segunda-feira, 20 de julho de 2015

CHAPECÓ - PORQUE PRECISAMOS TROCAR ESSE GOVERNO LOCAL

Todo ente politico tem por compromisso assumir para si a responsabilidade fazer-se valer o voto recebido da maioria da população que o elegeu. - Mas quem de fato cumpre com essa prerrogativa? Quem de fato assume as irresponsabilidade cometidas? Quem responde com a verdade ao prestar contas de sua administração? 

Porque ir longe quando podemos usar de nossa experiência local para exemplificar as mentiras e atos de ludibriar o povo através do aparelhamento das instituições e veículos de informação sem compromisso ético com a verdade. 

Precisa verdade maior do que elencar ou ilustrar que todas as grandes obras realizada na cidade desde o ano de 2003 (sim todas) as grandes obras em Chapecó foram financiadas pelo Governo Federal e pequenas contrapartidas do Estado. Sem esses investimentos, 90% das grandes obras seriam apenas fotolitos e maquetes". - Se não acredita então conta comigo aqui as obras e cita as que ainda ficaram fora:

► ALIMENTAÇÃO:

1 - Restaurante Popular Centro;
2 - Restaurante Popular Efapi (Verba Liberada)

► SAÚDE:

3 - Hospital da Criança ( Materno Infantil )
4 - Implantação de uma UPA 24 Horas;
5 - Equipamentos para Hospital Regional e Ampliação de Espaços e Especialidades;

► EDUCAÇÃO:

6 - IFES Instituto Federal em Chapecó
7 - UFFS - Universidade Federal Fronteira Sul;
8 - Ensino Técnico Conveniado com o Sistema 'S' (Senai etc etc)

► INFRAESTRUTURA:

9 - Duplicação do Acesso a BR 282;
10 - Elevados e Passarelas no acesso a BR 282;
11 - Reformas no Aeroporto e Construção de Futura Estrutura Moderna;
12 - Investimento no Contorno Viário Leste

► ESPORTE:

13 - Ginásio de Esporte nos Bairros ( Convênio com Ministério do Esporte );
14 - Acadêmias ao ar Livre Praças ( Convênio com Ministério do Esporte );
16 - Centenas de Bolsa Atletas Conveniados;
17 - Patrocínios a Clube de Futebol Local (Caixa Econômica)

► HABITAÇÃO (Urbano e Rural):

18 - Minha Casa Minha Vida (Milhões investidos em Moradia em Chapecó);
19 - Moradias Rural: Unidades do Programa Nacional Habitação Rural;

► AGRICULTURA:

20 - Facilidade em crédito Rural;
21 - Incentivo em Programas mais Alimentos ( Máquinas e Implementos)

22; 23; 24 (...)

E O NOSSO IPTU?

Com o dinheiro de nosso IPTU aqui em Chapecó tem apenas obra de Maquete e TVBox alimentadas pela especialidade da mentira, arte apurada de quem esta a frente do governo. O destino de toda arrecadação simplesmente carece de claras explicações.

É HORA DE FOMENTAR O DEBATE, CRIAR O SENTIMENTO E PROPORCIONAR A MUDANÇA!


Neuri Adilio Alves - Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia, Esp. Antropologia Filosófica Existencial - PUCCamp/SP - PUCPR.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

UMA DÉCADA DEPOIS: o santo me perdoe, relembrar é viver e aprender!

''Daquela experiência uma certeza, eu salvei o Santo de uma diabete.''

Neste domingo completo uma década que deixei a formação sacerdotal e uma bela lembrança me preenche a alma diante do sofrimento das pessoas que perderam tudo nessas semanas de chuva, enchentes e tempestades devastadoras.

Lembrei que enquanto seminarista na paróquia do Jardim Botânico em Curitiba/PR nos meses de maio, junho, julho recolhia dezenas de pequenos e médios Bolos Confeitados na porta da Igreja oferendados a Santo Antônio. Até que certa manhã no gelado mês de junho encontrei 7 pequenos Bolos com o santo amarrado e atolado no creme chantili.

O desamarrei olhei para o lados evitando assim ser julgado como um profano de túnica, olhei para o antiquário de gesso e resina, tive naquele momento a ultima conversa séria com ele dizendo: ''se tens todo esse poder entra em contato com suas virgens sacerdotisas, solteiras ou não e pede a elas que levem os Bolos para matar fome de quem tem fome e não para encher o olhos de quem tem a barriga cheia como eu.''

Relembro isso memorando as pessoas que agora sofrem dificuldades com tantas perdas e se existe um único meio de seremos retribuídos na vida é fazendo as doações para quem realmente precisa. Um bom tomista é o que tem a certeza que é preciso trazer para terra tudo o que foi levado para o céu - pois a vida é tão somente o que ocorre e fazemos por aqui!

Por fim, não sei quantas solteiras e solteiros deixei, mas ao recolher aqueles bolos uma certeza eu sei: 'salvei' o Santo Antônio de uma diabetes.

Prof. Neuri A² - Graduado em Filosofia, Esp. Antropologia Filosófica - PUCCamp/SP - PUC Curitiba/PR.

terça-feira, 14 de julho de 2015

PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS ALUNOS NEGROS

"Nossa percepção é atravessada pela perspectiva eurocêntrica e essa condição estabeleceu na educação relações muito cruéis e desumanizadoras, que atingem adultos e crianças"

Em sua dissertação de Mestrado a Socióloga Ellen de Lima Souza analisa a percepção que professores de educação infantil têm de seus alunos negros. Buscando assim em seu trabalho contrabalançar a percepção que tende a atribuir às crianças negras uma condição de subalternidade de vítima.

Por Maria Marta Avancini 

Desde o século 19 crianças brancas e negras têm
tratamentos diferentes na primeira infância
Como professoras de edu­cação infantil percebem a infância de crianças negras? Em que medida suas experiências de formação influem nessa percepção? Essas perguntas foram o ponto de partida da pesquisa de mestrado da socióloga

Ellen de Lima Souza, realizada junto ao Centro de Educação e Ciên­cias Humanas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Em seu estudo, Ellen constrói uma análise que busca aportar elementos para contrabalançar a percepção que tende a atribuir às crianças negras uma condição de subalternidade de vítima, a qual circula fortemente no campo social - inclusive entre educadores, fator de prejuízo para o desenvolvimento dessas mesmas crianças.

Segundo a pesquisadora, essa percepção é alimentada por um pensamento de matriz europeia, que foi o fundamento das políticas de assistência e de educação infantil no Brasil, marcadas pelo reforço das desigualdades entre crianças negras e brancas.

Na dissertação, a socióloga recorre a estudos anteriores para enfatizar que desde o século 19 as políticas de educação infantil no Brasil estabelecem distinções entre crianças negras e brancas: enquanto as primeiras eram atendidas em creches e asilos, os meninos de 3 a 6 anos frequentavam jardins da infância, concebidos, desde aquela época, como instituições educacionais.

Ao longo do tempo e, sobretudo no período recente, ocorreram avanços no campo da educação infantil, inclusive na incorporação das temáticas relacionadas às relações étnico-raciais, pontua Ellen. Apesar disso, diversas pesquisas (como os estudos de Eliane dos Santos Cavalleiro, professora da Universidade de Brasília) apontam para a persistência de uma desigualdade na maneira como crianças brancas e negras são tratadas e percebidas no ambiente escolar.

"Nossa percepção é atravessada pela perspectiva eurocêntrica e essa condição estabeleceu na educação relações muito cruéis e desumanizadoras, que atingem adultos e crianças", defende Ellen. "Assim, quando uma criança negra adentra a sala de aula, a condição de ser negro tende a superar sua condição etária de ser criança."


Percepções sobre crianças

Para investigar suas hipóteses, Ellen realizou uma pesquisa qualitativa com o objetivo de captar percepções de professoras de educação infantil sobre crianças negras. A coleta de dados foi realizada por meio de conversas aprofundadas com três professoras de uma instituição de educação infantil que atende servidores, professores e alunos da UFSCar.

Foram selecionadas docentes com pelo menos 15 anos de profissão e cujo trabalho evidencia um compromisso com a educação das relações étnico-raciais. Todas elas possuem, em seu currículo, mais de cem horas de formação nessa área e têm como marca de sua atuação profissional o combate ao racismo e a promoção da educação para as relações étnico-raciais, inclusive em artigos científicos e participações em eventos acadêmicos.

As conversas foram conduzidas entre 2010 e 2011 com o objetivo de fazer emergir "unidades de significado" expressas em percepções. Essas unidades de significado desvelam temas passíveis de serem agrupados em dimensões.

Desse modo, as conversas ocorreram em torno de três perguntas-chave: "Como você se formou professora de educação infantil?", "Como você foi construindo sua ideia sobre a infância negra?" e "Como você recebe a infância negra na instituição de ensino em que atua?".

Para analisar as percepções, a pesquisadora se baseou na fenomenologia do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. Segundo a fenomenologia, os seres humanos são compostos por corpos físicos e consciências que ganham significado nas relações vivenciadas por eles. "Ao construirmos nossa consciência, vamos construindo nossas percepções sobre o mundo e sobre os outros", explica Ellen na dissertação. Ou seja, as percepções não podem ser dissociadas das experiências de vida e das relações que uma pessoa estabelece com outras.

Inspirando-se na fenomenologia, Ellen buscou procedimentos para desenvolver uma análise compreensiva dos dados, bem como orientações para se aproximar das experiências vivenciadas pelas professoras que pudessem revelar suas percepções de infância relacionadas a crianças negras. O foco da análise recaiu sobre a forma como as professoras expressam o percurso que as tem levado a perceber, conhecer e compreender as condições nas quais se constrói a infância de crianças negras.

Assim, a partir das conversas, as percepções das professoras associadas às crianças negras foram traduzidas num conjunto de temas: formador, formando-se para/na educação infantil, vivências da própria infância, infância negra (negação e dúvida), criança negra presente, criança branca ausente, sentimentos racializados, marcos negros e marcas brancas.


A persistência dos estereótipos

A análise das percepções das professoras revelou que, apesar de elas terem aprendido nas formações que realizaram técnicas para educar para as relações étnico-raciais, tendem a perceber a infância de crianças negras de forma estereotipada.

Isso ocorre, segundo a socióloga Ellen, porque as percepções, perspectivas e expectativas de mundo das professoras investigadas são atravessadas por ideologias racistas, adultocêntricas e cristãs, entre outras, que percorrem a sociedade brasileira. Ao analisar os discursos das professoras, a pesquisadora encontrou elementos dessas ideologias em suas percepções sobre crianças negras e brancas na escola.

Segundo pesquisa, professores tendem a ver crianças
negras como vítimas em potencial
Ela também constatou que as professoras enxergam seus alunos a partir da perspectiva das crianças brancas em detrimento das negras, a despeito de suas trajetórias pautadas por muitas formações no campo das relações étnico-raciais. Por exemplo, as professoras tendem a se referir às crianças negras a partir da negação e da dúvida - apesar de adotarem uma prática pedagógica voltada à educação das relações étnico-raciais e de valorização da cultura africana e afro-brasileira.

"Elas falavam com muita propriedade de como as crianças negras não devem ser tratadas, sobre quem as crianças negras não são, sobre o que elas não têm e o que elas não fazem", analisa Ellen na dissertação.

Além disso, a criança negra tende a ser vista pelas professoras como uma vítima em potencial e como alguém cuja baixa autoestima é inerente à sua condição. Exemplo disso foi um episódio relatado por uma professora de uma menina negra que se arrastava pelo chão durante algumas atividades, levando-a a pensar que era preciso trabalhar a autoestima da criança. No entanto, a menina se comportava dessa maneira por ser míope, não enxergar e buscar ver as coisas mais de perto.

"O problema da criança era de ordem física, e o diagnóstico de baixa autoestima foi dado pela professora com base nas marcas brancas de suas experiências de vida. Ou seja, pelo fato de a criança ser negra a primeira percepção da professora era de que ela sofresse de baixa autoestima", analisa a autora na dissertação.


A formação como caminho
Para a pesquisadora, o problema central por trás desse tipo de percepção e prática pedagógica são os formatos oferecidos nas formações continuadas. "Elas se propõem de forma muito empobrecida a uma sensibilização das professoras. Em contrapartida, a pesquisa mostra que essas professoras já são sensibilizadas pelas próprias crianças em seu cotidiano."

Nesse sentido, defende Ellen, as formações que se propuserem a colaborar com a construção de uma educação justa, equânime e igualitária, têm de considerar os professores como intelectuais que produzem conhecimento, valorizando e incorporando seus saberes e práticas, ao invés de tratá-los como meros aplicadores de conceitos.

"À medida que seus saberes e experiências são valorizados e respeitados como conhecimento, eles passam a assumir-se como produtores de culturas", reitera a socióloga. "A partir daí, podem passar a reconhecer nas crianças negras aptidões, o que favorece a construção de parcerias entre eles, as próprias crianças e a comunidade, possibilitando que as crianças deixem de ser vistas como vítimas para serem consideradas produtoras de culturas."

Fonte: http://revistaeducacao.com.br

quarta-feira, 8 de julho de 2015

NA GRÉCIA A DIGNIDADE VENCEU A COBIÇA

''Uma lição para todos, também para nós: quando se trata de uma crise radical que implica os rumos futuros do país, deve-se voltar ao povo, portador da soberania política e confiar nele.''

