segunda-feira, 18 de abril de 2016

'Um golpe parlamentar e a volta reacionária contra a corrupção'

“Ela não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões”.

Um golpe parlamentar e a volta reacionária da religião, da família, de Deus e contra a corrupção.

Observando o comportamento dos parlamentares nos três dias em que discutiram a admissibilidade do impedimento da presidenta Dilma Rousseff parecia-nos ver criançolas se divertindo num jardim da infância. Gritarias por todo canto. Coros recitando seus mantras contra ou a favor do impedimento. Alguns vinham fantasiados com os símbolos de suas causas. Pessoas vestidas com a bandeira nacional como se estivessem num dia de carnaval. Placas com seus slogans repetitivos. Enfim, um espetáculo indigno de pessoas decentes de quem se esperaria um mínimo de seriedade. Chegou-se a fazer até um bolão de apostas como se fora um jogo do bicho ou de futebol.

Mas o que mais causou estranheza foi a figura do presidente da Câmara que presidiu a sessão, o deputado Eduardo Cunha. Ele vem acusado de muitos crimes e é réu pelo Supremo Tribunal Federal: um gangster julgando uma mulher decente contra a qual ninguém ousou lhe atribuir qualquer crime.

Precisamos questionar a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal por ter permitido esse ato que nos envergonhou nacional e internacionalmente a ponto de o New York Times de 15 de abril escrever: “Ela não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões”. Que interesse secreto alimenta a Suprema Corte face a tão escandalosa omissão? Recusamos a idéia de que esteja participando de alguma conspiração.

Ocorreu na declaração de voto algo absolutamente desviante. Tratava-se de julgar se a presidenta havia cometido um crime de irresponsabilidade fiscal junto a outros manejos administrativos das finanças, base jurídica para um processo político de impedimento que implica destituir a presidenta de seu cargo, conseguido pelo voto popular majoritário. Grande parte dos deputados sequer se referiu a essa base jurídica, as famosas pedaladas fiscais etc. Ao invés de se ater juridicamente ao eventual crime, deram asas à politização da insatisfação generalizada que corre pela sociedade em razão da crise econômica, do desemprego e da corrupção na Petrobrás. Essa insatisfação pode representar um erro político da presidenta mas não configura um crime.

Como num ritornello, a grande maioria se concentrou na corrupção e nos efeitos negativos da crise. Apostrofaram hipocritamente o governo de corrupto quando sabemos que um grande número de deputados está indiciado em crimes de corrupção. Boa parte deles se elegeu com dinheiro da corrupção política, sustentada pelas empresas. Generalizando, com honrosas exceções, os deputados não representam os interesses coletivos mas aqueles das empresas que lhes financiaram as campanhas.

Importa notar um fato preocupante: emergiu novamente como um espantalho a velha campanha que reforçou o golpe militar de 1964: as marchas da religião, da família, de Deus e contra a corrupção. Dezenas de parlamentares da bancada evangélica claramente fizeram discursos de tom religioso e invocando o nome de de Deus. E todos, sem exceção, votaram pelo impedimento. Poucas vezes se ofendeu tanto o segundo mandamento da lei de Deus que proíbe usar o santo nome de Deus em vão. Grande parte dos parlamentares de forma puerial dedicavam seu voto à família, à esposa, à avó, aos filhos e aos netos, citando seus nomes, numa espetacularização da política de reles banalidade. Ao contrario, aqueles contra o impedimento argumentavam e mostravam um comportamento decente.

Fez-se um julgamento apenas politico sem embasamento jurídico convicente, o que fere o preceito constitucional. O que ocorreu foi um golpe parlamentar inaceitável.

Os votos contra o impedimento não foram suficientes. Todos saímos diminuídos como nação e envergonhados dos representantes do povo que, na verdade, não o representam nem pretendem mudar as regras do jogo político.

Agora nos resta esperar a racionalidade do Senado que irá analisar a validade ou não dos argumentos jurídicos, base para um julgamento político acerca de um eventual crime de responsabilidade, negado por notáveis juristas do país.

