quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PROFESSORES E O DESAFIO DE EXPERIMENTAR NOVOS MÉTODOS

Desafio é conseguir que os professores experimentem novos modos de trabalhar. Práticas envolvendo o lúdico, a interdisciplinaridade e a contextualização têm o potencial de melhorar a aprendizagem.

"Professora, hoje não vai ter aula? É só brincadeira?" Perguntas como estas passaram a ser feitas por alunos e pais desde o ano passado para professoras alfabetizadoras de Costa Rica (MS). Isso acontece graças às formações do Pnaic.

No pequeno município, que tem seis escolas na rede e 1.400 alunos de 1º a 3º ano, a adesão dos docentes ao Pacto foi de 100%, mas a mudança de postura frente à sala de aula ainda está em processo, conta Mara Silvia Barbosa, coordenadora do Pnaic na cidade. "Aceitar participar da formação foi tranquilo, mas a mudança de atitude por parte do professor levou cerca de um ano para começar", afirmou. "No começo, essas perguntas incomodavam as professoras."

Segundo Mara, as formações levaram os docentes a sair da zona de conforto, passar do papel de "dono da verdade" para mediador do aprendizado. "Leva um tempo para o convencimento de que aquela "bagunça" pode ser boa, de que com a brincadeira não se está perdendo tempo, mas ganhando", disse. Para ela, contudo, mesmo que esse processo seja uma mudança ainda em curso, as crianças que estão hoje no primeiro ciclo do fundamental encontram uma alfabetização mais "humana" e adequada à idade do que os alunos que estavam na mesma série antes do Pacto.

Para Carolina dos Santos Vera e Silva, professora desde 2002 no município de Frei Miguelinho (PE), as formações foram boas para ela aprender a sistematizar o conhecimento do aluno e ter um olhar individual para cada um. "Sinto que eu ensinava, mas ficava sem amarrar. E, como a turma não é homogênea, tem níveis de conhecimento diferentes, preciso passar atividades diferentes. Não se pode dar uma aula única para todos, cada aluno tem sua necessidade", afirmou.

As práticas de Carolina também passaram a ser mais interdisciplinares e contextualizadas. Ela montou, por exemplo, uma sequência didática de culinária, em que foram abordados conteúdos de ciências (alimentação saudável), matemática (gráficos e tabelas) e língua portuguesa (gênero textual: receita). A experiência foi tão produtiva que acabou integrando um livro de relatos da Universidade Federal de Pernambuco.

Práticas envolvendo o lúdico, a interdisciplinaridade e a contextualização não são exclusividade, porém, dos professores que participam do Pnaic. Professora há 20 anos, Clara Elena Jorquera trabalha atualmente na rede particular, no Colégio Ítaca, em São Paulo, e aproveita as vantagens de contar com uma escola bem equipada e com uma equipe que atua de forma integrada. "Gosto de chamar o professor de artes, de educação física, de música, para fazer um trabalho em conjunto. A gente parte da história de um livro e faz atividades em todas as áreas. Assim as crianças ficam muito envolvidas, dá resultado melhor do que algo fragmentado", relata.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Zygmunt Bauman: "Há uma crise de atenção"

''Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas que tenham talento a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade.''
Uma busca no Google com os termos “modernidade líquida" rende 187 mil resultados em 0,34 segundo. São, todos eles, “fragmentos de conhecimento", na visão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que discursou neste sábado no evento Educação 360.

O pensador defendeu que os educadores precisam estimular determinadas características que ficam prejudicadas com a utilização da tecnologia, "paciência, atenção e a habilidade de ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento. É preciso trabalhar a capacidade de se manter focado." Leia mais abaixo:

— A educação é vítima da modernidade líquida, que é um conceito meu. O pensamento está sendo influenciado pela tecnologia. Há uma crise de atenção, por exemplo. Concentrar-se e se dedicar por um longo tempo é uma questão muito importante. Somos cada vez menos capazes de fazer isso da forma correta — disse o pensador. — Isso se aplica aos jovens, em grande parte. Os professores reclamam porque eles não conseguem lidar com isso. Até mesmo um artigo que você peça para a próxima aula eles não conseguem ler. Buscam citações, passagens, pedaços.

Como o próprio Bauman mencionou, a modernidade líquida — definida nos resultados do Google como a época em que vivemos, caracterizada por “volatilidade" , “incerteza" e “insegurança" — norteou as obras do filósofo; ele escreveu cerca de 30 livros apenas em torno dessa maneira de enxergar a contemporaneidade.

— Não há como contestar que a internet nos trouxe grandes vantagens. A facilidade de acesso à informação, a facilidade com que podemos ignorar as distâncias... Lembro-me de que, quando era jovem, passava muito tempo na biblioteca tentando ler cem livros para encontrar um pedacinho de informação de que precisava. Agora, basta pedir para o Google. Em décimos de segundo ele dá milhares de respostas. Um problema foi eliminado: nós não precisamos passar horas na biblioteca. Mas há um novo problema. Como vou compreender essas milhares de respostas? — questionou Bauman, logo recorrendo à Grécia Antiga para para continuar. — Só agora, idoso, consegui entender Sócrates: “Só sei que nada sei".

Há ainda, na visão de Bauman, outras crises que chegam com a internet e precisam ser superadas. O filósofo defende que vivemos com cada vez menos paciência, pela quantidade de informação que recebemos ao mesmo tempo. E, quando não temos isso, o resultado é a irritação.

— Se demoramos mais de um minuto para acessar a internet quando ligamos o computador, ficamos furiosos. Um minuto só! Nosso limiar de paciência diminuiu. As informações mais bem-sucedidas, que têm mais probabilidade de serem consumidas, são apenas pedaços — diz o polonês. — Outra coisa é a persistência. Conseguir algo contém em si um número de fracassos que faz com que você perca tempo e tenha que recomeçar do zero. E isso é muito complicado. Não é fácil manter essa persistência nesse ambiente com tanto ruído e tantas informações que fluem ao mesmo tempo de todos os lados.

Todo esse novo cenário, explicou o pensador à plateia de educadores, desafia e transforma a posição secular do docente. Para Bauman, “não há como voltar à situação em que o professor é o único conhecedor, a única fonte, o único guia". E dá caminhos:

— Não há como conceber a sociedade do futuro sem tecnologia. Então, se não pode vencê-la, una-se a ela. Tente contrabalancear o impacto negativo, como a crise da atenção, da persistência e de paciência. É preciso ter determinadas qualidades se você deseja construir conhecimento e não só agregá-lo: paciência, atenção e a habilidade de ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento. É preciso trabalhar a capacidade de se manter focado.

► Educação desigual

Hoje, de acordo com o filósofo, a educação reproduz privilégios em vez de aperfeiçoar a sociedade. Ele lembra que, nos EUA, 70% dos alunos na universidade vêm das classes mais altas, enquanto só 3% são das camadas de renda mais baixa. Segundo Bauman, essa é “uma forma de reafirmar a desigualdade social", tema do livro “A riqueza de poucos favorece a todos nós?", o mais recente lançamento (no mês passado) do escritor no Brasil.

— Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas que tenham talento a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade. Mas esse objetivo não está sendo perseguido em muitos lugares. Na Grã-Bretanha, os preços, em vez de diminuírem para as pessoas com menos dinheiro, vão subindo. E cada vez menos pais têm a possibilidade de economizar a quantia necessária para seus filhos cursarem a universidade.

