sábado, 29 de agosto de 2015

ESTÃO SE ACABANDO RECURSOS NA DISPENSA DA CASA COMUM

''E assim gaiamente vamos ao encontro de um abismo que se abre logo aí à nossa frente.''


A Terra é um planeta pequeno, velho, com a idade de 4,44 bihões de anos, com 6.400 km de raio e 40.000 km de circunferência. Há 3,8 bilhões de anos surgiu nele todo tipo de vida e há cerca 7 milhões, um ser consciente e inteligente, altamente ativo e ameaçador: o ser humano. O preocupante é o fato de que a Terra já não possui reservas suficientes em sua dispensa para fornecer alimentos e água para seus habitantes. Sua biocapacidade está se enfraquecendo dia a dia.

O dia 13 de agosto foi o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshooting Day). É o que nos informou a Rede da Pegada Global (Global Footprint Network) que, junto com outras instituições como a WWF e oLiving Planet acompanham sistematicamente o estado da Terra. A pegada ecológica humana (quanto de bens e serviços precisamos para viver) foi ultrapassada. As reservas da Terra se estão se esgotando e precisamos de 1,6 planeta para atender nossas necessidades sem ainda aquelas da grande comunidade de vida (fauna, flora, micro-organismos). Em palavras de nosso cotidiano: nosso cartão de crédito entrou no vermelho.

Até 1961 precisávamos apenas de 63% da Terra para atender as nossas demandas. Com o aumento da população e do consumo já em 1975 necessitávamos 97% da Terra. Em 1980 exigíamos 100,6%, a primeira Sobrecarga da pegada ecológica planetária. Em 2005 já atingíamos a cifra de 1,4 planeta. E atualmente em agosto de 2015 1,6 planeta.

Se hipoteticamente quiséssemos, dizem-nos biólogos e cosmólogos, universalizar o tipo de consumo que os países opulentos desfrutam, seriam necessários 5 planetas iguais ao atual, o que é absolutamente impossível além de irracional(cf. R. Barbault, Ecologia geral, 2011, p.418).

Para completar a análise cumpre referir a pesquisa feita por 18 cientistas sobre “Os limites planetários: um guia para o desenvolvimento humano num planeta em mutação” publicada na prestigiosa revistaScience de janeiro de 2015 (bom resumo em IHU de 09/02/2015). Aí se elencam 9 fronteiras que não podem ser violadas, caso contrário, colocamos sob risco as bases da vida no planeta (mudanças climáticas; extinção de espécies; diminuição da camada de ozônio; acidificação dos oceanos; erosão dos ciclos de fósforo e nitrogênio; abusos no uso da terra como desmatamentos; escassez de água doce; concentração de partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos; introdução de novos elementos radioativos, nanomateriais, micro-plásticos).

Quatro das 9 fronteiras foram ultrapassads mas duas delas – a mudança climática e a extinção das espécies – que são fronteiras fundamentais, podem levar a civilização a um colapso. Foi o que concluiram os 18 cientistas.

Tal dado coloca em xeque o modelo vigente de análise da economia da sociedade mundial e nacional, medida pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Este implica uma profunda intervenção nos ritmos da natureza e a exploração dos bens e serviços dos ecosistemas em vista da acumulação e com isso do aumento do PIB. Este modelo é uma falácia pois não considera o tremendo estresse a que submete todos os serviços ecossistêmicos globais que garantem a continuidade da vida e de nossa civilização. De forma irresponsável e irracional considera tal fato, com suas graves consequências, como “externalidades”, vale dizer, fatores que não entram na contabilidade nacional e internacional das empresas.

E assim gaiamente vamos ao encontro de um abismo que se abre logo aí à nossa frente. Curiosamente, nas discussões sobre temas econômicos que se organizam semanalmente nas TVs ( por exemplo, o Painel da Globoniews, aos sábados e domingos) nunca ou quase nunca se faz referência aos limites ecosistêmicos da Terra. Com raras exceções, os economistas parecem cegos e cegados pelas cifras do PIB, reféns de um paradigma velho e reducionista de analisar a economia concreta que temos. Se todas as fronteiras forem violadas, como tudo parece indicar, que acontecerá com a Terra viva e a Humanidade? Temos que mudar nossos hábitos de consumo, as formas de produção e de distribuição como não se cansa de repisar o Papa Francisco e ausente nos analistas de O Globo que sequer fazem uma referência a um tema tão fundamental. Mal imaginam que podemos conhecer um “armagedom” ecológico-social sem precedentes.

