sábado, 16 de outubro de 2010


      Serra causa tumulto em igreja e é desmascarado por padre       


Terminou em tumulto uma missa neste sábado (16) na Basílica de São Francisco das Chagas, no município de Canindé (CE), que fez parte da agenda de compromissos da campanha eleitoral do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra.


No final da celebração, o padre disse que eram mentirosos os panfletos que circulavam na igreja afirmando que a candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, Dilma Rousseff, era a favor do aborto e tinha envolvimento com a organização insurgente colombiana Farc.

O padre disse que aquelas mensagens estavam sendo atribuídas à igreja, mas que ela não autorizava esse tipo de publicação em seu nome.

O senador em fim de mandato Tasso Jereissati (PSDB-CE), fragorosamente derrotado nas eleições de 3 de outubro, se exaltou e afirmou que era um “padre petista” como aquele que estava “causando problemas à igreja”. 

Foi mais um acesso de raiva e coronelismo do tucano rejeitado nas urnas pelo povo cearense.

Alguns partidários do tucano também se exaltaram e o padre saiu escoltado por seguranças. 

O panfleto não assinado que circulou na igreja falava em três “grandes motivos para não votar em Dilma”. O texto acusa a candidata de “ter se envolvido com as Farc”, de ser “favorável ao aborto” e de envolvimento em “casos de corrupção” na Casa Civil.

Durante a missa, a chegada de Serra e seus apoiadores causou tumulto. O padre pediu que Serra e seus seguidores não atrapalhassem o objetivo principal da cerimônia religiosa.

Fonte: Com agências

             Dilma e Lula em SP: "O amor vai derrotar o ódio"               


O presidente Lula fez na noite desta sexta-feira (15) um contundente discurso em repúdio aos ataques promovidos pelo PSDB de José Serra contra a candidatura de Dilma Rousseff. No comício em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, Lula chamou de "vergonhosa" a campanha de José Serra. Segundo o presidente, os adversários repetem o preconceito usado nas outras eleições para tentar “abusar da boa fé do povo”



“É uma vergonha o que eles estão fazendo na campanha. Mentindo e difamando. Que nós precisamos dizer a eles é que nós já conhecemos essa história. Não é a primeira vez que somos candidatos. Não é a primeira vez que nós vemos o preconceito contra a mulher. Isso é histórico e crônico aqui em São Paulo”, disse Lula.

Dilma, por sua vez, afirmou que o medo e o ódio propagados nestas eleições serão derrotados com amor. Em 2002, na primeira eleição do presidente Lula, a esperança venceu o medo. Agora é a vez do amor derrotar o ódio. "Eles querem usar o ódio, que é um sentimento irmão do medo. Casaram o ódio com o medo e querem que a gente não enxergue o que está em questão. Vamos derrotá-los com amor e esperança pelo Brasil", disse, diante de um público de milhares de pessoas.

“A opção entre um país da esperança e do amor, e o país do ódio e do medo é o que está em questão no dia 31 de outubro. Por isso, quero dizer que, com a força de vocês, se Deus quiser, eu serei a primeira presidenta da República”, completou Dilma, pedindo o voto dos eleitores da Zona Leste.

O presidente Lula e sua candidata alertaram para as promessas feitas apenas em época de eleição, lembrando que seu governo, em oito anos, fez mais pelos pobres que a elite em todos os períodos em que governou o Brasil.

“Eleição é época de promessas fartas. Estão prometendo até aumentar o salário mínimo. Mas governaram esse país a vida inteira e não aumentaram. Estão falando em dar até décimo terceiro para o Bolsa Família. Eu e Dilma, que passamos oito anos para fazer o Brasil subir ladeira acima, não podemos permitir que o Brasil desça serra abaixo”, advertiu Lula. 

Pré-sal

Lula citou ainda os pedágios cobrados nas estradas paulistas, que chamou de “assalto ao bolso do povo de São Paulo”. Dilma chamou atenção para a possibilidade de privatização do petróleo do pré-sal por seu adversário.

“Nós apostamos nos trabalhadores da Petrobras e descobrimos o pré-sal, aquela riqueza que está lá no fundo do mar. Aí vem o principal assessor do meu adversário e diz que o governo Lula está errado, que nós temos de privatizar o pré-sal. Querem privatizar o pré-sal para entregar para as empresas internacionais e levarem essa riqueza para o exterior. Isso nós não vamos deixar”, disse a candidata.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

   Garcia diz por que tema das privatizações incomodam Serra            


No primeiro debate televisivo do segundo turno desta campanha eleitoral, José Serra mostrou-se incomodado quando o tema das privatizações foi colocado por Dilma Rousseff. Serra quis dar ao debate da questão um significado eleitoreiro, talvez pensando que seja mais um "trololó" da esquerda, como gosta tanto de dizer.



Por Marco Aurélio Garcia*, na Folha de S.Paulo



Não é assim. Quando a sociedade brasileira é convocada para decidir os destinos do país nos próximos anos, nada mais natural que o papel do Estado em nosso projeto nacional de desenvolvimento seja devidamente debatido.

A questão das privatizações emergiu no governo Collor de Mello, dormitou no interregno Itamar Franco e ganhou força durante o período FHC.

Correspondeu a período marcado não só pela "débâcle" dos regimes comunistas europeus e pela deriva social-democrata como pelo aparente êxito da proposta neoliberal que vicejava na Inglaterra de Thatcher e no Chile de Pinochet.

As teses sobre a diminuição do papel do Estado -quando não da necessidade do Estado mínimo- que acabaram por bater, ainda que tardiamente, nas costas brasileiras refletiam um otimismo desenfreado sobre o papel dos mercados na regulação econômica e financeira. Elas espelhavam também o grande fascínio exercido pela "globalização" produtiva, mas sobretudo financeira, em curso.

Ao considerar, de certa forma, irrelevantes a produção e os mercados nacionais, elas acabavam por minimizar o papel desempenhado pelos Estados nacionais.

Os governantes teriam de ser apenas gerentes de políticas mundialmente acordadas pelos grandes centros econômicos. Ficariam relegados a replicar orientações macroeconômicas de fora, que viabilizassem novo desenho geoeconômico e, evidentemente, geopolítico.

FHC não hesitou em proclamar o advento de um "novo Renascimento" mundial, ainda que fosse obrigado a reconhecer que alguns milhões de brasileiros iriam ficar obrigatoriamente fora deste suposto ciclo de prosperidade.

Complementando o ajuste que aqui e lá fora foi praticado, trataram de liberar o Estado de pesados fardos -as estatais-, que supostamente o impediam de cumprir suas funções. Ficava a dúvida sobre quais seriam essas "funções".

Não por acaso usou-se na propaganda a favor das privatizações a imagem de um elefante em um local fechado. As estatais não passavam de um trambolho que impedia o desenvolvimento do país.
No altar dessas crenças foram sacrificadas importantes empresas nacionais. Os cerca de US$ 100 bilhões conseguidos no processo de privatização comandado pelo ministro José Serra se esfumaram.

O país aumentou consideravelmente sua dívida interna e se tornou muito mais vulnerável internacionalmente, como ficou claro quando as crises mexicana, asiática e russa levaram o Brasil sucessivamente à beira do abismo.

Perversidade maior desse processo foi o uso de vultuosos recursos do BNDES para financiar as empresas estrangeiras que entraram nas privatizações. Resumindo a originalidade brasileira: privatizou-se com dinheiro do Estado brasileiro.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em 2008, no início da grande crise econômica mundial, o presidente Lula afirmou ter chegado a "hora da política", a hora do Estado. Os meses que se seguiram deram a essa fala toda a sua significação.

Por ter barrado as privatizações, fortalecido as estatais e dado a elas um papel estratégico no desenvolvimento nacional, o Brasil pôde enfrentar, como poucos países, a tempestade financeira que se abateu sobre o mundo.

Os bancos públicos, a Petrobras e as estatais do setor elétrico foram fundamentais nesse processo.
Portanto, não estamos diante de um debate que opõe dinossauros a modernos. O que está em jogo é o interesse nacional.

*Marco Aurélio Garcia é assessor especial de política externa da Presidência da República e coordenador do programa de governo de Dilma Rousseff (PT). Foi secretário de Cultura do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy).



         Marilena Chaui: Serra é uma ameaça à democracia            



Em entrevista gravada anteontem, em São Paulo, a filósofa Marilena Chaui fala sobre as eleições deste ano e explica por que o projeto dos tucanos é um retrocesso. Segundo ela, o candidato José Serra representa uma ameaça às conquistas sociais e econômicas alcançadas pelo governo Lula. Marilena avalia que os ambientalistas devem estar atentos no segundo turno porque Serra teve votação maior em regiões de desmatamento e do agronegócio.



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Religiosos divulgam no Rio de Janeiro 

manifesto em apoio a Dilma

 

Encabeçado por sete bispos, entre eles dom Thomas Balduíno, bispo emérito de Goiás Velho (GO) e presidente honorário da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e d. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Felix do Araguaia (MT), foi divulgado hoje um manifesto de "cristãos e cristãs evangélicos e católicos em favor da vida e da vida em abundância", que contava no início da tarde com mais de 300 adesões de religiosos e fiéis. 

 

O texto será entregue a Dilma Rousseff (PT) na segunda-feira, no Rio, na mesma cerimônia em que a candidata à Presidência receberá apoio de intelectuais e artistas.

Os adeptos rechaçam que "se use da fé para condenar alguma candidatura" e dizem que fazem a declaração de voto "como cristãos, ligando nossa fé à vida concreta, a partir de uma análise social e política da realidade e não apenas por motivos religiosos ou doutrinais".

No manifesto, eles deixam claro que "para o projeto de um Brasil justo e igualitário, a eleição de Dilma para presidente da República representará um passo maior do que a eventualidade de uma vitória do Serra (José Serra, presidenciável pelo PSDB)".

O documento recebeu o apoio dos bispos Demétrio Valentini (Jales, SP); Luiz Eccel (Caçador, SC); Antônio Possamai, bispo emérito de Rondônia; Xavier Gilles e Sebastião Lima Duarte, bispo emérito e bispo diocesano de Viana (MA). Também apoiam Dilma dezenas de padres e religiosos católicos como Frei Betto, pastores evangélicos, o monge da Comunidade Zen Budista (SP) Joshin, o teólogo Leonardo Boff, o antropólogo Otávio Velho e a professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Victoria Benevides.

Dívida social

O manifesto faz referência velada a casos de pedofilia nas igrejas para afastar a exigência de candidatos comprometidos com religiões. Os signatários do manifesto ressaltam: "Sabemos de pessoas que se dizem religiosas e que cometem atrocidades contra crianças e, por isso, ter um candidato religioso não é necessariamente parâmetro para se ter um governante justo. Não nos interessa se tal candidato(a) é religioso ou não."

O documento também dialoga com eleitores de Marina Silva, do PV, lembrando que um país com sustentabilidade e desenvolvimento humano, como propôs Marina, "só pode ser construído resgatando já a enorme dívida social com o seu povo mais empobrecido". Para eles, Dilma representa este projeto "iniciado nos oito anos de mandato do presidente Lula".

Diálogo


Embora admitam terem "críticas a alguns aspectos e políticas do governo atual que Dilma promete continuar", os signatários destacam saber a diferença entre "ter no governo uma pessoa que respeite os movimentos populares e dialogue com os segmentos mais pobres da sociedade, ou ter alguém que, diante de uma manifestação popular, mande a polícia reprimir".

"Neste sentido, tanto no governo federal, como nos Estados, as gestões tucanas têm se caracterizado sempre pela arrogância do seu apego às políticas neoliberais e pela insensibilidade para com as grandes questões sociais do povo mais empobrecido", afirma o texto.

Fonte: Agência Estado

Luis Nassif: A psicologia de massa do fascismo à brasileira

 

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro. O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial.

por Luis Nassif, em seu blog

 

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Coligação de Serra quer censurar TV Record

 

A vice-procuradora-geral Eleitoral, Sandra Cureau, enviou nesta quinta-feira (14) parecer favorável à aplicação de multa à TV Record por ter veiculaod reportagem supostamente favorável à candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, Dilma Rousseff.

A reportagem mostrava as regiões da cidade de São Paulo onde Dilma e Serra saíram vitoriosos.
O parecer da vice-procuradora-geral Eleitoral atende pedido feito pela coligação do candidato do PSDB José Serra, que alegou que a emissora fez propaganda a favor de Dilma Rousseff, ao mostrar que esta venceu nos bairros mais pobres.

Em declarações à Folha de S.Paulo, a direção da TV Record afirma que o pedido de multa “parece uma tentativa de censura e cerceamento da liberdade de imprensa”.

O caso será analisado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Se condenada a emissora poderá ser obrigada a pagar multa que varia de R$20 mil a R$100 mil.

Com informações da Folha de S.Paulo

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

A elite vive um surto de demofobia

Odair Rodrigues *
 

Sabemos que existe em S. Paulo uma corrente separatista que prefere a ocupação extrangeira à evolução do Brasil (…). Oswald de Andrade e Pagu – O Homem do Povo, n° 1, março 1931

 

As empresas de versões de notícias do eixo Rio-SP e seus repetidores, atualmente conhecidos como PIG, atuam como se vivêssemos em uma ditadura ou na Inquisição.

As manchetes dos veículos de comunicação pertencentes às famí(g)lias frias, marinho, civita e mesquita ora se assemelham aos textos contidos nos temidos Atos Institucionais da ditadura militar, ora parecem com os processos liderados por Torquemada, o mais temido inquisidor do Santo Ofício.
Ainda que o candidato José Serra, pautado pela imprensa golpista, venha assumindo um caráter de grande inquisidor e perseguidor de demônios, não é isso que está em jogo; é a democracia que está ameaçada.
Há vários indícios de que uma possível vitória da coligação demotucana significaria o fim da liberdade de expressão, a perseguição de jornalistas, intelectuais, blogueiros, artistas e de lideranças do movimento popular.

Engana-nos o mal com aparências de bem – Pe. António Vieira

A demissão da articulista Maria Rita Kehl pelo Estadão, por criticar o preconceito da elite contra as classes D e E; a demissão do jornalista Heródoto Barbeiro pela tv Cultura, depois de questionar Serra sobre os pedágios; a censura do blog Falha de São Paulo pelo jornal Folha de São Paulo; a indisfarçada parcialidade do jornalismo da Globo; a censura das pesquisas eleitorais e do Blog do Esmael, pelo governador eleito no Paraná, o tucano Beto Richa são alguns dos vários os exemplos de atentados contra a liberdade de expressão e de opinião. Ao mesmo tempo, atribuem ao governo Lula o que eles praticam.

Demofobia

Um surto de demofobia, medo da democracia, é o momento pela qual passa a elite do país. Uma elite que prefere se ajoelhar ao poderio estrangeiro a ter que dividir o poder político e as riquezas com o povo brasileiro.

A comparação entre os 8 anos de privataria de FHC/Serra/neoliberais e os 8 anos de soberania nacional de Lula/Dilma/povo é que devem pautar o segundo turno. Seguir a agenda teocrática proposta pelo neo-inquisidor Serra e os fundamentalistas do golpismo da Folha, Estadão, Veja, Globo é entrar em uma guerra cuja a primeira vítima será o debate político e depois o desenvolvimento soberano do Brasil.
Para que Serra fique bem longe da possibilidade de ser presidente há necessidade de confrontá-lo com suas promessas não cumpridas quando prefeito e governador. A responsabilidade sobre as enchentes, o sucateamento do metrô, a privatização da saúde paulista, a possibilidade de diminuição de vagas na USP, a precariedade da educação, a desorganização da segurança e, principalmente, sua falta de diálogo com a sociedade.

Duas cenas não podem ser esquecidas para nos lembrar da política destrutiva dos tucanos: a ocupação das refinarias por tanques do exército e a venda (doação) da Vale do Rio Doce.

Repressão e privataria, são esses os legados de FHC/Serra. É nas ruas, nas escolas, universidades, fábricas que precisamos divulgá-lo para lançar luzes à ao obscurantismo propagado pelo jornalismo canalha e pela direita fundamentalista representado pelos demotucanos.

A internet é um poderoso instrumento nesse momento, o contato pessoal ainda é a melhor maneira de convencimento.
http://www.youtube.com/watch?v=kgTgdd41N4w
http://www.youtube.com/watch?v=lKBjqVrPqnE
http://www.youtube.com/watch?v=yZaWuuGpVhA
http://www.youtube.com/watch?v=deUf8An9Q1o&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=LCKghoTX_Nw&feature=fvst
http://www.youtube.com/watch?v=6ca-MDozx3E&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=GfZR69mZaF4

* É professor de língua e literatura no Estado do Paraná, web cronista, poeta, e militante da Unegro e do PCdoB.  Autor do blog Ruminemos: http://ruminemos.blogspot.com
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

O “Zé” vai entrar pra história pela lata do lixo (II)

Messias Pontes *
 

O candidato das forças do atraso à Presidência da República, o demotucano José Serra, ou simplesmente o “Zé”, definitivamente perdeu o rumo e mais parece uma biruta de aeroporto. No debate do último domingo, na Record, ele jogou a toalha e reconheceu a derrota quando afirmou, nas suas considerações finais, que a única coisa que tinha a apresentar aos brasileiros era o seu currículo. Foi aí que ele se perdeu.


Se a única coisa que tem a apresentar é o seu currículo, então não tem nada para oferecer. Isto porque ele não tem mais currículo. Este ele o jogou na latrina e deu descarga, não tendo mais retorno.

Renegando todo o seu passado ao se aliar com o que há de mais retrógrado neste País, o “Zé” termina sua carreira política melancolicamente, abandonado até pelos aliados que agora o escondem, e até pela grande mídia conservadora, venal e golpista que o trocou pela Marina Silva, do PV, que deixou de ser jurássica, “eco-chata”. A verde agora é a queridinha dessa mídia, pois não questiona as mentiras da Veja, as omissões da Globo dos fatos mais importantes, e o golpismo da Folha e do Estadão. Ela está em lua de mel com o GAFE (Globo, Abril, Folha e Estadão).

Mas resta um consolo para o “Zé” Traíra. A extrema direita continua apostando na sua eleição e tem usado as 24 horas do dia, sete dias da semana, enviando mensagens apelativas, mentirosas, injuriosas para milhões de emails. No Ceará, o “Zé” Traíra tem como principal cabo eleitoral o “Grupo Guararapes”, uma organização de extrema direita composta por um punhado de coroneis e generais de pijama e meia dúzia de civis viúvas da ditadura militar, que, como ele, defende democracia sem povo.

Depois de demonizar a candidata das forças democráticas, populares e progressistas, Dilma Rousseff, os generais de pijama enchem a bola do “Zé” e chegam a afirmar que ele foi o “melhor ministro do governo FHC”, e saem com essa pérola: “Já, (sic) o Serra é apoiado pelas legendas dos partidos que defendem o pluripartidarismo e adotam, nos seus ideários estatutários, a Democracia Representativa do Estado de Direito”.

Dizem ainda os generais de pijama de extrema direita que “Serra, (sic) jamais tentou impor pelas armas o seu socialismo e galgou pela eleição a representação popular, com expressiva votação, consecutivamente, sem interrupção, a Deputado Federal Constituinte, Deputado Federal, Prefeito e Governador de São Paulo...”

Em todos os inoportunos emails que enchem as caixas postais dos internautas, os generais de pijama deixam transparecer que ainda vivem na época da guerra fria e que a famigerada lei de segurança nacional ainda está em vigor. Perderam o bonde da história e, mais que isso, o senso do ridículo. Eles sempre defenderam e continuam defendendo uma democracia sem povo. Preferem o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo, como dizia o general ditador João Baptista Figueiredo, de triste memória.

Quando o “Zé” trocou o cheiro do povo pelo perfume das dondocas da Daslu, que passou a criminalizar os movimentos sociais, que passou a defender o golpismo da sua mídia, que pretendeu cassar a candidatura de Dilma Rousseff levando a disputa para o tapetão, depois de difundir desbragadas mentiras e caluniar contra a sua principal opositora, e de se juntar à extrema direita, de bater às portas dos quartéis para dizer que o que motivou o golpe de abril de 1964 era fichinha com relação ao que acontece hoje, quando assumiu de vez a defesa do imperialismo e demonstrou sua posição fascista contra Cuba, a Bolívia, a Venezuela e até à Palestina, ele tirou a máscara. Não é à toa que, do Oiapoque ao Chuí ele está sendo chamado de “Zé” Traíra.

Fazendo coro com a grande mídia conservadora, venal e golpista, o “Zé” Traíra não consegue esconder a sua adesão à canalha neo-udenista. Ele repete o que vem dizendo o Coisa Ruim (FHC, verdadeiro cadáver político insepulto): “a democracia está ameaçada”. E para tanto mobilizou meia dúzia de intelectuais e ex-ministros tucanos para um ato na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, para acusar o presidente Lula e seu governo de autoritário.

Mas a resposta veio a jato. Um grupo de mais de 60 juristas, entre eles Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da USP, divulgou ontem a Carta Aberta em Defesa de Lula, onde é enfatizada que os valores democráticos consagrados na Constituição da República de 1988 foram preservados e consolidados pelo atual governo.

Os juristas democráticos lembram que o presidente Lula não se deixou seduzir pela popularidade, com 80% de aprovação popular. Poderia ter tentado casuisticamente alterar a Constituição para buscar um novo mandato, como fez o Coisa Ruim que comprou deputados e senadores, num dos maiores escândalos de corrupção jamais visto.

Agora os golpistas tentam levar a eleição para o segundo turno manipulando pesquisas. Ontem, o Datafolha (Dataserra, Datafalha) divulgou “pesquisa” garantindo o segundo turno. A Globo deu a maior ênfase em seus telejornais. Mas o Vox Populi, também ontem, mostrou números bem diferentes: Dilma 49%, Serra 25% e Marina 12%, demais candidatos 1%. Portanto uma diferença de 11 pontos percentuais em favor da candidata petista. Os brasileiros não permitirão o retrocesso.

O “Zé” Traíra pirou de vez. O desespero é tamanho que o levou a prometer o que sempre combateu: salário mínimo de R$ 600,00, reajuste de 10% aos aposentados e 13º aos beneficiários do bolsa-família.

Por tudo isso, e muito mais, é que ele vai entrar pra história pela lata do lixo. Triste fim!

* Diretor de comunicação da Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará, e membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará e do Comitê Estadual do PCdoB.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

O “Zé” Traíra está com o que há de pior

 
Messias Pontes *
 

Tem um adágio popular que cabe bem até demais para o candidato das forças do atraso no Brasil, José serra, o “Zé” Traíra: diz-me com quem andas que te direi quem és. E quem está com o candidato demotucano? Nada menos que o supra-sumo do reacionarismo brasileiro que tanto mal já causou ao Brasil e aos brasileiros, senão vejamos:


A famigerada TFP – Tradição, Família e Propriedade, a Opus Dei, o Grupo Guararapes, a grande mídia conservadora, venal e golpista, a clientela da Daslu, os fundamentalistas religiosos- católicos e evangélicos, Daniel Dantas, José Roberto Arruda, os carlistas (na Bahia), os herdeiros políticos de Carlos Lacerda, as viúvas da ditadura militar, a canalha neo-udenista e toda a extrema direita.

Também estão apoiando incondicionalmente o “Zé” Traíra gente da estirpe do Coisa Ruim (FHC), Arthur Virgílio, Tasso Jereissati, Kátia Abreu (grileira), Heráclito Fortes, Jorge Bornhausen, Roberto Freire (outro traíra), e a escória do jornalismo como Merval Pereira, Miriam Leitão (porcão), Ricardo Noblat, William Waack, Boris Casoy, o casal 45 (William Bonner e Fátima Bernardes) e outros crápulas, colonistas e demais jornalistas amestrados.

Até 2002, o Brasil foi governado pelas e para as carcomidas elites econômicas, sociais e políticas. A partir de 2003, com a posse de um ex-operário metalúrgico, sem formação acadêmica, o País entrou em nova Era e os eternos excluídos passaram a ter vez, com o mínimo de dignidade. Foi neste período que os brasileiros perderam o complexo de vira-latas e o Brasil deixou de ser coadjuvante para ser protagonista no cenário das nações. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enterrou o G-8 e criou o G-20, levando o Brasil a ser respeitado e ouvido em todas as instâncias internacionais.

O desgoverno FHC (Coisa Ruim)/ Serra (traíra) quebrou o Brasil três vezes, tinha como governo de fato o FMI, o País vivia submisso aos interesses do grande capital, notadamente ao imperialismo estadunidense, levou milhões de brasileiros à rua da amargura, desmontou o Estado brasileiro com o processo da privataria, sucateou a educação, a saúde e a infraestrutura, além de institucionalizar a corrupção com a extinção da CEI – Comissão Especial de Investigação e instalar o maior processo de corrupção jamais visto para garantir a emenda da reeleição e a entrega do patrimônio público, a preço de banana, ao capital financeiro internacional. A desnacionalização da indústria brasileira também foi outro crime de lesa-pátria praticado pelo desgoverno tucano-pefelista, hoje demotucano.

Na atual campanha eleitoral, esperava-se o debate de propostas para fazer o Brasil avançar. Porém o que se vê é a baixaria, a mentira desbragada, as calúnias e as difamações contra a candidata das forças democráticas, patrióticas e populares Dilma Rousseff. A hipocrisia, a desfaçatez e a covardia têm sido a marca registrada do candidato demotucano, num verdadeiro desrespeito aos brasileiros.

Nunca um candidato mentiu tanto numa campanha eleitoral. Descaradamente diz que foi o melhor deputado constituinte, quando se sabe que ele atuou contra os interesses nacionais e dos trabalhadores. Basta consultar os dados do Diap. O “Zé” Traíra, no primeiro turno, tirou nota 2,5 e no segundo, 3,5 numa escala de zero a 10. Durante a Assembléia Nacional Constituinte (1987/88) ele já tinha mudado de lado, jogando na latrina o seu currículo e começado a entrar pra história pela lata do lixo.

Toda a baixaria na web tem a digital do “Zé” Traíra. Ele é covarde, pois não enfrenta os adversários de frente. Neste mesmo espaço já havíamos advertido para a baixaria, muito antes do início da campanha eleitoral. O deputado Ciro Gomes, que o conhece de perto, pois pertenceu ao PSDB, também havia previsto o que está acontecendo.

A Dilma precisa continuar apresentando as suas propostas para o Brasil seguir em frente, mas também ir pro confronto direto para desmascará-lo. Mostrar que ele é o que é e não o que diz ser. Tudo dele soa falso como uma nota de três reais. Ele sempre defendeu o arrocho salarial e agora vem com essa de dizer que vai elevar o salário mínimo para R$ 600,00 e dar aumento de 10% aos aposentados e pensionistas quando sempre os tratou com desprezo.

Quando diz que não vai privatizar o que restou do patrimônio público dilapidado pelo desgoverno dele e do Coisa Ruim, está estampada na cara dele a deslavada mentira. Falar em escolas técnicas é outra tremenda mentira, pois no desgoverno tucano-pefelista, do qual foi ministro, foi proibido, por decreto, a construção de escolas técnicas. Não se pode dar crédito a nada que ele diz. Por mais que prometa, tem o instinto do escorpião no seu DNA e quem o conhece sabe muito bem disso.

É mais que oportuno mostrar a declaração do ex-presidente Itamar Franco – que hoje lhe apóia – chamando-o de mentiroso quando ele assume a paternidade dos medicamentos genéricos. Itamar disse com todas as letras que “o Serra é mentiroso, pois os genéricos foram criados no meu governo pelo ministro Jamil Haddad”. O Seguro Desemprego também não é da sua lavra como apregoa cinicamente.

Dizer que vai fortalecer a Petrobras é outra grande mentira. Ele foi a favor da privatização da nossa maior empresa, hoje a segunda do mundo no ramo, que eles quiseram até mudar de nome, passando a chamar-se Petrobrax para atrair os compradores estrangeiros. Foi ele quem incentivou o Coisa Ruim a vender por preço de banana a Vale do Rio Doce, a Ligth e outras empresas estatais estratégicas. A corrupção no desgoverno FHC/Serra igualmente merece vir a público. Mas isso é assunto para um artigo específico.

Por tudo isto e muito mais é que o Brasil precisa se livrar do “Zé” Traíra e eleger Dilma Presidente para o Brasil seguir mudando.

* Diretor de comunicação da Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará, e membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará e do Comitê Estadual do PCdoB.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

"Olhos Bem Abertos": Força dos explorados

Cloves Geraldo *

Documentário do uruguaio Gonzalo Arijon mostra o processo de mudanças profundas na Bolívia, Equador e Venezuela e procura entender sua força.

           O processo político-ideológico em curso na América Latina rendeu o bom documentário “Ao Sul da Fronteira”, do diretor estadunidense Oliver Stone, que procura decifrar as mudanças ocorridas principalmente na Bolívia, Equador e Venezuela. Mais contundente o diretor uruguaio Gonzalo Arijon aprofunda a discussão em seu “Olhos Bem Abertos”, exibido na mostra “Imagem das Américas”, realizada de 17 a 23 de setembro último em Belo Horizonte.

              O que difere os dois filmes é o olhar de seus diretores. Stone centra-se mais em Chávez, enquanto Arijon une-se ao jornalista e historiador Eduardo Galeano (“As Veias Abertas da América Latina”) para tratar de aspectos que fogem ao conhecimento do estadunidense. Seu filme dá voz a trabalhadores, índios, mineiros e mulheres, mostrando-os como as principais forças de transformações políticas, econômicas e sociais em seus países.
              Arijon traça assim um perfil dos movimentos populares que sustentam as decisões de suas lideranças. Dos mineiros bolivianos mal pagos, sofrendo de silicose, até os indígenas que se tornam cidadãos. Todos apóiam a estatização das minas de cobre e das reservas e empresas de petróleo e gás, feitas pelo governo Evo Morales. “Agora somos nós que controlamos tudo”, diz um diretor da estatal boliviana de petróleo e gás.

               Arijon demora-se na Bolívia onde as mudanças sofrem todo tipo de boicote. Põe na tela a tentativa de separatismo das províncias mais desenvolvidas, o massacre perpetrado pelas oligarquias e pelos governadores direitistas, a firmeza de Molares para derrotá-los, inclusive expulsando o embaixador estadunidense para evitar sua própria queda. O resultado se vê como herança de Che Guevara. São poderosas as imagens dos indígenas nas ruas com seus trajes típicos, desfrutando de uma liberdade que demorou mais de 500 anos para ser conquistada. Emociona.

               O mesmo ocorre com os indígenas equatorianos. Suas terras, ricas de petróleo, cobiçadas pelas multinacionais do petróleo, foram demarcadas pelo governo Correa para que não percam suas fontes de existência. Uma viagem de Arijon por elas explica porque isto foi necessário. As camadas de óleo espalhavam-se, impedindo que continuem na área em que estão há milênios. Como na Bolívia, o processo de desmontagem dos privilégios, dos monopólios e do controle dos EUA e da Espanha incluiu reforma na constituição, queda de braço com George Bush, as multinacionais, as oligarquias e a mídia direitista a eles aliados.
              Arijon não se limita a filmar os locais de conflitos, sua câmera se detém na geografia, na paisagem urbana. Sente-se as cidades, as periferias, o perfil do povo. Na Venezuela, os rostos de uma líder comunitária e de um trabalhador beneficiado pela reforma agrária tomam a tela. Ela explica que há resistência, mas que a construção de habitações coletivas segue em frente. E o camponês informa que tudo o que os venezuelanos consomem vem de fora e que agora eles começam a plantar para seu próprio abastecimento. A câmera de Arijon os flagra em suas ações. Numa delas acompanha a líder comunitária numa alegre reunião com Chávez, espécie de democracia direta, em que ele confirma todo seu estilo despachado de governar.

              E Arijon não se furta em registrar a crítica preconceituosa, direitista, do taxista que o leva ao centro, onde se podem ver milhares de barracos ocupando o morro. “É dali de que vem o apoio dele (Chávez)”, aponta ele para o aglomerado que domina parte de Caracas. Entende-se, assim, porque Chávez provoca ódio, boicote e insurgência da burguesia venezuelana e dos EUA, com grande apoio da mídia golpista nativa e estadunidense, como mostrou Stone em “Ao Sul da Fronteira”.

                   O Brasil, no entanto, não fica à margem de “Abra Seus Olhos”. Aparece na abertura, em rápidas sequências no Pará onde é críticado por não ter feito a reforma agrária, cedendo terras e porto para o agronegócio. No entanto, o líder dos sem terra destoa das críticas ao apontar em aula na Escola do MST as consequências da globalização e do neoliberalismo. E Chávez surgir em seguida pondo fim ao sonho de Bush implantar a Alca na América Latina: “Alca é o caralho!”, denuncia. Arijon e Eduardo Galeano traçam inclusive um paralelo entre o Fórum Social Mundial e o Fórum Econômico de Davos para diferenciar os objetivos de ambos reforçando os rumos tomados principalmente pelo Brasil.

                    Arijon também registra o papel do governo Lula nos processos de nacionalização das reservas minerais e ampliação da democracia popular no Equador, Venezuela e Bolívia. Lula ao invés de resistir à desapropriação da Petrobrás, uma das multinacionais que controlava o setor petrolífero boliviano, entendeu os motivos de Morales para controlar as riquezas de seu país e o apoiou. Deste modo Arijon registra um ciclo histórico. Seu filme, aplaudido pelo público efusivamente em seu final, é um documento sobre o processo político popular na América Latina. É uma pena que sua exibição não esteja garantida em grande circuito no Brasil.

Olhos Bem Abertos”. (“Ojos bien Abiertos”). Documentário. Uruguai, 2009,110 minutos. Direção: Gonzalo Arijon.

* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte:http://www.vermelho.org.br/coluna

“Em Teu Nome”: Memórias da juventude

Cloves Geraldo *

Filme do diretor gaúcho Paulo Nascimento resgata a luta dos jovens brasileiros contra a ditadura militar

             Eram garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones, diz a música. Em “Em Teu Nome”, do gaúcho Paulo Nascimento, eles amavam a revolução e não eram tão garotos assim. Aderiram à luta armada, sangraram nas masmorras da ditadura, foram exilados, retornaram ao Brasil com a anistia, em 1979. E nem por isto, deixaram de viver grandes paixões. Eis e contexto deste filme que amplia a visão da luta da esquerda no país contra a ditadura militar (1964/1985). Tira o filme dos aparelhos, das sombras e lança-o nas ruas, no campus universitário e nas reuniões familiares. É mais sobre uma geração do que sobre concepções de luta armada, embora esta esteja presente o tempo inteiro.
            O que buscavam os jovens dos anos 60, época em que a Guerra Fria, opunha a ex-União Soviética aos EUA? Apenas derrubar a ditadura militar? Não. Mudar o mundo. Substituir o Capitalismo pelo Socialismo. “Em Teu Nome” os mostram em discussões político-ideológicas, ações revolucionárias, tentativas de escapar ao cerco imposto pelos generais. Além disso, o filme transmite uma afetividade que escapa às produções que tratam da luta da esquerda no país. E tem sua raiz em “Reds”, de Warren Beatty, cinebiografia do jornalista revolucionário John Reed, autor de “10 Dias Que Abalaram o Mundo”. Beatty trata das ações de Reed e seu envolvimento amoroso com a feminista Louise Bryant.
               Não é diferente neste “Em Teu Nome”. Nascimento baseia sua narrativa na militância do estudante de engenharia João Carlos Bona Garcia (Leonardo Machado) na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), formada, em 1966, por dissidentes da Polop (Política Popular) e do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), e em sua paixão pela universitária Cecília (Fernanda Moro). Esta dualidade narrativa dota o filme de um viés mais próximo da realidade do militante, afastado da figura do herói férreo, sem paixões ou emoções. O militante, mesmo no calor da refrega revolucionária, mantém sua capacidade de amar e clareza para levar adiante seu objetivo.
                 Bona, no entanto, não é único a ter sua história enfocada. Outros personagens são tratados com igual força. A jovem calada, introspectiva, Lenora (Silvia Buarque), que sintetiza em si outros militantes de esquerda, que tiveram sua vida destroçada pelas torturas sofridas nas masmorras dos generais, caso de Frei Tito; o hesitante, radical, Onório (Marcos Verza), que cobra compromisso dos demais, mas fraqueza nas situações limite; o frade, Professor (Nelson Diniz), cerebral, capaz de conduzir a luta e também amar; o sindicalista Higino (Sirmar Antunes), afrodescendente, que dá o perfil operário à organização.

Convicção ideológica fortalece militantes


            É a luta contra a ditadura militar e a convicção ideológica que dão sentido à vida desses jovens, em meio à multiplicidade de lutas na época: de Cuba, de Guevara na Bolívia à Guerra do Vietnã. Mesmo que os generais os torturassem, a maioria preservava suas convicções. Numa simbólica sequência sobre o quanto eles, os generais, lhe infligiam dor, Bona, depois de suplicar por comida, devora um malcheiroso pedaço de carne, enquanto sua família degusta frango assado. Esta dialética, herdada do Eisenstein de “O Encouraçado Potemkin” atesta o sacrifício dele e o sadismo dos generais. É forte o suficiente para carecer de qualquer análise político-ideológica.
           Nascimento, ao basear sua narrativa na história de Bona, teve a oportunidade de ampliá-la, usando a troca de 70 militantes de esquerda pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em dezembro de 1970. Com a chegada dos militantes de Porto Alegre a Santiago, no governo Salvador Allende, ela, a narrativa, passa a enfocar o dilema dos exilados, fato inédito nos filmes sobre a luta armada no Brasil. São emocionantes as tentativas de Bona e Cecília de se tornarem atores e inquietante e triste sofrimento de Lenora. Ambos iriam peregrinar de país em país, após a queda de Allende; ele e Cecília na Argélia, ela em Paris, onde depois se encontram.
               Com este leque digno de uma epopéia, Nascimento passeia ainda pelas etapas históricas vividas por eles. De Bona e Cecília lutando para escapar à deportação à luta pela anistia, passando pela tragédia de Lenora, sem dúvida um dos melhores personagens do filme. Mas, em meio à luta pela sobrevivência desses jovens que lutaram contra a ditadura militar, surgem figuras ainda hoje atuantes na política brasileira, a mídia nacional e o papel que jogaram e não jogam mais. Serve para mostrar quem avançou e quem retrocedeu. Basta refletir sobre isto a partir das falas de Bona em Paris. Elas recuperam o que os “outrora engajados” querem a todo custo esquecer.
                “Em Teu Nome” embora não seja uma obra prima, inclusive carecendo de maior rigor estético, pode ser colocado ao lado de filmes que contribuem para o entendimento da história recente do país: “O Desafio”, de Paulo César Serracini; “Vida Provisória”, de Maurício Gomes Leite; “Pra Frente Brasil”, de Roberto Farias; “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburguer.  Mas dá conta do recado. Emociona.
Em Teu Nome”. Drama. Brasil. 2009. 100 minutos. Roteiro: Paulo Nascimento, baseado na militância de João Carlos Bona Garcia. Elenco: Leonardo Machado, Fernanda Faro, Nelson Diniz, Marcos Verza, Sirmar Antunes, Silvia Buarque.

* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

 Aborto e CNBB: desmonte de uma falácia

Escrito por D. Demétrio Valentini   
08-Out-2010
A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e denunciada.
Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais, amparadas em sofismas enganadores.
Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.
Em primeiro lugar, invoca-se a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.
 
Em segundo lugar, invoca-se uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.
Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:
A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.
Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB? Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete a credibilidade da CNBB se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral deste documento, assinado pelos três bispos da presidência da Regional.
Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.
Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição. A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.
Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários, e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica.
Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.
Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.
Em nome da fé, julgam-se no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.
Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas com astúcia e malícia.

D. Demétrio Valentini é bispo da diocese de Jales-SP. 

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O poder midiático na batalha pela Presidência da República

A alegria resplandecia nos rostos de âncoras e comentaristas da Rede Globo de Televisão domingo (3) à noite na medida em que se consolidava a certeza de que o pleito presidencial não seria resolvido no primeiro turno, a despeito do que sinalizavam algumas pesquisas. Parece que a família Marinho tinha um bom motivo para comemorar.

Por Umberto Martins

 

O resultado do pleito não deixou de ser uma demonstração do poder dos monopólios que controlam os grandes meios de comunicação no Brasil. Eles, afinal, não pouparam munição na verdadeira guerra que desencadearam contra Dilma e o governo para impedir a vitória no primeiro turno.

Manipulação

A cobertura dos fatos de domingo foi também uma espécie de horário gratuito para José Serra, que aproveitou para fazer seu primeiro comício. Também não faltaram os afagos da Globo e um espaço generoso para a candidata do PV, Marina Silva, cujo desempenho, insuflado pela mídia, foi fundamental para levar a eleição ao segundo turno. É um ensaio do que virá na batalha final pela presidência, do que devemos esperar nos próximos dias.

Não é a primeira vez que vemos coisas do gênero. As Organizações Globo, em aliança com outros órgãos do chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista), com destaque para a revista Veja, tentaram reverter a vitória de Brizola para governador do Rio em 1982, através da fraude eletrônica na apuração (o chamado caso Proconsul); atropelaram a ética jornalista para manipular de forma inescrupulosa o debate entre Lula e Collor em 1989; contribuíram para que o sequestro de Abílio Diniz (em 1989) fosse atribuído a lideranças do PT; usaram imagens de dinheiro associado ao episódio dos “aloprados” na véspera da eleição de 2006 para impedir a vitória de Lula no primeiro turno, entre outros episódios.

Força da direita

Nesta campanha, a mídia hegemônica radicalizou a ofensiva contra Dilma quando percebeu o perigo de derrota da direita já no primeiro turno, o que era percebido como um completo desastre. Movida pelo desespero, disparou acusações de última hora contra membros do primeiro e segundo escalões do governo, procurando envolver a candidata, criou factóides, caracterizou o governo Lula como inimigo da liberdade de imprensa e ditou a pauta dos últimos dias de campanha, substituindo o debate de ideias e programas pela repercussão ruidosa de escândalos fictícios ou reais. Assim forjou a agenda da eleição. E não se pode dizer que não tenha colhido êxito.

Apesar dos reveses sofridos nos últimos anos e no atual pleito, a direita neoliberal ainda exibe força, especialmente em São Paulo e Minas Gerais. Isto se deve, em larga medida, ao poder midiático. Não convém subestimá-lo nos próximos dias que nos separam do segundo turno (31 de outubro). O desafio para o futuro é intensificar a campanha pela efetiva democratização dos meios de comunicação e lutar para que as medidas delineadas na primeira Conferência Nacional da Comunicação (Confecom) sejam concretizadas. 
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Maria Rita Kehl denuncia “dois pesos” do Estadão

 

A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no último sábado (2), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. O texto, intitulado "Dois pesos...", gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias.

 

Nesta quinta-feira (7), ela falou a Terra Magazine sobre as consequências de seu artigo: "Fui demitida pelo jornal o O Estado de S. Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião (...) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?"

Leia também:
Terra Magazine - Maria Rita, você escreveu um artigo no jornal O Estado de S.Paulo que levou a uma grande polêmica, em especial na internet, nas mídias sociais nos últimos dias. Em resumo, sobre a desqualificação dos votos dos pobres. Ao que se diz, o artigo teria provocado consequências para você...

Maria Rita Kehl - E provocou, sim...

Terra Magazine - Quais?
MR - Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião.

Terra Magazine - Quando?
MR - Fui comunicada ontem (quarta-feira, 6).

Terra Magazine - E por qual motivo?
MR - O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram.

Terra Magazine - Você chegou a argumentar algo?
MR - Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável...

Terra Magazine - Que sentimento fica para você?
MR - É tudo tão absurdo... A imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo...

Terra Magazine - Você concorda com essa tese?
MR - Não, acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado...

Terra Magazine - ...Por outro lado...?
MR - Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um "delito" de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?

Terra Magazine - Você imagina que isso tenha algo a ver com as eleições?
MR - Acho que sim. Isso se agravou com a eleição, pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas.

Fonte: Terra Magazine

Comissão da CNBB defende Dilma e põe 

discurso de Serra em xeque

A Comissão Brasileira Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), manifestou-se, por meio de nota, "preocupada com o momento político na sua relação com a religião". "Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente", afirmou a entidade, no comunicado.

A manifestação deve endereço certo: o bispo de Guarulhos (SP), d. Luiz Gonzaga Bergonzini, que tem pregado o voto contrário à candidata Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando. Ele também quer levar o aborto para o centro do debate eleitoral, embora nenhum candidato tenha se proposto a mudar a legislação sobre práticas abortivas.

"Dos males, o menor", tem dito d. Luiz Gonzaga, ao defender o voto contrário a Dilma que, segundo ele, apoia o aborto. A candidata já negou várias vezes essa suposição, mas o bispo tem usado suas missas para acusar Dilma e o PT de terem incluído em seu programa de governo a defesa do aborto. Guarulhos, na Grande São Paulo, tem 1,3 milhão de habitantes.

Para o secretário-executivo da Comissão Justiça e Paz, Daniel Veitel, Dilma foi a única candidata que se declarou claramente a favor da vida. "O José Serra (presidenciável do PSDB) não tem uma posição clara", criticou. Veitel lembrou que a CNBB não impôs veto a ninguém nas eleições. Afirmou ainda que alguns grupos continuam induzindo erroneamente os fiéis a acreditarem nisso.

"Constrangem nossa consciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial", afirma a nota da comissão.

Da Redação, com informações da Agência Estado

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Militantes argentinos homenageiam estudantes 

vítimas da ditadura

 

Em 16 de setembro de 1976, na cidade de La Plata, na Argentina, os grupos especiais do exército e da polícia da província de Buenos Aires, levaram os estudantes Claudio de Acha, María Clara Ciocchini, María Claudia Falcone, Francisco López Montaner, Daniel Racero, Horacio Ungaro e Pablo Diaz para ser interrogados nas delegacias e nos centros clandestinos de detenção.

 

O motivo do interrogatório era o fato deles serem líderes da mobilização que exigia o direito ao passe livre e a volta da democracia ao país. Infelizmente, os seis jovens se somam aos 3 mil desaparecidos, que foram vítimas da última ditadura militar na Argentina. Os militantes são vítimas da “Noite dos Lápis”, nome dado ao fatídico dia em alusão ao fato de serem estudantes do ensino médio.

Hoje, os estudantes e militantes de toda Argentina vão às ruas para continuar essa luta que começou há mais de trinta anos, exigindo melhor qualidade na educação pública e maior compromisso dos governantes com a juventude. Em Buenos Aires será realizada uma enorme mobilização na famosa Praça de Maio, que representa o palco da resistência e da luta pela democracia.

Com informações, CUT

Eduardo Galeano: 70 anos de América Latina

 

No último 3 de setembro aniversariou um importante nome do jornalismo e da literatura latino-americanos: o uruguaio Eduardo Galeano completou 70 anos de vida. E, com a data, celebra-se também sua importante contribuição para o imaginário social dos povos da América Latina, e também o marcante papel na luta contra o regime militar uruguaio, que durou de 1973 a 1984.

 
“Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial”, escreveu Galeano em 1971, no livro As Veias Abertas da América Latina, que fala sobre o processo de exploração colonial pelo qual passou o continente americano desde sua descoberta até o neo-colonialismo da Revolução Industrial.

Anos mais tarde, em 1976, deixou o Uruguai rumo ao exílio na Espanha após ter seu nome incluído em uma lista de execuções do regime militar, liderado pelo ditador Jorge Videla.

Para falar sobre vida e obra do jornalista uruguaio, a Revista Fórum entrevistou o professor Alexandre Barbosa, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Especialista em Jornalismo Internacional, Borges é o idealizador do site www.latinoamericano.jor.br.

Fórum: Na sua opinião, qual a importância de Eduardo Galeano para o jornalismo e literatura latino-americanos?

Alexandre Barbosa: Galeano foi além do jornalismo e da literatura. Muitos, tanto na academia quanto no jornalismo, enxergam sua obra apenas do ponto de vista literário. De fato, ele escreveu obras belíssimas, como Palavras Andantes e Memórias do Fogo. Esta última, uma crônica da história latino-americana contada de maneira poética. Porém, mesmo na literatura e principalmente no jornalismo, Galeano é essencial para a construção de um pensamento de resistência latino-americana. Sua obra mais conhecida, As Veias Abertas da América Latina, é uma leitura que não pode faltar na vida de qualquer cidadão deste continente.

Fórum: De que maneira ele contribuiu para o imaginário histórico do continente latino-americano?

Barbosa: Enquanto a indústria jornalística insistia na visão de que as alianças com os países centrais do capitalismo eram uma alternativa para o atraso da região, Galeano mostrou como a riqueza da Europa e dos EUA foi construída com base na exploração dos recursos naturais e humanos da América Latina. A cidade boliviana de Potosí, que tem mina de estanho e prata, hoje é uma região pobre, que enriqueceu os cofres dos países ibéricos. A miséria da América Central é a riqueza dos comerciantes norte-americanos.

Como a escrita de Galeano tem forte apelo de denúncia, seu texto flui e serve de inspiração para os movimentos que hoje pregam uma nova ordem da política e da economia latino-americana. Ao ler a obra de Galeano, é possível entender melhor como funcionam os governos de Evo Morales e Rafael Correa. Quem leu As Veias Abertas da América Latina jamais teria coragem de criticar a ação boliviana de nacionalização dos recursos minerais.

Fórum: Galeano participou ativamente de movimentos culturais contrários à ditadura uruguaia de 1973. Para você, qual obra dele melhor representa a resistência contra o regime militar?

Barbosa: Galeano e outros da classe artística e jornalística podem ser considerados parte de um movimento que Michael Löwy chamou de Romantismo Revolucionário que, entre outras características, entende as manifestações artísticas como instrumentos de denúncia, resistência e revolução.

Há contos e crônicas belíssimas de Galeano sobre a ditadura uruguaia. Recomendo a leitura de um texto sobre os desenhos que a filha de um preso levava para o pai no cárcere. O guarda proibia imagens e desenhos de pássaros, pois eles eram sinônimos de liberdade. Um dia, a filha desenhou uma árvore com frutas e o desenho passou. O pai elogiou o desenho e filha confidenciou-lhe que os pássaros estavam escondidos entre as folhas...

Fórum: Hoje em dia, Eduardo Galeano figura como um dos maiores nomes da literatura na América Latina, ao lado de Gabriel García Marquez e outros. O que ainda podem fazer para estabelecer um ponto de reflexão nos povos do continente contra a dominação cultural e ideológica?

Barbosa: É essencial seguir estudando as obras desses dois autores. Além de As Veias Abertas da América Latina, um latino-americano não pode se considerar latino-americano sem ler Cem Anos de Solidão, de García Marquez. Um curso sobre América Latina tem de incluir uma discussão sobre “As Veias Abertas” e um debate sobre a metáfora da cíclica história do continente que está encarnada em “Cem Anos”.

Tanto Galeano quanto Gabo continuam fortes em suas posições. Continuam a defender a América Latina e suas lutas. Gabo mantém a FPNI (Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano), que incentiva a construção de um jornalismo que tenha olhar latino-americano. A última obra de Galeano, Espelhos, se dedica às histórias esquecidas não só da América Latina, mas de todo o mundo.

Fonte: Revista Fórum

Luiz Gama: Quanto vale um homem?

 
No tempo da escravidão, o valor era medido pela capacidade de produção do trabalhador escravizado. No capitalismo, pela força de trabalho, do assalariado. Para a história, o valor de cada ser humano, tem medida no legado que se deixa para as gerações vindouras. Luiz Gama foi imprescindível na luta travada contra a escravidão no Brasil no período imperial. Sua obra, sua história e sua devoção à causa libertária estão relatadas em duas biografias recém-lançadas.

Por Marcos Aurélio Ruy*

A professora de antropologia Lilia Schwarcz faz uma comparação entre as trajetórias de Luiz Gama e do escritor Lima Barreto, que também superou adversidades que pareciam intransponíveis, para se transformar num dos maiores escritores brasileiros. “É duro não ser branco no Brasil. A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos a posteriori”, disse Lima Barreto dando uma definição clara do racismo brasileiro.

Como explica Schwarcz Gama “escancarou faces da discriminação” e usou de todas as armas de que dispunha para libertar escravos, como advogado, jornalista e escritor. Ambos se afirmaram como negros e denunciaram as mazelas do racismo.

Ela adverte ser muito difícil biografar Luiz Gama pela carência de fontes. O principal documento para sua contar a sua vida foi uma carta que escreveu para o amigo Lúcio de Mendonça, que, diz o seu biógrafo Luiz Carlos Santos, “embora seja, em última instância, uma carta de um amigo para outro, ganhou dimensão de epopéia por ter sido escrita dois anos antes da morte de Gama e oito antes da abolição, e por relatar fatos que só o autor poderia constatar.”

Polêmicas a parte, os dois livros trazem à tona a importância desse homem que dedicou seus 52 anos de vida a causa da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Venceu o racismo, a escravidão, a perseguição política e tornou-se “o negro mais importante do século XIX”, nas palavras de Miguel Reale Júnior.

Os livros

Recentemente foram lançados dois livros sobre a vida deste lutador. O Advogado dos Escravos: Luiz Gama, de Nelson Câmara, apresenta petições de Gama para libertação dos negros com base nas leis existentes contra o tráfico de escravos e a luta incessante para que o maior número possível de escravos conseguisse juntar dinheiro para comprar sua carta de alforria, por mais paradoxal que possa parecer o escravo comprar a sua liberdade.

O livro “traz o travo amargo da memória de nossa terra injusta, mas ao mesmo tempo reconforta pelo exemplo edificante do biografado, cujas petições podem ser lidas para auferir ânimo na luta contra todas as injustiças que ainda nos assolam”, afirma Reale Júnior.

O livro Luiz Gama, de Luiz Carlos Santos, valoriza a trajetória do “precursor do Abolicionismo” à sua atuação como abolicionista e intelectual importante para a formação do pensamento libertário e de lutas dos movimentos negros futuros. “Enxergando além de seu tempo, Gama não separou o social do racial e combateu tanto a escravidão quanto a monarquia”, afirma Santos, como “defensor dos ideais republicanos, não os separava de sua obstinada luta contra escravatura”, diz.

Nelson Câmara explicita que “suas intervenções nos encontros políticos sempre procuravam articular a luta pela emancipação política do Brasil e a imediata abolição do trabalho escravo”. Luiz Gama foi voz incessante “pelo fim imediato da escravidão e da própria monarquia, sem nenhuma concessão de prazo para a propalada transição do trabalho servil para o trabalho livre”, conclui Santos.

A vida

Nascido em 21 de junho de 1830, Luiz Gonzaga Pinto da Gama era filho da revolucionária ex-escrava Luiza Mahin e de um fidalgo português. Sua Mãe participou da Revolta dos Malês em 1835 e da Sabinada em 1937, movimentos importantes de insurreição contra a escravidão, na Bahia. Luiza Mahin “era revolucionária natural, sempre com o objetivo de libertar sua raça dos grilhões da escravidão”, acentua Câmara e complementa “foi um destacado elemento de conspiração entre os negros oprimidos. Sua casa na Bahia tornou-se um dos fortes redutos de chefes de chefes da revolta de 1835. Ninguém sabe que fim levou e seu nome permaneceu na história e na lenda como um grande símbolo do valor da mulher negra no Brasil.”

Como advogado, sem diploma, Gama libertou mais de 500 escravos, gratuitamente. Também foi um “jornalista nato, de grandes recursos intelectuais, pena vibrante, estilo combativo e satírico, destemido, sempre fiel ao fato e à notícia como convém ao verdadeiro profissional de imprensa”, diz Câmara, “mas sem deixar de ministrar sua opinião política e filosófica”, explica. O advogado utilizava como expediente publicar anúncios em jornais de seu trabalho para quem desejasse ser livre e não tivesse como pagar por isso.

Como poeta, Gama deixou em suas Primeiras Trovas Burlescas poesias com temas sociais e de maneira irônica mostrava as mazelas dos poderosos da época. No poema Quem Sou Eu? A veia do advogado falou mais alto: “Não tolero o magistrado,/Que do bico descuidado,/Vende a lei, trai a justiça/- Faz a todos injustiça -/Com rigor deprime o pobre,/Presta abrigo ao rico, ao nobre,/E só acha horrendo crime/No mendigo, que deprime.”

Paulo Fanchetti afirma que “a obra poética de Luiz Gama é pequena, e o que há nela de melhor são os poemas que satirizam os costumes, as modas e, principalmente, os vícios de classe”.

Vendido como escravo pelo próprio pai para pagar dívida de jogo aos 10 anos de idade, Luiz Gama resistiu e foi fundo na sua vontade de viver e derrotar o que submetia a si e à sua classe, defendendo a libertação dos escravos e a República como possibilidades de superação da tragédia do escravismo e do atraso do Império.

Aos 17 conseguiu libertar-se, fugindo da escravidão e alfabetizando-se para tonar-se voz fundamental na história dos negros brasileiros por sua emancipação social e política. Ele “usava a imprensa para pugnar pela liberdade incondicional, denunciava a escravidão como fator de degradação do ser humano e da sociedade”, acentua Câmara para mostrar o lado jornalista do homem que era a própria encarnação da luta abolicionista no país.

O homem

Quando quis ser bacharel pela Faculdade Direito, “a mocidade estudantil recusou seu ingresso pela condição de negro em plena escravidão”, conta Nelson Câmara. Mas isso não abateu o jovem ex-escravo, que conquistou o direito de advogar, mesmo sem diploma. “Não possuía pergaminhos, porque a inteligência repele os diplomas como Deus repele a escravidão”, escreveu Gama no artigo intitulado Pela Última Vez, em 1869, após ter sido demitido por motivação política de cargo público.

“A polêmica funcionou como ótima propaganda antiescravista e em favor da República. Luiz Gama afirmava que sua causa era a liberdade dos escravos, e que o governo cometera um ato arbitrário ao demiti-lo, pois sua atuação era inteiramente legal, baseada nas lei vigentes”, explica Câmara.

O “advogado dos escravos” soube usar sua demissão para atrair a atenção para a luta por igualdade racial. Gama “transformou-se na figura central da luta contra a escravidão”, afirma Santos. “Amo o pobre, deixo o rico”, esse verso dele ilustra bem eu pensamento a respeito da luta travada no império contra a escravidão. “

Para o coração não há códigos: e se a piedade humana e a caridade cristã se devem enclausurar no peito de cada um, sem se manifestar por atos, em verdade vos digo aqui, afrontando a lei, que todo escravo que assassina o seu senhor pratica um ato de legítima defesa”, disse Gama num auto de defesa de um escravo.

“Luiz Gama foi personagem do século XIX, que viveu em um dos maiores centros escravocratas do país, a então província de São Paulo, em pleno desenvolvimento da riqueza do café”, diz Câmara. Mesmo assim “tornou-se símbolo nacional de resistência negra ao escravismo, de liderança libertária, de democrática luta pela abolição e o fim da Monarquia. Luta nos campos político, jornalístico e jurídico, no enfretamento direto à sociedade dominante”, conclui.

A luta

Também se filiou ao Partido Liberal Republicano em São Paulo e levou sua luta aos tribunais, às redações de jornais e à literatura. Notam-se as dificuldades que esse homem enfrentou em sua vida e as asperezas que o aguardavam. A vida não apresentava facilidades para “quem advogava em favor dos desvalidos contra o peso dos interesses econômicos e contra o preconceito de muitos juízes formados na mentalidade escravagista.”

Sendo que Gama foi o principal divisor de águas do partido em que era “mantida uma luta surda entre os radicais abolicionistas e conservadores escravocratas no seio do Partido Republicano”, diz Câmara. Gama foi o principal divisor de águas do partido em que era “mantida uma luta surda entre os radicais abolicionistas e conservadores escravocratas no seio do Partido Republicano”, diz Câmara.

Era uma luta inconciliável mesmo porque, para Luiz Gama - como disse ao tomar conhecimento do linchamento de quatro negros que mataram o filho de seu senhor - “escravo que mata senhor, seja em que circunstância for, mata em legítima defesa”. Luiz Gama “tornou-se maçom e, nessa sociedade, alargou espaços, libertando homens e realizando planos”, conta Santos. Para ele nas condições dadas, “a caridade é um poderoso elemento de civilização e regeneração social”.

Nelson Câmara destaca também a luta dos caifazes liderados por Antônio Bento, “um movimento revolucionário-guerrilheiro, completamente à margem da lei, impacientemente para alcançar o fim da escravidão”.

Para Lilia Schwarcz “o abolicionismo não foi exclusivamente legal. Existiram grupos como os ‘caifazes’, que, liderados por Antônio Bento, promoviam e incentivavam a fuga direta de cativos. Esse grupo ficou famoso por ter organizado um quilombo (chamado Jabaquara) nas imediações do porto de Santos.” Com o auxílio dos ferroviários, emergentes na época, os caifazes libertavam e transportavam os libertos para Santos.

Antônio Bento liderou o movimento com “caminhos e métodos mais radicais, revolucionários mesmos, para dar fim à escravidão. Curioso é que, em sua pregação, utilizava a fé católica para demonstrar a contradição, comparando os martírios dos escravos aos de Cristo”, afirma Câmara.

Como Antônio Bento, Luiz Gama lutou em várias frentes, na legalidade ou fora dela, como ressalta Câmara. O combate à escravidão não se deu somente pela via da legalidade. Existiram em toda nossa história diversos movimentos de contraposição à opressão escravista. Nomes importantes como o casal Zumbi e Dandara dos Palmares ficaram para a história e transformaram-se em grandes heróis das lutas populares deste país. Luiz Gama está entre eles.

A luta desenvolvida por Luiz Gama foi sumamente importante para o propósito da igualdade na sociedade brasileira. Proposta válida ainda hoje, pois o preconceito racial ainda é forte em nosso contexto. “Luiz Gama lutava simultaneamente em várias frentes, na legalidade ou fora dela”, diz Câmara e afirma: “era a missão de sua vida”.

E, provavelmente por suas propostas avançadas e radicais, chegou a ser taxado, em 1864, de agente da Primeira Internacional Socialista (a Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada e dirigida por Karl Marx), acontecimentos que “respingaram na América escravocrata”, afirma Santos.

Justamente porque Gama foi “o primeiro a compreender a abolição como passo final para a República, unindo logicamente os dois princípios num mesmo anseio de redenção humana e nacional”, afirma Câmara.

E porque como diz Raul Pompéia, Luiz Gama recebia “constantemente em casa aquele mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem esmola: outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhe dera um bárbaro senhor: outros... inúmeros... (...) Toda essa clientela miserável saia satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, um outro a liberdade, alguns dinheiro, alguns um conselho fortificante...”

Para inglês ver

Por precisar de mercados consumidores, a grande potência do século XIX, Inglaterra, passou a combater o escravismo. O trabalho do advogado defensor dos negros baseava-se em um tratado entre Portugal e Inglaterra, que proibiu o tráfico de escravos nas colônias portuguesas. E também na lei de 7 de novembro de 1831, que proibia a importação de africanos.

Já em 1839 era autorizada a apreensão de navios negreiros pelos ingleses e em 1845 os navios brasileiros eram submetidos á jurisdição britânica. A Lei Eusébio de Queiroz, de 4 de setembro de 1850, proibia definitivamente a importação de africanos. Foi quando surgiu a expressão “para inglês ver”, pois essas leis eram normalmente burladas.

Com o endurecimento dos ingleses e a luta intensa travada internamente pelos abolicionistas, “surgiu novo e imundo ‘tráfico interno’, ou seja, de escravos do Nordeste, onde a lavoura canavieira estava decadente, para utilizá-los nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo; primeiramente na lavoura canavieira, depois na cafeeira”, explica Câmara.

Outro conflito de Luiz Gama com a elite escravista ocorreu quando houve a Convenção de Itu (1873), na qual muitos fazendeiros aderiram à República sem mencionar o fim do escravismo. Nela “os republicanos de São Paulo, na maioria fazendeiros recusaram-se, para grande irritação e escândalo do abolicionista Luiz Gama, a incluir a abolição em seu programa, alegando que era assunto dos partidos monárquicos”, diz José Murilo Carvalho.

Gama manteve seus propósitos e seguiu libertando escravos e exigindo o cumprimento das leis. Influenciou a iniciativa da Lei do Ventre Livre e depois utilizou também em seus trabalhos a dos Sexagenários. Mesmo compreendendo as limitações dessas leis. Era a “autoridade moral e intelectual de um negro ex-escravo, que se nivelava a mais alta inteligência jurídica do país”, afirma Câmara.

A morte

No artigo Pela Última Vez, Gama diz que “enquanto os sábios e os aristocratas zombam prazenteiros a miséria do povo, os ricos banqueiros capitalizam o sangue e o suor do escravo... Aguardo o dia solene da regeneração nacional, que há de vir; e se já não viver o velho mestre, espera depô-lo com os louros da liberdade sobre o túmulo que encerrar as suas cinzas.” Parecia profetizar acontecimentos futuros.

Luiz Gama morreu em 24 de agosto de 1882, por causa de seu diabetes. Morreu pobre, mas deixou como legado para as gerações futuras sua determinação e abnegação à causa libertária e de construção da identidade nacional calcada na formação do povo brasileiro.

Deixou uma carta a seu único filho dizendo que “diz a tua mãe... que não se atemorize da extrema pobreza que lhe lego, porque a miséria é o mais brilhante apanágio da virtude. Tu evita a amizade e as relações dos grandes homens; eles são como o oceano que se aproxima das costas para corroer os penedos...” Por isso para Luiz Carlos Santos “retratar Luiz Gama é descobrir como a ousada presença negra no serviço público ajudou a desmontar e a denunciar a quem a justiça do estado imperial efetivamente servia.”

A importância de Gama para a história do Brasil e para as lutas futuras dos movimentos negros é demonstrada em seu féretro em 25 de agosto de 1882, no qual compareceram cerca de 3 mil pessoas, na capital paulista, que na época contava com aproximadamente 40 mil habitantes, ou seja, 7,5% da população. Em comparação com a São Paulo atual, esse número equivaleria a mais ou menos 1 milhão de pessoas no enterro do “advogado dos escravos”.

Na parede da casa onde Gama nasceu em Salvador está afixado: “nasceu livre Luiz Gonzaga Pinto da Gama. Filho de Luiza Mahin, nagô de nação. Escravizado aos 10 aos pelo pai, seguiu para São Paulo. Ali se libertou analfabeto aos 17 anos, autor literato aos 29, encontrou na advocacia o caminho que o levaria às culminâncias da fama. Considerado o maior orador de seu tempo... Sua vida exemplar tornou-o um símbolo de cultura capaz de orgulhar país da mais alta civilização.”

A vida segue em frente

Estudar a vida e a obra de Luiz Gama é importante para a compreensão da consolidação do processo abolicionista no segundo reinado brasileiro e as lutas pela República e pela igualdade racial num país que tem o preconceito de raças profundamente enraizado em sua história escravocrata, principalmente em sua elite, que vira as costas pra o país e se espelha na vida da elite européia ou norte-americana.

A luta desenvolvida por Gama contra a escravidão é a mesma atualidade contra o racismo no Brasil. A defesa da cotas nos bancos escolares e no mercado de trabalho são peças fundamentais para atingirmos a igualdade. “O combate à desigualdade racial exige mais que políticas sociais e precisa ser acelerada por políticas afirmativas que tratem os desiguais de forma desigual para que, no final, a igualdade seja alcançada’, diz José Carlos Ruy.

Afinal um homem vale a sua luta, a sua vida, sua história. É o que fica para a posteridade, é a demonstração de generosidade e solidariedade humana e nesses quesitos todos, Luiz Gama é praticamente imbatível. Um homem também se vale pelo que faz ou pelo que deixa de fazer. Como disse Pitágoras “o homem é a medida de todas as coisas – das que são enquanto (e porque) são, e das que não são (e porque) enquanto não são”. Salve Luiz Gama, um grande herói brasileiro.

*Marcos Aurélio Ruy é jornalista

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia