quarta-feira, 7 de maio de 2014

“ESQUERDA” E DIREITA. INTOLERÂNCIA E IRRACIONALISMO

''A direita e certa “esquerda” alimentam seu irracionalismo com um nada leve fundo filosófico.'' 

Existe uma crise clara de pensamento que atinge a quase tudo e todos. Seria uma crise da própria filosofia? Estaria ela ameaçada pelo irracionalismo, ao ceticismo e ao misticismo? Será que a luta de ideias que opõe materialismo x idealismo está se reduzindo a uma doideira do tipo racionalismo x irracionalismo? O que diz o mundo, as pessoas e as relações ao seu (ao nosso) redor?

Vivemos a miséria da filosofia que um dia muitos pensaram ter superado. Não acredito que existe uma miséria da filosofia por aí. O que existe é a morte da própria filosofia. Filosofia pressupõe algum nível de pensamento e certa relação de camaradagem com o conhecimento. O mundo e as pessoas ao nosso redor exprimem exatamente determinado nível próximo de zero com algum nível de pensamento e uma inimizade terrível com a inteligência. Isso ocorre em todos níveis e toma de assalto tanto quem reivindica “ser de esquerda” quanto o mais empedernido conservador de tipo fascista.

A filosofia está sendo substituída pelo irracionalismo, o ceticismo e o misticismo. O debate econômico, por exemplo, em nosso país tem servido para alimentar esta perspectiva. Quase todos advogam a estabilidade monetária como uma conquista, acreditam de pés juntos que a poupança precede o investimento e, consequentemente, um dia o crescimento virá sob as hostes da “inflação sob controle”. Não seria isso tudo a primazia do misticismo e a completa derrota da ciência? Nunca tive dúvidas disso. E gosto sempre de lembrar que a ascensão de Hitler fora precedida por duros ajustes fiscais. 

O que existe hoje no Brasil não é um fascismo que campeia a olhos vistos em todos os segmentos da sociedade? E isso não tem nada a ver com superávit primário, “combate à inflação”, baixíssima relação entre investimentos x PIB? 

Fascismo gera fascismo e a ideologia fascista se esbalda naqueles que combatem o desenvolvimento. Seja pela direita, seja pela “esquerda”. Também nesse caso a ordem dos fatores não altera o produto. Ser contra a realização da Copa do Mundo não é um fim em si mesmo, principalmente entre militantes e acadêmicos dos “movimentos sociais”. São tão irracionais e pródigos da “filosofia” que substitui seu congênere clássico na Alemanha nazista sob os escritos de Heidegger, Spengler e Jünger. 

A direita nega o desenvolvimento como um princípio. Determinada esquerda milita contra o desenvolvimento sem nunca ter lido os brilhantes textos de Trotsky sobre o processo de desenvolvimento russo. São de uma esquerda dita “internacional” sem perceberem que quanto mais internacional, mais inofensiva se torna ao próprio imperialismo.

Na verdade, o imperialismo não foi somente capaz de liquidar fisicamente Torrijos (Panamá) e Roldós (Equador) em 1981, enquadrar a política monetária japonesa em 1985 (valorização do Yen), colocar de joelhos os dirigentes soviéticos com o programa de Guerra nas Estrelas e impor à América Latina o “combate à inflação” com teses reacionárias que ganharam a consciência de quase todo espectro político. 

No fundo a que serve determinadas teses “internacionais” de tipo dependentista e mesmo noções lúdicas do processo de desenvolvimento onde “o pobre é belo” e “o pequeno se opõe ao grande”? 

A direita e certa “esquerda” alimentam seu irracionalismo com um nada leve fundo filosófico. São tão alemães quanto a staff intelectual hitleriana até na negação da dialética como lógica explicativa do movimento. Isso explica demais a intolerância reinante não somente na sociedade, mas mesmo nos círculos que se dizem “acadêmicos” e de “pensamento”. Fico de cabelo em pé ao ver protestos contra a fascitoide profissional Rachel Sheherazade feito por muitos que pouco se diferenciam dela na militância, na “vida acadêmica” e no debate (mercado) de ideias. Já percebeu que uma discussão pode se encerrar com alguma citação sobre a “lógica do capital” dita ou escrita por Meszaros ou David Harvey como se fosse, antes de grandes besteiras, grandes novidades? Quantos não são linchados como a senhora suspeita de “magia negra” até a morte simplesmente por divergir, pensar diferente, polemizar? Você já olhou ao seu redor?

Também não estou livre de determinado grau de intolerância. Todos nós temos dificuldades. Como vivemos numa época em que Nelson Rodrigues dizia que “dinheiro compra até o amor verdadeiro”, impossível ser intolerante com tudo ao redor. Meu autolimite é a intolerância com aqueles incapazes de expressar uma opinião sobre questões de fronteira. Tem gente que nasceu para morrer, portanto não tem mesmo opinião sobre nada. Já quem pratica o câncer da autopreservação em nome de uma carreira, ao evitar polêmicas manda o seguinte recado: "estou à venda". Quando se trata de jovens picaretas a questão não seria "a que ponto ele chegou" e sim, "de que ponto está se partindo". 

Retorno ao início destas palavras. O que diz o mundo, as pessoas e as relações ao seu (ao nosso) redor? 

Elias Jabbour * Doutor e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Escritor de artigos sobre economia e  autor de dois Livros sobre a China.

Fonte: http://www.vermelho.org.br

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A hospitalidade para com os haitianos: quão humana é a nossa sociedade?

''Responsabilizar-se conscientemente junto com outros para que encontre um lugar onde morar e um trabalho para ganhar sua vida.''

O drama de centenas e centenas de haitianos, vítimas de devastador terremoto, que, via o Estado do Acre, buscam hospitalidade no Brasil, representa um teste de quanto humana é ou não é a nossa sociedade. Não queremos nos restringir somente aos haitinos, mas aos tantos que são expulsos de suas terras, posseiros, indígenas, quilombolas e outros, pelo avanço do agronegócio, das hidrelétricas ou desalojados como recentemente do prédio da OI no Rio de Janeiro e que tiveram que se refugiar na praça da Catedral da cidade. 

Organismos da ONU nos dão conta de que existem no mundo alguns milhões de refugiados por guerras, por problemas de fome ou climáticos e outras causas semelhantes. Quais Abraãos andam por ai buscando quem os acolha e terra para trabalhar e viver. E não encontram. E quantas naves são rejeitadas tendo que vagar pelos mares no meio de todo tipo de necessidades e desesperanças.

Basta lembrar os refugiados de África que chegam à ilha italiana de Lampeduza. Receberam a solidariedade do Papa Francisco, ocasião em que fez as mais duras críticas à nossa civilização por ser insensível e perder a capacidade de chorar sobre a desgraça de seus semelhantes. Todos estes padecem sob a falta de hospitalidade e de solidariedade.

No Brasil, nos jornais mas especialmente na mídias sociais, se deslanchou acirrada polêmica sobre como tratar os haitianos desesperados e depauperados que estão chegando ao Brasil. O Governador Tião Viana do Acre mostrou profunda sensibilidade e hospidade acolhendo-os a ponto de, com os meios parcos de um Estado pobre, não dar conta da situação. Teve que pedir socorro ao Governo Central. Mas foi de forma desavergonhada injuriado por muitos nas redes sociais e no twitter. 

Aí nos damos conta quão desumanos e sem piedade algumas pessoas podem ser. Nem respeitam a regra de ouro universal de tratar os outros como gostariam de ser tratados. Segundo o notável biólogo chileno Humberto Maturana, tais pessoas retrocedem ao estágio pre-humano dos chimpanzés que são societários mas autoritários e pouco hospitaleiros.

É neste contexto que a virtude da hospitalidade ganha especial relevância. A hospitalidade disse-o o filósofo Kant em seu último livro A Paz Perpétua (1795): é a primeira virtude de uma república mundial. É um direito e um dever de todos, pois todos somos filhos e filhas da mesma Terra. Temos o direito de circular por ela, de receber e de oferecer hospitalidade.

