terça-feira, 15 de junho de 2010

 Biologia sintética: novas soluções ou problemas?

Fatima Oliveira *

Transformamos uma célula em outra. É a primeira forma de vida na Terra cujo pai é um computador”. Falou John Craig Venter sobre o feito do Instituto John Craig Venter, que substituiu o DNA natural da bactéria Mycoplasma mycoides por um artificial, criado aleatoriamente por computador, e que assumiu o comando da célula!

 

A façanha éa primeira espécie criada por cientistas e consolida a biologia sintética: biotecnologia que, usando saberes da transgenia, da genômica e outros conhecimentos da biologia, da química, da física, da matemática, da engenharia, da biotecnologia e da informática, cria organismos sob medida: com um novo código genético a partir de DNA artificial  (Science,  20.05.2010).

Quem é John Craig Venter? Geneticista norte-americano, 63 anos, fundador da Celera Genomics (1998, Rockville, Maryland, EUA), empresa privada que mapeou o genoma humano, competindo com o Programa Genoma Humano (PGH); é ex-chefe de uma das equipes do PGH, do qual se desligou alegando divergências “técnicas”, porém o centro das polêmicas era o patenteamento do genoma humano, que ele defendia.

Em 1992 esteve na Conferência Sul-Norte do Genoma Humano (Caxambu-MG), ocasião em já solicitara patentes de 3.000 genes, via Institutos Nacionais de Saúde. Declarou ao Jornal do Brasil que a pesquisa do genoma humano não era uma aventura para países pobres. Ao sair do PGH, fundou uma instituição beneficente de pesquisa, a TIGR que sequenciou o genoma do Haemophilus influenza (1995), o primeiro ser vivo sequenciado. Desde então recebeu vultosos financiamentos privados para competir com a equipe do PGH. E  levou!

Ao criar a Celera Genomics, disse que com US$ 200 milhões, e em três anos, realizaria o sequenciamento total do genoma humano. Àquela época o PGH, consumira quase US$ 1 bilhão, entre fundos governamentais e doações, e prometia a sequência completa apenas para 2005. Venter acusou a equipe do PGH de desperdiçar dinheiro público, utilizando uma técnica lenta, quando já estava disponível um processo mais rápido, criado por ele... Em 2006, saiu da Celera Genomics e fundou o Instituto John Craig Venter, agora é um dos deuses da biologia sintética.

Conforme Silvia Ribeiro, pesquisadora do Grupo ETC, “A biologia sintética é uma nova rubrica científica e industrial cujo objetivo é criar formas de vida artificiais a fim cumprir tarefas ao gosto do desenhista. Não satisfeitos com os problemas criados com os transgênicos – seres vivos nos quais se inserem genes de outras espécies –, trata-se agora de construir organismos vivos a partir do zero, desenhados à la carte, a partir da fabricação de módulos de DNA artificial, programados para serem montados uns com os outros”. (Em “Biologia sintética: a vida descartável”).

Para Charbel Niño El-Hani e Vitor Passos Rios, do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia: “A biologia sintética pode ser entendida como a criação de organismos feitos sob medida, sejam eles geneticamente modificados ou construídos a partir do zero (...) O principal objetivo da biologia sintética, bem como sua maior dificuldade, é domesticar o mecanismo de replicação e transcrição de DNA de modo a controlar seu funcionamento, do mesmo modo que um engenheiro elétrico constrói e controla um circuito. É claro que esta empreitada traz consigo toda uma série de questões éticas e sociopolíticas, que não podem ser perdidas de vista. (Em “Vida sintética: uma nova revolução?”).

            Na mesa novas soluções ou problemas?
* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna