sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O “Zé” Traíra está com o que há de pior

 
Messias Pontes *
 

Tem um adágio popular que cabe bem até demais para o candidato das forças do atraso no Brasil, José serra, o “Zé” Traíra: diz-me com quem andas que te direi quem és. E quem está com o candidato demotucano? Nada menos que o supra-sumo do reacionarismo brasileiro que tanto mal já causou ao Brasil e aos brasileiros, senão vejamos:


A famigerada TFP – Tradição, Família e Propriedade, a Opus Dei, o Grupo Guararapes, a grande mídia conservadora, venal e golpista, a clientela da Daslu, os fundamentalistas religiosos- católicos e evangélicos, Daniel Dantas, José Roberto Arruda, os carlistas (na Bahia), os herdeiros políticos de Carlos Lacerda, as viúvas da ditadura militar, a canalha neo-udenista e toda a extrema direita.

Também estão apoiando incondicionalmente o “Zé” Traíra gente da estirpe do Coisa Ruim (FHC), Arthur Virgílio, Tasso Jereissati, Kátia Abreu (grileira), Heráclito Fortes, Jorge Bornhausen, Roberto Freire (outro traíra), e a escória do jornalismo como Merval Pereira, Miriam Leitão (porcão), Ricardo Noblat, William Waack, Boris Casoy, o casal 45 (William Bonner e Fátima Bernardes) e outros crápulas, colonistas e demais jornalistas amestrados.

Até 2002, o Brasil foi governado pelas e para as carcomidas elites econômicas, sociais e políticas. A partir de 2003, com a posse de um ex-operário metalúrgico, sem formação acadêmica, o País entrou em nova Era e os eternos excluídos passaram a ter vez, com o mínimo de dignidade. Foi neste período que os brasileiros perderam o complexo de vira-latas e o Brasil deixou de ser coadjuvante para ser protagonista no cenário das nações. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enterrou o G-8 e criou o G-20, levando o Brasil a ser respeitado e ouvido em todas as instâncias internacionais.

O desgoverno FHC (Coisa Ruim)/ Serra (traíra) quebrou o Brasil três vezes, tinha como governo de fato o FMI, o País vivia submisso aos interesses do grande capital, notadamente ao imperialismo estadunidense, levou milhões de brasileiros à rua da amargura, desmontou o Estado brasileiro com o processo da privataria, sucateou a educação, a saúde e a infraestrutura, além de institucionalizar a corrupção com a extinção da CEI – Comissão Especial de Investigação e instalar o maior processo de corrupção jamais visto para garantir a emenda da reeleição e a entrega do patrimônio público, a preço de banana, ao capital financeiro internacional. A desnacionalização da indústria brasileira também foi outro crime de lesa-pátria praticado pelo desgoverno tucano-pefelista, hoje demotucano.

Na atual campanha eleitoral, esperava-se o debate de propostas para fazer o Brasil avançar. Porém o que se vê é a baixaria, a mentira desbragada, as calúnias e as difamações contra a candidata das forças democráticas, patrióticas e populares Dilma Rousseff. A hipocrisia, a desfaçatez e a covardia têm sido a marca registrada do candidato demotucano, num verdadeiro desrespeito aos brasileiros.

Nunca um candidato mentiu tanto numa campanha eleitoral. Descaradamente diz que foi o melhor deputado constituinte, quando se sabe que ele atuou contra os interesses nacionais e dos trabalhadores. Basta consultar os dados do Diap. O “Zé” Traíra, no primeiro turno, tirou nota 2,5 e no segundo, 3,5 numa escala de zero a 10. Durante a Assembléia Nacional Constituinte (1987/88) ele já tinha mudado de lado, jogando na latrina o seu currículo e começado a entrar pra história pela lata do lixo.

Toda a baixaria na web tem a digital do “Zé” Traíra. Ele é covarde, pois não enfrenta os adversários de frente. Neste mesmo espaço já havíamos advertido para a baixaria, muito antes do início da campanha eleitoral. O deputado Ciro Gomes, que o conhece de perto, pois pertenceu ao PSDB, também havia previsto o que está acontecendo.

A Dilma precisa continuar apresentando as suas propostas para o Brasil seguir em frente, mas também ir pro confronto direto para desmascará-lo. Mostrar que ele é o que é e não o que diz ser. Tudo dele soa falso como uma nota de três reais. Ele sempre defendeu o arrocho salarial e agora vem com essa de dizer que vai elevar o salário mínimo para R$ 600,00 e dar aumento de 10% aos aposentados e pensionistas quando sempre os tratou com desprezo.

Quando diz que não vai privatizar o que restou do patrimônio público dilapidado pelo desgoverno dele e do Coisa Ruim, está estampada na cara dele a deslavada mentira. Falar em escolas técnicas é outra tremenda mentira, pois no desgoverno tucano-pefelista, do qual foi ministro, foi proibido, por decreto, a construção de escolas técnicas. Não se pode dar crédito a nada que ele diz. Por mais que prometa, tem o instinto do escorpião no seu DNA e quem o conhece sabe muito bem disso.

É mais que oportuno mostrar a declaração do ex-presidente Itamar Franco – que hoje lhe apóia – chamando-o de mentiroso quando ele assume a paternidade dos medicamentos genéricos. Itamar disse com todas as letras que “o Serra é mentiroso, pois os genéricos foram criados no meu governo pelo ministro Jamil Haddad”. O Seguro Desemprego também não é da sua lavra como apregoa cinicamente.

Dizer que vai fortalecer a Petrobras é outra grande mentira. Ele foi a favor da privatização da nossa maior empresa, hoje a segunda do mundo no ramo, que eles quiseram até mudar de nome, passando a chamar-se Petrobrax para atrair os compradores estrangeiros. Foi ele quem incentivou o Coisa Ruim a vender por preço de banana a Vale do Rio Doce, a Ligth e outras empresas estatais estratégicas. A corrupção no desgoverno FHC/Serra igualmente merece vir a público. Mas isso é assunto para um artigo específico.

Por tudo isto e muito mais é que o Brasil precisa se livrar do “Zé” Traíra e eleger Dilma Presidente para o Brasil seguir mudando.

* Diretor de comunicação da Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará, e membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará e do Comitê Estadual do PCdoB.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

"Olhos Bem Abertos": Força dos explorados

Cloves Geraldo *

Documentário do uruguaio Gonzalo Arijon mostra o processo de mudanças profundas na Bolívia, Equador e Venezuela e procura entender sua força.

           O processo político-ideológico em curso na América Latina rendeu o bom documentário “Ao Sul da Fronteira”, do diretor estadunidense Oliver Stone, que procura decifrar as mudanças ocorridas principalmente na Bolívia, Equador e Venezuela. Mais contundente o diretor uruguaio Gonzalo Arijon aprofunda a discussão em seu “Olhos Bem Abertos”, exibido na mostra “Imagem das Américas”, realizada de 17 a 23 de setembro último em Belo Horizonte.

              O que difere os dois filmes é o olhar de seus diretores. Stone centra-se mais em Chávez, enquanto Arijon une-se ao jornalista e historiador Eduardo Galeano (“As Veias Abertas da América Latina”) para tratar de aspectos que fogem ao conhecimento do estadunidense. Seu filme dá voz a trabalhadores, índios, mineiros e mulheres, mostrando-os como as principais forças de transformações políticas, econômicas e sociais em seus países.
              Arijon traça assim um perfil dos movimentos populares que sustentam as decisões de suas lideranças. Dos mineiros bolivianos mal pagos, sofrendo de silicose, até os indígenas que se tornam cidadãos. Todos apóiam a estatização das minas de cobre e das reservas e empresas de petróleo e gás, feitas pelo governo Evo Morales. “Agora somos nós que controlamos tudo”, diz um diretor da estatal boliviana de petróleo e gás.