Imaginemos o planeta Terra como uma avião de carreira. Possui limites de alimentos, de água e de combustível. 1% viaja na primeira classe; 5% na executiva e os 95% na classe econômica ou junto às baguagens num frio aterrador. Chega um momento em que todos os recursos se esgotam. O avião fatalmente se precipita, vitimando todos e de todas classes.

Queremos este destino para a nossa única Casa Comum e para nós mesmos? Não temos alternativa: ou mudamos nossos hábitos ou lentamente definharemos como os habitantes da ilha de Páscoa até restarem apenas alguns representantes, talvez invejando quem morreu antes. Efetivamente, não fomos chamados à existência para conhecermos um fim tão trágico. Seguramente “o Senhor, soberano amante da vida”(Sab 11,26) não o permitirá. Não será por um milagre mas pela nossa mudança de hábitos e pela cooperação de todos.

Leonardo Boff escreveu Proteger a Terra-cuidar da vida: como escapar do fim do mundo, Record, Rio

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

DESCULPAS ESFARRAPADAS PARA NÃO ESTUDAR

Veja como se livrar das desculpas esfarrapadas mais comuns para não estudar.

Você vestibulando é do tipo que arranja todo tipo de desculpa para não estudar? Se a resposta é sim, este texto é para você.
Nada de fugir dos exercícios, das leituras e das revisões, segundo Wander Azanha, coordenador do cursinho pré-vestibular Oficina do Estudante. E nada de desânimo!
"Sei que não é fácil, não tem vaga para todo mundo, mas é possível", afirma Azanha, que na época da preparação para o seu próprio vestibular dividia o tempo entre estudos e trabalho.
Para a professora Augusta Aparecida Barbosa, que leciona há 30 anos e atualmente trabalha no Cursinho do XI, alguns estudantes usam desculpas (algumas bem esfarrapadas), pois não reconhecem a importância de se entrar em uma boa universidade.
"Tenho visto muitos alunos desistirem de tentar passar nos cursos mais fortes, pois eles sabem que hoje está muito fácil entrar numa particular [em cursos fracos]. E, às vezes, nem precisa pagar tão caro [as mensalidades] para estudar. Eles se desanimam", opina.
Para tentar ajudar, o UOL listou as desculpas esfarrapadas mais comuns -- com dicas para driblar cada uma delas.

► Desculpas esfarrapadas mais comuns


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Não tenho tempo

Procure aproveitar TODOS os intervalos de tempo possíveis. Que tal alguns minutinhos durante o horário do almoço ou na volta para casa dentro do ônibus? Reveja seus horários e faça um cronograma de estudos. A palavra de ordem é disciplina! #Ficaadica.
Reprodução/Tribuna 
do Ceará
Reprodução/Tribuna do Ceará

Vou acessar meu Facebook só mais uma vez

Ficar no Facebook ou nas outras redes sociais é divertido, claro! Mas é preciso manter o foco principal: estudar para passar no vestibular. Por isso, desligue tudo. Aproveite essa reta final para dar um último gás. Depois das provas você poderá voltar a navegar tranquilamente pela internet ;-).
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Nunca fui um bom aluno

Sempre é tempo de recuperar o estudo perdido. A bagagem é importante, mas não é um fator limitante. "Já tive casos de alunos que eram muito ruins, mas que conseguiram passar em medicina depois do estudar. Com disciplina eles se tornaram alunos brilhantes", relembra Azanha.
Facebook PreVestDáDeprê
Facebook PreVestDáDeprê

Tenho dificuldades para me concentrar

Mantenha tudo que possa atrapalhar desligado. Celular, televisão... tudo! Ter um bom local de estudo e fazer pausas a cada 1h também podem ajudar na concentração. "Não vai acontecer nada de muito relevante na face da terra em 2h que você não possa desligar", brinca Azanha.
Reinaldo Canato/UOL
Reinaldo Canato/UOL

Vou fazer apenas como um teste

Não use o vestibular apenas como teste. Para isso, existem os simulados e as provas anteriores. Treinando, o vestibulando ganha familiaridade com as provas e acaba acostumando seu corpo para a maratona de exercícios. Além do mais, isso não é desculpa para evitar os estudos.
Reprodução/Flickr/
Champpugsly
Reprodução/Flickr/Champpugsly

Tenho muitos compromissos

Os compromissos com a balada, com os aniversários, com o cuidado do cachorro são coisas que devem ser balanceadas com os estudos. Por mais que o vestibulando tenha tudo isso para fazer, ele precisa separar um tempo para as obrigações. É preciso ter atitude e disciplina.
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Já tentei algumas vezes e não passei

Acredite que é possível. "Olhe para trás e verifique o que não deu certo. [Não passar no vestibular] Deve ser um trampolim para uma coisa melhor. Errou a estratégia? Errou a disciplina? Verifique o que pode funcionar", afirma o professor Azanha.
Rodrigo Capote/Folhapress
Rodrigo Capote/Folhapress

Não tenho dinheiro para pagar o cursinho

É complicado, mas a internet pode ajudar. Existem provas, simulados e aulas inteiras gratuitas. Aqui mesmo no UOL existe uma seção exclusiva para os vestibulandos onde você pode acessar roteiro de estudos, resumo de disciplinas, atualidades e ainda fazer simulados ;-).
Fernando Moraes/Folhapress
Fernando Moraes/Folhapress

Fiz escola pública. Não tenho chances

Não desista antes de tentar. Você terá que se esforçar muito? Provavelmente. Mas há chances, sim! "Eu sou prova viva. É possível. Existem alunos da escola pública que são excelentes. Você tem que querer", ressalta o professor Azanha.
Shutterstock
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Me sinto velho demais para o vestibular

Nunca é tarde para estudar e nem arriscar coisas novas. Acredite em você e no seu potencial. Você é capaz! "Onde está escrito que se tem que entrar na faculdade com 18 anos? Não tem lei. Tem aluno que entra com 17 e é frustrado", destaca Azanha.
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Ainda não sei o curso que quero prestar

A primeira grande prova é o Enem e para ele não é preciso decidir o curso antecipadamente. Respire fundo e tenha calma. Continue com a rotina de estudos, tenha disciplina e pesquise assim que possível o curso (ou os cursos) que mais gosta para ajudar na decisão.
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Não dá mais tempo de estudar

Os vestibulares estão chegando, mas dá tempo! Priorize a resolução das provas anteriores dos vestibulares. Assim, você consegue identificar as matérias que mais caem, rever as questões em que teve mais dificuldade e ainda se acostuma com a estrutura e com o tempo das provas.



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

É PRECISO REPENSAR A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

Bernardete Gatti, pedagoga e pesquisadora, diz que é preciso repensarmos - com consequências práticas - a formação dos professores.

Bernardete Gatti: pela valorização do estágio
e da prática em sala de aula
Melhorias efetivas na área da educação só serão possíveis se repensarmos - com consequências práticas - a formação dos professores nos cursos superiores. O alerta é da pedagoga e pesquisadora Bernardete Gatti, vice-presidente da Fundação Carlos Chagas, que concedeu extensa entrevista à publicação Cadernos Cenpec, em que detalha as causas e as consequências de a prática docente ser sempre relegada a um plano em que é considerada "algo menor".

O problema ocorre tanto nas licenciaturas quanto nos cursos de pedagogia. No primeiro caso, as disciplinas de educação costumam aparecer apenas "como adendo" aos bacharelados. "Você segmenta, valoriza o conhecimento formal da disciplina da área e dá uma tintura leve de educação, que não é suficiente, hoje, para o professor atuar com as crianças, os adolescentes e os jovens", avalia Bernardete.

Os cursos de pedagogia, por sua vez, vivem uma ambiguidade: formar pedagogos ou professores? A formação de alfabetizadores e de professores para a educação infantil acaba sempre relegada a segundo plano. "Parece que gostamos de considerar o trabalho de um ponto de vista apenas teórico, achamos que a prática do trabalho é menor e que pode ser feita de qualquer jeito."

O próprio funcionamento da universidade contribui para esse cenário, com currículos fragmentados, aulas que não inovam e um sistema de contratação de professores que pouco considera sua formação didática. "Como um professor que não tem formação pedagógico-didática vai formar professores?", questiona Bernardete. "Muitos vão trabalhar com metodologia e prática de ensino sem o domínio teórico que essas áreas exigem."

Iniciativas que buscam conceber novas propostas existem, mas sua expansão muitas vezes esbarra na burocracia, na acomodação e na descontinuidade da gestão. Um dos aspectos centrais, aponta a pesquisadora, é valorizar e reestruturar os estágios. Para ela, o ideal seria que universidades e escolas estabelecessem convênios, com um projeto de trabalho em conjunto. Outra proposta é a criação de centros de formação de professores nas universidades, com o objetivo de permitir e incentivar uma articulação entre os docentes das diversas áreas da instituição.