O problema, segundo Bauman, é que a educação está pressionada pela política e pelos interesses corporativos. E isso, explica ele, se reflete na mente do estudante. O polonês critica o fato de os alunos escolherem a área de estudos baseados “no fato de se vão conseguir emprego ou não".

— Se você quer conhecimentos especializados, que são as condições para um bom emprego, precisa estudar quatro ou cinco anos, e isso requer muito esforço. Mas, se você está sendo guiado pelo atual estado de coisas, tudo vai mudar nesse tempo de estudo. E você vai perceber que não vai conseguir encontrar um uso rentável para o tipo de qualificação e habilidade que adquiriu nesses anos de trabalho árduo na faculdade — argumenta.

Mesmo após toda essa lista de desafios, a mensagem que o dono de uma das mais influentes mentes no mundo deixou para o auditório na noite de ontem foi de pura esperança:

— Educar, senhoras e senhores, é fazer um investimento nos próximos cem anos.

Charlie Hebdo, o mundo sofre de esquizofrenia

TERRORISMO - domingo, 11 de janeiro, 2015, o mundo vê deslocar mais de três milhões de manifestantes em França, incluindo cerca de cinquenta chefes de Estado e de Governo em Paris e representantes religiosos, inclusive muçulmanos, judeus e cristãos. A origem deste movimento excepcional, a execução de parte do corpo editorial do semanário Charlie Hebdo, seguido pelo assassinato de policiais e de cidadãos franceses de fé judaica em um hide comércio. No dia anterior, 700.000 pessoas participaram de marchas silenciosas, pacífica, nas principais cidades de França, implantando cartazes sóbrio: "Eu sou Charlie", "liberdade", "Contra o fanatismo", "Contra o Terrorismo", " contra o racismo ".

Há nove anos, a publicação de caricaturas de Maomé no jornal dinamarquês JyllandsPosten, novamente totalmente ou em parte, por várias publicações, incluindo CharlieHebdo, mas também os meios de comunicação no mundo árabe de maioria muçulmana (Al-Haq, Al-Anbat, Al-Liwa), provocou uma onda de protestos. Durante três semanas, eles foram estendidos do norte da Europa para a Indonésia através de África do Sul, causando dezenas de mortes. No Iraque, dois mil manifestantes exigiram uma Shia fatwa permitindo a matança de artistas. Em Londres, os membros sunitas do Hizb At-Tahrir desfraldaram faixas pedindo decapitar "infiéis". No Iêmen, os imãs pregou o caráter "legal" para o assassinato de journaled com "copiado os inimigos do Islã." Em Amã, o editor de Shihan, autor de um artigo "mundo muçulmano, seja razoável" ("O que está trazendo mais prejuízos ao islã, estas caricaturas ou imagens de um tomador Reféns que massacraram sua vítima diante das câmeras "), foi ameaçado, preso e forçado a pedir publicamente perdão por seus comentários. Chefes de Estado e de Governo teve lugar: George W. Bush, Angela Merkel e Chirac condenou a violência enquanto pedindo um fim às "provocações". O primeiro-ministro da Noruega, onde as charges também foram divulgadas, pediu publicamente perdão. E da Turquia, onde os desenhos não foram publicados, Erdogan enviou uma carta aos seus homólogos para afirmar que há "liberdade na terra pode ser utilizada para degradar ou insultar as crenças, valores ou símbolos sagrados". Nesse sentido, o lobby foi conduzida em vão pela Organização da conferência / Cooperação Islâmica (OIC), com o Conselho de Direitos Humanos, para evitar que a "difamação de religiões e profetas."

O nosso mundo contemporâneo é esquizofrênico. Os estados das contradições urso União Europeia: França manteve a legislação "anti-blasfêmia" na Alsácia-Moselle, que continua a viver sob o regime de reestruturação favorecendo católica, protestante e judaica. Em 2009, a Irlanda aprovou uma legislação "anti-blasfêmia" para punir as infracções "nenhuma religião". A Câmara dos Comuns da Inglaterra estava relutante em estender a sua legislação "anti-blasfêmia", que beneficiou apenas anglicanismo, antes de desistir completamente. Em os EUA, a sátira religiosa é um tabu, como recordou David Brooks, um editorial do New York Times intitulado "Eu não sou Charlie Hebdo". Em qualquer campus universitário americano, [Charlie Hebdo] não demorou trinta segundos. Os alunos acusou-o de manter o discurso do ódio e da administração teria que fechar. "Nos estados de maioria muçulmana Árabes Unidos, Kuwait adoptado em 2012 a legislação punindo por qualquer morte blasfemar contra" Deus, o Profeta e suas mulheres. "Uma pequena minoria (quatro deputados xiitas) se opuseram a ela porque ela queria acrescentar à lista os nomes dos" doze imãs. "A Arábia Saudita, que na quarta-feira denunciou o ataque contra Charlie Hebdo , aplicado dois dias depois perto da mesquita al-Jafali em Jeddah aberta ao público, no início da sentença contra o blogueiro Raef Badawi: 1.000 chicotadas, para a série de 50, distribuídos por 20 semanas, por "insultar Islã ".

Onde estão esses pesquisadores e os jornalistas que, durante anos, learnedly explicam que os únicos fatores de violência são social, econômica, política ou geopolítica?Longe de nós querer negar a importância destes elementos de explicação: o cinismo dos líderes do operador multinacional de recursos de matérias-primas do mundo ou jogar financeiro com a renúncia do mercado de ações políticos transformado em VIP para as empresas nacionais de armas que, por vezes, estão apoiando ditadores, para não mencionar algumas ONGs que desviam o dinheiro da ajuda enviada às populações afectadas ... Longe de nós para reduzir religiões e ideologias não religiosas, a face violenta que transmitiam na história. Mas quem se atreveria a dizer que as palavras e atos mortais não foram cometidos em nome de uma fé, qualquer que seja, ao longo da história? O que explicaria o historiador "guerras religiosas" entre os cristãos, na Europa dos séculos XVI e XVII, apenas por causalidades sócio-econômicos? O que é este baluarte de pensamento que, em tempos idos, levou a dizer que foi "louco" para "forma pervertida da religião", como se não houvesse objetos religiosos puros separada dele e que fez que os homens fazem.

Em 2006, o Presidente do Conselho Europeu, de Fatwa e do Conselho Mundial de Ulemás, Youssef Qardhawi, denunciou "a ofensa contra o Islã." Hoje ele condena "derramaram sangue inocente", sem especificar qual, mas lembra-temporada e fora da necessidade de permanecer fiel a thawâbit ("os dados imutável"), que incluemhudud, incluindo o castigo corporal com em alguns casos, e de acordo com procedimentos codificados, sentenças de morte. Em 2006, novamente, Hassan Nasrallah, estimou que "se ele tivesse sido um muçulmano para realizar a fatwa de Khomeini contra o Imam o renegado Salman Rushdie, esta gentalha que insultar nosso Profeta [Maomé] na Dinamarca, Noruega e A França não teria coragem de fazer. " Quase uma década depois, ele contratou seus combatentes na Síria é takfirista grupos sunitas que o secretário-geral do Hezbollah está atacando: "Através de seus atos vis, violentos e desumanos, tais grupos infringiram o Profeta e os muçulmanos mais do que seus inimigos [...] mais do que os livros, filmes e desenhos animados que insultaram o profeta ".

O fator religioso é uma explicação de dizer e fazer muitos de nossos contemporâneos, o contexto, por vezes, servindo como adjuvante. Fé em Deus (s) cresce fraternidade alce e solidariedade, criação, como as explosões de ódio e violência, destruição.Evidência de recordar. Não deve tomar de ânimo leve as dezenas de milhares de hashtags "Serve Charlie" ou "Eu sou Kouachi", assinado pelos filhos da República francesa. O mesmo se aplica para a tomada de reféns, ea morte de alguns deles, no comércio Porte de Vincennes. Transmitindo um antijudaísmo muçulmano em confessar ambiente é uma realidade em destaque durante a última feira muçulmana, em Bruxelas, à qual foi convidado o Kuwait Shaikh Tariq al-Suwaidan, autor de um ensaio intitulado 450 páginas judeus: o 'Enciclopédia Ilustrada (2009). Um dos propósitos deste livro, disponível on-line, é "demonstrar, através de provas e depoimentos, que a religião dos judeus falsificados, em si, incentiva a prática de traição e crime, e alimenta a sua seres para torná-los um grupo especial entre os seres humanos, e dá-lhes o direito de explorar os outros sobre as formas mais hediondas de duplicidade. "

O conflito israelo-palestiniano é uma gangrena que quadro explicativo não pode ser reduzida a uma guerra (neo) colonialismo / descolonização. Ele apresenta muitas semelhanças com o conflito Índia-Paquistão, desencadeadas também há cerca de 70 anos. Não há petróleo por trás do "Muro das Lamentações" no âmbito do "Monte do Templo" em Jerusalém. Estes são muitas referências religiosas que levam como rabino a dizer: "Esta terra é conhecida como a Judéia e Samaria, é judeu" como shaykh para replicar "esta terra é árabe e muçulmano," e uma como a Outra empurrar seus seguidores a lutar -up para massacrer- em Hebron, em torno do túmulo dos patriarcas mitificado. Eles não faltam, aqueles que chamam regularmente para a coexistência pacífica. Mas um ou dois referência religiosa para os estados nunca será sociedades democráticas, pelo menos, a fórmula não existiram no passado: não foram sempre acreditando um pouco mais iguais do que outros em tais configurações, e este é ainda o caso em Israel, como no Paquistão. A nacionalização da religião, qualquer que seja, cria de jure e de facto discriminação.

Devemos ter o cuidado de acrescentar que esses modos de ser e de fazer não são exclusivos para os crentes monoteístas, como mostra a contínua perseguição de muçulmanos pelos budistas na Birmânia ou chamadas ao ódio lançada pela Hindu em Índia? Deve esclarecer que os agnósticos como os ateus não são mais bem preservados, como ilustrado por manifestações anti-religiosas esporádicos após a missa, na virada dos anos 1960-1970, liderada pelo Partido Comunista Chinês?França, visto a partir de Cairo para Kathmandu para as vítimas, não é uma ilha neste mundo. O racismo está alimentando temores lá para provocar ataques contra lugares de culto, incluindo os muçulmanos como foi encontrado nos últimos dias. Fórmula secular que os cidadãos têm explorado há mais de um século, com momentos de tensões fortes ou até mesmo conflitos, sempre foi baseado em um equilíbrio delicado, dependendo de como cada um e de todos em termos apropriados.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Sem filosofia... Nem pensar!

''Filósofo só pára de pensar para pensar em que está pensando.''



Filosofar é pensar. Não um pensar qualquer. Não é um pensar solto no ar, perdido no mar, um ir-e-vir por aí. Não é jogar pôquer, apostar para ganhar tudo ou alguma coisa perder. Ou tudo perder e chorar sobre o pensamento derramado.

Filosofia é pensar dia a dia no dia-a-dia. Pensar é desfiar o fio da meada. Penso, logo desconfio. Pensar a prece, a pressa, o peso, o passo, a pizza, o poço, o prato, a prata, o porquê do epitáfio, as razões do rififi.

Filósofo é aquele que pára para pensar. Pára para não parar de pensar. Pensa para comer o pão com o suor de sua mente. Pensa, logo alonga, longínquo pensamento que o deixa tão perto de tudo. Filósofo só pára de pensar para pensar em que está pensando.

Filosofal viver. Filosofal andar. Filosofal tropeçar. Filosofal cair, e encontrar na queda outros motivos para mais filosofar. Filosofal sentar sobre a pedra filosofal. Idéia tanto bate sobre a pedra, tanto bate até que o pensamento perdura.

Filosofante caminhar, o homem sobre o elefante, o elefante sobre a terra, a terra sobre o vento, o vento filosofante venta para onde quer. O filosofante gigante sobre os ombros de um anão também verá mais longe.

Filosofema retira algemas, descobre o filósofo da gema, faz nascer antenas, penetrar esquemas, abordar todos os temas, reler o poema, inspirar-se no cinema, valorizar o pequeno, o fenômeno, o dilema, remar contra ou a favor da maré.

Filosofice é sempre um risco. Ninguém está livre de pensar contra o pensamento. Ninguém está livre de se aprisionar uma vez mais. Ninguém está livre de pensar que pensa, e despencar do altar que ergueu para si mesmo, confundindo filosofia com empáfia.

Filosofismo é outro risco. Belo risco, afinal, porque somos todos capazes de filosofar. O filosofismo é a filosofia que virou jogada, pretexto, mania, suborno, insulto. O filosofista finge que pensa, e por isso parece pensar melhor que o próprio pensador.

Filosófico texto, contanto que as palavras abram nossa mente e nos façam mentar o mundo. Que o texto filosófico não seja apenas manobra, cobra preparando o bote, veneno que paralisa o leitor e o devora pouco a pouco.

Filosofar, enfim, é começar a pensar sem fim. É pensar quando não se pensa em nada, pensando em tudo. Pensar como sempre. Como nunca.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

O DIA QUE EU A ESCOLA E O TEMPO SOFREMOS DE SOLIDÃO.

''A escola não sai de minha memória, como minha memória passou habitar aquele lugar.''
Na escola isolada, abandonada no interior de Romelândia há um encanto, um espanto, um tesouro guardado na silenciosa parede esquecida em estilizada mensagem ‘’É na educação dos filhos que se revela o caráter dos pais.’’ – esse é o tesouro da responsabilidade da família para com seus filhos na escola.

Sim, escolas não foram feitas para solidão, para silêncios eternos, abandonos do acaso e meros depósitos de crianças. Mas essa escola não está sozinha, encravada nela estão as lições que a vida urbana deixou de fazer.

Nas paredes silenciosas da simpática escola estão grifados artisticamente, paixões pedagógicas, lições de afetos e gritos de amor como: '‘você é a estrelinha que ilumina nossa escola’’ e na outra parede ‘’crianças são como borboletas ao vento, algumas voam pausadamente, mas todas de seu melhor jeito, cada um é diferente, cada uma é linda, e cada uma é especial.’’

Falo da escola Érico Verissimo na linha São Jorge interior de Romelândia. Falo da realidade de tantas escolas neste país abandonadas pela irresponsabilidade e insensibilidade de governantes – diferente dessa escola que o êxodo rural e o baixo número de crianças levou a fechar.

Falo especificamente dessa escola, tão real, presente aqui perto ou dentro de nós, onde não se tem mais crianças para ocupar as salas, sentar nas cadeiras, suprir paixões dos professores e preencher o silêncio da Escola.

Falo da nostalgia, das histórias infinitas ali contadas por décadas, falo das crianças, adolescentes que ali brincaram, falo dessa escola que não morre, mesmo no silêncio, na sensação de abandono, na nostalgia de tempos que não volta, mas não passam também. Porque embora tenha levado longe tantos tesouros que ali se alfabetizaram, os traz de volta constantemente mesmo que somente em memória.

Porque a escola atual, a escola que sonhamos para amanhã e o distante futuro parece sofrer de tédio, de estresse e silêncios que dividem classes, mestres e sonhos? - Enquanto a escola do passado ressuscita constantemente de amor, de lembranças e frutos saborosos de tempos que não voltam mais.

Escolas do passado parecem as escolas que sonhamos para um futuro que não tende a chegar. Porque nessas escolas de futuro esmagamos com métodos pedagógicos modernos as essências de tempos que não voltam mais, da paixão do ensinar pelo professor ao cuidado da família com a educação do respeito e limites dos filhos. 


Nestas escolas que não voltam mais estão depositados o tesouro da responsabilidade hoje esquecida, renegada, abandonada pelos estudantes, por seus pais, seus governantes mesmo sob o nome de escola do presente, do futuro e da esperança. – Mas sem coragem de enfrentar os desafios pertinentes!

Naquela escola que nunca sentei, nunca lecionei mas lá estive por obra do destino, por curiosidade em seu silêncio há algo que não volta mais. Ali há um coração que pulsa como memória nas paredes, uma luz que brilha sobre o quadro negro, uma ordem nas cadeiras que esperam por alunos que não chegam, um portão aberto para o incerto e tão receptivo.

Na Escola isolada moram memórias que não morrem como o escritor que lhes concede o nome – ali mora a história do lugar, o reflexo de um educar que não volta mais, mas que embora de portas fechadas continua a nos ensinar. 'A escola não sai de minha memória, como minha memória passou habitar aquele lugar.'

Neuri a. Alves – Filósofo, Professor Pesquisador

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ESTES NÃO SÃO SERES HUMANOS, NOSSOS IRMÃOS E IRMÃS?

''O limite maior da cultura européia ocidental é sua arrogância que se revela na pretensão de ser a mais elevada do mundo.''

O grau de civilização e de espírito humanitário de uma sociedade se mede pela forma como ela acolhe e convive com os diferentes. Sob este aspecto a Europa nos oferece um exemplo lastimável que beira à barbárie. O menino sírio de 3-4 anos afogado na praia da Turquia simboliza o naufrágio da própria Europa. Ela sempre teve dificuldades de aceitar e de conviver com os “outros”.

Geralmente a estratégia era e continua sendo esta: ou marginaliza o outro, ou o submete ou o incorpora ou o destrói. Assim ocorreu no processo de expansão colonial na Africa, na Asia e principalmente na América Latina. Chegou a destruir etnias inteiras como aquela do Haiti e no México.

'O limite maior da cultura européia ocidental é sua arrogância que se revela na pretensão de ser a mais elevada do mundo', de ter a melhor forma de governo (a democracia), a melhor consciência dos direitos, a criadora da filosofia e da tecnociência e, como se isso não bastasse, ser a portadora da única religião verdadeira: o cristianismo. Resquícios desta soberba aparece ainda no Preâmbulo da Constituição da União Européia. Aí se afirma singelamente:

“O continente europeu é portador de civilização, que seus habitantes a habitaram desde o início da humanidade em sucessivas etapas e que no decorrer dos séculos desenvolveram valores, base para o humanismo: igualdade dos seres humanos, liberdade e o valor da razão…”

Esta visão é somente em parte verdadeira. Ela esquece as frequentes violações destes direitos, as catástrofes que criou com ideologias totalitárias, guerras devastadoras, colonialismo impiedoso e imperialismo feroz que subjudaram e inviabilizaram inteiras culturas na Africa e na América Latina em contraste frontal com os valores que proclama. A situação dramática do mundo atual e as levas de refugiados vindos dos países mediterrâneos se deve, em grande parte, ao tipo de globalização que ela apoia, pois configura, em termos concretos, uma espécie de ocidentalização tardia do mundo, muito mais que uma verdadeira planetização.

Este é o pano de fundo que nos permite entender as ambiguidades e as resistências da maioria dos países europeus em acolher os refugiados e imigrantes que vêm dos países do norte da Africa e do Oriente Médio, fugindo do terror da guerra, em grande parte, provocada pelas intervenções dos ocidentais (NATO) e especialmente pela política imperial norte americana.

Segundo dados o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) somente neste ano 60 milhões de pessoas se viram forçadas a abandonar seus lares. Só o conflito sírio provocou 4 milhões de desalojados. Os países que mais acolhem estas vítimas são o Líbano com mais de um milhão de pessoas (1,1 milhão) e a Turquia (1,8 milhões).

Agora esses milhares buscam um pouco de paz na Europa. Somente neste ano cruzaram o Mediterrâneo cerca de 300.000 pessoas entre imigrantes e refugiados. E o número cresce dia a dia. A recepção é carregada de má vontade, despertando na população de ideologias fascistóides e xenófobas, manifestações que revelam grande insensibilidade e até inumanidade. Foi somente depois da tragédia da ilha de Lampedusa, ao sul da Itália, quando se afogaram 700 pessoas em abril de 2014 que se colocou em marcha uma operação Mare Nostrum com a missão de rastrear possíveis naufrágios.

A acolhida é cheia de percalços, especialmente, por parte da Espanha e da Inglaterra. A mais mais aberta e hospitaleira, apesar dos ataques que se fazem aos acampamentos dos refugiados, tem sido a Alemanha. O governo filo-fascista de Viktor Orbán da Hungria declarou guerra aos refugiados. Tomou uma medida de grande barbárie: mandou construir uma cerca de arame farpado de quatro metros altura ao longo de toda fronteira com a Sérbia, para impedir a chegada dos que vêm do Oriente Médio. Os governos da Eslováquia e da Polônia declararam que somente aceitariam refugiados cristãos.

Estas são medidas criminosas. Todos estes sofredores não são humanos, não são nossos irmãos e irmãs? Kant foi um dos primeiros a propor uma República Mundial (Weltrepublik) em seu último livro A paz perpétua. Dizia que a primeira virtude desta república deveria ser a hospitalidade como direito de todos e dever para todos, pois todos somos filhos da Terra.

Ora, isso está sendo negado vergonhosamente pelos membros da Comunidade Européia. A tradição judeo-cristã sempre afirmou: quem acolhe o estrangeiro, está hospedando anonimamente Deus. Valham as palavras da física quântica que melhor escreveu sobre a inteligência espiritual – Danah Zohar: ” A verdade é que nós e os outros somos um só, que não há separatividade, que nós e o ‘estranho’ somos aspectos da única e mesma vida”(QS: consciência espiritual, Record 2002, p. 219). Como seria diferente o trágico destino dos refugiados se estas palavras fossem vividas com paixão e compaixão.

Leonardo Boff escreveu Hospitalidade:direito e dever de todos, Vozes 2005.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com

domingo, 30 de agosto de 2015

A Revolução das Redes como Estratégia de Libertação Popular

Por, Euclides André Mance*

Filósofo Euclides André Mance, um dos principais teóricos da Economia Solidária e
da Filosofia da Libertação na América Latina.
Nos dois textos em que o professor Paulo Lopes realiza críticas à hipótese de a colaboração solidária poder constituir-se em uma estratégia viável à efetivação de uma alternativa pós-capitalista, superadora da globalização atual, observa-se um recurso estilístico de contextualmente aduzir, sem afirmar explicitamente, adjetivos desqualificadores ao autor da proposta e a outros pesquisadores que contribuem nessa reflexão como forma de criticar-lhes as idéias. Nota-se como recorrente a alusão ao "grupo de iluminados", à "idéia genial de um iluminado", "os iluminados", etc. Outro estratagema do mesmo naipe é dizer "não estou falando" disso ou daquilo, evocando idéias sobre isso e aquilo; melhor seria se o autor explicitasse a quem se aplica as alusões que faz (1).

Para precisar os argumentos, cabe esclarecer alguns conceitos centrais na reflexão que o professor Lopes vem alimentando e alguns que lhes são adjacentes. No primeiro caso incluem-se estratégia, político-organizativo, excluídos-incluídos e alternativa histórica; no segundo caso, idéia genial de iluminado, retórica e pré-ocupação.

A utilização dos conceitos de estratégia e tática como mediações da práxis política advém de Lênin que inverteu a máxima do general e estrategista prussiano Karl Von Claussewitz que dizia ser a guerra a simples continuação da política por outros meios. Ao inverter a frase, considerando "a política como a simples continuação da guerra por outros meios", Lênin introduziu na análise política não apenas as categorias de estratégia (do grego, estratós - exército) e tática (ação específica de batalha), como militarizou a concepção de práxis política: os militantes devem ser organizados como em um exército, comandado por um Comitê Central, a partir de uma única estratégia de construção de um projeto econômico, político e cultural. Sem um exército previamente organizado não se ganha uma guerra. Sem uma ação político organizativa prévia às lutas, não se ganha a guerra política. O objetivo final da luta política é a conquista do poder de Estado, com o qual será possível revolucionar a estrutura econômica implantando e implementando o projeto político do proletariado. Dadas as diversidades de configuração do Estado e das lutas políticas, Gramsci diferenciará a guerra de movimento da guerra de posição, enfatizando o papel da condução política hegemônica da sociedade civil, organicamente articulada em torno de um projeto estratégico. Se Lênin enfatizava o papel do Partido Político como instância educadora das massas - mediação entre a filosofia política marxista e a ação do proletariado - Gramsci alargará essa tese, referindo-se às diversas organizações da sociedade civil como espaços de luta política e ação educativa, de produção deconsensos e hegemonias. No cerne dessa compreensão de revolução - independentemente da adoção de métodos de luta democrática ou de luta armada - a conquista do poder político de Estado é condição-chave para uma ruptura histórica. Desta forma, todas as ações econômicas e culturais gestadas pelas classes exploradas, expropriadas e dominadas são consideradas inofensivas para combater o capitalismo se não operarem como táticas de uma estratégia política unitária que se volta para a conquista do poder do Estado, hegemonizada por uma vanguarda que orienta os rumos dessa transformação. Os membros de tal vanguarda são justamente aquelas pessoas capazes de dizer o que é ou não é estratégico, o que é ou não revolucionário, o que é meramente tático e até mesmo o que à ação tática não se presta; são dirigentes e lideranças que, atuando no comando de organizações da sociedade política e sociedade civil, avançam no trabalho político-organizativo a fim de acumular forças para transformar crises conjunturais em crises orgânicas, quando o que se põe em questão não são mais as conquistas imediatas para as classes em particular, mas a transformação estrutural da sociedade, visando abolir a sua própria divisão de classes.

Com efeito, para os que se habituaram a considerar a estratégia revolucionária sob um paradigma de centralização política e de ruptura histórica é muito difícil compreender que uma revolução antagônica ao capitalismo possa ocorrer sob uma estratégia de rede em que o econômico e o cultural não sejam subalternos ao político, e que a implantação e implementação progressiva dessa rede não sejam nem uma ruptura imediata do sistema capitalista em uma dada sociedade, nem uma mera reforma do capitalismo, mas a expansão de uma rede econômica, política e cultural anticapitalista que cresce absorvendo progressivamente as forças produtivas geradas também sob o capitalismo, constituindo-se, política e culturalmente, em um novo "bloco histórico". É muito difícil entender que agenciamentos econômicos, culturais e políticos possam engendrar complexos laços de realimentação que subvertam as dinâmicas de reprodução do capitalismo(2) e que o ciclo histórico dessa subversão é um processo mais amplo que não se confunde com a ocorrência, em algum momento seu, da conquista de uma parcela de poder político de Estado pela nova classe hegemônica (uma vez que outras parcelas desse poder estão difusas na sociedade civil em oposição à essa classe que se torna dirigente), mas que se trata da própria transformação do Estado e de sua política no processo de sua subversão, processo esse que leva essa classe a assumir o controle do governo do Estado que ela subverte, governo esse que é apenas uma parcela do poder político do Estado. A dificuldade de entendimento que isso suscita talvez resida em aceitar que as diversas organizações do setor popular da sociedade civil possam unificar ações em torno de eixos de luta (nos campos da produção econômica, reprodução social e da cultura) politicamente antagônicos ao capitalismo, mesmo assumindo, cada um desses atores coletivos, sua estratégia peculiar de organização e luta, independentemente de adotarem a estratégia de um "partido único"- como muitos defenderam até poucas décadas atrás - ou de alguma organização política centralizada que o substitua (3). Para muitos é difícil compreender como multiplicidades de ações moleculares que variam de escopo e escala - pense-se na diversidade de ações específicas dos movimentos sociais-populares e nos diversos níveis de suas abrangências que vão da ação local à ação internacional - possam articular-se em redes desenvolvendo ações conjuntas sem que haja um projeto político único e centralizado que os articule, mas unificados em torno de objetivos comuns consubstanciados nos eixos de luta. Muitos intelectuais resistem em aceitar o potencial caráter estratégico - para a construção de uma sociedade democrática e pós-capitalista - das lutas de índios, negros e mulheres, de sem-tetos e portadores de deficiências, de cooperativas de produção e consumo e de movimentos culturais. Aplicando a todos eles certos esquemas teóricos que não resultam da análise criteriosa da práxis desses movimentos em seus diversos contextos, afirmam que, por eles não enfrentarem diretamente a contradição entre capital e trabalho, são apenas espaços táticos para a ação político-organizativa. Não percebem que essas lutas, se articuladas em torno de eixos estratégicos, podem avançar não apenas na busca de conquistas imediatas, mas de transformações estruturais do capitalismo.

Ora, qualquer atividade de organização social pode ser abstratamente considerada em suas dimensões política, econômica e cultural. Privilegiar o aspecto político frente ao econômico e ao cultural, considerando qualquer ação nas duas últimas esferas como exercícios táticos subalternizados à primeira é um equívoco que não apenas decorre de uma compreensão inadequada dos exercícios sociais de poder que permeiam todas as esferas da sociedade, como também das seqüelas de uma visão clássica e equivocada do próprio exercício político. Compreender a ação política como pré-ocupação é uma abstração que remonta à visão grega em que o suporte econômico que sustenta o exercício político está assegurado pelo trabalho escravo e em que uma minoria assume a condição de cidadãos por estirpe e não como resultado de um processo educativo. Falta apenas considerar o trabalho como um negócio (como negação do ócio) para chegarmos a uma certa noção burguesa de trabalho usualmente associável a essa noção aristocrática de política. É interessante notar que o professor Lopes após considerar a intencionalidade e mediaticidade da colaboração solidária pergunta-se se é possível articular-se elementos teóricos em torno dessa colaboração e arremate que se não o for estaremos no campo da retórica. Com efeito, parece-nos que o emprego da pré-ocupação como o realizado pelo autor é um exemplo claro da retórica que critica: retire-se o ar que o professor Lopes respira e sua pré-ocupação primeira será simplesmente viver. Retire-se-lhe o alimento e sua pré-ocupação será comer; retire-se-lhe a moradia e sua pré-ocupação será abrigar-se das intempéries. É sutil debater sobre a ocupação anterior à ocupação - expressão logicamente inconsistente, pois a ocupação política inclui-se na extensão de toda a ocupação - quando não estamos mais preocupados com o que comer, onde dormir ou como tratar da doença de nossos filhos.

Ainda sobre a intencionalidade e mediaticidade peculiares à colaboração solidária, convém relembrar que nos textos anteriores deixamos claro que as inúmeras iniciativas solidárias existentes que resenhamos não se articulam sob a estratégia complexa de rede, não se configurando, portanto, como uma alternativa ao capitalismo. Por outro lado destacamos a hipótese de que se essas ações - se forem articuladas estrategicamente sob um modelo de rede, visando implementar os princípios de autopoiese, integralidade, extensividade, intensividade, fluxos solidários de valor, de matérias e de informação, etc - podem vir a engendrar uma alternativa ao capitalismo e portanto a superação desse sistema como modo de produção dominante. Por fim, afirmar que a teoria deve responder à questão de ser ou não possível articular elementos teóricos em torno da colaboração solidária, como faz o professor Lopes, é um disparate. Qualquer ação humana é passível de ser objeto de elaboração conceitual e, portanto, de ser teorizada. A afirmação é tão obtusa que não deixa margem a uma resposta negativa. Isto é, afirmar que não seja possível articular elementos teóricos em torno da colaboração solidária é o mesmo que dizer que os seres humanos são incapazes de pensar conceitualmente a própria solidariedade que praticam.

Convém destacar também que o modo como o professor Lopes emprega o expressão iluminado - citada várias vezes em seus textos - aludindo contextualmente os elaboradores do estudo em questão é também uma figura retórica que busca desqualificar essa investigação, afastando-se do sentido conceitual de expressões comoiluminismo, ilustração, esclarecimento ou aufklärung - talvez dando a entender que nos julguemos inspirados, visionários ou videntes no sentido esotérico que a expressão possa ter nos contextos em que é aplicada. Revela também uma fragilidade quanto a sua compreensão de elaboração teórica. De fato, não há nenhum conhecimento que seja fruto da elaboração de um único ser humano, uma vez que a linguagem e as semioses que atravessam qualquer reflexão são produtos coletivos e constantemente reciclados. Mas não se pretenderá mais esclarecido que o iluminado aquele que o critica ? Considerando ainda que a expressão iluminado, por ele empregada, é precedida da preposição de, ensejando compreender que a possível estratégia de colaboração solidária apresentada teria origem em um grupo de iluminadospara os excluídos, vale considerar o método de elaboração teórica desta reflexão, a fim de dirimir uma pretensa oposição entre "alternativa histórica para os excluídos" ou "alternativa histórica dos excluídos".

O fato de a colaboração solidária ser sistematizada criticamente por intelectuais orgânicos não subverte o fato de que a práxis social global tem precedência sobre a elaboração teórica do investigador. Algumas vertentes da filosofia da libertação, desenvolvidas a partir dos anos 70, ao questionarem-se acerca do sujeito histórico da revolução e da elaboração teórica inerente a esta, argumentaram que as classes populares eram o sujeito de ambos e que cabia aos intelectuais, solidários à práxis de libertação popular, mergulhar no universo simbólico que medeia essa práxis, considerar suas diversas formas e escopos, investigar os elementos agenciadores da ação popular, suas contradições, fragilidades e fortalezas históricas, perspectivas de avanço, etc, enfim sistematizar criticamente aquela mesma práxis e retribuir dialogicamente essa reflexão àqueles atores sociais para que, democraticamente, no exercício do diálogo e da crítica, os movimentos e organizações populares pudessem aprimorar a práxis que efetivam (4). As categorias a serem aplicadas nessa análise crítica, por sua vez, deveriam ser produzidas a partir da construção conceitual sobre as diversas realidades particulares em questão, considerando as diversas formas de dominação, de resistência e de luta por libertação. Tratava-se de negar - sempre que necessário - os esquemas teóricos a partir da prática e construir, a partir do exercício mesmo da práxis de libertação e do diálogo com seus sujeitos históricos, novos conceitos e novas categorias analíticas, que resultassem em novos marcos teóricos que melhor permitissem compreender a própria realidade em curso. Com esta abertura à alteridade histórica como fonte inovadora - da realidade e da teoria - não apenas podemos falar de uma ética emergente das lutas populares, como o faz Arturo Roig (5), mas de uma colaboração solidária cuja realização econômica, política e cultural pode dar origem a uma sociedade de colaboração solidária, subvertendo o capitalismo. Podemos não apenas criticar o populismo que reelabora as demandas populares de modo a atender as demandas da classe dominante, mas também de um certo tipo deesquerdismo que reelabora demandas populares como elementos táticos para atender aos interesses de projetos estratégicos pretensamente revolucionários.

Sob a perspectiva que adotamos, cabe partir da práxis social, detectar as contradições entre os diversos atores e, a partir delas, considerar as classes sociais e seus interesses antagônicos, desvendando as mediações recorrentes nos processos de exploração, expropriação e dominação, bem como, as mediações de resistência e de lutas por libertação, isto é, pela expansão dos exercícios de liberdade pública e privada, que implicam no compartilhamento de mediações materiais, políticas, educativas, informativas e éticas para que ambas (as liberdades pública e privada) se realizem de modo democrático. Como toda prática (ação efetivadora) supõe alguma teoria, todas as formas de resistência e de luta por libertação estão permeadas por teorias cujos alcance e consistência variam em função do grau de sua reflexão e reelaboração por parte dos atores que as praticam. É possível, entretanto, uma reflexão criteriosa e sistemática sobre esses elementos teóricos, suas dificuldades gnosiológicas e estratégicas, e sua capacidade de desvendar mecanismos de dominação e de apresentar alternativas; é possível propor dialogicamente formas de ação que ampliem o domínio sobre as mediações materiais, políticas, informativas, educativas e éticas que mediatizem a liberdade dos sujeitos populares explorados, expropriados, dominados e excluídos. A teoria, portanto, surge da práxis e a ela retorna buscando qualificá-la para que possa ser mais eficaz como elemento de libertação. A estratégia da colaboração solidária em redes autopoiéticas surge em um processo investigativo que adota esse método, aqui sumariamente apresentado. Partindo das práticas de solidariedade, difusas por todas as classes populares, buscando compreendê-las conceitualmente com o arcabouço das teorias já elaboradas que conhecemos (e sempre tendo consciência da parcialidade desse conhecimento, pois a onisciência é um atributo de caráter mitológico) chegamos a fenômenos que melhor são descritos sob o modelo de redes e à necessidade de elaborar novas categorias que aprimorassem o próprio referencial teórico para melhor compreender a práxis que se configura como origem e fim da investigação. A organização de redes de colaboração solidária, como a entendemos, é uma estratégia que tem sua origem (expresso pelo genitivo de) na prática dos excluídos que efetuam ações econômicas solidárias e que para eles se volta (expresso no dativo para), como reflexão criteriosa de sua própria práxis, tendo em vista aprimorá-la, potencializá-la como práxis de libertação popular (6). Aliás, a preposição de tem, pelo menos, treze empregos habituais. Quando particularmente colocada entre dois substantivos ela pode significar, entre outros aspectos: posse, pertença, origem, finalidade (equivalendo a preposição para), causa e participação. Trata-se portanto de uma alternativa que parte de excluídos, tendo neles sua origem, sua causa e que se volta para todos os seres humanos, particularmente a eles próprios.

A questão dos excluídos dá margem a outro jogo de palavras do professor Lopes. No primeiro texto esclarecemos que embora as redes de colaboração solidária possam vir a surgir em meio ao capitalismo, elas são radicalmente antagônicas a esse sistema. No segundo texto afirmamos que as práticas de colaboração solidária que então resenhamos não se articulam estrategicamente e que seus sujeitos prestam pouca atenção aos fluxos de valor inerentes no processo de produção e consumo, fazendo com que as mesmas realimentem estruturas capitalistas. Enfatizávamos no próprio título do texto a necessidade de compreender as práticas existentes de economia solidária e, além disso, transformar e conectar tais atividades de produção e consumo solidários sob uma perspectiva estratégica que as potencialize, de forma a expandirem-se em relações de produção e consumo antagônicas ao capitalismo. Na medida em que as redes se expandam, teremos - segundo a hipótese em estudo - a expansão de uma economia pós-capitalista. Ora, se o capitalismo gera excluídos (em razão de o desenvolvimento científico, ao ser aplicado à produção, dar origem ao que Marx chama dedisposable time), por outra parte incorporar tais excluídos nas redes de colaboração solidária, sob a estratégia que apresentamos como hipótese no primeiro artigo, não significa incorporá-los ao capitalismo, como o texto do professor Lopes dá a entender ao falar da colaboração solidária como estratégia de inclusão na ordem existente. Com efeito, as práticas de economia solidária existentes realimentam, mediatamente, o movimento de acúmulo capitalista uma vez que consomem insumos, outros materiais e serviços do mercado, ao passo que poderiam buscar a satisfação dessas demandas consumindo produtos e serviços de outras unidades produtivas solidárias, operando laços de realimentação produtiva em um movimento de rede, avançando na geração de complexas cadeias produtivas em regime de colaboração solidária. Isso corrigiria os fluxos de valor, de modo que os mesmos realimentassem o movimento de produção e consumo das redes, ao invés de desaguar no mercado capitalista. Ao que parece o professor Lopes critica a estratégia que apresentamos como se as práticas atuais de economia solidária a realizassem; e como as práticas atuais incorporam novamente o trabalho dos excluídos no movimento de acumulação capitalista, a estratégia das redes apresentada no primeiro artigo seria apenas uma estratégia de inclusão dos excluídos no capitalismo. Ora, se o professor Lopes considera que a estratégia apresentada no texto não compõe elementos que permitam a geração de uma economia antagônica ao capitalismo, deve argumentar a falha da estratégia proposta e não apenas dizer que é difícil aceitá-la ou mencionar que as práticas atuais de economia solidária não subvertem o capitalismo, pretendendo com isso contraditar aquela estratégia que, entretanto, não é efetivada nessas práticas.

Por fim, vale considerar que, talvez, a contraface do discurso que afirmava "quanto pior a situação do povo, melhor para a revolução" possa ser a que afirma: "melhorar a situação do povo em redes autopoiéticas de colaboração solidária é reincluí-los na reprodução do capitalismo." Ambas as teses são equivocadas. Fome, pobreza e miséria, morte de pessoas que lutam por terra para plantar e morar, iniciativas de produção comunitária e de consumo solidário (bem como, lutas pelo respeito à dignidade de mulheres, negros, índios, homossexuais e tantos outros grupos que lutam pela expansão das liberdades públicas e privadas visando ampliar e aprimorar as mediações materiais, políticas, educativas e informativas que as suportam) não podem ser reduzidas a meras táticas de luta política. De fato, as práxis de libertação, voltadas aos objetivos dos setores populares da sociedade civil, podem molecularmente realimentar-se em revolucionários movimentos de rede. Sob a matriz teórica que adotamos, não é um acordo simbólico em uma comunidade de comunicação, seja em consensos genéricos ou substantivos, o que pode decidir pela validade ou não desta afirmação; não são acordos simbólicos nas comunidades científicas dos experts o que confere legitimidade a uma teoria qualquer sobre fenômenos objetivos, mas a capacidade dessa teoria em expressar coerentemente relações entre elementos indiciais que ela conceitualiza - significando o termo índice uma categoria semiótica que expressa uma classe de signos que fazem parte dos objetos dinâmicos (7). É esse o critério básico a partir do qual possíveis acordos podem se estabelecer. Em última instância, no que se refere à conceitualização de realidades objetivas, é a práxis o critério de validade das teorias. É na práxis que os limites de transformação histórica se ampliam ou se restringem pela própria ação histórica dos sujeitos sociais. Não existem, portanto, os exatos limites que imagina existir o professor Paulo Lopes, pois os campos de possibilidade são dinâmicos e os seres humanos podem criativamente fazer surgir novas relações econômicas, políticas e culturais. Com efeito, é através da reflexão rigorosa da práxis que podemos perceber, parcialmente, os limites das teorias adotadas e aprimorá-las em suas debilidades e fraquezas. Em contrapartida, o aprimoramento dessas teorias permite colaborar na qualificação da práxis, quando a ela, orgânica e dialogicamente, essa reflexão se articula. Nenhuma teoria compreende totalmente o real, pois todos os signos representam parcialmente os objetos dinâmicos. Os exatos limites que o professor Lopes persegue, portanto, somente podem ser formulados como uma falsificação "teórica" da realidade, como presunção suportada em esquemas teóricos que levam o investigador a afastar-se da compreensão conceitual da realidade quando dela imagina se aproximar.

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Notas

* Foi professor de Lógica e Filosofia da Ciência na UFPR; participa atualmente do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (ALEP) do Setor de Ciências Humanas da mesma Universidade; leciona Filosofia da Linguagem e Filosofia Latino-Americana, respectivamente, no Studium São Basílio Magno e Instituto Vicentino de Filosofia, em Curitiba; presidiu o Instituto de Filosofia da Libertação (IFiL) no período de 1995 a 1998. Artigos e conferências do autor, citados nesse texto, estão disponíveis em www.milenio.com.br/mance.

1. Acerca desses estratagemas e outros recursos afins veja-se Arthur SCHOPENHAUER. Como vencer um debate sem ter razão. TopBooks, 1997.

2. Sobre agenciamentos subversivos veja-se Félix GUATTARI. Revolução Molecular. Brasiliense, 1987 e "Subjetivação Subversiva" in Teoria e Debate, Ano N.12, p. 60-64. Sobre laços de realimentação em movimentos autopoiéticos de rede, veja-se Fritjof CAPRA. A Teia da Vida. São Paulo, Cultrix, 1997. Sobre nossa crítica a concepções equivocadas deholismo veja-se "A complexidade do Real e a Elaboração dos Conceitos - Uma crítica aos Holismos", que é o quinto item de nosso artigo "O Filosofar como Prática de Cidadania." http://www.milenio.com.br/mance/filosofar.htm.

3. Veja-se nosso artigo "Eixo de Lutas e a Central de Movimentos Populares". Revista de Cultura Vozes. N. 6, Ano 85, nov. 1991, p. 645-671.

5. Veja-se Arturo ROIG. "La ‘dignidad humana’ y la ‘moral de la emergencia’ en América Latina" in: Antonio SIDEKUM (org) Ética do discurso e filosofia da libertação - modelos complementares, Editora UNISINOS, São Leopoldo, 1994.

6. Genitivo e dativo são casos de declinação em certas línguas como latim, grego e alemão. Aqui apenas destacamos que essas funções, nos contextos a que nos referimos, são cumpridas, respectivamente, pelas preposições de e para. Veja-se Napoleão Mendes de ALMEIDA. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. Ed. Saraiva, 1999, p. 97, 376, 378. Em nosso contexto, para (do latim, per + ad ) constitui o sentido de direção, destino ou fim.

7. Veja-se Lucia SANTAELLA. A Teoria Geral dos Signos - Semiose e Autogeração. São Paulo, Ed. Ática, 1995 e Charles Sanders PEIRCE. Semiótica e Filosofia , São Paulo, Editora Cultrix, 1972.

4. Veja-se Horácio CERUTTI GULDBERG. Filosofia de la Liberacion Latinoamericana, México DF, Fondo de Cultura Economica, 1983. Veja-se também nosso artigo "Práxis de Libertação e Subjetividade". Revista de Filosofia, Ano 6, N. 7, p. 81-109, jun. 1993. PUC-PR, Curitiba. Sobre a produção do conhecimento a partir da problematização da práxis e no movimento dialógico com atores nela envolvidos, veja-se Paulo FREIRE. Pedagogia da Esperança, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992


DECLARAÇÃO DE PARIS PARA A FILOSOFIA 1995

Extraído de: "Filosofia e Democracia no Mundo" Paris, 15 e 16 de fevereiro de 1995


"Nós, participantes das jornadas internacionais de estudo 'Filosofia e democracia no mundo', organizadas pela UNESCO, que ocorreram em Paris, nos dias 15 e 16 de fevereiro de 1995,

"Constatamos que os problemas de que trata a filosofia säo os da vida e da existência dos homens considerados universalmente,

"Estimamos que a reflexäo filosófica pode e deve contribuir para a compreensäo e conduta dos afazeres humanos,

"Consideramos que a atividade filosófica, que näo subtrai nenhuma idéia à livre discussäo, que se esforça em precisar as definiçöes exatas das noçöes utilizadas, em verificar a validade dos raciocínios, em examinar com atençäo os argumentos dos outros, permite a cada um aprender a pensar por si mesmo,

"Sublinhamos que o ensino de filosofia favorece a abertura do espírito, a responsabilidade cívica, a compreensäo e a tolerância entre os indivíduos e entre os grupos,

"Reafirmamos que a educaçäo filosófica, formando espíritos livres e reflexivos - capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusäo e de intolerância - contribui para a paz e prepara cada um a assumir suas responsabilidades face às grandes interrogaçöes contemporâneas, notadamente no domínio da ética,

"Julgamos que o desenvolvimento da reflexäo filosófica, no ensino e na vida cultural, contribui de maneira importante para a formaçäo de cidadäos, no exercício de sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda democracia.

"É por isso que, engajando-nos em fazer tudo o que esteja em nosso poder - nas nossas instituições e em nossos respectivos países para realizar tais objetivos, declaramos que:

"Uma atividade filosófica livre deve ser garantida por toda parte - sob todas as formas e em todos os lugares onde ela possa se exercer - a todos os indivíduos;

"O ensino de filosofia deve ser preservado ou estendido onde já existe, criado onde ainda näo exista, e denominado explicitamente 'filosofia';

"O ensino de filosofia deve ser assegurado por professores competentes, especialmente formados para esse fim, e näo pode estar subordinado a nenhum imperativo econômico, técnico, religioso, político ou ideológico;

"Permanecendo totalmente autônomo, o ensino de filosofia deve ser, em toda parte onde isto é possível , efetivamente associado - e näo simplesmente justaposto - às formaçöes universitárias ou profissionais, em todos os domínios;

"A difusäo de livros acessíveis a um largo público, tanto por sua linguagem quanto por seu preço de venda, a geraçäo de emissöes de rádio ou de televisäo, de audiocassetes ou videocassetes, a utilizaçäo pedagógica de todos os meios audiovisuais e informáticos, a criaçäo de múltiplos espaços de debates livres, e todas as iniciativas susceptíveis de fazer aceder um maior número a uma primeira compreensäo das questöes e dos métodos filosóficos devem ser encorajadas, a fim de constituir uma educaçäo filosófica de adultos;

"O conhecimento das reflexöes filosóficas das diferentes culturas, a comparaçäo de seus aportes respectivos e a análise daquilo que os aproxima e daquilo que os opöe, devem ser perseguidos e sustentados pelas instituiçöes de pesquisa e de ensino;

"A atividade filosófica, como prática livre da reflexäo, näo pode considerar alguma verdade como definitivamente alcançada, e incita a respeitar as convicçöes de cada um; mas ela näo deve, em nenhum caso, sob pena de negar-se a si mesma, aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie.

"Esta declaraçäo foi subscrita por:

- Prof. Ruben G. Apressian (Instituto de Filosofia da Academia de Ciências de Moscou, Federaçäo Russa),

- Prof. Tanella Boni-Koné (Universidade de Abidjan, Costa do Marfim),

- Prof. Tzotcho Boyadjiev (Universidade Saint Klément Ohridski, Sófia, Bulgária),

- Prof. In-Suk Cha (Secretário Geral da Comissäo Nacional para a UNESCO da República da Coréia, Seul, República da Coréia ),

- Prof. Marilena Chaui (Universidade de Säo Paulo, Brasil),

- Prof. Donald Davidson (Universidade de Berkeley, USA),

- Prof. Souleymane Bachir Diagne (Universidade de Dakar, Senegal ),

- Prof. François Dossou (Universidade Nacional do Benin, Cotonou, Benin),

- Prof. Michaël Dummett (Oxford, Reino Unido),

- Prof. Artan Fuga (Universidade de Tirana, Albânia),

- Prof. Humberto Gianini (Universidade de San Tiago do Chile, Chile),

-Prof. Paulin J. Houtondji (Universidade Nacional do Benin, Benin),

- Prof. Joanna Kuçuradi (Secretária Geral da Federaçäo Internacional das -Sociedades de Filosofia, Ancara, Turquia),

- Prof. Dominique Lecourt (Universidade de Paris VII, Paris, França),

- Prof. Nelly Motroshilova (Universidade de Moscou, Federaçäo da Rússia),

- Prof. Satchidananda Murty (Vice-Presidente da Federaçäo Internacional das Sociedades de Filosofia, Índia),

- Prof. Ulrich Johannes Schneider (Universidade de Leipzig, Alemanha),

- Prof. Peter Serracino Inglott (Reitor da Universidade de Malta), S. E. Mohammed Allal Sinaceur (Antigo Diretor da Divisäo de Filosofia da UNESCO, Rabat, Marrocos),

- Prof. Richard Susterman (Temple University, Filadélfia, USA),

- Prof. Fathi Triki ( Decano da Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Sfax, Tunísia),

- Prof. Susana Villavicencio (Universidade de Buenos Aires, Argentina)."

Extraído de : UNESCO. Philosophie et Démocratie dans le Monde

- Une enquête de l'UNESCO. Librairie Génerale Française,
1995, p. 13-14