quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O AMOR VAI DEVAGAR

Texto publicado originalmente no Neerlandês – Escrito por Luc Vankrunkelsven - 06 de Setembro 2017

Jon Sobrino, jesuíta da Universidade de San Salvador, havia repetidamente falado sobre "amor político" e que ele deveria falar sobre a realidade. No caso de seu país, El Salvador, é uma realidade difícil. Seu confrater (irmão religioso) e ex-ministro da educação na Nicarágua, Fernando Cardenal, levou a ação prática como poucos levaram. O brasileiro Frei Betto também é conhecido por seus apelos para o amor e a ação política. Talvez seja estranho na crise política que o Brasil encontra-se há algum tempo.

Herman Verbeek tinha na época em sua poesia e música "O amor vai devagar" sobre ‘desespero e paciência’. Para "amor político" e "paciência", tive que pensar frequentemente em Chapecó nos dias que estive por aqui. De 2003 a 2008, trabalhei com a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar-Fetraf-Sul (1) nos três estados do sul do Brasil. Foi principalmente um intercâmbio internacional de "OMC, comércio internacional e efeitos perversos para a agricultura local (ers) em todo o mundo". A partir de 2008 comecei com passeios anuais de cinco semanas neste imenso país. Um subcontinente. Voltei também a Chapecó há poucos dias. Eu tenho muitas oportunidades aqui e aprendi muito, mas ainda estava aguardando esses dias que após anos de trabalho também pudesse colher algo de novo, e colhi – vou contar um pouco do vi, vivi e compartilhei por aqui.


 INVESTIR NA JUVENTUDE
Universidade Federal da Fronteira Sul-UFFS - Campus Chapecó/SC
A Fetraf Santa Catarina quer influenciar positivamente as gerações futuras. Portanto, há oito anos, juntamente com outros movimentos sociais, foi protagonista na criação de uma nova universidade: UFFS (2). Os jovens são formados debatendo
Centro Educacional do Bosco - Estudante recita poema
alternativas de produção que atendam a agricultura familiar e campesina. Há também uma forte abertura para dar aos haitianos emigrados e "índios" de diferentes etnias oportunidades para o ensino universitário. Isso foi o que eu experimentei pessoalmente, quando, após minha fala ao plenário lotado da Universidade Federal da Fronteira Sul com estudantes de Engenharia Ambiental, Agronomia e Ciências Sociais; Kichulu Yawalapiti um jovem "índio" pertencentes aos povos indígenas do Xingú me convidou para conhecer sua região em Mato Grosso. Ele ficou muito emocionado com o argumento de Wervel, não só de se concentrar no debate da monocultura de soja, mas também estimular a proteção da diversidade original.

Centro Educacional do Bosco - Chapecó/SC
À chegada ao oeste catarinense, após oito horas de viagem noturna com o ônibus de Curitiba-Chapecó, tive que falar imediatamente com as crianças do Centro Educacional Dom Bosco. 

Fiquei impressionado como os professores vão lá diariamente e inserem as crianças no debate da sustentabilidade, tanto em termos teóricos (veja notas de registro aqui, onde um mini-almoço com LEF é tomado durante o intervalo das atividades), bem como, a semeadura prática (por exemplo, cultivar sementes de árvores originais como a araucária e replantar), Painéis e campanhas orientando sobre reciclagem e cuidados com o meio ambiente. Além disso, professores estimulam as crianças a poesia. 

Para cada uma das duas conversas que fizemos no plenário da escola, uma menina recitou seu próprio poema. Para percebermos. Um poema é intitulado: "A årvore do Amor" / "A Árvore do Amor".

Centro Educacional Dom Bosco - Chapecó/SC
 PAINEL NO CENTRO EDUCACIONAL DOM BOSCO 
  • "A reciclagem de um alumínio pode economizar energia suficiente para ligar uma TV por três horas".
  • "Mais de 160 mil pessoas vivem no Brasil apenas coletando latas de alumínio, e recebem, em média, dois salários mínimos, de acordo com a Associação Brasileira de Alumínio".
  • "Cada 100 toneladas de plástico economizam 1 tonelada de petróleo".
  • "Para a produção de 1 tonelada de papel, é necessário 100 mil/litros de água e 5 kw de energia. Para produzir a mesma quantidade de papel reciclado, são necessários apenas 2000 litros de água e 50% da energia ".
  • "O vidro pode ser completamente reciclado".
As informações sobre as latas me lembraram os anos em que eu puxei escolas na Flandres (norte da Bélgica) com uma lata de coca e batatas fritas, combinada com uma caixa de pão (2). Objetivo? Explicar a globalização e os sistemas alimentares, fazer conexões e apontar o enorme desperdício.