Talvez não tenhamos ainda suficientemente amadurecido como povo para poder realizar uma democracia digna deste nome: a tradução para o campo da politica da soberania popular.

*Leonardo Boff é articulista do JB online e escritor.

sábado, 9 de abril de 2016

DEZ LIÇÕES DA MÚLTIPLA CRISE BRASILEIRA




Toda crise acrisola, purifica e faz madurar. Que lições podemos tirar dela? Elenco algumas.

► Primeira lição: o tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim com é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os políticos também os da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que herdamos que seja democrático, includente e justo.

► Segunda lição: superar a vergonhosa desigualdade social impedindo que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa desigualdade se traduz por uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação iniqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública. Enquanto não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e pobre.

► Terceira lição: prevalência do capital social sobre o capital individual. Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente a fome e fazê-lo um consumidor mas fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.

► Quarta lição: cobrar uma democracia participativa, construída de baixo para cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais que enriquecem a democracia representativa que por causa de sua histórica corrupção o povo sente que ela não mais o representa.

► Quinta lição: a reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente atendia as classes que detém o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Ele está aí mais para garantir privilégios do que para realizar o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas partidária.

► Sexta lição: o dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da constituição de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população brasileira) feitos escravos e carvão para o processo produtivo; os pobres em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados e humilhados pelas classes dominantes. Urge políticas compensatórias e pró-ativas para criar-lhes oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade moderna.

► Oitava lição: fim do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha e desastrada política de conciliação ou de coalizão mas uma concertação que acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das arte, das mulheres, das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda mínima aceita por todos.

► Nona lição: O caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e privatista. Em outras palavras, o bem comum (res publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso se concretiza por política sociais que atendam as demandas mais gerais da população a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se restringem apenas a ser distributivas mas importa serem redistributivas (diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista da redução da desigualdade social. 

 Décima lição: inclusão da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de direitos, formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de nossa civilização.


Leonardo Boff é professor emérito de ética da UERJ e d.h.c. em política pela Universidade de Turim.

domingo, 3 de abril de 2016

A CRISE POLÍTICA ATUAL UMA GRANDE FARSA


''É um quadro muito preocupante que nos faz lembrar da Alemanha das décadas de 1920 e 1930 com a ascensão de Hitler, apoiado pelo fanatismo que se apossou da população. Naquela situação também a Justiça se revelou draconiana com as ações da esquerda e complacente com a truculência da direita.''


A crise que se abateu sobre o país tem sido justificada em nome do combate à corrupção e, por meio da insistente repetição dos diversos meios de comunicação, vem induzindo a população a acreditar que foi o PT que, ao chegar ao governo, institucionalizou a corrupção instalando uma verdadeira quadrilha empenhada na apropriação privada dos fundos públicos.


  
Mas a verdade é bem outra. O erro do PT foi, ao assumir o governo, não ter tentado desmontar o esquema que já existia e do qual se serviam todos os partidos que chegavam ao poder. Ao contrário, para assegurar uma base de apoio no Congresso sem o que não conseguiria governar, o PT lançou mão do esquema que já se encontrava em funcionamento muito antes de ter surgido o Partido dos Trabalhadores. Portanto, o apelo atual à luta contra a corrupção não passa de uma grande farsa.

Como afirmou o delegado da Polícia Federal Armando Coelho Neto, que se aposentou faz apenas dois anos e foi presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, a PF na era FHC estava desaparelhada e carecia de autonomia tendo havido, inclusive, um empréstimo francês para seu aparelhamento que, embora recebido e o governo já estivesse pagando juros, não foi utilizado por falta de planejamento. Em contrapartida, a gestão Dilma tomou treze medidas que aparelharam a Polícia Federal e lhe deram autonomia, assegurando-lhe condições de atuar fortemente na investigação dos atos ilícitos, em especial no caso da corrupção. Mas ele constata que, na verdade, não se está lutando contra a corrupção. Se isso estivesse ocorrendo outras operações estariam em curso. A Operação Zelotes, por exemplo, está abafada porque nela estão envolvidos grandes personagens da política, grandes empresas e bancos, grupos de comunicação, à testa a Rede Globo, num grande escândalo intermediado pelo Banco HSBC que, por conta disso, acabou se retirando do país. Na própria Operação Lava-Jato as delações trouxeram à baila nomes do PSDB e de outros partidos que, no entanto, são blindados. A conclusão do ex-presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal é que o que está em curso não é uma luta contra a corrupção, mas uma guerra contra o governo e o PT.