Há momentos na vida de um povo em que ele deve dizer Não, para além das possíveis consequências. Trata-se da dignidade, da soberania popular, da democracia real e do tipo de vida que se quer para toda a população.
Há cinco anos que a Grécia se debate numa terrível crise econômico-financeira, sujeita a todo tipo de exploração, chantagem e até terrorismo por parte do sistema financeiro, especialmente de origem alemã e francesa. Ocorria uma verdadeira intervenção na soberania nacional com a pura e simples imposição das medidas de extrema austeridade excogitadas, sem consultar ninguém, pela Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e o FMI).
Tais medidas implicaram uma tragédia social, face à qual o sistema financeiro não mostrava nenhum sentido de humanidade. “Salve-se o dinheiro e que sofra ou morra o povo”. Efetivamente desde que começou a crise ocorreram mais de dez mil suicídios de pequenos negociantes insolventes, centenas de crianças deixadas nas portas dos mosteiros com um bilhete das mães desesperadas:”não deixem minha criancinha morrer de fome”. Um sobre quatro adultos estão desempregados, mais da metade dos jovens sem ocupação remunerada e o PIB caiu 27%. Não passa pela cabeça dos especuladores que atrás das estatísticas se esconde uma via-sacra de sofrimento de milhões de pessoas e a humilhação de todo um povo. Seu lema é “a cobiça é boa”. Nada mais conta.
Os negociadores do novo governo grego de esquerda, do Syriza, com o primeiro ministro Alexis Tsipras e seu ministro da fazenda um acadêmico e famoso economista da teoria dos jogos Yanis Varoufakis que quiseram negociar as medidas de austeridade duríssimas encontraram ouvidos moucos. A atitude era de total submissão:”ou tomar ou deixar”. O mais duro era o ministro das Finanças alemão Wolfgang Sträuble: ”não há nada para negociar; apliquem-se as medidas”. Nem pensar numa estratégia do ganha-ganha, mas pura e simplesmente do ganha-perde. A disposição era de humilhar o governo de esquerda socialista, dar uma lição para todos os demais países com crises semelhantes (Itália, Espanha, Portugal e Irlanda).
A única saída honrosa de Tsipras foi convocar um referendo: consultar o povo sobre se diria um Não (OXI) ou um Sim (NAI). Qual a posição face à inflexibilidade férrea da austeridade que aparece totalmente irracional por levar uma nação ao colapso, exigindo uma cobrança da dúvida reconhecidamente impagável. O próprio Governo propôs a consulta e sugeriu o Não. Os credores e os governos da França e da Alemanha fizeram ameaças, praticaram um verdadeiro terrorismo nas palavras do ministro Varoufakis e falsificaram as informações como se o referendo fosse para ficar na zona do Euro ou sair, quando na verdade não se tratava nada disso. Apenas era de aceitar ou rejeitar o “diktat” das instituições financeiras europeias. A Grécia quer ficar dentro da zona do Europa.
A vitória de domingo dia 5 de julho foi espetacular para o Não: 61% contra 38% do Sim. Primeira lição: os poderosos não podem fazer o que bem entendem e os fracos não estão mais dispostos a aceitar as humilhações. Segunda lição: a derrota do Sim mostrou claramente o coração empedernido do capital bancário europeu. Terceiro, trouxe à luz a traição da Unidade Europia a seus próprios ideais que era a integração com solidariedade, com igualdade e com assistência social. Renderam-se à lógica perversa do capital financeiro.
A vitória do Não representa uma lição para toda a Europa: se ela quer continuar a ser súcuba das políticas imperiais norte americanas ou se quer construir uma verdadeira unidade europeia sobre os valores da democracia e dos direitos. O insuspeito semanário liberal Der Spiegel advertia que através da Sra. Merkel, arrogante e inflexível, a Alemanha poderia, já pela terceira vez, provocar uma tragédia europeia. Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária. Por vingança o Banco Central Europeu deixou de subministrar dinheiro para os bancos gregos continuarem a funcionar e os obrigou a fechar.
Uma lição para todos, também para nós: quando se trata de uma crise radical que implica os rumos futuros do país, deve-se voltar ao povo, portador da soberania política e confiar nele. A partir de agora os credores e as inflexíveis autoridades do zona do Euro terão pela frente não um governo que eles podem aterrorizar e manipular, mas um povo unido que tem consciência de sua dignidade e que não se rede à avidez dos capitais. Como dizia um cartaz:”Se não morremos de amor, por que vamos morrer de fome”?
Na Grécia nasceu, pela primeira vez, a democracia mas de cunho elitista. Agora, nesta mesma Grécia, está nascendo uma democracia popular e direta. Ela será um complemento à democracia delegatícia. Isso vale também para nós no Brasil.
Um prognóstico, quiçá uma profecia: não estaria nascendo, a partir da Grécia, a era dos povos? Face às crises globais serão eles que irão às ruas, como entre nós e na Espanha e tentarão formular os parâmetros políticos e éticos do tipo de mundo que queremos para todos. Já não confiamos no que vem de cima. Seguramente o eixo estruturador não será a economia capitalista desmoronando, mas a vida: das pessoas, da natureza e da Terra. Isso realizaria o sonho do Papa Francisco em sua encíclica: a humanidade “cuidando da Casa Comum”.
Leonardo Boff é colunista do Jornal do Brasil on Line e ecoteólogo

segunda-feira, 29 de junho de 2015

ESPAÇOS DE VIDA

O imaginar o senhor não pode, como foi que eu achei gosto naquela comida, às ganas, que era: de feijão, carne-seca, arroz, maria-gomes e angu. Ao que bebi água, muita (...).

*Por Patrus ananias

A epígrafe cita Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, mas referências da fartura à mesa nativa poderiam ser colhidas em tantas outras obras da nossa literatura.

O melhor da nossa prosa nutre-se da variedade de alimentos que produzimos. Para que germinem cada vez mais saudáveis, a presidenta Dilma Rousseff anuncia o Plano Safra da Agricultura Familiar 2015-16 nesta segunda-feira (22).

Resumir a agricultura familiar à produção de alimentos é muito, mas não é tudo. Cerca de 70% do que chega às mesas dos brasileiros provém da agricultura familiar - 70% do feijão (que Riobaldo saboreou com “ganas”), 83% da mandioca, 69% das hortaliças, 58% do leite, 51% das aves.

Se ela provisiona segurança alimentar, atestada pela ONU (Organização das Nações Unidas), também nos proporciona alimentos saudáveis, cada vez com menos agrotóxicos. Enquanto alimenta reduz nossa dependência de alimentos importados e contribui no controle da inflação. Ou seja, traz segurança macroeconômica.

Assim como brotam refeições das lavouras de 4,3 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar (84% do total), vicejam em suas leivas farta riqueza, que gera distribuição de renda, que protege a biodiversidade, que mantém a juventude no meio rural. Que tece espaços de vida.

Espaços estimulados pelo governo federal. Os R$ 2,4 bilhões do Plano Safra da Agricultura Familiar 2002-03 saltaram para R$ 24,1 bilhões em 2014-15 - dez vezes mais.

Esse incentivo, que será maior em 2015-16, vem de políticas públicas como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), dão segurança a quem produz, apoiam a comercialização e agregam valor à agricultura familiar dinâmica. É vital à economia, pois responde por 74% dos postos de trabalho nos campos país adentro - o dobro do que gera a construção civil.

O imaginário do agricultor que calca o berço onde joga a semente à espera do orvalho que a faz germinar vai se evanescendo dos roçados. Entre 2008, primeiro ano da linha de crédito Mais Alimentos, e 2014, a venda de Folha de S. Paulo, 22 de junho de 2015, tratores destinados à agricultura familiar dobrou - alcançando 20.388 unidades, 31% do total produzido no Brasil.

O arado, esteio da agricultura por milênios, vai cedendo à tecnologia, aumentando a produtividade no campo e a produção industrial.

Essa imensa cadeia produtiva não se espraia apenas por rincões e querências afastados. A nova ruralidade, que abriga o conceito de territórios, engloba 4.963 municípios. O território rural, que integra campo e cidade, agrega-se pela coesão e identidade cultural, social e econômica.

Esses programas de desenvolvimento rural são coordenados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário em parceira com outros entes do governo federal. Políticas que buscam restringir os flagelos aos compêndios históricos, como o que as pesquisadoras Heloisa Starling e Lilia Schwarcz descrevem em seu alentado Brasil: uma biografia.

Com base em obra do jesuíta André João Antonil, a dupla descreve o desastre famélico entre os séculos 17 e 18 nos sertões mineiros. "Deslumbrados" pelo tesouro que brotava das minas, aventureiros morreram "com as mãos cheias de ouro", já que se esqueceram de plantar "mandioca, feijão, abóbora e milho".