➠ LIVROS EM UM PAÍS DE LEITURA

Estudantes da Escola de Ensino Básico Tancredo
Neves - Chapecó/SC
Crianças no Centro Educacional Dom Bosco, estudantes da nova Universidade - Uffs, estudantes de ciências e humanidades na Escola de Ensino Básico Tancredo Almeida Neves: nestes locais a quase despercebida, mas terna e efetiva presença do Filósofo/professor que assessora a Fetraf Santa Catarina Prof. Neuri Alves e as atividades sempre bem preparadas. Lentamente, ao 'Ritmo da Lagarta'. Ao Ritmo do Amor', que tem paciência e não se deixa levar. Por exemplo, ainda não havia presenciado como os alunos foram para a mesa onde estavam expostos os livros e compraram muitos exemplares. 


Centro Educacional Dom Bosco - Chapecó/SC
Um companheiro de uma biblioteca itinerante animou o stand de livros também na primeira noite na Escola Trancredo Neves e na manhã seguinte na Universidade Federal da Fronteira Sul. É o sinal do novo com uma Livraria Itinerante com preços populares que funcionará em um veículo Kombi (WW), nos passos de Paulo Freire. É uma conquista total em um país, que até então não apresentava uma cultura de leitura tão marcante. Precisamos incentivar a compra de livros, mesmo que para isso como escritores precisamos nos despir de nossos anseios pelo lucro – a cultura precisa vencer. Embora, como essas escolas e as universidades querem formar novas gerações e uma nova mentalidade, com isso tem havido crescimento notável ​​na venda de livros infantis nos últimos anos em todo Brasil. A nova geração de professores claramente incentiva as crianças e os jovens a ler. O canto de leitura no Centro Educacional Dom Bosco está lindamente decorado – é a prova da verdade.

Centro Educacional Dom Bosco - Chapecó/SC

Escola de Ensino Básico Tancredo Neves - Chapecó/SC

 MULHERES PODEROSAS

Propriedade Família Cordazzo - Coronel Freitas/SC
O último dia no período da tarde visitamos uma propriedade onde vive com seus pais uma jovem agricultora com expressão angelical de menina em tenra idade, embora sua já adiantada caminhada formativa e consciência.

Dalvana Cordazzo. Ela quer mudar a lógica da produção atual de leite na propriedade para uma produção biológica, baseada apenas em pastagem e tratamento com fitoterápicos e homeopatia. Como guia a nos acompanhar uma jovem engenheira agrícola, em processo de formação na UFFS. Ela trabalha no sindicato de agricultores do município de Coronel Freitas. Ela representa claramente a nova geração que quer transformar ideias inovadoras em prática. O país atravessa hoje uma crise profunda, mas como o antigo governo do PT investiu em jovens, há um otimismo vivaz que eles representam uma esperança duradoura no futuro.

Propriedade Família Cordazzo - Coronel Freitas/SC
Fomos encontrar a engenheira agrícola no sindicato. O que encontro? - Ao entrar no sindicato, dou-me de frente com uma visão carregada de significados na parede, com os dois ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff de ambos os lados e ao centro o cristo crucificado. Jesus de Nazaré entre dois socialistas em um sindicato de agricultores socialistas! Tal movimento não pode ser imaginado na Europa. Isso é um socialista-avant-la-lettre entre dois socialistas que queriam levar seu país para uma direção libertadora? Ou Jesus está esticado aqui para mostrar a situação da propriedade? Na minha opinião, sim, usei isso como exemplo que o Bom Jesus enfrenta no uso dos fertilizantes na Lapa.


➠ ‘EU SEREI’


Propriedade Família Cordazzo - Coronel Freitas/SC
Dalvana é uma jovem promessa de liderança forte dos agricultores na estratégia da Fetraf no Estado de Santa Catarina - é uma esperança que o novo vai nascer. A visita foi um pedido em especial pelo respeito que a jovem nutre por mim, mesmo que ela tenha ficado um pouco nervosa ao receber um escritor da Europa em sua casa. No entanto, ela o convidara, porque fez leitura de seus livros e compartilha de suas ideias. Não é evidente na cultura machista brasileira uma jovem não se casar e sair para a outra família. Muitas mulheres jovens também migram para a cidade, enquanto os jovens agricultores freqüentemente ficam no campo sem que as mulheres assumam o lugar de proprietárias como transição natural. Ela diz com firmeza: "Eu permaneço e quero continuar com este projeto na propriedade familiar voltado a produção mais orgânica’’. Ela vai encontrar muitos obstáculos a caminho, mas o ritmo da lagarta irá ajudá-la a superar - por eu onde andar estarei feliz por saber que os ‘Oasis’ não morrem! 


O amor sem paixão é como alimentar-se de algo sem gosto, sem pimenta e sal. O amor (compromisso) por vezes pode até parecer algo rápido, efêmero, mas pode também tornar-se fúria, fortaleza. O amor, também o político, vai devagar, mas a paixão pelo que fazemos pode ajudar superar as ervas daninhas, porque o amor mesmo que gestado lentamente em pequenas atitudes, ações e iniciativas de ‘Oasis em Oasis’ um dia vai vencer.


Luc Vankrunkelsven - Filósofo, Escritor e Frei. É fundador da Wervel, uma ONG com sede na Bélgica que luta em defesa de uma Agricultura Resposável e Socialmente Justa. Ativista de intercâmbio de diálogos entre Brasil e Europa na defesa do Bioma Cerrado Brasileiro.  



Fonte: Textos traduzidos originalmente da página pessoal do escritor na Bélgica com o Titulo: 'Liefde gaat langzaam' - https://lucvankrunkelsven.wordpress.com/

Fotos das agendas por Chapecó:

Professores, Gestores e Convidados - Centro Educacional Dom Bosco - Chapecó/SC

Professor e Estudantes da Escola de Ensino Básico Trancredo de Almeida Neves - Chapecó/SC

Professoras da Escola de Ensino Básico Trancredo de Almeida Neves - Chapecó/SC

Alexandre Bergamin - Coordenador da Fetraf/SC na Palestra da UFFS - Chapecó/SC 
Professor Tomé Coletti UFFS e Prof. Pesquisador Neuri Alves Assessoria Fetraf/SC

Visita a Cresol Central com Diretora da Fetraf/SC  - Chapecó/SC

Projeto de Livraria Itinerante - Chapecó/SC


sábado, 9 de setembro de 2017

ENQUANTO AS MULHERES MORREM ELES CALAM



Na ultima semana a região oeste de Santa Catarina apresentou mais e mais casos de mulheres assassinadas pelo marido, ex marido ou namorado. Some-se aos números de partidas (mortes) as dezenas de vitimas casadas, namoradas, crush (termo usual em nossos dias) agredidas violentamente por ciúmes, ou meramente por ser mulher e com estas as centenas de lágrimas, dores e hematomas mantidos e silencio. Em hegemônica maioria o agressor é quem diz amar, e prometer cuidar o jardim afetivo que acham pertencer unicamente a si mesmo. 

Se levantarmos todos os casos apresentados diariamente pelas emissoras de rádios e delegacias em todas nossas região, somos sem dúvida umas das regiões mais violentas para mulheres não somente no sul do país. Digo isso, porque em viagem semanal pelo Estado escuto programas de rádio durante o dia e são dezenas de registro de agressões e mortes relatadas por emissoras locais e regionais. Mas ao governo catarinense não interessa publicitar dados, pois estes agridem a cultura machista e não só, dados revelam a inoperância do ente responsável pela segurança de seus cidadãos. Ou ainda, o Estado se revela não reconhecedor da mulher como cidadã de direitos constituídos.

A violência nunca se justifica, mas se explica pelas ferramentas violentas e covardes presentes na sociedade: a mídia que estimula e silencia, políticos que a reafirmam como necessidade, religiões que alienam e reafirmam condições, a estúpida cultura machista e covarde e legitimação conivente do Estado. É o mais triste é que não parece ser as mulheres que morrem na totalidade, pois de algum modo permanecem vivas como memórias, dores da ausência e fria estatística. O que morre, é o poder de punir, força para reagir, coragem para denunciar, naturalizando-se uma capacidade de não mais comover.

A violência que se aponta como 'DNA' da espécie, um retrovisor milenar na cultura, se reafirma na estupidez e descaso de nosso tempo, sinaliza permanecer como trevas, dias sombrios de um mundo sem futuro. Pois não há futuro onde o passado serve de referência e justificativas para as insanidades, estupides, inércia e silêncio novamente.

Enquanto permanecer o silêncio forçado, a conivência legalizada e a cegueira simulada, o amanhã continuará sendo uma tela pintada em sangue, lágrimas, sombras. E sobre estas, as luzes da impunidade, a menina dos olhos manifesta como delação premiada, justiça alienada, condenação orquestrada. A justiça de nosso tempo é uma espécie de 'Caixotinho de PANDORO' guardando espíritos de porcos, porcos espirituosos e bandidos dizendo o que é legal ou não - nesta caixinha ser MULHER, é apenas ser mulher, ou seja... sem rosto, sem dor, sem hematomas, sem direitos, sem... sem... sem... VIDA!  

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Neuri Adilio Alves
Filósofo, Professor, pesquisador 
em Antropologia Filosófica

quinta-feira, 27 de abril de 2017

GREVE E ESPIRITUALIDADE PASCAL

''É preciso um processo de conversão para descobrir que a dimensão social libertadora é o eixo central da revelação bíblica e o coração da espiritualidade judaico-cristã''

Monge Marcelo Barros
Em várias dioceses católicas do Brasil, muitos ministros e fieis se revelam surpresos ao perceber que os responsáveis pela Igreja decidiram se manifestar publicamente sobre o que está acontecendo no Brasil. Bispos se pronunciam contra iniciativas do atual governo, como a Proposta de Reforma da Previdência Social. Também se declaram contra as mudanças da Constituição, empreendidas pelo Congresso, sem nenhuma consulta ou respaldo popular. Na Igreja Católica, essa nova postura profética dos bispos, depois de décadas de uma pastoral mais autocentrada, é uma boa surpresa.

Sem dúvida, devemos isso a esses tempos que vivemos, embalados pela profecia do papa Francisco. No entanto, além dos bispos católicos e de uma nota da própria CNBB, também o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e autoridades evangélicas têm se unido na denúncia das medidas que vão diretamente contra os interesses da imensa maioria dos brasileiros.

Infelizmente, para muitos cristãos, o compromisso social e político não parece fazer parte da fé. Nesse tempo pascal, todas as comunidades de Igrejas antigas leram as passagens do livro do Êxodo que contam a Páscoa judaica. Ali, Deus ordenou aos hebreus saírem da escravidão. Ele os conduziu para a terra prometida e revelou que a vocação de todo ser humano é ser livre e ter sua dignidade reconhecida. Daqui há poucos dias, leremos nas Igrejas o texto do evangelho no qual Jesus se proclama o verdadeiro pastor do povo que veio para que todos tenham vida e vida em abundância (Jo 10, 10). No entanto, muitos ministros e fieis interpretam o evangelho de forma espiritualista e individualista. Como se Deus se interessasse apenas pelas consciências e desse sua salvação só para depois da morte. Mesmo muitos que estão d e acordo com as pastorais sociais e os trabalhos de solidariedade os veem apenas como consequência da fé e da caridade.

É preciso um processo de conversão para descobrir que a dimensão social libertadora é o eixo central da revelação bíblica e o coração da espiritualidade judaico-cristã. Ela expressa a relação com um Deus que é amor e cujo projeto é a libertação de todos os humanos, o direito à vida de todos os seres viventes e a comunhão do universo. Esse projeto que a Bíblia chama de “reino de Deus” nos chama todos a sermos cidadãos. Paulo diz que deixamos de pertencer ao mundo como sociedade dominante para vivermos livres. Então, “o mundo, a vida, a morte, o presente e o futuro, tudo é de vocês e vocês são do Cristo e o Cristo é de Deus” (1 Cor 3, 22- 23).

Nesses dias, muitos bispos e pastores estão se pronunciando publicamente favoráveis à greve geral dessa sexta-feira, 28. Eles conclamam as pessoas de fé a apoiarem as mobilizações populares. Setores mais conservadores se perguntam o que isso tem a ver com a fé.

De fato, essa greve geral é um movimento autônomo dos movimentos sociais. Totalmente laical e nada ligada à Igreja. No entanto, para quem tem fé, essa greve recorda que, na Bíblia, a aliança de Deus com o seu povo tem como centro a celebração do sábado. É o direito sagrado do povo parar o trabalho e descansar. Até hoje, os rabinos explicam: “Deus criou o sábado para lembrar a todo fiel a sua dignidade de pessoa livre e que não pode se deixar oprimir”. Não é por acaso que no idioma hebraico dos nossos dias, o termo greve é traduzido por Shabbat , o mesmo vocábulo que sábado.

Quando lutamos por cidadania e direito dos trabalhadores, estamos revivendo o que uma canção das comunidades eclesiais de base cantam até hoje: “No Egito, antigamente, no meio da escravidão, Deus libertou o seu povo. Hoje, Ele passa de novo, gritando a libertação”.

Um abraço amigo do irmão Marcelo Barros
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Marcelo Barros é Monge Beneditino, interprete da Bíblia, Conferencista. 

quarta-feira, 8 de março de 2017

UM NOVO JARDIM AS ROSA DA LUTA

'Será como ter recomeçado do zero, recomeçar o que talvez sem as mulheres nunca foi nada.' 

Minha saudação especial a todas as mulheres que compartilham diariamente conhecimento, sabedorias, alegrias, tristezas, coragem, esperanças, energia para a luta e que além do contato na luta, ficamos sabendo aqui neste espaço virtual. - É como se a realidade rompesse o silêncio, a distância, o gélido estado material da fibra ótica deste espaço e o calor das consciência lhes acalente.

Parabéns Mulheres pela coragem de enfrentar diariamente este mundo desigual, de estupida violência, mesquinhez, exclusão e morte.

... a voces meu imenso respeito
... um jardim de rosas pela unidade
... um grito de denuncia a cada agressão e agressor
... uma dose de subversão a submissão secular
... uma espada cortante as linhas da segregação
... uma luz de esperanças onde haver escuridão
... um convite a luta as vitimas da violência
... um olhar revisado as que acham que não sofrem perseguição,
... um pedido de presença as que se encontram distantes
... uma fantasia de coragem as que se armam apenas com vitrines
... um brinde a beleza inconfundível das que lutam sempre.

De modo especial, um beijo doce, minha imensa admiração a minha companheira de sempre, amiga e MULHER Silvania. Sem ela os dias e a vida perde grande parte do sentido.

É juntos: Homens e Mulheres, (anima e animus) - mais cedo ou mais tarde nos levantaremos dos dias dolorosos, com as feridas curadas, embora não esquecidas. Seremos maioria consciente, energia de luta, convicção, uma nação de todos e para todos: sem violência, sem distinção, sem exclusão, sem machismos, sem estupidez.

Será como ter recomeçado do zero, recomeçar o que talvez sem as mulheres nunca foi nada. As Rosas não precisam de Rosas, precisam de Jardins, e os jardins são lugares da liberdade, da subversão aos espaços sombrios, a ordem pré estabelecida, onde a beleza é impacto que mexe por dentro, que mudam os dias, ... as sombram não servem ao mero descanso mas a reflexão, a contemplação, ao renovar para nova AÇÃO!

Mulher é Rosa, Jardim é espaço de direito, dignidade, respeito. - 'Mulher bonita, é mulher que luta' encrava o belo adágio, e nenhuma maquiagem ou fantasia de vitrine lhes deixará mais bela, porque beleza supõe coragem, subversão a ordem dos exclusivismos patriarcalista, mesquinharias e ditaduras do TER que SER, assim ESTAR e SUBMETER-SE! Fraterno abraço!


Neuri A. Alves - Professor, Filósofo e Pesquisador em Antropologia Filosófica. Assessor de Formação e Elaboração na Fetraf Santa Catarina.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Neuroeducação: aula com menos de 50 minutos, mais aprendizado.


Escrito por 
ANA TORRES MENÁRGUEZ

“É preciso acabar com o formato das aulas de 50 minutos”

Especialista em Neuroeducação aposta na mudança de metodologias, mas pede cautela na aplicação da neurociência na educação.


A neuroeducação, disciplina que estuda como o cérebro aprende, está dinamitando as metodologias tradicionais de ensino. Sua principal contribuição é que o cérebro precisa se emocionar para aprender e, de alguns anos para cá, não existe ideia inovadora considerada válida que não contenha esse princípio. No entanto, uma das maiores referências na Espanha nesse campo, o doutor em Medicina Francisco Mora, recomenda cautela e adverte que na neuroeducação ainda há mais perguntas do que respostas.

Mora, autor do livro Neuroeducación. Solo se puede aprender aquello que se ama (Neuroeducação. Só se pode aprender aquilo que se ama), que já atingiu a marca de onze edições desde 2013, também é doutor em neurociência pela Universidade de Oxford. Começou a se interessar pelo assunto em 2010, quando participou do primeiro Congresso Mundial de Neuroeducação realizado no Peru.

