segunda-feira, 19 de abril de 2010

Depois dos gays, Igreja vai culpar os judeus?

A cúpula do Vaticano está comendo o pão que o diabo amassou depois que transformou o ex-militante da Juventude Nazista, Joseph Alois Ratzinger, no papa Bento XVI. Flagrado mundialmente acobertando padres pedófilos, ele agora põe o alto clero para buscar culpados fora de suas fileiras.


O papa com Bertone atrás
O religioso que ocupa o segundo lugar na hierarquia do Vaticano, logo atrás do papa, cardeal Tarcisio Bertone, declarou no dia 12, em visita ao Chile: "Muitos psicólogos, muitos psiquiatras, demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros comprovaram, e me disseram recentemente, que há relação entre a homossexualidade e a pedofilia. Isto é verdade, este é o problema". 
Pretendia açoitar dois desafetos com um báculo só: os que assumem a homossexualidade e os que defendem o fim do celibato. No primeiro caso, foi contestado por organizações de todo o mundo. “Estamos deveras indignados com as palavras que Bertone pronunciou no Chile: não queira a Igreja transferir a sua culpa para outras pessoas inocentes, e penso que ela deve interrogar-se sobre sua própria falta de humanidade”, disse Paul Patane, presidente da Associação Lésbica e Gay Italiana, Arcigay.
No segundo caso, polemizava, dentre outros, com setores católicos envolvidos nas lutas sociais contra as desigualdades e as injustiças. Um dos teóricos desses setores, acreditando que “o Espírito Santo se vale de vias transversas para renovar a Igreja”, expressou sua esperança de que “as denúncias de pedofilia eclesiástica sirvam para pôr fim ao celibato obrigatório”, vendo nessa exigência a origem do mal.
A argumentação evidencia a fragilidade teórica dos setores que não conseguiram libertar-se da teologia. Os inúmeros casos de pessoas casadas (homens e mulheres) pedófilas desmentem, na prática (critério da verdade, para os materialistas dialéticos), a argumentação. Também os casos de celibatários que não avançam sobre crianças e adultos invalidam a tese (considerar que os celibatários não existem seria considerar que são todos, inclusive o autor do artigo, mentirosos).
A história registra casos de pedofilia, com ambos os sexos, aceitos culturalmente como normais desde a Antiguidade Clássica. Em algumas culturas árabes e orientais, mesmo hoje, não são objetadas. Até o início do século XX, no Brasil não eram incomuns os casamentos de adultos com meninas recém-saídas, ou nem isso, da puberdade. Casamentos sacramentados pela Santa Madre Igreja.
A cultura ocidental tem mudado seus conceitos comportamentais, com destaque no que diz respeito à sexualidade. A prostituição e o homossexualismo, em muitos países, vêm sendo descriminalizados. As prostitutas, em alguns locais, já conseguiram inclusive a regulamentação profissional. A união consensual de homossexuais também vem ganhando, além da social, a aceitação jurídica.
Com a pedofilia, porém, acontece o contrário. A tendência é reprimi-la e penalizá-la criminalmente. O Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais considera pedofilia "a atividade sexual com uma criança pré-púbere (com 13 anos ou menos)” e o indivíduo com pedofilia “deve ter 16 anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança". Na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), a pedofilia é identificada como "Transtorno de Preferência Sexual". As consequências prejudiciais para crianças e adolescentes podem ser físicas, psicológicas ou de comportamento, daí a sua criminalização.
As reações do alto clero às denúncias continuam azaranzadas. Seu esforço maior tem sido de se preservar, e não de apurar. Viciado pelo seu passado poderoso, busca “os suspeitos de sempre”, como o oficial pró-nazista do clássico Casablanca, de Michael Curtiz. Homossexuais, prostitutas, ciganos, judeus, mouros, protestantes e comunistas (que na primeira metade do século passado eram acusados de “comer criancinhas”) são endemoninhados. Foi o que quis fazer o segundo homem do Vaticano.
Diante da reação mundial em favor dos homossexuais, o próprio Vaticano confessou, em nota, serem as autoridades eclesiásticas incompetentes “sobre temas de caráter médico e psicológico”. E o que dizer dos pais, de todas as classes e nível cultural, que continuam fornecendo carne tenra para esses monstros?
Carlos Pompe * http://www.vermelho.org.br



