sábado, 9 de setembro de 2017

ENQUANTO AS MULHERES MORREM ELES CALAM



Na ultima semana a região oeste de Santa Catarina apresentou mais e mais casos de mulheres assassinadas pelo marido, ex marido ou namorado. Some-se aos números de partidas (mortes) as dezenas de vitimas casadas, namoradas, crush (termo usual em nossos dias) agredidas violentamente por ciúmes, ou meramente por ser mulher e com estas as centenas de lágrimas, dores e hematomas mantidos e silencio. Em hegemônica maioria o agressor é quem diz amar, e prometer cuidar o jardim afetivo que acham pertencer unicamente a si mesmo. 

Se levantarmos todos os casos apresentados diariamente pelas emissoras de rádios e delegacias em todas nossas região, somos sem dúvida umas das regiões mais violentas para mulheres não somente no sul do país. Digo isso, porque em viagem semanal pelo Estado escuto programas de rádio durante o dia e são dezenas de registro de agressões e mortes relatadas por emissoras locais e regionais. Mas ao governo catarinense não interessa publicitar dados, pois estes agridem a cultura machista e não só, dados revelam a inoperância do ente responsável pela segurança de seus cidadãos. Ou ainda, o Estado se revela não reconhecedor da mulher como cidadã de direitos constituídos.

A violência nunca se justifica, mas se explica pelas ferramentas violentas e covardes presentes na sociedade: a mídia que estimula e silencia, políticos que a reafirmam como necessidade, religiões que alienam e reafirmam condições, a estúpida cultura machista e covarde e legitimação conivente do Estado. É o mais triste é que não parece ser as mulheres que morrem na totalidade, pois de algum modo permanecem vivas como memórias, dores da ausência e fria estatística. O que morre, é o poder de punir, força para reagir, coragem para denunciar, naturalizando-se uma capacidade de não mais comover.

A violência que se aponta como 'DNA' da espécie, um retrovisor milenar na cultura, se reafirma na estupidez e descaso de nosso tempo, sinaliza permanecer como trevas, dias sombrios de um mundo sem futuro. Pois não há futuro onde o passado serve de referência e justificativas para as insanidades, estupides, inércia e silêncio novamente.

Enquanto permanecer o silêncio forçado, a conivência legalizada e a cegueira simulada, o amanhã continuará sendo uma tela pintada em sangue, lágrimas, sombras. E sobre estas, as luzes da impunidade, a menina dos olhos manifesta como delação premiada, justiça alienada, condenação orquestrada. A justiça de nosso tempo é uma espécie de 'Caixotinho de PANDORO' guardando espíritos de porcos, porcos espirituosos e bandidos dizendo o que é legal ou não - nesta caixinha ser MULHER, é apenas ser mulher, ou seja... sem rosto, sem dor, sem hematomas, sem direitos, sem... sem... sem... VIDA!  

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Neuri Adilio Alves
Filósofo, Professor, pesquisador 
em Antropologia Filosófica