sexta-feira, 16 de outubro de 2009

 

Tucanagem na USP (ou a privataria vai à universidade)

 

Odair Rodrigues *

O caráter público da Universidade de São Paulo sofre um lento estrangulamento desde a primeira administração tucana de Mário Covas.

A privatização do tripé ensino, pesquisa e extensão vem sendo realizada pelas fundações instaladas na universidade há pouco mais que uma década. Por outro lado, com as verbas vinculadas à arrecadação do ICMS, a comunidade universitária vê seus recursos minguarem porque os sucessivos governos do PSDB reduziram ou isentaram grandes empresas de vários impostos.

O silenciamento daqueles que se recusam a aceitar os ditames neoliberais na academia são constantemente pressionados e até mesmo confrontados diretamente como o professor Kabengele Munanga, respeitado por suas pesquisas e incansável luta contra o racismo.
As organizações sindicais e estudantis sofrem pesada perseguição através de demissões, proibição de reuniões, desocupação judicial das sedes, processos contra as entidades e seus membros.

O extremo aconteceu este ano com a ocupação do campus Butantã pela tropa de choque da PM, que prendeu e feriu professores, funcionários e estudantes em batalhas semelhantes às ocorridas durante a ditadura militar. Prédios foram atacados com gás, helicópteros deram rasantes e balas de borracha foram usadas fartamente onde o deveria prevalecer o debate de idéias.

A professora Suely Vilela, a partir dessa atitude truculenta, passou a ser considerada, pela comunidade universitária, “reitora de fato” assim como Roberto Michelleti é “presidente de fato” em Honduras. Ou seja, tem apenas o apoio dos demo-tucanos e do PIG (Partido da Imprensa Golpista).

O resultado desse desastre político-administrativo reflete diretamente nas atividades acadêmicas. A USP tem paulatinamente perdido qualidade nas avaliações do ensino superior, tanto no Brasil, como no exterior. A universidade, seguindo uma lógica neoliberal, também se afasta cada vez mais da tendência nacional de abrir seu processo seletivo para diversos setores da população: não tem política de cotas, não participa do ENEM e se recusa a ser avaliada por critérios do MEC.

Cada governo tucano de São Paulo imprimiu sua marca nas universidades paulistas, especialmente na USP; Mario Covas implementou a gestão neoliberal, Alckmin ampliou o poder das fundações e reduziu verbas, Serra instaurou a truculência física, política e judiciária nos campi.

É a velha fórmula da privataria, reprimir, fragmentar e depreciar para vender mais barato o patrimônio estatal.

Defender a Universidade de São Paulo como instituição pública é manter a possibilidade de transformá-la em democrática, acadêmica e politicamente, para o povo.
Os brasileiros defendendo seu patrimônio, isso é o que menos deseja a aliança demo-tucana, portanto, combatamos as viúvas do Consenso de Washington no seu ninho paulista.

Em defesa da Universidade Pública, Gratuita, Democrática em São Paulo!

* É professor de língua e literatura no Estado do Paraná, web cronista, poeta, e militante da Unegro e do PCdoB.  Autor do blog Ruminemos: http://ruminemos.blogspot.com

* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.

Com o PCdoB, sim, nós podemos

Luciano Rezende *

Nas vésperas de seu 12° Congresso, um novo acontecimento enche de orgulho todos os militantes do Partido Comunista do Brasil: a escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Tal conquista, somada à realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007 e a eleição da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, é o corolário de um exitoso trabalho e simboliza a diferenciada intervenção comunista no governo Lula através do Ministério do Esporte. De fato, o PCdoB trabalha para o êxito deste governo progressista.

Pela primeira vez, em toda a sua rica história de mais de oito décadas de existência, o Partido do Socialismo ocupa um ministério e mostra a diferença entre as concepções marxista vigente e a liberal passada. Tais feitos seriam imagináveis nos governos entreguistas passados?

Prova cabal desse retumbante sucesso é o rancor e a inveja destilados pela oposição através dos seus jornais. São incapazes de esconder que torceram contra o Brasil. Mais que isso, chegam a ponto de insinuar que somos incapazes de realizar tais eventos e questionam o despertar da consciência e dos valores esportivos entre os brasileiros como algo secundário. Certamente se fosse José Serra nosso presidente (pé-de-pato mangalô três vezes) teria preferido investir na construção de mais cadeias para a juventude (vide o exemplo de São Paulo).

O PCdoB contribui imensamente pela superação daquilo que Nélson Rodrigues chamou de “complexo de vira-latas” (muito bem lembrado por Lula). O abatimento na auto-estima do povo brasileiro, martelado pelas elites que secularmente impuseram uma visão rebaixada da nossa formação, vem recebendo duros golpes. A contra gosto destes, reafirmamos: sou brasileiro e comunista, e não desisto nunca!

Mas a contribuição comunista na construção deste novo Brasil que está florescendo vai além do chamado trabalho “institucional” e é importante destacar a forte presença que tem nos movimentos sociais. O PCdoB deverá ser lembrado como o Partido que liderou o movimento “Fica Lula” em meio ao vendaval golpista desencadeado pelo episódio alcunhado pela grande mídia como “mensalão”. Sobretudo a juventude, liderada pela UJS - que teve destacado papel dentro da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) -, não caiu na cilada dos golpistas que clamavam ironicamente a volta dos cara-pintadas. A juventude comunista pintou a cara no dia 16 de agosto de 2005 e tomou as ruas de Brasília para dizer que estava “com Lula, pelas mudanças, contra a corrupção”.

De igual maneira, a luta de idéias travada pelo Partido vem sendo outra trincheira em defesa da plataforma mudancista. Diante de uma enxurrada de ataques canalizados pela direita conservadora, a palavra lúcida e consequente do PCdoB serve como mais um arrimo na sustentação do atual governo e uma alavanca para impulsionar as mudanças, disputando com as teses reacionárias os rumos políticos do país.

Por tudo isso, o 12° Congresso de PCdoB ocorrerá em um momento singular de nossa história e numa circunstância que nos permite reafirmar que o Partido vem adotando uma linha política correta, merecedora de elogios de diversas partes do mundo, justamente por trilhar um caminho próprio, assentado no marxismo, com as peculiaridades da conjuntura atual e de nossa realidade.

Desse processo congressual, já iniciado há alguns meses, deverá surgir um programa avançado, pautado na superação de novos desafios que se apresentam, e um Partido robustecido para a grande batalha eleitoral do próximo ano em que teremos o desafio de impedir o retorno à presidência da república aqueles mesmos que aviltaram e rebaixaram nossa nação.

Com o PCdoB ainda mais experimentado, calejado nas lutas “institucionais”, sociais e intelectuais, seguiremos em frente. Sim, nós podemos!


* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da direção estadual do PCdoB - MG
* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.

ONU  escolhe Brasil por unanimidade para o Conselho de Segurança

O Brasil foi eleito nesta quinta-feira (15) pela Assembleia Geral das Nações Unidas membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU. Foram 182 votos e nenhum contrário, de um total de 183 países votantes. É a décima vez que o Brasil ocupa um assento eletivo no Conselho - frequência só igualada pelo Japão. O país permanece em campanha por uma cadeira de membro permanente, dentro de uma reforma que democratize o Conselho de Segurança.

Foram também eleitos para o mesmo mandato 2010-2011 a Bósnia e Herzegovina, o Gabão, o Líbano e a Nigéria. O mandato dos novos membros é de dois anos - de 1º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2011.

O Conselho de Segurança estará composto em 2010 pelos seguintes países: Áustria, Japão, México, Turquia e Uganda (que cumprem mandato 2009-2010); Brasil, Bósnia e Herzegovina, Gabão, Líbano e Nigéria (eleitos para o mandato 2010-11), e os cinco membros permanentes, com direito de veto  (China, França, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia).

As prioridades do Brasil como membro eleito do conselho incluem a estabilidade no Haiti, a situação na Guiné-Bissau, a paz no Oriente Médio, os esforços em favor do desarmamento, a promoção do respeito ao Direito Internacional Humanitário, a evolução das operações de manutenção da paz e a promoção de um enfoque que articule a defesa da segurança com a promoção do desenvolvimento socioeconômico.

Mais cedo, antes do resultado, o ministro das Relações Exteriores, Celson Amorim, havia dito que o Brasil se compromete a manter os esforços em favor “da paz internacional”.

Membro fundador da ONU, o Brasil tem tradição de contribuir para as operações de manutenção da paz da Organização. Em 1956, tropas brasileiras foram enviadas à primeira Força de Emergência das Nações Unidas em Suez. Desde então, o Brasil participou de mais de 30 operações de paz das Nações Unidas, engajando nelas cerca de 20 mil homens.

Atualmente, o Brasil contribui com mais de 1.300 soldados, observadores militares e policiais em três continentes. O maior contingente está no Haiti, onde um general brasileiro exerce o comando militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), integrada por 17 países. O Brasil foi membro do Conselho de Segurança em nove biênios (1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-64, 1967-68, 1988-89, 1993-94, 1998-99 e 2004-05).

Com informações da Agência Brasil
16 de Outubro de 2009 - 0h43

“Anticristo”: Da mulher como ser histórico

Cloves Geraldo *

Em filme que trafega pelos gêneros suspense e terror psicológico, diretor dinamarquês, Lars von Trier, põe em discussão a permanência dos arquétipos que bloqueiam o entendimento do papel da mulher na sociedade moderna

“A natureza é a igreja do diabo”, diz Ela (Charlotte Gainsbourg) a Ele (Willen Dafoe) numa das cenas significativas de “Anticristo”, do dinamarquês Lars von Trier. Diz mais sobre todo o filme, que outras frases, não menos emblemáticas da trama. Em princípio pode-se pensar na floresta, com seus intricados códigos e ritos. Depois, com os obstáculos que surgem diante de do psicoterapêuta Ele, a frase expande o significado e o espectador percebe que se trata da natureza humana. Esta sim traz em si o arcaico que domina o ser humano. E emerge, muitas vezes, com uma multiplicidade de conteúdos. Dentre eles, o difícil equilíbrio entre a aceitação do outro e a superação dos instintos primitivos, que a religião ainda enseja. Eles surgem quando Ele mergulha não no inconsciente de Ela, mas no que esta constrói a partir das referências do sagrado e dos arquétipos da sociedade medieval, que ainda sobrevivem.
Pode parecer intricado, hermético, pelo contrário, Lars von Trier (“Dogville”, “Manderlay”) dota seu filme de uma trama cheia de suspense e de reviravoltas que mantém o espectador aceso. Parte de uma sequência quase banal, do casal Ele/Ela (o diretor não dá nome aos personagens) em pleno êxtase, enquanto o filho despenca da janela do apartamento. Uma mescla de inocência e prazer, que redunda em depressão e descontrole. A perda, em princípio, é o centro da trama. Ela é internada. Ele, mesmo com a resistência do médico da mulher, decide cuidar dela. Usa, para isto, o arcabouço da psicoterapia comportamental cognitiva, que aos poucos se mostra insuficiente. Existe sob aquele ser aparentemente depressivo outras camadas a serem desvendadas. E ele só o descobrirá ao levá-la para a cabana que eles possuem em plena floresta. Ali, entre árvores, plantas, rio e animais, cada gesto, atitude e reação irão mostrar-lhe a pessoa antes submersa.

Técnicas de psicoterapia revelam-se insuficientes

Existe uma mulher, Ela, com seus conflitos interiores, gerados pela perda do filho, e outra, mulher, Ela, cujo mundo exterior é revelado pelo entorno: floresta, animais, gravuras, escritos e reações. Enquanto ela luta contra sua depressão, projetando no marido seus impulsos destrutivos, ele ainda entende e tenta ajudá-la a superá-los. Mas quando ele descobre seu outro universo, Ele, ainda que psicoterapêuta; se perde. Seus parâmetros são insuficientes. Ele o percebe ao estar diante da corça em pleno parto, de pé, a fitá-lo; ou ao ver o pássaro, recém-nascido, ser devorado pelas formigas. E a raposa ensanguentada dizer-lhe: ”Reina o caos”. Existem leis próprias da natureza que não se harmonizam ou ao fazê-lo projetam um equilíbrio de difícil compreensão para Ele. Tudo se complica, quando Ele descobre que ela, que pesquisava para escrever uma tese sobre a execução de mulheres nas fogueiras da Idade Média, deixou o trabalho inconcluso.

Ele se vê diante de outra pessoa – Ela acumulou evidências sobre a permanência do arcaico na natureza humana. Tem a ilustrá-lo gravuras, pinturas e escritos. Isto ilustra quem ela própria é: dotada de instintos primitivos, dos quais ainda não se livrou. Vê-se, assim, incapaz de prosseguir o trabalho, pois se defronta com o próprio papel da mulher na sociedade medieval, que, malgradas as conquistas, ainda permanece - de reprodutora, de fonte de prazer, na qual se projetam o fetichismo, o desejo e a castração – esta configurada na ausência de pênis. Ele defronta-se, assim, com o desconhecido, algo para o qual não está preparado – a natureza em sua inteireza é maior e mais complexa do que suas técnicas terapêuticas. O gavião, ao comer o pássaro em formação, o mostra – ali não existe a complacência, a harmonia é ditada pela natureza do gavião – que se alimenta do que está à disposição, sem considerações éticas, morais ou conveniência.

Perda do filho se transforma em ódio

Daí fazer sentido a frase: “A natureza é a igreja do Satanás”. Todas as considerações sobre a construção da sociedade humanista, igualitária, pós-idade Média, caem no vazio. Os conflitos interiores, ditados pelo arcaico, permanecem. Se na sociedade medieval, controlada pela Igreja Católica, o papel da mulher era de ser apenas reprodutora, qualquer manifestação de desejo ou de autonomia, era punido com a fogueira. E a natureza aqui é identificada com o pecado; o que merece ser punido com o fogo, símbolo do inferno, reino de Satanás. Nestes termos o prazer é uma forma de pecado – enquanto o casal o desfrutava, o filho caia da janela. A autopunição de Ela se encaixa plenamente nestes parâmetros. Atestando a incompreensão que Ele, psicoterapêuta, tem da realidade construída (a sociedade de classe, com papéis definidos), mas que guarda seus arquétipos e ethos primitivos.

A incompreensão do papel histórico da mulher, revelado por suas manifestações exteriores (cartazes, desenhos, textos, a floresta e os animais), muda a maneira como Ele vê sua companheira. Aquela a quem queria tratar e curar; passa a ser empecilho para sua sobrevivência. Estabelece-se um conflito de vida e morte entre ambos. Lars von Trier encena-o em sequencias intensas, em que os papéis se invertem – ele que era passivo se torna ativo e vice versa. A paixão se transforma em ódio - um enxerga o outro como inimigo, a quem deve eliminar. Situações adversas à de “Império dos Sentidos”, quando Nagisa Oshima encena a castração, como resposta da amante ao desvario sexual do amado, e Ingmar Bergman a mutilação da genitália feminina, como símbolo da impotência da solitária moribunda, em “Gritos e Sussuros”. Ambos tratam do desejo, do prazer, enquanto Lars von Trier remete o espectador ao conflito entre o arcaico e o papel histórico da mulher.

Psicanalista analisa papéis dos parceiros

O psicanalista Sérgio Telles, em artigo para o Jornal “O Estado de São Paulo” (1) faz um leitura psicanalítica do conflito entre Ele e Ela. “Para a psicanálise, a destruição e a sexualidade são as duas forças em permanente conflito que movimentam o psiquismo. Elas são simbolizadas e estruturadas em dois momentos cruciais – nas vivências primárias com a mãe e, posteriormente, na configuração triangular edipiana. Para que a transição do primeiro para o segundo momento possa chegar a bom termo, é imprescindível que o sujeito passe pela castração simbólica, que o faz sair da relação indiscriminada e fusional com a mãe e aceitar o outro, com suas diferenças, entre elas e da maior relevância, a diferença sexual. Cada sexo passa de forma específica por este processo”.

“A partir deste contexto, no inconsciente, o homem tem dois motivos para temer a mulher. O mais recente em termos de desenvolvimento é o decorrente justamente da castração, cujo terror lhe é evocado pela visão do genital feminino. O outro motivo do temor que a mulher inspira no homem é mais arcaico e não é o medo da castração e sim o medo da aniquilação, da morte. Tal medo decorre de vivências muito precoces adquiridas pela criança no contato com uma mãe imaginada como não submetida à Lei, detentora de um poder absoluto, arbitrário e imprevisível, ao qual ela está completamente exposta em seu desamparo (...)”.

“Assim, quando a raposa diz para Ele que “O caos reina”, estaria se referindo ao caos do reino das mães, o caos da ausência da Lei paterna, o caos das organizações mais primitivas do inconsciente que subjaz sob a superfície consciente, racional, lógica. A enigmática cena final, na qual aparecem muitas mulheres na montanha onde ele está; talvez indique que, apesar de ter ele se livrado da mulher-mãe-bruxa, não pode mais escapar de seu poder, que retorna multiplicado. Não lhe restam mais saídas, está aprisionado no reino das mães, da natureza, da violência e da loucura”.

Filme envereda para o terror psicológico

Nestas sequências definidoras da trama em constante refundir, retirando delas significados que reforçam o entendimento do espectador, frente aos impasses de Ele, Lars von Trier envereda para o terror psicológico. Não se sabe de onde vêm as figuras que brotam da floresta – ele está cada vez mais fragilizado. As ferramentas que o tornavam tão seguro, agora o confundem. As reafirmações dela de que esteve sempre ausente, mesmo quando estava ao lado dela e do filho, se mostram verdadeiras. Ele nunca compreendeu o sentido histórico de seu papel enquanto mulher. Não é o físico, a fonte do desejo, ela é mais do que isto. Neste ponto, a narrativa se bifurca – Lars von Trier, roteirista, reforça o papel histórico dela, mulher, e as mudanças processadas e a processar. Fato para os quais Ele não atentou.

E o terror psicológico perde o sentido. Não é o terror em si, mas o simbolismo deste gênero, que leva ao transcendente, ao que foge ao entendimento de Ele. Lança, por isto, mão do sobrenatural. Justamente o que fazia a Igreja Católica durante a idade Média, ao identificar a mulher com o satanismo, notadamente quando entrava em seu ciclo menstrual. Daí a necessidade de eliminar o satanismo, a bruxaria, a fonte do sangue, e queimá-la na fogueira. Ele termina por chegar à mesma conclusão nestes tempos tecnológicos, confirmando a permanência do arcaico, do primitivo. Ainda que se veja a supremacia masculina no desfecho de “Anticristo”, ela tem um quê de enigma, de desarticulado. Sozinho, Ele é um ser perdido, incompleto. Ele só poderá ser o homem total, pleno, se conviver historicamente com Ela. Do contrário, viverá em permanente estado de perplexidade e ignorância.

Diretor faz novo uso do psicodrama

Nos rostos dos atores, cujos nomes dos personagens foram abstraídos, se estampa a tragédia. Com suas rugas e saliências, eles se entregam à encenação com intensidade. Não uma encenação qualquer; têm se ressaltar cada emoção contida ou desbragada, de horror total ou frustração, de ódio pelo outro ou instante de paixão. O psicodrama, tão usado nos anos 60, ressurge com outra leitura: a de que o naturalismo não se presta à discussão colocada na tela. Isso cria a tensão entre Ele e Ela. Eles se caçam, se agarram e se entregam um ao outro, no exato instante em que também se mutilam. A câmera de Trier os acompanha sem se intrometer, se mostrar, ela registra e registra e registra as reações deles em completa integração com o cenário rústico, descarnado; sendo os grandes espaços tão assustadores, quanto os da cabana onde Ele e Ela se digladiam.

Todas estas questões ilustram a perda, a dor, o vazio, e o desconhecimento que a sociedade tem da mulher, enquanto ser social, histórico. Não é uma tese que busca comprovar seu papel na sociedade moderna, tão só uma atitude do diretor perante a situação de gênero vivida pelas mulheres no Primeiro Mundo. Um tipo de mulher, classe média, cuja experiência é adversa à da africana, da asiática e da sul-americana de baixa renda. Os arquétipos, porém, são os mesmos. Talvez o filme choque alguns segmentos sociais, desacostumados ao cinema de Lars von Trier, dada à crueza de várias sequências. No entanto, é de choque em choque que se evolui – não se pode correr das ondas, quando estão à sua porta. Mergulhe. Vale a pena!


“Anticristo” (“Antichrist”). Terror psicológico. Dinamarca/Alemanha/ Polônia/ França/Itália. 2009. 109 minutos. Roteiro/Direção: Lars von Trier. Elenco: Charlotte Gainsbourg, Willem Dafoe.
(1)Telles, Sérgio, O Caos no “terrível reino das mães”, Caderno 2, Cultura, O Estado de São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009, pág. D12.






* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".
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Saramago chama Igreja de "reacionária" e acusa Bento XVI de "cinismo"

Roma, 14 out (EFE).- O escritor português e Nobel de Literatura (1998) José Saramago chamou o papa Bento XVI de "cínico" e disse que a "insolência reacionária" da Igreja precisa ser combatida com a "insolência da inteligência viva".


"Que Ratzinger tenha a coragem de invocar Deus para reforçar seu neomedievalismo universal, um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual" desta pessoa, disse Saramago em um colóquio com o filósofo italiano Paolo Flores D'Arcais, que hoje lança "Il Fatto Quotidiano".
Saramago, por sua vez, encontra-se na capital italiana para divulgar o livro "O Caderno" e se reunir com amigos italianos, como a vencedora do Nobel de Medicina Rita Levi Montalcini (1986).
No colóquio com Flores D'Arcais, Saramago afirmou que sempre foi um ateu "tranquilo", mas que agora está mudando de ideia.
"As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só tem interesse no poder", afirmou.
Segundo Saramago, a Igreja não se importa com o destino das almas e sempre buscou o controle de seus corpos.
Perguntado se o pouco compromisso dos escritores e intelectuais poderia ser uma das causas da crise da democracia, o escritor disse que sim. Porém, disse que este não seria o único motivo, já que toda a sociedade encontra-se nesta condição, o que provoca uma crise de autoridade, da família, dos costumes, uma crise moral em geral.
Saramago destacou que o fascismo está crescendo na Europa e mostrou-se convencido de que, nos próximos anos, ele "atacará com força". Por isso, ressaltou, "temos que nos preparar para enfrentar o ódio e a sede de vingança que os fascistas estão alimentando".
A visita de Saramago a Roma acontece a um dia do lançamento do seu mais novo livro "Caim", no qual volta a tratar da religião. EFE


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O ANTICOMUNISMO DA VEJA

Na mesma edição em que reafirmou a sua simpatia pelos golpistas hondurenhos e que criticou o “imperialismo megalonanico” da diplomacia brasileira por garantir refúgio ao presidente deposto Manuel Zelaya, a revista Veja desferiu um ataque primitivo contra vários partidos de esquerda do Brasil. A exemplo do fascista Roberto Micheletti, que disse em entrevista recente que o golpe em Honduras foi dado “porque Zelaya colocou comunistas no seu governo”, a famíglia Civita, dona deste panfleto rastaqüera, também parece que perde o sono com medo do “fantasma comunista”.

“O socialismo não morreu (para eles)”. Com este título jocoso, a revista retomou um dos bordões que inaugurou a onda neoliberal no final dos anos 1980. Na época, Francis Fukuyama, consultor do governo dos EUA, decretou o “fim da história”, argumentando que o socialismo estava morto e que não haveria mais alternativas à democracia burguesa e ao livre mercado. Mas esta bravata não durou muito tempo. O neoliberalismo aguçou as contradições do capitalismo, resultando na queda de Wall Street (o muro dos rentistas) e numa das piores crises deste sistema. Apesar disto, a Veja insiste na sua cegueira ideológica, talvez apavorada com o avanço das idéias marxistas.

Um patético tucaninho

O texto reflete este temor, inclusive nas suas ironias trogloditas. “Um fantasma ronda a América Latina: o fantasma do comunismo. Pelo menos é o que acreditam os militantes de um punhado de partidos nanicos de esquerda que ainda sobrevivem na política brasileira. Para esse pessoal, não há nada mais importante do que impedir que as idéias de Karl Marx sejam devoradas pelo fungo e pelo bolor. Os esquerdistas radicais formam um grupo tão curioso quanto inofensivo”, dispara. O próprio uso de duas páginas da revista, que renderiam uns R$ 420 mil em publicidade, evidencia que a famíglia Civita teme a crescente influência do marxismo na América Latina.

Para confundir seus leitores mais tacanhos, a matéria mistura partidos de diferentes concepções, como PCdoB, PSOL, PSTU, PCO e PCB. Para todos, ela abusa nos adjetivos hidrófobos e pinça frases fora do contexto. Afirma que o PSOL é “um balaio de gatos”, que o PCB é comandado por Ivan Pinheiro, “o terrível”; e que o PSTU prevê que “[a revolução] está chegando e nós estamos preparados”. Quanto ao PCdoB, ela tenta ridicularizar um sensato pensamento do seu presidente, Renato Rabelo. “Quando a União Soviética desabou, houve quem achasse que o socialismo tinha morrido. Que nada. Só alguém sem visão histórica pode pensar assim... O capitalismo levou 300 anos para superar o feudalismo. O marxismo tem pouco mais de 100 anos de existência”.

A “reporcagem” da Veja não apresenta qualquer informação jornalística. É pura ideologização direitista. O seu objetivo é desqualificar as esquerdas. “As idéias disparatadas desses partidecos dão certo colorido à democracia brasileira, nada mais. Ao sonharem com o pesadelo da restauração socialista, seus militantes conseguem apenas criar para si próprios uma imagem folclórica... O socialismo não voltará à vida. Está morto e enterrado”, decreta o repórter Fabio Portela, o mesmo que numa edição de agosto bajulou o governador tucano Aécio Neves. Este patético e folclórico “jornalista”, seguidor de Diogo Mainardi, deve realmente temer o avanço das idéias socialistas! 
 

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Manifesto 2009

Pelo direito de decidir das mulheres

Fatima Oliveira *

É odioso satanizar quem não deseja a maternidade. A liberdade reprodutiva das mulheres é violada de diferentes formas nos países que conservam a excrescência imoral e antidemocrática de criminalizar o aborto, onde também são gritantes as violações aos direitos sexuais - a antiga pretensão de impedir o direito ao prazer.

Um governo que aceita passivamente que um procedimento médico seguro, como o abortamento, seja proibido e criminalizado num país em que o aborto seguro é um privilégio de classe, como no Brasil, merece que nome?

A campanha 28 de Setembro - Dia pela Despenalização do Aborto na América Latina e Caribe lançou o Manifesto 2009, no qual consta que "milhões de mulheres em todo o mundo continuam a sofrer graves lesões e traumas e mais de 66 mil morrem a cada ano em abortos inseguros, e outras são criminalizadas ou presas".

O Manifesto 2009 é um alerta à sociedade e aos governos que destaca os danos a vidas plenas, decorrentes dos impedimentos ao livre arbítrio das mulheres quando necessitam interromper uma gravidez. O chamado à ação "Chega de violações aos nossos direitos" aponta a causa básica da maioria das gestações não planejadas: a irresponsabilidade masculina quanto à sua sexualidade e reprodução.

O documento avalia avanços mínimos na América Latina e no Caribe e centra na análise das ameaças e dos retrocessos - "consequências da pressão de grupos religiosos fundamentalistas e da complacência da maioria dos governos, que se curvam à Igreja Católica e às lideranças evangélicas, ignorando mandatos constitucionais e sua própria cidadania", sabotando assim a laicidade do Estado. Que nome merecem tais governos?

O manifesto exige políticas de atenção integral à saúde para reduzir a morbimortalidade materna; o fim das ameaças de religiosos contra servidores públicos; a erradicação da obediência religiosa de legisladores, juízes e políticos; o direito à informação e aos meios para evitar a gravidez indesejada; a difusão de tecnologias para o aborto seguro; a permanente formação dos recursos humanos dos serviços de saúde para o atendimento ao aborto; e a manutenção do sigilo profissional na atenção às complicações do aborto inseguro.

As feministas do mundo lutam pelo acesso universal aos serviços de saúde; atenção integral de qualidade; direito ao aborto legal e seguro; pela democracia, liberdade e justiça social e pelos direitos humanos das mulheres, incluindo o direito de decidir. Na luta "por uma sociedade que não se cale frente aos abusos contra a liberdade de escolha das mulheres", a que as mulheres conscientes aspiram?

A apenas respeito, pois sonham viver em sociedades nas quais a maternidade seja exclusivamente voluntária. Traduzindo: que todas as crianças sejam desejadas. É odioso santificar a maternidade imposta e satanizar quem não a deseja naquele momento. Eis porque não voto em antiaborcionistas nem para síndico de prédio!

No Brasil, que já vive os ares das eleições presidenciais de 2010, é um dever feminista não sucumbir aos discursos que visam nos engabelar. A defesa do direito ao aborto é suficientemente importante para constar da agenda eleitoral, não apenas pela magnitude de sua ocorrência ou porque ceifa a vida das mulheres com recorte de classe - morrem mais as pobres, as negras e as jovens. No essencial, é porque a garantia da liberdade reprodutiva é um dos esteios dos Estados democráticos. Candidatura contra o direito ao aborto não merece o voto das mulheres que têm a democracia como um valor.

* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009




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Walter Sorrentino: "lutamos por um socialismo brasileiro"

 Walter Sorrentino - debate das teses - setembro de 2009Na avaliação feita pelo secretário de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, o caminho para se alcançar esse terceiro salto civilizacional da história brasileira (o socialismo) depende da formação de quadros comprometidos com a linha partidária e que estabeleçam as ligações necessárias entre a direção e as bases. Para ele, sem uma eficiente política de quadros, “o partido viverá um impasse estrutural”.

A afirmação foi feita durante ciclo de debates ocorrido na sede do Comitê Central, em São Paulo, nos dias 14 e 15.
O evento reuniu lideranças comunistas que atuam nos movimentos sociais. Ele defendeu a valorização dos quadros partidários, essenciais para o que chamou de "luta por um socialismo brasileiro" que poderá ser alcançado por meio da implantação de um novo projeto nacional de desenvolvimento para o país.

Língua dissociada da realidade

Ao iniciar sua apresentação sobre política de quadros, Walter Sorrentino fez um breve histórico a respeito da concepção de partido comunista. Ele criticou o fato de muitas dessas organizações não terem levado em conta o contexto nacional de seus países ao buscar a implantação do socialismo. “Os partidos leninistas, fruto da 3ª Internacional – como o PCdoB – foram forjados em função desse pensamento estratégico e tal formato se tornou um paradigma absoluto e universal. Muitas vezes, eles falavam uma língua única, dissociada da realidade de seu país”.

A crítica do dirigente se atém principalmente ao fato de que todo processo de transformação social deve ser historicizado e adaptado às necessidades locais. “Essas formulações acabaram sendo transformadas em normas, que por sua vez tornaram-se cláusulas pétreas. E o tema “partido” tornou-se uma espécie de último reduto de renovação, gerando uma série de dogmatismos”.

Segundo ele, o tema partidário deve estar baseado em uma estratégia e não apenas na teoria. “Devemos organizar o partido para que cumpra uma estratégia, um programa e jamais a estratégia esteve tão amadurecida no seio do PCdoB. A nossa estratégia é combinar a luta democrática e social, patriótica, soberana e antiimperialista como a luta brasileira pelo socialismo; neste sentido, o novo projeto nacional de desenvolvimento é o caminho”.

Segundo sua formulação, o núcleo da estratégia do PCdoB é “alcançar a hegemonia” e o partido “é como um instrumento para construir um bloco político histórico que alcance a hegemonia, dentro do qual o PCdoB também atinja a sua liderança”. O objetivo é “fazer com que os trabalhadores sejam a classe dominante”.

Para isso, salientou, “é preciso um longo processo que engloba a luta política, social e de ideias, luta esta que se trava dentro e fora dos governos, nas ruas e nas academias, na cultura e nas ciências. Essa luta não pode recusar nenhum terreno”.

Dar conta dessa meta exige, conforme constatação do dirigente, “um partido grande, de massas e forte política e socialmente; precisa, em outras palavras, representar o nosso povo”. No partido, a base para se alcançar esse patamar deve ser formada essencialmente pela a consciência e a teoria marxista-leninista e o caráter classista e militante. “Um partido comunista de massas precisa de organicidade desde a base para ter coesão política. Se não, vira um bando de correligionários. Além disso, é preciso uma forte estrutura de quadros que será uma das pilastras dessa coesão e pré-condição para a governabilidade do partido”.

Centralidade da política de quadros

Dentro desse contexto, o documento apresentado por Walter Sorrentino segue estabelecendo a necessidade se investir numa política de quadros que tenha centralidade no projeto partidário. “Isso é uma exigência da vida partidária e não um luxo; política de quadros é a essência do partido”, destacou. Segundo ele, PCdoB é “um celeiro de quadros políticos”, porém há “muita inconstância e muitos não são fidelizados”.

O dirigente ressaltou que “o PCdoB vingou, cresceu e se desenvolveu mesmo com a crise do socialismo e isso é fruto desses militantes comprometidos. Mas precisamos de um novo modo de lidar com os quadros, de galvanizar compromissos. Precisamos de uma multidão de quadros, para liderar nossa luta na sociedade, unir a esquerda para unir o povo”. Ele chamou atenção dos militantes presentes ao debate para a necessidade de se quebrar dogmatismos. “Isso muitas vezes nos leva a querer encaixar a vida numa fórmula pré-determinada”.

Além do combate ao dogmatismo, Sorrentino enfatizou a necessidade de se combater o corporativismo, o liberalismo – “que leva a compromissos frouxos” – e o pragmatismo. “Podemos, com a continuidade do ciclo aberto por Lula, atingir mais de 400 mil membros. E como governa-los?”, questionou. A resposta, conforme afirmou, está no maior investimento nos quadros. “No Brasil, ainda somos muito pequenos. Precisamos crescer num contexto de desmoralização da política, dos partidos e da militância. Precisamos atravessar esse deserto sem desidratar”.

A resposta para esse desafio está, de acordo com o dirigente, nas propostas apresentadas pelo documento sobre política de quadros. Resumidamente, são três objetivos políticos essenciais: lidar com a formação da nova geração dirigente para os tempos atuais e para o futuro; garantir organicidade à militância partidária, com quadros intermediários para organizar o partido desde a base e absorver quadros que não estão na estrutura formal do partido e espalham-se por movimentos sociais variados, na academia, nas artes etc. “Somos um partido perene, secularizado, que não aparece só nas eleições e por isso precisa de militância. Temos de ter uma pauta e uma agenda concreta porque as bases não funcionam no abstrato”, afirmou.

No que tange a formação desses quadros, Sorrentino salientou que é necessário “fidelizar os quadros ao projeto do partido; valorizar a ligação com o partido por questão de consciência e não de moral e, mesmo considerando que somos um coletivo, atentar para as potencialidades individuais”. Os quadros, colocou, “precisam de renovação, de qualificação, de especialização e de representação junto à sociedade”.

Finalizando sua apresentação, Sorrentino concluiu: “mudanças de cultura político-organizativa levam tempo; são batalhas de ideias que se dão dentro do próprio partido. Mas, queremos um PCdoB grande, que se aventure nesse terreno da nova luta pelo socialismo e para isso, os quadros são essenciais”.


De São Paulo,
Priscila Lobregatte

Priscila Lobregatte
 
 
 
Protógenes Queiroz - ato de filiação - 07/09/09
 
Protógenes comemora novo passo




Filiação: O Brasil tem pressa. Temos de agir, reafirma Protógenes

Foi com sabor de lançamento de candidatura que aconteceu em São Paulo nesta segunda (7), Dia da Independência, o ato público de filiação de Protógenes Queiroz ao PCdoB. Mais de 500 pessoas lotaram o auditório da Unip para saudá-lo. Ainda não há definição sobre a que cargo concorrerá, mas ele deixou claro que quer unir diversos setores da sociedade para enfrentar as questões que julga serem as mais graves no país: a corrupção e a desigualdade social. “O Brasil tem pressa. Temos de agir”, disse.

No final do ato, o delegado mais uma vez recebeu a visita de um agente da justiça. Desta vez o funcionário, que preferiu não se identificar, entregou-lhe uma queixa-crime movida pelo atual ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, devido à entrevista dada por Protógenes à revista Caros Amigos em dezembro do ano passado. Naquela edição, o delegado dizia que Stephanes, quando presidente do Banestado do Paraná, teria usado cheque pessoal para pagar fiança (de R$ 500 mil) de Vitor Hugo Nunes, envolvido com lavagem de dinheiro.

“Falei verdades consubstanciadas em provas”, explicou o delegado afastado da PF. E completou dizendo que “os sucessivos os atos de constrangimento têm se intensificado; isso demonstra a intenção desses setores que são minoritários na República. Mas no momento certo, a população vai dar a resposta que essa gente merece; 2010 está chegando”, declarou. Na semana passada, em coletiva de imprensa, Protógenes foi notificado a respeito de reabertura de processo administrativo movido a partir de ação de Paulo Maluf.

Protógenes disse ainda que “está cada vez mais estreito o meu espaço como agente público dentro da Polícia Federal” e que “meu caminho agora é o da vida político-partidária brasileira”. Questionado sobre o foro privilegiado que teria caso se candidate e vença as eleições para o parlamento, declarou: “não sou bandido, sou contra a imunidade parlamentar. Quando serve para proteger contra qualquer ação judicial, não é imunidade, mas impunidade parlamentar”. Ele disse ainda que hoje muitos quadros da Polícia Federal seguem seu caminho. “Diria que 99,9% dos colegas da PF estão imbuídos desse mesmo espírito, haja vista que o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Cláudio Avelar, também se filiou ao PCdoB”.

“Comunista, graças a Deus”

Falando ao público ainda durante o ato, Protógenes Queiroz brincou: “sou comunista, graças a Deus”. E ressaltou o papel do vereador Jamil Murad em sua decisão de se filiar. “Ele plantou essa semente”, contou. Lembrando ter participado do Grito dos Excluídos, durante a manhã, o delegado declarou que “neste dia 7 de setembro, quero começar meu trabalho para incluir os excluídos juntamente com o PCdoB e diversos setores da sociedade”.

Ao lado de representantes da maçonaria, de católicos e de ateus, o delegado defendeu “amplas alianças” para transformar estruturalmente o país. “O problema é que hoje os recursos não chegam a quem realmente precisa. Estou aqui hoje como quem responde ao chamado daquela música que diz: ‘foram me chamar, eu estou aqui o que é que há’”, colocou, lembrando da canção de Dona Ivone Lara. E parafraseou: “vocês me avisaram para pisar nesse chão político devagarinho”.

Lembrando os pontos de convergência entre os comunistas e a atual gestão federal, Protógenes disse que o “PCdoB cumpre seu papel ao apresentar um projeto de nação ao presidente Lula”. E ressaltou que “a proposta que o presidente encaminhou para o Congresso Nacional sobre o pré-sal consta em resolução do Comitê Central do PCdoB”.

O programa e nada mais

Renato Rabelo, presidente do PCdoB, contou como foi o processo de cerca de três meses que resultou na filiação de Protógenes. “Conversamos abertamente e apresentamos o nosso programa (socialista), não mais do que isso”. Para o dirigente, a “existência do PCdoB é uma exigência histórica”. Ele enfatizou que “não somos uma legenda de ocasião, de eleição, mas um partido que se dedica permanentemente à luta dos trabalhadores, do povo e da nação. Este encontro demonstra a responsabilidade mútua que tanto o partido quanto Protógenes têm com o projeto que defendemos”.

Para Rabelo, o delegado demonstrou que “é uma liderança de ideias, comprometido com o nosso país”. Ele criticou ainda o que julga ser um dos principais problemas do Brasil: “precisamos renovar nossas instituições porque ainda há partes podres, setores antidemocráticos e precisamos limpá-las. Foi isso que Protógenes começou a fazer com seu trabalho na Polícia Federal, uma luta contra os colarinhos-brancos, gente que acumula riqueza à custa da exploração dos demais, da especulação”.

Segundo o dirigente, “Lula iniciou um projeto nacional, mas ainda há obstáculos a serem superados”. Por isso, explicou que “2010 é uma espécie de encruzilhada em que ou o país avança continuando no caminho das mudanças, ou esse ciclo poderá ser interrompido”. Rabelo defendeu a “união de forças avançadas comprometidas com esse projeto” e disse que Protógenes “tem inserção em setores diferenciados da sociedade”. Por fim, colocou que “sua entrada nas fileiras do PCdoB nos fortalece e nos incentiva. Vamos juntos mudar o Brasil”.

Também saudaram a filiação de Protógenes Queiroz a presidente do PCdoB-SP, Nádia Campeão; o ministro do Esporte, Orlando Silva; o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE); a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG); os deputados estaduais Álvaro Gomes (PCdoB-BA) e Pedro Bigardi (PCdoB-SP); o vereador Jamil Murad, o presidente da UNE, Augusto Chagas; o vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana; o presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo, Sérgio Roque e Benedito Marques, da Maçonaria Unida por São Paulo, entre outros.


De São Paulo,
Priscila Lobregatte



Honduras: a diplomacia rancorosa da direita

A camarilha civil e militar que assaltou o poder em Honduras apostava que a demora na solução da crise política levaria a comunidade internacional a "esquecer" o problema. E que o processo eleitoral fajuto previsto para novembro "legitimaria" a presença de seu grupo político no poder. Mas o retorno inesperado do presidente Manuel Zelaya ao país jogou por terra os planos da oligarquia, que agora se sente ameaçada e acusa o Brasil de ingerência em assuntos internos pelo fato de Zelaya ter buscado abrigo na embaixada brasileira.

No Brasil, os golpistas têm apoio em setores da mídia e da direita que, não podendo fazer o que gostariam - defender abertamente os gorilas sob o risco de também serem tachados de golpistas - tentam qualificar a situação como fruto da política externa dirigida por Celso Amorim.

Mas os fatos não combinam com as versões da direita tupiniquim. O mais notório é o isolamento dos golpistas hondurenhos, que não são reconhecidos por ninguém em todo o mundo e enfrentam a exigência unânime pela volta imediata de Zelaya à presidência.

Diante desse isolamento, só mesmo os direitistas mais obtusos, saudosistas das ditaduras militares, defendem publicamente o golpe, ruminando um discurso anticomunista caduco, mas preocupante. Nesse sentido, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, tem razão ao acusar os que se opõe à conduta do Brasil no episódio como simpatizantes dos golpistas.

A oposição neoliberal alimenta, contra o governo Lula, um rancor sem fronteiras. Os oposicionistas não se preocupam se a bandeira nacional está sendo conspurcada no afrontoso cerco à nossa embaixada em Tegucigalpa. Não lhes comove o risco de uma guerra civil naquele país, nem se incomodam com as graves violações aos direitos humanos, típicas da direita, praticadas pelo governo golpista.

Tentar desgastar o governo Lula é o que importa para nossa direita troglodita. Chega a ser patético ver expoentes do PPS, como Roberto Freire e o deputado Raul Julgmann, ou os senadores tucanos Eduardo Azeredo e Arthur Virgílio, ou ex-diplomatas alinhados com Fernando Henrique Cardoso, atacando a postura do Brasil nesta crise. Parece que o problema não são os golpistas, mas o refúgio do presidente legítimo na embaixada brasileira em Honduras!

Os argumentos toscos da direita mal disfarçam a dor de cotovelo de uma elite que vê o governo do operário Lula assumir uma posição geopolítica jamais alcançada pelos governantes anteriores, principalmente sob FHC. Hoje, o Brasil é elogiado, ouvido e respeitado em todos os principais fóruns e organismos internacionais, e sua liderança reconhecida.

Sob Lula, a presença internacional do Brasil é muito diferente da época em que o chefe do Itamaraty aceitava tirar os sapatos para poder entrar nos Estados Unidos. É por privilegiar as relações sul-sul, especialmente com os países da América Latina, que o Brasil passou a ser apontado como liderança regional, cooperando com governos de caráter popular e progressista da região e rechaçando as velhas práticas imperiais e colonialistas que tanto mal causaram ao nosso continente.

É por reconhecer esta liderança qualificada que Zelaya buscou abrigo em nossa embaixada ao retornar ao seu país. O Brasil não reivindicou essa posição de peça chave no tabuleiro da crise hondurenha. Mas as circunstâncias fizeram com que isso acontecesse. E nossa diplomacia está agindo corretamente ao buscar amplo apoio internacional para ajudar a solucionar a crise no país centro-americano. Com a clareza de que a verdadeira resposta para a situação não depende do Brasil, nem de organismos internacionais, mas da vontade do povo hondurenho, espera-se que este tire proveito deste trágico episódio de sua história para fortalecer sua organização popular e suas instituições democráticas.


Editorial Vermelho


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Memorial na PUC-SP homenageia estudantes mortos pela ditadura

Em “direito à memória e a verdade” cinco acadêmicos mortos no período da ditadura militar no Brasil foram homenageados por um memorial instalado no teatro TUCA, da PUC-SP, em evento ocorrido nesta terça-feira, 22 de setembro, data que marca a invasão da PUC ocorrida há 32 anos pelos militares.

Estudantes mortos pela ditadura são homenageados com memorial em SP

Presidente da UNE, Augusto Chagas (e.), fala durante o ato de inauguração do memorial


O evento foi organizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR) em parceria com a PUC-SP, contando também com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). O memorial inaugurado faz parte do projeto “Direito à Memória e a Verdade” da SEDH/PR, iniciado em 2006.

Para o ministro Paulo Vannuchi, é visando o não esquecimento e a não repetição das atrocidades cometidas pela Ditadura Militar que se busca fortalecer a memória. “Estamos trabalhando fatos que alguns não querem lembrar e outros não podem esquecer”, disse o ministro.

Autoridades, membros de diversas instituições e estudantes marcaram presença no evento, como Maria Auxiliadora Arantes (Dodora), coordenadora-geral da Coordenação Nacional de Combate à Tortura; Nádia Campeão, presidente estadual do PCdoB de São Paulo; Rose Nogueira, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e membro do grupo Tortura Nunca Mais (SP); Frei Osvaldo Resende, que foi líder dos dominicanos; entre vários outros. Compuseram a mesa do evento o ministro Paulo Vannuchi, o presidente da UNE, Augusto Chagas; o Diretor da Faculdade de Direito da PUC (representando o reitor) Marcelo Figueiredo; o presidente do C.A. da Faculdade de Direito, Marco Antonio da Costa; e o secretário especial de Direitos Humanos da Prefeitura e São Paulo, José Gregori (representando o Prefeito da capital).

A irmã de um dos cinco estudantes homenageados (Luiz Almeida Araújo), Maria do Amparo Araújo – titular da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã de Recife –, veio prestigiar o evento, destacando que “a memória faz parte da identidade de um povo”.

Em seu discurso, o presidente da UNE, Augusto Chagas, destacou a importância da data, 22 de setembro, que marcou a história da resistência contra a Ditadura no Brasil. “É uma data símbolo do protagonismo dos estudantes em combate à ditadura”. Chagas elogiou a Secretaria Nacional de Direitos Humanos por estar conduzindo lutas importantes para a memória e justiça no país, como a luta pela punição aos torturadores.

O Ministro Paulo Vannuchi lembrou que foi em busca da reconstrução da UNE e como evento preparatório para o memorável Congresso da UNE em Salvador (1979), que os estudantes organizaram naquele ano de 1977 o 3º Encontro Nacional dos Estudantes na PUC-SP. Para comemorar o sucesso do encontro, foram até o teatro TUCA, da Universidade, e foi nesse ato que os militares, comandados pelo então secretário de Segurança Pública do Estado, o coronel Erasmo Dias, invadiram a universidade e atacaram os estudantes de forma violenta, ferindo e queimando dezenas de alunos.

Os homenageados são José Wilson Lessa Sabbag, Maria Augusta Thomaz, Luiz Almeida Araújo, Carlos Eduardo Pires Fleury e Cilon da Cunha Brum. Todos foram assassinados pelo regime militar entre os anos de 1969 e 1974.

Saiba mais sobre cada um dos homenageados:

José Wilson Lessa Sabbag (1943-1969)
Estudante do 5º ano de Direito na PUC de São Paulo, foi morto no dia 03/09/1969, na capital paulista, durante uma controvertida perseguição, que envolveu dezenas de agentes da Polícia Civil, Força Pública, Marinha, Dops e Operação Bandeirante. Integrante da Ação Libertadora Nacional, havia sido preso no 30º Congresso da UNE, em outubro de 1968, em Ibiúna.

Maria Augusta Thomaz (1947-1973)
Estudante da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae, foi morta em maio de 1973, junto com o companheiro de militância no Movimento de Libertação Popular (Molipo), Márcio Beck Machado, na fazenda Rio Doce, sul de Goiás, a 240 quilômetros de Goiânia, entre os municípios de Jataí e Rio Verde, em circunstâncias ainda mantidas sob completo segredo.

Luiz Almeida Araújo (1943-1971)
Professor de história, ator e militante da ALN, cursou Ciências Sociais na PUC-SP. No dia 24/06/1971, quando se deslocava pela avenida Angélica, em São Paulo, foi seqüestrado pelos órgãos de repressão da ditadura e desapareceu. Pouco antes, no mesmo carro, havia conduzido um dos dirigentes dessa organização clandestina, Paulo de Tarso Celestino da Silva, a um encontro com o agente infiltrado conhecido como Cabo Anselmo.

Carlos Eduardo Pires Fleury (1945-1971)
Estudou Filosofia na USP e Direito na PUC/SP. Foi morto em condições misteriosas, no Rio de Janeiro, em 10/12/1971, quando era um dos principais dirigentes do Molipo. Preso em 1969 e submetido a brutais torturas, estava entre os 40 presos políticos libertados e enviados à Argélia, em junho de 1970, em troca do embaixador alemão no Brasil, capturado numa operação guerrilheira.

Cilon Da Cunha Brum (1946-1974)
Foi estudante de Economia da PUC/SP, presidente do Diretório Acadêmico de sua faculdade e dirigente do Diretório Central dos Estudantes, além de trabalhar em uma agência de publicidade. Antes de desaparecer, em 27/02/1974, combateu na guerrilha do Araguaia, como militante do Partido Comunista do Brasil.

Da redação, com agências
Colaborou: Ana Paula Bueno


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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ATIVIDADE DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL DE CHAPECÓ
 
 
PCdoB  de Chapecó realizara neste Sábado sua Congresso Municipal do Partido com todos os seus Filiados e Simpatizantes, para a discussão das Teses que serão pauta do 12º Congresso que acontecerá de 5 à 8 de Novembro no Anhembi em São Paulo.
 
 
COM PROPOSTAS DE DEBATES DOS SEGUINTES TEMAS

 





Neuri A²





Estudantes são agredidos em panfletagem no Maranhão

Estudantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que panfletavam na área interna do Terminal da Integração da Praia Grande foram agredidos por guarda municipais e policias militares, hoje pela manhã. Assista o vídeo.

30 anos depois da sangrenta conquista da meia passagem pelos estudantes de São Luís, que apanharam da Polícia Militar, comandada pelo então governador João Castelo, hoje prefeito de São Luís pelo PSDB, a dramática cena volta a se repetir, ainda que em menor proporção.

Assim como naquele dia de 17 de setembro de 1979, já no final do período da Ditadura Militar, o 17 de setembro de 2009 também irá manchar a autoridade político-administrativa do prefeito Castelo. Tudo porque, no início da manhã desta quinta-feira (17/9), estudantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foram agredidos dentro do Terminal da Integração da Praia Grande por Guardas Municipais, controlados pela gestão do prefeito Castelo.

A agressão ocorreu enquanto os estudantes distribuíam panfletos de cunho político, relembrando a conquista da meia-passagem, há 30 anos, e reivindicando melhorias no transporte coletivo de São Luís. No entanto, eles foram advertidos pelo diretor do Terminal de Integração da Praia Grande, que os ordenou que a panfletagem terminasse, pois naquele ambiente, não era permitido tal ação.

Os jovens questionaram com o diretor o porquê deles não poderem realizar a manifestação dentro do Terminal, uma vez que, na parte interior do local, existem diversos tipos de ambulantes. Mesmo sem estarem convencidos, os estudantes suspenderam a manifestação e começaram a distribuir panfletos nas filas do terminal para usuários dos coletivos. Esta ação desagradou, mais uma vez, o diretor do terminal, que chamou a Guarda Municipal e a Polícia Militar para retirar os estudantes do local.

Agressão

Segundo os estudantes agredidos (foto), os policiais chegaram ao local e utilizaram da força física para retirar os rapazes do terminal. Os estudantes apanharam de cacetes e tiveram suas roupas rasgadas, num ato típico dos períodos ditatoriais vividos na época Castelo à frente do Governo do Estado.

Aos gritos de “isso é um absurdo, eles são só estudantes”, usuários de transporte coletivo que estavam no Terminal de Integração no momento da ação policial, pediam para os policiais parassem com as agressões. Eles informavam que os rapazes eram apenas estudantes que estavam distribuindo panfletos pacificamente.

Apesar dos gritos dos populares, os policias conduziram os rapazes para o 1º DP (Distrito Policial), onde eles prestaram depoimento. Em seguida, os estudantes se deslocaram para o Instituo Médico Legal (IML) para fazerem o exame de corpo e delito.

Os alunos da UFMA que estavam panfletando no terminal da Integração foram Paulo Gustavo, Wady Fiquene, Anderson Fonseca e Henrique Carneiro, sendo que os dois últimos foram os que sofreram as agressões dos policiais.

Até o momento, nenhuma palavra foi dita pelo prefeito João Castelo para esclarecer os fatos à população, nem mesmo por parte do comando geral da Guarda Municipal, administrada pela Secretaria Muanicipal de Segurança com Cidadania. Pelo visto, Castelo não mudou muito depois de 30 anos.


Assista o vídeo do momento da agressão:




Fonte: Imirante
18 de Setembro de 2009 - 10h58

Emir Sader: Migração, o maior drama humanitário contemporâneo

Semanalmente chegam às costas espanholas embarcações dos tipos mais elementares, de africanos tentando chegar a território europeu, na busca de alguma forma de trabalho para poderem sobreviver em condições menos penosas que as que enfrentam nos seus países de origem. Uma proporção grande deles já chega morta, pelas difíceis condições da travessia pelo mar.

Todos são devolvidos aos seus países. Nem sequer se tem a estatística de quantos chegaram, quantos morreram, o que se passou com os que foram devolvidos aos seus países.

A situação é clara: africanos, vítimas do colonialismo europeu e do imperialismo contemporâneo, buscam formas de sobrevivência nos países ricos, que enriqueceram na base da exploração colonial e da escravidão. Países onde impera o racismo, que se consideram “civilizados”, porque mais ricos, justamente porque exploraram os que consideram “bárbaros”.

A mão-de-obra imigrante interessa-lhes para as tarefas em que não há nacionais dispostos a trabalhar, especialmente a construção civil, a limpeza de ruas, o trabalho doméstico. Interessam-se mais pelos latino-americanos, porque brancos, católicos, que falam espanhol. Mesmo durante o período de crescimento da economia, rejeitavam os africanos. Agora, com a lei que Evo Morales chamou de “lei da vergonha”, estabelecem quotas para expulsão de imigrantes.

A situação dos africanos é, de longe, a pior. Tentam formas de chegar a território europeu, em condições de extremo risco, com a esperança de conseguir formas de sobrevivência e poder mandar alguns recursos para as famílias. Quando não morrem, são tratados da pior forma possível, rejeitados e depositados nas costas da África de volta. Nem sequer há estatísticas sobre quantos chegam semanalmente, menos ainda sobre quantos e quais morreram. Não se sabe tampouco o que se faz com os seus corpos – dos já milhares de cadáveres deste ano, por exemplo.

Acaba de suceder de novo algo similar com imigrantes haitianos, tentando chegar aos EUA. A precária embarcação afundou, varias dezenas morreram, em caso similar ao dos africanos na Europa.

Responsáveis pela miséria a que ficaram relegados os países africanos e vários da América Latina, os países do centro do capitalismo – todos ex-potências coloniais e actuais potências imperialistas e globalizadoras – continuam a exploração desses países, interessando-se apenas pelas riquezas naturais que possuam, sem fazer nada para que melhorem substancialmente as condições de vida – emprego, habitação, saúde, saneamento básico – das suas populações, que tentam emigrar para fugir das condições a que são submetidas nos seus próprios países.

Actualmente, a piora da situação dos trabalhadores imigrantes, os quais se tenta fazer passar como responsáveis pelo desemprego, é ainda mais injusta, porque a crise foi produzida justamente pelos países do centro do capitalismo, os que os utilizaram quando necessitavam de mais mão-de-obra e agora os rejeitam e expulsam. São tratados da forma que o capitalismo trata os trabalhadores – como mercadoria descartável.

Na Espanha e nos EUA, de forma mais directa, quem sustentou o boom económico que desembocou na crise actual foi a indústria da construção, com mão-de-obra imigrante. A crise afecta particularmente o sector, que rejeita e expulsa quem sustentou o crescimento durante vários anos.

Países de onde vieram tantas levas de imigrantes para os países latino-americanos, onde nunca foram rejeitados, que agora se interessam pela livre circulação de capitais e mercadorias, mas não de trabalhadores, aplicam aos originários dos países que foram colonizados por eles, a discriminação e a rejeição. Não se sentem responsáveis pela situação dos países que exploraram e ainda exploram.

Enquanto países como o Brasil legalizam a situação de milhões de estrangeiros, os países europeus e os EUA tomam atitude oposta, revelando o grau de desumanização a que os seus governos e populações chegaram. Porque não é um caso de escândalo, de indignação e de medidas de emergência. Quem se identifica com eles são alguns governos dos países da periferia, que sabem o que foi o colonialismo, o que é o imperialismo e a globalização, o que é a discriminação e o capitalismo.


Fonte: Blog do Emir
17 de Setembro de 2009 - 15h34

Obra pioneira na luta feminista é relançada pela Imprensa Oficial

 Lançado pela primeira vez em 1923, "Voto feminino e feminismo" volta ao mercado editorial agora com a edição fac-similar que a Imprensa Oficial lança em 18 de setembro, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco.

Diva Nolf Nazario era uma jovem estudante de direito corajosa e obstinada que, na São Paulo da década de 1920, acreditava na igualdade de direitos entre homens e mulheres. Ao tentar alistar-se como eleitora, teve a solicitação negada seguidas vezes --afinal, votar, naquele tempo, era algo exclusivo para o sexo masculino. Os obstáculos a desafiaram e a sua batalha pelo voto ganhou uma coluna na imprensa onde comentava suas próprias idas e vindas na busca da cidadania plena e o desenrolar do movimento feminista no Brasil e lá fora.

“Voto feminino e feminismo" é o resultado desse conjunto de artigos, uma obra até então rara e agora republicada em edição fac-similar da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, cujo lançamento será no dia 18 de setembro, ao meio-dia, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - Sala Visconde de São Leopoldo, no Largo São Francisco, 95, em São Paulo.

O "livrinho", como modestamente o denominava Diva, está longe do diminutivo modesto. Foi uma obra de impacto na época e é hoje um dos principais registros dos primeiros anos de ação feminista no país. Com seus textos, encerrados muitas vezes com frases como "Viva o Brasil" e "Viva o voto feminino", a autora pretendia, como ela mesma diz, "fazer ruir todas as atribuições de fraqueza e de incapacidade da mulher para fins políticos".

"Este pequeno livro, em sua simplicidade, é um significativo documento das lutas femininas pela emancipação", afirma o advogado e professor Claudio Lembo, ex-governador de São Paulo, responsável por redescobrir a obra. "Os leitores encontrarão nas páginas desta publicação os muitos obstáculos superados pelas mulheres na batalha pela autoafirmação. Alguns dos acontecimentos narrados se desenrolaram no interior da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, hoje majoritariamente ocupada pelas jovens estudantes de Direito".

Pelos familiares, Diva é lembrada como uma mulher extraordinária, trabalhadora e sempre à frente de seu tempo: usava jeans e dirigia carros muito antes que se tornassem hábitos comuns entre as mulheres. Em seu livro, revela-se pesquisadora incansável do território constitucional do período (1889-1891), particularmente no que se refere ao percurso evolutivo do voto feminino no panorama nacional e internacional.

Três textos complementam a edição. A apresentação é da professora de direito da USP Monica Herman Caggiano, que trata da contribuição de Diva Nolf Nazario na causa feminista brasileira. A obra, segundo ela, é "quase um grito de liberdade da autora na incansável perseguição pela conquista dos direitos políticos da mulher, do seu direito de votar e de participar do polo de tomada das decisões políticas, enfim, do direito de ser reconhecida como cidadã"

Talita Nascimento, terceira mulher eleita para a presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto, do Largo de São Francisco, escreve o texto seguinte, sobre a influência dos valores democráticos e igualitários da agremiação para que Diva Nazario fosse atrás de seus direitos - fator culminante para a revolução da mulher no século XX.

Na conclusão da obra, Augusto Buonicore, historiador e mestre em ciência política pela Unicamp, traça um panorama da história das mulheres na luta pelos direitos políticos no Brasil. Apesar das conquistas, ainda há muito a vencer: as mulheres ainda são as maiores vítimas de violência doméstica e de abuso sexual na infância. Outras formas de opressão são praticadas, como o preconceito e a discriminação.



A autora

Regina Cecília Maria Diva Nolf Nazario nasceu em 22 de novembro de 1897, na Fazenda Itatinga, no município de Batatais, em São Paulo, e faleceu em 18 de abril de 1966. Em 1907, viajou com seus pais para a Bélgica e lá permaneceu durante 10 anos. Retornando a São Paulo, fez o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde conheceu Luiz Duarte Ventura, com quem se casou em 1931, quando adotou o nome Diva Nolf Nazario Ventura. Desse casamento teve dois filhos, que lhe deram três netos e cinco bisnetos.



Diva Nolf Nazario
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
232 páginas

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

14 de Setembro de 2009 - 17h15

Embaixador de Honduras é expulso de audiência da ONU

O embaixador de Honduras na sede da ONU em Genebra, José Delmer Urbizo, foi expulso hoje da audiência do Conselho de Direitos Humanos da organização, a pedido dos países da América Latina e Caribe, que argumentaram que ele não representa o Presidente deposto Manuel Zelaya, considerado o único legítimo.

 

Quando funcionários da ONU se aproximaram do diplomata para tirá-lo da sala de audiência, ele respondeu: "saio sozinho". Em seguida, olhou para os presentes e gritou: "eu voltarei".

O episódio paralisou as atividades do Conselho de Direitos Humanos por cinco horas. Os países da América Latina e Caribe, assim como praticamente todo o restante da comunidade internacional, não reconhecem o governo de facto de Honduras, liderado por Roberto Micheletti.

O presidente do Conselho, o embaixador belga Alex Van Meeuwen, não permitiu que Urbizo se manifestasse em plenário, e ordenou que deixasse a sala logo após o anúncio de sua expulsão.

O diplomata expulso representava no Conselho de Direitos Humanos da ONU os interesses do governo que derrubou o presidente Manuel Zelaya, no último dia 28 de junho, abrindo espaço para a nomeação de Micheletti.

Entre hoje e o dia 2 de outubro, realiza-se a 12ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que terá pela primeira vez desde sua criação, em 2006, a presença dos Estados Unidos. O conselho é composto por 47 países.

Da Redação,
Com informações da Ansa
14 de Setembro de 2009 - 14h55

Pesquisa mostra sub-representação da mulher no poder estadual

Pesquisa divulgada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) revela a continuidade da sub-representação feminina no primeiro escalão dos governos estaduais e do Distrito Federal, assim como já revelado nas capitais. Das 528 secretarias, 87 (16,48%) são ocupadas por mulheres, enquanto 441(83,52%) tem homens como titulares.

O estudo também revela que a maioria das secretárias ocupa pastas ligadas a Políticas Sociais, 73,56%, demonstrando uma clara tendência de delegar às mulheres pastas relacionadas ao cuidado e à extensão do doméstico. As informações foram apuradas entre os dias 4 de maio e 4 de julho, junto aos 26 estados e ao Distrito Federal.

A região Norte tem o maior percentual de secretárias, 21,32%, e Mato Grosso do Sul é o estado que mais próximo chega à paridade entre mulheres e homens no primeiro escalão estadual, com 45,45%.

Comparando com o estudo das capitais, o dado positivo do estudo é que existe um maior número de Secretarias de Políticas para as Mulheres, cinco, enquanto nas capitais apenas uma secretaria recebia esta denominação. A nova pesquisa revela que a presença feminina nos estados, 16,48%, é menor que nas capitais, 19,85%, e que nas pastas relacionadas a Políticas Sociais, as secretárias representam bem mais que nas capitais, 73,56%, contra 59,49%.

O estudo sobre a presença feminina no governos estaduais foi publicado no lançamento do novo site www.maismulheresnopoderbrasil.com.br. O site começa uma nova fase e incorpora novas áreas de informação: Executivo, Legislativo, Judiciário, Empresa e Sociedade, consolidando as propostas do 2o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, que visa a ampliação da participação feminina nos espaços de poder e decisão.

Por regiões



Assim como aconteceu nas capitais, a região Norte apresenta o maior percentual de mulheres ocupando secretarias estaduais, 21,32%, superando a média nacional de 16,48%. O Pará, governado por uma mulher, tem a segunda melhor média nacional de mulheres secretárias entre os estados, 27,27%.

A região Centro-Oeste apresenta o segundo maior percentual de secretárias estaduais, 17,65%, e o estado de Mato Grosso do Sul foi o que mais próximo chegou da paridade entre mulheres e homens no primeiro escalão estadual, 45,45%. Também está na região Centro Oeste o maior percentual de mulheres na administração de pastas relacionadas a Políticas Sociais, 83,33%, acima da média nacional de 73,56%.

Terceira região no ranking nacional, o Sudeste tem percentual de 16,87% de mulheres à frente das secretarias estaduais, praticamente a média nacional. É onde existe a maior diversificação de pastas administradas por mulheres: Políticas Sociais, 64,28%, Administração e Economia, 28,57%, e outras, 7,14%. O estado com melhor participação feminina no Sudeste foi o Rio de Janeiro, com 26,31%.

Mesmo com a crescente participação política das mulheres no Nordeste, a região aparece em penúltimo lugar entre as regiões, com 13,48%. Apesar do bom desempenho do estado de Alagoas, com 26,31% de secretárias estaduais, e ser a região com o maior número de Secretarias de Políticas para as Mulheres, três das cinco existentes no país, está no Nordeste o estado com o menor percentual nacional de secretárias, Pernambuco, apenas 3,84%.

Assim como aconteceu na pesquisa divulgada em março, que mediu a presença feminina nas secretarias das capitais, o Sul ocupa o último lugar nacional entre as regiões brasileiras, com 12,7% de mulheres ocupando o primeiro escalão dos governos estaduais. O estado que apresenta o melhor desempenho é o Paraná, com 22,72% de secretárias estaduais.


Fonte: SPM