               Arijon demora-se na Bolívia onde as mudanças sofrem todo tipo de boicote. Põe na tela a tentativa de separatismo das províncias mais desenvolvidas, o massacre perpetrado pelas oligarquias e pelos governadores direitistas, a firmeza de Molares para derrotá-los, inclusive expulsando o embaixador estadunidense para evitar sua própria queda. O resultado se vê como herança de Che Guevara. São poderosas as imagens dos indígenas nas ruas com seus trajes típicos, desfrutando de uma liberdade que demorou mais de 500 anos para ser conquistada. Emociona.

               O mesmo ocorre com os indígenas equatorianos. Suas terras, ricas de petróleo, cobiçadas pelas multinacionais do petróleo, foram demarcadas pelo governo Correa para que não percam suas fontes de existência. Uma viagem de Arijon por elas explica porque isto foi necessário. As camadas de óleo espalhavam-se, impedindo que continuem na área em que estão há milênios. Como na Bolívia, o processo de desmontagem dos privilégios, dos monopólios e do controle dos EUA e da Espanha incluiu reforma na constituição, queda de braço com George Bush, as multinacionais, as oligarquias e a mídia direitista a eles aliados.
              Arijon não se limita a filmar os locais de conflitos, sua câmera se detém na geografia, na paisagem urbana. Sente-se as cidades, as periferias, o perfil do povo. Na Venezuela, os rostos de uma líder comunitária e de um trabalhador beneficiado pela reforma agrária tomam a tela. Ela explica que há resistência, mas que a construção de habitações coletivas segue em frente. E o camponês informa que tudo o que os venezuelanos consomem vem de fora e que agora eles começam a plantar para seu próprio abastecimento. A câmera de Arijon os flagra em suas ações. Numa delas acompanha a líder comunitária numa alegre reunião com Chávez, espécie de democracia direta, em que ele confirma todo seu estilo despachado de governar.

              E Arijon não se furta em registrar a crítica preconceituosa, direitista, do taxista que o leva ao centro, onde se podem ver milhares de barracos ocupando o morro. “É dali de que vem o apoio dele (Chávez)”, aponta ele para o aglomerado que domina parte de Caracas. Entende-se, assim, porque Chávez provoca ódio, boicote e insurgência da burguesia venezuelana e dos EUA, com grande apoio da mídia golpista nativa e estadunidense, como mostrou Stone em “Ao Sul da Fronteira”.

                   O Brasil, no entanto, não fica à margem de “Abra Seus Olhos”. Aparece na abertura, em rápidas sequências no Pará onde é críticado por não ter feito a reforma agrária, cedendo terras e porto para o agronegócio. No entanto, o líder dos sem terra destoa das críticas ao apontar em aula na Escola do MST as consequências da globalização e do neoliberalismo. E Chávez surgir em seguida pondo fim ao sonho de Bush implantar a Alca na América Latina: “Alca é o caralho!”, denuncia. Arijon e Eduardo Galeano traçam inclusive um paralelo entre o Fórum Social Mundial e o Fórum Econômico de Davos para diferenciar os objetivos de ambos reforçando os rumos tomados principalmente pelo Brasil.

                    Arijon também registra o papel do governo Lula nos processos de nacionalização das reservas minerais e ampliação da democracia popular no Equador, Venezuela e Bolívia. Lula ao invés de resistir à desapropriação da Petrobrás, uma das multinacionais que controlava o setor petrolífero boliviano, entendeu os motivos de Morales para controlar as riquezas de seu país e o apoiou. Deste modo Arijon registra um ciclo histórico. Seu filme, aplaudido pelo público efusivamente em seu final, é um documento sobre o processo político popular na América Latina. É uma pena que sua exibição não esteja garantida em grande circuito no Brasil.

Olhos Bem Abertos”. (“Ojos bien Abiertos”). Documentário. Uruguai, 2009,110 minutos. Direção: Gonzalo Arijon.

* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte:http://www.vermelho.org.br/coluna

“Em Teu Nome”: Memórias da juventude

Cloves Geraldo *

Filme do diretor gaúcho Paulo Nascimento resgata a luta dos jovens brasileiros contra a ditadura militar

             Eram garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones, diz a música. Em “Em Teu Nome”, do gaúcho Paulo Nascimento, eles amavam a revolução e não eram tão garotos assim. Aderiram à luta armada, sangraram nas masmorras da ditadura, foram exilados, retornaram ao Brasil com a anistia, em 1979. E nem por isto, deixaram de viver grandes paixões. Eis e contexto deste filme que amplia a visão da luta da esquerda no país contra a ditadura militar (1964/1985). Tira o filme dos aparelhos, das sombras e lança-o nas ruas, no campus universitário e nas reuniões familiares. É mais sobre uma geração do que sobre concepções de luta armada, embora esta esteja presente o tempo inteiro.
            O que buscavam os jovens dos anos 60, época em que a Guerra Fria, opunha a ex-União Soviética aos EUA? Apenas derrubar a ditadura militar? Não. Mudar o mundo. Substituir o Capitalismo pelo Socialismo. “Em Teu Nome” os mostram em discussões político-ideológicas, ações revolucionárias, tentativas de escapar ao cerco imposto pelos generais. Além disso, o filme transmite uma afetividade que escapa às produções que tratam da luta da esquerda no país. E tem sua raiz em “Reds”, de Warren Beatty, cinebiografia do jornalista revolucionário John Reed, autor de “10 Dias Que Abalaram o Mundo”. Beatty trata das ações de Reed e seu envolvimento amoroso com a feminista Louise Bryant.
               Não é diferente neste “Em Teu Nome”. Nascimento baseia sua narrativa na militância do estudante de engenharia João Carlos Bona Garcia (Leonardo Machado) na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), formada, em 1966, por dissidentes da Polop (Política Popular) e do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), e em sua paixão pela universitária Cecília (Fernanda Moro). Esta dualidade narrativa dota o filme de um viés mais próximo da realidade do militante, afastado da figura do herói férreo, sem paixões ou emoções. O militante, mesmo no calor da refrega revolucionária, mantém sua capacidade de amar e clareza para levar adiante seu objetivo.
                 Bona, no entanto, não é único a ter sua história enfocada. Outros personagens são tratados com igual força. A jovem calada, introspectiva, Lenora (Silvia Buarque), que sintetiza em si outros militantes de esquerda, que tiveram sua vida destroçada pelas torturas sofridas nas masmorras dos generais, caso de Frei Tito; o hesitante, radical, Onório (Marcos Verza), que cobra compromisso dos demais, mas fraqueza nas situações limite; o frade, Professor (Nelson Diniz), cerebral, capaz de conduzir a luta e também amar; o sindicalista Higino (Sirmar Antunes), afrodescendente, que dá o perfil operário à organização.

