sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O SILÊNCIO DOS INTELECTUAIS DA ACADÊMIA EM CHAPECÓ


Fico sempre a espera da manifestação publica dos ditos Intelectuais que trabalham nas Universidades aqui em Chapecó. Afinal porque os formadores de opinião não fazem a mínima questão de romper uma espécie de trincheiras “obsequiosa de silencio” que parte de dentro de suas instituições para manifestar o que pensam e conhecem da vida política em vigência aqui em Chapecó. Quando se cobra tanto dos alunos a capacidade de manifestar opinião própria, também os Mestres e Doutores Universitários precisam dar o exemplo, fazendo uso de uma dose de coragem se é isto que falta, demonstrar que possuem a liberdade e a capacidade de apresentar publicamente também suas opiniões.

O diabo é que este silêncio quase que espiritual nos leva a imaginar existência de uma espécie de colônia de supostos demagogos que em sala de aula pregam a moral de “cuecas” e a ética do “cagaço” com a intuição de passar a todos a capacidade retórica de ensinar aquilo dos quais nem eles mesmos conseguem acreditar! Talvez tenha chegado a hora de mudarmos a direção das perguntas, e propor o desafio de lhes romper a cátedra do silêncio e auxiliar na construção de analises e novas proposições políticas para nossa cidade.

Em Chapecó temos dois projetos políticos em disputa, um que aponta para a defesa da vida das pessoas possibilitando a democrática participação de todo o povo no acesso as políticas públicas e outro projeto que tem demonstrado a serviço de quem esteve nestes últimos anos e de quem continuará servindo, se lhes for homologado a permanência.

Gosto do coração pedagógico dos professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, porque eles em grande maioria tem a coragem de manifestar suas posições e opiniões a respeito da vida política de seu município ou Estado. Por outro lado, dá medo e porque não vergonha de alguns Mestres e Doutores que se ostentam na arrogância de seus títulos “lato sensu” ou “stricto sensus” e manifestam uma certa indiferença a qualquer processo para além da sala de aula!

O comportamento destes intelectuais me leva a memorar parte do prefácio de um livro publicado em 1990 com o titulo de "Os últimos intelectuais", editora da USP e Trajetória", onde o professor Russell Jacoby ao analisar os intelectuais americanos afirma que: 

“os intelectuais mais jovens não desejam, nem necessitam um público mais amplo; quase todos são apenas professores. Os campi são seus lares; os colegas, sua audiência; as monografias e os periódicos especializados, sua comunicação”. E “ao contrário dos intelectuais do passado, eles se situam dentro de suas especialidades e disciplinas – por uma boa razão. Seus empregos, carreiras e salários dependem da avaliação de especialistas, e esta dependência afeta as questões levantadas e a linguagem empregada. Os intelectuais independentes, que escreviam para o leitor educado, estão em extinção”.

Esta talvez possa ser uma provocativa pista para os questionamentos colocados na ordem do dia aqui em Chapecó também. Pois se ainda é possível acreditar que sempre há tempo para tomadas de renovadas posições, quem sabe aqui tenha chegado à oportunidade! Afinal a serviço de quem pode estar o silêncio dos que produzem ideias, análises, alimentando e renovando muitos de nossos ideais!

Neuri Adilio Alves

terça-feira, 24 de abril de 2012


                      Melhoras ao modelo vigente de sustentabilidade?                               

Publicado em 24-Abr-2012
Leonardo Boff

Para ser sustentável o desenvolvimento há de ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. Já submetemos à crítica este modelo standard. Mas devemos ser justos. Houve analistas e pensadores que se deram conta das insuficiências deste tripé. Acrescentaram-lhes outras pilastras complementares. Vejamos algumas delas.

Gestão da mente sustentável: Para que exista  um desenvolvimento sustentável importa previamente construir  novo design mental, chamado por seu formulador, o Prof. Evandro Vieira Ouriques, da Escola de Comunicação do Universidade Federal do Rio de Janeiro, de gestão da mente sustentável. Tenta resgatar o valor da razão sensível pela qual o ser humano se  sente parte da natureza, se impõe um autocontrole para superar a compulsão ao produtivismo e ao consumismo. Visa a um desenvolvimento integral e não só econômico, o que envolve dimensões do humano. É um avanço inegável. Melhor seria se entendesse Terra-Humanidade-Desenvolvimento como um único e grande sistema interconectado, fundando um novo paradigma.       

Generosidade: Rogério Ruschel, editor da revista eletrônica Business do Bem, acrescentou uma outra pilastra: a categoria ética da generosidade. Esta se funda num dado antropológico básico: o ser humano não é apenas egoísta buscando seu bem particular, mas é muito mais um ser social que coloca os bens comuns acima dos particulares ou os interesses dos outros no mesmo nível de seus próprios. Generoso é aquele que comparte, que distribui conhecimentos e experiências sem esperar nada em troca. Uma sociedade é humana quando além da justiça necessária incorpora a generosidade e o espírito de cooperação de seus cidadãos.

Para Ruschel a generosidade se opõe frontalmente ao lema básico do capital especultativo do greed is good, isto é, boa é a ganância. Ela não é boa  mas perversa, porque quase afundou todo o sistema econômico mundial. Na generosidade há algo de verdadeiro porque especificamente humano. Na feliz metáfora do jornalista Marcondes da ONG Envolverde há que se distinguir a generosidade da simples filantropia, da responsabilidade social  e da sustentabilidade. A primeira, dá o peixe ao faminto; a responsabilidade social, ensina a pescar; a sustentabilidade preserva o  rio que permite pescar e com o peixe matar a fome. Entretanto, parece-nos, que somente ela é insuficiente. Demanda outras dimensões como a superação da desigualdade, a forma de consumo e a atenção à comunidade de vida que precisa também ser alimentada e preservada.

A Cultura: Em 2001 o australiano John Hawkes lançou “o quarto pilar da sustentabilidade: a função essencial da cultura no planejamento público”. No Brasil foi mérito de Ana Carla Fonseca Reis, fundadora da empresa “Garimpo de Soluções” e autora do livro Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável de tê-la assumido, difundindo-a  em muitos  cursos e palestras. Este dado da cultura é fundamental, porque encerra princípios e valores ausentes no conceito standard de sustentabilidade. Favorece o cultivo das dimensões tipicamente humanas como a coesão social,  a arte, a religião, a criatividade e as ciências. Deixa para trás a obsessão pelo lucro e pelo crescimento material e abre espaço para uma forma de habitar a Terra que condiz melhor com a lógica da natureza. Ocorre que esta dimensão da cultura foi sequestrada pelos interesses comerciais. Só será realmente eficaz quando, libertada, fundar uma relação criativa com a natureza.

A neuroplasticidade do cérebro: Cientistas se dão conta de que a estrutura neural do cérebro é extremamente plástica. Através de comportamentos críticos ao sistema consumista, se podem gerar hábitos de moderação e respeitadores dos ciclos da natureza. O cérebro coevolui consonante a evolução exterior, dando-se ai uma relação de interdependência.

Por fim, o Cuidado essencial: eu mesmo desenvolvi a categoria “cuidado” como essencial para a sustentabilidade. Entendo o cuidado exposto em dois textos – Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela Terra (1999) e O cuidado necessário (2012) como uma constante cosmológica e biológica.Detalhes podem ser lidos nos livros referidos.

Nesta fase de busca de formas mais adequadas para garantir a vitalidade da Terra e o futuro de nossa espécie, toda contribuição é benvinda e sempre traz alguma luz.

Leonardo Boff é autor de Preservar a Terra-cuidar da Vida. Como evitar o fim do mundo, Record, RJ 2011.

Fonte:

terça-feira, 10 de janeiro de 2012


                            Feliz Ano Novo                             

Texto Adaptado de Frei Betto *


Feliz Ano Novo aos que acordaram em 2012 sem a ressaca da culpa, plenos de vida na qual a paixão sobrepuja a omissão e o encanto tece luzes onde a amargura costuma bordar teias de aranha.

Feliz ano a quem não sonega afetos, arranca de si fontes onde borbulham transparências e não mira os que lhe são próximos como estranhos passageiros de uma viagem sem pouso, praias ou horizontes.

Felizes aqueles que abandonam no passado seus excessos de bagagem e, coração imponderável, recolhem à terra a pipa do orgulho e do tédio; generosos, ousam a humildade.

Ano Novo a todos que despertam hoje ao som de preces e agradecem o tido e não havido, maravilhados pelo dom da vida, malgrado tantas rachaduras nas paredes, figos ressecados e gatos furtivos.

Bom ano a quem gosta de feijão e se compraz nos grãos sobrados em prato alheio; a vida é dádiva, contração do útero, desejo ereto, espírito glutão insaciado de Deus.

Novo seja o ano àqueles que nunca maldizem e possuem a própria língua, poupam palavras e semeiam fragâncias nas veredas dos sentimentos.

Seja também feliz o ano de quem guarda-se no olhar e, se tropeça, não cai no abismo da inveja nem se perde em escuridões onde o pavor é apenas o eco de seus próprios temores.

Novo ano a quem se recusa a ser tão velho que ambiciona tudo novo: corpo, carro e amor; viver é graça a quem acaricia suas rugas e trata seus limites como cerca florida de choupana montanhês.

Tenham um feliz ano todos que sabem ser gordos e felizes, endividados e alegres, carentes de afago mas repletos de vindouras fortunas em seus anseios.

Feliz Ano Novo aos órfãos de Deus e de esperanças, e aos mendigos com vergonha de pedir; aos cavaleiros da noite e às damas que jamais provaram do leite que carregam em seus seios.

Felizes sejam, neste ano, os homens ridiculamente adornados, supostos campeões de vantagens; aqueles que nada temem, exceto o olhar súplice do filho e o sorriso irônico das mulheres que não lhes querem. 

Felizes sejam também as mulheres que se matam de amor, e de dor por quem não merece, e que, no espelho, se descobrem tão belas por fora quanto o sabem por dentro.

Seja novo o ano para os bêbados que jamais tropeçam em impertinências e para quem não conspira contra a vida alheia.

Feliz Ano Novo para quem coleciona utopias, faz de suas mãos arado e, com o próprio sangue, rega as sementes que cultiva.

Sejam muito felizes os velhos que não se disfarçam de jovens e os jovens que superam a velhice precoce; seus corações tragam a idade alvíssara de emoções férteis.

Muitas felicidades aos que trazem em si a casa do silêncio e, à tarde, oferecem em suas varandas chocolate quente adocicado com sorrisos de sabedoria.

Um ano feliz aos que não se ostentam no poleiro da própria vaidade, tratam a morte sem estranheza e brincam com a criança que os habita.

Feliz Ano Novo aos sonâmbulos que se equilibram em fios que unem postes e aos que garimpam luzes nas esquinas da noite.

Um Ano Novo muito feliz a todos nós que juramos seqüestrar os vícios que carregamos e não pagar o resgate da dependência; o futuro nos fará magros por comer menos; saudáveis, por fumar oxigênio; solidários, por partilhar dons e bens.

Feliz 2012 ao Brasil que circunscreve a geografia do paraíso terrestre, sem terremotos, tufões, furacões, maremotos, desertos, vulcões, geleiras, tornados, neves e montanhas inabitáveis.

Conceda-nos Deus a bênção de tantos dons, livres de políticos que constroem para si o céu na Terra com a matéria-prima do inferno coletivo.

• Frei Betto é escritor, autor de Típicos Tipos – perfis literários (A Girafa), entre outros livros.




                                     PASSEIO SOCRÁTICO                              

Frei Betto

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
  
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
       
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que  o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se  não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
     
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não  tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em  relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
             
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os  valores, não há compromisso com o real! 

É muito grave esse processo de  abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos  virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.  Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada  semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. 

A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é  o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que  acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu,  que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão.  Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele  não tem aonde ir! 

O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si  mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento  globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita  uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história  daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média,  as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,  constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping  centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas;  neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de  missa de domingos. 
E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar,  certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro  comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser  feliz.”

Frei Betto é escritor, autor do romance “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre  outros livros.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011


                                  Medidores Humanos                                         


Existem vários instrumentos para medir. Medidores antigos e atuais, úteis ou inúteis, que com maior ou menor precisão nos mostram em que medida o homem é de fato a medida de todas as coisas... 
Transcrevo aqui alguns verbetes de um Dicionário da Medição ainda inédito. 
Azarômetro — mede os infortúnios numa escala de 1 a 13. 
Blefômetro — não costuma ser confiável. 
Chorômetro — mede o choro e outros prantos, sem direito a chorinho. 
Cronômetro — mede o tempo, mas nunca explicará por que um minuto de saudade é mais demorado que uma hora de prazer. 
Darwinianômetro — instrumento de medição ainda em plena evolução. 
Escolhômetro — mede nossas opções, seu alcance e suas conseqüências, mas trava em caso de hesitação. 
Foucaultmetro — mede as palavras e as coisas. 
Gotímetro — mede o que pode ser a gota d’água. 
Gratidômetro — mede a verdade de um agradecimento. 
Humildômetro — instrumento que só os orgulhosos têm. 
Imaginômetro — mede o inimaginável. 
Jargômetro — mede a língua dos especialistas. 
Leiturômetro — mede o número de páginas lidas, deixando escapar o que fica nas entrelinhas. 
Medímetro — mede o medo, numa escala que vai do receio ao pavor. 
Memoriômetro — mede tudo, exceto a amnésia. 
Nadômetro — mede o vazio que há em tudo. 
Olhômetro — medidor sofisticado com que todos nascem, mede a altura da vida e a extensão do destino. 
Orgulhômetro — instrumento que só os humildes têm. 
Passômetro — mede o número de passos que já demos, calcula quanto de passado já temos e quantas vezes já passamos por um mesmo lugar... sem perceber. 
Perguntímetro — o que é que esse instrumento mede mesmo? 
Perplexômetro — mede a imensurável perplexidade humana. 
Psicômetro — quando usado por psicólogos para medir a alma de seus pacientes, quebra. 
Pugilômetro — mede a força do murro em ponta de faca, do soco que se leva, do tapa na outra face oferecida. 
Quantímetro — vale quanto mede. 
Reflexômetro — mede a profundidade das mais incríveis reflexões. 
Rotinômetro — mede o tédio, mas sujeito a quebra se for alterado. 
Sismômetro — mede os abalos sísmicos; não confundir com o Cismômetro, que mede as cismas que nos abalam. 
Tensiômetro — mede a tensão dos ambientes. 
Termômetro — mede a temperatura... e a preocupação das mães. 
Umbigômetro — mede a generosidade humana. 
Variômetro — mede várias coisas que jamais saberemos medir. 
Vergonhômetro — aparelho em falta na terra dos sem-vergonhas. 
Voltômetro — mede as voltas que o mundo dá. 
Xongômetro — não mede coisa nenhuma. 
Zerômetro — mede abaixo da média. 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.