Para ler a entrevista na íntegra, acesse http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/297/283

LEITURA E ESCRITA NA PRÉ-ESCOLA


Aos 4 e 5 anos, os pequenos estão cercados por textos e têm muitas ideias sobre a língua escrita. Conheça seis condições didáticas para fazê-los avançar.


Na rotina da pré-escola, as crianças escrevem e se divertem 
com as letras móveis.
Mensagens, palavras, frases, textos. Compreender e ser compreendido por meio da escrita. Eis a magia do ler e escrever. Porém, a melhor época para se iniciar no mundo das letras tem sido um tabu ao longo dos anos. Na escola pública, defende-se que essa prática é séria demais para a Educação Infantil, muito escolar para os pequenos que merecem exercer seu direito de brincar. O inverso acontece nas instituições particulares, que defendem a alfabetização nessa faixa etária. Mas, entre a proibição e a obrigação, existe uma criança que explora o mundo da escrita e pensa ativamente sobre ela. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil orientam a "articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural". A verdade é que, desde muito novas, elas têm acesso à linguagem escrita em seu dia a dia e, aos 4 e 5 anos, estão em plena fase de investigação desse objeto da cultura, inclusive nos suportes digitais. Exploram o teclado do computador, veem o bilhete à mão preso na geladeira, reconhecem os produtos na prateleira do supermercado, os nomes dos programas na televisão e as placas de sinalização. A escrita está por toda parte. Postergar a interação com ela não é uma boa opção.

No texto O Ensino e a Aprendizagem da Alfabetização: uma Perspectiva Psicológica, de 2002, a pesquisadora argentina Ana Teberosky e a espanhola Isabel Solé esclarecem que, nos últimos 30 anos, o avanço mais significativo na área foi reconhecer que as hipóteses sobre a linguagem escrita de crianças entre 3 e 5 anos fazem parte do processo de alfabetização inicial. Essa conclusão se choca com a visão de que a pré-escola é apenas uma etapa preparatória do Ensino Fundamental, que privilegia treinamentos mecânicos como o desenho das letras, atividades de coordenação visomotora e exercícios de cópia. Essas práticas compartimentam a escrita e ignoram a qualidade da comunicação que se estabelece por meio dela. Dividir a linguagem em etapas de pré- alfabetização, alfabetização e pós-alfabetização é negar que existe um processo contínuo de aprendizagem. Para favorecer o desenvolvimento dos pequenos, vale a pena ensinar a usar as letras em situações reais de leitura e escrita, propiciar momentos de reflexão sobre elas, conversar sobre suas denominações e promover a relação com palavras e partes de palavras conhecidas, como os nomes de amigos e parentes ou os títulos de histórias.

► Para explorar os textos na pré-escola

Desse modo, cabe ao educador atuar para democratizar o acesso ao mundo da escrita, que ainda se apresenta com desigualdade para crianças de classes sociais distintas, e ser um interlocutor inteligente dessa aprendizagem, promovendo um ambiente alfabetizador. "O professor deve dar todas as condições para que a sala pense sobre como se escreve, para que se escreve e quem escreve", explica Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisalá. As reflexões devem levar em conta as relações entre os elementos da linguagem verbal, pois é nessas relações que eles encontram significado e não em partes isoladas, como as letras. Por isso, é importante que os pequenos tenham acesso a uma diversidade de materiais escritos, ouçam a leitura de diferentes gêneros textuais, tenham oportunidade de escrever segundo suas ideias, interpretem o escrito por meio do contexto e produzam textos ditados ao docente.

Além de inseri-las nas práticas reais de linguagem, é essencial que se compreenda a forma própria que as crianças têm de construir conhecimento sobre a escrita, conforme já demonstrado em pesquisas desde o início da década de 1980. "Quando escrevem, elas colocam em jogo tudo o que conhecem, expondo suas ideias, compartilhando-as com outros escritores, como colegas e professores, e evoluindo", afirma a especialista argentina Claudia Molinari. Ou seja, somente pensar sobre o contexto não é suficiente, devem ter a chance de escrever. "Quando dizemos: escreva do seu jeito, escreva o melhor que pode, estamos dando à criança a liberdade de se expressar da forma que sabe e de acordo com as suas capacidades no momento", explica Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita no texto O Conhecimento de Pré-escolares sobre a Escrita: Impactos de Propostas Didáticas Diferentes em Regiões Vulneráveis.

De acordo com Regina, que observou quatro turmas de Educação Infantil para sua tese de doutorado, existem situações didáticas que impulsionam essa aprendizagem. O trabalho com nome próprio - a primeira palavra com significado para a criança - fornece um conjunto básico de letras que cada um usará para compor outras palavras. Quando se promove a escrita, a interpretação e a revisão da própria escrita, a criança começa a estabelecer relações com o que quis dizer e o que escreveu. Na produção de texto coletivo, com o educador atuando como escriba, os pequenos pensam no que desejam comunicar e estabelecem diferenças entre o registro oral e o escrito. Além disso, a organização de sala em duplas ou subgrupos com acesso a fontes de informações favorece as trocas produtivas e amplia consideravelmente o repertório dos pequenos.

Todas essas situações devem ser elaboradas levando em conta o ponto de vista da criança pequena, para quem não há distinção entre aprender e jogar. Você verá que todos vão avançar na compreensão do sistema alfabético, sem a obrigação de chegar a uma escrita convencional.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

BIBLIOTECA: DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COGNITIVO DE CRIANÇAS


Estudo do Instituto Brasil Leitor aponta os pontos positivos sobre o desenvolvimento social e cognitivo de crianças com idades entre 2 e 6 anos com acesso a uma biblioteca.

O acesso a uma biblioteca que integre o ler e o brincar tem impacto positivo sobre o desenvolvimento social e cognitivo de crianças com idades entre 2 e 6 anos, aponta pesquisa do Instituto Brasil Leitor (IBL). O estudo foi realizado entre 2012 e 2014 em um Centro de Educação Infantil (CEI) e uma Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) na cidade de São Paulo, e foi dividido em duas etapas - antes e depois da implantação do Projeto Biblioteca Primeira Infância, do próprio IBL.

O instituto já implantou 80 unidades desse tipo em escolas, hospitais e empresas do país. Além de livros, o espaço dispõe de brinquedos, bonecos e um mobiliário pensado para instigar a imaginação e a criatividade.

Na primeira etapa - antes das bibliotecas -, foram coletadas informações de 24 crianças a partir de questionários aplicados aos familiares e educadores e de observações semanais dos diálogos e interações. Na segunda etapa - após a implantação das bibliotecas -, as crianças foram observadas quanto aos mesmos aspectos comportamentais, falas e reações às atividades realizadas dentro do espaço de leitura. Depois, cada criança foi avaliada com questionários aplicados aos professores e familiares.

As análises foram feitas segundo as categorias do instrumento Child Observation Record (COR), baseado na classificação de comportamentos de acordo com categorias como relações sociais, representação criativa e comunicação e linguagem. Cada item é dividido em cinco níveis de comportamento, sendo o nível 1 o mais básico e o nível 5 o mais avançado.

Os resultados apontam um aumento significativo, após a implantação das bibliotecas, de crianças no nível 5 em todas as categorias observadas. Quanto às relações sociais, por exemplo, 100% das crianças da Emei passaram ao nível máximo após a instalação das bibliotecas - antes, eram 6%. Em linguagem e comunicação, o índice saltou de 13% para 69%. Em representação criativa, o índice passou de 6% para 70%.

domingo, 16 de agosto de 2015

O PT ou se renova ou se mediocriza de vez

''Rejuvenescer-se como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar.''

Reza um mito antigo da cultura mediterrânea que, de tempos em tempos, a águia, observando em seu corpo sinais de envelhecimento, fraqueza dos olhos penetrantes, e flacidez das garras se propunha renovar-se totalmente. Assim fazia também a fênix egípcia que aceitava morrer para voltar rejuvenescida para nova vida. Qual era a estratégia da águia? Punha-se a voar cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendiavam e ela toda começava a arder. Quando chegava a este ponto extremo, ela se precipitava do céu e se lançava qual flecha nas águas frias do lago. O fogo nela se apagava.

E então ocorria a grande transformação. Através desta experiência de fogo e de água, a velha águia voltava a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude.

Queremos aplicar este mito ao PT metido numa crise crucial que o obriga a renovar-se como a águia ou aceitar o lento envelhecimento até perder todo o vigor vital e a capacidade de renovação da sociedade, como era seu sonho primordial.

Para entender melhor esse relato e aplicá-lo ao PT precisamos revisitar o filósofo Gaston Bachelard e o psicanalista C. G. Jung que entendiam muito de mitos e de seu sentido profundo. Segundo eles, fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação.

O fogo simboliza a consciência, o vigor e a determinação de abrir caminhos novos. A água, ao contrário, representa as forças do inconsciente, as dimensões do cuidado e a capacidade de entender o sentido secreto das crises.

Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos: a determinação com a descoberta do sentido real das crises. Elas acontecem para purificar, limpar de todo tipo de agregado e deixar aparecer o essencial. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.

A água nos faz pensar também nas grandes enchentes como conhecemos em 2011 nas cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro. Com sua força tudo carregaram, especialmente o que não tinha consistência e solidez. Numa única noite morreram 903 pessoas e 32 mil ficaram desabrigadas. Foi um cataclismo de ressonância mundial. É o poder invencível da água.

O fogo nos faz imaginar o cadinho ou as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que é ganga e que não é essencial. O ouro e a prata passam por esse processo purificador do fogo.

São notórias as crises existenciais. Ao fazermos esta travessia pela “noite escura e medonha”, como dizem os mestres espirituais, deixamos aflorar nosso eu profundo sem as ilusões do ego superficial. Então amadurecemos para aquilo que é em nós autenticamente humano e verdadeiro. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.

Mas existem também as crises maiores, de todo um projeto e mesmo de todo um partido como o PT. Ele tem que assumir a verdade: teve muitos acertos que beneficiaram milhões que viviam na pobreza e na marginalidade. Mas também cometeu erros evitáveis: deixou-se tomar pelo “demônio” do poder como fim em si mesmo quando deve ser sempre meio. Houve vergonhosa corrupção de pessoas importantes que destruíram o sonho de toda uma multidão que acreditava e se esforçava para viver o novo factível.

Mas abstraindo das metáforas e indo diretamente ao conteúdo real: que significa concretamente para o PT rejuvenescer-se como a águia? Significa entregar à morte tudo o que de errado praticou e que impede o sonho de despertar.

O velho no PT são os hábitos e as atitudes da velha política que servia de instrumento para crescer e perpetuar-se no poder. Com isso perdeu o sentido originário do poder como meio de transformação em benefício das grandes maiorias e jamais como fim em si mesmo. Tudo isso deve ser entregue à morte para o PT poder inaugurar uma forma de relação com os verdadeiros portadores do poder que é o povo e os movimentos sociais.

Rejuvenescer-se como águia significa também desprender-se de convicções enrijecidas, de certa arrogância de representar o melhor caminho e de alimentar a pretensão de estar sempre certo. Muitos dirigentes continuam manejando conceitos ultrapassados, incapazes de oferecer respostas novas à crise que devasta os países centrais e agora nos atinge poderosamente. Rejuvenescer-se como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar.

Mas não é isso que está ocrrendo. Até hoje esperamos uma revisão sincera e o reconhecimento público de seus erros. Seus líderes imaginam que assim fazendo, dão armas aos adversários, quando mostrariam ser mais fiéis mais à verdade do que à própria imagem.

O PT que se apresentava como uma águia de alto voo, corre o risco de se transformar em galinha comum que apenas cisca o chão e faz voos rasteiros. Não é esse o destino que a história lhe quer reservar.

Por último, se o PT quiser se renovar como uma águia deve regressar ao seio do povo. Este lhe dará belos exemplos de luta, de trabalho, de inteireza ética e também duras lições. Essa imersão é salvadora e renovadora como foi para a águia o arder em fogo e o mergulhar nas águas frias. Só assim pôde se rejuvenescer. Para o PT isso não é uma metáfora mas um desafio.


Por Leonardo Boff 16 de agosto 

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com

sábado, 15 de agosto de 2015

OS EXPLICADORES DO BRASIL.

Eduardo Hoornaert é um conhecido historiador da Igreja e da história do Brasil na perspectiva das vítimas. É belga e vive no Brasil praticamente toda a sua vida, trabalhando e pesquisando no Nordeste. Interessa-se especialmente pela cultura popular e por sua sabedoria. Publicamos aqui este texto que nos ajuda a refletir e nos tornar críticos face às pressões político-ideológicas dominantes no atual momento. LBoff

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No momento pipocam por toda parte explicações da situação atual no Brasil, principalmente na Internet, mas também na rádio, na TV e nos jornais. Enumero algumas:

– O Brasil está em crise. Nos grandes meios de comunicação, essa afirmação é hoje um postulado. Mas não se explica o que se entende por ‘crise’. Em 1939, quando eu tinha 9 anos, o país em que nasci estava em ‘crise’: as pessoas estocavam alimentos e todos sentiam que a guerra se aproximava. Isso era crise. Neste momento, no Brasil, os preços aumentam, o consumo diminui, mas será que isso é crise? O fato de alguns deixarem de viajar a Orlando com a família porque o dólar está alto é sinal de crise? É o que se diz na TV. Minha impressão é que os grandes meios de comunicação têm interesse em falar em ‘crise’.

– Vivemos numa democracia. O termo ‘democracia’ virou uma palavra sagrada, intocável. Mas o que dizer de um país de 200 milhões de habitantes, em cima dos quais os porta-vozes de uma só família, os filhos de um bem-sucedido jornalista do Rio de Janeiro que criou uma rede de meios de comunicação, pronunciam a cada dia oráculos que passam por verdades eternas, praticamente nunca contestadas? Isso é democracia? Há muitos outros exemplos que mostram que a palavra ‘democracia’ não corresponde ao que está efetivamente acontecendo.

– A economia é uma ciência. A indicação, pela presidenta Dilma, de Joaquim Levy como ministro da Economia, é interpretada por muitos como escolha de alguém formado em ‘ciência econômica’. Dá se a impressão que Levy domina uma ciência que o comum dos mortais não consegue entender, mas que deve ter seus segredos. Faz aproximadamente 250 anos, desde Adam Smith (1776), que os economistas procuram erguer suas ‘artes’ ao patamar de ciência. A história desmente essa pretensão e apresenta muitos casos em que a economia provou ser, não uma ciência, mas uma ‘arte de fazer’.

– O Brasil está dividido entre inteligentes e ignorantes. Essa é uma análise extremamente grosseira, mas hoje vejo que ela é adotada por quem se autoproclama ‘filósofo’, ‘analista político’, ‘jornalista qualificado’. No final do ano passado, os ignorantes colocaram Dilma no poder, mas ‘depois de ver como ela governa’, compreendem que os inteligentes têm razão. Daí os números extremamente baixos da popularidade da presidenta. Mas, como se sabe de que modo Dilma governa? Isso passa necessariamente pela mediação dos grandes meios de comunicação, e assim voltamos ao acima exposto acerca da concentração da comunicação pública no Brasil nas mãos de um número extremamente reduzido de pessoas.

– O ciclo PT passou. Alguém disse isso e muitos o repetem. A explicação tem uma aura de verdade inconteste que dispensa análise empírica. Como foi dito por uma pessoa inteligente, deve ser verdade. Se você duvidar, é petista ignorante.

– Lula é populista. Essa frase também tem ares de inteligência. Mas o que se entende por ‘populista’? Assisti recentemente a um programa na televisão, em que se disse que populista é quem simpatiza os governos ‘populistas’ de Venezuela, Bolívia e Ecuador (as repúblicas bolivarianas). Isso, disse o interlocutor, não tem futuro, pois esses governos não têm dinheiro. Melhor aliar-se aos Estados Unidos e à Europa, onde há dinheiro. Então entendi o que é populista: é o contrário de dinheirista.

– Temos de combater o terrorismo. Divulgado aos quatro ventos pelo presidente americano Bush na manhã do dia 11 de novembro de 2001 (data do ataque às torres gêmeas em Nova Iorque) depois de receber um telefonema de seu conselheiro Kissinger que falou em ‘war on terror’ (guerra contra o terror), o terrorismo é um dos termos que caracterizam as sociedades em que vivemos. A civilização está sendo ameaçada por terroristas, assim como no passado esteve ameaçada por comunistas. Mas, se um drone americano mata pessoas inocentes no Afeganistão, isso é terrorismo? Não, ninguém diz isso. Matar inocentes no Afeganistão é combater o terrorismo, assim como apoiar golpes militares na América Latina, nos anos 1960-70, era combater o comunismo. Dias passados, a Câmara Federal aprovou uma lei que de certa forma aplica ao Brasil o pacote antiterrorista fabricado nos Estados Unidos. Essa lei parte da ideia que o terrorismo pode estender seus tentáculos sobre o país, o que deve ser evitado a qualquer custo. Temos de ficar de sobreaviso, pois a conspiração terrorista pode eclodir onde menos se espera. Quem não concordar com ideias divulgadas pelos grandes meios de comunicação, por exemplo, é potencialmente ‘terrorista’.

A lista de frases que hoje pretendem explicar o Brasil não se esgota com esses poucos exemplos. Mas as que apresentei brevemente acima bastam para que enxerguemos a saída diante do poder avassalador dessas e de outras frases que costumamos ouvir diariamente nos grandes meios de comunicação. Penso que, mais que nunca, é preciso usar o cérebro. A coisa mais preciosa que a natureza pode nos oferecer é um cérebro que funcione bem, ou seja, que nos faça pensar de forma independente. O cultivo de uma inteligência independente constitui a tarefa mais importante da vida.

Como o cérebro está diretamente ligado aos órgãos de observação (visão, audição) e trabalha os dados provenientes desses órgãos, tudo depende da capacidade de elaborar corretamente o que nos vem por meio da observação. Quando assistimos à TV, por exemplo, o cérebro não fica totalmente passivo mas interage com as imagens e as palavras.

Diante do bombardeio diário de imagens e mensagens, um cérebro sadio se posiciona de forma independente. Isso se chama reflexão. Esse cérebro forma um ‘critério’, ou seja, um pensamento crítico acerca do que ouvimos e vimos na tela. O critério correto é resultado de uma luta permanente pelo domínio sobre nossa própria mente. Arriscamos ‘perder a cabeça’ quando não reagimos diante da maré montante de palavras e imagens diariamente despejadas sobre nós. Pois se trata realmente de uma maré, que ameaça inundar tudo, se não construímos um dique seguro para conter seu avanço. Esse dique é nossa inteligência. Se não preservamos nossa inteligência independente, corremos o perigo de virar um rebanho empurrado por um louco.

A marcha do dia 16 de agosto. Para terminar, umas palavras acerca da marcha do dia 16 de agosto, em grande parte preparada pelo movimento ‘Vem Pra Rua’ (VPR), que se articula de forma bem organizada por meio da Internet. Há quem pensa que essa marcha apresenta uma alternativa para o Brasil. Mas é preciso saber que o movimento VPR se articula em torno de um núcleo duro de apenas cinco pessoas, um verdadeiro ‘comando’ muito bem organizado, com disciplina e sem crítica interna (como acaba de revelar o Jornal ‘Valor’). Se alguma mensagem corre pela Internet que não esteja de acordo com o que esse núcleo decide, ela é eliminada do circuito organizado pela VPR.

Estamos diante de um movimento que não tem nada de novo, a não ser a técnica de comunicação e o charme de pessoas bem-sucedidas na vida, que têm entre 40 e 50 anos e participam do dito núcleo central u colaboram com ele. Esse núcleo duro decide atacar Dilma e Lula (talvez Renan Calheiros), mas não Eduardo Cunha. Você participa da marcha, grita palavras de ordem e pensa agir com liberdade, mas na realidade está enquadrado dentro de um movimento que ‘outros’ (Globo, Veja, etc.) já começaram a interpretar antes mesmo que aconteça a marcha do dia 16 de agosto. É essa interpretação ‘pré-fabricada’ que constitui a ração a ser digerida pelo grande público a partir do dia 16 de agosto.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

FACHIN: É PRECISO PRESERVAR AS INSTITUIÇÕES E DEMOCRACIA

Nesta quarta-feira (12), o ministro Luiz Edson Fachin, recém empossado no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que diante da atual crise política o país deve estar “acima de qualquer embate” entre os poderes da República. Segundo ele, é preciso preservar as instituições para assegurar a democracia.


Nelson Jr/STF
Luiz Fachin é ministro do Supremo Tribunal FederalLuiz Fachin é ministro do Supremo Tribunal Federal
“O que me parece muito importante neste momento, como, aliás, em todos, é colocar o Brasil acima de todo e qualquer embate que haja. Os interesses do Brasil são maiores que os interesses momentâneos de uma crise política que o país pode estar passando”, afirmou Fachin em entrevista após ser homenageado em um evento no Palácio do Itamaraty.

“É preciso preservar as instituições, preservar a democracia e estar disposto ao diálogo e à troca de ideias que levem em conta os interesses maiores do Brasil e não os interesses circunstanciais ou conjunturais. Este é grande desafio que se coloca para quem, de fato, quer apostar na estabilidade e não no caos”, acrescentou.

Para o ministro, dialogar significa “respeito ao dissenso” e não “adesão” de um poder ao outro. Ele também defendeu a necessidade de estabelecer uma “área comum de interesses” para assegurar estabilidade na economia, tranquilidade na sociedade e preservação das instituições democráticas.

Ao comentar a afirmação da presidenta Dilma Rousseff durante a cerimônia, de que é preciso respeitar a soberania das urnas, o ministro afirmou: “Do ponto de vista da democracia, a vontade popular é, evidentemente, determinante para a periodicidade da escolha dos nossos governantes e a vontade popular também expressa o gesto de soberania e preservação da democracia”.