Bresser-Pereira, por sua vez, que foi um dos mais importantes ministros do governo FHC, tem evidenciado o ódio dos endinheirados contra o PT e, num dos últimos vídeos ele afirma que nos governos de Lula e Dilma os pobres ficaram menos pobres e os ricos mais ricos, sendo que a classe média foi a menos beneficiada. Daí, o cultivo do ódio da classe média contra o PT, ódio incentivado com a insistência da mídia que diariamente, repetindo à exaustão, se dedica a esmiuçar denúncias não comprovadas contra Dilma, Lula e o PT. E isso é muito perigoso porque está em curso uma onda fascista que se manifestou explicitamente com saudações nazifascistas e incitação ao armamento da população, como o fez o deputado Jair Bolsonaro. Este, segundo consta, teria sido avisado previamente da condução coercitiva do Lula que, segundo o plano seria levado preso de Congonhas para Curitiba num jatinho que já estava pronto para decolar, quando a operação foi abortada pelo destacamento da aeronáutica que faz a segurança do aeroporto de Congonhas. Diante do impasse, Moro teria ordenado, de Curitiba, que fosse tomado o depoimento de Lula no próprio aeroporto. Mas Bolsonaro já teria se dirigido a Curitiba para lá incitar a população a se manifestar em apoio à prisão de Lula assim que ele chegasse à carceragem.

É um quadro muito preocupante que nos faz lembrar da Alemanha das décadas de 1920 e 1930 com a ascensão de Hitler, apoiado pelo fanatismo que se apossou da população. Naquela situação também a Justiça se revelou draconiana com as ações da esquerda e complacente com a truculência da direita. Agora, no Brasil, está em curso iniciativas que, como observou o jurista Fábio Konder Comparato, deixa o Estado de Direito em frangalhos, com violações de normas constitucionais.

A situação é muito grave e, ao que parece, o golpe irá se consumar porque todas as instituições da República (Judiciário, Ministério Público, a própria OAB, Parlamento, Partidos políticos, toda a grande mídia televisiva, escrita e falada) encontram-se conspurcadas e obcecadas com o único objetivo de destruir o PT e impedir Lula de voltar a se candidatar. E, para isso, não têm pejo em violar as normas jurídicas relativas aos direitos mais elementares, inclusive dispositivos constitucionais. A hipocrisia é tanta que jornalistas, representantes do Judiciário e parlamentares repetem à exaustão que Lula não pode ser ministro porque é investigado, ao mesmo tempo em que se posicionam a favor do impeachment que vem sendo conduzido e manipulado por um parlamentar que não apenas é investigado, mas é réu e se mantém como Presidente da Câmara dos Deputados sendo, nessa condição, o segundo na sucessão da Presidência da República. Então, a pergunta que não quer calar é: por que Eduardo Cunha, que é réu em processo que corre no Supremo Tribunal Federal, pode continuar como deputado e, mesmo, como Presidente da Câmara obstruindo a Comissão de Ética e articulando todos os passos do processo de impeachment; e Lula, que apenas está sendo investigado, não pode assumir a Casa Civil? Diga-se de passagem, que esse impedimento é também violação da Constituição a qual determina que a nomeação de ministros no âmbito do Poder Executivo é prerrogativa exclusiva da Presidência da República.

Sim, o que está em curso é um golpe. Claro que o impeachment está previsto na Constituição não podendo, pois, por si mesmo, ser caracterizado como golpe. Mas quando esse mecanismo é acionado como pretexto para derrubar um governo democraticamente eleito sem que seja preenchida a condição que a Constituição prescreve para que se acione esse mecanismo, ou seja, a ocorrência de crime de responsabilidade, então não cabe tergiversar. O nome apropriado nesse caso não é outro. É, mesmo, Golpe de Estado, pois a Constituição não estará sendo respeitada, mas violada. E até agora, nenhuma das alegações apresentadas para justificar o impeachment caracteriza crime de responsabilidade. Aliás, Dilma sequer está sendo investigada ao passo que a Comissão do impeachment tem mais da metade de seus membros em investigação e, no conjunto da Câmara, 302 deputados encontram-se na mesma situação. A farsa está, pois, escancarada: um bando de corruptos julgando e condenando uma presidenta que não cometeu crime algum.

E, como a oposição ensandecida deverá, engrossada pelo PMDB, conseguir maioria para aprovar o golpe, restará ao Supremo, cumprindo seu papel de guardião da Constituição, evitar esse desfecho. Se isso não acontecer, a farsa se transformará em tragédia. E o Estado Democrático de Direito deixará de existir no Brasil, vitimado por um Golpe de Estado jurídico-midiático-parlamentar. É, pois, de suma importância uma grande mobilização das forças democráticas, independentemente de partidos e da avaliação positiva ou negativa do governo Dilma, para evitar essa tragédia.


Dermeval Saviani é filósofo, pedagogo, professor emérito da UNICAMP e pesquisador emérito do CNPq.


Fonte: http://www.vermelho.org.br

sábado, 2 de abril de 2016

NÃO É O ORGULHO E O ÓDIO QUE NOS MOVE, É A CONVICÇÃO





É muito bom a gente estar do lado de cá, junto aos que defendem a Democracia e combatem o Golpe.

- Quanta gente inteligentíssima como neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis denunciando no mundo todo a ação golpista no Brasil.


- Quanta dignidade numa artista como Letícia Sabatella que diz a Dilma sou oposição a você mas a favor da Democracia e contra os Golpistas!

- Quanta honra estar na mesma trincheira onde Chico Buarque, Gilberto Gil e tantos outros dizem não ao Golpe!

- Quanta saciedade tenho de ser parte dessa massa de milhões de trabalhadores que lutam a 'pão e mortadela' contra os que tentam vilipendiar nossa democracia!

- Quanta alegria tenho de não esconder de ninguém o que defendo, porque nunca fiz da acadêmia o esconderijo de um covarde em silêncio.

- Quanta satisfação ver meus ex confrades, sempre amigos, sacerdotes ou não mantendo vivo os valores da luta ao lado dos excluídos - a teologia da libertação nos fez ideários, militantes e irmãos.

- Quanta energia se compartilha sendo parte desta multidão de amigos com o mesmo ideal de sempre, combatendo os que patrocinam tragédias e atentam as liberdades.

- Quanta alegria se dar conta que nossa consciência é ferramenta a serviço do presente e aperfeiçoamento do Futuro.

- Quanta esperança temos de gerações livres dessas congestões informativas para saciar consciências enlatadas servido pela grande mídia golpista deste país.

- Quanta convicção nos move em direção a vitória no breve ato que virá.

NÓS VAMOS VENCER, PORQUE OS PRÓPRIOS GOLPISTAS COMEÇAM TER VERGONHA DE SEREM OS ARQUITETOS DO QUE SE FEZ.

Professor Neuri A. Alves - Filósofo, Pesquisador, Assessor de Formação e Educação Popular

quinta-feira, 24 de março de 2016

O TEMPO PASCAL E AS PERGUNTAS QUE RESSUSCITAM





Caríssimos Cristãos! 


Sei que milhares, milhões de vocês estiveram pelas ruas nas ultimas semanas, não era missa ou culto de domingo muito menos via sacra de semana. Mas vocês falam em caminho do calvário, mas não pode percorrer o caminho do calvário aqueles que libertam Barrabás, que julgam inocentes e protegem condenados - embora o espetáculo do terror e da ignorância é o que os satisfaz. 

Então se aos cristãos de ocasião chegou o tempo da reflexão, elenquei para reflexão da palavra no dia de hoje as questões que seguem abaixo: 

1. E a lista de Furnas, foi para o forno e não volta mais???

2. Em que prisão esta o acusado de construir dois aeroportos em Minas Gerais com dinheiro público para uso particular?

3. Em que cadeia está os acusados de milhões em corrupção nas linhas do metrô em São Paulo?

4. Em que cadeia está o sociólogo que passou para iniciativa privada uma das maiores mineradoras do mundo?

5. Em que cadeia esta o Fernandinho HC que recebeu milhões de propina em consócio com a Alston para concessão exclusiva de máquinas para Hidrelétrica de Itá/SC

6. Em que cadeia está o Juiz que apreendeu bens do empresário Eike Batista e se apossou do dinheiro e usava o carro do condenado?

7. Em que prisão esta o Juiz que quebrou sem autorização o sigilo da presidente da república?

8. Em que prisão esta o 'Japonês da Federal' preso na Operação Sucuri acusado de fatura milhões em contrabando na fronteira em 2003?

9. Em que universidade estudou o Promotor xadrezinho que ressuscitou o filósofo Hegel, matou o filósofo Engels e estuprou a história?

10.

╬ ╬ ╬   EM QUE PÁSCOA RESSUSCITARÁ A VERDADE E ÉTICA?   ╬ ╬ ╬

******  Quem terminar a prova primeiro esta liberado para o feriadão. 
******

Bom passeio, ... não consuma muito alcool, ... não esculte som alto, ... não bata panela sem precisão, ... não fale besteira sem ocasião e reze/ore/implore para melhor entender: se essa sua falsa razão ainda não te envergonhou quando com as perguntas acima você se defrontou!


Neuri A. Alves - Professor, Pesquisador e Assessor de Formação e Educação Popular



quarta-feira, 23 de março de 2016

Dentro da sexta-feira santa política um vislumbre de ressurreição


''Foi refletindo sobre o significado profundo da sexta-feira santa que o jovem estudante de teologia e depois um dos maiores filósofos da história F. Hegel tirou a sua famosa chave de leitura da história e da vida humana: a dialética.''


Vivemos politicamente no país uma situação de sexta-feira da paixão: há ódio, dilaceração das relações sociais, riscos de ruptura da ordem democrática e de passagem de uma democracia do direito e das leis para uma democracia da direita e sem leis. Há sinais inequívocos de que este cenário não seja impossível.

É neste contexto que celebramos a festa maior do cristianismo, a páscoa. Ela significa em hebraico, a “passagem” do cativeiro egípcio para a liberdade da terra prometida; metaforicamente, passagem dos turbilhões de uma crise para a paz serena de um Estado democrático de direito.

Foi refletindo sobre o significado profundo da sexta-feira santa que o jovem estudante de teologia e depois um dos maiores filósofos da história F. Hegel tirou a sua famosa chave de leitura da história e da vida humana: a dialética. Ele via realizada na saga de Jesus a realização destes três passos: vida-morte-ressurreição.

A vida é a tese da positividade. A morte é a antítese da negatividade. A ressurreição é a síntese que incorpora a tese e a antítese numa síntese superior. A ressurreição é mais que a reanimação de um cadáver, como o de Lázaro, pois significaria a volta à vida anterior. A ressurreição é a introdução de algo novo, nascido das afirmações e contradições do passado. Esse “insight” sempre lembrado por ele, foi chamado de a “sexta-feira santa teórica”.

Se bem reparamos, a semana santa, para além de seu caráter religioso, representa um paradigma do processo histórico e da própria evolução. Tudo no universo, nos processos biológicos, humanos e biográficos se estrutura na forma da dialética. O primeiro momento é a tranquila serenidade e paz infinita daquele pontozinho quase infinito de onde viemos (tese). De repente, sem sabermos por quê, ele explode. Produz um incomensurável caos(antítese). A evolução do universo significa um processo de criar ordens cada vez mais altas e complexas que culminam com a emergência do espírito e da consciência (síntese).

Dentro desta síntese, transformada agora em nova tese, carrega sua antítese que desemboca numa nova síntese mais fecunda. E assim corre o devenir da história do universo, das sociedades e de cada pessoa.

Concretizando para a nossa situação atual. O Brasil entrou num processo de crise, cujas causas não cabe aqui referir. De uma situação tranquila( tese) entrou em processo de caos (antítse). Deste caos deve irromper uma nova ordem que possa dar horizonte e esperança ao país (síntese). Precisa-se definir novas estrelas-guia que nos orientem face à crise atual. A crise tem a função de acrisolar, purificar e tornar a todos mais maduros.

A questão toda se resume: quem possui a proposta político-social que supere a crise e crie uma convivência minimamente pacífica? Não será através de fórmulas já testadas e gastas que virá a superação da crise dando centralidade a políticas e a grupos de poder à custa do sacrifício da maioria da população.

Promissora é aquela que realiza para o maior número possível de pessoas um bem-estar mínimo, que lhe garanta trabalho, uma moradia modesta mas digna e lhe crie possibilidades de desenvolvimento e crescimento através da saúde e da educação sustentáveis. Em todo esse processo dialético há a experiência de vida, de morte e de transfiguração; de ordem, desordem e nova ordem; de tese, antítese e síntese. A complexidade segundo E. Morin se estrutura nesta dialética que é a da semente: ”se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, ficará só, mas se morrer, produzirá muito fruto”, como disse o Mestre.

Hoje a natureza, a humanidade e nossa sociedade vivem sob pesada sexta-feira santa ameaçadora.

A nossa esperança é que este padecimento se ordene a uma radiante transformação. O corrupto seja punido e o que politicamente se fez errado seja corrigido. Importa definir um rumo que de certa forma já foi apontado. Se o rumo estiver certo, o caminho pode conhecer subidas e descidas mas ele nos leva ao destino certo: a uma nova ordem de convivência onde não seja tão difícil tratarmos a natureza com compaixão e nossos próximos com humanidade e com cuidado.

Leonardo Boff - Filósofo, teólogo e escritor.


segunda-feira, 21 de março de 2016

O HERÓI ANÔNIMO QUE SALVOU LULA DE MORO EM CONGONHAS.


Por Cavalcati da Gameleira

''(...)  o Coronel pode ter abortado, naquele momento, o golpe em curso contra a Liberdade e a Soberania brasileira. Foi o ato de um patriota.''

Foto: Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho - Capitão Sergio Macaco
O cenário estava todo montado para a condução coercitiva do ex-presidente Lula. Ao melhor estilo OBAN, efetuou-se o sequestro ao final da madrugada; “Nacht Und Nebel” – Noite e Nevoeiro: esse era o dístico dos “Einsatzgruppen” das SS nazistas, quando saíam a cumprir a sua nefanda missão de eliminar adversários políticos protegidos pelo breu das horas mortas.

Cenário midiático, bem entendido; talhado sob medida para expor à execração pública o homem que resgatou a autoestima do Brasil e de seu povo. Avisadas com antecedência, equipes de profissionais dos principais meios de comunicação do país, articulados com setores golpistas enquistados no aparelho de Estado, já estavam a postos em São Bernardo do Campo. Lá se iniciaria o Auto de Fé, com o herege impenitente sendo conduzido na carroça, digo, camburão, até o aeroporto de Congonhas. Lá o aguardavam outras equipes dos orgãos de imprensa, para os quais vazaram, convenientemente, informações privilegiadas que davam conta da prisão iminente do mito.

Escolta-se a Esperança para a sala VIP do aeroporto, transmutada em dependência da Polícia Federal. Inicia-se lá o interrogatório do D. Sebastião dos pobres, do redentor da Pátria humilhada. No hangar ao lado, um jatinho esperava para conduzi-lo à República de Curitiba, onde se daria o “grand finale”: sob o espocar de fogos de artifício, disparados por incendiários notórios da República, o sentenciado vestiria o sambenito e a Nação, ofuscada pelo brilho dos “flashs”, o veria ser tragado para os porões sombrios da Guantánamo meridional. Sua imagem política, esquartejada e salgada, seria declarada infame por várias gerações; sua “raça” exterminada. Solução Final.

Mitos, porém, conservam como característica uma extraordinária capacidade de conservação; são por assim dizer indestrutíveis, pois estão enraizados no inconsciente coletivo de toda uma população. O que a República do Galeão não conseguiu fazer com Getúlio Vargas em 1954, a República de Curitiba – temporariamente sediada em Congonhas – também não lograria alcançar com Lula em 2016. Ambos encarnam as Forças Vivas da Nacionalidade; nos momentos de maior perigo para o Brasil, elas são conjuradas e se manifestam na emergência de um Herói Providencial, expressão menos de um voluntarismo individual do que de uma vontade coletiva assumida por uma personalidade singular.

A história sem dúvida tende a se repetir, nem sempre como tragédia ou farsa – como pensava Marx – mas principalmente pela revelação de Ciclos Criativos. A mesma Aeronática, que patrocinou a aventura golpista da República do Galeão, seria redimida posteriormente pela eclosão, dentro de seu núcleo institucional, de dois dos principais Heróis Providenciais do Brasil Contemporâneo, um e outro interpretes de um anseio coletivo mais profundo de fazer do Brasil uma Pátria verdadeiramente livre e soberana. Um deles foi o Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o Sérgio Macaco. O outro seria aquele enérgico Coronel de Congonhas cujo nome ainda não veio à lume e que, segundo consta, impediu à frente de um pelotão armado que Lula fosse embarcado no jatinho para Curitiba.

Claro que se trata de duas situações de ordem de grandeza muito diferentes. Em 1968 o Capitão Sérgio recusou-se a cumprir ordens do Brigadeiro João Paulo Moreira Burnier – então Chefe de Gabinete do Ministro da Aeronáutica – no sentido de que fosse o PARASAR, uma unidade de elite da FAB , utilizada na consumação de atentados terroristas. O principal deles previa a explosão do Gasômetro do Rio na hora do “rush”, vitimando cerca de 100 mil pessoas. Sérgio Macaco viu sua carreira militar destruída e sofreu perseguições ao longo de sua vida, encerrada precocemente em 1994. Morreu como um herói ético; evitou um horror que mancharia para sempre a memória brasileira: muito teríamos de purgar até ressignificá-la.

O obscuro Coronel de Congonhas, sem nome conhecido – ainda -, não se destacou por épica intervenção que, a exemplo daquela do Capitão Sérgio, salvaria milhares de seres humanos da morte. Seu papel – a se confirmarem as versões de que dispomos – se limitou a resgatar de um sequestro jurídico-midiático um ex-presidente do qual, sequer, consta que tivesse a sua vida ameaçada. Nem por isso a atitude daquele oficial superior se reveste de menor heroicidade.

Com a sua oportuna intervenção – e a despeito de suas motivações íntimas para tal ato, que desconhecemos – o Coronel pode ter abortado, naquele momento, o golpe em curso contra a Liberdade e a Soberania brasileira. Foi o ato de um patriota.

Deu uma sobrevida fundamental a Lula e ao projeto de Nação a que se filiam todos os nacionalistas e desenvolvimentistas desse país. O combate ainda não chegou ao fim, e o exemplo daqueles dois heróis da FAB nos fala a respeito do imperativo ético de resistirmos ao golpe, sob pena de vermos o prometido País do Futuro enxovalhado aos olhos do mundo. Tal não ocorrerá; o Brasil é muito maior do que aqueles que pretendem inviabilizá-lo. Nossa Alma Coletiva vela por nós.


Cavalcanti da Gameleira, autor do texto é historiador.