Assim, o Plano Safra da Agricultura Familiar significa mais do que alimento na mesa dos brasileiros. Representa a agroecologia, a diversificação no plantio, o desenvolvimento territorial, a cultura preservada, a qualidade de vida, os mananciais resguardados, a geração de energia, a redução da pobreza, o desenvolvimento interiorizado, o crescimento econômico com sustentabilidade.

Representa a convivência solidária entre o campo e a cidade.

* PATRUS ANANIAS, 63, professor da PUC-MG, é ministro do Desenvolvimento Agrário.

Fonte: http://www.mda.gov.br

segunda-feira, 22 de junho de 2015

FUNÇÃO SOCIAL DA FILOSOFIA E A ESCOLA

''A filosofia tem um programa de realização no mundo e se o filósofo não possui o desejo de mudança, transformação frente ao mundo em que vive ele precisa buscar outro lugar no mundo intelectual."

Filosofia é uma unidade prática fundamentada na práxis – é fundamentalmente critica. Ela deve ser o elemento essencial de todo estudante universitário, de todo cidadão fazendo dela uma ferramenta contra o mundo alienador e suas ideologias. Para além de todos os prejuízos, as frágeis críticas quanto a sua efetividade e aplicação no meio social, a filosofia deve ser vista sim como um esforço rigoroso de pensamento. Porque filosofar significa problematizar e sendo ela uma paixão pela verdade precisamos nós viver apaixonados por ela.

'A filosofia tem um programa de realização no mundo e se o filósofo não possui o desejo de mudança, transformação frente ao mundo em que vive ele precisa buscar outro lugar no mundo intelectual.' Não faz sentido um pensador derrotado nas suas curiosidades e inquietudes em relação ao mundo onde vive. Porque viver é por si só questionar-se sobre o mundo e suas relações – eximir-se a esse exercício e morrer como homem, como história, como práxis.

Ser filósofo é romper e admirar-se pelos desejos de criar problemas, no sentido de problematizar realidades. Sem esquecer que além de ajudar na libertação dos homens as estruturas que o aprisionam, a filosofia deve ter a função social também de dizer a todos que nem tudo esta perdido, sendo anunciadora de esperança. E aqui todo intelectual que se presa tem sempre um inimigo a combater, porque o poder é o problema filosófico por excelência, por isso seria muita ingenuidade não querer adquirir e admitir esse posicionamento frente ao mundo em que se vive. 

Se ao filósofo cabe a tarefa de interpretar o mundo, cabe também a necessidade de contribuir na transformação do mesmo. Por isso o tempo para pensar, para refletir é necessário, pois pode uma pessoa ser competentíssima no automatismo de tudo o que faz, mas se deixar transformar numa simples máquina de trabalho parece condenar à inanição, inutilizando um órgão que nos custou milhões de anos para ficar pronto e aperfeiçoado que é o nosso cérebro.

O papel da escola é formar pensadores, agentes da transformação, cidadãos capazes de produzir, debater e propor um novo mundo. Capazes de dizer que nem tudo esta perdido porque o caminho do novo é germinação constante no solo fértil do pensamento. Mas tem que ser solo produtivo, cultivado, revirado, mexido como mexem as forças da natureza sobre a matéria. 

A escola provocadora e promotora do novo deve nascer desse propósito, que não exige excelência de espaço, mas excelência no estimulo da leitura, da curiosidade, do respeito com o diferente, no sonho pelo novo e no inadiável e irrecusável exercício do pensar. E neste, a filosofia pode ser uma coluna que perpassa todas as disciplinas estimulando a busca pelo saber, provocando a curiosidade que nos faz diferentes e seres de acúmulo. 

A escola não é só filosofia, mas filosofia é toda escola, é laboratório da razão, substância primordial e ferramenta para ontem, hoje, amanhã e o depois – é Eu, Você e todos os vir-a-Ser, porque ser humano por excelência é ser agente do pensar, filósofo por natureza!


Neuri Adilio Alves - Professor, Pesquisador, Graduado em Filosofia PUC/PR, Esp. Antropologia Filosófica PUCCamp/SP - Assessor de Formação FetraSUL

sábado, 20 de junho de 2015

O TIPO MACHÃO CARTESIANO

''O macho cartesiano é um homem em contradição consigo mesmo com o mundo e com futuro comprometido, pois chegamos ao limite de certos estereótipos.''


Com olhos no mundo, ouvido aguçado e boca afiada me torno chato, nem eu me aguento mais! Somando os excessos e calculando o produto vou falar aos amigos de longa vida - 'aqueles machos em excessos' - que tem aversão a qualquer elogio ao sexo masculino, porque isso seria diminuir a própria testosterona. Tipo assim:
'macho que é macho não vê qualidade em outro macho'. 
Afinal é possível um macho cartesiano, pontual, dicotômico? Talvez sim, desde a infância eu os escuto, tipo manifestar aversão as qualidades de outros homens como amigos, colegas e até familiares. Mas, curiosamente chegam na fase adulta e se tornam apaixonados pelas lutas de UFC por exemplo, e seus maiores gladiadores. Aquelas onde dois 'machos' disputam mais do que grandes prêmios, técnicas e golpes. Disputam diferenças de adrenalinas, egos inflados, força muscular, definição de corpo, testosterona, sangue e limites. 

Neste interim entra em cena a navalha que corta e pergunta: Afinal de que masculinidade emerge a aversão as qualidades presentes num outro 'macho qualquer': da insegurança, arrogância, prepotência ou ignorância? 

É para pensar, afinal nenhuma masculinidade se afirma pela lógica da força, agressividade, capacidade de beber, consumir drogas, disputar território e quantas mulher se pega numa noite. 

O homem se afirma pelos valores sedimentados primeiro para respeitar a si mesmo e consequentemente aos outros como a si mesmo (imperativo) - quando falta coerência e respeito a si mesmo faltará em toda circulo social de relações que o cerca. E aqui na totalidade a lei não tem efeito, as opiniões contrárias são recebidas como afrontas, as mulheres se tornam vitimas da violência e nem um milagre salva. 

O macho cartesiano é um homem em contradição consigo mesmo com o mundo e com futuro comprometido pois chegamos ao limite de certos estereótipos. Escolha e mudança são sempre projetos pessoais, ninguém pode fazer por outro!!!

Neuri A. Alves - Professor Pesquisador

sexta-feira, 19 de junho de 2015

DOIS MITOS E UM PARECER

O dia em que Rubem salvou Paulo da burocracia educacional.

Dois mitos e um parecer. Arquivo Central /Siarq/Unicamp. Agradecimento: Daniel dos Santos Prado, Dedoc Editora Abril
O famoso "não parecer" de Rubem Alves: homenagem a Freire, crítica à Unicamp
Acesse aqui o parecer em tamanho maior
Em 6 de junho de 1979, após 15 anos no exílio, Paulo Freire pôde voltar a pisar em solo brasileiro. O desembarque, ainda antes da anistia (que só sairia dois meses depois), ganhou contornos de ato público, reunindo estudantes, políticos e intelectuais no aeroporto. Teria contado a favor do educador uma carta enviada ao Ministério das Relações Exteriores por representantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), manifestando o interesse de ambas em contratá-lo. Emocionado, Freire declarou ao jornal O Globo que não queria emitir opinião sobre os temas sensíveis ao país naquele momento. Precisava, antes de tudo, reaprender o Brasil.

Não seria necessário muito tempo para perceber que a aprendizagem incluiria uma descida ao labirinto da burocracia pública. A promessa da Unicamp se realizaria apenas mais de um ano depois. Diante da pressão de alunos e professores, a reitoria usava a falta de recursos para justificar a demora. Com a aposentadoria de uma docente, isso já não era mais desculpa. Assim, em 9 de junho de 1980, Paulo Freire começou a lecionar na Faculdade de Educação.

Mas a novela para a contratação do maior nome da Educação brasileira apenas começava. O desfecho veio só em 1985, e ganhou projeção graças ao genial parecer de Rubem Alves a favor de Freire. Até lá, o educador pernambucano viveu em uma espécie de limbo contratual.

Na época, a Unicamp ainda não realizava concursos públicos. Os docentes eram admitidos por indicação e passavam um período probatório até a efetivação. A chegada do autor da Pedagogia do Oprimido animou a comunidade acadêmica. "As primeiras palestras do professor eram verdadeiros happenings, chegando a reunir mais de 500 pessoas", afirma Eduardo Chaves, ex-diretor da Faculdade de Educação e responsável pela abertura do processo de contratação de Paulo Freire. "Para os alunos, foi um grande ganho a universidade ter nos seus quadros um educador com reconhecimento internacional. Me lembro da euforia e da disputa para conseguir uma vaga em suas aulas", conta Debora Mazza, ex-aluna de Freire e professora do Departamento de Ciências Sociais e Educação. O método dialógico das aulas, que pressupunha envolvimento ativo por parte dos alunos, atendia a um anseio de participação que extrapolava as questões didáticas e assumia uma conotação política - vivia-se o declínio do período ditatorial com a "distensão lenta, gradual e segura" promovida por Ernesto Geisel.

A contratação de Freire pode ter sofrido reverberações desse processo. Em 1981, mesmo sem contrato definitivo, ele havia sido o mais votado pela comunidade acadêmica para ser reitor - era a primeira vez que uma universidade brasileira recorria ao processo democrático para escolher seu dirigente máximo. A preferência, entretanto, foi solenemente ignorada pelo conselho diretor (colegiado dos diretores das unidades e representantes do governo do estado) e por Paulo Maluf, então governador de São Paulo, que dava a palavra final. Sob protestos de representantes dos corpos docente e discente, Maluf ratificou a escolha de José Aristodemo Pinotti, da Faculdade de Ciências Médicas.

Engavetado até 1982, o dossiê de contratação foi retomado sob exigências kafkianas. Uma obscura Seção de Registros e Arquivos do Corpo Docente solicitou o "plano de pesquisa do interessado" - apesar de ele dar aulas na instituição há dois anos - e pediu a revalidação interna do diploma de livre-docência de Freire pela atual Universidade Federal de Pernambuco, obtido por notório saber em 1961. Não importavam seus quatro títulos de doutor honoris causa, seus mais de dez livros publicados em diversos idiomas, sua atuação como professor nas universidades de Harvard e de Genebra ou os cursos e seminários conduzidos em cerca de 40 instituições de ensino superior ao redor do mundo. A burocracia amontoava exigências. A última foi a chancela de uma "comissão de notáveis" à trajetória do educador. Entre os pareceristas indicados estava Rubem Alves.

Teólogo, filósofo, poeta e escritor, Alves ocupava desde 1974 a cadeira de professor titular na Unicamp. Suas crônicas na imprensa e a originalidade de seu pensamento acadêmico cultivavam admiradores entre os estudantes de pedagogia e docentes da Educação Básica. O caráter popularizador de seus escritos conquistava a plateia, mas era visto com ressalvas pela academia. "Muitos diziam que ele era um teólogo escrevendo sobre Educação, mas ele botou o dedo em quase todas as feridas da área", opina Chaves.
Dois mitos e um parecer. Arquivo Central /Siarq/Unicamp. Agradecimento: Daniel dos Santos Prado, Dedoc Editora Abril
Já em 1980, a ordem de despesa indicava que havia dinheiro para a contratação
Dois mitos e um parecer. Arquivo Central /Siarq/Unicamp. Agradecimento: Daniel dos Santos Prado, Dedoc Editora Abril
Mais comedidos, os outros dois pareceres da comissão também respaldam Freire
Os três pareceristas foram favoráveis à efetivação do "candidato" Freire (leia trechos de dois deles acima). O que distingue o texto de Alves é o tom de inconformismo. Na prática, ele se nega a dar um parecer e faz, na linguagem simples e contundente de seus escritos, um libelo contra a burocracia. "Há (...) certas questões sobre as quais emitir um parecer é quase uma ofensa", pontua. Dá a discussão por encerrada com uma provocação: "Não posso pressupor que este nome (Freire) não seja conhecido na Unicamp. Isso seria ofender aqueles que compõem seus órgãos decisórios". Da data de redação do parecer até a publicação da contratação no Diário Oficial, um ano se passou.

O documento teve circulação restrita até dezembro de 2014, quando apareceu no periódico Pro-posições, que dedicou uma edição para discutir o legado da obra de Freire. Apenas os envolvidos e pessoas próximas aos educadores tiveram acesso a ele na época. "É um parecer muito bonito. Foi importante para marcar essa antipatia que tiveram por Paulo e pelo pensamento dele. A rejeição na Unicamp foi uma questão ideológica", opina Ana Maria Araújo Freire, professora aposentada da PUC-SP e viúva do educador.

Pessoas ligadas aos professores enxergam semelhanças de estilo. "Eles eram muito heterodoxos. A academia é muito ortodoxa. Então, eu acho que a resistência a eles vem da dificuldade de circunscrevê-los em gavetas estritas da linhagem acadêmica", opina Debora. Outra característica compartilhada era a radicalidade de suas ideias. "Eu coloco ambos dentro dessa perspectiva emancipatória da Educação", diz Moacir Gadotti, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e presidente de honra do Instituto Paulo Freire, que fora seu colega na Unicamp. "A ideia de que Educação tem a ver com projeto de vida, com a construção da liberdade, da autonomia e da independência é o ponto de sintonia das obras dos dois", completa Chaves. Além do insólito encontro promovido pelos meandros da burocracia, o caráter e a produção dos pensadores também são referências para aqueles que ousam em pensar numa Educação transformadora.