domingo, 11 de abril de 2010

Greve dos professores: Serra pediu ajuda a Lula 

e rasgou acordo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado (10), no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que o pré-candidato do PSDB à presidência, José Serra, pediu sua ajuda quando ainda estava à frente do governo de São Paulo para debelar uma manifestação de professores grevistas, mas descumpriu o acordo. Serra teria se comprometido a receber pessoalmente os professores, mas mandou o secretário da Educação, Paulo Renato, como representante.

O pedido de ajuda ocorreu durante uma cerimônia de entrega de ambulâncias da qual ambos participaram em Tatuí, no interior paulista, em 25 de março. “Lá em Tatuí, fomos procurados pelo seu adversário que dizia para nós tentarmos ajudar na greve dos professores que iriam ao Palácio dos Bandeirantes em determinado dia”, disse Lula à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff.

“Vim para cá, e o nosso querido companheiro Edinho (Silva, presidente do PT-SP) ligou para o governador Serra. Eu assumi o compromisso de conversar com a Apeoesp (sindicato que representa os professores estaduais)”, agregou Lula.

O presidente relatou ter conversado no mesmo dia durante o 2º Congresso da Mulher Metalúrgica, também no sindicato do ABC, com a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, e intermediado uma reunião entre os grevistas e o governador.

“Conversamos com a Bebel, o Edinho ligou para o Zé Serra — e eu havia dito para o Serra diretamente na conversa: ‘Serra, converse você diretamente com o sindicato. Não deixe o seu secretário da Educação conversar porque ele não conversava quando era ministro. Converse você, eles não querem muito e estão dispostos a fazer um acordo. Converse’”, afirmou o presidente.

Segundo Lula, Serra teria prometido ao presidente do PT paulista receber pessoalmente os professores. O iG apurou que o governador sugeriu a possibilidade de enviar o secretário da Casa Civil, Aloyzio Nunes Ferreira, já que a Apeoesp não aceitava negociar com Paulo Renato. “Cheguei aqui e o Edinho me comunicou: ‘Presidente, eu conversei com o Serra e ele vai conversar com os professores’”, disse Lula.

De acordo com Lula, Serra não teria cumprido o acordo. “Conclusão: eu fui embora tranquilo. Conversamos com a Bebel tranquilos de que o governador iria chamar os professores para conversar. Qual não foi minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou, e mandou um secretário seu conversar com os professores?”.

A assessoria de Serra, que poucas horas antes teve o nome lançado pelo PSDB em Brasília, foi procurada, mas não se manifestou. A repressão policial às manifestações dos professores foi explorada em vários discursos durante o encontro de Dilma com representantes da seis centrais sindicais, neste sábado. “Posso afirmar porque estive do lado de lá na eleição passada. O Serra não gosta de trabalhador”, disse o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical e do PDT-SP.

Da Redação, com informações do Último Segundo


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Malhando em ferro quente

João Guilherme Vargas Netto *

Quero alinhavar três análises que procuram entender o que se passa entre os trabalhadores pobres, os aposentados pobres, os subempregados e os desempregados que não são a base do nosso movimento sindical organizado.

Para André Singer, em artigo publicado na revista Novos Estudos de novembro de 2009, Lula conquistou em 2006 os votos desta população, onde se misturam conservadorismo e reivindicações, com suas políticas sociais; já o pesquisador norte-americano Cesar Zucco, confirmando o achado, afirma que Lula atraiu os pobres das metrópoles. O cientista político de Yale e Princeton destaca o papel do Bolsa Família neste feito (ver Folha de S.Paulo de 5 de abril). E Maria da Conceição Tavares em importante entrevista para Teoria e Debate de janeiro/fevereiro de 2010, reconhece esta base do “lulismo” e, ampliando a análise, cita os aumentos do salário mínimo como um dos elementos essenciais para a nova configuração política e social que deve orientar a atitude dos partidos progressistas.