Mora argumenta que a educação pode ser transformada para tornar a aprendizagem mais eficaz, por exemplo, reduzindo o tempo das aulas para menos de 50 minutos para que os alunos sejam capazes de manter a atenção. O professor de Fisiologia Humana da Universidade Complutense alerta que na educação ainda são consideradas válidas concepções equivocadas sobre o cérebro, o que ele chama de neuromitos. Além disso, Mora está ligado ao Departamento de Fisiologia Molecular e Biofísica da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.
Pergunta. Por que é importante levar em conta as descobertas da neuroeducação para transformar a forma de aprender?
Resposta. No contexto internacional há muita fome para ancorar em algo sólido o que até agora são apenas opiniões, e esse interesse se dá especialmente entre os professores. O que a neuroeducação faz é transferir a informação de como o cérebro funciona com a melhoria dos processos de aprendizagem. Por exemplo, saber quais estímulos despertam a atenção, que em seguida dá lugar à emoção, pois sem esses dois fatores nenhuma aprendizagem ocorre. O cérebro humano não mudou nos últimos 15.000 anos; poderíamos ter uma criança do paleolíticoinferior numa escola e o professor não perceber. A educação tampouco mudou nos últimos 200 anos e já temos algumas evidências de que é urgente fazer essa transformação. Devemos redesenhar a forma de ensinar.
P. Quais são as certezas que já podem ser aplicadas?
R. Uma delas é a idade em que se deve aprender a ler. Hoje sabemos que os circuitos neurais que codificam para transformar de grafema a fonema, o que você lê e o que você diz, não fazem conexões sinápticas antes dos seis anos. Se os circuitos que permitirão aprender a ler não estão formados, se poderá ensinar com um chicote, com sacrifício, sofrimento, mas não de forma natural. Se você começa com seis, em pouquíssimo tempo aprenderá, enquanto que se começar com quatro talvez consiga, mas com enorme sofrimento. Tudo o que é doloroso tendemos a rejeitar, não queremos, enquanto aquilo que é prazeroso tentamos repetir.
P. Qual é a principal mudança que o sistema de ensino atual deve sofrer?
R. Hoje estamos começando a saber que ninguém pode aprender qualquer coisa se não estiver motivado. É necessário despertar a curiosidade, que é o mecanismo cerebral capaz de detectar a diferença na monotonia diária. Presta-se atenção àquilo que se destaca. Estudos recentes mostram que a aquisição de conhecimentos compartilha substratos neuronais com a busca de água, alimentos e sexo. O prazeroso. Por isso é preciso acender uma emoção no aluno, que é a base mais importante sobre a qual se apoiam os processos de aprendizagem e memória. As emoções servem para armazenar e recordar de uma forma mais eficaz.
P. Quais estratégias o professor pode usar para despertar essa curiosidade?

Sabemos que para um aluno prestar atenção na aula não basta exigir que ele o faça

R. Ele deve começar a aula com algum elemento provocador, uma frase ou uma imagem que seja chocante. Romper o esquema e sair da monotonia. Sabemos que para um aluno prestar atenção na aula não basta exigir que ele o faça. A atenção deve ser evocada com mecanismos que a psicologia e a neurociência estão começando a desvendar. Métodos associados à recompensa, e não à punição. Desde que somos mamíferos, há mais de 200 milhões de anos, a emoção é o que nos move. Os elementos desconhecidos, que nos surpreendem, são aqueles que abrem a janela da atenção, imprescindível para a aprendizagem.
P. O senhor alertou em várias ocasiões para a necessidade de ser cauteloso em relação às evidências da neuroeducação. Em que ponto o senhor está?
R. A neuroeducação não é como o método Montessori, não existe um decálogo que possa ser aplicado. Ainda não é uma disciplina acadêmica com um corpo ordenado de conhecimentos. Precisamos de tempo para continuar pesquisando porque o que conhecemos hoje em profundidade sobre o cérebro não é totalmente aplicável ao dia a dia em sala de aula. Muitos cientistas dizem que é muito cedo para levar a neurociência às escolas, primeiro porque os professores não entendem do que você está lhes falando e segundo porque não há literatura científica suficiente para afirmar em quais idades é melhor aprender quais conteúdos e como. Há flashes de luz.
P. O senhor poderia contar alguns dos mais recentes?
R. Estamos percebendo, por exemplo, que a atenção não pode ser mantida durante 50 minutos, por isso é preciso romper o formato atual das aulas. Mais vale assistir 50 aulas de 10 minutos do que 10 aulas de 50 minutos. Na prática, uma vez que esses formatos não serão alterados em breve, os professores devem quebrar a cada 15 minutos com um elemento disruptor: uma anedota sobre um pesquisador, uma pergunta, um vídeo que levante um assunto diferente... Há algumas semanas, a Universidade de Harvard me encarregou de criar um MOOC (curso online aberto e massivo, na sigla em inglês) sobre Neurociência. Tenho de concentrar tudo em 10 minutos para que os alunos absorvam 100% do conteúdo. Nessa linha irão as coisas no futuro.

sábado, 26 de novembro de 2016

Fidel Castro: da causa comunitária, a última casa comum

Fidel cessou o sopro vital, mas não morrerá no tempo porque ele é memória viva aos milhões de cubanos que o amam, aos milhares de estudiosos pelo mundo que o admiram e o estudam. Mas também permanecerá vivo como miserável senso comum aos que não conseguem entender a própria vida, mas se acham esclarecidos como opinistas míopes da histórica conjuntura internacional. 

Fidel chegou a ultima etapa do 'Comum' donde ninguém escapará, Ele deixa os ideias da comunidade de iguais e chega a 'casa comum' no ciclo natural. Enganoso achar que Fidel vivia em uma ilha, ele era/foi uma América espoliada em esperanças, uma trincheira de resistência, uma placa tectônica que movimentou continentes.

Intrigante, é saber que ainda veremos muita gente neste mundo considerando a morte uma senhora governante com mão de ferro, porque enquadra todos como iguais. A morte, esta ditadora senhora é uma militante da casa comum, do ato final, da categórica regra natural do inevitável! Morrer não significa desaparecer, mas desaparecer pode significar nunca ter existido.

Muitos vão deixar este mundo sem serem lembrados até mesmo por aqueles que passaram uma vida ao seu lado. Triste, desolador talvez não seja morrer fisicamente porque este é o ciclo inevitável, mas morrem na memória do tempo porque o orgulho, a arrogância, a petulância são como cal que dissolve as lembranças dos insignificante. Dentre estes, talvez esteja eu, você, aquele que julga o mundo e não julga a si mesmo. Fidel Castro permanecerá vivo mesmo que na última casa comum- e de nós o que sobrará?

Neuri Adilio Alves - Filósofo Aprendiz, Educador Popular 

sábado, 12 de novembro de 2016

OS ESTUDANTES QUEREM UM OUTRO BRASIL E UM OUTRO TIPO DE POLÍTICA.

''Os jovens que estão ocupando os lugares de ensino estão revelando mais inteligência, eles querem dizer:: estamos cansados do tipo de Brasil que vocês nos apresentam''

Seria ingênuo pensar que o movimento dos estudantes ocupando escolas e universidades se esgota na crítica de um dos mais vergonhosos projetos já havidos, da reforma do ensino médio ou no protesto contra a PEC 241 da Câmara e agora PEC 55 do Senado, PEC da brutalização contra os mais vulneráveis da nação. O que se esconde atrás das críticas é algo mais profundo: a rejeição do tipo de Brasil que até agora construímos e de política, corrupta feita por parlamentares em proveito próprio. Junto vem o lado mais positivo: a demanda por uma outra forma de construir o Brasil e de reinventar uma democracia, não de costas para o povo, mas com ele participando nas discussões e decisões das grandes questões nacionais.


Já abordei neste espaço este tema, a propósito do movimento dos jovens de 2013. Este movimento retorna com mais vigor e mais capacidade de se impôr aos responsáveis pelos destinos de nosso país. Três autores continuam a nos inspirar, pois sempre lutaram por um outro Brasil e sempre foram derrotados.

O primeiro é Darcy Ribeiro num texto de 1998 como prefácio ao meu livro O caminhar da Igreja com os oprimidos:”Nós brasileiros surgimos de um empreendimento colonial que não tinha nenhum propósito de fundar um povo. Queria tão-somente gerar lucros empresariais exportáveis com pródigo desgaste de gentes”. Esta lógica do ultraliberalismo atual se radicalizou no Brasil.

O segundo é de Luiz Gonzaga de Souza Lima na mais recente e criativa interpretação do Brasil:”A refundação do Brasil: rumo à sociedade biocentrada (São Carlos 2011):”Quando se chega ao fim, lá onde acabam os caminhos, é porque chegou a hora de inventar outros rumos; é hora de outra procura; é hora de o Brasil se refundar; a refundação é o caminho novo e, de todos os possíveis, é aquele que mais vale a pena, já que é próprio do ser humano não economizar sonhos e esperanças; o Brasil foi fundado como empresa. É hora de se refundar como sociedade”(contra-capa). Essa hora chegou.