Um dos mais belos mitos gregos concerne à hospitalidade. Dois velhinhos muito pobres, Baucis e Filemon, deram acolhida a Júpiter e a Hermes que se travestiram de andarilhos miseráveis para testar quanta hospitalidade ainda restava sobre a Terra. Foram repelidos por todos. Mas foram calorosamente acolhidos pelos bons velhinhos que oferecem comida e a própria cama. Quando as divindades se despiram de seus trapos e mostraram a sua glória, transformaram a choupa num esplênido templo. Os bons velhinhos se prostraram em reverência. As divindades pediram que fizessem um pedido e que seria prontamente atendido. Como se tivessem combinado previamente, ambos disseram que queriam continuar no templo recebendo os peregrinos e que no final da vida, os dois, depois de tão longo amor, pudessem morrer juntos. E foram atendidos. Anos após, num mesmo momento, Filemon foi transformado num enorme carvalho e Baucis numa frondosa amoreira. Os galhos se entrelaçaram no alto e assim ficaram até os dias de hoje, como se ainda se conta. 

Disso foi tirada uma lição que passou para todas as tradições: quem acolhe um pobre, hospeda o próprio Deus.

A hospitalidade exige uma boa vontade incondicional para acolher o necessitado e o que se encontra sob grande sofrimento.

Ela exige também escutar atentamente o outro, mais com o coração do que com os ouvidos para captar a sua angústia e as suas expectativas.

Ela exige outrossim uma acolhida generosa, sem preconceitos de cor, de religião e de condição social. Evitar tudo o que o fizer sentir-se um indesejado e um estranho.

Estar aberto ao diálogo sincero para captar sua história de vida, os riscos que passou e como chegou até aqui.

Responsabilizar-se conscientemente junto com outros para que encontre um lugar onde morar e um trabalho para ganhar sua vida.

A hospitalidade é um dos critérios básicos do humanismo de uma civilização. A ocidental vem marcada lamentavelmente por preconceitos de larga tradição, por nacionalismos, pela xenofobia e pelos vários fundamentalismos. Todos estes fecham as portas aos imigrados ao invés de abri-las e, compassivos, compartilhar de sua dor.

É nesse espírto que a hospitalidade para com nossos irmãos e irmãs haitianos deve ser vivida e testemunhada. Aqui se mostra se somos, como se diz, de fato, um povo de cordialidade e de acolhida aberta a todos; o quanto temos crescido em nossa humanidade e melhorado nossa civilização ainda em formação.

Leonardo Boff, Professor, Filósofo, Teólogo e Escritor
Escreveu Hospitalidade: direito e dever de todos, Vozes, Petrópolis 2005.


Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O Ex Presidente 'ANALFABETO' e os ''ALFABETIZADOS'' Dementes!

''Lula não foi tudo o que eu desejei que fosse, mas ele foi de longe muito maior que os cinco séculos de subordinação, exploração, expropriação que esse país viveu!'' 

Interessante são esses fatos, boatos e relatos do cotidiano. Esse comportamento insano presente em todos os facínoras espectadores do telejornalismo global e os famintos leitores de veículos da 'deformação' como os tijolões impressos pelos grupos Civita / Marinhos. Há um só tempo eles formam a simbiose que alimenta o turbilhão de replicações a sedimentar o estereótipo 'Olavinhos, Olavetes, Lacerdinhas e Ghiraldellis, que juntos dão vida aos especialistas em arquivos 3M 'Muita Merda na Memória'. 

Talvez por isso não cessem de emitir essas degradantes opiniões cotidianas com pompa de intelectuais de privada. E ainda com a petulância de continuar no surto 'desespero dos derrotados' (fruto do êxito eleitoral) e insistir no uso de ridículas e desgastadas mantras como: 'Lula é o Analfabeto, Ladrão e Safado'. Mas não conseguem flexionar-se a si mesmo para se autoavaliar na vida pessoal e admitir: 

… que um certificado acadêmico não é sinônimo de emancipação cultural, medida de conhecimento e Alfabetização. Pois tem muitos bacharéis, licenciados e especialistas por ai, com sintomas claros de 'Alfabetização Funcional Nível I' e reflexos de demência epistêmica e social; 

... que 'Ladrão' também pode ser aquele que usa opinião/idéias de outrem (plágio) e não cita a fonte. Mesmo quando se trate do uso de suas cotidianas ferramentas do sensacionalismo fascista da informação. Pois com esse perfil tem muito ladrão/plagista por ai que se acha um segurado do adágio popular: ''ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão'' - Será que ético-moralmente também??? 

... que 'Safado' também é aquele que atira pedra no telhado alheio esquecendo o seu vulnerável telhado de vidro. E seguidamente ficamos sabendo ou presenciamos furando fila de Bancos, do SUS, Supermercado. Sonega impostos, direitos trabalhistas do Jardineiro, da Babá, além de não citar fonte informativa. Tudo isso também é coisa de 'Safado', com o acrescido atributo de demagogo é claro. 

Mas o que difere os replicadores de mantras depreciativos e o ex Presidente Lula? ... é que grande parte dos primeiros já perderam o respeito até dos amigos mais próximos. Enquanto o 'Ex Presidente Analfabeto' já recebeu 27 Títulos de 'Doutor Honóris Causa', todos concedido por respeitadas Universidades pelo mundo. Dentre elas, esse ícone da história do conhecimento ocidental com quase 8 séculos de existência a Universidade de Salamanca na Espanha! - Isso deveria ser o suficiente aos ''PEQUENOS/grandes'' opinadores de boca de privada, mas não será porque eles não se conformam jamais! 

Porém, preciso confessar também, que 'Lula não foi tudo o que eu desejei que fosse, mas Ele foi de longe, mas muito longe mesmo, maior que os cinco séculos de subordinação, exploração, expropriação que esse país viveu!' E embora eu um possa ser um descontente natural e necessário, somente com os projetos Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) ele foi grande demais. 

E então eu já POSSO, PRECISO e DEVO concluir que 'ANALFABETO' mesmo sou ao querer justificar os fatos já comprovados em números, resultados e devidamente reconhecidos por grandes instituições do conhecimento mundial. Enquanto isso, entre a veracidade mensurável dos fatos e a pragmática manipulação opinativa e gratuita dos levianos não descansam as perguntas. Quem afinal é analfabeto: o ex presidente reconhecido mundialmente ou os arrogantes ratinhos de laboratório manipulados para ser manipuladores? 

Neuri Adilio Alves
Filósofo, Professor/Pesquisador

quinta-feira, 24 de abril de 2014

CONFESSO: TENHO ASCO DO LEGALISMO E ME FALTA CONFIANÇA NA JUSTIÇA!

''Nós somos uma interrogação na encruzilhada curva do futuro, entre a certeza das permanentes tragédias pré-anunciadas e a impunidade dos delinquentes de poder aquisitivo.''

Enquanto o país todo comenta, debate e sente, algo dentro de mim sangra e chora também. O caso do menino Bernardo Boldrini da cidade de Três Passos/RS justifica em grande parte o meu sentimento. O legalismo não tem compromisso com a verdade, com a essência da vida porque a verdade esta na lei. Mas qual Lei? - Aquela que se personaliza na decisão do Juiz e da Promotora diante da atitude determinante do menino ao procurar solitariamente o fórum da cidade e denunciar os maus tratos que vinha sendo submetido, fisicamente pela madrasta e afetivamente pelo pai. 

A visita do menino ao fórum não foi uma visita qualquer, uma troca de cortesias, um café da tarde ou para uma cuia de chimarrão. Aquela atitude de Bernardo era um grito de socorro, … não foi um gesto de mera cidadania, foi sim um apelo de direito ao afeto minimo e ainda tentar acreditar na possibilidade do pai vir a ser o herói da sua vida real, mesmo que isso fosse apenas por um dia. Aquela visita do garoto ao fórum, foi a visita da verdade coerente e desesperadora para uma estrutura juridica incredula, fria e enrijecida pelo legalismo que preferiu não tirar a venda dos olhos e contemplar o desespero vivido por ele e todos os seus sonhos de criança comprometidos. 

Mas não, os magistrados preferiram deixar a 'Ética da eficiência legal' sobrepor-se a 'Ética de proteção a vida', daquilo que poderia 'vir a ser', do 'a posteriori' ainda desconhecido, mas arquitetado e concomitantemente trágico. E além de não tiraram a venda dos olhos ainda colocaram uma nos olhos do menino fazendo-o acreditar que o pai mudaria. Talvez por isso, o resultado final do despacho dos entes jurídicos ao apostar numa relação familiar fálida carregue este gosto amargo do erro. Um sentimento de revolta que inevitavelmente nos acomete ante a certeza do desprezo anunciado/denunciado e dos riscos a vida ignorados, e então estas conclusões inevitáveis a que passamos ter e que nos inquietam dia e noite pois: 

… Bernardo teve a vida ceifada após denunciar o próprio pai, buscando ajuda junto aos que ele julgava que o protegeriam como agentes da justiça, como se fosse um ultimo grito de socorro, um clamor por um afeto desconhecido e insano daquele que ele esperava como herói. 

… Bernardo foi assassinado duplamente: de forma covarde e brutal como Humano por aqueles que não o aceitavam no grupo social familiar e de forma irresponsável como cidadão de direitos pelo legalismo putrefato e pragmático desse país. 

… Bernardo, morreu com o ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente em seu quarto segundo relatos, algo raro de se ver para uma criança de onze anos e muito mais para nós adultos que pouco sabemos de nossos direitos e temos parca vontade de ler. - Ou você tem o ECA em seu quarto também? 

Mas ironicamente Ele foi vitimado também pela classe social a qual pertencia, porque o Estatuto da Criança e Adolescente como instrumento de defesa da vida e bem estar social da criança, parece ter efetividade e 'Ação Protetiva' imediatista somente quando é para tirar os filhos dos pobres. Ou para depositar em abrigos, destinar a adoção, ou ainda até casos suspeitos de entrega/venda para casais estrangeiros. Porém, quisera o destino que o garoto viesse nascer entre os que teriam maior poder aquisitivo e nesse ambientes o judiciário e seus tentáculo legais como os 'Conselhos Tutelares' ficam míopes – porque para esses órgãos a violência é coisa de pobre, de baixa renda. 

Talvez por isso esse sentimento negativo que verte de dentro da minha alma patriota, que o Brasil não tem vocação para ser uma nação das crianças felizes, mas sim, uma nação de futuro incerto para as mesmas, tanto na educação como para vida social no seu todo. 'Nós somos uma interrogação na encruzilhada curva do futuro, entre a certeza das permanentes tragédias pré-anunciadas e a impunidade dos delinquentes de poder aquisitivo.' Nós somos o país em que a ética do direito se resumiu num julgamento de espetáculo midiático no Supremo Tribunal Federal, e que mandou pra cadeia a parcela dos pares que não dividiram as fatias do bolo em pedaços iguais, mas que prefere manter uma criança ao infortúnio do lar para ser assassinada! 

CONFESSO: nada me choca mais do que qualquer ato de covardia cometido contra uma criança. REAFIRMO: que tenho pouca confiança na justiça! E CONCLUO: se a atitude da promotoria que julgará este crime brutal for o mesmo que tiveram os entes jurídicos que ouviram as reclamações de Bernardo na vara da Infância e Juventude e aparentemente acompanharam o caso percamos a esperança. Pois em pouco tempo poderemos ter os acusados por essa atrocidade livres pelas ruas de nossas cidades, como reabilitados para a vida social. São essas antecipadas certezas que nos preenchem de tristeza, desesperança e servem para nos reafirmar: que as ameaças mais letais nessa sociedade corrompida é a gente agir com Sinceridade, Honestidade e Inocência – Bernardo perdeu a vida pela vitalidade que tinha nas três, ... mas Ele vive, nós é que morremos diariamente ético-humano-socialmente!

Neuri Adilio Alves 
Filósofo, Professor Pesquisador

terça-feira, 8 de abril de 2014

A SEGURANÇA PÚBLICA CATARINENSE É ESPETÁCULO BURLESCO

''tem tudo pra piorar, enquanto eles fingem se preocupar com a segurança pública no estado e o povo se ilude em acreditar que eles assim fazem.''

Que BOM quando se pode investir em equipamentos de ponta para dar resposta eficiente no combate a criminalidade. Que PÉSSIMO quando fazem da segurança pública fachada eleitoreira e chanchada irresponsável com a população e a pergunta que não descansa: Para que tanta pirotecnia e ufanismo no uso de helicópteros e aeronaves para a polícia, se o estado nem possui demanda para isso? Ou até que me provem contrário o nome disso é desperdício do dinheiro público num investimentos 'ainda' desnecessário! - Mas seguem a lógica perversa da politica do ''visualismo de retorno'' ou seja, a de que avião ou helicóptero com a insignia da policia pode ser vista e reverter-se em votos. 

Agora some com essa cretinice a vergonha explicita de centenas de viaturas das policias militar e civil quebrados em oficinas e pátios de batalhões por todo Estado de Santa Catarina. Acrescente-se a vergonha ver policiais fazendo ocorrência a pé atrás de bandidos em alguns municípios porque não tem viaturas para realizar diligências. Isso quando não usam o próprio veículo para deslocamento mesmo ferindo o regimento interno da instituição.

Será que paga os custos operacionais de um equipamento como helicóptero com gastos que por baixo giram em média entre 4 à 5 mil reais a ''hora/voo'' (sim eu disse a hora/voo) em combustível, manutenção, seguro e tripulação. Um exemplo do auto custo é que se voar 50 horas num mês só as despesas com o helicóptero daria pra pagar o salário para no minimo mais 80 policiais, ou então comprar umas 4 ou 5 viaturas por mês com valor médio de 50 mil reais. 

Quer exemplo mas explicito de horas/despesas? - Basta imaginar as atividades operacionais dos últimos dias aqui na cidade de Chapecó que um helicóptero sobrevoava a cidade durante horas diariamente a luz do sol ou nas aventuras noturnas. Alguém sabe estipular os gastos com tal atividade lúdica? Alguém sabe dizer em números concretos quantos marginais foram aprendidos? - Alguém sabe dizer o custo dessa operação? Enquanto isso a Policia civil merecidamente pede mais valorização salarial, agentes prisionais fazem greve e o comandante se esforça para apresentar dados numéricos, sem contar o secretário de segurança pra inventar novas justificativas no combate da violência.

Até quando fingiremos comemorar a chanchada dos números estatísticos eleitoreiros especificados em abordagens, falsa diminuição ou celurarização da criminalidade no município. Ou vinte assassinatos em poucas semanas com média de um morto a cada 4 dias em Chapecó é normal? Aqui desde os fracassado programas 'Tolerância Máxima' cujo lema era ''Aqui Bandido não Se cria'', se fala da violência como se o mundo do crime não passasse de uma cópula sazonal durante o ano. E pior, que 2014 com a realização da operação ''força tarefa'' mais a vinda da ''Águia de Aço'' (Helicóptero) na garupa de um 'Cavalo de Troia' estará tudo resolvido. 

E agora, após esse espetáculo maldito de eficiência o governador e seus 'preconistas' da segurança pública vão esperar o mais importante dos números que é a eleição em outubro, nos deixando seguros de que:
- daqui pra frente fim de linha a criminalidade;
- daqui pra frente não haverá mais bandidos cometendo delitos nas nuvens;
- daqui pra frente seus olhos serão os olhos da 'águia de aço';
- daqui pra frente 5 mil reais em horas/voo vão sair de seu bolso cidadão, mas pro seu próprio bem;
- daqui pra frente você dormirá tranquilo sem o temor dos delinquentes, embora o barulho de helicóptero sobrevoando de forma pertinente;
- daqui pra frente todo narcisismo eleitoreiro a serviço da máquina irresponsável e inconsequente!

Repito: ''tem tudo pra piorar, enquanto eles fingem se preocupar com a segurança pública no estado e o povo se ilude em acreditar que eles assim fazem.'' Enquanto isso, eu ficarei aqui a espera de quem será a próxima 'Maria' agredida, o 'João' assassinado, o 'Pedrinho' agredido na porta da escola, o comerciante assaltado, a família sequestrada e o Soldado dando justificativas aos fatos aqui na cidade. E antes que eu esqueça, também do delinquente bacana filho da burguesia local que não se divulga nomes porque aqui tudo se faz a mesa de negociações e o grande problema parece ser a Copa do Mundo. - Que triste e degradante vergonha!

Neuri Adilio Alves
Professor, filósofo, pesquisador

sexta-feira, 28 de março de 2014

AS REDES SOCIAIS E O PRAGMATISMOS POLITICO DOS VEREADORES DA BASE DO GOVERNO FEDERAL

''Colocar o dedo na ferida com esperança de que possa aos pouco cicatrizar pode ser uma tentativa vital.''


Me considero um razoável e inquieto observador, talvez seja essa uma das razões pelas quais preciso provocar reflexão sobre fatos! Dentre eles o que há tempos tenho dito intimamente a mim mesmo talvez por vergonha contida, restrições a possíveis ofensas, embora o desejo fosse gritar para todo mundo ouvir. Mas amadurecido na reflexão, imune as respostas viscerais, a gratuidade de justificativas pleonásticas e os naturais riscos de acusação de ser proponente do fogo amigo o anseio pela coerência me faz explicitar.

Há longo tempo acompanhando os mais diversos mandatos de vereadores compartilhados em redes sociais, tanto por afinidades antigas, proximidades ideológicas como do lugar onde moro ou os que estão mais ao sul e de lá para o norte do país meu sentimento é quase o mesmo. Costumo pensar comigo: que alivio a Dilma não ter precisado decisivamente do apoio dos vereadores de sua base governista espalhados pelos municípios do Brasil. Principalmente para defender sem medo e restrições projetos e programas vitais como 'Mais Médico', 'Bolsa Família', 'Bolsa de Estudos e Cotas' entre outros. Ou então os projetos históricos escolhidos e desejados mesmo que no silêncio pela grande maioria inclusive os que hoje por razões pessoais ou de rebanho negam como a Copa do Mundo, Olimpíadas e afins. Se a Dilma precisa-se da defesa de vereadores pelas redes sociais ela estaria lascada. 

Alguns vão dizer que estou sendo leviano, sendo traíra entre tantos possíveis adjetivos a desqualificar meu análise. Não tem problema, meu propósito é puramente provocar reflexão e dizer que é fácil a gente cobrar posturas éticas e coerentes das correntes retrógradas da politica nacional quando precisaríamos nos cobrar um pouco mais para avançar também. Pois para mim entre os vereadores dos mais diferentes partidos da base governista do governo Dilma presentes em minhas redes sociais, alguns por razões afins e outros pra saber o que 'futuco aqui' preciso confessar que 95% deles não fazem a defesa dos projetos do governo federal nas suas redes sociais. 

Sim! … eu sei que muitos de vocês ou seus assessores vão me dizer que facebook, twiter, G+ entre outros não é espaço adequado pra isso e eu tenha que contradizer e afirmar que estão errados. Que as redes sociais para muito além dos blá bla blá pertinentes, tem sido uma espécie de grande Àgora do debate. Tão vital no contraponto aos ataques da mídia conservadora e seus lobos vorazes, quanto letal quando ocorre a esterilização do debate politico e defesas estratégica de projetos por aqueles que deveriam fazer e não o fazem. E arrisco ir mais longe e afirmar que o espaço das redes sociais foram uma espécie de seiva complementar importantíssima na retaguarda desse governo, principalmente nos últimos cinco anos diante dos ataques violentos e apologias ao golpe de estado. 

Por isso me desculpem os meus amigos, os alinhados ao projeto que um dia embora possam ter sido por convicções diferentes e não reveladas mas com certeza abraçamos juntos, mas minha conclusão é uma só: negar-se a esse compromisso do enfrentamento de idéias é reproduzir as características de manutenção aparelhistas incrustrado secularmente nas forças retrogradas desse país tão combatidas historicamente por nós. Tenho acompanhado vereadores da direita, centro, os 'de cima ou de baixo ' e todos aqueles descontentes por tetas perdidas descendo a lenha pelas suas redes sociais no governo federal sem palavras medidas ou escolhidas pelo medo do julgamento de seus amontoados de contatos em redes sociais como facebook. 

Se tem medo ou vergonha de entrar nesse embate é preciso saber que essa vergonha, esse medo pragmático se espalha como fato social, chaga de contradição e negação da história. Porque se o tempos são outros os comportamentos não precisam serem os mesmos de rebanho. Pois nesse placar entre a 'coragem inconsequente' da direita que julga e apedreja, e o 'medo incoerente' dos que deveriam defender o jogo é desigual e os primeiros fazem frente no placar. Mas não esqueçam que nessa iludida zona de conforto virtualizado a pior estratégia é a linguagem assertiva da conveniência enquanto a negação do real ganha força pela massa dos que se sentem encorajados a mostrar que esta tudo errado e tomam posição querendo o banco da frente da história.

Mas para além de qualquer ressentimento que fiquei minha mensagem provocativa de que na politica todo medo de enfrentar o debate de idéias é também o medo miserável e protecionista dos que agem pragmaticamente para manter espaços aparelhistas em detrimento de supostas vantagens possíveis e imensuráveis no depois. Esse é o modus operandi mais letal a qualquer ideia de moralização e avanços da verdade em qualquer lugar que se possa imaginar. Colocar o dedo na ferida com esperança de que possa aos poucos cicatrizar pode ser uma tentativa vital. Antes que vire chaga aberta e narcísica nesse grande jardim ornamental da simpatia pragmática do bom dia, boa tarde, boa noite e as estilizadas frases de auto ajuda. Parece contraditório tratar disso, mas é o que temos!


Neuri Adilio Alves
Professor Licenciado em Filosofia

terça-feira, 25 de março de 2014

ADÉLIA PRADO: Os versos desalinhados rimando alienação!

“Essa 'entrevista' existiu ou inventei.”

Explico: Assisti na TV Cultura ontem a noite entrevista da memorável poeta mineira Adélia Prado de quem sempre tive muita apreço pelos versos alinhados aos espantos do mundo. Mas confesso: por vários momentos na entrevista foi decepcionante. 

ADÉLIA DISSE: que era adepta da Teologia da Libertação mas que deixou de defender quando entendeu melhor o Documento do Concilio Vaticano II; 

MINHA OPINIÃO: - acho Adélia nunca entendeu nada do Vaticano II, nunca leu em especial documentos como Medelin, Puebla e Santo Domingo. Se leu não entendeu, se entendeu esqueceu e se esqueceu porque não era importante pra ela. E nem falo da mulher poeta, falo da graduada em filosofia. 

ADÉLIA DISSE: que fez parte dos grupos de estudos da Igreja Progressista e que foi critica ferrenha da Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) que conduziu o processo de condenação do Livro 'Igreja: Carisma e Poder' de Leonardo Boff e também sua expulsão da Igreja Católica. 

MINHA OPINIÃO: fica mais claro que a poeta nunca entendeu o poder de disputa dentro da Instituição Católica e muito menos o papel inquisidor do Cardeal e Teólogo Conservador Joseph Ratzinger. Ela não entendeu que Ele passou 30 anos velando ocupar o cargo de Papa como um urubu esperando até o ultimo momento a morte de João Paulo II para assumir. Certamente Adélia não leu o Documento ridículo "Dominus Iesus'' escrito por ele enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no incio do ano 2000 e assinado por João Paulo II como se fosse obra do papa. Onde ele usa de proselitismo e falta de humildade para dizer que a Igreja Romana é única deixada por JC á Pedro e portanto unica promotora da Salvação. 

ADÉLIA DISSE: que tem imenso amor pelo Papa Francisco, pela simplicidade, alegria e identidade com o povo simples; 

MINHA OPINIÃO: para mim mais uma demonstração de que ela nem conhecia o trabalho demolidor de Joseph Ratzinger na cúria romana (queimando homossexuais, condenado divorciados, inocentando padres pedófilos), pois o mesmo nunca gostou do Cardeal Bergoglio, o argentino que se tornou Papa Francisco pelo espírito simples carismático de sempre. Ele sim é uma espécie de paragrafo vivo do Vaticano II e dos Documentos de Puebla, Medelin e Santo Domingo que convocam o povo ao protagonismo das mudanças, justiça social a partir de sua realidade. (leia-se libertação); 

ADÉLIA DISSE: "Nós estamos vivendo um tempo muito cinzento, é uma ditadura disfarçada, por causa dos desmandos políticos"; 

MINHA OPINIÃO: parece que a nossa escritora ao longo de suas décadas de vida se refugiou no 'Alice no país das maravilhas', na 'A Cidade do Sol' de Campanella, ou em 'A Cidade Eterna' de Santo Agostinho. Ela esqueceu os 500 anos de colonização que deveriam ser 'bem mandado' mesmo e nem levou a sério a 'Sociedade Alternativa' de Raul Seixas. Ou seja, revelou nas entrelinhas que talvez a alternativa para um Brasil 'bem mandado' possa ser o conterrâneo tucaninho ex governador de minas de uma linhagem provinciana e oligárquica. 

