quarta-feira, 10 de abril de 2013

A FILOSOFIA SOFRE DE 'BULLYING' METODOLÓGICO NO ENSINO MÉDIO

"Filosofia não pode ser fogo morto! … precisa ser chama que queima terna e eternamente. Tem que ser luz que clareia, força que move, visão que desvela, e caminho pro mundo."


Sempre que encontro jovens e adolescentes em período escolar, tenho por necessária curiosidade fazer duas perguntas clássicas que habitam pulsante a minha mente, incitam meu coração e gritam dentro de mim. Embora somente a resposta da primeira possa me oportunizar fazer a segunda é este pertinente exercício que me leva a pensar qual a razão de tamanha rejeição a disciplina de filosofia por grande parte dos estudantes do ensino médio no Brasil. 

Fato, há poucos dias tive a 'grata' e 'traumática' oportunidade de fazer as duas perguntas novamente! Grata porque é necessário medir o termômetro motivacional em relação a uma “disciplina escolar”, e Traumática porque a resposta quase sempre é a mesma em qualquer lugar do Brasil onde as perguntas possam ser feitas. Voltando ao encontro com os estudantes, lancei pragmaticamente a primeira: VOCÊS TEM AULA DE FILOSOFIA? Resposta em coro: "UIIIIIII TEMOS!"  

A resposta me municiou pra fazer a essencial e traumática segunda pergunta: VOCÊS GOSTAM DE FILOSOFIA? A resposta como em um depreciativo jogral foi imediatamente raivosa: "ODIAMOSSSSSSS!" 

Para amenizar o momento e continuar alimentando minha conversa me faço de vitima. Entro na história de corpo e alma compartilhando com eles desta experiência apimentando ainda mais a situação e vou dizendo: “A filosofia é chata né!” E sigo alimentando o trauma: "Eu também nunca gostei de filosofia, meu professor era chato, mal-humorado, as aulas um saco, só recortes de jornal, conceitos primitivos, folhas e folhas de caderno riscadas a caneta 'Bic' com textos sem fim. Resumos de coisas sem nexo na aula e em casa, leitura de intermináveis páginas de livros como 'Filosofando', 'Novo Olhar', 'Convite a Filosofia' um sarapatel de masturbação mental.” 

Nossa! ... me tornei mais um do grupo, fazendo-os se sentirem até mais fortalecidos. Ali naquele momento deixavam de serem vistos como os rebeldes, desgarrados, perturbadores de aula e da ordem social na escola. Mas inquietos com minha exposição de descontentamento com a disciplina ficaram curiosos e me devolveram uma desconfiada pergunta: “Como era o nome de seu professor? Porque o nosso faz exatamente isso também!” 

O que dizer a estes alunos? Que eles estão errados? Que filosofia é algo bom? - Não! Eu não poderia fazer isso, eu queria ser do grupo deles e pronto, como uma volta a etapa esquecida de minha tenra idade dos anos escolares! Porque a grande verdade é que a atitude de refutar a simples ideia de filosofia como disciplina escolar não é culpa deles. É a nossa imensa parcela de culpa que esta imersa nesta reprovação toda em relação a disciplina. Estamos espalhados pelo Brasil como centenas de milhares de cabeças pensantes, “professores/filósofos” também a banalizar esta disciplina, com pouca didática, pouco conhecimento, pouca motivação, pouca preparação e de mal com a própria opção de vida. O que cobrar dos alunos? 

Os estudantes de hoje precisam mais do que conceitos prontos, eles precisam de provocação! E provocação não se atinge pelo castigo de imprimir a incumbência do escriba a copiar páginas intermináveis de livros. Principalmente se a causa do conflito são aulas pouco produtivas, mau preparadas que levam a dispersão e consequentemente a perda do controle motivacional do aluno, instaurando conflito relacional entre eles e o professor. 

A disciplina de filosofia tem que ser propositiva, encaixando conceitos a realidade, onde o estudante possa ser provocado pra edificar a discussão conceitual e propositiva da aula. Embora não exista modelo pronto de metologia de ensino, podemos seguir orientações como do professor Perissé, do qual é preciso provocar o aluno pensar filosoficamente ao analisar realidades como violência no mundo atual superando respostas prontas como: “pena de morte!”, “mais investimentos!”, “não tem mais jeito”, “construir novos presídios”... Filosofia tem antipatia a soluções milagrosas, frases de efeito, reducionismos, e pouco exercício da razão. 

Precisamos mostrar ao estudante que o filósofo é como a “mosca” que entra na garrafa e de lá nunca mais sai, porque a garrafa é o universo do conhecimento; ... precisamos com coragem desafiadora dizer a ele, que embora filosofia “não sirva para nada” neste mundo, ninguém faz nada sem ela também. Precisamos ao modo Merleau Ponty dizer a ele que filosofia é um modo de reaprender a ver o mundo; é exercício livre, leve e solto da razão aqui e agora, diferente da ciência como 'arcabouço' de processo cumulativo. Dizer sem titubear que ciência vai pro museu, mas filosofia não, porque ela é sempre atual. 

Como se demostra tudo isso, se não pelo empenho apaixonado que deve exaurir de cada palavra de convicção emitida pelo filósofo professor. Com aulas bem preparadas metodologicamente, sem depreciação ou desleixo do comodismo dos textos prontos e conceitos desconexo. Fora disso é profundo desafio e batalha desproporcional no caminho de fomentar no aluno motivação externa enquanto classe/escola e automotivação interna como experiência pessoal. Despertar a convicção permanente como exercício da rebeldia curiosa e aguçada para acumular mais e mais sabedoria. Descrevo isso lembrando que neste momento tenho mais de 14 ex alunos em mestrados ou doutorados de grandes universidades do Brasil a, grande maioria na área da filosofia. Embora isso não me coloque na condição de personalista motivador, é o suficiente para me convencer que é possível os alunos se sentirem atraídos pela disciplina a ponto de fazer tão longo e sublime caminho universitário. 

Sei bem que por um lado, muitas vezes se pode justificar nossa desmotivação pela baixa valorização por parte dos governos, porém, por outro lado os alunos não podem ser as vítimas de meu descarrego de frustração, baixa estima e luta contra o sistema. Do contrário vira um campo de batalha onde o aparelho do estado mais ganha com as criticas dos alunos e pais contra a escola e a disciplina do professor do que contra o sistema que sucateia o ambiente escolar, sua estrutura física. Consequentemente leva a degradação do singelo e sagrado espírito humano da automotivação formativa, vocação nata, presente em seus professores. 

Enquanto este não for nosso propósito estaremos fadados a concordar com os jovens estudantes, de que Filosofia é uma matéria chata, repugnante, desnecessária e ridícula. Escrevo isso, imaginando o adágio que estudar tem que 'doer na carne', é romper com estruturas que nos aprisionam. Sim eu acredito nisso! ... estudar tem que doer na carne, mas ai vem novos questionamentos: Como podemos suportar esta espécie de exercício dolorido sem a coragem motivadora de enfrentar? Como romper as ditas estruturas que nos aprisionam sem a luz auxiliadora dos mestres que precisariam irradiar o conhecimento como lamparinas que mesmo enfraquecidas lutam até o fim para manter viva suas chamas? 

Filosofia não pode ser fogo morto! … precisa ser chama que queima terna e eternamente. Tem que ser luz que clareia, força que move, visão que desvela, e caminho pro mundo. Inevitavelmente ela pode ser interpretada como uma visita ao mundo do nada, mas que na essência mesmo que na sua forma abstrata em relação a vida e o mundo de cada individuo acrescenta tudo. Mesmo quando o aluno em sua 'miopia rebelde' insista em querer não enxergar. Filosofia é flecha que abre caminho, exercício nato e prodigioso da vida!  


Neuri Adilio Alves
Professor/Pesquisador e Palestrante

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O QUE QUER A CORÉIA DO NORTE?

"Nem sempre imagens têm mais valor do que mil palavras. No caso em questão, as imagens e o retorcimento da retórica explanada pelo governo da Coreia do Norte são parte de um grande jogo de ridicularização de um regime cujo único objetivo é a autodefesa. Também existe uma ponta de luta pela sobrevivência. Sobrevivência que significa a própria sobrevida de uma nação milenar. E para mim isso basta."

Por Elias Jabbour* , 08 de abril de 2013.


Perguntemos a qualquer letrado, ou especialista. Você sabia que enquanto a Europa se ensanguentava em guerras religiosas, a Coreia já era uma nação com todos os traços que poderiam a classificar como um Estado Nacional precoce e anterior ao nascimento de Cristo? 

Você sabia que houve uma guerra entre os lados norte e sul da península coreana entre os anos de 1950 e 1953? Você sabia que foi a primeira vez, desde a independência dos EUA (1776) que os norteamericanos assinaram um armistício, ou seja, foram derrotados pela primeira vez em quase 200 anos? Você sabia que desde 1776 os EUA nunca ficaram longe de uma guerra, fora dos seus domínios, por mais de dez anos? Você sabia que na Guerra da Coreia caiu, sobre o lado norte da península, o correspondente a dez bombas nucleares testadas em Hiroshima e Nagasaki? Você sabia que, desde 2001, estão apontadas, à capital da Coreia do Norte (Pionguiangue), cerca de 60 mísseis carregados de ogivas nucleares? 

Mais perguntas: Você tem notícia acerca da invasão de um algum país por parte da Coreia do Norte? Você sabia que o país mais bloqueado, cercado e difamado no mundo é a Coreia do Norte? Será que essa difamação tem alguma relação com a derrota dos EUA na já referida guerra? Será que querem condenar a Coreia do Norte ao retorno à Idade da Pedra? Será que a Coreia do Norte há 60 anos não é o espinho na garganta dos EUA? Diante dos fatos e da história, você acha que os EUA fariam com a Coreia do Norte o mesmo que fizeram com o Iraque, o Afeganistão e outros? A Coreia do Norte tem ou não o direito de se defender? Você tem alguma dúvida sobre o destino de Kim Jong Un: seria recebido com festa num exílio na Europa ou teria o mesmo destino, com os mesmos requintes de crueldade, reservado a Muamar Kadafi? 

Responder estas questões não é uma tarefa complicada. Um mínimo de honestidade já bastaria para saber o que está em jogo nesta guerra psicológica em curso na península coreana. De imediato sugiro qualquer julgamento moral sobre a natureza do regime nortecoreano, se é socialista ou não, se é democrático ou ditatorial, bonito ou feio, rude ou sofisticado. Tem gosto para tudo. Também não seria muito legal tomar a máxima do chanceler brasileiro (Antonio Patriota), segundo quem esperava uma “atitude mais ocidentalizada do líder nortecoreano”. 

Talvez Antonio Patriota esteja levando a sério demais o conselho de Huntington sobre um Choque de Civilizações, quando na verdade tanto Huntington quanto Patriota não passam de vítimas de um verdadeiro “choque de ignorância”. Meu parêntese continua para externar algo mais de fundo. É chocante imaginar que o chefe de nossa chancelaria nunca tenha lido Edward Said (“Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente”), nem tampouco Barrington Moore Jr. (“As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia – Senhores e Camponeses na Construção do Mundo Moderno”). De forma explicita em ambos os livros ficam claras as evidências, na Ásia, de práticas democráticas ao nível da aldeia que remontam ao menos 3.000 anos. 

O que quer de fato a Coreia do Norte, partindo de um julgamento mais pautado pela história? É evidente que o regime busca sobrevida e para isso nega a lógica da rendição incondicional tão cara a outras experiências, entre elas as da URSS, Leste Europeu e recentemente da Líbia. 

Uma nação que historicamente teve seu território sob a cobiça estrangeira, cercada de grandes potências por todos os lados, passando por uma sanguinária ocupação japonesa e que sabe do que são capazes os EUA, não pode se dar ao luxo de esperar o bonde da história passar. O bonde da história derrotou as experiências socialistas da URSS e Europa, levando quase a nocaute por asfixia o governo da Coreia do Norte na década de 1990. Os últimos 25 anos foram marcados por privações de todo tipo, levando inclusive a fome para o outro lado do rio Yalu. O bloqueio, a fome imposta de fora para dentro e as inúmeras ameaças militares e provocações (Coreia do Norte como parte do “Eixo do Mal”, segundo Bush) só fez restar ao governo nortecoreano a opção de se “armar até os dentes” diante do que ocorria em Belgrado sob as hostes das chamadas “intervenções humanitárias”. 

Poucos regimes no mundo tem uma noção da política como uma ciência que leva em conta não somente a correlação de forças, mas também o chamado tempo e espaço. Asiáticos e milenares que são os coreanos dão mostras de ter ido além de Maquiavel, aproximando-se de Lênin acrescido de alguma sabedoria confuciana e espírito de rebeldia herdado pelos ensinamentos de Laotsé. Somente gente preparada poderia manter em pé um país cercado, humilhado e ameaçado desde seu nascedouro e com um cenário recrudescido nas últimas duas décadas. 

O conceito de ditadura não serve de explicação. Mais pobre ainda é levar à sério certas conversas do tipo “governo que se mantém às custas da fome do povo e do não cumprimento dos direitos humanos”, quando na verdade a soberania nacional está acima de qualquer direito humano. Ou se acredita ser possível algum direito humano sob ameaça ou intervenção estrangeira? O único direito humano universal é o direito à vida. E o direito a vida naquela parte do planeta se confunde e se entrelaça com o direito de ser nação soberana. É simples, sem ser simplista: a Coreia do Norte não está de brincadeira, pois sabem com quem estão lidando e do que são capazes os EUA. 

Os nortecoreanos querem ter o direito de ser o que eles decidiram ser desde a explosão das primeiras revoltas camponesas contra a ocupação japonesa, ainda na década de 1910 do século passado. Ao invés de buscarmos dar lições de democracia, civilidade e de governo para uma nação milenar, seria mais interessante entender como um país exposto àquelas condições pode alcançar um nível de desenvolvimento tecnológico capaz de projetar e lançar satélites artificiais, mísseis intercontinentais e mesmo bombas nucleares, algo que nem nossos amigos do Irã e seus imensos recursos petrolíferos conseguiram até hoje. 

Acho que se decifrarmos a formação social que forjou um povo capaz de expulsar Gengis Khan de seus domínios, no auge do poderio militar do Império Mongol, chegaremos a explicações mais plausíveis e próximas da realidade. 

Elias Jabbour é doutor em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Autor de “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado” (Anita Garibaldi/ EDUEPB, 2006). 

Fonte:

sábado, 6 de abril de 2013

ENTRE O PERFEITO E O IMPERFEITO UMA CONTRADIÇÃO!

"Bem aventurados os que se usam da mentira pra serem perfeitos, porque deles será o caminho da contradição."

Ser Católico, Evangélico, Protestante, Pentecostal e afins é fácil, difícil mesmo é ser cristão todos os dias!

Há anos que observo como os indivíduos costumam 'puritanizar' (tornar puro) o seu próprio espaço pessoal/ temporal de suas relações sociais. Formando uma espécie de "Tribo do Ritualismo Puritano". E tudo que estiver fora desta bolha existencial é mera profanação, caminho do erro. 

É muito fácil edificar um mundo próprio, o difícil é sustentar a verdade que tanto se defende, porque ela também é filha das contradições. 

Ainda não vi nos supermercados a FARINHA só pra Católico, o ARROZ só pra Evangélico, o Açúcar só pra Protestante, ou o Feijão só pra Pentecostal. 

Assim como não vi esta mesma divisão de consumo primário especificado por opção sexual, Heterosexual/Homossexual/Homoafetiva. 

A única coisa que não nos cansamos de ver é o mesquinho modo como as cabeças pequenas setorizam, dividem, segregam e mutilam as relações sociais da existência!

Cada um alimentando a seu modo o "Perfeito" Dragão Cor-de-Rosa na Garagem, o mesmo Dragão que por um capricho "Imperfeito" com a realidade universal, Flutua, é Imaterial e Gelado, como afirma o cosmólogo Carl Segan! Ou seja só existe na consciência fragmentada e desconexa com a complexidade da realidade. Um perigo pra nossa época! 

E Deus disse: Façam-se o 'Puros e os Impuros' e povoem a terra, eis que a terra ficou coberta de mentirosos!!! - Enfim Deus complementou: 'Bem aventurados os que se usam da mentira pra serem perfeitos, porque deles será o caminho da contradição.'

Enfim Deus também se fez Homem e se Humanizou, Ele contrariou o reflexo frágil de nossa própria perfeição!

Neuri Adilio Alves
Professor/Pesquisador

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Leitura e Depressão

"Estar deprimido é estar comprimido por uma visão desumana de si mesmo e dos outros."

Dos problemas psíquicos que afligem o ser humano deste século a depressão é o mais freqüente. Dados disponíveis indicam que, hoje, 15% da população mundial sofre de depressão, e há suposições de que 30% de todos os habitantes do planeta têm ou terão pelo menos uma vez na vida um período depressivo. 

Afora os casos comprovadamente biológicos e até hereditários, nem todos os deprimidos o são por esses motivos. A depressão seria, para muitas pessoas saudáveis, um problema filosófico, ético e estético, um "cansaço de ser si mesmo", para usar a expressão de Alain Ehrenberg, autor da hipótese de que o fenômeno depressivo deve-se muitas vezes a frustrações existenciais mal assimiladas, frustrações estas como não conseguir comprar um carro, ter sido reprovado num exame, sentir-se inútil, perder a capacidade de fazer amigos, carregar culpas anos a fio, deixar de ver a beleza da vida etc. 

A solidão, o desamor, a desconfiança, o medo, o ressentimento são poderosos causadores de depressão, "doença" que nenhum antidepressivo pode resolver. Numa sociedade regida pelo individualismo de massa, em que todos se sentem coletivamente sozinhos, amontoados nos prédios, elevadores, ônibus, ruas e shoppings, nada mais lógico do que cair na depressão, cansar-se de si mesmo e da vida. 

Sem subestimar as razões estritamente físico-químicas que atuam sobre nossos corpos e almas, em muitos casos as nossas patologias psíquicas nascem da pura insuficiência de humanidade. Do puro desinteresse por valores humanizadores. O remédio, aqui, não é químico, é metafísico. E literário. 

Estar deprimido é estar comprimido por uma visão desumana de si mesmo e dos outros. Falta-nos reservas de liberdade e de criatividade para não apenas suportar a vida, mas recriá-la; não apenas suportar-nos a nós mesmos, mas superar-nos. 

O grande Prozac da vida (mesmo que precisemos tomá-lo, sob receita médica) é o abrir-se para a vida no que ela tem de mais estimulante. O ser humano, por mais doido que seja, é sempre um ex-cêntrico, um ser que se realiza quando foge do seu centro, do seu umbigo, e se projeta amorosa e inteligentemente para o mundo. O narcisismo poderia ajudar a entender alguns diagnósticos de supostas depressões. 

Lígia Fagundes Teles disse uma vez que se no país houvesse mais livrarias haveria menos farmácias. Esta hipérbole tem algo, ou muito, de verdade. 

Se incentivássemos mais a reflexão ética, a sensibilidade poética, a compreensão filosófica, talvez precisássemos menos de remédios.

Gabriel Perissé, Professor, Escritor e Palestrante
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Pós-doutor em Filosofia e História da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de vários livros acerca da Educação!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

FRANCISCO DE ASSIS E FRANCISCO DE ROMA


Por Leonardo Boff , 29/03/2013

"(...) Francisco de Assis é, segundo o filósofo Max Scheler, o protótipo ociental da razão cordial e emocional. É ela que nos faz sensíveis à paixão dos sofredores e aos gritos da Terra."

Desde que assumiu o nome de Francisco, o bispo de Roma eleito e, por isso, Papa, faz-se inevitável a comparação entre os dois Franciscos, o de Assis e o de Roma. Ademais, o Francisco de Roma explicitamente se remeteu ao Francisco de Assis. Evidentemente não se trata de mimetismo, mas de constatar pontos de inspiração que nos indicarão o estilo que o Francisco de Roma quer conferir à direção da Igreja universal.

Há um ponto inegável comum: a crise da instituição eclesiástica. O jovem Francisco diz ter ouvido uma voz vinda do Crucifixo de São Damião que lhe dizia:”Francisco repara a minha Igreja porque está em ruinas”. Giotto o representou bem, mostrando Francisco suportando nos ombros o pesado edifício da Igreja.

Nós vivemos também grave crise por causa dos escândalos, internos à própria instituição eclesiástica. Ouviu-se o clamor universal (“a voz do povo é a voz de Deus”): “reparem a Igreja que se encontra em ruinas em sua moralidade e em sua credibilidade”. Foi então que se confiou a um cardeal da periferia do mundo, Bergoglio, de Buenos Aires, a missão de, como Papa, restaurar a Igreja à luz de Francisco de Assis.

No tempo de São Francisco de Assis triunfava o Papa Inoccêncio III (1198-1216) que se apresentava como “representante de Cristo”. Com ele se alcançou o supremo grau de secularização da instituição eclesiástica com interesses explícitos de “dominium mundi”, da dominação do mundo. Efetivamente, por um momento, praticamente, toda a Europa até a Rússia estava submetida ao Papa. Vivia-se na maior pompa e glória. Em 1210, sob muitas dúvidas, Inocêncio III reconheceu o caminho de pobreza de Francisco de Assis. A crise era teológica: uma Igreja-Império temporal e sacral contradizia tudo o que Jesus queria.

Francisco viveu a antítese do projeto imperial de Igreja. Ao evangelho do poder, apresentou o poder do evangelho: no despojamento total, na pobreza radical e na extrema simplicidade. Não se situou no quadro clerical nem monacal, mas como leigo se orientou pelo evangelho vivido ao pé da letra nas periferias das cidades, onde estão os pobres e hansenianos e no meio da natureza, vivendo uma irmandade cósmica com todos os seres. Da periferia falou para o centro, pedindo conversão. Sem fazer uma crítica explícita, iniciou uma grande reforma a partir de baixo mas sem romper com Roma. Encontramo-nos face a um gênio cristão de sedutora humanidade e de fascinante ternura e cuidado pondo a descoberto o melhor de nossa humanidade.

Estimo que esta estratégia deve ter impressionado a Francisco de Roma. Há que reformar a Cúria e os hábitos clericais e palacianos de todas a Igreja. Mas não se precisa criar uma ruptura que dilacerará o corpo da cristandade.

Outro ponto que seguramente terá inspirado a Francisco de Roma: a centralidade que Francisco de Assis conferiu aos pobres. Não organizou nenhuma obra para os pobres, mas viveu com os pobres e como os pobres. O Francisco de Roma, desde que o conhecemos, vive repetindo: o problema dos pobres não se resolve sem a participação dos pobres, não pela filantropia mas pela justiça social. Esta diminui as desigualdades que castigam a América Latina e, em geral, o mundo inteiro.

O terceiro ponto de inspiração é de grande atualidade: como nos relacionar com a Mãe Terra e com os bens e serviços escassos? Na fala inaugural de sua entronização, Francisco de Roma usou mais de 8 vezes a palavra cuidado. É a ética do cuidado, como eu mesmo tenho insistido fortemente em vários escritos a que vai salvar a vida humana e garantir a vitalidade dos ecossistemas. Francisco de Assis, patrono da ecologia, será o paradigma de uma relação respeitosa e fraterna para com todos os seres, não em cima mas ao pé da natureza.

Francisco de Assis entreteve com Clara uma relação de grande amizade e de verdadeiro amor. Exaltou a mulher e as virtudes considerando-as “damas”. Oxalá inspire a Francisco de Roma uma relação para com as mulheres, a maioria da Igreja, não só de respeito, mas de valorização de seu protagonismo, na tomada de decisões sobre os caminhos da fé e da espiritualidade no novo milênio. É uma questão de justiça.

Por fim, Francisco de Assis é, segundo o filósofo Max Scheler, o protótipo ociental da razão cordial e emocional. É ela que nos faz sensíveis à paixão dos sofredores e aos gritos da Terra. Francisco de Roma, à diferença de Bento XVI, expressão da razão intelectual, é um claro exemplo da inteligência cordial que ama o povo, abraça as pessoas, beija as crianças e olha amorosamente para as multidões. Se a razão moderna não se amalgamar à sensibilidade do coração, dificilmente seremos levados a cuidar da Casa Comum, dos filhos e filhas deserdados e alimentar a convicção bem franciscana de que abraçando afetuosamente o mundo, estaremos abraçando a Deus.

Leonardo Boff é Filósofo, Teólogo, Conferencista/Palestrante e autor de mais de 60 livro s entre eles a Obra: Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 1999.


Fonte do texto:

quinta-feira, 28 de março de 2013

TROTE PARA CALOUROS UNIVERSITÁRIOS É PERVERSÃO

"(...) toda forma de Trote a Calouros é uma manifestação primeva de barbarismo e Perversão, e todo proponente é por conseguinte um PERVERSO também." 

Independente do modo como é aplicado este atentado a dignidade humana nominalizado de 'TROTE DE CALOURO' é uma perversão violenta de 'mentes doentes' e má intencionadas. Independente do modo como ele possa ser aplicado, tanto no mascarado estilo 'Solidário da Benevolência Forçada'; assim bem como, pela mais vil da 'Exposição Humilhante' do calouro nos mais diferentes meios de ridicularizar sua presença na universidade é perversão das bárbaras sim! 

Nada justifica a atitude dos que se dizem veteranos em coisificar seus pares que iniciam por merecimento e capacidade sua etapa na formação superior! Toda universidade que se preza deve combater severamente qualquer uma destas formas de agressão a quem quer que seja o individuo. 

Estudante não tem que ser castigado, mas sim reverenciado pela atitude de coragem de seguir em frente, pela ternura de seus sonhos, pela entrega necessária para subir acima das adversidades de nosso tempo e cumprir as fundamentais etapas da formação Humana, Profissional, Cultural e de Emancipação Social de uma nação! 

Vou citar aqui apenas um exemplo de como é perigoso tentar 'coisificar' o jovem desconhecido que vai iniciar a vida acadêmica tentando lhes expor a humilhação pública. É o caso de um jovem cidadão que conheci em Curitiba no ano de 1998 aprovado em um curso concorrido do vestibular com média de 37 alunos por vaga. Este calouro de origem humilde durante as primeiras semanas de aula, diante das promessas e ameaças do "Trote" dos veteranos nesta grande universidade da capital paranaense frequentou as aulas 'armado' (preparado pra matar). Só não fez bobagem porque consegui convencer os sedentos veteranos 'idiotas' organizadores do trote que preparavam a ação kamikaze. 

É necessário ressaltar que um cidadão armado nunca estará bem intencionado com uma atitude desta, com certeza. De modo que também os prepotentes veteranos com suas mentes doentias também não estavam, ao fazerem os calouros tomar banho em uma 'piscina de barro' na Praça Carlos Gomes no centro de Curitiba. Se não bastasse isso, após o ritual de passagem no barro seguia-se para semáforo pedir dinheiro entre os carros enquanto os perversos se deleitavam diante de tamanha humilhação! 

Se universidade não é o lugar onde podemos revolucionar avanços culturais, o ambiente onde podemos ir lapidando nosso modo de ver, julgar e amadurecer. O espaço que nos propicia contribuir com as necessárias mudanças que tange a nossa própria existência enquanto ser social e o mundo a nossa volta, com certeza ela se desviou do seu propósito primeiro. 

É inadmissível que um estudante que conhece o regimento interno de uma universidade, os limites de seus direitos, a clareza seus deveres e assim mesmo de forma desafiadora viole o contrato social de bem estar a serviço de seus egocêntricos interesses ou de um seleto grupo. Estudante que age assim deve ser punido severamente, pois a delinquência na vida social é fruto destas atitudes de rompimento com as normas sejam elas de ordem restritiva a universidade ou de toda coletividade. 

Neste inicio de ano muitos veteranos ainda estão sob a ressaca de suas orgias de perversões punitivas para como os seus novos colegas, assim bem como, muitos calouros devem estar chagados pelo sentimento da humilhação, mesmo quando não reveladas publicamente mas no intimo a ferida sangra. E enquanto se fecham estas fissuras abertas que dividem a alegria da conquista de ter chegado ali e o impacto humilhante da recepção em descompasso com o propósito deve se abrir sim o leque da discussão permanente se necessário sobre estas atitudes marginais a vida acadêmica. 

E a nós os telespectadores quase inertes desses rituais de passagens, requintados na sua grande maioria de barbarismo, só nos resta ficar esperançoso de que o 'Homo Sapiens/Sapiens' que nos caracteriza e nos diferencia de todas as demais espécies possa dentro do ambiente universitário justificar nas atitudes e ações este diferencial qualitativo. 

Mas que sejam atitudes maduras dicotomizadas do desnecessário agir do Homo Passio/Pathos, retirado em seu egocentrismo narcísico, sádico, animalesco. Trote Solidário, Trote Cidadão, Trote Benevolente, não passam de figuras de linguagem e piada social. Trote é crime e tem que se denunciado! Porque ainda prefiro reafirma que toda forma de Trote a Calouros é uma manifestação primeva de barbarismo e Perversão, e todo proponente é por conseguinte um PERVERSO também. De modo que toda mente 'Perversa' é a um só tempo uma ameça a integridade física, a dignidade humana e a vida social. 

Professor 
Neuri Adilio Alves

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Por Daniel Duarte


"(...) a importância da filosofia na educação básica vai muito além da mera instrumentalização do pensar, do refletir ou do criticar."

A filosofia como um conhecimento histórico de mais de dois mil anos, por si só já tem importância pela bagagem cultural e epistemológica que desenvolveu ao longo deste período.
É inegável a contribuição de filósofos como Aristóteles, Platão, Descartes, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Gramsci, e outros que com suas reflexões e suas teses ajudaram e ajudam a sociedade ocidental a seguir seu desenvolvimento. 

No que se refere ao ensino de filosofia na educação básica, esta disciplina tem diversas possibilidades de contribuir para um melhor desenvolvimento da mesma. Muitas são as atribuições dadas ao ensino de filosofia e a sua importância na educação básica, alguns defendem que a filosofia é importante, pois ensina a pensar, ajuda a desenvolver o senso critico, ajuda na reflexão e que é importante para o exercício da cidadania, etc... 

Menciono aqui apenas os pontos considerados positivos, mas, certamente existem raciocínios contrários que divergem da importância da filosofia na educação básica.
Estes pontos positivos por vezes podem gerar nos professores de filosofia certa sensação de superioridade da filosofia sobre outras disciplinas, ou então causar certa desconfiança sobre as reais possibilidades de a filosofia dar conta de tamanha responsabilidade. 

Embora concorde em parte com estas afirmações, vou fazer algumas considerações que julgo pertinentes. 

Se “todos são filósofos” como se refere Gramsci, penso que a primeira hipótese que a filosofia ensina a pensar não se confirma, justamente porque acredito que ninguém ensina ninguém a pensar, e se isto fosse possível não seria privilegio apenas da filosofia, pois qualquer disciplina se bem ministrada, com professores qualificados e que saibam contextualizar o objeto de estudo com a cotidianidade, poderia “ensinar a pensar”. Portanto, todas as disciplinas tem esta capacidade. 

Ajudar a desenvolver o senso crítico e a reflexão e incentivar o exercício da cidadania, deveria ser tarefa de todas as disciplinas da educação básica, porém, talvez por incapacidade ou por acomodação na maioria das vezes este árduo trabalho fica como exclusividade das ciências humanas, sobretudo da filosofia e da sociologia. 

Afinal qual a importância da filosofia na educação básica? Penso que a filosofia junto com outras disciplinas, através de um trabalho interdisciplinar pode sim dar conta destas atribuições a ela referida, porém, penso que a importância maior da filosofia esteja na fundamentação teórica de tais conceitos. O que é o pensar? Qual a diferença do simples pensar para o pensamento filosófico? O que é a reflexão ou atitude reflexiva? O que é cidadania?

A filosofia tem importância quando se preocupa em fundamentar as proposições, ou seja, através de uma investigação seria e também de um método rigoroso de busca do conhecimento, busca explicitar o porquê do por que. Se não realizar tal tarefa a filosofia corre o risco de tornar a critica pela critica, o simples pensar por pensar, o refletir por refletir. 

De nada adianta exigir dos adolescentes determinados comportamentos, determinadas atitudes em relação à ética, politica, cidadania, se não leva-los a conhecer a fundo os conceitos e as proposições de tais temas. 

Ao fazer este movimento de busca radical dos princípios, a filosofia se diferencia das demais disciplinas, pois se for bem trabalhada com professores habilitados ela pode ser capaz de ultrapassar o questionamento superficial e vir a se tornar um conhecimento útil. 

Portanto, a importância da filosofia na educação básica vai muito além da mera instrumentalização do pensar, do refletir ou do criticar. A filosofia deve desvelar a gênese dos conceitos para que estes possam ser compreendidos na sua totalidade, e ao serem compreendidos possam ajudar na formação integral dos estudantes da educação básica. 

Daniel Duarte 
Professor de Filosofia e Sociologia. 

Fonte: 
http://boletimodiad.blogspot.com.br/2013/03/a-importancia-da-filosofia-na-educacao.html