O terceiro é um escritor francês François-René de Chateaubriand (1768-1848):”Nada é mais forte do que uma ideia quando chegou o momento de sua realização”. Tudo indica que este momento de realização está a caminho.

Os jovens que estão ocupando os lugares de ensino estão revelando mais inteligência, a exemplo da jovem Ana Júlia Ribeiro, falando na Câmara Legislativa do Paraná, do que a maioria dos representantes sentados em nossas casas parlamentares, interessados mais em seus negócios e na própria reeleição do que no destino do povo brasileiro.

Sem definição partidária, com seus cartazes incisivos ,os estudantes nos querem dizer:: estamos cansados do tipo de Brasil que vocês nos apresentam, com democracia de baixa intensidade, que faz políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres, na qual as grandes maiorias são feitas invisíveis e jogadas nas periferias, sem estudo, sem saúde, sem segurança e sem lazer Queremos outro Brasil que esteja à altura da nossa consciência, feito de povo misturado e junto, alegre, sincrético e tolerante.

Efetivamente, até hoje o Brasil foi e continua sendo um apêndice do grande jogo econômico e político do mundo. Mesmo politicamente libertados, continuamos sendo recololizados, esta é a palavra exata, recolonizados, pois as potências centrais antes colonizadoras, nos querem manter colonizados, condenando-nos a ser uma grande empresa neocolonial que exporta commodities: grãos, carnes, minérios. Desta forma nos impedem de realizarmos nosso projeto de nação independente, soberana e altiva.

Diz com fina sensibilidade social Souza Lima:”Ainda que nunca tenha existido na realidade, há um Brasil no imaginário e no sonho do povo brasileiro. O Brasil vivido dentro de cada um é uma produção cultural. A sociedade construiu um Brasil diferente do real histórico, o tal país do futuro, soberano, livre, justo, forte mas sobretudo alegre e feliz”(p.235). No movimento atual renasce este sonho exuberante de Brasil.

Caio Prado Júnior em sua 'A revolução brasileira' (Brasiliense 1966) acertadamente escreveu: ”O Brasil se encontra num daqueles momentos em que se impõem de pronto reformas e transformações capazes de reestruturarem a vida do país de maneira consentânea com suas necessidades mais gerais e profundas e as espirações da grande massa de sua população que, no estado atual, não são devidamente atendidas”(p. 2).


Com os personagens que estão aí na cena política, grande parte acusada de corrupção ou feita réu ou condenada, não podemos esperar nada senão mais do mesmo. Devem ser democraticamente alijados da história para termos campo limpo para o novo.

Sobre que bases se fará a Refundação do Brasil? Souza Lima nos diz que é sobre aquilo que de mais fecundo e original que temos: a cultura nacional tomada no seu sentido mais amplo que envolve o econômico, o politico e o especificamente cultural: ”É através de nossa cultura que o povo brasileiro passará a ver suas infinitas possibilidades históricas. É como se a cultura, impulsionada por um poderoso fluxo criativo, tivesse se constituído o suficiente para escapar dos constrangimentos estruturais da dependência, da subordinação e dos limites acanhados da estrutura socioeconômica e política da empresa Brasil e do Estado que ela criou só para si. A cultura brasileira então escapa da mediocridade da condição periférica e se propõe a si mesma com pari dignidade em relação a todas as culturas, apresentando ao mundo seus conteúdos e suas valências universais”(p.127).

Por este texto, Souza Lima se livra da crítica justa de Jessé Souza, feita à maioria de nossos intérpretes do status quo histórico: “A tolice da inteligência brasileira”(Leya 2015), completada com “A radiografia do golpe”(Leya 2016).

A maioria destes clássicos intérpretes, olharam para trás e tentaram mostrar como se construiu o Brasil que temos. Souza Lima, como os jovens de hoje, olha para frente e tenta mostrar como podemos refundar um Brasil na nova fase planetária, ecozóica, rumo ao que ele chama “uma sociedade biocentrada”.

Ou o Brasil diferente nascerá destes jovens estudantes, ou corremos o risco de perdermos novamente o carro da história. Eles podem ser os protagonistas daquilo que deve nascer.


Leonardo Boff é articulista do JB on line e escritor.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com/2016/11/11/