ADÉLIA DISSE: entre linhas que tem aversões a Vladimir Putin, Dilma, governos progressista da nossa América, movimentos e organizações que buscam justiça social; 

MINHA OPINIÃO: ao desnudar-se sociologicamente o que poderia estar carregando por décadas Adélia nos ajuda entender melhor a afirmação: 

''AS VEZES NO CORAÇÃO DE UM LIBERTÁRIO PODE ESTAR REPRIMIDO O DESEJO DE SER UM GRANDE CONSERVADOR''. 

A entrevista foi marcada por duas realidades tacanhas: as perguntas simplistas, vazias e desencontradas dos entrevistadores e as respostas em sua grande maioria desprovidas de uma coerência e o encantamento dos versos de outrora. 

Me fez adaptar célebre verso da poeta: “Essa 'entrevista' existiu ou inventei.” - Pois a estrofe perfeita é decepção! 

Neuri Adilio Alves 
Filósofo, Professor e Pesquisador

quinta-feira, 20 de março de 2014

CHAPECÓ: A CPI DO ASFALTO TERMINOU EM PIZZA

"Como previsto a CPI do 'Gagá' no Legislativo terminou em Pizza.''


Como cantei a pedra e esperava aconteceu os 'inocentes' de sempre absolvidos! Some comigo o relatório final da CPI do ASFALTO: o presiDENTE tucaninho com as mascaras de sempre, o relATOR parasita adoçando a inocência do ancião e do governo, o denunciante com cara de impotente e a manada governista absolvendo-se mutuamente, blindando o governo na ilicitude covarde e incoerente de seus iguais. 

Agora multiplique tudo isso pela alegria do ancião absolvido do deslize denunciante. Em homenagem a ele vai constar no regimento interno da 'casa do povo' que daqui pra frente em todas as sessões do legislativo chapecoense terá um momento lúdico em homenagem aos eleitores palhaços. O critério da verdade será medido por anedotas e o café da tarde adoçado com o riso irônico. 

Com o relatório final da CPI fica determinado que na cidade de Chapecó em ano eleitoral não haverá mais COMPRA DE VOTO escondida pelas forças econômicas. Tudo será filmado, registrado em cartório, homologado pela 'ZONA' eleitoral e legitimado pelas instâncias da justiça como normal. Aqui tudo pode, menos condenar os corruptos, comprovar denuncias, exigir punição de culpados, investigar assassinato de vereador e dizer que o juiz eleitoral tem posição! 

Enquanto os cachorros pedem parte da pizza, os rabo preso exige liberdade, outros limpam o que sobrou da sujeira, nós somos subjulgados na impotência somos banhados na vergonha por dias, meses, anos. Pois se depender do aparato sujo montado na cidade do administrativo as instâncias da Justiça qualquer evidência concreta será visto como fofocas levianas, acusações oposicionista e prejuízo ao 'bolso seletivo'. 

Do 'BOLSA ALFAFA' a 'URNA PAVIMENTADA' e as 'DENUNCIAS DO GAGÁ' ficam as evidências de rastros da vergonha, leviandades legislativa e memória curta de quem votou! Até quando?

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador e Palestrante

sexta-feira, 7 de março de 2014

Chapecó: o farisaísmo político e o Silêncio de Deus

''Porque o silêncio de Deus se durante uma década ele circulou na cidade como chavão político!''

Quando o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche expôs ao mundo a declaração ''Deus está morto'', o mundo cristão venho a baixo com teólogos, pastores, críticos, moralistas e os opinadores de botequim o declarando insano antes mesmo de ser acometido por doença. Mal sabiam ou queriam eles acreditar que o filósofo com tamanha destreza, percepção e competência teve a coragem eloquente de desnudarmos. Ele desnudou nossas contradições, mostrou que o Ente metafísico havia sido substituído pelas nossas conveniências modernas. Havia Ele se tornado produto desdenhado do nosso jogo de necessidades supérfluas, de nosso culto as catedrais de consumo e mazelas hedonista do mundo profano, embora continuasse 'insepulcro' em locais de cultos. 

Foto montagem de Avenida Getúlio Vargas centro de Chapecó
Porque me ater a tal comentário? Porque queria chegar ao título do texto e rememorar o uso de o versículo bíblico de Romanos 8,13 muito usado como estandarte profano em Chapecó: ''Se Deus é por nós quem será contra nós'' que circulou como mantra massificada politicamente pelo menos durante uma década em nossa cidade. Há serviço de que? … de quem? … e por quê?...esse fragmento bíblico deturpadamente circulava em para brisas, para choques e latarias de veículos. 

A resposta é simples: não se tratava de evangelização, mas de politização e vulgarização da expressão bíblica. Da coisificação de Deus em detrimento de processos políticos eleitorais da direita usual. A face vergonhosa e bandida da política moderna com 'fariseus e saduceus' diferente da história bíblica, aqui governam juntos como os cobradores de 'impostos' e os 'impostores' do tempo de JC. Mas o que me chama atenção diante dos grandes problemas políticos que a cidade enfrenta é esse aparente desaparecimento usual do versículo bíblico me incitando a fazer perguntas aos proponentes e usuários do mesmo: 

Porque agora o 'Silêncio de Deus' diante da violência se supostamente como usado no versículo aqui 'Ele seria (governaria) por/pra nós'? Teria Deus se envergonhado dos 'seus escolhidos' homens públicos e abandonado o barco a deriva? Teria Deus se frustrado com os mentirosos oportunistas de altares e palanques políticos? Teria Deus se zangado com os Fariseus e Saduceus da administração que o usaram diante da ignorância do povo pra governar e DESgovernar? Estaria Deus envergonhado de vereadores, prefeito e deputados que se elegeram em-e-por Chapecó usando seu nome em vão?

Não!!! Deus não poderia se envergonhar, esquecer e fugir, não poderia ser covarde, não abandonaria o seu povo, não faria o papel dos usurpadores, oportunistas. O que vem acontecendo na cidade é que o farisaísmo não consegue mais esconder a vulgaridade do modelo esgotado e falido de administração! O que não se consegue mais é enganar massivamente o povo com o uso de expressões delegadas ao pecaminoso as ameaças chulas e até concretizadas como assédio moral de servidores, banalização de assassinatos como foi o caso do vereador ou atentados contra lideranças e cidadãos comuns. O que não se consegue mais é enganar aquela grande massa de pessoas famintas de espiritualidade, outrora enganadas dentro de igrejas que tem por prática condenar inocentes e inocentar bandidos para serem seus representantes políticos. – Razão pela qual é preciso se emancipar dessa espécie de menoridade espiritualista. 

É preciso os cidadãos emanciparem-se em consciência para discernir a trajetória estratégica de um idiota que conheci com 'sinais de dislexia' no inicio dos anos 80 fazendo pregações em uma casa simples na rua Rui Barbosa. O mesmo chamado de ''Homem de Deus'' mas que passou pelo menos os últimos 30 anos usando de pregações relés pra fazer carreira na política. E como se fosse a personificação do quinto evangelho para lá do apócrifo edificou um imenso patrimônio, ocupando atualmente a cadeira pelo quinto mandato consecutivo de deputado. A quem ele responderia essa espécie de silêncio do 'Deus' por ele propalado que estaria junto do povo como sinal de libertação? O Deus que libertaria o povo dos próprios opressores que ele costuma se assentar a mesa para a ceia do fascismo administrativo e correligionário!

A grande verdade é que se o povo chapecoense realmente deseja ter uma cidade com menos violência, mais política de acessibilidade, mobilidade urbana, transporte de qualidade, saúde, educação, lazer, infraestrutura nos bairros e interior precisa dar passos! Precisa avançar para além do ufanismo midiático, tendencioso, falso e mentiroso tão ativo na cidade. Precisa se emancipar do vulgarismo pentecostalista, evangélico e carismático, relacionando quantidade e qualidade. Sabendo discernir pela seriedade dos que anunciam a palavra sem a teologia da retribuição de palanques. Precisa se libertar do maniqueísmo ignorante que afeta como uma chaga no 'inconsciente coletivo' de boa parte da população, inocentando algoses, criminalizando, desprezando e esterilizando a possibilidade do novo. 

Quando assim passarmos a agir ouviremos mais a 'Voz' de Deus, escutaremos mais a voz de nossos iguais, discerniremos o que é uma ação política coletiva em busca de mais segurança pública (clamor do povo) e o que é pirotecnia politiqueira de empresários preocupados com seu capital. Quando assim fizermos como cidadãos livres novamente pra viver e acreditar, veremos que o novo pode mudar a história, porque ele é parte de nós como ''vinho novo em odres velhos''! E então enfim, Deus Consciência sentará a mesa da justiça político-social novamente e nos fará cidadãos de coragem para mudar, movidos pela esperança libertadora, porque para além disso só castigo, ranger de dentes e desesperanças. 

Pois ao contrário do que a maioria acredita o ufanismo moralista, o pentecostalismo apocalíptico, o evangelismo de porta de cadeia, o populismo de salvação e messiânico nunca foram sinais de vida, mas projetos de morte. Morte das motivações, da coragem de mudar e lutar por algo novo, de pensar a vida como a única oportunidade que temos pra crescer como agentes de transformação e libertação de todas as formas de opressão. E que venham os supostamente instruídos na teologia do cagaço de encontro aos meus anos de seminário com a teologia tomista e da libertação, das incessantes horas dedicadas a filosofia, antropologia, psicologia e sociologia estarei aqui armado para o debate. Vocês com o fundamentalismo messiânico e apologeta da serpente pecaminosa e eu a cortante navalha de Ockham. Confesso que tenho vergonha de rememorar certas coisas, mas acredito que o filósofo tinha razão 'até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens'.

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia e Antropologia

domingo, 2 de março de 2014

E se Joaquim Barbosa fosse candidato a presidente?

Artigo Publicado 10 junho 2013

É sintomático o fato de a figura do atual presidente do STF ser cogitado como candidato à Presidência em pesquisas de opinião. Mas o que isso significaria em termos políticos? 

Um rumor de toga

Primeiro, surgiu uma cogitação no reino da boataria. Depois, passou a perambular uma torcida pelas redes sociais. Finalmente, a ideia de uma candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República em 2014 se espalhou por alguns veículos de imprensa.

O assunto até chegou a ser ventilado fora do país. Em uma entrevista à agência Bloomberg, especializada em mercado financeiro, o já presidente do STF foi apresentado ao público estrangeiro como alguém comparável a Barack Obama. A repórter Ellis Cose começou a entrevista logo fazendo a pergunta, direta e reta, sobre a possibilidade de ele concorrer à Presidência da República. Barbosa respondeu:

"Eu nunca me vi sendo presidente do Brasil. Em primeiro lugar, não sou político. Nunca fui e penso que sou uma pessoa improvável para esse tipo de atividade por causa da minha franqueza. Nunca lidei nem tenho conexões com partidos".

Mesmo assim, alguns entusiastas, por conta própria, criaram uma página especialmente para fazer a apologia do suposto-futuro-jamais-candidato e para colocar sua campanha na rua, aliás, fora do prazo determinado pela lei eleitoral. Na página já se pode baixar o adesivo, conhecer sua biografia e acompanhar notícias na imprensa que falam da aventada candidatura.

Mas, e o partido?

Finalmente, apareceu o que faltava: um partido, ou quase. O Partido Militar, que ainda não existe, tem apenas metade das fichas de filiação necessárias para ser homologado e lançar-se às eleições de 2014. Mas não se fez de rogado e já anunciou um convite a Joaquim Barbosapara ser candidato. O convite certamente se tornou a principal peça publicitária de um partido em busca de uma razão de ser.

Pouca gente sabe, mas o Brasil já teve dois presidentes que passaram pelo STF. O primeiro foi Epitácio Pessoa, de 1918 a 1922. O segundo foi José Linhares, que assumiu o cargo interinamente, por dois meses, no lugar de Getúlio Vargas, quando deposto em 1945.

No campo das possibilidades, uma aventura presidencial de Joaquim Barbosa teria várias dificuldades. Para concorrer à presidência, é fundamental ter o apoio de um partido nacional, de preferência, médio ou grande, e de uma coligação que ofereça uma razoável cobertura nos estados. Partidos e coligações maiores proporcionam mais tempo de rádio e TV, mais comitês eleitorais e mais propaganda de rua, que contam muito até em campanha para vereador, que dirá para presidente.

Enfim, das duas, uma: ou Barbosa teria que ser “adotado” por um partido médio ou grande, desses que acabou de chamar de “partidos de mentirinha”, ou teria que inventar um partido de verdade do dia para a noite, algo difícil de escapar da pecha de oportunismo.

O problema é que os partidos grandes e médios, quase todos, já têm lá seus candidatos. Salvo algumas exceções, como, por exemplo, o DEM, ex-partido de Demóstenes Torres e José Roberto Arruda, ou o PTB de Roberto Jefferson. Qualquer que seja o partido, a vida pregressa de seus líderes e correligionários imediatamente se colaria em Barbosa. “Diga-me com quem tu andas”, perguntariam os eleitores.

E se Barbosa formasse chapa com Marina Silva?

Se optasse por um partido maior, Barbosa ficaria muito mal na foto. Se saísse por um partido pequeno, sumiria da foto. Inventar um novo partido em menos de seis meses é algo fora de questão. A única possibilidade viável, até para evitar uma concorrência na mesma raia, seria uma dobradinha Barbosa- Marina Silva, ou vice-versa. Aí teríamos uma candidatura espetaculosa, cheia de apelos midiáticos.

O primeiro grande problema é que nem Barbosa nem Marina têm cara de estarem pleiteando a vice de quem quer que seja. O segundo problema é que a Rede é, por excelência, um partido de mentirinha. É um partido que tem vergonha de usar a palavra “partido” para se definir, mas que defende com unhas e dentes o interesse de não apenas ser reconhecido como um partido, mas de ter as regalias a eles reservadas de modo a poder usar os recursos do fundo partidário e ter acesso ao horário eleitoral, que é pago com dinheiro público, antes mesmo de ter recebido um único voto.

A ideologia desse partido tem nome. Chama-se Marina Silva. Seus seguidores são os “marineiros”, um culto à personalidade pra ninguém botar defeito. É o partido da Marina, pela Marina e para a Marina.

O que faria Joaquim Barbosa em um partido dessa natureza, depois de ter reclamado dos que buscam “o poder pelo poder”?

Quem financiaria Joaquim Barbosa?

Outro aspecto a se perguntar é quem iria financiar a campanha de Barbosa. Seguindo estritamente as regras eleitorais fiscalizadas pelo TSE, qualquer um poderia fazê-lo. Pela Rede, estariam excluídas as empresas de armas, bebidas alcoólicas, cigarros e agrotóxicos, mas foram providencialmente preservados os bancos e as empreiteiras, que são os maiores doadores de campanha.

Mas, imaginemos uma campanha heroica, financiada por recursos individuais. O fato de os recursos serem individuais não diz se eles são grandes ou pequenos. Doações individuais não necessariamente são mais limpas do que as provenientes de empresas – depende da pessoa e da empresa. Uma campanha voluntariosa normalmente é eivada de informalidades. Muita coisa é feita na cara e na coragem, de modo até criativo, mas às vezes difícil de ser “contabilizado”.

Por mais quixotesco que seja o candidato, ele se torna protagonista ou coadjuvante do sistema político que se propõe a atacar. Ser candidato significa aceitar as regras do jogo, sendo conivente com as mazelas que aponta, ou conformar-se à condição de anticandidato.

Quanto tempo duraria um governo Joaquim Barbosa?

Tão ou mais importante do que imaginar se Barbosa pode ou não ser candidato, ou se teria chances de ser eleito, é considerar que tipo de governo ele faria. Qual seria seu programa? Qual seria sua agenda prioritária de desenvolvimento do país? Quem seriam seus líderes na Câmara e no Senado? E seus partidos aliados? De que maneira ele trataria os demais Poderes? Como trataria o próprio Judiciário? E os governadores de estado? E os prefeitos? E a imprensa? O que ele de fato conseguiria fazer? Quanto tempo duraria um governo Joaquim Barbosa sem que se corresse o risco de paralisia decisória?

Por que caminhos iria levar sua pregação contra os partidos, contra as maiorias congressuais e contra a dominância do Executivo sobre a agenda do país, requisitos para que um governo governe? Que tipo de regime seria esse em que um presidente deve supostamente se comportar como uma majestade que reina, mas não governa?

Que poder é esse?

O Judiciário não é um poder representativo, tampouco é um poder democrático. Seus integrantes devem ser, todos eles, pessoas democráticas, e suas decisões servem a proteger o Estado democrático de Direito. No entanto, o Judiciário é - e é feito para ser - um poder meritocrático, em que pese seus membros serem indicados, como se sabe, por regras sujeitas a injunções políticas e a interesses de toda sorte.

Mas parece que a mosca azul tem rondado a instância suprema do Judiciário país. É sintomático o fato de a figura de seu atual presidente ser cogitado como candidato à Presidência. Não que ele não possa. Pode e deve. Para tal temos partidos, eleições e debate democrático.

Seria positivo termos mais gente do Judiciário como candidata. Isso poderia contribuir para trazer outras questões relevantes à baila, de forma qualificada. Contudo, termos magistrados se comportando quase como pré-candidatos é algo que compromete o papel do Judiciário brasileiro. Mesmo em um campeonato com muitos jogadores pernas de pau e desleais, com jogos cheios de lances faltosos, ninguém imagina que a melhor solução para o problema seja o juiz começar a chutar a bola e a reclamar do nível dos times.

De 1988 a 2012, o número de ações que deram entrada no Poder Judiciário subiu de 350 mil para 26 milhões (dados do Anuário da Justiça, 2013). Fosse um Poder mais transparente e mais eficiente para lidar com o problema da impunidade, diante dessa avalanche de processos sob sua responsabilidade, já daria uma grande contribuição à República.

Antonio Lassance - Cientista político
Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

Fonte: http://antoniolassance.blogspot.com.br

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AULA NÃO PRECISA SER ''SHOW''

''A Aula não precisa ser um “show” para realizar o ensino e a aprendizagem.''

Às vezes até mesmo nós, na condição de professores, somos tomados pelo embalo do momento em que a Educação se deixa virar facilmente para cultura do espetáculo. Uma cultura que imputa e dita suas regras em virtude do sistema econômico capitalista que, entre outras coisas, transforma o educador num animador de auditório e o estudante num cliente. Infelizmente, estamos sendo quase que forçados a abraçar uma causa da Educação voltada para o “vale tudo” desde que o estudante não saia da Escola ou da Universidade.

Estamos relativizando demais os critérios da aprendizagem. E isso se deve ao fato de aceitarmos exigências profissionais vindas de um sistema falido, sem compromisso com a Educação e submetido a quaisquer negócios de ordem financeira. Daí paira sobre nós esse discurso ideológico do sistema espetacular.

Que discurso é esse? É um discurso que prima por uma Educação sem reflexão, valorizando inúmeros estímulos como produtos da tecnologia e dos meios de comunicação de massa. Possibilita a descentralização da capacidade cognitiva do estudante, como também a incapacidade de concentração em atividades que demandam tempo de análise e capacidade reflexiva. “O tempo espetacular exige que a consciência se fragmente, de modo a captar a maior quantidade de percepções possíveis” (NUNES-BITTENCOURT, Renato. Educação sem reflexão no sistema espetacular. Conhecimento Prático. Filosofia, São Paulo, ano 7, ed. 46, p. 66, dez 2013/jan 2014).

O artigo de Renato Nunes-Bittencourt vai mais além nessa questão e realça, segundo ele, “os sintomas desse mal-estar cultural”. Repare: 

“Na conjuntura educacional contemporânea, um dos sintomas mais evidentes desse mal-estar cultural reside na transformação do professor em um animador de auditório, ocorrendo assim a obrigação profissional de entreter o alunado com uma dinâmica imbecilizante, de modo a tratar sua turma como pessoas que se recusam a sair do estado de menoridade existencial” (idem).

Não podemos tratar nossos estudantes como clientes, mercadorias, cujo preço é o atendimento imediato de seus caprichos. Porém, é com respeito, apostando em suas potencialidades e faculdades para aprender que merecem ser tratados. Eles precisam sair da condição de meros espectadores das aulas e assumirem a posição de sujeitos autônomos, críticos à altura de qualquer desafio. Quem sabe até pudéssemos incitá-los ao diálogo para ultrapassarem a dimensão do espetáculo na sociedade e na sala de aula.

A respeito disso evoco aqui um episódio curioso sobre a vida de Platão mencionado nas Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres de Diógenes Laértios, onde traz o encontro dramático de Sócrates e Platão no contexto das Tragédias. 

Acostumado a frequentar o teatro e as festas dionisíacas, justamente no instante em que ia participar de um concurso de tragédias, Platão, ao ouvir aquele homem e seus argumentos de mestre, passa a segui-lo e joga seus poemas às chamas.

Veja que Platão ultrapassa sua condição de amante de espetáculos para se transformar em amante de espetáculos da verdade. No livro V da República, Platão escreve um diálogo importante entre Gláuco e Sócrates mostrando a distinção entre os que são apenas amantes de espetáculos e os que são amantes de espetáculos da verdade. Os verdadeiros estudantes, para Platão, devem ser filósofos. “Mas aquele que deseja saborear toda a ciência, que se entrega alegremente ao estudo e nele se revela insaciável, a esse chamaremos, com razão, de filósofo, não é assim?” Pergunta ironicamente Sócrates a Gláuco. 

Os efeitos do sistema espetacular na Educação já se fazem sentir quando as aulas se tornam apenas mecanismo de animação, dinamização e sensacionalismo emocional, uma vez que só existem para prender a atenção e atender ao gosto da maioria (clientela). Ora, não estamos num palco ou num circo, muito menos num programa de “reality show”. A Aula não precisa ser um “show” para realizar o ensino e a aprendizagem. Aulas são feitas de provocação (problematização), trabalho, diálogo, investigação (pesquisa), conteúdo, muita leitura e reflexão. Quem se dispõe a ir à aula, deveria ir como se fosse ao trabalho. Só que é um trabalho diferente, um trabalho intelectual. Mas se chegar a um “show” ou se estiver assistindo a um espetáculo numa aula, queira ir mais adiante, assuma o controle, ultrapasse.

Segundo Libâneo, a aula:
“[...] não se aplica somente à aula expositiva, mas a todas as formas didáticas organizadas e dirigidas direta ou indiretamente pelo professor, tendo em vista realizar o ensino e a aprendizagem. [..] ela é toda situação didática na qual se põem objetivos, conhecimentos, problemas, desafios, com fins instrutivos e formativos, que incitam as crianças e jovens a aprender” (LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 28º Ed. São Paulo: Cortez, 2008. p.178). 

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Bel. e Licenciado em Filosofia, Esp. em Metafísica, Esp. em Estudos Clássicos.

Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com.br/

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O PROFESSOR E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UM MUNDO HUMANIZADO

“(...) os professores devem se assumir como intelectuais transformadores, aqueles capazes de trabalhar com grupos que se propõem a resistir às intenções de opressão e dominação presentes na escola e na sociedade e a participar de uma luta coletiva por emancipação”

Diante da realidade que vivemos no mundo atual, é preciso encontrar caminhos para se dar um salto na qualidade da educação em todos os níveis de ensino. Quando se observa a divulgação feita pelos meios de comunicação e tantas informações obtidas por muitas pessoas, que, diretamente estão envolvidas no processo educacional, identificam-se inúmeros problemas que vêm se desencadeando nas instituições escolares. 