Para os três há uma concordância: o povo pobre aderiu a Lula garantindo-lhe o reconhecimento maciço.

O papel positivo desempenhado pelos reajustes do salário mínimo não pode, para quem analisa o movimento sindical e para seus dirigentes e ativistas, ser subestimado.

Os ganhos reais do mínimo - conquistados e garantidos pela interação entre a vontade política do presidente e a ação unitária das centrais sindicais – têm um poderoso reflexo sobre a economia (o mercado interno que nos salvou da crise e tem alavancado o crescimento do PIB), sobre a sociedade (melhoria da condição de vida dos mais pobres e ascensão social) e sobre o movimento sindical (vitória de uma estratégia unitária de caráter social não corporativo).

Eles afetam positivamente de maneira direta todos os que recebem o salário mínimo (nos mercados formais e informais de trabalho), os aposentados que o recebem e toda a grade de reajustes das aposentadorias (com ganhos reais, pela primeira vez, influenciados pelo avanço do salário mínimo), os pisos salariais profissionais (que são pressionados de baixo para cima e melhoram as condições de negociação de diversas categorias), os salários mínimos regionais nos cinco Estados que o praticam e alteram a maior as parcelas do seguro-desemprego. Os efeitos positivos desdobram-se em todas as direções e abarcam a esmagadora maioria dos trabalhadores, contribuindo também para diminuir o desemprego com o desenvolvimento da economia.


* É consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo
Fonte:http://www.vermelho.org.br/coluna

Serra, Kassab e as enchentes

João Quartim de Moraes *

No verão tropical chove muito. Kassab e Serra sabem disso tão bem quanto qualquer outro. Também sabem que numa megalópolis do tamanho de São Paulo, atravessada por rios que foram transformados em fétidos lixões flutuantes, quanto mais se impermeabiliza o solo, mais aumentam os riscos de enchente.

Poderiam ter lido na Wikipedia que: “A enchente ocorre quando o rio Tietê recebe, repentinamente, um grande volume d'água dos seus afluentes como o rio Aricanduva, que deságua muitos milhões de litros em alguns poucos minutos. A água que já estava no Tietê a uma certa velocidade precisa de algumas horas para ganhar força e adquirir uma velocidade maior. Enquanto a água do Tietê não ganha velocidade, a que vem do rio Aricanduva vai sendo acumulada, e o rio enche até transbordar. Por causa desse fenômeno hidráulico, o rio Tietê precisa de uma área lateral para poder absorver essa enchente. Essa área existe e situa-se a alguns metros abaixo das avenidas marginais”.

Existe ou existia? Professores da USP manifestaram, em meados do ano passado, “total repúdio” à chamada “Revitalização da Marginal do Rio Tietê”, obra encomendada pela dupla Serra/Kassab e empreendida por um cartel de concessionárias do sistema rodoviário. O argumento de fundo dos professores é que a construção de seis novas faixas (três de cada lado) na Marginal, com um custo de R$ 1,3 bilhão, agride frontalmente o princípio da prioridade do transporte coletivo sobre o individual, consagrado no Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo.

É normal que Kassab, ex-estafeta do malufismo e membro de um partido que só ousa se chamar DEMocratas porque não tem senso do ridículo, obedeça na prática ao princípio oposto: prioridade para o transporte individual em detrimento do coletivo. Mas no assunto da Marginal ele é mero coadjuvante. Serra é quem decide. É ele pois o principal responsável pela nova escalada de impermeabilização do solo metropolitano.

Evidentemente não lhe faltam áulicos e outras serviçais para defender esse atentado à segurança e à saúde dos moradores de São Paulo. Sob o título trivial “Melhorando o Trânsito, Trabalhando por Você”, o Portal do Governo do Estado de São Paulo publicou, em formato de catecismo, uma série de perguntas e respostas cuja leitura me fez voltar a um já bem distante passado. Numa dessas revistas, provavelmente O Cruzeiro, que líamos esperando a vez de cortar o cabelo na fila da barbearia (naquele tempo de machismo pré-crítico, cabelereiro era para mulheres; os do sexo masculino, mesmo imberbes, iam ao barbeiro) havia uma coluna humorística chamada Ministério das Perguntas Cretinas. O pessoal do Portal do Serra reativou a idé ia (mas fingindo estar falando sério) e acrescentou um seção de respostas ainda mais cretinas. As perguntas são muitas Reproduzimos aqui apenas as que dizem respeito ao estrago ecológico que aqui nos preocupa.

“Qual vai ser a economia de combustível depois que a nova marginal estiver pronta?”. “Estima-se que com a redução do tempo médio de cada viagem possa se chegar a uma economia de consumo da ordem de 1,5 milhão de litros de combustível/ano”. Esse número é imaginário, não no sentido matemático, mas no sentido fantasioso do termo. Mas enfim, está bem no estilo do Serra, aquele que quando candidato a prefeito prometeu que não se candidataria a governador e quando lhe cobraram a promessa violada, respondeu com sua característica caradura: “Aquela era a verdade daquele momento”.

“A melhora no trânsito vai diminuir a poluição?” “Vai. Com a redução do tempo médio de viagem, e a redução do consumo, haverá uma redução de emissão de poluentes”. Não terá passado pela cabeça dos pensadores do PmDEMb que se de fato a velocidade média aumentar, será por pouco tempo, porque os muitos motoristas que fogem dos congestionamentos da Marginal tenderão a dela se servir. Reencontramos aqui a quintessência do urbanismo malufista: obras dispendiosas que aliviam o trânsito, até que tudo entupa de novo. O limiar da saturação já foi atingido há muito tempo e só o rodízio, uma limitação administrativa ao uso do transporte individual estimulado pela própria administração, impede a paralização completa. Não há solução de fundo, além de investir pesadamente nos transportes coletivos, principalmente sobre trilhos.

Duas perguntas do Portal do Governo do Estado são extremamente atuais, muito mais, sem dúvida, do que o governador gostaria; as respostas estão à altura, mesmo porque são os mesmos que perguntam e respondem. se não fossem as trágicas conseqüências envolvidas: “A obra aumenta o risco de enchentes?” “Não, não há risco maior de enchentes por causa da construção das novas pistas”. “A Nova Marginal vai tornar o solo mais impermeável?” “A impermeabilização de terreno com a construção das novas pistas atingirá uma área total de 19 hectares, equivalente a cerca de 30 campos de futebol”. Essa segunda resposta, em especial, tem lugar garantido em qualquer antologia internacional da desfaçatez. 
O solo de São Paulo já está devastadoramente impermeabilizado. Serra mandou explicar que só iria sufocar mais uns trinta campos de futebol na Marginal, a qual, como indica o nome, está na margem do rio. Alguns meses depois, diante de bairros inteiros inundados, ele só poderia explicar que aquela resposta era a verdade daquele momento. Só que os momentos seguintes foram catastróficos. Em setembro 2009, com metade da chuva da última inundação, ocorrida quatro anos a antes, o Tietê transbordou. Transbordou de novo em 8 de dezembro. Os moradores de vários bairros populares, por exemplo Jardim Romano, na Zona Leste, ficaram com água pelas canelas pelo menos duas semanas.

A chuva obedece a fatores meteorológicos. Cai sobre as plantações e as hortas, irrigando-as, ou sobre as cidades impermeabilizadas, inundando-as. A chuva não sabe o que faz. Prefeitos e governadores deveriam saber.

* Professor universitário, pesquisador do marxismo e analista político.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Serra, Kassab e o mar de lama

João Quartim de Moraes *

Começo esta por onde terminei a anterior. A chuva, que continua implacável, cai sobre as plantações e as hortas, irrigando-as (um pouco demais), ou sobre as cidades impermeabilizadas, inundando-as. A chuva não sabe o que faz. Prefeitos e governadores deveriam saber.

No início de janeiro, Kassab teve de comparecer ao Jardim Romano, na Zona Leste. Estava ficando indecente demais que o prefeito não visitasse um dos bairros populares mais duramente afetados, e há mais tempo, pelas enchentes. Uma reportagem de O Estado de São Paulo (9/1/10), jornal insuspeito de extremismos de esquerda, que relatou a visita, conta que Raquel Santos, profissão babá, ao dar de frente com o prefeito e seus guarda-costas numa esquina enlameada desabafou aos gritos: “O senhor não põe o pé na lama? Eu quero que o senhor ponha o pé na lama. A gente perdeu tudo, ontem minha casa encheu de água com sete crianças dentro. [...] Se quiser uma bota para entrar na lama eu empresto!”. Mas não foi preciso. Kassab saiu de fininho. Chamou a babá Raquel para conversar perto do carro. “Ele veio me amansando, disse que eu estava alterada e fugiu naquele carrão preto”.

Em outros bairros alagados, por exemplo na Vila Regente Feijó, onde manifestantes revoltados botaram fogo em pneus, fechando a avenida Sapopemba, o prefeito julgou mais prudente enviar em seu lugar a Polícia Militar.


Mas não é só a gestão Kassab que está fazendo água. Serra é pelo menos tão responsável pelas enchentes quanto seu parceiro malufista. O estado calamitoso das vias públicas, a sujeira acumulada no bueiros são da alçada do prefeito, mas a impermeabilização da Marginal do Tietê é um presente envenenado do governador. 

A esse respeito o sr. Antonio Carlos Mendes Thame, que “foi Secretário Estadual de Recursos Hídricos nos Governos Covas e Alckmin, Prefeito de Piracicaba e é Deputado Federal (PSDB/SP)”, teve a bondade de me incluir em sua lista internética, mandando um texto que no início achei sarcástico e brincalhão. Parecia um daqueles deboches contra a candidatura presidencial de Serra suscitados pela situação de semi-afogamento em que se encontra a megalópolis paulistana. Por exemplo, o que diz: vote em Serra, porque se ele for eleito vai transpor a enchente paulistana para o semi-árido nordestino. Mas não, o deputado Mendes Thame parece estar falando sério: “São Paulo antecipou-se nas obras de contenção de enchentes, porém o aquecimento global tende a dobrar o volume de chuvas, exigindo dos governos estadual, federal e prefeituras das áreas atingidas a adoção de planos arrojados de prevenção e combate às cheias. É a única de forma de evitar que as enchentes, que assolaram regiões do Sul do País no ano passado, e agora chegaram a São Paulo, continuem a trazer tamanhos prejuízos, colocando em risco a vida das pessoas”.


O principal culpado, segundo o insigne parlamentar, é o aquecimento global, que teria perfidamente burlado os “planos arrojados de prevenção e combate às cheias”. Mas o Plano de Covas (é a ele que se refere o deputado) não é tão arrojado assim. Em termos de engenharia é trivial. O aprofundamento da Calha do Tietê era de fato indispensável. Foi uma iniciativa correta. Incorreto foi superestimar seus efeitos, não levar até o fim o tratamento dos esgotos despejados no Alto Tietê e em seus afluentes e esquecer de combinar com as chuvas para que elas “se mantivessem suas médias históricas” (sic).


Diz ainda o deputado Thame que segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Brasil) e a Universidade de Reading (Reino Unido), “o aumento de temperatura na América do Sul tende a produzir, gradativamente, mais 16 dias/ano de chuva intensa (mais de 10mm) no sudeste do continente, englobando o Brasil”. E acrescenta: “Devido a essa previsão, altamente preocupante, o INPE trabalha na elaboração de projeções que permitam aos órgãos públicos replanejar a infra-estrutura de combate às enchentes”. 


É aí que a porca torce o rabo, como se dizia outrora. Por que o deputado, membro proeminente de seu Partido, não contou isso para o governador? Quem sabe em vez de impermeabilizar a Marginal para facilitar a vida dos automobilistas, ele teria mandado construir mais parques e posto mais transportes coletivos a serviço do povo.

* Professor universitário, pesquisador do marxismo e analista político.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

segunda-feira, 29 de março de 2010

De verdades e da História

Eduardo Bomfim *
   
Muito se tem falado e escrito sobre grande parte da mídia hegemônica de abrangência nacional. A maioria das opiniões não são nada positivas, pelo contrário, há uma generalizada queixa sobre a parcialidade da “imparcialidade” das informações veiculadas rotineiramente, sistematicamente.


Sob a proteção de uma inquestionável e absoluta liberdade de expressão e informação, o que comumente tem sido divulgado, em geral e com honrosas exceções, é a superficialidade dos fenômenos, sejam eles de caráter político, científico, histórico ou relativos ao cotidiano das pessoas ou das cidades.

Há uma nítida sensação que essa dita mídia hegemônica nacional, que determina a pauta informativa dos brasileiros, transformou-se em uma máquina de moer informações aleatórias e de preferência os assuntos secundários quando não bizarros.

Talvez por total ignorância de muitos não seja possível compreender a importância em se divulgar a imagem de uma árvore que desabou sob forte chuva em uma rua de uma cidade qualquer em algum lugar do País.

Em contrapartida nada ou pouco se sabe sobre a realidade dessa mesma cidade. A sua condição econômica, as esperanças da sua população, as suas queixas e as suas expectativas como cidadãos brasileiros.

Vários dos âncoras das mais prestigiadas emissoras de televisão de abrangência nacional visitam-nos quase que diariamente, quando não todos os dias, com os seus semblantes lúgubres, atolados em tragédias e notícias escatológicas como se fossem essas as preocupações e as essencialidades dos brasileiros e da humanidade.

Tudo isso me faz lembrar um episódio acontecido há vários anos quando, ao lado do ilustre professor Florestan Fernandes, de saudosa memória, visitávamos com um guia, as ruas de Madri.

Ao fim do périplo, o grande cientista político reclamou do guia porque ele havia nos mostrado lugares cuja referência dizia respeito só e unicamente ao período fascista, do governo de Franco, de trágica lembrança.

Então o referido guia respondeu-nos secamente e de maneira abusada: há gosto para tudo senhores. No que Florestan Fernandes retrucou imediatamente: não meu senhor, não se trata de gosto, mas de respeito à História e à verdade.

De certa maneira a nossa atual mídia hegemônica nacional tem agido assim. Empanturra-nos de fatos, menos da verdade e da História.
* Advogado, Secretário de Cultura de Maceió - AL
http://www.vermelho.org.br/coluna

Os rumos da pós-graduação no Brasil

Luciano Rezende *

Em um período recente, tempos em que as leis de mercado prevaleciam hegemônicas sobre qualquer tentativa de fortalecimento do Estado Nacional, o governo brasileiro se omitiu de apontar os rumos de várias políticas públicas estratégicas e outros assuntos de interesse do país. Vivíamos a lógica de que o deus-mercado regularia tudo, inclusive a demanda por profissionais egressos da pós-graduação brasileira. Ledo engano.

Esse paradigma custou caro ao país e, mesmo que parcialmente, demorou a ser desconstituído. Hoje, a realização das conferências nacionais temáticas, dentre elas a de C&T, resultam em documentos e resoluções elaborados de forma democrática que sinalizam os caminhos da política científica e tecnológica a ser seguido pelo país. Outra importante ação nesse sentido foi a retomada do Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG), reivindicado pelo Movimento Nacional de Pós-graduandos, através da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG).

