sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ATIVIDADE DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL DE CHAPECÓ
 
 
PCdoB  de Chapecó realizara neste Sábado sua Congresso Municipal do Partido com todos os seus Filiados e Simpatizantes, para a discussão das Teses que serão pauta do 12º Congresso que acontecerá de 5 à 8 de Novembro no Anhembi em São Paulo.
 
 
COM PROPOSTAS DE DEBATES DOS SEGUINTES TEMAS

 





Neuri A²





Estudantes são agredidos em panfletagem no Maranhão

Estudantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que panfletavam na área interna do Terminal da Integração da Praia Grande foram agredidos por guarda municipais e policias militares, hoje pela manhã. Assista o vídeo.

30 anos depois da sangrenta conquista da meia passagem pelos estudantes de São Luís, que apanharam da Polícia Militar, comandada pelo então governador João Castelo, hoje prefeito de São Luís pelo PSDB, a dramática cena volta a se repetir, ainda que em menor proporção.

Assim como naquele dia de 17 de setembro de 1979, já no final do período da Ditadura Militar, o 17 de setembro de 2009 também irá manchar a autoridade político-administrativa do prefeito Castelo. Tudo porque, no início da manhã desta quinta-feira (17/9), estudantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foram agredidos dentro do Terminal da Integração da Praia Grande por Guardas Municipais, controlados pela gestão do prefeito Castelo.

A agressão ocorreu enquanto os estudantes distribuíam panfletos de cunho político, relembrando a conquista da meia-passagem, há 30 anos, e reivindicando melhorias no transporte coletivo de São Luís. No entanto, eles foram advertidos pelo diretor do Terminal de Integração da Praia Grande, que os ordenou que a panfletagem terminasse, pois naquele ambiente, não era permitido tal ação.

Os jovens questionaram com o diretor o porquê deles não poderem realizar a manifestação dentro do Terminal, uma vez que, na parte interior do local, existem diversos tipos de ambulantes. Mesmo sem estarem convencidos, os estudantes suspenderam a manifestação e começaram a distribuir panfletos nas filas do terminal para usuários dos coletivos. Esta ação desagradou, mais uma vez, o diretor do terminal, que chamou a Guarda Municipal e a Polícia Militar para retirar os estudantes do local.

Agressão

Segundo os estudantes agredidos (foto), os policiais chegaram ao local e utilizaram da força física para retirar os rapazes do terminal. Os estudantes apanharam de cacetes e tiveram suas roupas rasgadas, num ato típico dos períodos ditatoriais vividos na época Castelo à frente do Governo do Estado.

Aos gritos de “isso é um absurdo, eles são só estudantes”, usuários de transporte coletivo que estavam no Terminal de Integração no momento da ação policial, pediam para os policiais parassem com as agressões. Eles informavam que os rapazes eram apenas estudantes que estavam distribuindo panfletos pacificamente.

Apesar dos gritos dos populares, os policias conduziram os rapazes para o 1º DP (Distrito Policial), onde eles prestaram depoimento. Em seguida, os estudantes se deslocaram para o Instituo Médico Legal (IML) para fazerem o exame de corpo e delito.

Os alunos da UFMA que estavam panfletando no terminal da Integração foram Paulo Gustavo, Wady Fiquene, Anderson Fonseca e Henrique Carneiro, sendo que os dois últimos foram os que sofreram as agressões dos policiais.

Até o momento, nenhuma palavra foi dita pelo prefeito João Castelo para esclarecer os fatos à população, nem mesmo por parte do comando geral da Guarda Municipal, administrada pela Secretaria Muanicipal de Segurança com Cidadania. Pelo visto, Castelo não mudou muito depois de 30 anos.


Assista o vídeo do momento da agressão:




Fonte: Imirante
18 de Setembro de 2009 - 10h58

Emir Sader: Migração, o maior drama humanitário contemporâneo

Semanalmente chegam às costas espanholas embarcações dos tipos mais elementares, de africanos tentando chegar a território europeu, na busca de alguma forma de trabalho para poderem sobreviver em condições menos penosas que as que enfrentam nos seus países de origem. Uma proporção grande deles já chega morta, pelas difíceis condições da travessia pelo mar.

Todos são devolvidos aos seus países. Nem sequer se tem a estatística de quantos chegaram, quantos morreram, o que se passou com os que foram devolvidos aos seus países.

A situação é clara: africanos, vítimas do colonialismo europeu e do imperialismo contemporâneo, buscam formas de sobrevivência nos países ricos, que enriqueceram na base da exploração colonial e da escravidão. Países onde impera o racismo, que se consideram “civilizados”, porque mais ricos, justamente porque exploraram os que consideram “bárbaros”.

A mão-de-obra imigrante interessa-lhes para as tarefas em que não há nacionais dispostos a trabalhar, especialmente a construção civil, a limpeza de ruas, o trabalho doméstico. Interessam-se mais pelos latino-americanos, porque brancos, católicos, que falam espanhol. Mesmo durante o período de crescimento da economia, rejeitavam os africanos. Agora, com a lei que Evo Morales chamou de “lei da vergonha”, estabelecem quotas para expulsão de imigrantes.

A situação dos africanos é, de longe, a pior. Tentam formas de chegar a território europeu, em condições de extremo risco, com a esperança de conseguir formas de sobrevivência e poder mandar alguns recursos para as famílias. Quando não morrem, são tratados da pior forma possível, rejeitados e depositados nas costas da África de volta. Nem sequer há estatísticas sobre quantos chegam semanalmente, menos ainda sobre quantos e quais morreram. Não se sabe tampouco o que se faz com os seus corpos – dos já milhares de cadáveres deste ano, por exemplo.

Acaba de suceder de novo algo similar com imigrantes haitianos, tentando chegar aos EUA. A precária embarcação afundou, varias dezenas morreram, em caso similar ao dos africanos na Europa.

Responsáveis pela miséria a que ficaram relegados os países africanos e vários da América Latina, os países do centro do capitalismo – todos ex-potências coloniais e actuais potências imperialistas e globalizadoras – continuam a exploração desses países, interessando-se apenas pelas riquezas naturais que possuam, sem fazer nada para que melhorem substancialmente as condições de vida – emprego, habitação, saúde, saneamento básico – das suas populações, que tentam emigrar para fugir das condições a que são submetidas nos seus próprios países.

Actualmente, a piora da situação dos trabalhadores imigrantes, os quais se tenta fazer passar como responsáveis pelo desemprego, é ainda mais injusta, porque a crise foi produzida justamente pelos países do centro do capitalismo, os que os utilizaram quando necessitavam de mais mão-de-obra e agora os rejeitam e expulsam. São tratados da forma que o capitalismo trata os trabalhadores – como mercadoria descartável.

Na Espanha e nos EUA, de forma mais directa, quem sustentou o boom económico que desembocou na crise actual foi a indústria da construção, com mão-de-obra imigrante. A crise afecta particularmente o sector, que rejeita e expulsa quem sustentou o crescimento durante vários anos.

Países de onde vieram tantas levas de imigrantes para os países latino-americanos, onde nunca foram rejeitados, que agora se interessam pela livre circulação de capitais e mercadorias, mas não de trabalhadores, aplicam aos originários dos países que foram colonizados por eles, a discriminação e a rejeição. Não se sentem responsáveis pela situação dos países que exploraram e ainda exploram.

Enquanto países como o Brasil legalizam a situação de milhões de estrangeiros, os países europeus e os EUA tomam atitude oposta, revelando o grau de desumanização a que os seus governos e populações chegaram. Porque não é um caso de escândalo, de indignação e de medidas de emergência. Quem se identifica com eles são alguns governos dos países da periferia, que sabem o que foi o colonialismo, o que é o imperialismo e a globalização, o que é a discriminação e o capitalismo.


Fonte: Blog do Emir
17 de Setembro de 2009 - 15h34

Obra pioneira na luta feminista é relançada pela Imprensa Oficial

 Lançado pela primeira vez em 1923, "Voto feminino e feminismo" volta ao mercado editorial agora com a edição fac-similar que a Imprensa Oficial lança em 18 de setembro, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco.

Diva Nolf Nazario era uma jovem estudante de direito corajosa e obstinada que, na São Paulo da década de 1920, acreditava na igualdade de direitos entre homens e mulheres. Ao tentar alistar-se como eleitora, teve a solicitação negada seguidas vezes --afinal, votar, naquele tempo, era algo exclusivo para o sexo masculino. Os obstáculos a desafiaram e a sua batalha pelo voto ganhou uma coluna na imprensa onde comentava suas próprias idas e vindas na busca da cidadania plena e o desenrolar do movimento feminista no Brasil e lá fora.

“Voto feminino e feminismo" é o resultado desse conjunto de artigos, uma obra até então rara e agora republicada em edição fac-similar da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, cujo lançamento será no dia 18 de setembro, ao meio-dia, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - Sala Visconde de São Leopoldo, no Largo São Francisco, 95, em São Paulo.

O "livrinho", como modestamente o denominava Diva, está longe do diminutivo modesto. Foi uma obra de impacto na época e é hoje um dos principais registros dos primeiros anos de ação feminista no país. Com seus textos, encerrados muitas vezes com frases como "Viva o Brasil" e "Viva o voto feminino", a autora pretendia, como ela mesma diz, "fazer ruir todas as atribuições de fraqueza e de incapacidade da mulher para fins políticos".

"Este pequeno livro, em sua simplicidade, é um significativo documento das lutas femininas pela emancipação", afirma o advogado e professor Claudio Lembo, ex-governador de São Paulo, responsável por redescobrir a obra. "Os leitores encontrarão nas páginas desta publicação os muitos obstáculos superados pelas mulheres na batalha pela autoafirmação. Alguns dos acontecimentos narrados se desenrolaram no interior da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, hoje majoritariamente ocupada pelas jovens estudantes de Direito".

Pelos familiares, Diva é lembrada como uma mulher extraordinária, trabalhadora e sempre à frente de seu tempo: usava jeans e dirigia carros muito antes que se tornassem hábitos comuns entre as mulheres. Em seu livro, revela-se pesquisadora incansável do território constitucional do período (1889-1891), particularmente no que se refere ao percurso evolutivo do voto feminino no panorama nacional e internacional.

Três textos complementam a edição. A apresentação é da professora de direito da USP Monica Herman Caggiano, que trata da contribuição de Diva Nolf Nazario na causa feminista brasileira. A obra, segundo ela, é "quase um grito de liberdade da autora na incansável perseguição pela conquista dos direitos políticos da mulher, do seu direito de votar e de participar do polo de tomada das decisões políticas, enfim, do direito de ser reconhecida como cidadã"

Talita Nascimento, terceira mulher eleita para a presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto, do Largo de São Francisco, escreve o texto seguinte, sobre a influência dos valores democráticos e igualitários da agremiação para que Diva Nazario fosse atrás de seus direitos - fator culminante para a revolução da mulher no século XX.

Na conclusão da obra, Augusto Buonicore, historiador e mestre em ciência política pela Unicamp, traça um panorama da história das mulheres na luta pelos direitos políticos no Brasil. Apesar das conquistas, ainda há muito a vencer: as mulheres ainda são as maiores vítimas de violência doméstica e de abuso sexual na infância. Outras formas de opressão são praticadas, como o preconceito e a discriminação.



A autora

Regina Cecília Maria Diva Nolf Nazario nasceu em 22 de novembro de 1897, na Fazenda Itatinga, no município de Batatais, em São Paulo, e faleceu em 18 de abril de 1966. Em 1907, viajou com seus pais para a Bélgica e lá permaneceu durante 10 anos. Retornando a São Paulo, fez o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde conheceu Luiz Duarte Ventura, com quem se casou em 1931, quando adotou o nome Diva Nolf Nazario Ventura. Desse casamento teve dois filhos, que lhe deram três netos e cinco bisnetos.



Diva Nolf Nazario
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
232 páginas

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

14 de Setembro de 2009 - 17h15

Embaixador de Honduras é expulso de audiência da ONU

O embaixador de Honduras na sede da ONU em Genebra, José Delmer Urbizo, foi expulso hoje da audiência do Conselho de Direitos Humanos da organização, a pedido dos países da América Latina e Caribe, que argumentaram que ele não representa o Presidente deposto Manuel Zelaya, considerado o único legítimo.

 

Quando funcionários da ONU se aproximaram do diplomata para tirá-lo da sala de audiência, ele respondeu: "saio sozinho". Em seguida, olhou para os presentes e gritou: "eu voltarei".

O episódio paralisou as atividades do Conselho de Direitos Humanos por cinco horas. Os países da América Latina e Caribe, assim como praticamente todo o restante da comunidade internacional, não reconhecem o governo de facto de Honduras, liderado por Roberto Micheletti.

O presidente do Conselho, o embaixador belga Alex Van Meeuwen, não permitiu que Urbizo se manifestasse em plenário, e ordenou que deixasse a sala logo após o anúncio de sua expulsão.

O diplomata expulso representava no Conselho de Direitos Humanos da ONU os interesses do governo que derrubou o presidente Manuel Zelaya, no último dia 28 de junho, abrindo espaço para a nomeação de Micheletti.

Entre hoje e o dia 2 de outubro, realiza-se a 12ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que terá pela primeira vez desde sua criação, em 2006, a presença dos Estados Unidos. O conselho é composto por 47 países.

Da Redação,
Com informações da Ansa
14 de Setembro de 2009 - 14h55

Pesquisa mostra sub-representação da mulher no poder estadual

Pesquisa divulgada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) revela a continuidade da sub-representação feminina no primeiro escalão dos governos estaduais e do Distrito Federal, assim como já revelado nas capitais. Das 528 secretarias, 87 (16,48%) são ocupadas por mulheres, enquanto 441(83,52%) tem homens como titulares.

O estudo também revela que a maioria das secretárias ocupa pastas ligadas a Políticas Sociais, 73,56%, demonstrando uma clara tendência de delegar às mulheres pastas relacionadas ao cuidado e à extensão do doméstico. As informações foram apuradas entre os dias 4 de maio e 4 de julho, junto aos 26 estados e ao Distrito Federal.

A região Norte tem o maior percentual de secretárias, 21,32%, e Mato Grosso do Sul é o estado que mais próximo chega à paridade entre mulheres e homens no primeiro escalão estadual, com 45,45%.

Comparando com o estudo das capitais, o dado positivo do estudo é que existe um maior número de Secretarias de Políticas para as Mulheres, cinco, enquanto nas capitais apenas uma secretaria recebia esta denominação. A nova pesquisa revela que a presença feminina nos estados, 16,48%, é menor que nas capitais, 19,85%, e que nas pastas relacionadas a Políticas Sociais, as secretárias representam bem mais que nas capitais, 73,56%, contra 59,49%.

O estudo sobre a presença feminina no governos estaduais foi publicado no lançamento do novo site www.maismulheresnopoderbrasil.com.br. O site começa uma nova fase e incorpora novas áreas de informação: Executivo, Legislativo, Judiciário, Empresa e Sociedade, consolidando as propostas do 2o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, que visa a ampliação da participação feminina nos espaços de poder e decisão.

Por regiões



Assim como aconteceu nas capitais, a região Norte apresenta o maior percentual de mulheres ocupando secretarias estaduais, 21,32%, superando a média nacional de 16,48%. O Pará, governado por uma mulher, tem a segunda melhor média nacional de mulheres secretárias entre os estados, 27,27%.

A região Centro-Oeste apresenta o segundo maior percentual de secretárias estaduais, 17,65%, e o estado de Mato Grosso do Sul foi o que mais próximo chegou da paridade entre mulheres e homens no primeiro escalão estadual, 45,45%. Também está na região Centro Oeste o maior percentual de mulheres na administração de pastas relacionadas a Políticas Sociais, 83,33%, acima da média nacional de 73,56%.

Terceira região no ranking nacional, o Sudeste tem percentual de 16,87% de mulheres à frente das secretarias estaduais, praticamente a média nacional. É onde existe a maior diversificação de pastas administradas por mulheres: Políticas Sociais, 64,28%, Administração e Economia, 28,57%, e outras, 7,14%. O estado com melhor participação feminina no Sudeste foi o Rio de Janeiro, com 26,31%.

Mesmo com a crescente participação política das mulheres no Nordeste, a região aparece em penúltimo lugar entre as regiões, com 13,48%. Apesar do bom desempenho do estado de Alagoas, com 26,31% de secretárias estaduais, e ser a região com o maior número de Secretarias de Políticas para as Mulheres, três das cinco existentes no país, está no Nordeste o estado com o menor percentual nacional de secretárias, Pernambuco, apenas 3,84%.

Assim como aconteceu na pesquisa divulgada em março, que mediu a presença feminina nas secretarias das capitais, o Sul ocupa o último lugar nacional entre as regiões brasileiras, com 12,7% de mulheres ocupando o primeiro escalão dos governos estaduais. O estado que apresenta o melhor desempenho é o Paraná, com 22,72% de secretárias estaduais.


Fonte: SPM

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de Setembro de 2009 - 0h01

Diálogos da perplexidade: para onde vai o jornalismo

Venicio A. de Lima *

Por Muniz Sodré em 8/9/2009

Prefácio de Diálogos da Perplexidade – Reflexões críticas sobre a mídia, de Bernardo Kucinski e Venício A. de Lima, Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2009; título e intertítulos do Observatório da Imprensa, lançamento previsto para setembro.
Perplexidade é palavra que pode inicialmente fazer lembrar o famoso Guia dos Perplexos, de Moshe Ben Maimon ou Maimônides, o mais importante pensador do judaísmo na Idade Média. Complexo, denso e em muitos aspectos atual por sua inquirição sobre integridade e ética, o tratado de Maimônides sempre foi lido pelos eruditos como uma busca de conciliação entre razão e fé, mas por todos os estudiosos como um guia para o aprimoramento humano. Perplexidade não é o estado do descaminho, mas a condição de possibilidade para que, da interpretação adequada, surja a iluminação.

Acho que é bem este o sentido que se deve à palavra em Diálogos da Perplexidade, de Venício Lima e Bernardo Kucinski. Lima é professor universitário, pesquisador e ensaísta antenado com o que o discurso crítico da mídia tem de melhor. Kucinski, além de professor, tem longa experiência em redações de jornais, sempre acompanhada de veia crítica da melhor cepa, como bem demonstram seus textos, pronunciamentos e ações. Neste livro, dialogam sobre o objeto que os deixa "perplexos", mais propriamente no sentido do talmudista que inspiraria S. Tomás de Aquino, assim como Spinoza e Leibniz.

Tal objeto é o destino do jornalismo em todas as suas modulações contemporâneas, sob o influxo das novas tecnologias da informação. Kucinski é taxativo: "Acho que a questão central, hoje, do jornalismo, são os desdobramentos dessa revolução tecnológica da internet e todas as ferramentas associadas. O que isso muda? Quer dizer, está mudando tudo, e ainda vai mudar mais, mas até que ponto já se pode fazer algumas previsões sobre o jornalismo?".

A questão pode ser resumida, com o adicional de uma pequena suspeita (típica, aliás, da perplexidade talmúdica): Para onde vai o jornalismo, se for?

Claro sintoma

Apesar da diversidade dos temas e das inflexões pessoais, fica evidente nos diálogos que Lima e Kucinski encontram uma unidade de pensamento na constatação de que, posta num novo tempo tecnológico (o das máquinas de transmissão e estocagem eletrônicas, que condensam a temporalidade no presente), a informação pública tradicionalmente capitaneada pelo jornalismo tende a ser pontuada por sua própria operatividade técnica, ou seja, pela velocidade de transmissão, assim como pelas características de instantaneidade, espaço ilimitado e baixo custo da rede cibernética. Pessoalmente, temos repetido que, desde a velha técnica política de funcionamento da linguagem (a retórica de que se vale o jornalismo desde o começo), chegou-se a uma tecnologia de representação do mundo aparentemente mais comprometida com os valores de seu próprio funcionamento técnico (velocidade e mercado) do que com os valores da velha Polis humanista. A interação em si mesma é o valor.

Isso não é nenhuma abstração teórica. Basta escutar alguns dos analistas do jornalismo em rede eletrônica para ficar sabendo que os "valores" da rede eletrônica têm mais a ver com rotinas de trabalho do que com o clássico sentido de orientações de natureza ética. Nada a ver aí com as preocupações de Maimônides no sentido de aperfeiçoamento da comunidade humana. Não se trata do simples uso de novas tecnologias, e sim de uma outra forma de pensar, que implica tanto a diversidade dos formatos industriais voltados para a maior interatividade com o público quanto uma certa despreocupação com o ideário liberal que propulsionou a imprensa do século 19 para cá. O "serviço" e o entretenimento parecem deixar em segundo plano a dimensão contraditória (a política) na constituição da cidadania.

Parte daí a conhecida hipótese de que essa nova face da informação pública ponha em crise a própria identidade do jornalismo clássico como mediação discursiva e como funcionalidade específica de um grupo profissional, voltado para produção de notícias em função de uma temporalidade tradicional. Disto um claro sintoma é a questão levantada por Pierre Lévy, arauto da cibercultura: "Seria ainda necessário, para se manter atualizado, recorrer a esses especialistas da redução ao menor denominador comum que são os jornalistas clássicos?".

Temas candentes

Lima e Kucinski não falam, porém, como profetas do apocalipse. Com o pressuposto implícito de que, em termos de informação pública, será sempre necessário formar uma comunidade discursiva – alimentada pelos interesses, ainda que flutuantes ou instáveis, dos leitores –, ambos deixam claro que uma outra forma de pensar e novos tipos de público são diretivas em potencial para a constituição de um jornalismo "de qualidade", analítico, capaz de agendar os temas vitais para a cidadania e alternativo à informação imediata freqüente na televisão e, principalmente, na internet.

Lima mostra-se, assim, francamente esperançoso quando à internet, apontando para o seu enorme potencial no tocante a novas configurações da vida social: "De 2003 para cá, um fato que acho muito importante é a realização de conferências nacionais em diversas áreas de políticas públicas – saúde, meio ambiente, mulher, juventude, educação etc. –, que implicam uma mobilização de setores da sociedade civil que começa em nível local, no município, em nível regional, estadual, até chegar ao nível nacional. A grande mídia ignora esse processo, não se interessa por ele, acha que não é importante. Trabalhadores se reúnem num ginásio em Brasília, aos milhares, do país inteiro, durante toda uma semana, e a mídia não fala nada. Como se não tivesse existido".

Diálogos da Perplexidade, como se vê, é publicação útil e oportuna. Geralmente os temas candentes do jornalismo e da rede eletrônica são abordados com linguagem arrevesada, futurística, não raro desnorteada, extraviada como uma nave em Guerra das Estrelas. Que fazem Lima e Kucinski? Não voam, nem se perdem.

Artigo publicado no Observatório da Imprensa
10 de Setembro de 2009 - 18h43

Assembléia gaúcha abre processo de impeachment contra Yeda

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado estadual Ivar Pavan (PT), aceitou nesta quinta-feira (10) o pedido de impeachment contra a governadora Yeda Crusius (PSDB). Segundo Pavan, a decisão foi baseada em informações extraídas de sindicâncias internas do governo gaúcho, da Polícia Federal, e do Ministério Público Federal, que move ação de improbidade administrativa contra Yeda e mais oito pessoas.

O processo de impeachment aberto contra a governadora é o segundo da história do Brasil, afirma nota divulgada pela Agência de Notícias do Legislativo gaúcho. O primeiro foi o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, ocorrido em 1992. O pedido de impeachment foi apresentado pelo Fórum dos Servidores Públicos do Estado, no último dia 9 de julho. O Fórum é composto por dez entidades: Sindicaixa, Ugeirm/Sindicato, Simpe, Sindiágua, Semapi, Sindsepe, Sindjus, Sindet, Federação dos Bancários do RS e CPERS/Sindicato.

Segundo o presidente da Assembléia Legislativa, o pedido está baseado em “26 fortes indícios de improbidade administrativa encontrados em diversas fontes”.

No dia 18 de agosto, Ivar Pavan formou uma comissão técnica para analisar o pedido encaminhado pelo Fórum de Servidores. Há uma semana, Pavan reuniu-se com a juíza Simone Barbisan Fortes, da 3ª Vara Federal de Santa Maria , quando obteve acesso à íntegra das denúncias contidas na ação encaminhada pelo Ministério Público Federal, relativa ao desvio de R$ 44 milhões dos cofres do Detran-RS. Após a análise dos documentos, o parlamentar decidiu encaminhar o pedido ao Plenário da Casa, para leitura e publicação no Diário da Assembléia, o que ocorrerá no dia 14 de setembro. Segundo informou o procurador do Legislativo, Fernando Ferreira, será formada uma comissão composta por 36 deputados (dois terços da Casa), respeitada a proporcionalidade de cada partido e com assento garantido a todas as bancadas.

Esta comissão escolherá um relator e um presidente que coordenarão a análise do processo. A base de apoio do governo Yeda terá maioria nesta comissão. Os proponentes do pedido, no entanto, anunciam que pretendem intensificar a mobilização em defesa da investigação das denúncias que embasam o processo de impeachment.

Para a presidente do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS/Sindicato), Rejane de Oliveira, “a Assembléia Legislativa terá que cumprir com o seu papel que é o de buscar respostas para a sociedade gaúcha”. Segundo ela, “o pedido foi embasado em fatos de concretos, em provas e acontecimentos”. “Portanto, achamos que o encaminhamento está tendo o rigor necessário de quem quer resolver o problema que o Rio Grande do Sul está sofrendo”, acrescentou.

Yeda sabia de tudo, diz Lair

Cumprindo o que havia prometido para hoje, a deputada gaúcha Stela Farias (PT), que preside a CPI que investiga o governo Yeda, leu trechos do depoimento prestado por Lair Ferst ao Ministério Público Federal no dia 23 de janeiro deste ano, cujo conteúdo foi liberado pela juíza Simone Barbisan Fortes aos membros da CPI e não se encontra sob sigilo de Justiça.

Ao ser questionado pelos promotores, Lair diz que a troca da Fatec pela Fundae como prestadora de serviços ao Detran - e que deu origem a uma reorganização no esquema criminoso montado a partir da autarquia - foi autorizada pessoalmente por Yeda Crusius em uma reunião da qual participaram a governadora, Carlos Crusius, Delson Martini, Walna Meneses, Daniel Andrade e Chico Fraga.

Lair também revela que Yeda Crusius tanto sabia que ele seria excluído do esquema com a mudança de fundações, que pediu que ele ficasse tranquilo, pois seu caso seria resolvido, o que não aconteceu. “Me senti traído”, confessou aos promotores.

Lair ainda contou que, ao constatar que tinha sido deixado de fora da planilha da propina, foi reclamar com Chico Fraga, que lhe mandou reclamar para Yeda.

-Foi ela quem determinou os percentuais e não há nada pra ti, garantiu Chico Fraga.

Segundo Lair Ferst, Yeda Crusius sabia que empresas da sua família tinham sido contratadas pela Fatec como sistemistas, que conversou com a governadora sobre a situação e que Chico Fraga, quando anunciou que a substituição da Fatec pela Fundae foi explícito em afirmar que “falava em nome da governadora”.


Fonte: Blog RS Urgente / Marco Weissheimer

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Partido Vivo


9 de Setembro de 2009 - 18h19

Escola do PCdoB marca novo curso e quer mais presença feminina

O próximo curso de nível 3 da Escola Nacional de Formação do PCdoB já tem data marcada: dias 11 a 23 de janeiro. Ele seguirá os mesmos critérios do realizado no final de julho, em Atibaia (SP) e terá igual número de vagas: 100. Para essa próxima edição, a Escola espera poder contar com um número maior de mulheres. “A formação não depende apenas da vontade pessoal. O partido deve estimular e criar condições para a maior participação feminina”, destaca Nereide Saviani, diretora da ENF.  

Segundo Nereide, “parece haver certo descuido, por parte das direções, com relação às mulheres. Muitas vezes o fato de serem mães ou chefes de família dificulta sua participação. O mesmo acontece, por exemplo, com os jovens operários. Isso pode parecer uma questão individual, mas não é”.

Ela avalia que ainda há uma preocupação maior entre os comitês estaduais de garantir as vagas a que têm direito sem, no entanto, atentar para o estímulo à inserção das mulheres nas atividades de Formação. “De fato, o partido está inserido numa realidade social em que a inclusão feminina é dificultada por uma série de fatores, mas é essencial que os comunistas atentem para essa questão”. Com a preocupação de aumentar o número de mulheres na vida partidária, o PCdoB adotou a cota mínima de 30%. “Mas, isso não aconteceu, por exemplo, no último curso, quando as mulheres representaram 27,11% do total de 62 alunos”, lamenta Nereide.

Para mudar esse quadro, a Escola Nacional tem procurado chamar atenção dos comitês estaduais para que o próximo curso tenha mais alunas. “Além de criar melhores condições para elas, é preciso que as direções as estimulem também. Mas, isso é uma via de mão dupla: para que de fato deflagremos um movimento de maior participação feminina, conclamamos as direções estaduais para atentarem para isso e, ao mesmo tempo, esperamos que as mulheres pleiteiem sua participação junto aos comitês estaduais”.

O próximo curso terá o mesmo formato e conteúdo do realizado em julho, com alguns ajustes pontuais sugeridos pelos alunos e professores. Além disso, aqueles que não puderam terminar seu curso agora poderão, após análise de caso por parte da Escola Nacional, continuar seus estudos em janeiro. “Em seguida, o grupo de trabalho responsável pelo currículo fará uma avaliação levando em conta os núcleos e, em cada nível, como esses núcleos estão articulados”, explica a diretora.

Após a realização deste curso, a Escola vai se focar no desenvolvimento do que deve ser o último nível de formação: os estudos avançados. “Nossa ideia é que tenhamos uma capacitação frequente e continuada e, para isso, contamos com os estados”. A eles cabe a aplicação do nível 1 e, pouco a pouco, a direção nacional espera que o nível 2 também possa ser ministrado pelas seções estaduais. Hoje, já existem experiências regionais. O nível 3 e o avançado ficam a cargo da direção nacional.

“Nossa expectativa é constituir e consolidar as seções estaduais para que, futuramente, a esfera central possa se ocupar com o desenvolvimento do nível avançado, bem como a questões relativas à pesquisa”, coloca Nereide. Além disso, “queremos investir na educação à distância para chegarmos mais longe com a nossa formação. Tecnologia para isso existe, mas sua implantação depende da preparação de professores locais que possam aplicar o curso”, complementa.

Balanço

Na avaliação de Nereide Saviani, apesar de não terem sido completadas as 100 vagas disponíveis, “a presença de 62 pessoas foi positiva levando em conta que o semestre foi marcado por eventos variados e pelo processo congressual do próprio PCdoB”. Segundo ela, na avaliação dos professores, o nível das intervenções e avaliações revelaram evolução dos conhecimentos dos alunos.

O curso teve um diferencial em relação aos de nível 2: os certificados serão entregues após avaliação, em formato de monografia, artigo ou fichamento de livro. A indicação dos temas, da bibliografia e do orientador deve ser feita pelos alunos até o dia 20 de novembro e o trabalho finalizado terá como prazo final 28 de fevereiro.

Neste curso, houve a participação de 19 membros do Comitê Central, três como alunos e os demais como professores ou expositores – que totalizaram 27. O balanço feito pela direção nacional da Escola mostra que neste último curso houve “equilíbrio geral entre as faixas etárias considerando-se o critério de faixas por cinco anos”. No caso de faixas mais largas, a avaliação aponta que o maior percentual está nos alunos entre 20 e 30 anos, com 33,88%, seguida pelas faixas de 31 a 40 anos, com 23,72%; 41 a 50 anos com 23,72% e os acima de 50 anos com cerca de 20%.

Ainda conforme a avaliação, 20,33% dos participantes é profissional do partido, 30,5% funcionários públicos, 22% professores e 23,72% estudantes. Mais da metade – 57,62% – é de militantes há mais de dez anos e 30,5% entre seis e dez anos.

No que diz respeito à formação, o documento mostra que a grande maioria, 90%, participou das atividades do nível 2 (centralizadas ou regionalizadas). Dentre os que informaram sua atuação, 20,33% são da frente sindical e 18,64% da juventude. Do total, 54% atuam de alguma maneira no âmbito da formação militante.


De São Paulo,
Priscila Lobregatte
9 de Setembro de 2009 - 20h08

Paulo Henrique Amorim: nem o Jabor aguenta mais o Serra (e SP)

Amiga navegante ouviu hoje a CBN, a rádio que troca a notícia. Elá estava o Jabor. Nem o Jabor aguenta mais o Serra, o fujão.


Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada


Jabor diz que São Paulo é a cidade mais poluída do mundo, ao lado da Cidade do México. Que, aqui, a Sodoma financeira, a terra do sub-capitalismo selvagem, do capitalismo sem regras, criou um cinturão negro de escravos e assaltantes.


(Êpa, êpa, lá vem o “vândalo”…)


Antes, São Paulo era o progresso, o orgulho, a locomotiva que ia nos salvar. A locomotiva quebrou. Hoje, São Paulo é o maior problema do país. Jabor, bem-vindo ao clube!


São Paulo, caríssimo colega Arnaldo Jabor, tem um problema que você não menciona. É o PiG (*), Jabor. O PiG (*) de que a tua CBN faz parte. Do SPTV, que omite, distorce e protege os tucanos. Uma imprensa que engana os moradores da cidade. Ilude. Vende a idéia de que São Paulo é a Chuíça (**), é a Lucerne do Gilberto Dimenstein. Um PiG (*) que sentou no colo dos tucanos há 15 anos e passa a mão na cabeça incompetente deles todos, Jabor.


A imprensa não é o pior de São Paulo. Nem a falta d’água, que você denuncia. O pior é a elite branca. De que o PiG (*) é cúmplice. Deste capitalismo sub-selvagem.

Jabor, sai do Jardim Paulistano e dá um pulo hoje em Heliópolis. Vai ver como está a coleta de lixo, Jabor. Sabe qual é a cara de São Paulo, Jabor? É o Maluf. Hoje, fantasiado de José Serra.


Bem-vindo ao clube, Jabor.




(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Chuíça é o que o PiG (*) de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

terça-feira, 8 de setembro de 2009


8 de Setembro de 2009 - 12h46


 Menino de 10 anos é símbolo da resistência em Honduras

Desde o final de agosto, quando fez um discurso inflamado contra o golpe de Estado em Honduras, o menino Oscar David Montesinos vem ganhando fama mundial. Com apenas 10 anos, ele impressiona pela desenvoltura com que fala contra o governo de Roberto Micheletti, que desde o fim de junho comanda o país. Veja abaixo o vídeo com o discurso do menino contra o golpe.

Durante um show em homenagem à resistência, em Tegucigalpa, capital hondurenha, o menino falou pouco mais de dois minutos. Foi o suficiente para se tornar símbolo da luta contra o golpe no país. O vídeo em que o menino é ovacionado multiplicou-se na internet e tem até versão legendada em português. São inúmeros os comentários de apoio ao presidente deposto Manuel Zelaya.

Na sua breve fala, Oscar David Montesinos afirma que “nós, o povo, temos o poder de colocar Goriletti-Micheletti em xeque”. “Mais duro contra os golpistas!” e “Passo firme até a revolução”, são somente duas das expressões usadas pelo pequeno revolucionário. Veja abaixo a versão com legendas. 


Com Rede Brasil Atual
o discurso dos Coitados!
 
Esse texto é resultado de uma revolta particular com as incongruências teóricas e práticas que teimam em seguir hegemônicas no rural brasileiro. Resolver um problema criando outro é uma prática estéril que pouco faz para o desenvolvimento nacional. Resolver o problema de acesso a terra fabricando futuros “sem terra” é estrategicamente incorreto. E a história provará isso. Vamos a questão.
 
A concentração da propriedade da terra é secular e responsável por grande parte das desigualdades sociais no Brasil. É concreto. Exige elaboração teórica e estratégias baseadas na realidade concreta. Portanto, uma reforma agrária parece imprescindível. Veja que uso o artigo indefinido e reforma agrária aparece com iniciais minúsculas, não sendo substantivo próprio como alguns desejam. O artigo é indefinido porque não se sabe ao certo qual reforma agrária vai acontecer. Ninguém sabe ao certo qual o caminho da reforma agrária, mas tenho convicção de que deve ser orientada ao futuro, com os pés e a cabeça no futuro, aproveitando os avanços que a sociedade já conquistou, principalmente no que tange ao desenvolvimento humano. Redução da jornada de trabalho, direitos trabalhistas, férias, descanso remunerado, assistência médica e odontológica, acesso a educação e a cultura universais, inclusão dos homens no mundo de todos os homens. Qual a justificativa para que os homens e mulheres do mundo rural não tenham acesso a essas benesses?
 
A agricultura familiar como está não é capaz de garantir esses direitos. Esses indivíduos são verdadeiros ornitorrincos na luta de classes. Não são proletários, trabalhadores assalariados, e por isso não conseguem lutar de forma organizada pelos direitos trabalhistas. Tampouco são capitalistas, burgueses, donos dos meios de produção, que exploram força de trabalho assalariada. 
 Não conseguiram ainda se libertar dessas migalhas do capitalismo, que traz consigo a expectativa de tornar-se também um “bem sucedido” economicamente. São proprietários sim, mas isso é meramente uma formalidade. Não são competitivos numa economia onde a escala de produção é um elemento a considerar. A única força de trabalho que exploram é a dos membros da própria família, que cumprem jornadas de trabalho exaustivas, sem receber salário, pois é o “pai” quem controla as finanças, de forma extremamente amadora. Ou exploram outros agricultores familiares, mais próximos da proletarização que eles. É esse o modelo de reforma agrária que queremos? É esse o caminho para a emancipação dos homens?
 
O discurso da agricultura familiar é conservador e reacionário em dois pontos principais. Tem como base social a família, célula da sociedade burguesa, e como estrutura organizacional a garantia da propriedade privada dos meios de produção. A família se transforma, e a experiência dos países de capitalismo avançado mostra que cada vez menos a família como um todo se ocupa das atividades agropecuárias. Geralmente é só o “pai”, e mesmo assim, este assume a atividade como um profissional, tal qual o advogado, o pedreiro, o médico. É bem formado para isso, não sendo raros os casos onde a universidade foi meio de formação. E sobre a questão da propriedade não precisa maiores delongas. Enquanto houver propriedade privada dos meios de produção haverá exploração do homem pelo homem. Ou vão extrair mais-valia de onde?
Sem falar na otimização dos fatores de produção e dos recursos, sempre escassos, como diriam os economistas. Existe uma superexploração do trabalho e uma subutilização dos outros fatores de produção. Trabalham até 14 horas diárias (que outra categoria social seria valente o suficiente para agüentar isso! - diria o francês Bruno Jean) e tem um trator para 10 hectares de terra. Utilizam áreas marginais, que não teriam outro uso senão para preservação dos recursos naturais (tecnicamente falando). São pouco eficientes na alocação dos recursos e não tem nenhum controle sobre isso. E o argumento de que são protetores dos recursos naturais não se fundamenta na prática. Exemplo disso é a depredação do bioma Mata Atlântica, ocupado na sua maior parte por agricultores familiares. Restam em todo o país menos de 7% da área original. E o campeão de desmatamento tem sido Santa Catarina, onde a base social da agropecuária é........a agricultura familiar.
 
O PT, que ao menos no nome é Partido dos Trabalhadores, assumiu o discurso da agricultura familiar, criando inclusive sindicatos (ainda ONGs juridicamente) paralelos, enfraquecendo os históricos STRs e suas Federações, como a CONTAG. Conhecem a FETRAF? No curto prazo essa entidade tem servido para acumular forças para a categoria. As liberações remuneradas de militantes dessa organização não seriam possíveis sem a contribuição sindical que recebem. Inclusive a eleição de muitos deputados da referida legenda deu-se com apoio desses companheiros e companheiras. Mas a história vai revelar a dimensão dos erros que estão cometendo, pois servem agora como legítimos pelegos: não deixam que o desenvolvimento das forças produtivas conduza a uma diferenciação social mais acelerada, geradora de consciência de classe entre os trabalhadores. Contradizem Lênin abertamente e ainda se dizem revolucionários. Tolos.
 
Os defensores da agricultura familiar agarram-se a argumentos saudosistas, do “tempo dos colonos...”, de que “antigamente era melhor...” e assim por diante, desconsiderando os avanços da sociedade capitalista, e as profundas transformações que a eles são inerentes. Apelam para a subjetividade religiosa das pessoas para persuadi-las, enaltecendo os argumentos e desconsiderando os fatos. E como dizem, contra fatos não há argumentos cabíveis. Resta-lhes pregar a imagem dos “Coitados dos nossos colonos!...”
Francamente! Precisamos de uma política laica, de uma ciência laica, de um Estado laico. Ou superamos o subjetivismo religioso que enaltece uma bucólica agricultura familiar, ou não avançaremos na questão agrária.
 
 Elvio Izaias da Silva
Agronomo 
 
 http://barbaopiniao.blogspot.com/
7 de Setembro de 2009 - 0h10

 Internet mais pobre sem Saramago

Carlos Pompe *

No dia 1º, José Saramago se despediu dos leitores de seu Caderno — o blog que inaugurou no dia 15 de setembro de 2008. Nele opinou um pouco sobre tudo e reafirmou posições e compromissos. Inclusive, reafirmou suas convicções marxistas e seu compromisso leninista com o Partido Comunista Português.


Uma seleção do que ele postou no blog foi coletada em livro, O Caderno, que sua editora italiana, Einaudi, pertencente ao direitista primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que se negou a publicar a versão italiana do livro em sua editora devido às críticas que Saramago fez em seus artigos ao governante da Itália.

Além de dizer que seus livros proporcionavam lucro ao dono da editora, o escritor ainda o chamou de “coisa” e delinquente: “Os valores básicos da convivência humana são espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo”. (A coisa Berlusconi, 8/6/09)

Saramago abordou, ao longo desses meses, temas os mais variados das artes – inclusive a literatura, seu ofício – e da sociedade. Expressou seu repúdio ao terrorismo do Estado de Israel contra os palestinos e também condenou ações terroristas contra civis, ocorressem onde fossem. Clamou pela paz e pelo fim das discriminações. Depôs sobre artistas, ativistas e políticos que admira ou conheceu – e também os que deplora.

Seu estilo e sua visão e cultura amplas proporcionaram (e proporcionam, pois os textos continuam abertos à visitação) reflexões como esta, sobre a necessidade de os homens também se rebelarem contra a agressão às mulheres: “Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia”. (Problema de homens, 28/7/09)

Sua abordagem sobre seu papel como artista e cidadão é um caminho a seguir para os que zelam pela coerência: “Como escritor, creio não me ter separado jamais da minha consciência de cidadão. Considero que aonde vai um, deverá ir o outro. Não recordo ter escrito uma só palavra que estivesse em contradição com as convicções políticas que defendo, mas isso não significa que tenha posto alguma vez a literatura ao serviço directo da ideologia que é a minha. Quer dizer, isso sim, que ao escrever procuro, em cada palavra, exprimir a totalidade do homem que sou”. (Do sujeito sobre si mesmo, 7/7/09)

Materialista confesso, pronunciou-se inúmeras vezes contra as duas principais seitas monoteístas do Ocidente: “Se Alá não toma conta da sua gente, isto vai acabar mal. Já tínhamos a Bíblia como manual do perfeito criminoso, agora é a vez do Corão, que o xeque Al Nayan reza todos os dias”. (Torturas, 11/5/09) Este outro seu argumento é atualíssimo neste nosso Brasil, quando governo e Vaticano se unem para perpetrar mais um atentado contra o Estado laico: “Seria de agradecer que a Igreja Católica Apostólica Romana deixasse de meter-se naquilo que não lhe diz respeito, isto é, a vida civil e a vida privada das pessoas. Não devemos, porém, surpreender-nos. À Igreja Católica importa pouco ou nada o destino das almas, o seu objetivo sempre foi controlar os corpos, e o laicismo é a primeira porta por onde começam a escapar-lhe esses corpos, e de caminho os espíritos, já que uns não vão sem os outros aonde quer que seja. A questão do laicismo não passa, portanto, de uma primeira escaramuça. A autêntica confrontação chegará quando finalmente se opuserem crença e descrença, indo esta à luta com o seu verdadeiro nome: ateísmo. O mais são jogos de palavras”. (Laicismo, 4/6/09)

As convicções comunistas do autor também não ficam escondidas em jogos de palavras. Quando um político foi agredido, no 1º de Maio deste ano, Saramago pediu a expulsão dos agressores, se fossem militantes do partido (ele o é há mais de 40 anos), e provocou: “A Vital Moreira chamaram-lhe ‘traidor’, e isto, queira-se ou não se queira, é bastante claro para que o tomemos como o cordão umbilical que liga o desprezível episódio do desfile do 1º. de Maio à saída de Vital Moreira do Partido Comunista há vinte anos. Que espero que não seja por me considerarem a mim também traidor, pois embora militante disciplinado, nem sempre estive de acordo com decisões políticas do meu partido”. (Expulsão, 2/509)

Saramago deixa em aberto a possibilidade de ainda postar textos eventuais no seu blog. Como ele próprio escreveu numa homenagem ao mais conhecido comunista português, Álvaro Cunhal (em 31/7/09)

– “Envelhecer é não ser preciso. Ainda precisávamos de Cunhal quando ele se retirou”.
Ainda precisamos de Saramago, que não envelhece. Disse que se retira da internet para se dedicar mais e melhor aos seus livros. Pois que venham os livros!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

31 de Agosto de 2009 - 19h08

Fraternidade ecológica

Moises Diniz *

Quanto texto, conferência, dissertação, opinião, tinta, tipografia, hemorragia de letras e quanto verbo acerca da necessidade de manter preservada a floresta. Só a quantidade de celulose utilizada em bilhões de páginas de papel, escritas sobre o assunto, reporia 2% da floresta devastada do planeta.

E ninguém sugere que olhemos para as nossas origens na floresta, após a nossa longa, fria e tenebrosa passagem pelas águas.

Temos um medo abissal de olhar para as extremidades de nossos dedos e descobrir que, durante quase um século de milhões de anos, resistimos nas árvores. Nossas garras, que depois se transformaram em mãos, guardaram as marcas digitalizadas das cascas das árvores. Quando vamos retirar a nossa carteira de identidade, o nosso polegar denuncia a nossa origem animal e as marcas indeléveis que ficaram do tempo inestimável de nossa vida braquiadora na floresta.

Viemos de uma resistência biológica e ecológica de milhões de anos. Nossos antepassados, esgotado o período de especiação, estão na floresta a nos lembrar que a única coisa que nos separa dos mamíferos inferiores é a palavra e o raciocínio lógico. Isso já basta para entendermos que entre nós e os mamíferos inferiores deve existir uma cumplicidade que não deixa de ser gratidão.

Além de termos vindo de lá, a partir da evolução das espécies, nos alimentamos de sua carne e de seus frutos. Mesmo os animais domesticados um dia viveram na floresta. A partir das florestas ocupamos as planícies, as cavernas. De lá retiramos as nossas primeiras ferramentas, nossos nomes e vestimentas.

À exceção do sal, o que consumimos que não tenha vindo da floresta? Até os combustíveis fósseis são resultados de trilhões de árvores envelhecidas, apodrecidas e soterradas no quase intocável subsolo do planeta.

Tudo o que temos de mais forte e mais precioso em nossa carga biológica, genética e humana foi adquirido e aperfeiçoado na floresta. Nossas mãos retráteis nasceram do contato rústico e dolorido com as cascas das árvores. Nosso esqueleto de alta resistência e formidável elasticidade óssea foi construído entre os galhos, em nosso deslocamento arbóreo. Nossa visão estereoscópica é fruto da vivência entre as folhagens da copa das árvores.

Adquiridas essas ferramentas biológicas e esgotado o alimento em nosso nicho ecológico arbóreo, como uma espécie fugindo da extinção, descemos ao solo das imensas florestas, antes de nos aventurarmos nas planícies. Nas florestas demarcamos os nossos territórios, organizamos as nossas hordas e famílias e iniciamos o manuseio primitivo das primeiras ferramentas.

Antes de nossa espécie ter realizado a curva pré-histórica de supremacia ‘espiritual’ entre si e os animais inferiores, a alma não era exclusividade do homo sapiens. Os animais da floresta, especialmente os mais fortes e os mais inteligentes, eram dotados de espírito, que orientavam ou puniam o homo erectus. O espírito do búfalo, do urso, do leopardo, da águia, da serpente.

No longo período de transição entre o primata e o homem, nós vivíamos numa relação desigual com o meio ambiente e seus recursos naturais poderosos. Sofremos intempéries mortais do tempo glacial, da chuva ácida, do sol escaldante, dos vulcões, das torrentes e das tempestades. As feras da floresta nos dizimavam como formigas e nosso tempo era curto em cada território e caverna. Então, decidimos nos vingar, nos transformamos numa força geológica. O antropoceno está matando aqueles que o criaram, como um monstro que nasce do parto de uma borboleta.

A nossa vingança se voltou contra nós mesmos e estamos a destruir as últimas reservas de água, floresta e toda a acumulação primitiva de recursos naturais. Estamos matando a nossa galinha dos ovos de ouro e sequer a maioria da população tem acesso aos ovos.

Uma minoria consome os recursos naturais, que se tornam bens sofisticados, enquanto a maioria da população do planeta não sabe o que é beber água potável ou alimentar-se três vezes ao dia. Apesar disso, o planeta está se exaurindo e deixando órfãs de seus recursos naturais as gerações do futuro.

No decorrer dos séculos, com o avanço da tecnologia, perdemos a cumplicidade entre o ser humano e o espaço verde que nos criou e nos alimenta. Os homens que dirigem o planeta são os antigos mamíferos que se tornaram lobos do semelhante. Eles cuidam de sua alcatéia, de sua minoria, a controlar e consumir os recursos naturais com cérebro de lobo e estômago de lagarta.

Talvez uma maldição biológica explique a nossa vingança. Nossos genes são quase iguais aos genes dos ratos. Quanto aos macacos somos mais semelhantes, além dos genes, da herança do esqueleto, da fisiologia, da fisionomia e das digitais. Somos descendentes próximos dos macacos e parentes distantes dos anjos. E ainda temos a ousadia de afirmar que somos filhos de Deus.

Durante setenta milhões de anos vivemos nas florestas. Quanto à vida humana nas cidades, ainda não completou meio milhão de anos. E por que tanto desamor aos recursos naturais? Por que tanta indiferença às formas de vida indefesa das florestas e das águas?

Dentre os animais nós somos os únicos capazes de envenenar a própria água que bebemos, de matar um ser vivo sem ter a necessidade de comê-lo para saciar a fome, de escravizar o semelhante, de torturá-lo. Contraditoriamente, somos os únicos que têm alma e, se não bastasse, somos os únicos seres vivos que riem.

A verdade é que toda a nossa ferocidade ancestral e os nossos instintos mais primitivos foram organizados em leis, em códigos canônicos e em sociais convenções. O presídio de hoje é a árvore oposta que abrigava a família de símios que queria roubar os meus frutos. A civilização é uma pele humana que cobre a nossa animalidade ancestral.

Talvez, por isso, não consigamos olhar com fraternidade para as formas de vida que não riem, não torturam, não matam a si mesmas, não rezam, não escravizam. Felizmente, nossos somos a única espécie que perdoa.

Por isso a nossa aposta na espécie humana, na sua capacidade de transformar lixo em arte, de recuperar os rios, de reciclar sua urina, de fazer de um grito uma música, de transformar o desejo mais simples em utopia e de, finalmente, perceber a dimensão da dor nas formas de vida que não fazem parte da civilização.

Somente uma nova ordem humana e ecológica e uma nova filosofia de produção e de consumo serão capazes de deter a barbárie da civilização. Que os antigos espíritos dos animais da terra e das águas nos orientem no rumo ontológico de nossas origens e de nossas utopias coletivas, embebidas no orvalho amazônico da fraternidade e na cura das enfermidades da alma humana, reconstruindo o pacto sócio-ecológico entre o homem e a floresta.


* Neto de índios Ashaninkas, ex Irmão Marista, formado em pedagogia e
deputado estadual pelo PCdoB no Acre.

FIDEL CASTRO - OS FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIO

3 de Setembro de 2009 - 17h01


O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, afirmou que as notícias diretas procedentes dos Estados Unidos produzem em certas ocasiões indignação e às vezes repugnância.
Em um artigo intitulado "O fim não justifica os meios", divulgado na quarta-feira (2) pela publicação digital CubaDebate, Fidel Castro assinala que "qualquer página do grande volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, de um modo geral estão relacionadas com a política dos Estados Unidos da América. Não existe lugar do planeta onde não é experimentada a avassaladora presença do império".

O líder cubano considera que, como é lógico, durante quase dez anos as notícias sobre as guerras brutais dos Estados Unidos ocuparam espaços importantes na imprensa e ainda mais quando havia uma eleição presidencial.
Leia abaixo a íntegra do artigo de Fidel Castro:
Fidel Castro: O fim não justifica os meios

As notícias diretas provenientes dos Estados Unidos da América em ocasiões produzem indignação e outras vezes repugnância.

Como é sabido, nos últimos tempos grande número delas se referiam aos problemas associados à grave crise econômica internacional e as suas consequências no seio do império. Não são, portanto, as únicas referentes a esse poderoso país. Qualquer página do grande volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, de um modo geral estão relacionadas com a política dos Estados Unidos da América. Não existe lugar do planeta onde não é experimentada a avassaladora presença do império.

Como é lógico, durante quase dez anos as notícias sobre as suas brutais guerras ocuparam importantes espaços da imprensa e ainda mais quando havia uma eleição presidencial.

Contudo, ninguém tinha imaginado que no meio do drama das guerras de conquista apareciam as notícias sobre os cárceres secretos e os centros de tortura, um vexante e bem guardado secreto do Governo dos Estados Unidos.

O autor da grotesca política que conduziu a esse ponto tinha usurpado a presidência dos Estados Unidos da América nas eleições de novembro do ano 2000, mediante fraude eleitoral no sul do estado da Flórida onde se decidiu a guerra.

Depois de usurpar o poder , W. Bush não apenas arrastou o país a uma política de guerra, mas também deixou de subscrever o Protocolo de Quioto, negando ao mundo durante 10 anos, na luta pelo meio ambiente, o apoio da nação que consome 25 por cento do combustível fóssil, o que pode ocasionar à espécie humana um prejuízo irreparável. Já a mudança climática está presente no incremento mundial do calor, que os pilotos de aviões executivos podem observar através dos tornados de crescente força que são formados desde as primeiras horas da tarde nas suas rotas tropicais e podem ser motivo de perigo para os seus modernos jatos. Ainda não se conhecem as causas do acidente do avião de Air France que se desintegrou em pleno voo.

Nada seria comparável com as consequências do descongelamento da enorme massa de água acumulada sobre o continente antártico, somada à que se derrete sobre a Groenlândia. O meu ponto de vista sobre a responsabilidade que cai sobre Bush, sustentei-o em recente encontro com o cineasta norte-americano Oliver Stone ao comentar-lhe o seu filme: "W" , referente ao penúltimo Presidente dos Estados Unidos da América.

Limito-me a assinalar que após os erros e horrores políticos de George W. Bush, o ex-presidente Cheney, que foi o seu conselheiro, defende a ideia de que as torturas ordenadas à CIA para obter informação estavam justificadas, razão pela qual salvaram vidas norte-americanas graças à informação obtida por essa via.

É claro que não salvou as vidas dos milhares de norte-americanos que morreram no Iraque, nem as de quase um milhão de iraquianos, nem os que em número crescente morrem no Afeganistão. Também não se sabe quais serão as consequências do ódio acumulado pelos genocídios que estão sendo cometidos ou podem ser cometidos por essas vias.

Trata-se, compreenda-se bem, de um problema essencial de ética política: "o fim não justifica os meios". A tortura não justifica a tortura; o crime não justifica o crime.

Tal princípio foi debatido e se manteve durante séculos. Em virtude dele a humanidade tem condenado todas as guerras de conquista e todos os crimes cometidos. É bem grave que o mais poderoso império e a mais colossal superpotência que haja existido nunca proclame tal política. Mais preocupante ainda não é só que o ex-presidente e o principal inspirador de tão pérfida política a proclame abertamente, mas que um elevado número de cidadãos desse país, talvez mais da metade, a apoie. Nesse caso, seria uma prova do abismo moral ao qual pode conduzir o capitalismo desenvolvido, o consumismo e o imperialismo. De ser assim, deve proclamar-se abertamente e pedir opinião ao resto do mundo.

Considero, contudo, que os cidadãos mais conscientes dos Estados Unidos da América serão capazes de realizar e ganhar essa batalha moral a medida que compreendam a dolorosa realidade. Nenhuma pessoa honesta no mundo deseja para eles, ou para qualquer outro país, a morte de pessoas inocentes, vítimas de qualquer forma de terror, venha de onde vier.

Fidel Castro Ruz, Havana, 2 de setembro de 2009, 19h34 .

Fonte: Agência Cubana de Notícias

GOLPE EM HONDURAS

 3 de Setembro de 2009 - 23h01

Após visita de Zelaya, EUA endurecem com golpistas de Honduras


O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, comemorou a decisão anunciada nesta quinta-feira (3) pelo governo norte-americano de suspender todos os programas de auxílio que mantém com seu país, exceto a ajuda humanitária. Em uma breve entrevista que concedeu após sua reunião com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ocorrida em Washington, Zelaya explicou que as novas sanções demonstram que o regime de facto de Roberto Micheletti "está cada vez mais isolado".

Em uma breve entrevista que concedeu após sua reunião com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ocorrida em Washington, Zelaya explicou que as novas sanções demonstram que o regime de facto de Roberto Micheletti "está cada vez mais isolado". O mandatário também reiterou que sua volta ao poder é uma questão "inegociável"

Nesta quinta-feira (3), o Departamento de Estado norte-americano decidiu suspender "grande parte" das assistências mantidas junto a Honduras. A medida tem como objetivo pressionar o governo de facto a aceitar um acordo que permita a restituição de Zelaya, deposto em um golpe de Estado no fim de junho. O anúncio, feito mediante um comunicado em nome de Ian Kelly, porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos, ocorreu durante a audiência entre Hillary e Zelaya.

No texto, Washington diz ainda que não reconhecerá as eleições presidenciais hondurenhas marcadas para 29 de novembro se o chefe de Estado não for reconduzido ao poder.

"Neste momento, não seremos capazes de apoiar o resultado das eleições", afirma a nota. O Departamento de Estado cobrou uma "conclusão positiva" para a mediação do presidente costa-riquenho, Oscar Arias, o que poderia "prover uma base sólida para a legitimação das eleições".

O comunicado indica que "a restauração das assistências canceladas" será avaliada quando houver em Honduras "a volta de um governo democrático e constitucional". Mas, apesar do endurecimento de posição, Washington evitou qualificar a destituição de Zelaya como um "golpe militar".

Funcionários do governo norte-americano acreditam que o valor dos auxílios interrompidos pode chegar a US$ 200 milhões. Antes, os Estados Unidos já haviam suspendido a cooperação militar e paralisaram o serviço de emissão de vistos para cidadãos hondurenhos.

Também nesta quinta-feira, o governo brasileiro anunciou que voltará a cobrar vistos para hondurenhos que venham ao país. A exigência estava suspensa graças a acordos assinados em 2004.


Fonte: ANSA

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O golpe em Honduras e as bases na Colômbia

À medida que se passam os dias vai ficando mais claro que o golpe em Honduras não foi um fato isolado nem provocado pela consulta cidadã convocada pelo presidente Manuel Zelaya.

Por Frida Modak, para a Prensa Latina

Da mesma maneira, já é evidente que as sete bases militares em que os Estados Unidos se instalarão na Colômbia não têm por objeto combater o narcotráfico ou a insurgência.

Essas não são afirmações com antolhos.

Os Estados Unidos têm uma base militar em Honduras que hoje se chama Soto-Cano, mas que foi conhecida como Palmerola, quando foi criada para combater o governo sandinista.

Dessa base saiam os mercenários "contras" recrutados, adestrados e aparelhados pelos Estados Unidos.

O então presidente estadunidense, Ronald Reagan, batizou aqueles elementos terroristas como "combatentes da liberdade" e os financiou de maneiras muito diversas. Quando o Congresso estadunidense se negou a conceder mais fundos para os mercenários, o financiamento saiu do narcotráfico.

Isso foi admitido e justificado pelo então subsecretário para assuntos latino-americanos Elliot Abrams, que sustentou que dada a atitude do Congresso de seu país, os contras tinham que buscar meios de subsistência.

Vale a pena recordá-lo quando o presidente colombiano, Álvaro Uribe, diz que, com as bases estadunidenses em seu país, busca combater o narcotráfico e erradicar a guerrilha.

Voltemos agora a Honduras.

Empresários e um embaixador no golpe

Na noite do sábado 27 de junho, véspera da consulta cidadã, um assessor do presidente Zelaya sinalizou para mim numa conversa telefônica que se sabia dos chamados do departamento de Estado à Embaixada estadunidense em Honduras e aos até então conspiradores, advertindo-os para "nada de golpes". Isso sugeria que se iniciaria uma ação contra o Governo de Zelaya na segunda-feira 29, quando se houvera produzido o que eles consideravam um delito.

Mas o setor empresarial, que era parte do complô, estimou que não havia que esperar porque a votação a favor da quarta urna seria copiosa e não a poderiam ignorar.

Em Honduras, os empresários chegaram a um acordo com o alto comando das forças armadas, a quem entregaram 30 milhões de lempiras, equivalentes a US$ 1,5 milhão, segundo uma carta em circulação elaborada por oficiais de media graduação.

Em esferas do governo do presidente Zelaya se estimava que votariam a favor da consulta entre 1.200.000 e 1.500.000 pessoas.

O país tem um padrão eleitoral de 4.700.000 inscritos, dos quais 1.300.000 radicados nos Estados Unidos.

Calcula-se que a média de eleitores efetivos pode ser de 2.100.000, portanto, os votos a favor da consulta poderiam alcançar a maioria absoluta.

Tal evidência não podia ser desconhecida e daí surge a decisão dos empresários, entre os quais se contam ex-Presidentes da República, de acelerar suas ações.

Enquanto ao embaixador estadunidense Hugo Llorens, sua participação foi ativa antes e depois do golpe de Estado.

Assim o declarou publicamente faz uns oito dias o candidato presidencial do Partido Democrata Cristão, Felicito Ávila, coletividade que soe atuar de acordo com os setores que tomaram o governo.

Ávila afirmou que o embaixador ia às reuniões conspirativas e a respectiva crônica foi publicada na imprensa hondurenha, que majoritariamente pertence ao setor golpista, como uma advertência a Washington sobre tudo o que poderiam contar.

Se unimos o assinalado a respeito da base estadunidense de Soto-Cano (ex-Palmerola), com os antecedentes do golpe de Estado e a atuação do embaixador Llorens, e o vinculamos com as bases militares que Washington projeta instalar na Colômbia, teremos os alinhamentos de um projeto que com justificada razão alarma os países sul-americanos.

As sete bases

O governo colombiano quer convencer a opinião pública internacional, não só a latino-americana, de que seu convênio com os Estados Unidos não significa instalar bases militares estadunidenses em seu território.

Segundo Uribe, só lhes permitirá ocupar um pedacinho de sete bases colombianas para que aí desenvolvam suas atividades.

Insiste em que os vão receber como achegados para que contribuam no combate aonarcotráfico, mas não se refere aos sete bilhões de dólares recebidos de Washington pelo Governo através do Plano Colômbia.

A essa altura já é um fato indiscutível que esse plano não diminuiu em nada o narcotráfico e a corrupção.

Numerosas figuras políticas do partido do presidente Uribe estão detidas e processadas por seus vínculos com o negócio das drogas.

Também está claro que os paramilitares só aparentemente se desmobilizaram, mas se sabe que voltarão a se reagrupar com outro nome.

O objetivo das bases é outro muito diferente do declarado pelas autoridades colombianas e norte-americanas.

Quando estavam instalados no Panamá, os militares estadunidenses tinham na base Howard um centro de controle não só da América Latina, mas também para monitorar outros continentes, pois ali dispunham de diversos equipamentos de espionagem de alcance internacional.

Os tratados Torrijos-Carter sobre o canal os obrigaram a sair do território panamenho e encontraram acolhida na localidade equatoriana de Manta, onde o depois derrocado presidente Yamil Mahuad permitiu-lhes estabelecer-se em seu território.

O atual presidente equatoriano, Rafael Correa, postulou em sua campanha que não renovaria essa autorização e obrigou-os a desmantelar a base de Manta.

Agora se vão a sete pontos da Colômbia com o pretexto de combater o narcotráfico, no que obviamente ninguém acredita, como tampouco é digerível que só utilizarão escritoriozinhos nas bases colombianas para apoiar o Plano Colômbia.

As autoridades das localidades em que vão se instalar tampouco estão muito à vontade, porque consideram que a presença dos soldados estadunidenses atrai prostituição e corrupção, como já aconteceu nos lugares onde estão há tempos.

Aos países sul-americanos tampouco lhes agrada o assunto porque representa uma ameaça e não o ocultaram.

A União das Nações Sul-americanas, UNASUR, acordou em sua recente reunião no Equador tratar o assunto diretamente com os Estados Unidos no mês de setembro, quando se inicia o período de sessões da Assembleia Geral da ONU e, previamente, se reunirão na Argentina para analisar o tema.

Ao mesmo tempo, UNASUR reiterou seu apoio a Zelaya e reclamou sua restituição na presidência de Honduras, no que também discrepam de Washington.

O presidente estadunidense, Barack Obama, reagiu com desagrado ante as críticas por não tomar medidas enérgicas contra os golpistas hondurenhos.

Segundo Obama, "há uma certa hipocrisia" por parte dos que exigem atuar com clareza em Honduras e os acusou de ser os mesmos que chamam Washington de intervencionista.

Os que criticam essa postura de Obama respondem que a hipocrisia não está aí, mas no papel do embaixador Llorens no golpe, no adestramento dado pelo Pentágono às forças armadas hondurenhas e no "lobby" que defende os golpistas no Congresso estadunidense.

Também há abundante informação sobre o envio de dinheiro proveniente do narcotráfico e de instituições estadunidenses que é entregue na Colômbia a opositores de governos democraticamente eleitos na região.

Em ouras palavras, a hipocrisia consiste em continuar ajudando o golpismo com uma pretensa não intervenção.

*Frida Modak é uma reconhecida jornalista chilena radicada no México e colaboradora de Prensa Latina.
Fonte: Agência de Notícias Nova Colômbia
ENTREVISTA COM O TEOLOGO

Na entrevista que concedeu com exclusividade para a IHU On-Line, o teólogo Leonardo Boff Sobrino pensa a tarefa da teologia a partir das vítimas e do povo crucificado, "o que exige da Igreja uma clara opção pela vida destes todos. Essa conversão custa muito àqueles estratos da instituição que, de certa forma, se fossilizaram em seu status quo".

Renomado teólogo brasileiro, Leonardo Boff foi um dos criadores da Teologia da Libertação e, em 1984, em razão de suas teses a ela ligadas e apresentadas no livro Igreja: carisma e poder - ensaios de eclesiologia militante (3. ed. Petrópolis: Vozes, 1982) foi condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano. Deixou, então, a Ordem dos Freis Franciscanos e desde 1993, é professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. É autor de mais de 60 livros nas áreas de teologia, espiritualidade, filosofia, antropologia e mística, entre os quais citamos Ética da Vida (Rio de Janeiro: Sextante, 2006) e Virtudes para outro mundo possível II: convivência, respeito e tolerância (Petrópolis: Vozes, 2006). Boff escreveu um depoimento sobre as razões que ainda lhe motivam a ser cristão, publicado na edição especial de natal da IHU On-Line, número 209, de 18 de dezembro de 2006.

Eis a entrevista de Leonardo Boff a IHU On-Line, por e-mail.

IHU On-Line - A recente notificação da Congregação para a Doutrina da Fé sobre duas obras de Jon Sobrino coloca novamente em pauta a Teologia da Libertação. Por que motivo esta teologia, que alguns chegam a considerar defunta, continua provocando tanta inquietação?

Leonardo Boff - Esta teologia está viva em todas as Igrejas que tomaram a sério a opção pelos pobres, contra a pobreza, e em favor da vida e da liberdade. O Fórum Social da Teologia da Libertação, celebrado uma semana antes do último Fórum Social Mundial, em Porto Alegre[1], trouxe 300 representantes de todos os continentes e mostrou a vitalidade desta teologia. A notificação contra Jon Sobrino[2], um dos mais significativos teólogos da libertação, mostra que Roma está reagindo porque, no meu modo de ver, está perdendo a batalha contra a Teologia da Libertação. Os dois documentos, um de 1984 e o outro de 1986, não conseguiram abafar esta teologia. Como ela nasceu ouvindo o grito dos oprimidos e hoje este grito aumentou e virou clamor, ela tem todas as razões para continuar viva. Hoje não apenas os pobres gritam, como também gritam as águas, as florestas, os animais e a própria Terra sob a agressão sistemática do modo de produção e consumo globalizado. Assim, surgiu uma vigorosa ecoteologia da libertação, nascida na América Latina e assumida em muitas igrejas e universidades do primeiro mundo. Jon é incômodo à ideologia vigente no Vaticano, cujo objetivo é articular a Igreja Católica com os poderes emergentes. Ele, Sobrino, pensa a tarefa da teologia a partir das vítimas e do povo crucificado, o que exige da Igreja uma clara opção pela vida destes todos. Essa conversão custa muito àqueles estratos da instituição que, de certa forma, se fossilizaram em seu status quo.

IHU On-Line - Uma das grandes dificuldades da ortodoxia católica com respeito à Teologia da Libertação é a afirmação de uma nova hermenêutica que envolve uma ortopraxis. Jon Sobrino fala em hermenêutica da práxis. Para ele, não há como compreender Jesus fora da prática de seu seguimento. Qual o alcance dessa reflexão teológica e em que medida ela provoca uma mudança na reflexão cristológica em curso?

Leonardo Boff - A teologia mesmo tradicional sempre afirmou que a missão da teologia não se esgota na simples compreensão da fé, mas deve sempre pensar a fé informada pela caridade que leva à prática. De mais a mais não é dizendo "Senhor, Senhor"[3] e fazendo cristologia que estamos sendo fiéis à mensagem de Cristo, mas "fazendo a vontade do Pai" que significa uma prática. Em outras palavras, o que salva de fato não é a ortodoxia, mas a ortopraxia, não as prédicas, mas as práticas. Na América Latina esta exigência de prática se chama "seguimento de Jesus", que implica valorizar sua prática libertadora, escutar sua mensagem especialmente aquela que dá centralidade aos pobres (serão nossos juízes definitivos, segundo Mateus, 25[4]) e compartilhar de seu destino que pode ir da maledicência, passando pela tortura, até a morte. Não é sem razão que a única Igreja hoje que possui mártires desde leigos, religiosos(as), padres e até bispos como Dom Romero[5] de El Salvador e Dom Angelelli[6] da Argentina, é a Igreja da libertação. Jon Sobrino mesmo é um sobrevivente do fuzilamento de toda a sua comunidade jesuítica de El Salvador, 6 confrades, além da cozinheira e sua filha de 15 anos. Salvou-se porque nessa noite estava fora de casa[7]. Toda esta temática que envolve tensões e conflitos não agrada Roma, que sempre busca composições para manter uma paz que é aparente e uma harmonia que é duvidosa.

IHU On-Line - Na recente notificação sobre as obras de Jon Sobrino há um questionamento aos pressupostos metodológicos utilizados pelo teólogo de El Salvador, em particular a idéia da Igreja dos pobres como lugar teológico fundamental. Como situar a centralidade da questão dos pobres na Teologia da Libertação?

Leonardo Boff - Há uma diferença fundamental entre o método convencional de se fazer teologia nos centros metropolitanos de teologia e no Vaticano e o nosso da América Latina. Essa diferença ficou clara na recente Exortação Apostólica Sacramento da Caridade, do atual Papa Bento XVI. Esse documento com mais de cem páginas se estrutura em três partes: a primeira, a Eucaristia objeto de fé; a segunda, a Eucaristia, objeto de celebração; e a terceira, a Eucaristia objeto de vivência. Curiosamente, nesta última parte o documento entra na realidade conflitiva do mundo atual, da fome, das guerras e das ameaças ecológicas. Mas isso nada tem a ver com as duas primeiras partes. Portanto, parte-se de cima para baixo, da fé, da tradição e da celebração litúrgica. Só depois se derivam conseqüências. É uma teologia das conseqüências. Nós, da América Latina, inclusive os documentos oficiais da Igreja latino-americana, como Medellín[8] (1968), Puebla[9] (1979) e Santo Domingo[10] (1992), partimos da última parte, quer dizer, da realidade. Esta não vem apenas referida, mas analisada com os instrumentos das ciências sociais, históricas, antropológicas, ecológicas e pedagógicas. Isso para evitar a mera relação de fatos sem discernir as inter-relações entre eles e suas causalidades. Procuram-se as estruturas que funcionam na base destes fatos e que produzem as contradições. Só depois invocamos a Escritura, a Tradição e o Magistério para iluminar, criticar e ressaltar pontos centrais da realidade que deve ser assumida pela Igreja, no caso, pelas Igrejas. Essa virada metodológica é de difícil aceitação por parte do Vaticano e também das teologias progressistas européias e norte-americanas. Antes de tudo, porque a maioria não sabe fazer uma análise consistente da realidade e depois incorporaria outros olhos, com os quais se lê a realidade e os textos fundadores da fé. O método é mais que método. É uma verdadeira conversão pessoal e institucional. Quando partimos da realidade, encontramos, escandalosamente à vista, os pobres e os oprimidos. Escutamos seus gritos, vemos suas chagas. E aí a atitude básica é aquela de Jesus: miserior super turbas[11]. E sentimos a urgência de nos solidarizar, aliviar suas cruzes e colaborar para que saiam desta anti-realidade. Operar isso é obra das Igrejas da libertação e da reflexão que as acompanha, que é a teologia e a pedagogia de libertação.

IHU On-Line - Ainda na notificação sobre as obras de Jon Sobrino há uma inquietação sobre a ênfase dada pelo autor no Jesus histórico, bem como na sua relacionalidade. Na visão de Sobrino, torna-se problemática a absolutização absoluta de Cristo, ou seja, o esquecimento da dupla relacionalidade de Jesus: com o reino de Deus e o Deus do reino. Está havendo um certo risco de cristomonismo, na tendência em curso de questionamento do "reinocentrismo da Teologia da Libertação e o que isso significa para a Igreja na América Latina?

Leonardo Boff - O risco teológico mais antigo da Igreja Romana é o cristomonismo, quer dizer, a ditadura de Cristo na Igreja e no mistério da salvação. Em primeiro lugar há que se afirmar que Jesus é Filho de Deus e não simplesmente Deus, o que remete para o Pai, que na relação com o Filho faz proceder o Sopro, que é o Espírito. Portanto, a inteira Trindade está presente na história e no processo de salvação e libertação. O conceito mais englobante e ligado à prédica de Jesus é a categoria Reino que envolve toda a criação, as sociedades humanas e as pessoas para culminar no Reino da Trindade. Dar centralidade ao Reino é sermos fiéis ao Jesus histórico, que não se preocupou com a Igreja, mas com o Reino e, ao mesmo tempo, considerarmos que nada está fora do Reino, categoria globalizadora de todas as instâncias do real. Jon Sobrino tem enfatizado que a construção do Reino se faz sempre contra o Anti-Reino, que é uma energia de oposição e anti-crística que encontra base na realidade e foi ela quem assassinou Jesus Cristo e os mártires de toda a história. A categoria Reino, bem como a categoria de Povo de Deus, não são bem vistas pela teologia institucional de Roma porque relativizam a Igreja e fazem dela apenas Sacramento do Reino, mediação do Reino, pálida presença do Reino no mundo, mas nunca o próprio Reino identificado com a Igreja. Essa humildade de ser apenas a vela e não a chama é difícil para uma Igreja que se auto-finalizou e se considera como uma espécie de galáxia englobando todos os sistemas e subsistemas.

IHU On-Line - Quais são os desafios do pluralismo religioso hoje, para o fazer teológico na América Latina?

Leonardo Boff - O desafio primeiro é reconhecer o fato do pluralismo religioso. Isso não constitui uma patologia ou decadência, mas um dado positivo de realidade. É mais ou menos como a biodiversidade. Terrível seria se, na natureza, houvesse apenas pinus eliotis ou baratas. A riqueza está na biodiversidade ecológica analogamente ao valor da diversidade religiosa. Cada expressão religiosa revela algo do Mistério de Deus e nenhuma pode pretender possuir qualquer monopólio, nem da revelação nem dos meios de salvação. A graça e o propósito salvador de Deus perpassam toda a realidade e são oferecidos a todos. O segundo desafio se prende ao valor que damos a esta diversidade. Já o disse: são formas diferentes de expressar o Mistério, e por isso devemos aprender uns dos outros, nos enriquecermos com as trocas, os diálogos e as buscas de convergências, em vista do serviço espiritual dos povos, alimentando neles a chama sagrada da presença de Deus que está na história e no coração de todos. Temos ainda muito que andar para realizarmos esta tarefa. Mas, pelo menos, não temos ainda guerras de religião e entre fundamentalismos que já estão surgindo entre nós.

IHU On-Line - Em recente artigo, o teólogo Clodovis Boff[12] assinalou que a Conferência de Aparecida não poderá ser a repetição, ainda que atualizada, das Conferências de Medellín, Puebla e Santo Domingo, mas deverá, sim, inovar em sua forma e acento, face aos novos sinais dos tempos. Será o caso? Por quê?

Leonardo Boff - Eu creio que Aparecida deve consagrar a caminhada do magistério das Igrejas latino-americanas, pois não ganhou ainda sustentabilidade e reconhecimento oficial, especialmente por parte do Vaticano. Ai há pontos inegociáveis, como a libertação (Medellín), a opção pelos pobres (Puebla) e a inculturação (Santo Domingo). Mas não basta patinar sobre o mesmo chão. Importa ver quais são os sinais dos tempos hoje e com referência a eles pronunciar uma palavra adequada que tenha o significado de uma boa nova. Os cristãos têm direito de pedir isso a seus pastores. Creio que continua de pé ainda o clamor dos pobres, as desigualdades e injustiças, mas valorizando o que eles estão fazendo em seus movimentos, partidos e articulações de trabalhadores, índios, negros, mulheres. Esses sujeitos históricos se cansaram das elites e resolveram votar em si mesmos e em representantes que vêm de seu meio, assim no Brasil, na Bolívia, no Equador e em outros lugares. Depois, há a urgência que nos vêm do fato de que a Terra vai encontrar um novo equilíbrio aumentando seu aquecimento em até 3-4 graus Celsius, o que pode implicar a criação de milhões e milhões de vítimas e uma fantástica dizimação de seres vivos, emigrações numerosíssimas, destruição de cidades marítimas e outras conseqüências ligadas às mudanças climáticas, gerando fome e sede para milhões por causa da destruição das safras. Todas estas questões estão na ordem do dia das políticas mundiais e deveriam estar na agenda pastoral de nossas Igrejas. Dai a importância de Aparecida estar atenta aos novos sinais dos tempos. Se não estiver atenta aos tempos, como vai ler os sinais dos tempos?

IHU On-Line - Quais são as perspectivas para a 5ª Assembléia da Conferência Episcopal Latino-Americana em Aparecida, depois da notificatio sobre a obra de Jon Sobrino?

Leonardo Boff - Creio que não vai ter muita influência negativa. A condenação de escritos de Jon Sobrino, no meu modo de ver, e isso é acenado por ele mesmo, em sua carta ao Geral de sua Ordem, se deve ao furor condemnandi da Teologia da Libertação, furor presente no grupo latino-americano de Cardeais e altos funcionários da Cúria Romana. Não é mistério a oposição sistemática que fazem o Card. Alfonso López Trujillo[13], Dario Castrillon Hoyos[14] e Lozano Barragan[15] e, não em último lugar, Dom Karl Joseph Romer[16], ex-bispo auxiliar do Rio de Janeiro e agora em Roma, sempre zeloso em identificar erros e heresias possíveis em bispos e em teólogos. Eles estão para se aposentar. Quiseram fazer um agrado ao Papa, limpando o terreno para sua vinda ao Brasil, condenando a Jon Sobrino. Batem nele, mas pensam na Igreja latino-americana que querem reenquadrar no processo persistente de romanização que foi iniciada por João Paulo II e está sendo levada avante pelo atual papa.

IHU On-Line - Quais são as possibilidades e os limites da criação de novos espaços para o exercício da reflexão teológica latino-americana, para uma teologia cada vez mais pública?

Leonardo Boff - Estimo que os leigos devem mais e mais assumir a tarefa da teologia e mais ainda, de salvaguardar a herança de Jesus, contra a mediocrização a que está sendo submetida por uma política vaticana mais carnal que espiritual, mais centrada no poder que no carisma, mais eclesiocêntrica do que reinocêntrica. Eles, como leigos, não estão ao alcance das instituições de vigilância dos órgãos doutrinais do Vaticano. E a maioria está dentro das universidades do Estado e por isso gozam da proteção da liberdade acadêmica e das leis, pois o Vaticano passa por cima até dos direitos mais comezinhos quando quer salvaguardar seus interesses. Houve épocas no começo da Igreja nas quais quase todos os bispos viraram hereges nestorianos. Foram os leigos que salvaram a ortodoxia cristológica e mariológica. Talvez hoje estejamos enfrentando situação semelhante.