sábado, 1 de outubro de 2016

NÓS ERRAMOS

''Em que baú envergonhado guardamos os autores que ensinam a analisar a realidade pela óptica libertadora dos oprimidos?''

Continuo a fazer coro com o “Fora Temer” e a denunciar, aqui na Europa, onde me encontro a trabalho, a usurpação do vice de Dilma como golpe parlamentar. Porém, as forças políticas progressistas, que deram vitória ao PT em quatro eleições presidenciais, devem fazer autocrítica.

Não resta dúvida, exceto para o segmento míope da oposição, que os 13 anos do governo do PT foram os melhores de nossa história republicana. Não para o FMI, que mereceu cartão vermelho; não para os grandes corruptores, atingidos pela autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal; nem para os interesses dos EUA, afetados por uma política externa independente; nem para os que defendem o financiamento de campanhas eleitorais por empresas e bancos; nem para os invasores de terras indígenas e quilombolas.

Os últimos 13 anos foram melhores para 45 milhões de brasileiros que, beneficiados pelos programas sociais, saíram da miséria; para quem recebe salário mínimo, anualmente corrigido acima da inflação; para os que tiveram acesso à universidade, graças ao sistema de cotas, ao ProUni e ao Fies; para o mercado interno, fortalecido pelo combate à inflação; para milhões de famílias beneficiadas pelo programas Luz para Todos e Minha Casa, Minha Vida; e para todos os pacientes atendidos pelo programa Mais Médicos.

No entanto, nós erramos. O golpe foi possível também devido aos nossos erros. Em 13 anos, não promovemos a alfabetização política da população. Não tratamos de organizar as bases populares. Não valorizamos os meios de comunicação que apoiavam o governo nem tomamos iniciativas eficazes para democratizar a mídia. Não adotamos uma política econômica voltada para o mercado interno.

Nos momentos de dificuldades, convocamos os incendiários para apagar o fogo, ou seja, economistas neoliberais que pensam pela cabeça dos rentistas. Não realizamos nenhuma reforma estrutural, como a agrária, a tributária e a previdenciária. Hoje, somos vítimas da omissão quanto à reforma política.

Em que baú envergonhado guardamos os autores que ensinam a analisar a realidade pela óptica libertadora dos oprimidos? Onde estão os núcleos de base, as comunidades populares, o senso crítico na arte e na fé?

Por que abandonamos as periferias; tratamos os movimentos sociais como menos importantes; e fechamos as escolas e os centros de formação de militantes?

Fomos contaminados pela direita. Aceitamos a adulação de seus empresários; usufruímos de suas mordomias; fizemos do poder um trampolim para a ascensão social.

Trocamos um projeto de Brasil por um projeto de poder. Ganhar eleições se tornou mais importante que promover mudanças através da mobilização dos movimentos sociais. Iludidos, acatamos uma concepção burguesa de Estado, como se ele não pudesse ser uma ferramenta em mãos das forças populares, e merecesse sempre ser aparelhado pela elite.

Agora chegou a fatura dos erros cometidos. Nas ruas do país, a reação ao golpe não teve força para evitá-lo.

Deixemos, porém, o pessimismo para dias melhores. É hora de fazer autocrítica na prática e organizar a esperança.

Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do ouro” (Rocco), entre outros livros.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

ANTES DE SOPRAR A VELA DA ALEGRIA, MUITO OBRIGADO!





Agradeço com fraternal abraço a cada um de vocês que reservou tempo na corrida vida cotidiana para felicitar-me em meu aniversário esta semana. Queria nominar as centenas, cada um de vocês que aqui passou na linha do tempo, na caixinha inbox, no telefone, por bilhete ou em memórias e pensamentos.

A vida da gente é longa, embora possamos pensa-la como breve demais. Mas quando olho para minha existência estou olhando para o universo, refutando a brevidade e me certificando há quanto tempo estou por aqui como matéria, como existência, como reinvenção de mim mesmo, da natureza, do espirito, das certezas que me acalentam e das incertezas que inquietam. Sei que minha existência no ciclo in natura é como uma etapa de passagem por aqui até a próxima reinvenção que vislumbro lá pelos 100 anos - não se enganem tenho um caminho longo pela frente.


Quantos são os momentos que atribuímos a vida seu aspecto de dureza, estrada desafiadora, horizonte incerto e de alegrias tristes: aquelas que comemoramos sentido que falta algo. Mas não fomos feitos para as coisas 'moles', frágeis da existência, embora possam parecer. Fomos feitos para doses de coragem, porções de suspiros, medidas de lagrimas, jardins de encantos, trilhas de esperanças, turbilhões de sonhos e a grande colheita: viver a vida. - E eu tenho vivido muito a vida, dividindo partes com vocês!

Queria enviar uma lembrança a cada um, mas a crise que assola o país me impossibilitou. O governo assumiu prometendo um outro Brasil assim que tomou posse como interino, mas não conseguiu melhorar a si mesmo, e sinaliza piorar a vida de todos nós. Prevejo que meu aniversário em 2017 não terá chapéu, língua de sogra, velinhas, balões, bolo, e mimos - mas terá muito luta com certeza.

Na falta de esperanças que algo melhore em poucos anos, na impossibilidade de enviar um pedaço de bolo para vocês, compartilho de minhas alegrias e uma parte vital de meu coração, pois este se regenera na felicidade renovada, lembrando e relendo agora cada palavra que aqui vocês deixaram para mim.

Antes que eu sopre a vela festiva de minhas quatro décadas de vida e mais uns remendos - não esqueçam do aniversário da democracia domingo. Vistam-se de consciência... Boas Festas !!!

Professor Neuri Adilio Alves