Convicção ideológica fortalece militantes


            É a luta contra a ditadura militar e a convicção ideológica que dão sentido à vida desses jovens, em meio à multiplicidade de lutas na época: de Cuba, de Guevara na Bolívia à Guerra do Vietnã. Mesmo que os generais os torturassem, a maioria preservava suas convicções. Numa simbólica sequência sobre o quanto eles, os generais, lhe infligiam dor, Bona, depois de suplicar por comida, devora um malcheiroso pedaço de carne, enquanto sua família degusta frango assado. Esta dialética, herdada do Eisenstein de “O Encouraçado Potemkin” atesta o sacrifício dele e o sadismo dos generais. É forte o suficiente para carecer de qualquer análise político-ideológica.
           Nascimento, ao basear sua narrativa na história de Bona, teve a oportunidade de ampliá-la, usando a troca de 70 militantes de esquerda pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em dezembro de 1970. Com a chegada dos militantes de Porto Alegre a Santiago, no governo Salvador Allende, ela, a narrativa, passa a enfocar o dilema dos exilados, fato inédito nos filmes sobre a luta armada no Brasil. São emocionantes as tentativas de Bona e Cecília de se tornarem atores e inquietante e triste sofrimento de Lenora. Ambos iriam peregrinar de país em país, após a queda de Allende; ele e Cecília na Argélia, ela em Paris, onde depois se encontram.
               Com este leque digno de uma epopéia, Nascimento passeia ainda pelas etapas históricas vividas por eles. De Bona e Cecília lutando para escapar à deportação à luta pela anistia, passando pela tragédia de Lenora, sem dúvida um dos melhores personagens do filme. Mas, em meio à luta pela sobrevivência desses jovens que lutaram contra a ditadura militar, surgem figuras ainda hoje atuantes na política brasileira, a mídia nacional e o papel que jogaram e não jogam mais. Serve para mostrar quem avançou e quem retrocedeu. Basta refletir sobre isto a partir das falas de Bona em Paris. Elas recuperam o que os “outrora engajados” querem a todo custo esquecer.
                “Em Teu Nome” embora não seja uma obra prima, inclusive carecendo de maior rigor estético, pode ser colocado ao lado de filmes que contribuem para o entendimento da história recente do país: “O Desafio”, de Paulo César Serracini; “Vida Provisória”, de Maurício Gomes Leite; “Pra Frente Brasil”, de Roberto Farias; “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburguer.  Mas dá conta do recado. Emociona.
Em Teu Nome”. Drama. Brasil. 2009. 100 minutos. Roteiro: Paulo Nascimento, baseado na militância de João Carlos Bona Garcia. Elenco: Leonardo Machado, Fernanda Faro, Nelson Diniz, Marcos Verza, Sirmar Antunes, Silvia Buarque.

* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

 Aborto e CNBB: desmonte de uma falácia

Escrito por D. Demétrio Valentini   
08-Out-2010
A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e denunciada.
Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais, amparadas em sofismas enganadores.
Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.
Em primeiro lugar, invoca-se a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.
 
Em segundo lugar, invoca-se uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.
Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:
A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.
Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB? Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete a credibilidade da CNBB se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral deste documento, assinado pelos três bispos da presidência da Regional.
Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.
Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição. A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.
Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários, e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica.
Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.
Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.
Em nome da fé, julgam-se no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.
Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas com astúcia e malícia.

D. Demétrio Valentini é bispo da diocese de Jales-SP. 

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O poder midiático na batalha pela Presidência da República

A alegria resplandecia nos rostos de âncoras e comentaristas da Rede Globo de Televisão domingo (3) à noite na medida em que se consolidava a certeza de que o pleito presidencial não seria resolvido no primeiro turno, a despeito do que sinalizavam algumas pesquisas. Parece que a família Marinho tinha um bom motivo para comemorar.

Por Umberto Martins

 

O resultado do pleito não deixou de ser uma demonstração do poder dos monopólios que controlam os grandes meios de comunicação no Brasil. Eles, afinal, não pouparam munição na verdadeira guerra que desencadearam contra Dilma e o governo para impedir a vitória no primeiro turno.

Manipulação

A cobertura dos fatos de domingo foi também uma espécie de horário gratuito para José Serra, que aproveitou para fazer seu primeiro comício. Também não faltaram os afagos da Globo e um espaço generoso para a candidata do PV, Marina Silva, cujo desempenho, insuflado pela mídia, foi fundamental para levar a eleição ao segundo turno. É um ensaio do que virá na batalha final pela presidência, do que devemos esperar nos próximos dias.

Não é a primeira vez que vemos coisas do gênero. As Organizações Globo, em aliança com outros órgãos do chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista), com destaque para a revista Veja, tentaram reverter a vitória de Brizola para governador do Rio em 1982, através da fraude eletrônica na apuração (o chamado caso Proconsul); atropelaram a ética jornalista para manipular de forma inescrupulosa o debate entre Lula e Collor em 1989; contribuíram para que o sequestro de Abílio Diniz (em 1989) fosse atribuído a lideranças do PT; usaram imagens de dinheiro associado ao episódio dos “aloprados” na véspera da eleição de 2006 para impedir a vitória de Lula no primeiro turno, entre outros episódios.

Força da direita

Nesta campanha, a mídia hegemônica radicalizou a ofensiva contra Dilma quando percebeu o perigo de derrota da direita já no primeiro turno, o que era percebido como um completo desastre. Movida pelo desespero, disparou acusações de última hora contra membros do primeiro e segundo escalões do governo, procurando envolver a candidata, criou factóides, caracterizou o governo Lula como inimigo da liberdade de imprensa e ditou a pauta dos últimos dias de campanha, substituindo o debate de ideias e programas pela repercussão ruidosa de escândalos fictícios ou reais. Assim forjou a agenda da eleição. E não se pode dizer que não tenha colhido êxito.

Apesar dos reveses sofridos nos últimos anos e no atual pleito, a direita neoliberal ainda exibe força, especialmente em São Paulo e Minas Gerais. Isto se deve, em larga medida, ao poder midiático. Não convém subestimá-lo nos próximos dias que nos separam do segundo turno (31 de outubro). O desafio para o futuro é intensificar a campanha pela efetiva democratização dos meios de comunicação e lutar para que as medidas delineadas na primeira Conferência Nacional da Comunicação (Confecom) sejam concretizadas. 
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Maria Rita Kehl denuncia “dois pesos” do Estadão

 

A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no último sábado (2), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. O texto, intitulado "Dois pesos...", gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias.

 

Nesta quinta-feira (7), ela falou a Terra Magazine sobre as consequências de seu artigo: "Fui demitida pelo jornal o O Estado de S. Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião (...) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?"

Leia também:
Terra Magazine - Maria Rita, você escreveu um artigo no jornal O Estado de S.Paulo que levou a uma grande polêmica, em especial na internet, nas mídias sociais nos últimos dias. Em resumo, sobre a desqualificação dos votos dos pobres. Ao que se diz, o artigo teria provocado consequências para você...

Maria Rita Kehl - E provocou, sim...

Terra Magazine - Quais?
MR - Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião.

Terra Magazine - Quando?
MR - Fui comunicada ontem (quarta-feira, 6).

Terra Magazine - E por qual motivo?
MR - O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram.

Terra Magazine - Você chegou a argumentar algo?
MR - Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável...

Terra Magazine - Que sentimento fica para você?
MR - É tudo tão absurdo... A imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo...

Terra Magazine - Você concorda com essa tese?
MR - Não, acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado...

Terra Magazine - ...Por outro lado...?
MR - Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um "delito" de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?

Terra Magazine - Você imagina que isso tenha algo a ver com as eleições?
MR - Acho que sim. Isso se agravou com a eleição, pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas.

Fonte: Terra Magazine

Comissão da CNBB defende Dilma e põe 

discurso de Serra em xeque

A Comissão Brasileira Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), manifestou-se, por meio de nota, "preocupada com o momento político na sua relação com a religião". "Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente", afirmou a entidade, no comunicado.

A manifestação deve endereço certo: o bispo de Guarulhos (SP), d. Luiz Gonzaga Bergonzini, que tem pregado o voto contrário à candidata Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando. Ele também quer levar o aborto para o centro do debate eleitoral, embora nenhum candidato tenha se proposto a mudar a legislação sobre práticas abortivas.

"Dos males, o menor", tem dito d. Luiz Gonzaga, ao defender o voto contrário a Dilma que, segundo ele, apoia o aborto. A candidata já negou várias vezes essa suposição, mas o bispo tem usado suas missas para acusar Dilma e o PT de terem incluído em seu programa de governo a defesa do aborto. Guarulhos, na Grande São Paulo, tem 1,3 milhão de habitantes.

Para o secretário-executivo da Comissão Justiça e Paz, Daniel Veitel, Dilma foi a única candidata que se declarou claramente a favor da vida. "O José Serra (presidenciável do PSDB) não tem uma posição clara", criticou. Veitel lembrou que a CNBB não impôs veto a ninguém nas eleições. Afirmou ainda que alguns grupos continuam induzindo erroneamente os fiéis a acreditarem nisso.

"Constrangem nossa consciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial", afirma a nota da comissão.

Da Redação, com informações da Agência Estado