Como professores, devemos ter consciência da nossa responsabilidade para ajudar a minimizar a situação e, gradativamente, sair dessa crise. Sabe-se que novas mentalidades, novas posturas, iniciativas, muito empenho e decisão é que poderão construir uma sociedade diferente, humanizada e ética. E é exatamente no desenvolver da educação sistemática que poderemos promover uma “revolução” de mentes e de atitudes, na perspectiva de um mundo melhor. Afinal, a pessoa humana é o centro da educação: a vida do ser humano em sua totalidade está envolvida, inevitavelmente, na educação. 

Precisamos, pois, dar mostras de que integramos uma classe profissional que contribui, sobremaneira, para a transformação da sociedade, tornando os cidadãos mais capacitados e eticamente atuantes. Oportuno se faz a afirmação do Prof. Flávio Moreira (UFRJ), quando reflete sobre as ideias de Henry Giroux: “os professores devem se assumir como intelectuais transformadores, aqueles capazes de trabalhar com grupos que se propõem a resistir às intenções de opressão e dominação presentes na escola e na sociedade e a participar de uma luta coletiva por emancipação”, ou seja: tomar decisões a partir de uma visão progressista de educação, ter abertura para examinar os tipos de atividades que vêm sendo desenvolvidas, identificar as “mesmices”, observar os mais diversos problemas que afetam o universo escolar, batalhar por inovações, superando gradativamente as verticalidades, para, então, ousar a implementação de mudanças a nível qualitativo no âmbito socioeducacional e político. 

Assim, nas atividades pedagógico-científicas, é necessário que o professor recorra à observação criteriosa, para que, de forma analítica, promova o exame detido da situação real. Cabe a ele a função de aprendizagem do aluno, com afinco, dedicação, sistematicidade, continuidade e persistência, de tal modo que, paulatinamente, os alunos passem a ter autonomia, saibam conquistar o conhecimento, tornando-se construtores e produtores do mesmo, numa busca incessante de aprofundamento do saber, aprimorando cada vez mais o seu papel de sujeito atuante nas escolas. Quanto mais nos dedicarmos à nossa valiosa profissão, mais realizados seremos como professores e, melhores contribuições daremos às exigências socioculturais e políticas do mundo atual. 

Profª. Elza Maria Cruz Brito 
(Educadora de professores, formadora de opiniões no Maranhão) 

Fonte: 
http://boletimodiad.blogspot.com.br

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

DAS IDEIAS E DOS HOMENS

''Mitos e ideias voltaram para nós, invadiram-nos, deram-nos emoção, amor, ódio, êxtase, furor.''

Devemos estar conscientes de que desde a alvorada da humanidade, a linguagem, a cultura, as normas de pensamento agarraram o gênero humano e nunca mais o largaram. Desde essa alvorada, levantou-se a noosfera, com o desenrolar dos mitos, dos deuses, e o formidável levantamento desses seres empurrou, arrastou o Homo sapiens para delírios, massacres, crueldades, adorações, extases, sublimidades desconhecidas no mundo animal.

Desde essa alvorada, vivemos no meio das florestas dos símbolos e não podemos sair dela. Ainda no fim do nosso segundo milênio, como os 'daimons' dos gregos, e por vezes como demônio do Evangelho, os nossos demônios ideais arrastam-nos, submergem a nossa consciência, tornam-nos inconscientes. Dando-nos a ilusão de sermos hiperconscientes. 

A humanidade não sofreu de insuficiência de amor. Ela produziu excessos de amor que se precipitaram para os deuses, para os ídolos e paras as ideias, e voltaram para os humanos transmudados em intolerância e terror. 

- Tanto amor e tanta fraternidade perdidos, desperdiçados, enganados, desnaturados, apodrecidos, endurecidos!
- Tanto amor e fraternidade que alimentaram os seres de espírito enquanto seres humanos estoiravam com a sua falta.
- Tanto amor engolido nas tantas vezes implacável religião de amor e tanta fraternidade engolida nas tantas vezes impiedosa ideologia da fraternidade!

A noosfera está em nós e nós estamos na noosfera. Mais ainda, a noosfera saiu inteira das nossas almas e dos nossos espíritos. Os mitos ganharam forma, consistência, realidade, a partir de fantasmas formados pelos nossos sonhos e pelas nossas imaginações. As ideias adquiriram forma, consistência, realidade, a partir dos símbolos e dos pensamentos das nossas inteligências. 

Mitos e ideias voltaram para nós, invadiram-nos, deram-nos emoção, amor, ódio, êxtase, furor. Que vitalidade espantosa, e que faz parte de nossas vidas, a da noosfera. É efetivamente uma parte da nossa substância que ai vive. 

Fonte: Edgar Morin - (O Método IV) As Ideias: a sua natureza, vida, habitat e organização.

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador Edgar Morin 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

VOU TE ABRAÇAR

"Lá há um jardim encantado onde planto árvores para meus amigos que morrem."

Escrevi-lhe então a carta abaixo: 

“Meu querido, muito querido Ladon: Tantos anos se passaram... E perdi contato com você. Mas você esteve sempre no meu coração e eu o imaginava caminhando sozinho pelas montanhas, em busca de silêncio, de comunhão com Deus e com a natureza. Contei muitas vezes a estória da nossa estranha amizade — porque é estranho pensar que duas pessoas que nunca se encontraram pudessem ser tão amigas. E agora me contam que você está se preparando para o momento de ficar encantado...

Foi-me dito que você tomou a decisão de viver o resto da sua vida da forma mais livre e mais corajosa. A vida é preciosa e deve ser bebida até sua última gota. Quando chegar a minha vez espero ter a sua liberdade e a sua coragem. A vida é bonita e é preciso que a morte seja bonita também. É trágico que nos dias de hoje, como resultado da parafernália médica, a morte tenha se tornado feia, solitária e amedrontadora. Um dos nossos poetas chamou a morte de ‘minha mais nova namorada’... Talvez ele estivesse pensando na morte como a Pietà — a morte como uma mulher que recebe o nosso corpo no seu colo.

Tenho um lugar nas montanhas. Há riachinhos, cachoeiras, árvores, pássaros de todos os tipos, de tucanos a beija-flores, e borboletas... Lá de cima eu vejo o horizonte, ao longe... Dentro de mim mora um menino. E esse menino fez um balanço numa árvore. E quando estou balançando, tentando tocar as folhas com o dedão do pé, tenho a impressão de que estou quase voando... Lá há um jardim encantado onde planto árvores para meus amigos que morrem. Já plantei minha própria árvore, pois nunca se sabe ao certo quando a nossa hora vai chegar.

Todas as árvores são de florestas tropicais com uma exceção: um pinheiro canadense, nome científico ‘liquidambar’, com folhas como mãos abertas com dedos esticados. Por muito tempo procurei essa árvore, sem sucesso. Mas uma amiga me deu uma muda como presente de aniversário. Eu a plantei numa encosta de onde se vê o horizonte. Acho que ela está gostando do clima. Mas ainda não lhe dei nenhum nome. Será que você concordará se eu lhe der o nome de Ladon Sheats? Assim, quando alguém me perguntar pelas razões daquele nome, eu contarei a sua estória... E as pessoas saberão que há, nesse mundo, pessoas bonitas que tornam a vida digna de ser vivida...

Estou lhe enviando esse livro que escrevi para minha filha, quando ela tinha 3 anos. Era cedo de manhã. Eu ainda estava dormindo. Ela saiu do seu quarto, veio até o meu lado, me acordou e me perguntou: ‘Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?’ Eu fiquei perplexo, sem palavras. Ela não havia tido nenhuma experiência com a morte.

Como é que aqueles pensamentos apareceram na cabecinha dela? E então ela acrescentou: ‘Não chore porque eu vou abraçar você...’ Essas palavras se tornaram no centro da estória 'A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens'. Não importa que você não entenda português. Aceite esse livro como um sacramento de amor. Nós nos encontraremos algum dia, em algum lugar... Seu amigo e irmão, Rubem Alves.”

* * *
Sempre que ouço a canção 'The Lord of the Dance', seja no CD 'Simple Gifts', seja no 'Appalachian Spring', seja na menina que toca a flauta doce, eu me lembro do Ladon Sheats.

A árvore está lá na montanha em Pocinhos do Rio Verde, subindo para os céus. Mas eu fico triste porque o liquidambar ficou mudo. Não conta mais estórias...

Por Rubem Alves

Fonte: Correio Popular - 02/02 - 2014