanos reprimidos,
embebedados de insegurança afetiva, desertores e incoerentes com a
vida celibatária. Sem dúvidas a pior das perversidades é a
inquieta degradação de um indivíduo devorado pelas frustrações
cotidianas.
Eu
convivi com com Padres Anciãos marcado com uma profunda amargura no
fim da vida, Freiras cicatrizadas pela negação de desejos, paixões.
Vitimas marcadas pela escolha vocacional de seus pais. Eu conheci o
elevado grau de homossexualismo camuflado nas regras de despojamento
matrimonial obrigatório. Uma forma cruel de negar a opção sexual
da vida, um ato de covardia com própria existência, uma maculada
mentira compartilhada com os fiéis cristãos. Eu vi, senti, escutei
os secretos lamentos da existência sendo rifados ao longo dos anos,
velados diante de todos, e partilhado como uma linda opção de vida
por aqueles que tem dificuldade até de dobrar os joelhos. Embora ao
longo destes anos tenha conhecido pessoas maravilhadas com a escolha
de vida que assim fizeram a décadas, raras exceções a regra.
Padres, irmãs e irmãos religiosos carregados de um espiritualidade
que não se explica, mas que é sempre agradável mantê-los por
perto. Pessoas transbordando felicidade e compartilhando dos sonhos
de todos que os cercam.
Porém
não há como silenciar diante dos milhares de casos de pedofilia
espalhados pelo mundo. Uma negação profunda do próprio evangelho,
uma chaga aberta que parece se alegrar sangrando a desconfiada vista
de todos. Uma bomba de replicação na doutrina católica, um assalto
a dignidade humana, negligenciada em alto grau pela instituição
suja e covarde que se exime de delatar e punir os seus culpados.
Razão pela qual a noticia da condenação do Frei Paulo Back à 20
anos de prisão por crimes de abuso sexual contra criança na cidade
de Forquilhinha (SC), parece nos absolver em parte da culpa, acalmar
uma parcela de nossa indignação e nos fazer acreditar que a justiça
dos homens ainda se faz valer.
Que a
condenação de covardes frustrados como o Frei Paulo Back seja o
sinal não do apocalipse, mas de que a 'Justa Boa Nova' de fato esta
chegando. Embora sua condenação não venha eliminar o sofrimento
das vitimas, pode ser um libertador sinal para que todo canalha
enrustido, infiltrado dentro da igreja fique atento, pois a sua
'ultima ceia poderá acontecer no inferno' com uma grande assembleia
carcerária. Celebrada como uma libidinosa orgia pelos também
insanos famigerados a devorar pedófilos estupradores de crianças.
Celebração animada por cantos chorosos e pedidos de misericórdia
por aqueles que um dia fizeram inocentes chorar também. Bem
aventurados os que sofreram e ainda podem estar sofrendo pois mais
cedo ou mais tarde vão encontrar consolo. E malditos sejam os
covardes, porque um dia pagaram por toda injustiça cometida, porque
assim bem descreve São Tomás de Aquino: 'Deus não quer a culpa,
Deus quer a pena'. Ide em 'Paz' Frei Paulo e que o Diabo e seus anjos
na cadeia o devorem como bem desejarem durante estes 20 anos.
Neuri Adilio Alves
Filósofo - ex. Seminarista