O PNPG, elaborado pela Capes, é um dos grandes responsáveis pela institucionalização da pós-graduação e deveria ser submetido à aprovação do Congresso Nacional a cada quatro anos. Entretanto, durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, o MEC, sem o menor interesse em comprometer-se com a expansão do sistema público de pós-graduação, decidiu abandonar a elaboração e aprovação do IV PNPG, que já vinha sendo postergado há uma década. A partir da constatação de que a pós-graduação brasileira já estaria “madura” e acabada, o MEC havia decidido substituir o Plano por um conjunto genérico de diretrizes – sem quaisquer indicações de mecanismos, meios, metas e prazos para suas consecuções.

Já no governo Lula, a Capes, através da Portaria nº 46 de 19 de maio de 2004, instituiu a Comissão responsável pela retomada do PNPG relativo ao período 2005-2010. Nela, pela primeira vez, se deu a participação dos pós-graduandos, além de representantes de outros setores da comunidade acadêmica e científica como a SBPC. O resultado foi um conjunto de políticas e metas progressistas, sintonizadas com as necessidades dos pós-graduandos – a exemplo da que recomenda a reposição gradual do valor das bolsas, defasada em dez anos, corrigindo seu valor em 50% entre 2005 e 2010 (10% ao ano), ou a que propôs a isonomia entre os montantes das taxas de bancada da Capes e do CNPq (embora até hoje não tenha sido efetivada).

De fato, muita coisa precisa avançar. A pós-graduação brasileira apresenta muitos problemas e limitações que necessitam ser superados. Ainda é grande a falta de democracia interna na pós-graduação onde muitos estudantes sofrem com o assédio-moral de vários orientadores que concentram enorme poder de decisão, em departamentos cada vez mais separados da universidade e que impõem suas próprias leis de distribuição de bolsas e seleção de candidatos. É fundamental continuar o debate sobre a pós-graduação para continuar avançando em sua melhoria.

Por isso mesmo é confortável saber que o atual governo mantém seu compromisso de privilegiar fóruns que são capazes de envolver todos os agentes que constituem a pós-graduação para debater suas limitações e encontrar soluções.

O V PNPG, ou PNPG (2010 – 2020), apesar de englobar um período demasiado longo, merece ser saudado, ainda mais por manter seu caráter democrático e contemplar a participação dos pós-graduandos, ainda que em proporção não condizente com a sua importância na produção científica nacional. Todavia, serão muitos os desafios que deverão ser tratados pela comissão recentemente instituída. Dentre eles temas sensíveis à vida dos pós-graduandos, como a continuidade da valorização permanente das bolsas, a democratização na tomada de decisão interna dos departamentos e programas, a universalização da taxa de bancada, a definição de outros critérios de avaliação da pós-graduação capaz de superar a visão meramente quantitativa de publicação de artigos, entre outros assuntos.

Por sua vez, o Movimento Nacional de Pós-graduandos, instituído em suas dezenas de Associações de Pós-graduandos (APGs) espalhadas pelo Brasil, deve pautar a elaboração do PNPG (2010 – 2020) como máxima prioridade. As propostas dos pós-graduandos nesse Plano devem contar com a sabedoria coletiva através de consultas, pesquisas e seminários no meio estudantil. O que pensa o pós-graduando brasileiro e quais suas principais aflições. Esse sentimento precisa ser registrado pela entidade máxima representativa dos pós-graduandos, como fez no PNPG passado, para que seja contemplado na íntegra nesse novo documento.

Esses são os principais desafios que não podemos deixar passar em branco, com o risco de esperar mais dez longos anos. Um tempo extenso demais, como foram os malfadados anos dos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso. Mais que nunca é preciso superar esse atraso.

O Congresso da ANPG (marcado para os dias 15, 16, 17 e 18 de abril, na UFRJ) vem em boa hora e saberá dar uma justa resposta aos anseios dos milhares de pós-graduandos brasileiros.

* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da direção estadual do PCdoB - MG
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna